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1 PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO NAS DOENÇAS RESPIRÁTORIAS 1 Sumário DOENÇAS RESPIRATÓRIAS ......................................................................... 4 EXERCÍCIOS FÍSICOS ................................................................................... 5 PRINCÍPIOS DA PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS FÍSICOS ......................... 7 EXERCÍCIO FÍSICO NAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS ............................. 11 DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA ......................................... 14 EXERCÍCIOS FÍSICOS E A DPOC ............................................................... 18 TRATAMENTO E REABILITAÇÃO RESPIRATÓRIA .................................... 21 TESTES PARA DOENTES RESPIRATÓRIOS ............................................. 27 REFERENCIAS ............................................................................................. 28 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 DOENÇAS RESPIRATÓRIAS O sistema respiratório é composto por um conjunto de órgãos responsáveis pela entrada, filtração, aquecimento, umidificação e saída de ar. Ele é composto por pulmões, fossas nasais, boca, faringe, laringe, traqueia, brônquios bronquíolos, diafragma e alvéolos pulmonares, que promove a troca gasosa entre o meio ambiente e o organismo, oxigenando o sangue e liberando gás carbônico, ou seja, o organismo absorve oxigênio e, através de oxidações, libera gás carbônico (Dangelo e Fattini, 2000), sendo a respiração externa responsável pela remoção e absorção de oxigênio e a interna pela troca de gases ocorrida entre as células e a parte interna do corpo (Breda, 2003). Asma, renite, bronquite, faringite, pneumonia, tuberculose e enfisema são algumas das doenças que acometem o aparelho respiratório, sendo responsáveis por um grande número de atendimentos médicos, que se tornam mais frequentes nos dias atuais (Mansano e colaboradores, 2000). A asma, por exemplo, segundo o III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma, é a quarta causa de internação. Como as principais doenças respiratórias, a asma é muito comum e antiga, descrita pela primeira vez no Egito, há cerca de 3.500 anos. O filósofo grego Hipócrates, considerado o pai da medicina, foi quem, por volta de 400 a.C., definiu a enfermidade como uma dificuldade para respirar. O termo, antes associado apenas à falta de ar, nos últimos 50 anos passou a representar um significativo caso de saúde pública. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 20 milhões de pessoas sofram com as doenças respiratórias, que são responsáveis por 400 mil internações hospitalares por ano, com um custo superior a 200 milhões de reais para o Governo. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a DPOC é uma entidade clínica que se caracteriza pela presença de obstrução ou limitação crônica do fluxo aéreo, apresentando progressão lenta e irreversível. Essas alterações conduzem à hiperinsuflação pulmonar, colocando os músculos inspiratórios em desvantagem mecânica, levando à fraqueza dos mesmos e fazendo com que os músculos acessórios da inspiração sejam recrutados. Além disso, o 4 indivíduo passa a respirar em altos volumes pulmonares, próximos à capacidade pulmonar total, levando a uma possível limitação ventilatória durante o exercício (SBPT). EXERCÍCIOS FÍSICOS Segundo Fernandes et al. ( 2008), a atividade física (AF) pode ser entendida como todo movimento corporal produzido pela musculatura esquelética e que resulta em gasto energético acima dos níveis de repouso . A atividade física possui diversas características, como o auxílio no tratamento de doenças crônicas ou mesmo o controle de suas manifestações. É utilizada em programas que podem trazer algumas mudanças no estado clínico dos pacientes. Segundo Paulin et al., 2003 a AF está presente no tratamento do portador de DPOC através da reabilitação pulmonar. Ela retira o paciente de um estado de sedentarismo e o inicia em um programa que visa à melhora funcional. Normalmente, é um programa promovido por multiprofissionais. Uma importante justificativa para a inserção da AF no tratamento ao paciente é a disfunção muscular, evidenciada nos membros inferiores. A massa muscular local diminui em consequência da incapacidade de sustentar esforços. Devido à limitação ao exercício oriunda da dispnéia, o exercício resistido (ER) ou de força parece ser uma boa opção de AF disponível para os pacientes que pode resultar em importantes benefícios morfológicos, neuromusculares e fisiológicos. O ER consiste em imprimir força contra uma resistência, normalmente pesos livres ou aparelhos, com carga prescrita através de um teste específico. Depois se define o numero de séries e repetições. De acordo com Dourado e Godoy (2004), o exercício aeróbio é recomendado para indivíduos com DPOC e seus benefícios são observados independentemente do estágio da doença. Este tipo de treinamento aumenta a concentração de enzimas oxidativas mitocondriais, a capilarização dos músculos treinados, o limiar anaeróbio, o VO2 máx e diminui o tempo de recuperação da creatina fosfato, resultando em melhora da capacidade de exercício. Nos pacientes com DPOC, os benefícios do condicionamento aeróbio resultam em aumento da distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos (TC6), na melhora do desempenho em questionários de qualidade de vida e no alívio da intolerância ao exercício. O treinamento de membros inferiores pode ser realizado em cicloergômetros ou esteiras rolantes, ou mesmo por meio de caminhadas. 