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8 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Curso de semiologia cardiológica Introdução O coração é o órgão mais nobre que tem no organismo, porque é responsável pelo bom- beamento de sangue para os outros órgãos, enviando oxigênio para gerar ATP nas células do corpo. As células, quando não recebem oxigênio, re- alizam a respiração anaeróbia, o que gera menos ATP, com maior gasto (gera apenas 2 ATP e ainda libera ácido lático). OBS: o ácido lático é um marcador de morte celular. ➢ Como o sangue chega ao coração? O sangue chega ao coração por meio da veia cava inferior e superior, entra no AD, chega no VD pela tricúspide. Ao cair no VD é bombeado para a artéria pulmonar. OBS: o sangue que chega ao coração é cheio de CO2 (sangue ve- noso), e esse sangue passa por uma artéria, a artéria pulmonar. Isso só acontece em duas situações: circulação pulmonar e circulação fetal (na artéria umbilical). Ao chegar no pulmão, há a membrana alvé- olo pulmonar. No alvéolo sofre hematose, em que pega o CO2 do sangue e joga O2 do pul- mão para esse sangue. O sangue arterial segue de novo ao coração pela veia pulmonar, chegando ao AE, sendo despejado ao VE pela valva mitral. Esse san- gue vai ser despejado na aorta, passando pela valva aórtica. Nesse momento, o sangue é enviado para todo o restante do organismo, inclusive para nutrir o músculo cardíaco. Para nutrir o cora- ção, o sangue chega pela coronária. Há, portanto, 4 valvas: o 2 atrioventriculares: ✓ Tricúspide (lado direito) – entre AD e VD ✓ Mitral (lado esquerdo) – entre AE e VE o 2 semilunares: ✓ Pulmonar (lado direito) – VD e pulmão ✓ Aórtica (lado esquerdo) – VE e aorta Ramos emitidos pela aorta torácica: 1. Coronárias (nutrem o miocárdio) Do seio coronariano direito sai a coronária di- reita, e do seio coronariano esquerdo sai a coronária esquerda. Ao contrário de todos os outros órgãos que são nutridos na sístole, as coronárias são per- fundidas na diástole, ou seja, no relaxamento do coração. 2. Tronco braquiocefálico: dará origem a carótida interna direita e subclávia di- reita 3. Carótida interna esquerda 4. Subclávia esquerda Ciclo cardíaco 9 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Ciclo cardíaco é o conjunto de eventos de- correntes do início de um batimento até o próximo. O ciclo cardíaco é dividido em duas grandes fases: Sístole (contração ventricular) Diástole (relaxamento ventricular) O ventrículo esquerdo precisa mandar san- gue para o restante do corpo, por isso que precisa trabalhar sob maiores pressões de en- chimento (precisa vencer a pressão de 120 mmHg). Enquanto o ventrículo direito precisa vencer apenas a pressão da artéria pulmo- nar, que é no máximo 35 mmHg. Diástole A diástole é dividida em 4 etapas: Relaxamento isovolumétrico Enchimento ventricular rápido Enchimento ventricular lento Contração atrial O marco inicial da diástole (relaxamento do coração) é o final da sístole (marcado pelo fechamento da valva aórtica). Nesse mo- mento, em que a válvula aórtica se fechou e a valva mitral ainda não se abriu, tem-se o pri- meiro período da diástole (2 valvas fecha- das), chamado de relaxamento isovolumé- trico. Em seguida, a pressão no AE fica maior do que no VE (porque está com sangue), abrindo a valva mitral, despejando o sangue no VE por diferença de pressão. Nesse pri- meiro momento em que a valva mitral aca- bou de abrir, é o enchimento rápido, posteri- ormente, o enchimento lento (responsável por 70% da transmissão desse sangue). Os 30% finais de sangue são enviados na úl- tima fase da diástole, a fase de contração atrial, despejando o restante do sangue no VE por meio de sua contração. Após isso, a valva mitral se fecha. Resumindo: o Relaxamento isovolumétrico: período em que se tem o fechamento da valva aór- tica, mas ainda não houve abertura da valva mitral. o Enchimento ventricular rápido: quando a valva mitral abre por diferença de pres- são entre o AE e VE. o Enchimento ventricular lento: após um tempo, quando a quantidade de sangue no AE já diminuiu. o Contração atrial: fase em que se despeja os 30% de volume sanguíneo restante do AE. Sístole A sístole inicia quando se tem o fechamento da valva mitral. A sístole é dividida em 3 etapas: Contração isovolumétrica Ejeção ventricular rápida Ejeção ventricular lenta Nesse primeiro momento, a valva mitral aca- bou de fechar, e a aórtica ainda não abriu, fase essa chamada de contração isovolumé- trica. A pressão no VE é muito maior do que na aorta, faz com que tenha abertura da valva aórtica. No momento em que abre a valva aórtica, o sangue é enviado para a aorta. Chama-se essa fase de ejeção ventricular rá- pida. Posteriormente, conforme apresenta menos sangue no VE, passa-se para a ejeção lenta. A pressão na aorta passa a ser muito maior do que a pressão no VE conforme se enche de sangue, fazendo com que a valva aórtica se feche. Resumindo: o Contração isovolumétrica: quando a mi- tral acabou de fechar, mas a aórtica ainda não abriu. o Ejeção rápida: momento em que ocorre a abertura da valva aórtica. 