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Carla Bertelli – 5° Período Neoplasias da Tireoide 1 – Compreender a etiologia, epidemiologia, patogênese, manifestações clínicas e diagnóstico das neoplasias benignas e malignas da tireoide O nódulo tireoidiano solitário é um aumento discreto e palpável na glândula tireoide supostamente normal. – A incidência estimada dos nódulos palpáveis solitários na população adulta dos Estados Unidos varia entre 1% e 10%, mas é significativamente elevada nas regiões de bócio endêmico. Os nódulos simples são cerca de quatro vezes mais comuns em mulheres que em homens. A incidência de nódulos tireoidianos aumenta ao longo da vida. Embora menos de 1% dos nódulos tireoidianos solitários sejam malignos, ainda representam cerca de 15 mil novos casos de carcinoma tireoidiano por ano nos Estados Unidos. Felizmente, a maioria desses cânceres é indolente, e mais de 90% dos pacientes afetados estão vivos 20 anos após serem diagnosticados. Do ponto de vista clínico, a principal preocupação em pessoas que apresentam nódulos na tireoide é a possibilidade de neoplasia maligna. Felizmente, a maioria dos nódulos solitários da tireoide se mostra como lesões não neoplásicas localizadas (p. ex., nódulo dominante no bócio multinodular, cistos simples ou focos de tireoidite) ou neoplasias benignas, tais como os adenomas foliculares. Critérios Clínicos sobre a natureza de um nódulo tireoidiano • ó á – Mais suscetíveis à neoplasias que nódulos múltiplos • ó – Mais suscetíveis a neoplasia do que nódulos em pacientes mais velhos • ó são mais suscetíveis de neoplasia que os de mulheres. • Um histórico de çã ç e do pescoço está associado a uma incidência aumentada de malignidade tireoidiana. • ó que captam iodo radioativo nos estudos de imagem (nódulos quentes) são muito mais suscetíveis de benignidade que de malignidade. Adenomas ã á é ã ã Clinicamente, pode ser difícil distinguir os adenomas foliculares dos nódulos dominantes da hiperplasia folicular ou dos carcinomas foliculares, que são menos comuns. Em geral não são percursores dos carcinomas, porém, alterações genéticas suportam a possibilidade de evoluir. Embora, em sua maioria, os adenomas sejam não funcionantes, um pequeno subconjunto produz hormônios tireoidianos e causa tireotoxicose clinicamente aparente. A produção hormonal em adenomas funcionantes (“adenomas tóxicos”) é independente da estimulação de TSH. Patogênese As mutações somáticas da via de sinalização do receptor de TSH são encontradas nos adenomas tóxicos, assim como no bócio multinodular tóxico. As mutações de ganho de função em um dos dois componentes desse sistema de sinalização – mais frequentemente, o próprio gene codificador do receptor de TSH (TSHR) ou na subunidade-α de Gs (GNAS) – fazem com que as células foliculares secretem o hormônio tireoidiano independentemente da estimulação de TSH Isso leva a sintomas de hipertireoidismo e produz um nódulo tireoidiano “quente” na imagem. Em geral, as mutações na via de sinalização do receptor de TSH estão presentes em pouco mais da metade dos nódulos tireoidianos tóxicos. De forma notável, as mutações em TSHR ou GNAS são raras nos carcinomas foliculares, portanto os adenomas tóxicos e o bócio multinodular tóxico não parecem ser precursores de malignidade. Morfologia – O adenoma tireoidiano típico é uma lesão solitária, esférica e encapsulada, a qual é bem demarcada do parênquima tireoidiano circundante por uma cápsula bem definida, completa e íntegra. Os adenomas foliculares têm, em média, cerca de 3 cm de diâmetro, embora alguns sejam muito maiores (≥ 10 cm em diâmetro). Em peças recém-ressecadas, o adenoma se projeta da superfície lesada e comprime a tireoide Neoplasias da Tireoide Carla Bertelli – 5° Período adjacente. A cor varia de branco-acinzentado a vermelho-pardacento, dependendo da celularidade do adenoma e de seu conteúdo coloidal. Áreas de hemorragia, fibrose, calcificação e mudanças císticas, similares às encontradas nos bócios multinodulares, são comuns nos adenomas foliculares, particularmente