5 As atividades executadas com os membros superiores estão relacionadas à dispnéia intensa porque alguns músculos do ombro, peitoral maior e grande dorsal são também acessórios da respiração. Quando envolvidos em outras atividades estes músculos passam a ter função diminuída na respiração e, consequentemente, o trabalho do diafragma aumenta O treinamento para membros superiores tem objetivo de incrementar principalmente as atividades de vida diária, que, em sua maioria, são realizadas com os braços. O exercício aeróbio para membros inferiores melhora a tolerância ao exercício, contudo tem efeito pequeno no que se refere à atrofia e fraqueza musculares. Os benefícios do treino de endurance de membros inferiores tem se mostrado proporcionais à intensidade com que é realizado. As recomendações atuais para o treinamento aeróbio incluem sessões com duração entre 20 e 45 minutos e frequência de três a cinco vezes por semana. O programa de exercícios deve ser mantido por, no mínimo, oito semanas. Segundo Neto e Amaral (2003) é através de um programa de reabilitação pulmonar que o círculo vicioso de falta de ar, inatividade,perda de condicionamento físico, isolamento social e depressão pode ser revertido. O exercício estimula, em curto prazo, respostas benéficas do sistema cardiovascular, além de incluir uma maior coordenação neuromuscular e aumento de confiança. Para Pamplona e Morais (2007), nos programas de reabilitação respiratória que englobam exercício,pode-se dizer que há duas modalidades de treino essenciais: treino aeróbio e treino de força. O treino aeróbio, predominantemente o treino de endurance, pressupõe a realização de estímulos com uma intensidade moderada a elevada ,utilizando grandes grupos musculares. Nos indivíduos saudáveis, o treino aeróbio realizase a 60/90% da frequência cardíaca máxima. Este tipo de exercício executado com esta intensidade durante 20 a 45 minutos e repetido 3 a 4 vezes por semana, aumenta a capacidade máxima e a capacidade funcional para o exercício, causa adaptações fisiológicas nos músculos periféricos e melhora a função cardiovascular e respiratória. O treino de força, do inglês resistance training, pressupõe a utilização de estímulos de intensidade elevada e de curta duração, mais localizados a grupos musculares distintos. 6 Este tipo de treino é mais bem tolerado do que o treino aeróbio nos doentes com DPOC grave, podendo ser utilizado como forma inicial de treinamento. As doenças pulmonares crônicas podem ser vistas como um ciclo vicioso de sintomas incapacitantes que levam à inatividade física, descondicionamento e agravamento de sintomas com limitação no exercício. A reabilitação eficaz requer ajustamentos adequados na medicação, para obter otimização dos mecanismos respiratórios, com eventual necessidade de oxigenoterapia, para que seja mantida oxigenação adequada durante o exercício, apoio psicossocial e, particularmente nos doentes com DPOC, asma e fibrose cística. Certas técnicas de controle respiratório e drenagem de secreções devem ser executadas e, eventualmente, utilizadas antes ou após treino de exercício. Estas medidas são pré-requisitos para iniciar um programa com treino do exercício. Com uma broncodilatação otimizada, a causa principal de limitação no exercício pode alterar-se da dispnéia para a fadiga dos membros inferiores, assim permitindo ao doente exercitar os seus músculos periféricos de forma mais intensa. O passo seguinte, para obter os melhores resultados, é estruturar um treino aeróbico e de força. O treino baseia-se nos princípios gerais de fisiologia do exercício: Sobrecarga, especificidade, reversibilidade e individualização. PRINCÍPIOS DA PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS FÍSICOS A prescrição de exercício deve ser antecedida de uma avaliação cuidadosa do estado de saúde geral de cada indivíduo (incluindo medicações), perfil de fatores de risco, características comportamentais, objetivos pessoais e preferências de exercício. Deve-se também considerar os princípios de sobrecarga, especificidade, reversibilidade, individualização e fase da doença pulmonar, conforme descrito abaixo. Sobrecarga Este princípio diz que para um tecido ou órgão melhorar a sua função deve ser exposto a uma carga que não está habitualmente adaptado. A repetição da exposição está associada a adaptações desse tecido ou órgão, provocando uma melhoria 7 funcional da capacidade. Na prescrição do exercício especifica-se a intensidade, a frequência e a duração do treino. Durante alguns anos, pensou-se que certas doenças respiratórias crônicas provocavam limitação ventilatória que impedia a possibilidade de executar maiores níveis de intensidade de treino aeróbico, capazes de proporcionar os benefícios fisiológicos verificados nos indivíduos saudáveis. A partir da década de 90, estudos de Casaburi et al(1991)) demonstraram que o treino nos indivíduos com DPOC desencadeava metabolismo anaeróbico e início precoce da acidose láctica e que, por outro lado, os benefícios alcançados eram tanto mais marcados quanto maior a intensidade do treino (alta intensidade – 60% da carga máxima versus baixa intensidade – 30% da carga máxima) iniciaramse programas de treino de exercício com intensidade programada através do consumo máximo de oxigênio. Parece que o efeito de treino é atingido se a intensidade do exercício for mais elevada do que a atividade basal e do que a intensidade do treino pode ser aumentada, se tolerada. Por outras palavras, qualquer exercício é preferível a exercício nenhum, e obtêm-se resultados satisfatórios, mesmo em doentes com treinos de baixa intensidade, no entanto, exercício com maior sobrecarga induz maior resposta. Especificidade Baseia-se nas observações de programas estruturados para atingir objetivos específicos e no fato de os benefícios atingidos se reportarem apenas às atividades que envolvem