10 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Diagrama de Wiggers Esse diagrama é a representação do ciclo cardíaco. Resume-se todas as fases do ciclo para mostrar todas essas variáveis. As colunas são as fases citadas. Pressão atrial A pressão atrial é menor, sendo influenciada apenas pela veia cava inferior, jugular e pres- são no VD. O último evento da diástole é a contração atrial para que tenha a ejeção dos 30% res- tantes, o que gera a onda a (reflexo da pres- são no átrio esquerdo referente ao último pe- ríodo da diástole). O início da sístole é marcado pelo fecha- mento da válvula mitral. Essa situação leva a um aumento da pressão no VE, fazendo com que tenha abertura da válvula aórtica, trans- mitindo o sangue do VE para a aorta (fase isovolumétrica), até o momento em que se igualam as pressões. Quando a pressão no VE e a na aorta se igua- lam, ocorre o fechamento da valva aórtica, marcando o fim da sístole, e o começo da di- ástole. Fenômeno do nódulo dicrótico → reflete o fe- chamento da valva aórtica, ou seja, marca o fim da sístole e o início da diástole (divisão en- tre sístole e diástole). Essa situação ocorre no momento em que a valva aórtica é fechada, o sangue está saindo do VE, mas encontra a valva fechada e perde força de propulsão. Com isso, o sangue é redirecionado nova- mente ao ventrículo. Pressão ventricular A pressão nos ventrículos é bem maior, por- que precisa enviar sangue para todo o orga- nismo. Fecha a mitral no primeiro momento, tendo a mitral e aórtica fechada. A pressão do VE, nesse momento, sobe abruptamente. Abre a aórtica, começa a ejetar sangue. a primeira fase é a ejeção rápida, depois é ejeção lenta. Até o momento em que a pressão do VE se torna menor do que na aorta, fechando a valva aórtica. A pressão dentro do VE continua igual até o momento em que se tem o fechamento da mitral novamente, iniciando um novo ciclo. Pressão na aorta Essa curva tem grande importância clínica e importante aplicação prática (pressão arte- rial invasiva). Tem-se a pressão sistólica de 120 mmHg, e a diastólica de 80 mmHg. Essa pressão reflete esse ciclo cardíaco. Portanto, a pressão de pulso é de 40 mmHg (120 – 80). Volume ventricular Começou a sístole, tem-se a contração isovo- lumétrica, o volume permanece igual. ECG Há 3 grandes ondas/momentos que represen- tam a atividade elétrica passando pelo cora- ção. 11 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Onda P: despolarização atrial QRS: despolarizaçãoventricular Onda T: depolarização ventricular Estímulo cardíaco O estímulo cardíaco nasce no nó sinoatrial (no ápice do átrio direito). O ritmo do coração é chamado de nó sinusal, porque é ditado por esse nó. A despolarização atrial é a primeira coisa a ocorrer, porque é onde ocorre o estímulo. Pri- meiro tem-se a despolarização do AD, depois o AE pelos feixes. A primeira onda do ECG é a P, representação a despolarização atrial. Da onda P até o inter- valo QRS é a passagem do estímulo até o nó atrioventricular, para que não tenha contra- ção do átrio juntamente com o do ventrículo. Portanto, o nó atrioventricular serve como um “semáforo”, para não deixar o estímulo des- polarizar os ventrículos juntamente com os átrios. Quando o estímulo chega ao ventrículo, passa pelo feixe de His, que se bifurcando em ramo direito e esquerdo, por fim, formando a rede de Purkinje. A despolarização ventricular ocorre em 3 eta- pas: 1 – Região septal 2 – Paredes libres (maior massa do coração → onda gerada é maior) 3 – Região basal do coração É por isso que a onda que representa a des- polarização ventricular possui 3 ondas (QRS), o que representa cada uma dessas etapas. A onda T representa a repolarização ventricu- lar, as células precisam voltar ao normal para que ocorra uma nova despolarização. Por que não há uma onda de repolarização atrial? O ventrículo possui uma massa maior. Por- tanto, quando está ocorrendo a despolariza- ção ventricular, está ocorrendo a repolariza- ção atrial, mas como a massa do átrio é muito menor, essa onda não é visível ao ECG. O que é o período refratário do coração? É a onda T. Nesse período, caso tenha um es- tímulo, poderá causar uma arritmia. Se gerar um grande impacto, no momento re- fratário, a ponto de gerar uma força em cima da onda T, gera uma arritmia ventricular (tor- ção de pontas). 12 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Fonocardiograma É a ausculta cardíaca. • AUSCULTA NORMAL: Primeira bulha B1 (TUM) → representa o fecha- mento das valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide). M1 + T1 (fechamento da mitral e da tri- cúspide) Segunda bulha B2 (TÁ) → fechamento das valvas semilunares (aórtica e pulmonar). A2 + P2 (fechamento da aórtica e pul- monar) Entre a primeira e a segunda bulha está ocor- rendo a sístole. Entre B2 e B1 tem-se a diástole. Entre o TUM e o TÁ, tem-se a sístole. Entre o TÁ e o TUM, tem-se a diástole. A importância disso é saber auscultar e reco- nhecer situações de anormalidade. Caso haja normalidade, reconhece-se onde está. Por exemplo, um sopro depois do Tá é um so- pro diastólico. A dificuldade para uma válvula fechar é insu- ficiência. Segundas bulhas cardíacas • DESDOBRAMENTO FISIOLÓGICO DA SE- GUNDA BULHA: Existe uma situação que é fisiológica, o des- dobramento fisiológico da segunda bulha do coração. TUM, TRÁ O que está ocorrendo é que uma válvula está fechando antes da outra, por isso, ao invés de ouvir TÁ, ouve-se TRÁ. Essa condição é fisiológica quando se realiza a manobra de Rivero Carvalho, isto é, quando se realiza a inspiração profunda. Na inspiração profunda, a pressão dentro do VD aumenta, porque aumenta o retorno ve- noso para o lado direito do coração. Por dife- rença de pressão, a jugular esvazia em dire- ção ao VD. Portanto, essa manobra aumenta a chegada de sangue no lado direito do co- ração. Além disso, abaixa o diafragma e con- trai a circulação esplênica. Quando isso ocorre, chega mais sangue ao VD do que o normal. Portanto, a valva pulmo- nar precisará permanecer mais tempo aberta para ejetar o sangue, por isso que ocorre atraso no seu fechamento. Na prática, é difícil de ouvir esse desdobra- mento da segunda bulha. O desdobramento fisiológico ocorre na inspi- ração da respiração. • DESDOBRAMENTO FIXO DE SEGUNDA BULHA: Esse desdobramento é fixo, portanto, ocorre tanto na inspiração, quanto na expiração. Essa condição não é mais fisiológica, é pato- lógica, causada pela doença CIA (comuni- cação interatrial). É uma cardiopatia congênita, em que se tem uma comunicação no septo interatrial, cri- ando uma comunicação entre o átrio direito e esquerdo. Normalmente é uma doença que, se pequena, não gera repercussões. Em casos mais graves pode causar disfunção do coração. O shunt será da esquerda para a direita (o sangue vai do local de maior pressão, ou seja, esquerda, para o de menor pressão). Ao longo do tempo, como chega grande quan- tidade de sangue, o VD vai se adaptando, e tende a aumentar a pressão, tornando-se maior do que o lado esquerdo. Quando isso ocorre, leva a uma inversão desse shunt, dessa forma, o sangue venoso passa direta- mente para o lado esquerdo, sem passar pela circulação pulmonar, o que causa hipoxia, ci- anose de periferia, Síndrome de Eisenmenger. A válvula pulmonar terá que atrasar seu fe- chamento, também por maior chegada de sangue. • DESDOBRAMENTO PARADOXAL DA SE- GUNDA BULHA: Ocorre durante a expiração, por isso que é paradoxal, porque o fisiológico é que ocorra na inspiração. Há doença que cursam com essa condição: Insuficiência de tricúspide Estenose da válvula aórtica Bloqueio do ramo esquerdo Exemplo: estenose da válvula aórtica é a difi- culdade para a valva abrir. Normalmente, a valva aórtica precisa abrir na sístole. Mas quando o paciente apresenta uma estenose importante dessa valva, ocorre dificuldade para a passagem do sangue, dessa forma, para ejetar todo o sangue para o VE, precisará ficar mais tempo aberta. O que ocorre, é que o componente A2 da se- gunda bulha irá atrasar. 13 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Quando realiza a manobra de Rivero Carva- lho, chegará ainda mais sangue. Nesse mo- mento, terá maior chegada de sangue no lado direito do coração, fazendo com que te- nha atraso do componente P2 (valva pulmo- nar precisará ficar mais tempo aberta). Nesse caso, como o tempo de fechamento das duas válvulas será igualado, a bulha irá sumir à ausculta. Terceira e quarta bulhas Existem outras situações de bulhas, chama- das de bulhas acessórias. Normalmente, tem-se duas bulhas (B1 e B2). A diferença entre B3 e B4 é o momento do ci- clo cardíaco em que estas aparecem. Se o sopro é mais audível ao começo da sís- tole, é chamado de proto, quando mais au- dível no meio, é meso. Ao final é chamado de telesistolico. Quando pega todo o ciclo é chamado de holosistolico. Tanto B3, quanto B4 ocorrem entre B2 e B1, ou seja, na diástole. • TERCEIRA BULHA: É um dos critérios para o diagnóstico de insu- ficiência cardíaca. Sempre pensar em cardiomiopatias dilata- das. SEMPRE será protodiastólica No momento em que abre a mitral e o sangue despeja do AE para o VE, não se ouve nada. Mas caso o coração seja muito dilatado, o sangue irá bater no ventrículo e causará um som, que é o som da terceira bulha. É protodiastolica porque ocorre quando há a abertura da valva mitral. É um marcador de insuficiência sistólica por- que é preciso ter o VE dilatado para que essa bulha ocorra. TUM, TÁ, TRÁ Normalmente, nesses pacientes, a FC está au- mentada para tentar compensar o débito que está reduzido. Nesse caso, o som será muito rápido. • QUARTA BULHA: SEMPRE será telediastólico, ou seja, é pré-sis- tólico (porque ocorre antes da sístole, ao final da diástole). Marcador de insuficiência diastólica, ou seja, o coração não consegue relaxar corretamente para receber o sangue. A maior doença que causa essa situação é a cardiomiopatia hipertrófica, nesse caso, a ca- vidade para receber o sangue é menor. Nessa situação, na contração atrial, o sangue bate na parede muito espessada, formando o som da quarta bulha. Marcador de cardiomiopatias hipertróficas,que ocorrem na diástole. TA, TUM 20 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Curso de semiologia cardiológica (parte 2) Pulso jugular Uma pressão muito elevada no AD, reflete uma