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1 Neoplasias de Tireoide Os nódulos de tireoide são comuns, principalmente em mulheres, contudo o câncer de tireoide é uma condição extremamente rara. A glândula tireoide dá origem a uma variedade de neoplasias, variando desde adenomas circunscritos, benignos, até carcinomas muito agressivos. Nesse sentido, a grande maioria dos nódulos de tireoide são benignos. -Adenomas- São neoplasias benignas derivadas do epitélio folicular, geralmente são solitários. Embora a maioria não seja funcional, o adenoma tóxico produz hormônios tireoidianos causando a tireotoxicose. Patogenia A patogenia do adenoma tóxico está relacionada com a via de sinalização do receptor do TSH. Mutações ativadoras no gene que codifica o receptor do TSH permitem que as células foliculares secretem hormônio tireoidiano independente do estimulo do TSH (autonomia tireoidiana). Como consequência disso vai ocorrer um hipertireoidismo sintomático, com nódulo tireoidiano “quente”. Morfologia O adenoma tireoidiano típico é uma lesão solitária, esférica, que comprime a tireoide adjacente. As células neoplásicas estão demarcadas por uma cápsula bem definida. Microscopicamente, as células estão dispostas em folículos que contém coloide, com um citoplasma eosinofílico brilhante. Características Clínicas Manifesta-se como nódulos indolores, frequentemente descobertos ocasionalmente. Os nódulos maiores podem produzir sintomas locais, como dificuldade de deglutição. As pessoas com adenomas tóxicos manifestam sintomas de tireotoxicose. Os adenomas típicos surgem como nódulos frios, enquanto os adenomas tóxicos são mornos ou quentes. Nódulos de Tireoide A doença nodular da tireoide, que contempla nódulos solitários e bócio multinodular, é um problema clínico frequente com várias etiologias de maioria benigna, mais comum em mulheres, idosos e regiões com deficiência de iodo. Etiologia As condições benignas que podem causar modularidades incluem: Áreas focais ou tireoidite crônica; Nódulos coloides ou hiperplásicos no interior de um bócio multinodular; Cisto envolvendo o tecido tireóideo; Agenesia de um dos lobos da tireoide com hipertrofia do outro lobo; Adenomas benignos (folicular, células de Hurthle; Hiperplasia pós cirurgia ou pós iodo radioativo. Os fatores de risco que predispõem doenças benignas e malignas incluem: 2 Benigno Maligno História - História familiar de bócio benigno - Área geográfica de bócio endêmico - História de carcinoma medular da tireoide - Irradiação prévia de cabeça e pescoço - Crescimento recente de nódulo - Rouquidão, disfagia ou obstrução. Características Físicas - Mulher idosa - Nódulo macio - Bócio multinodular - Criança, adulto jovem, sexo masculino - Paralisia de pregas vocais, linfonodos firmes, metástases a distância - Nódulo solitário e firme, claramente diferente do restante da glândula (nódulo dominante). Fatores séricos Autoanticorpos tireóideos elevados Calcitonina sérica elevada Iodo radioativo Nódulo quente Nódulo frio Ecografia Cisto (simples) Sólido ou complexo Biópsia Aspecto benigno ao exame citológico Maligno ou sugestivo de malignidade Tratamento com levotiroxina Regressão Sem Regressão Diagnóstico Quando se detecta um nódulo na tireoide é fundamental descartar a possibilidade de neoplasia maligna e caracterizar o status funcional e anatômico da glândula. Exame Físico Exame detalhado do pescoço focando em algumas características do nódulo (tamanho, consistência, mobilidade e sensibilidade) e adenopatia cervical. Nota-se, nódulos > 4cm, endurecidos, fixos a planos adjacentes, presença de linfonodomegalia cervical e paralisia de corda vocal são alguns fatores que aumentam a probabilidade de malignidade de uma lesão. Avaliação Laboratorial A dosagem desses hormônios pode ser útil para diagnóstico dos nódulos tóxicos acompanhados de hipertireoidismo clínico ou subclínico, ou seja, descarte de malignidade. A elevação da calcitonina sérica é o achado mais característico de câncer medular de tireoide. Anticorpos antitereoperoxidase (anti-TPO) altos confirmam o diagnóstico de Tireoidite de Hashimoto, mas não descartam a ocorrência de uma neoplasia tireoidiana. Avaliação ultrassonográfica 3 É o melhor exame de imagem para a detecção de nódulos, com sensibilidade de até 95%. A US torna possível a visualização de nódulos não palpáveis, avalia com precisão as características desses nódulos (volume, número) e