os músculos ou grupos musculares especificamente treinados. A utilização de resistência elevada com poucas repetições aumenta a força muscular, enquanto baixas resistências repetidas aumentam a endurance muscular. O treino é também específico para o grupo muscular treinado. Por exemplo, o treino específico dos membros inferiores provoca aumento na distância alcançada numa prova de marcha de 6 minutos, mas tal não acontece com treino específico dos membros superiores. No entanto, certos efeitos poderão ser transferidos para outras 8 atividades, por exemplo treinar em cicloergômetro melhora a distância percorrida na marcha, e vice-versa. Reversibilidade Tal como nas pessoas saudáveis, os benefícios do treino com exercício nos doentes com doença respiratória crônica mantêm-se enquanto há adesão ao treino e declinam com o tempo. A importância deste princípio justifica que o programa deve ser adaptado às possibilidades de cada doente no sentido de lhe dar continuação de forma mais ou menos supervisionada (programas no domicílio) e ajustada à evolução de cada caso (reestruturação do programa nas exacerbações). Um objetivo fundamental da prescrição de exercício é provocar em cada indivíduo uma mudança comportamental para a saúde, com inclusão de atividade física regular. Assim sendo, a prescrição de exercício mais apropriada para cada indivíduo é aquela que facilita esta mudança comportamental. A arte da prescrição de exercício é a integração eficaz da ciência do exercício nas técnicas comportamentais, resultando numa adesão a longo prazo ao programa e alcançando os objetivos de cada indivíduo. Individualização A capacidade para o exercício está sujeita a variação interpessoal, ou seja,as limitações particulares de cada indivíduo devem ser avaliadas para prescrição de um treino adequado e potencialmente benéfico. Dois doentes com grau de obstrução sobreponível (FEV1 em repouso semelhante) poderão ter limitações completamente distintas, determinando prescrições de treino diferentes. No caso de um doente com DPOC com dispnéia de esforço essencialmente na marcha em terreno inclinado, poderá ser benéfico treino com exercício aeróbico em marcha, bicicleta ou tapete; mas a ocorrência prévia de traumatismo do joelho provocou sequelas que o limitam funcional e assimetricamente na marcha; se o treino aeróbico for exclusivamente em bicicleta (proporcionando maior alívio da carga sobre o joelho lesado), o doente terá mais benefícios e a adesão será facilitada. 9 Como deve ser feita a prescrição de exercício aeróbico? Modalidade: As normas, baseadas na evidência, preconizam exercício aeróbico dos grandes grupos musculares dos membros inferiores. O treino de endurance dos membros superiores é menos eficaz do que o treino de endurance dos membros inferiores para a melhoria da capacidade funcional. Frequência e duração: Quanto maior a duração e frequência melhores serão os resultados. Recomenda-se: Duração ≥ 30 minutos numa frequência mínima de três dias por semana,durante pelo menos dois meses. Intensidade:Vários estudos revelaram, tal como para os indivíduos normais, que quanto maior a intensidade maior a resposta ao treino. Três critérios devem ser tidos em consideração na prescrição: o alvo, a amplitude e a progressão. Alvo: Representa a intensidade mínima necessária para produzir resposta clínica significativa, o que não implica que abaixo deste alvo o treino seja ineficaz, mas apenas não produza benefício clínico. A intensidade deve ter uma amplitude variável entre limite inferior para produzir benefícios e limite superior para que haja tolerância e segurança. A progressão do treino deverá ser reajustada para manter a intensidade desejada/alvo. Para determinar e ajustar a intensidade do exercício existem vários parâmetros a ter em consideração: Quantidade de trabalho externo (W), Consumo de oxigênio (VO2), Frequência cardíaca (FC) e nível de dispneia (escala de Borg). No doente respiratório crônico, os princípios fisiológicos clássicos aplicados nos saudáveis não são transponíveis, dado que o doente respiratório não tem, habitualmente, limitação de causa hemodinâmica, mas da função ventilatória, ou compromisso nas trocas gasosas, ou ambos. E, assim, a utilização da frequência cardíaca para monitorização do exercício frequentemente não é útil. EXERCÍCIO FÍSICO NAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS Muitos estudos têm mostrado a prática de exercício físico como um importante aliado para o tratamento e para a prevenção das doenças respiratórias que matam 10 cerca de dois mil brasileiros por ano, conforme o Ministério da Saúde. A maioria destes trabalhos, sobretudo os mais recentes, revelam dados alarmantes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia, houve um aumento representativo na incidência de problemas respiratórios, que quase dobrou nas últimas décadas. A asma, que afeta 12% da população mundial em idade escolar, no Brasil atinge o dobro deste total, segundo o instituto norte-americano Estudo Internacional da Asma e Alergias na Infância. Programas de reabilitação pulmonar com exercícios físicos fornecem uma abordagem abrangente para o controle e alívio dos sintomas, assim como, melhoria da capacidade funcional e qualidade de vida de pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica. Atividade repetitiva planejada, com o objetivo de manter ou melhorar um ou mais componentes da aptidão física é o que se define como exercício físico (Caspersen, Powellk e Christenson, 1985). As eventuais complicações propiciadas pela prática de atividade física em muito são superadas pelos malefícios do sedentarismo (Carvalho e colaboradores, 1996). O exercício físico é inversamente associado à morbidade e mortalidade por diversas doenças crônico degenerativas, como