alta pressão na jugular direita. Portanto, à beira leito, pode-se perceber um sofrimento cardíaco. O valor normal da pressão venosa central é de 2 a 8 mmHg, e é uma represen- tação indireta da função do VD. A, C e V → ondas positivas X, Y → descenso Há comunicação anatômica entre a jugular, cava superior, AD, VD e artéria pulmonar, ge- rando uma coluna. Onda A = contração atrial (ocorre ao fim da diástole, representa a onda P no ECG). Onda C = fechamento da tricúspide (no início da sístole – contração isovolumé- trica do ventrículo, representada pela onda R no ECG). Descenso X = relaxamento atrial (repre- sentado no ECG pela onda QRS). Onda V = enchimento atrial (no fim da sís- tole – representado pela onda T no ECG). Descenso Y = esvaziamento atrial (início da diástole – entre a onda T e P no ECG). Curvas de pulso • ONDA A: A primeira onda que se tem é a curva A. Essa curva mostra o momento em que se contrai o átrio direito para mandar o sangue em dire- ção ao VD. Contudo, as estruturas que estão acima do AD também sentem essa pressão, assim, a coluna de sangue que está acima do AD também se move em direção à jugular. • ONDA C: Em seguida, forma-se a onda C, é uma fase em que o VD está cheio de sangue e as duas valvas estão fechadas, ocorrendo um au- mento de pressão no interior do VD, fazendo com que ocorra um abaulamento da tricús- pide para dentro do AD, formando essa onda C na curva de pressão venosa. • DESCENXO X: O descenso X mostra a fase de relaxamento atrial, no meio da sístole. Representada pela fase QRS no EGC, fase em que o ventrículo está contraindo, e o átrio se encontra na fase mais relaxada. Nessa fase, ocorre a abertura da valva pul- monar, ejetando todo o sangue do VD em di- reção à artéria pulmonar, por isso que ocorre esse descenso. • ONDA V: Mostra o enchimento atrial, com a valva tri- cúspide fechada. Fase em que o ventrículo já ejetou o volume, e o átrio começa a se en- cher novamente. Acima do VD está se en- chendo de sangue, gerando uma onda posi- tiva que enche a jugular novamente. Representada pela onda T no ECG, na qual ocorre a repolarização ventricular. • DESCENSO Y: Indica o esvaziamento atrial, que marca o iní- cio da diástole (por causa da abertura da tri- cúspide). Fase entre a onda T e uma nova P no ECG. O descenso Y é o que reflete o relaxamento ventricular. ✓ ONDA → representa a jugular se en- chendo de sangue. ✓ DESCENSO → representa a jugular cola- bada. 21 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Punção de jugular Durante o cateter venoso central, punciona- se a jugular, mede-se essas pressões, e mostra uma curva no monitor. Alterações do pulso de jugular Algumas alterações nessas ondas refletem al- gumas doenças. Azul: onda A gigante. Verde: onda A ausente. • ONDA A GIGANTE: É resultado da contração atrial vigorosa frente à uma pressão diastólica muito aumen- tada do ventrículo ou por causa de alguma obstrução à passagem do sangue para o mesmo. As principais causas são: hipertensão arterial pulmonar, estenose tricúspide, hipertrofia de VD. • ONDA A EM CANHÃO → BAVT: Representa uma dissociação AV, como no bloqueio atrioventricular total. É uma dissincronia total entre o átrio e o ven- trículo, essa situação é gerada quando o nó atrioventricular não funciona (o semáforo está quebrado), e o estímulo elétrico fica descon- trolado. Assim, quem assume o ritmo são as células do ventrículo, a FC fica baixa. Na maioria das vezes este paciente tem indi- cação de marca-passo. Quando isso ocorre, ao bater o átrio, a tricús- pide fica fechada, assim, o átrio contrai e, como a valva está fechada, o sangue vai para a jugular (onda A ficará maior). É observada de maneira irregular, como ob- servado na imagem abaixo, ou seja, não está presente durante todo o ciclo, diferente- mente da onda A gigante. • ONDA A AUSENTE → FA: Ocorre ausência da onda A quando se tem fibrilação atrial. Os átrios não têm contração efetiva, ficam fibrilando. Para suspeitar de um paciente com FA, há ausência de onda P no ECG, e no pulso venoso terá ausência de onda A (representado pela onda verde na fi- gura). • ONDA V GIGANTE → INSUFICIÊNCIA DA TRICÚSPIDE: Ocorre dificuldade para fechar a tricúspide. Sendo assim, na hora de contrair o VD, o san- gue que deveria ir para a artéria pulmonar, vai para a tricúspide, AD e, consequente- mente, para a jugular, gerando uma onda V gigante. A onda V apresenta-se aumentada nos casos em que o AD recebe volumes muito grandes de sangue durante seu enchimento. Portanto, outra causa de onda V aumentada é na co- municação interatrial, onde o shunt es- querda-direita gera um volume maior para o AD. • COLAPSO X → INSUFICIÊNCIA DE TRI- CÚSPIDE: Incapacidade valvar de impedir o fluxo retró- grado de sangue para AD, gerando um grande volume de pressão positiva nessa 22 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA fase, que normalmente deveria apresentar uma queda da pressão. Nessa mesma situação tem-se a coexistência de uma onda V gigante. • COLAPSO Y → DERRAME PERICÁRDICO: Está presente em doenças que restringem o relaxamento ventricular. No tamponamento cardíaco ocorre uma difi- culdade