em lesões maiores. Aspectos Clínicos – Muitos adenomas foliculares se apresentam como massas indolores unilaterais, que são descobertas durante um exame físico de rotina. Grandes massas podem produzir sintomas locais, como, por exemplo, dificuldade de engolir. Os adenomas não funcionantes captam menos iodo radioativo do que o parênquima tireoidiano normal. No mapeamento de radionuclídeos, portanto, os adenomas não funcionantes aparecem como nódulos frios em relação ao tecido tireoidiano adjacente. No entanto, cerca de 10% dos nódulos frios são malignos. Outras técnicas adotadas na avaliação de adenomas suspeitos são ultrassonografia e biópsia por aspiração com agulha fina. Devido à necessidade de se avaliar a integridade capsular, o diagnóstico definitivo do adenoma somente pode ser feito após um exame histológico cuidadoso da amostra ressecada. Os supostos adenomas da tireoide são, portanto, cirurgicamente removidos para excluir malignidade. Adenomas foliculares não apresentam recorrência ou metástase e têm um prognóstico excelente. Os principais subtipos de carcinoma tireoidiano e suas frequências relativas são: • í (> 85% dos casos). • (5% a 15% dos casos). • á (indiferenciado) (< 5% dos casos). • (5% dos casos). A maioria dos carcinomas tireoidianos (exceto os medulares) deriva do epitélio folicular tireoidiano, e a maioria é formada por lesões bem definidas. Devido às características clínicas, biológicas e moleculares únicas associadas a cada variante do carcinoma de tireoide Patogênese – Eventos genéticos distintos estão envolvidos na patogênese das quatro principais variantes histológicas de câncer tireoidiano. Os carcinomas medulares não surgem do epitélio folicular. As alterações genéticas nas três neoplasias malignas derivadas das células foliculares ocorrem nas vias de sinalização do receptor do fator de crescimento Em células normais, essas vias são transitoriamente ativadas pela ligação de fatores de crescimento ligantes solúveis ao domínio extracelular do receptor tirosina- cinase, o que resulta em autofosforilação do domínio citoplasmático do receptor. Isso, por sua vez, aciona eventos que resultam em ativação de RAS e dois braços de sinalização da cadeia que envolvem cinase de MAP (MAPK) e PI-3-cinase (PI3K). Nos carcinomas tireoidianos, assim como em muitos cânceres, as mutações de ganho de função em componentes dessas vias levam à ativação permanente, gerando proliferação celular excessiva e aumento da sobrevivência das células. Carla Bertelli – 5° Período í A maioria dos carcinomas papilíferos apresenta mutações de ganho de função envolvendo os genes que codificam os receptores de tirosina-cinases RET ou NTRK1, ou na serina/treonina-cinase BRAF, que está na via de MAPK O gene RET está localizado no cromossomo 10q11, enquanto o receptor tirosina-cinase que ele codifica é normalmente expressado nas células foliculares tireoidianas. Nos cânceres papilares, tanto uma inversão paracêntrica do cromossomo 10 quanto uma translocação recíproca entre os cromossomos 10 e 17 colocam o domínio tirosina-cinase do RET sob o controle transcricional de genes que são constitutivamente expressados no epitélio da tireoide Os novos genes de fusão formados são conhecidos como RET/PTC (RET/carcinoma tireoidiano papilífero) e estão presentes em aproximadamente 20% a 40% dos cânceres tireoidianos papilíferos. Existem mais de 15 tipos de fusão do RET, e dois deles – designados como PTC1 e PTC2 – são mais comumente observadosnos cânceres papilíferos esporádicos. A frequência dos rearranjos RET/PTC está significativamente elevada nos cânceres papilíferos que surgem como pano de fundo da exposição a radiação. Os rearranjos de RET/PTC produzem genes que codificam proteínas de fusão com atividade contínua da tirosina-cinase. BRAF codifica um componente de sinalização intermediário na via da MAP cinase. Cerca de um terço a metade dos carcinomas tireoidianos papilíferos abrigam mutações de ganho de função no gene BRAF, entre as quais a troca de valina por glutamato no códon 600 (BRAFV660E) é a mais comum. A presença de mutações em BRAF nos carcinomas papilíferos se correlaciona com fatores prognósticos adversos, como a doença metastática e a extensão extratireoidiana. Como os rearranjos cromossômicos dos genes RET ou NTRK1 e as mutações de BRAF têm efeitos redundantes na sinalização de MAP cinase, não surpreende que sejam normalmente (mas não sempre) eventos mutuamente excludentes. As variantes histológicas do carcinoma papilífero demonstram algumas características únicas diante da frequência ou da natureza da mutação em BRAF. De interesse adicional, os rearranjos de RET/PTC e as mutações pontuais de BRAF não são observados nos adenomas ou carcinomas foliculares. Morfologia – Forma mais comum de câncer tireoidiano, responsável por 85% das malignidades tireoidianas. Ocorrem ao longo de toda a vida, embora tenham incidência maior na faixa etária de 25 a 50 anos, sendo responsáveis pela maior parte dos carcinomas associados à exposição prévia à radiação ionizante. Carcinomas papilíferos podem ser solitários ou multifocais. Alguns tumores podem estar bem circunscritos e até mesmo encapsulados; outros podem infiltrar-se no parênquima adjacente com margens mal definidas. Os tumores podem conter áreas de fibrose e calcificação, e são frequentemente císticos. Algumas vezes, a superfície de corte revela focos papilares que apontam para o diagnóstico. • Podem conter papilas ramificadas com um eixo fibrovascular coberto por uma ou múltiplas camadas de células epiteliais cuboides. Contém uma parte com epitélio bem diferenciado, uniforme e cuboides e outro extremo com células anaplásicas. • Os núcleos das células contém cromatina finamente dispersa, conferindo aparência clara ou vazia, designada de vidro fosco. O diagnóstico de carcinoma papilífero pode ser feito com base nessas características nucleares, mesmo na ausência da arquitetura papilar. • Estruturas concêntricas e calcificadas, denominadas Corpos de Psamonas • Focos de invasão linfática frequentes Há muitas variantes histológicas do carcinoma papilífero, incluindo a variante folicular, a variante de células-altas, variante esclerosante difusa, microcarcinomas papilíferos. Carla Bertelli – 5° Período Curso Clínico – Se apresenta como nódulos tireoidianos assintomáticos, mas a primeira manifestação pode ser uma massa em um linfonodo cervical. É interessante notar que a presença de metástases em linfonodos cervicais isoladas não parece ter influência significativa no prognóstico, que, em geral, é bom. A maioria dos carcinomas são nódulos únicos que se movem livremente com a glândula tireoide durante a deglutição e não se distinguem, ao exame, dos nódulos benignos. Rouquidão, disfagia, tosse e dispneia sugerem doença avançada. Em uma minoria de pacientes, as metástases hematogênicas estão presentes no momento do diagnóstico, mais comumente no pulmão. Diagnóstico – Testes diagnósticos tem sido empregada para ajudar a separar os nódulos tireoidianos benignos dos malignos, incluindo mapeamento de radionuclídeo e aspiração com agulha fina. Os carcinomas papilíferos são massas frias na cintilografia. A melhora na análise citológica tem feito da citologia por aspiração com agulha fina um teste confiável para se estabelecer a distinção entre os nódulos benignos e malignos. As características nucleares são, com frequência, satisfatoriamente demonstráveis nas amostras da aspiração. O prognóstico de alguém com câncer tireoidiano papilífero depende de diversos fatores, incluindo idade (em geral, o prognóstico é menos favorável entre pacientes com mais de 40 anos), presença de extensão extratireoidiana e de metástases a distância (estágio). Em contraste com os carcinomas papilares, os carcinomas foliculares estão associados a mutações adquiridas que ativam RAS ou o braço de PI-3K/AKT da via de sinalização do receptor de tirosina-cinase. Não se conhece o motivo pelo qual as mutações RAS produzem neoplasias foliculares, e não neoplasias papilíferas Cerca de um terço a metade dos carcinomas tireoidianos foliculares abrigam mutações