também, altos níveis de atividade física no tempo livre, estão associados ao aumento da longevidade (Blair, 1989, citado por Folador e Silva, 2006). O exercício físico, quando bem orientado, pode promover uma maior tolerância aos agravos da saúde, bem como melhora cardiorrespiratória, além de uma melhor qualidade de vida. O exercício faz com que as catecolaminas, do sistema nervoso simpático, sejam liberadas, promovendo um relaxamento nos músculos lisos das vias respiratórias pulmonares (Mcardle, Katch e Katch, 1999), promovendo uma melhora, não só das funções pulmonar e cardíaca, bem como do estado psicológico e da aptidão física em geral, diminuindo, assim, o risco de doenças crônicas (Nieman, 1999). “As pessoas com doenças respiratórias devem praticar exercícios com regularidade, desde que liberados pelo seu médico”, explica Francisco Queiroz 11 (CREF 021784- G/RS), mestrando do Programa de Pósgraduação em Ciências Pneumológicas da UFRGS. Mesmo que algumas modalidades sejam mais indicadas para este tipo de público, é preciso respeitar as limitações e as características destes problemas. “Os asmáticos necessitam alguns cuidados especiais, já que a doença pode se apresentar de maneira leve, moderada ou grave”, complementa Sara Corazza, docente do Centro de Educação Física e Desportes da UFSM e coordenadora do Projeto de Extensão “Natação e ginástica respiratória para crianças e adolescentes asmáticos”, em atividade desde 1998. “A atividade mais recomendada é a natação, mas existem alguns aspectos negativos a serem considerados, como a mudança de temperatura entre o local aquecido da piscina e o meio externo. Por conta disto, o profissional de Educação Física necessita, primeiramente, fazer uma análise do aluno e do ambiente em que ele irá realizar os exercícios, identificando prós e contras”. Segundo o fisiologista do esporte da Universidade Federal de São Paulo Raul Santo, quando o corpo de uma pessoa que tem doenças pulmonares crônicas se acostuma com a carga de exercício, ele passa a utilizar melhor o oxigênio, a respirar com mais facilidade devido ao fortalecimento dos músculos responsáveis pela respiração. Além disso, mexer o corpo ainda aumenta a circulação do sangue, fortalece o coração e diminui a pressão sanguínea. Todas as pessoas que querem começar a fazer uma atividade física devem procurar um especialista para fazer uma avaliação médica. "Esse procedimento potencializa o treino, já que o tipo específico de exercício é escolhido para cada indivíduo, levando em conta todas as suas limitações". Para quem tem problemas respiratórios, é importante tomar algumas precauções com o objetivo de evitar desconfortos ou acidentes: não fazer exercícios sozinho em áreas isoladas como trilhas e parques florestais, não exercitar-se fora de casa quando o a temperatura está muito elevada ou quando o clima está muito seco e não aumentar a carga do exercício sem antes consultar o preparador físico. 12 Saber escolher o esporte certo é essencial, mas fazer uma preparação especial para pessoas com doenças respiratórias antes de cada treino vai garantir um melhor desempenho durante o exercício. "Sem um aquecimento adequado e um alongamento bem feito, o corpo pode ter uma reação imediata de rejeição ao exercício, causando lesões e dificuldades. Essa preparação é ainda mais bem-vinda para pessoas com problemas respiratórios", diz Raul Santo. Esse é um cuidado que normalmente passa despercebido. A natação é uma das alternativas mais indicadas por médicos para ajudar na recuperação ou para o tratamento de problemas pulmonares crônicos. "Os exercícios realizados na piscina ajudam a aumentar a entrada de ar nas vias respiratórias por causa da maior umidade relativa do ar. Além disso, a água funciona como um vasodilatador, que facilita a circulação sanguínea e o trabalho do coração", diz Raul Santo. Outro benefício, segundo o especialista, é a atividade aeróbica exigida durante o treino de natação. Esse tipo de exercício aumenta a resistência do coração e do pulmão por trabalhar os músculos respiratórios como o diafragma e os músculos intercostais. A caminhada ou corrida leve também são muito indicadas pelos médicos para quem sofre com problemas respiratórios. "É um exercício muito fácil de adaptar para cada situação, e é muito eficiente no controle da obesidade, colesterol, diabetes e da hipertensão", diz Raul Santo. Além disso, caminhar ou correr são exercícios que beneficiam o condicionamento físico "Muitas das pessoas com complicações respiratórias que incluem uma caminhada no dia a dia, passam a ter mais facilidade em praticar esportes do que pessoas sadias que não tem o hábito de caminhar ou correr", completa o especialista. Durante o treino, sintomas como dores no peito, enjoo, fraqueza e queda brusca de pressão são sinais de que a pessoa deve parar imediatamente, de acordo com Raul Santo, que lembra que esses problemas na maioria das vezes ocorrem por falta de acompanhamento de um profissional. "As pessoas com problemas respiratórios só devem praticar aqueles exercícios indicados por seupneumologista ou por seu treinador. Esses profissionais sabem qual é o limite fisiológico de cada um". 