de relaxamento do miocárdio por- que o pericárdio está cheio de sangue. Passa a ejetar menos sangue para as células do corpo. As células do corpo que não estão recebendo sangue, entram em choque circu- latório (obstrutivo). A cada sístole, a quanti- dade que sai é menor. O problema não está no músculo cardíaco, e sim por uma obstrução que ocorre no pericár- dio. Por causa dessa restrição mecânica, o ventrículo não consegue mais acomodar vo- lume, de modo que o colapso Y volta rapida- mente para a linha de base, observando a depressão profunda e rápida na jugular do paciente. O tratamento é realizado com a punção de Marfan. Choque circulatório Choque circulatório é o desbalanço entre o consumo e o envio de oxigênio. Se não chega oxigênio para a mitocôndria celular, entra em respiração anaeróbia, a célula co- meça a liberar lactato (produto da aerobi- ose). O que indica que o paciente está em desbalanço entre o que chega de oxigênio e a demanda. Como suspeitar de um choque? FC ↑, PA ↓, nível de consciência rebaixado, diurese ↓, periferia com ↑ tempo de enchi- mento capilar. Existem diferentes tipos de choque, basica- mente há 4 tipos de choque: ✓ Hipovolêmico (não tem hemoglobina para levar o oxigênio às células) – ex: desidratação, hemorragia ✓ Cardiogênico – ex: IAM ✓ Obstrutivo (alguma coisa obstruindo a saída de sangue do coração) – ex: tamponamento cardíaco (pegadinha de prova), TEP, pneumotórax hiperten- sivo (desloca o mediastino e obstrui os vasos da base) ✓ Distributivo → o problema está no ca- minho, quando as artérias estão tão vasodilatadas que gera uma desidra- tação funcional (não por falta de vo- lume, e sim por uma vasodilatação in- tensa) – ex: choque séptico, choque anafilático, neurogênico (trauma ra- quimedular). Sinal de Kussmaul A turgência de jugular é um sinal muito impor- tante observado à beira leito. Na manobra de Rivero Carvalho, todo o san- gue sai da jugular e vai para o VD, o normal seria que durante essa manobra ocorresse colabamento da jugular. Contudo, durante a inspiração, pode-se ter si- nal de Kusmaul, quando a jugular não co- laba, fica tugida, o que indica sobrecarga de VD. Refluxo hepatojugular / abdominojugularColoca-se o paciente a 45º (toda vez que se analisa a jugular, o paciente deve estar nessa posição, para não ter influência da gravi- dade), comprime o rebordo costal direito por 10 segundos. Quando comprime o fígado, a tendencia é enviar o sangue para o AD e VD. Se o AD estiver sobrecarregado, o sangue fi- cará na jugular, causando turgência de jugu- lar. É um outro sinal muito importante, por isso que é importante realizar nos pacientes à beira leito. 23 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA É um sinal importante para diagnóstico de in- suficiência cardíaca → para realizar o diag- nóstico de IC é clínico, utiliza-se os critérios clínicos de Framingham (há critérios maiores e menores, dentre os critérios maiores, tem-se o refluxo hepatojugular). Tríade de Beck Existe uma tríade clássica para diagnosticar o tamponamento cardíaco (tríade de Beck): 1. Hipofonese de bulhas (muito líquido na cavidade) 2. Hipotensão (choque obstrutivo) 3. Estase ou turgência de jugular (o san- gue está tentando entrar, mas o cora- ção não consegue relaxar adequada- mente). Existe um outro sinal que pode indicar o tam- ponamento cardíaco, que é o pulso parado- xal (mas não é exclusivo dessa situação). Pulso paradoxal A definição de pulso paradoxal é: ↓ PAS > 20 mmHg na inspiração profunda (Rivero Carva- lho). Para visualizar isso há 2 jeitos: Cateter na artéria radial → mandar o paciente inspirar profundamente. Manguito no braço do paciente → pe- gar o pulso do paciente, insuflar o man- guito, quando parar de sentir o pulso, tem-se a pressão sistólica. Travar o manguito nesse momento e pedir para o paciente inspirar profundamente e segurar, nesse momento, o pulso do paciente cairá. Ao soltar o ar, a pres- são sobe novamente para o valor que estava anteriormente. Essa situação ocorre porque no tampona- mento cardíaco ocorre restrição da diástole. Na manobra de RC chega mais sangue ao lado direito do coração. Para comportar esse volume a mais que chega no lado direito, ocorre o abaúla do septo em direção a pa- rede lateral do VE. Contudo, como o VE está cheio de sangue, ficará colabado, che- gando menos sangue da circulação pulmo- nar ao VE. Portanto, sairá menos sangue para a aorta na hora da contração do VE, tendo uma queda da PAS > 20 mmHg porque saiu menos sangue. Esse é o pulso paradoxal. Pulso venoso O pulso venoso aumenta com a inspiração, enquanto o pulso arterial/carotídeo não al- tera durante a inspiração. Portanto, se está palpando um pulso e não sabe diferenciar se é arterial ou venoso, pedir para o paciente re- alizar uma inspiração forçada. Além disso, o pulso venoso também se altera com a posição do paciente, enquanto o ar- terial permanece igual. Pressão venosa central Com o paciente a 45º, palpar o ângulo de Louis (esternal) e marcar como ponto zero. Colocar uma régua em cima do ângulo ester- nal, pegar uma antena e posicionar do tér- mino da turgência até a régua (90º). Marcar