de ponto de ganho de função de RAS ou PIK3CA (o gene que codifica a PI-3 cinase), amplificações de PIK3CA ou mutações de perda de função de PTEN, um gene supressor de tumor e regulador negativo dessa via Carcinomas foliculares são responsáveis por 5% a 15% dos cânceres primários da tireoide, porém são mais freqüentes em áreas com deficiência de iodo na dieta, onde constituem de 25% a 40% dos casos de câncer de tireoide. São mais comuns em mulheres (3:1) e se apresentam mais frequentes em idades mais avançadas do que os carcinomas papilíferos, com pico de incidência entre os 40 e os 60 anos. Morfologia – Nódulos únicos que podem ser bem circunscritos ou amplamente invasivos. Às vezes, é extremamente difícil distinguir as lesões bem circunscritas dos adenomas foliculares por exame macroscópico. As lesões maiores podem penetrar a cápsula e se infiltrar muito além da cápsula tireoidiana até o tecido cervical adjacente. Essas lesões se apresentam, aos cortes, nos tons de cinza, pardo ou rosado, podendo ser um pouco translúcidas devido à presença de grandes folículos repletos de coloides. Mudanças degenerativas, como fibrose central e focos de calcificação, algumas vezes estão presentes. Microscopicamente, a maioria dos carcinomas foliculares é composta de células regularmente uniformes que formam pequenos folículos contendo coloide, que se assemelham muito à tireoide normal. Em outros casos, a diferenciação folicular pode estar menos aparente, com a presença eventual de ninhos ou lençóis de células sem coloide. Ocasionalmente, alguns tumores são compostos por células com citoplasma granular e eosinófilo abundante (célula de Hürthle ou variante oncocítica do carcinoma folicular). Embora as características nucleares (núcleos opticamente claros, ranhuras nucleares) sejam úteis na distinção das neoplasias papilíferas das foliculares, não há nenhuma diferença citológica confiável entre os adenomas foliculares e os carcinomas foliculares minimamente invasivos. Contrariamente ao que se vê nos cânceres foliculares minimamente invasivos, o diagnóstico do carcinoma é óbvio em carcinomas foliculares amplamente invasivos, os quais infiltram o parênquima da tireoide e os tecidos moles extratireoidianos. Histologicamente, esses cânceres Carla Bertelli – 5° Período tendem a apresentar uma proporção maior de padrões de crescimento trabecular ou sólido, menos evidência de diferenciação folicular e atividade mitótica aumentada. Curso Clínico – Os carcinomas foliculares se apresentam como nódulos indolores que aumentam lentamente. Com mais frequência, são nódulos frios nas cintilografias, embora raras lesões mais bem diferenciadas possam ser hiperfuncionantes, captar iodo radioativo e parecer quentes nas cintilografias. Os carcinomas foliculares têm uma pequena propensão para invadir os linfáticos; os linfonodos regionais estão raramente envolvidos, mas a disseminação vascular(hematogênica) é comum, com metástases para ossos, pulmões, fígado e outros locais. O prognóstico depende amplamente da extensão da invasão e do estágio de apresentação. Com frequência, carcinomas foliculares amplamente invasivos se apresentam com metástases sistêmicas, e até metade dos pacientes afetados sucumbe à doença em dez anos. ó A apresentação típica do CDT é de um nódulo, associado a valores normais de hormônio tireoestimulante (TSH) e tiroxina (T4) livre. Na literatura há poucos relatos de CDT em um bócio nodular tóxico, e isso geralmente reflete a concomitância das duas condições. Também é rara a produção de T4 e tri-iodotironina (T3) por metástases de carcinoma folicular, levando eventualmente a hipertireoidismo.36-39 Na maioria das vezes, o CDT é descoberto incidentalmente, seja por meio de ultrassonografia cervical, seja pelo paciente ou pelo médico, à inspeção ou palpação do pescoço. Cada vez menos, CDT é detectado como massa que causa sintomas compressivos, levando a rouquidão, disfagia, disfonia e/ou dificuldades para respirar. á Esses tumores altamente agressivos e letais podem surgir de novo, ou com mais frequência, pela “desdiferenciação” de um carcinoma papilífero ou folicular bem diferenciado. As alterações moleculares presentes no carcinoma anaplásico incluem aquelas vistas em carcinomas bem diferenciados (p. ex., mutações em RAS ou PIK3CA). Outros “hits” genéticos, como a inativação de TP53 ou as mutações ativadoras da β- catenina, são essencialmente restritos aos carcinomas anaplásicos e podem contribuir com seu comportamento agressivo. Os carcinomas anaplásicos consistem em tumores indiferenciados do epitélio folicular tireoidiano, sendo responsáveis por menos de 5% dos tumores tireoidianos. São agressivos, com taxa de mortalidade próxima de 100%. Pacientes com carcinoma anaplásico são mais velhos do que os portadores de outros tipos de cânceres tireoidianos, com idade média de 65 anos. Morfologia – células altamente anaplásicas, com morfologia variável, incluindo: células gigantes pleomórficas, inclusive células gigantes ocasionais, semelhantes a osteoclastos; células fusiformes com aparência sarcomatosa; e células gigantes e fusiformes misturadas. Focos de diferenciação papilífera ou folicular podem estar presentes em alguns tumores, sugerindo origem em carcinoma bem diferenciado. As células neoplásicas expressam marcadores epiteliais como a citoqueratina, mas, em geral, são negativas para marcadores de diferenciação tireoidiana, como a tireoglobulina. Curso Clínico – Os carcinomas anaplásicos costumam apresentar-se como massas volumosas no pescoço que aumentam rapidamente. Na maioria dos casos, a doença já se espalhou além da cápsula tireoidiana para as estruturas do pescoço ou passou por metástase para os pulmões no momento da apresentação. Sintomas relacionados com compressão e invasão, como dispneia, disfagia, rouquidão e tosse, são comuns. Não há terapias efetivas, e a doença é quase uniformemente fatal. Embora as metástases para locais distantes sejam comuns, na maioria dos casos a morte ocorre em menos de 1 ano, como resultado do crescimento agressivo e do comprometimento das estruturas vitais no pescoço. ó A função tireoidiana, em geral, é normal. Raramente, a necrose rápida da tireoide induz hipertireoidismo, por um mecanismo similar ao da tireoidite subaguda.80 A ocorrência de hipercalcemia por produção de proteína relacionada ao hormônio da paratireoide (PTHrP) já foi relatada, mas também é rara. Se a PAAF não permitir uma definição diagnóstica, pode- se fazer uma biopsia por fragmento (core biopsy) ou a céu aberto. Carla Bertelli – 5° Período Os carcinomas tireoidianos medulares familiares ocorrem em neoplasias endócrinas múltiplas do tipo 2 (MEN-2) e estão associados a mutações na linhagem germinativa de RET que levam à ativação permanente do receptor. As mutações RET também são vistas em aproximadamente metade dos cânceres tireoidianos medulares (esporádicos) não familiares. Os rearranjos cromossômicos envolvendo RET, tais como as translocações em RET/PTC relatadas em cânceres papilíferos, não são vistos nos carcinomas medulares. Os carcinomas medulares da tireoide consistem em neoplasias neuroendócrinas derivadas de células parafoliculares, ou células C, da tireoide, e são responsáveis por aproximadamente 5% das neoplasias tireoidianas. Os carcinomas medulares, similares às células C normais, secretam calcitonina, cuja medição desempenha importante papel no diagnóstico e no acompanhamento pós-operatório dos pacientes. Em alguns casos, as células tumorais produzem outros hormônios polipeptídicos, como serotonina, ACTH e peptídeo intestinal vasoativo (VIP). Cerca de 70% dos tumores surgem esporadicamente. Os demais ocorrem na condição da síndrome de MEN 2A e 2B ou como tumores familiares sem uma síndrome de MEN associada (carcinoma tireoidiano medular familiar, ou CTMF; ver “Síndromes Neoplásicas Endócrinas Múltiplas”). Lembre- se de que as mutações pontuais ativadoras no proto- oncogene RET desempenham importante papel no desenvolvimento tanto dos carcinomas medulares esporádicos quanto dos familiares. Casos associados aos tipos de MEN 2A e 2B ocorrem em pacientes mais