13 Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Atualmente tem-se observado um número crescente de pessoas portadoras de doença pulmonar. O cigarro e a poluição são importantes fatores que contribuem para a instalação de doenças como bronquite e enfisema pulmonar. Muitas vezes, essas doenças apresentam comportamento progressivo, limitando a execução de atividades de vida diárias (AVDs) por apresentarem sintomas como fadiga e dispnéia. De acordo com Rosa et al (2006), a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é caracterizada pela presença crônica de sintomas como tosse e produção de escarro e, nos casos mais avançados, dispnéia aos esforços ou em repouso, decorrentes das alterações da mecânica pulmonar e da troca gasosa, e da diminuição da capacidade aeróbia muscular periférica. Conforme Pryor e Webber (2002), a DPOC é definida como um conjunto de condições que se caracteriza pela presença de obstrução ou limitação crônica ao fluxo aéreo de progressão lenta, persistente e irreversível. Segundo Marino et al (2005), os portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) apresentam alteração da função pulmonar, dispnéia e disfunção muscular esquelética periférica levando à intolerância ao exercício e piora progressiva do condicionamento físico, chegando a limitar as AVDs. Frequentemente, apresentam alterações no peso e na composição corporal, fatores que também podem agravar a limitação física. Há algum tempo, o condicionamento físico vem sendo parte obrigatória no tratamento de portadores de DPOC. Estes pacientes comumente apresentam intolerância ao exercício de intensidade variável e relacionada à disfunção muscular esquelética.O exercício aeróbio e o treino de força são fundamentais no incremento da capacidade física e da qualidade de vida, principalmente naqueles indivíduos que apresentam as formas moderada ou grave da DPOC. Tendo em vista que a função ventilatória dos portadores de DPOC pode ser melhorada apenas discretamente por terapias clínicas, o condicionamento físico tem papel fundamental com a finalidade de reduzir a demanda respiratória e a sensação 14 de dispnéia. Há, atualmente, várias terapias úteis no processo de reabilitação desses indivíduos como oxigenoterapia, suplementação de esteróides anabolizantes, suplementação de creatina, estimulação elétrica neuromuscular. Até o presente momento, exceto a cessação do tabagismo, não existem alternativas terapêuticas que sejam capazes de atenuar o declínio funcional progressivo do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), parâmetro marcante e de acompanhamento da DPOC. Entretanto, existem outros fatores que melhoram após intervenções, como sensação de dispnéia, qualidade de vida, estado nutricional e capacidade de exercício. O estilo de vida sedentário adotado por esses pacientes, através da redução das suas atividades, favorece a dispnéia. Este sintoma pode ser agravado ainda mais pelo descondicionamento físico. Segundo JAPC Derbyshire guideline CPOD( 2008) a doença pulmonar obstrutiva crônica é uma enfermidade crônica lentamente progressiva, caracterizada por obstrução do fluxo aéreo. O comprometimento da função pulmonar é bem observado, podendo ser parcialmente reversível por broncodilatadores ou outras terapias. A maioria dos casos é causada por tabagismo, embora não-fumantes também possam desenvolver DPOC A De acordo com o projeto GOLD1, considera-se DPOC quando o valor do índice de Tiffeneau é inferior a 70% do valor de referência, tendo em conta sexo, idade, peso e altura. A gravidade da doença pode classificar-se em quatro estádios tendo em conta os valores do VEMS (Quadro I): 15 A DPOC é uma doença pulmonar caracterizada por alterações na função respiratória associada a outros sintomas, como: • Respiração rápida e curta (dispnéia); • Tosse; • E catarro. Não bastasse esses desconfortos, a DPOC ainda pode causar disfunção muscular, prejudicando o condicionamento físico de forma progressiva. O que, na ausência de tratamento, pode afetar a produtividade e até mesmo limitar a realização de atividades básicas do dia a dia. Podem considerar-se quatro alterações que diminuem a tolerância ao exercício nos doentes com DPOC: • A mecânica pulmonar deficiente; • As alterações nas trocas gasosas pulmonares; • A insuficiência vascular pulmonar e A disfunção muscular esquelética. Em relação à mecânica pulmonar deficiente, esta resulta da resistência de vias aéreas elevadas, do air trapping (hiperinsuflação) que coloca o diafragma em desvantagem mecânica. As alterações nas trocas gasosas pulmonares levam a uma 16 alteração na relação ventilação/perfusão, à hipoxemia durante exercício e à hipercapnia em alguns doentes. A insuficiência vascular pulmonar origina uma destruição alveolar e vascular, com consequente hipertensão pulmonar e insuficiência ventricular direita. A disfunção muscular esquelética resulta da desnutrição, baixos níveis de hormonas anabolizantes, uso de corticóides, miopatia esquelética primária ou outras disfunções neuromusculares. Cerca de 70% dos doentes com DPOC tem redução da força dos quadricípites. Numa biópsia de quadricípetes pode detectar-se uma diminuição das fibras tipo I e IIa (metabolismo oxidativo) e aumento das de tipo IIb (metabolismo glicolítico), o que tem como consequência uma anaerobiose precoce, mesmo com baixas intensidades de exercício, o que provoca uma sobrecarga do aparelho respiratório. É por isso que muitos especialistas recomendam a prática de exercícios físicos aliada ao tratamento para reduzir os efeitos da doença e evitar que ela progrida. As recomendações variam de caso para caso, levando em consideração principalmente o estado físico e limitações do paciente. Portanto, é indispensável consultar o seu médico para que ele indique os mais apropriados para você! Mas, ao contrário do que se pensa, os portadores dessa doença não devem parar de fazer atividades físicas. Pelo contrário: essa prática pode promover melhoras significativas na qualidade de vida. Em indivíduos com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, o exercício pode, através do alongamento dos músculos respiratórios, melhorar a mobilidade torácica, reduzindo a sensação de dispnéia (Kakizaki e colaboradores, 1999 citado por Paulin, Brunetto e Carvalho, 2003). Por ser um músculo esquelético, a musculatura inspiratória pode encurtar