na régua quantos cm deu e somar 5 cm → estimativa da pressão venosa central do VD. > 8 cm → pressões elevadas de câmaras D >16 cm → insuficiência cardíaca 24 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA A circulação direita é a pulmonar. E a circula- ção esquerda é a sistêmica, que irá para o restante do corpo. A principal causa de sobrecarga do VD é a sobrecarga do VE. Muitas vezes, essa situação se mostra apenas com uma turgência de ju- gular. Infarto da parede anterior do VE: Causa necrose e leva a insuficiência cardí- aca (parte do coração não bate direito por- que necrosou). Se esse sangue não é ejetado, retrogradamente, o AE começará a represar sangue, aumentar a pressão, e sofrer. A veia pulmonar tentará mandar sangue ao AE e não irá conseguir. A pressão alvéolo-capilar estará extremamente aumentada (por in- fluência dessa sobrecarga de VE). Normal- mente, dentro do alvéolo, é para ter apenas uma quantidade ínfima de líquido (o surfac- tante). Como o AD está cheio de sangue, a pressão se transmite para a veia pulmonar, que trans- mite para a membrana alvéolo-capilar, o san- gue sai do capilar e passa para o alvéolo → estertores subcrepitantes na ausculta. Ocorre diminuição da área de troca gasosa, cau- sando dispneia nesse paciente. o Ortopneia → quando o paciente se deita, o líquido se espalha pelo alvéolo e diminui ainda mais a área de troca gasosa, cau- sando ortopneia. o Dispneia paroxística noturna → quando o paciente vai dormir, tem um volume ainda maior de líquido de alvéolo que não conseguiu ser drenada durante o dia (é específico de insuficiência cardíaca, outro critério maior para diagnóstico). Pa- ciente acorda no meio da noite sufocado com falta de ar. O VD não funciona bem sob altas pressões, começa a se sobrecarregar, dilatar e se torna insuficiente. O que reflete para AD, veia cava, e o sangue que deveria ser escoado da jugu- lar para o AD, começa a causar jurgência. Este paciente apresentará terceira bulha e es- tertores à ausculta. Pulso arterial O pulso arterial reflete o que ocorre na caró- tida e no VE. • PULSO ANACRÓTICO → ESTENOSE DE VALVA AÓRTICA: Amplitude baixa (sai menos sangue) e dura- ção longa (pulso mais difícil de ser palpável). A principal doença que cursa com esse pulso patológico é estenose de valva aórtica (difi- culdade para abrir). Quando a valva está estenosada, o pulso fi- cará com menor amplitude, mas a contração precisará ser mais demorada, porque o local para a passagem do sangue está menor (de- mora mais tempo para passar o sangue). • PULSO HIPERCINÉTICO / EM MARTELO D’AGUA → INSUFICIÊNCIA DE VALVA AÓRTICA: Amplitude extremamente alta, e a duração é extrema- mente curta (extremamente fácil de ser palpável). Causado por insuficiência da válvula aórtica (dificuldade em se fechar a válvula). No mo- mento da diástole (relaxamento do coração para receber sangue), a valva fica aberta e volta em direção ao VE (recebe sangue tanto da aorta quanto do AE), o próximo volume de sangue será muito maior (por isso que será com maior amplitude e menor duração). Sinal de Muller → úvula fica pulsando. Sinal de Mice → o pulso é tão forte que o paciente mexe o pescoço. Sinal de Quincke → pulsação do leito ungueal junto com a FC. • PULSO DICRÓTICO: Há duas ondas muito positi- vos, contudo, uma ocorre antes do nó dicrótico (sis- tóle), outro depois (diástole). Reflete o fechamento da valva aórtica, ge- rando essa incisura. • PULSO DISFERIENS: Duas ondas positivas antes do nó dicrótico (na sístole). Pode acon- tecer na dupla lesão aórtica (in- suficiência e estenose na valva aórtica). 25 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA • PULSO ALTERNANS: A pressão fica alternante. Ocorre em choque cardiogênico grave ou tamponamento cardíaco. • PULSO PARADOXUS: É o pulso paradoxal. Queda da PAS > 20 mmHg à inspiração profunda. Sopros cardíacos Sopro é a passagem do líquido por um per- curso apertado, gerando um barulho. Características da análise: 1. Intensidade → grau com que se aus- culta o sopro 2. Frequência → número de vezes que eu escuto o sopro (Htz). 3. Timbre → variação da sonoridade (es- ses timbres apresentam nomes) – é a qualidade do som 4. Configuração → é o mais importante, holossistólico ou holodiastólico, cresce e decresce? 5. Cronologia 6. Duração → proto, meso, tele ou holo. 7. Localização → precisa saber os focos de ausculta 8. Irradiação → mitrais irradiam para axila e aórticos para fúrcula e carótida. OBS: as doenças do lado direito costumam ser congênitas. Intensidade do sopro Há 6 graus de intensidade. Classificação de Levine: VI – O sopro é auscultado sem estetoscópio. V – Precisa de meio estetoscópio paraaus- cultar. IV – Sopro alto e apresenta frêmito → ao co- locar a mão no foco, sente vibrar na mão. Quando não ausculta, apenas sente o frê- mito é grau IV. III – Não tem frêmito, apenas irradia para ou- tros focos. II – Esculta com facilidade no estetoscópio, mas não tem frêmito e nem irradia. I – É auscultado apenas com manobras. Sopros aórticos → são melhores aus- cultados com o paciente sentado e fletindo o tórax para frente. Sopros mitrais → melhores auscultados