jovens, podendo surgir na primeira década de vida. Em contraste, os carcinomas medulares esporádicos, assim como os familiares, são lesões da fase adulta, com pico de incidência aos 40 ou 50 anos. Morfologia – Os carcinomas tireoidianos medulares esporádicos se apresentam como nódulos solitários. Em contraste, a bilateralidade e a multicentricidade são comuns em casos familiares. Lesões maiores frequentemente contêm áreas de necrose e hemorragia, e podem estender-se através da cápsula da tireoide. O tecido tumoral é firme, pálido, de acinzentado a pardo e infiltrativo. Pode haver focos de hemorragia e necrose nas lesões maiores. Microscopicamente, os carcinomas medulares são compostos de células poligonais fusiformes, as quais podem formar ninhos, trabéculas e mesmo folículos. Células pequenas mas anaplásicas estão presentes em alguns tumores e podem ser o tipo celular predominante. Os depósitos amiloides acelulares, derivados dos polipeptídeos calcitonina alterados, estão presentes no estroma adjacente em muitos casos Curso Clínico – Os casos esporádicos de carcinoma medular chamam a atenção médica mais frequentemente como uma massa no pescoço, algumas vezes associada a disfagia ou rouquidão. Em alguns casos, as manifestações iniciais são aquelas da síndrome paraneoplásica, causada pela secreção de um hormônio peptídico (p. ex., diarreia decorrente da secreção de VIP ou síndrome de Cushing decorrente do ACTH). De forma notável, a hipocalcemia não é uma característica proeminente, a despeito da presença de níveis elevados de calcitonina. Além da calcitonina circulante, a secreção do antígeno carcinoembrionário pelas células neoplásicas é um biomarcador, especialmente para avaliação pré- cirúrgica da carga tumoral e em tumores negativos para a calcitonina. Os pacientes com síndromes familiares podem chamar a atenção por causa dos sintomas localizados na tireoide ou como resultado de neoplasias endócrinas em outros órgãos (p. ex., glândulas adrenais ou paratireoides). Em geral, os carcinomas medulares que surgem no contexto de MEN2B são mais agressivos e metastatizam com mais frequência do que aqueles que ocorrem em pacientes com tumores esporádicos, MEN-2A ou CTMF. Como será discutido adiante, todos os pacientes assintomáticos com MEN-2 que carregarem mutações em RET são candidatos à tireoidectomia profilática o mais cedo possível, a fim de se proteger contra o inevitável desenvolvimento dos carcinomas medulares,o maior fator de risco para um resultado negativo nessas famílias. Algumas vezes, o único achado histológico na tireoide ressecada de carreadores assintomáticos é a presença de hiperplasia das células C ou pequenos (<1 cm) carcinomas “micromedulares”. Recentemente, diversos inibidores de pequenas moléculas da tirosino-cinase RET Carla Bertelli – 5° Período foram desenvolvidos e estão sendo testados em indivíduos com carcinoma medular. ó Laboratorialmente, o CMT se caracteriza por função tireoidiana normal e níveis séricos elevados de CT, observados na grande maioria dos pacientes. Punção aspirativa por agulha fina – A sensibilidade da citologia obtida por punção aspirativa por agulha fina (PAAF) para diagnosticar CMT em um nódulo tireoidiano varia entre 45 e 89% Fatores Ambientais (no geral de todas as neoplasias da tireoide) – O maior fator de risco predisponente para o câncer tireoidiano é a exposição à radiação ionizante, particularmente durante as primeiras duas décadas de vida. Nesse sentido, há aumento significativo na incidência de carcinomas papilíferos entre crianças expostas a radiação ionizante após o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986. A deficiência de iodo na alimentação (e, por extensão, sua associação com o bócio) está ligada à alta frequência de carcinomas foliculares. KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul; ASTER, Jon. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2016. E-book. ISBN 9788595150966. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788527737180.
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