promovendo um desequilíbrio na mecânica inspiratória, determinando atrofia e fraqueza (Teodori e colaboradores, 2003). Programas de reabilitação pulmonar com exercícios físicos fornecem uma abordagem abrangente para o controle e alívio dos sintomas e à melhora da capacidade funcional dos pacientes com DPOC (SBPT). O exercício físico em geral, tem demonstrado importante papel na melhoria funcional de portadores de DPOC. 17 Alguns estudos analisaram o exercício aeróbio e demonstraram que este por sua vez trás grandes benefícios aos pacientes como melhora da qualidade de vida, aumento da tolerância ao esforço, diminuição do quadro de dispnéia e fadiga (Weiner, Magadle, Beckerman e colaboradores, 2003, Costes, Roche, Pichot e colaboradores, 2004). Por outro lado alguns estudos têm demonstrado que o exercício resistido também pode apresentar benefícios para o paciente com DPOC, pois exercícios com pesos melhoram a capacidade de força isocinética, além de melhorar a função muscular respiratória no pacientes com DPOC (Sturdy, Hillman, Green e colaboradores, 2008). EXERCÍCIOS FÍSICOS E A DPOC Uma das principais consequências das DPOCs é a diminuição da tolerância aos esforços físicos em razão de suas implicações envolvendo o sistema cardiovascular e muscular uma vez que a intensidade do treinamentoaeróbio é limitada por dispneia que por sua vez é agravada devido à fraqueza da musculatura respiratória em pacientes com DPOC significativo Há em conjunto uma diminuição da sensibilidade espontânea barorreflexo cardíaco (BRC), o que poderia levar ao aparecimento de eventos cardiovasculares (Costes et al, 2004). Segundo os autores, esses fatos interferem diretamente na capacidade do paciente de realizar tarefas da vida diária, tendo impacto negativo na sua qualidade de vida. Fato esse que levou vários autores a pesquisarem como pacientes com DPOC se comportavam mediante diferentes treinamentos físicos cardiopulmonares, comparando-os com indivíduos saudáveis (Weiner et al, 2003). Para Larson, Covey, Wirtz e colaboradores (1999), em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a intensidade do treinamento aeróbio é limitada por dispneia. Melhorar a resistência dos músculos inspiratórios poderia incrementar um suporte para a execução do exercício aeróbio, reduzindo efeitos do exercício relacionados à dispnéia. Por sua vez Miyahara, Eda, Takeyama e colaboradores, (2000) advertiram sobre a falta de um protocolo padrão para pacientes com DPOC. Estes autores aplicaram um protocolo de exercício composto por: 18 O tipo de exercício adotado foi 20 minutos no ciclo ergômetro a 50 % da freqüência cardíaca máxima, três vezes por semana. Testes de função pulmonar, um teste ergométrico de carga progressiva, teste de caminhada de 6 min., e uma avaliação da qualidade de vida pelo Questionário Chronic Respiratory foram administrados antes e após o programa de treinamento. Os resultados obtidos demonstraram que o VO2 máximo. Contudo, houve uma melhoria significativa na qualidade de vida em termos de dispnéia, fadiga e estado emocional. Esses resultados sugerem que mesmo um programa de três dias por semana pode ser benéfico para os pacientes com DPOC e provocar aumentos na capacidade de exercício funcional, mesmo sem um aumento na capacidade de exercício máximo. Clark, Cochrane, Mackay e colaboradores (1999) relatam haver a possibilidade de ocorrência uma anomalia na força isocinética e na resistência muscular esquelética em pessoas que apresentam doença pulmonar obstrutiva crônica leve. Assim, estudaram o efeito de um programa de exercícios com pesos, aplicados durante 12 semanas a pacientes com DPOC. Os pacientes com DPOC tinham reduzido a função muscular isocinética e déficit em função do músculo esquelético quando comparado ao grupo controle. Após o treinamento com pesos notou-se a melhoria significativa da função muscular esquelética. Sendo assim, o treinamento com pesos parece ser uma forma eficaz no combate ao déficit em questão. Segundo Sturdy, Hillman, Green e colaboradores (2008), o treinamento específico dos músculos respiratórios pode melhorar a função muscular respiratória nos pacientes com DPOC, mas a magnitude de melhoria parece dependente da magnitude da carga suportada. Portanto, observamos que o treinamento de força garante ao paciente com DPOC suporte para realização de atividades dinâmicas (caminhada, ciclismo, etc.) uma vez que o aumento da força muscular esquelética leva a menores respostas agudas do sistema respiratório e cardiovascular durante as atividades referidas. 19 Em geral, podem ser recomendados diversos exercícios, com diferentes graus de complexidade, que vão ajudar na reabilitação cardiorrespiratória e muscular. Como: • Caminhada (ao ar livre ou na esteira); • Andar de bicicleta; • Subir escadas; • Natação; • Atividades recreativas; • Alongamentos; • Musculação (membros inferiores e superiores). A intensidade e frequência dos treinamentos para pacientes podem variar. Mas, de forma geral, as seguintes recomendações podem ser adotadas, de acordo com orientações de profissionais especializados: • Duração mínima de 20 minutos por sessão de exercício; • Aumento gradativo da carga; • Média de 3 a 5 sessões por semana para treinos de resistência; • e de 2 a 3 sessões para treino de força (musculação); • Manter a frequência de treino (no mínimo uma sessão) após atingir os objetivos do tratamento. Agora você já sabe: DPOC e exercícios físicos devem sempre andar juntas. É somente com a prática de atividades regulares que você pode limitar a ação dessa doença sobre o corpo e reconquistar sua qualidade de vida. TRATAMENTO E REABILITAÇÃO RESPIRATÓRIA O tratamento da DPOC tem como objetivos contrariar a progressão da doença, aliviar os sintomas, prevenir e tratar as complicações, as exacerbações e diminuir a mortalidade. Para atingir estes objetivos, o tratamento assenta em três pilares fundamentais: a cessação tabágica, o tratamento farmacológico e a reabilitação respiratória. 