com a posição de DLE, mão esquerda embaixo da cabeça e mão direita no glúteo (manobra de Shuster). Configuração, cronologia e duração A configuração é o mais importante na clas- sificação dos sopros cardíacos. • ESTENOSE AÓRTICA: Sopro que cresce e decresce na sístole é tí- pico da estenose aórtica. Indica dificuldade para abrir a aorta (que deveria abrir da sís- tole), por isso que acontece na sístole. • INSUFICIÊNCIA AÓRTICA: O sopro da insuficiência aórtica decresce e é diastólico. • INSUFICIÊNCIA MITRAL: É em barra e ocorre na sístole. • ESTENOSE MITRAL: É chamado de sopro “gravatinha de borbo- leta”, porque ele cresce e decresce, ocorre na diástole. Os sopros diastólicos são mais difíceis de se- rem auscultados por causa da frequência (é extremamente alta). Por isso que na maioria das vezes precisamos de manobras para aus- cultá-las. 26 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Focos de ausculta cardíaca Foco aórtico: 2º espaço intercostal na li- nha hemiclavicular. Foco pulmonar: 2º espaço intercostal, en- tre a linha mamária e o esterno. Foco mitral: 5º espaço intercostal, na linha mamária. Foco tricúspide: bordo esternal esquerdo baixo. Foco aórtico acessório: borda esternal es- querda no 3º espaço intercostal. Irradiação do sopro • SOPROS AÓRTICOS: Irradiam para fúrcula e carótida e são melho- res auscultados com o paciente defletindo o tórax para frente na expiração. • SOPROS MITRAIS: Irradiam para axila esquerda e são melhores auscultados com o paciente em decúbito la- teral esquerdo. Passos para diagnóstico de sopros 1 – Classificar em sistólico ou diastólico: Se o sopro ocorre entre o TUM e o TÁ, é sistó- lico. Se ocorre entre o TÁ e o TUM, diastólico. 2 – Definir o melhor foco de ausculta (de acordo com a localização): Onde se ouve mais claramente o sopro, a fim de definir qual é a válvula que está com pro- blema. 3 – Definir a configuração: Cresce e decresce, é em barra? 4 – Definir duração: Tele, meso, holo, proto. Insuficiência mitral Sistólico ou diastólico? Esse sopro está ocorrendo entre B1 (fecha- mento das valvas atrioventriculares) e B2 (fe- chamento das semilunares). Portanto, está ocorrendo na sístole (a mitral deveria estar fe- chada). Foco de ausculta: A válvula mitral se fecha na sístole. Portanto, indica uma dificuldade de fechar a válvula mitral. Como o problema está no lado es- querdo, indica insuficiência da mitral. OBS: se este mesmo problema estivesse ocor- rendo do lado direito, seria uma insuficiência da tricúspide. Causas: Pode ser por causar primárias, quando a pró- pria válvula está doente, como por exemplo, necrose do músculo papilar, no qual as cor- doalhas tendíneas que sustentam a válvula mitral desabam, ou por uma endocardite que leva a destruição mitral. Ou pode ocorrer por causas secundárias, sendo a dilatação do VE a causa mais comum. Característica: É um sopro holossistolico (ocorre durante toda a sístole), que não varia de intensidade (em barra). Timbre: regurgitativo (chaleira). Manobra de Handgrip: Existem algumas manobras que aumentam a intensi- dade do sopro. Na manobra de Handgrip, o paciente faz força apertando as duas mãos, gera vasoconstrição das artérias perifé- ricas, aumentando a pressão periférica, difi- cultando a saída pelo VE. Com isso, o sangue tende a se direcionar para onde há maior fa- cilidade, no caso, passará pela valva com in- suficiência, por isso que o som do sopro é in- tensificado com essa manobra (na insuficiên- cia mitral). 27 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Prolapso da valva mitral Prolapso é quando a valva prolapsa para dentro do átrio esquerdo quando vai se fe- char. Se esse prolapso for muito intenso, fará com que a valva fique aberta, gerando uma insuficiência mitral. Não são todos os prolapsos que causam essa situação, mas caso o prolapso seja intenso, poderá acontecer. Sopro sistólico ou diastólico? Ocorre entre B1 e B2, é sistólico. Características: É um sopro mesossistólico, que começa do meio para o fim da sístole. Tem como carac- terística patognomônica o click antes do so- pro. Estenose mitral A principal causa de estenose mitral é a febre reumática. A febre reumática destrói a valva mitral, e funde as comissuras mitrais. A mitral é bicús- pide. A febre reumática funde essas duas cús- pides, impedindo sua abertura (essa dificul- dade para abrir causa um som chamado es- talido de abertura, causada pela fusão co- missural). Começa na fase de enchimento rápido, é mesodiastólico, porque é nesse momento em que o sangue começa a passar pela valva (que apresenta dificuldade em abrir, nesse caso). A válvula aórtica se abre na diástole, o sopro terá início no enchimento rápido, porque é quando terá dificuldade em abrir para a pas- sagem do sangue. Com o passar do tempo, a quantidade de sangue passando diminui e, consequentemente, o sopro também será menor na fase de enchimento lento. Por fim, com a contração atrial, o sopro volta a au- mentar, porque o volume final terá dificul- dade em passar. Quando ouvir estalido de abertura, poderá ter a certeza de que a causa da estenose mi- tral é por febre reumática, porque apenas essa