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8 desenvolvimento, por meio de um sistema capitalista efetivamente articulado ao setor privado, propondo, por meio de documentos legisladores, políticas de inclusão, de aumento de oportunidades e de enfrentamento aos problemas causados pela desigualdade social. Busca-se uma educação democratizante, tal como rege, as leis que nos amparam. (LIMA, 2019) Assim, identificamos que cabe ao Estado a oferta de uma educação básica de qualidade e gratuita que atente às necessidades de todos os cidadãos por meio de diferentes modalidade e níveis, estabelecendo os objetivos de cada um deles e assegurando as condições necessárias não só para o ingresso de alunos no sistema de ensino, mas também sua permanência. (LIMA, 2019) 4 AS TRÊS PRINCIPAIS TAREFAS DO ESTADO EM SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO Sabemos que a educação é um direito de todos os cidadãos, assegurado por lei em nosso país. O Estado brasileiro é dividido em níveis federal, estadual e municipal, que se articulam para viabilizar meios de ofertar o que lhes foi atribuído por documentos constitucionais e outros. (LIMA, 2019) Compreendemos que toda lei representa uma forma de gestão que reflete a política vigente e uma disputa de interesses sobre o tema tratado (GRACINDO, 1998). Assim, ainda que estejamos falando sobre a educação, não podemos dissociá-la da política (Estado). Vimos que, a partir das reconfigurações dos papéis do Estado decorrentes da globalização e de suas relações com o capital, aquele passou a exercer um papel de regulação, de provisão e de promoção de políticas sociais e educacionais. Essa regulação surge com o objetivo de intervir nas políticas públicas, visando a modernizar a administração e superar alguns controles que tornavam os processos mais burocráticos e atrasavam o progresso dos trabalhos desenvolvidos, interferindo na qualidade do que se almejava avançar. No campo educacional, busca-se a promoção de instituições educacionais com mais autonomia e responsabilidade sobre seus resultados. A respeito dessas novas relações, de acordo com Lessard, Brassard e Lusignan (2002, p. 35): 9 O Estado não se retira da educação. Ele adopta um novo papel, o do Estado regulador e avaliador que define as grandes orientações e os alvos a atingir, ao mesmo tempo que monta um sistema de monitorização e de avaliação para saber se os resultados desejados foram, ou não, alcançados. Se, por um lado, ele continua a investir uma parte considerável do seu orçamento em educação, por outro, ele abandona parcialmente a organização e a gestão quotidiana, funções que transfere para os níveis intermediários e locais, em parceria e concorrência com atores privados desejosos de assumirem uma parte significativa do “mercado” educativo. Desse modo, podemos identificar, em nossa Lei de Diretrizes e Bases nº. 9.394/96, algumas disposições que denotam o papel regulador do Estado quanto à educação: Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, documento on-line). Como podemos observar, esses princípios e fins articulam-se diretamente com o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, reafirmando esses deveres em um documento especificamente elaborado para organizar nossa educação nacional, atentando para os objetivos educacionais voltados para o desenvolvimento da cidadania e a inserção no mercado do trabalho. Em continuidade à LDB nº. 9.394/96, temos as disposições sobre o direito à educação e o dever de educar, que apresentam mais uma tarefa do Estado: Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I – Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II – Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III – atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – Atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo- se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; 10 VIII – atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX – Padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem (BRASIL, 1996, documento on-line). A partir dessas especificações, a LDB apresenta as incumbências dos diferentes níveis que formam o Estado para o atendimento e a oferta de todas essas etapas e modalidades educacionais que visam a atender a população de todas as idades. (LIMA, 2019) Em 2006, foi promulgada uma lei alterando alguns capítulos da LDB nº. 9.394/96. A Lei nº. 11.274 (BRASIL, 2006), que tornou obrigatória a matrícula para as crianças a partir dos seis anos de idade, dispõe que o Estado, em diferentes esferas, deve assegurar a obrigatoriedade do ensino fundamental em até dez anos após sua promulgação. Outro documento que evidencia as formas de atuação estatal é o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº. 13.005/14 (BRASIL, 2014), com prazo de vigência de 2014 até 2024. O PNE apresenta metas que devem ser definidas por meio da articulação e colaboração entre Estado, união, distrito federal e municípios e trata de questões tais como a ampliação do acesso à educação a todos os cidadãos, as formas de financiamento e as propostas de valorização dos profissionais de educação. O PNE tem, no total, 20 metas e suas respectivas estratégias e prazos de instituição ao longo desses dez anos. Apresenta, também, as seguintes diretrizes em seu Art. 2º: I - Erradicação do analfabetismo; II - Universalização do atendimento escolar; III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV - Melhoria da qualidade da educação; V - Formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; VI - Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País; VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; IX - Valorização dos (as) profissionais da educação; 11 X - Promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental (BRASIL, 2014, documento on-line). Verificamos, por meio de diferentes documentos normativos, os desdobramentos das principais tarefas que são de incumbência do Estado, em colaboração entre as esferas federais, estaduais e municipais, para assegurar uma educação pública de qualidade, que promova a equidade, justiça social e desenvolvimento para o exercício da cidadania e para as relações profissionais. Por meio de políticas educacionais, são buscados meios de enfrentamento de problemas que são consequência de nossa trajetória educacional, marcada por desigualdade e luta de classes. (LIMA, 2019) 5 ANÁLISEDO ESTADO PARA COMPREENSÃO DA EDUCAÇÃO Para que possamos acompanhar o processo de alguma atribuição do Estado, é necessário identificar algumas de suas especificidades, ou seja, os elementos que a compõem, responsáveis por sua formulação, execução e implementação. Para tanto, podemos iniciar esse estudo a partir do conceito de Estado de Easton (1982) e Schwartzman (1982, apud CABERLON, 1997, p. 130): [...] a força do conceito de Estado é que ele se refere a um espectro muito concreto e generalizado das sociedades modernas - o desenvolvimento de grandes e complexas estruturas organizacionais que concentram o poder, tendem a manter o monopólio do uso da força, organizam-se em linhas burocráticas (e) têm um limite territorial definido (...). Além disso, o Estado não é uma simples 'função' dentro de um sistema político, uma vez que, de acordo com suas diferentes histórias, cada sociedade tem seu tipo peculiar [...]. Nesse sentido, se trouxermos o conceito de Estado para a realidade de governo brasileiro, estreitamente articulado ao modelo capitalista e ao fenômeno da globalização, veremos se desdobrarem movimentações a partir da tendência neoliberalista, redefinindo o papel do Estado e de suas relações com os setores sociais, políticos e educacionais. Pautas como a promoção da igualdade e da justiça perdem espaço para a ampliação da produtividade, da eficiência e da qualidade (CABERLON, 1997).
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