20 Segundo as orientações do projecto GOLD, “Todos os doentes com DPOC beneficiam dos programas de treino com exercícios, melhorando não só a tolerância ao exercício mas também reduzindo os sintomas de fadiga e dispneia” (evidência A), pelo que a reabilitação respiratória é recomendada a partir do grau II (moderado) da classificação do GOLD. Segundo Pryor e Webber (2002), os principais objetivos da reabilitação pulmonar são: maximizar a independência funcional do indivíduo em suas AVD’s , avaliar e iniciar, quando apropriado, o treinamento físico para aumentar a tolerância ao exercício, encorajar o gasto de energia de forma eficiente, proporcionar sessões educativas, reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes portadores de incapacidades decorrentes de problemas respiratórios. Segundo Dourado e Godoy (2004), o exercício aeróbio, além do treino de força com pesos, é fundamental no incremento de capacidade física e qualidade de vida, principalmente nos indivíduos que apresentam as formas moderada ou grave de DPOC. A intolerância ao exercício é manifestação comum nestes pacientes. Este fato já foi atribuído exclusivamente ao distúrbio respiratório desses indivíduos. Entretanto, atualmente tem-se verificado que a disfunção muscular esquelética periférica é outro fator importante para a diminuição da capacidade de realizar exercícios nessa população. Segundo o American Thoracic Society Statement, a reabilitação respiratória (RR) define-se como um “Programa multiprofissional de cuidados aos doentes com alteração respiratória crónica, individualmente delineado e modelado para aperfeiçoar o desempenho físico e social e a autonomia de cada doente. A Reabilitação Respiratória tem indicações (Quadro II) e benefícios (Quadro III) já demonstrados e bem definidos: 21 Os benefícios sobre a melhoria da qualidade de vida são reconhecidos pelos especialistas, mas continua sem haver consenso relativamente ao impacto da RR sobre a mortalidade dos doentes com DPOC. Num estudo retrospectivo com 1218 doentes, Ries et al demonstraram que a RR não aumentou a sobrevivência dos doentes, mas a sua capacidade para o 22 exercício, diminuiu a dispneia e melhorou a qualidade de vida. Por outro lado, um estudo de Puhan A et al apresenta uma diminuição da mortalidade nos doentes que realizaram RR após uma exacerbação da DPOC. O ideal para uma contribuição completa da RR na recuperação do doente com DPOC seria uma equipa multidisciplinar que incluísse um pneumologista, um enfermeiro, um fisioterapeuta respiratório, um nutricionista, um psicólogo/psiquiatra, um assistente social e um terapeuta ocupacional. No mínimo, um médico e técnicos com formação em exercício no doente respiratório crónico. O espaço e equipamentos mínimos incluem um local com área adequada ao programa, com arejamento e condições térmicas para a prática de exercício, pesos ou substitutos, esfigmomanómetro, fonte de oxigénio e oxímetro, escala de Borg, fita métrica, carro de emergência e telefone SOS. Antes de iniciar um programade RR, é necessário realizar uma avaliação médica com uma anamnese clínica completa, onde se avaliem os sintomas característicos (dispneia crónica e progressiva, tosse produtiva) e a história de exposição a factores de risco (principalmente tabaco), medicação/técnica inalatória, comorbilidades. Deve ser feito um exame físico cuidadoso, tendo em especial atenção os sinais de dificuldade respiratória, a cianose central e/ou periférica, o padrão ventilatório/assincronismos e a auscultação pulmonar. Os exames complementares de diagnóstico devem incluir: espirometria (pré e pós-broncodilatação), prova de seis minutos da marcha (P6MM) estandardizada, medição da pressão inspiratória máxima (PIM) e pressão expiratória máxima (PEM), gasometria, hemograma e bioquímica básica, telerradiografia do tórax e electrocardiograma de repouso. O grau de dispneia deve ser avaliada através do Medical Research Council Dyspnoea Questionnaire (MRCDQ), obrigatório, ou a escala de Borg ou a de Fletcher ou de Mahler modificada (opcionais) e a avaliação nutricional através do IMC, da avaliação da composição corporal ou com um inquérito alimentar. A avaliação do estado de preparação física do doente pode ser feita medindo a força muscular periférica (membros superiores e inferiores) através da determinação 23 de 17 RM (resistências máximas), ou seja, o peso máximo que o doente consegue levantar 17 vezes seguidas. Também é importante a avaliação das atividades da vida diária (AVD), usando a escala London chest activity of daily living (LCADL), obrigatória, ou outras. A qualidade de vida em geral é avaliada através de escalas globais, como EuroQol (obrigatória) ou outras, como Saint George Respiratory Questionnaire (SGRQ). Após a avaliação completa do doente, devem ser estabelecidos objetivos realistas, tendo em conta o estado clínico e as capacidades físicas do doente. Segundo a maioria dos estudos, os benefícios da RR são independentes de sexo, idade e da gravidade da doença, e a prescrição do exercício mais adequado para cada doente é aquela que facilita a mudança comportamental no sentido do aumento da saúde. A prática de exercício permite obter resultados satisfatórios, mesmo com treinos de baixa intensidade; no entanto, exercícios com maior sobrecarga induzem 24 maior resposta. Os critérios de exclusão incluem patologias associadas que interferem com execução do treino (artrite incapacitante, demência…) e co morbilidades, como angina instável, enfarte agudo do miocárdio recente e hipertensão pulmonar grave. Um programa