condição gera a fusão de comissuras. Sistólico ou diastólico? Entre B2 e B1, portanto, diastólico. Características: É um sopro mesodiastólico, que decresce e cresce. Timbre: Timbre em ruflar (batidas das asas de borbo- leta) – é melhor auscultado com a manobra de Shuster. Quem mais sofre pela estenose mitral, o VE ou o AE? O AE, porque o sangue fica todo concen- trado no átrio. No momento em que a mitral deveria abrir, abre pouco com dificuldade. Essa situação causará dilatação do AE, cau- sando fibrilação atrial, no ECG terá ausência da onda P, porque não ocorre contração atrial. Portanto, a estenose mitral é a valvulopatia que mais cursa com fibrilação atrial. Em al- guns casos o aumento do átrio é tão grande que pode contrair o nervo laríngeo, responsá- vel pela mobilidade das cordas vocais (Sd de Ortner, causa rouquidão). A ausência de reforço pré-sistólico denota que este paciente, além da estenose mitral, apresenta fibrilação atrial. Além disso, se hou- ver estalido de abertura, pode-se também ter a certeza de que a causa é por febre reumá- tica. Insuficiência aórtica A principal causa de insuficiência aórtica é um aneurisma de aorta ou por endocardite. Leva a uma dificuldade em fechar a valva aórtica, apresentando um sopro diastólico. Na diástole, a valva aórtica se fecha. Por- tanto, um sopro nessa fase, é por dificuldade de fechar (insuficiência). 28 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Sistólico ou diastólico? Ocorre entre B2 e B1, portanto, diastólico. Características: É um sopro que decresce, passa o tempo da diástole, diminui a quantidade de sangue que passa pela aórtica e o sopro diminui. Não tem reforço pré-sistólico porque não está passando pela mitral, apenas pela aórtica. E o reforço pré-sistólico ocorre com a contra- ção atrial. Timbre: aspirativo. Estenose aórtica É um sopro em diamante (cresce e decresce). Isso também ocorre por causa da ejeção rá- pida e lenta.Ocorre por dificuldade em abrir a valva aór- tica, assim, o coração precisa contrair muito para ejetar o sangue, primeiro sai muito rapi- damente, depois, sai menos. Quando mais perto da segunda bulha for o sopro, pior é o grau da estenose aórtica. In- dica que demora ainda mais para o sangue passar. Timbre: ejetivo (máquina de lavar). Existe uma outra doença, chamada cardio- miopatia hipertrófica, que gera um sopro igual ao sopro da estenose aórtica (mas a do- ença não é na valva). É a principal causa de morte súbita em atletas. Por conta desse au- mento do septo (hipertrofia) gera uma obstru- ção na saída do VE. A diferença dos 2 sopros: Estenose aórtica → obstrução na saída é fixa (o sangue vai ter sempre dificuldade para passar). Cardiomiopatia hipertrófica → obstrução é funcional, não é fixa. Se o ventrículo es- querdo estiver com muito sangue, pode ter desvio do septo, diminuindo o septo. Existem manobras que fazem essa simulação, para conseguir diferenciar as duas condi- ções. Essas manobras são: valsava e agacha- mento. • MANOBRA DE VASALVA: Expiração profunda forçada. É como se esti- vesse esvaziando o VE. Sendo assim, o VE fica murcho. ✓ No paciente com cardiomiopatia hiper- trófica, essa situação aumenta o sopro. ✓ No paciente com estenose fixa (aórtica), diminui o sopro. • MANOBRA DO AGACHAMENTO: Faz exatamente o contrário da manobra de valsava. Exacerba o retorno venoso, aumen- tando a quantidade de sangue que chega ao coração. Com isso, deixará o coração ex- tremamente turgido/cheio, empurrando o septo, ou seja, a via de saída. Assim, no paciente com cardiomiopatia hi- pertrófica, o sopro diminui, já nos pacientes com estenose aórtica, o sopro irá aumentar (porque irá passar mais sangue por uma obs- trução fixa, a estenose). 29 ANA PAULA – MED UNIMES XXII ATD1 - CARDIOLOGIA Epônimos x sopros cardíacos Há sopros que denotam gravidade das valvu- lopatias. • SOPRO DE GALLAVARDIN: É típico de estenose aórtica grave. A principal causa de estenose aórtica é a cal- cificação da valva nos idosos, e nos pacien- tes jovens ocorre por alteração bicúspide (normalmente é tricúspide). No momento em que o sangue passa por uma valva extremamente calcificada, gera um sopro piante no foco mitral (longe de onde deveria ser auscultada). Enquanto no foco aórtico será a presença do sopro aór- tico. • SOPRO DE AUSTIN-FLINT: Denota insuficiência aórtica extremamente grave. No paciente com insuficiência aórtica, a valva aórtica deveria fechar na diástole, mas não fecha, fica aberta. O sangue está che- gando do AE para o VE, para causar o enchi- mento do VE. Como tem insuficiência aórtica, o sangue bate no folheto da mitral que está aberta, empurrando esse folheto, fechando parte da valva mitral, gerando uma estenose mitral funcional. Estenose mitral funcional secundária a uma in- suficiência mitral que é muito grande. No momento da ausculta, tem um sopro tí- pico no foco aórtico (aspirativo que de- cresce), mas no foco mitral escuta um sopro diastólico mitral do tipo decresce e cresce. Para o tratamento dessa condição, deverá trocar a valva aórtica (o problema não está na mitral, e sim na aórtica).
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