de RR deve ter uma organização (Quadro V) adequada a cada indivíduo. A ACCP/AACVPR recomenda a duração de 6-12 semanas. Alguns autores, como Moulin M et al, afirmam que programas de RR mais prolongados oferecem benefícios durante um maior período de tempo. Quanto à intensidade, ainda não há consenso; no então, começa a prevalecer a ideia de que “quanto maior, melhor. Até há pouco tempo considerava-se a dispneia um sintoma limitador; atualmente acredita-se que a exposição a níveis de dispneia superiores ao habitual em ambiente seguro aumenta teoricamente a auto eficácia para lidar com o sintoma, bem como o seu limiar de percepção. O ideal é que todas as sessões se realizem com acompanhamento do fisioterapeuta, mas duas sessões acompanhadas e uma sessão no domicílio também é aceitável. Para ajustar a intensidade de exercício deve ter-se em consideração: quantidade de trabalho externo (W) consumo de O2 (VO2), frequência cardíaca (FC), nível de dispneia (escala de Borg). Atualmente recomenda-se que o treino seja efetuado abaixo da FC máxima que o doente apresentou na P6MM; no entanto, não existe ainda consenso nem evidência cientifica sólida. 25 O valor alvo de intensidade inicial corresponde ao limiar metabólico mínimo (VO2q) no doente descondicionado a 40% do valor de referência do VO2 máximo. Apesar de se recomendar treino de intensidade elevada e constante, os doentes com dificuldade em mantê-la (limitados pela dispneia ou fadiga dos membros inferiores) podem realizar treinos intervalados (curtos períodos de intensidade elevada alternando com períodos de repouso ou intensidade mais reduzida, de forma a permitir a recuperação). Quanto ao tipo de exercícios, podem realizar exercício aeróbico, exercício de força e exercício dos músculos respiratórios. O exercício aeróbico engloba o treino dos membros inferiores com cicloergómetro, tapete, step ou caminhadas e dos membros superiores, sobretudo da cintura escapular. O treino dos membros superiores exige maior trabalho cardiovascular, está mais associado à dispneia e visa incrementar as AVD. Este treino pode ser realizado com apoio utilizando um cicloergómetro de braço, ou sem apoio através de pesos, bastões bandas ou elásticos. O treino contra a gravidade parece ser mais eficaz, pela semelhança com as AVD. Em relação ao exercício de força, apesar de ainda não haver consenso quanto à sua prescrição em DPOC, a maioria dos especialistas recomenda a sua realização com uma frequência de duas a três vezes por semana, com treino em duas a quatro séries para cada grupo muscular, com 8 a 12 repetições e intervalos de dois a três minutos entre séries. A intensidade deve ser 50-85% de uma RM (repetição máxima) e dever ser feito um ajuste das características do treino cada três ou quatro semanas. No que diz respeito ao exercício de músculos respiratórios (EMR), tem como indicações as doenças neuromusculares quando se verifica uma diminuição da força muscular respiratória significativa com valores baixos de PImáx e PEmáx e na ausência de hiperinsuflação. Apesar de aparentemente não aumentar a tolerância ao exercício, parece ter um efeito positivo na musculatura respiratória, recomendando- se treino de força com resistência inspiratória alta, com poucas repetições e de endurance resistência inspiratória baixa a moderada 15 a 30 minutos. A educação dos doentes assume um papel importante para garantir o sucesso da reabilitação respiratória e a manutenção dos benefícios da mesma a longo prazo. 26 Essa educação deve ter em conta as AVD e prende-se sobretudo com orientação sobre a conservação de energia, tendo em conta a postura, o planeamento de atividades e a organização do espaço físico e técnicas de respiração, salientando-se a consciencialização da respiração, a respiração diafragmática, a postura corporal global e a respiração com lábios semi cerrados. A monitorização do doente em esforço deve incluir no mínimo tensão arterial antes e após esforço, glicemias nos diabéticos, sinais e sintomas de intolerância ao esforço, frequência cardíaca, escala de Borg de esforço e de dispneia, no início, durante e no final da sessão, registo de cargas de esforço (cada 10 minutos), saturações periféricas, antes, durante e após esforço. TESTES PARA DOENTES RESPIRATÓRIOS Em relação à reabilitação pulmonar, Marino et al (2005) refere que existem testes, como o Teste do Degrau ( TD 6) e o Teste de Caminhada de 6 minutos ( TC 6), capazes de avaliar a tolerância aos esforços físicos, quando aplicados em qualquer indivíduo, possibilitando sua utilização em portadores de DPOC para verificar as respostas fisiológicas ao esforço físico, sendo que ambos os testes impõem uma carga de trabalho comparável à demanda das AVD’s. De acordo com Pamplona e Morais ( 2007) a reabilitação respiratória é parte importante no tratamento dos doentes cujos sintomas estão associados à diminuição da capacidade funcional e da qualidade de vida. Apesar de a reabilitação respiratória não proporcionar melhora funcional respiratória nítida, beneficia várias áreas de interesse do doente, como dispnéia ,capacidade para o exercício, estado de saúde . Associado a qualquer outro tipo de terapia, o exercício físico pode aumentar significativamentea capacidade física e qualidade de vida dos pacientes com DPOC. 27 REFERENCIAS ATALAIA H. Intervenção da fisioterapia em utentes com doença pulmonar obstrutiva crónica. EssFisionline 2006; 3;(2):28 -40. BARTOLOME R, CELLI M. Pulmonary rehabilitation in COPD. Pág. web: www.uptodate.com 2009; Maio: 1 -14. BREDA, Daiane. Avaliação postural e da função respiratória em crianças entre 5 e 10 anos de idade, com rinite alérgica, hipertrofia de adenóide e síndrome do respirador bucal. 2003. 79 fls. 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