diferencia cistos simples, que têm baixo risco de malignidade, de nódulos sólidos ou mistos. Os nódulos podem ser classificados em quatro padrões ultrassonográficos, de acordo com seu risco de malignidade. Na tireoidite de Hashimoto podem ser encontradas presença de contornos irregulares com padrão ecotextural difusamente grosseiro e noduliforme, formações nodulares verdadeiras, sólidas hipo (imagem escura) e ou hiperecoicas (imagem clara). A presença de uma “cauda de cometa” indica benignidade para o nódulo. Representado pela seta. Os nódulos sólidos podem ser classificados como isoecoicos (com amplitude de ecos igual à do parênquima tireoidiano normal), hipoecoicos (com amplitude de ecos menor que o do parênquima tireoidiano normal) ou hiperecoicos (amplitude de ecos maior). Além da hipoecogenicidade ter maior risco de malignidade, outras características também refletem esse risco, como: microcalcificações, margens infiltrativas, irregulares ou microlobuladas, imagens vasculares intranodulares, presença de adenomegalia regional suspensa, fluxo sanguíneo intranodular aumentado ao Doppler colorido e aumento do diâmetro anteroposterior em relação ao transverso. Os padrões ultrassonográficos de benignidade foram: Nódulo “espongiforme” ou em “favo de mel” representado por nódulos com várias áreas císticas difusamente espalhadas pelo parênquima nodular. Cisto com grumos de coloide no interior Nódulo com padrão de “pele de girafa”. Nódulo hiperecoico. Classificação de acordo com as características ultrassonográficas Grau Características Frequencia de Malignidade Grau I (benigno) Cisto anecoico ou com pequenos grumos de coloide, de paredes lisas 0% Grau II (benigno) Nódulo misto, predominantemente sólido ou líquido com padrão “favo de mel” – com várias líquidas dispesas em seu interior. Múltiplos nódulos isoecoicos ou hiperecoicos com ou sem calcificações grosseiras. 3,6% Grau III (Indeterminado) Nódulo isoecoico único; cisto com tumoração parietal; nódulo hipoecoico. 50% Grau IV (suspeito de maligidade) Nódulo sólido hipoecoico de contornos irregulares e com microcalcificações em seu interior. 94,3% Cintilografia 4 A cintilografia com radiodo demostra se os nódulos são hipocaptantes (frios), normocaptantes ou hipercaptantes (quentes). É um exame pouco específico, sendo indicado para patologia associada ao hipertireoidismo, para diagnosticar adenoma tóxico ou bócio multinodular tóxico. Doppler Colorido A utilização do Doppler pulsado e colorido permite a identificação de fluxo sanguíneo de baixa velocidade em estruturas superficiais como a tireoide. O Doppler colorido e o de amplitude podem acrescentar informações adicionais às características texturais dos nódulos fornecidos pela ecografia bidimensional. Existe uma classificação para a vascularização dos nódulos tireoidianos, sendo dividida em: - Tipo I: sem vascularização - Tipo II: vascularização apenas periférica - Tipo III: periférica > central - Tipo IV: central > periférica - Tipo V: vascularização apenas central Os padrões IV e V com vascularização predominantementecentral, vasos calibrosos e de distribuição anárquica são suspeitos para malignidade. Os padrões com vascularização periférica indicam benignidade. O Doppler colorido pode ainda auxiliar a Punção Aspirativa com Agulha Fina (PAAF) na definição do melhor local do nódulo a ser puncionado, evitando locais com vasos intranodulares mais calibrosos. Punção Aspirativa com Agulha Fina (PAAF) Visa obter material citológico para o exame patológico, diferenciando lesão maligna de benigna. A PAAF divide os nódulos da tireoide em três grupos: - Nódulos de tireoide citologicamente benignos - Nódulos de tireoide citologicamente malignos - Nódulos de tireoide citologicamente indeterminados ou suspeitos Apresenta altas sensibilidades e especificidade no diagnóstico dos tumores malignos da tireoide, especialmente para o carcinoma papílifero. A PAAF tem como principal limitação diagnóstica a distinção das neoplasias foliculares e as de células de Hurthle quanto a sua natureza benigna ou maligna. Tratamento Tratamento Cirúrgico O tratamento cirúrgico é recomendado a pacientes com sintomas compressivos ou queixas estéticas. Para pacientes com nódulos benignos que acometem um único lobo e que tenha o outro lobo normal à US, recomenda-se lobectomia com istmectomia. No entanto, pacientes com nódulos múltiplos em ambos os lobos devem realizar a tireoidectomia total. Esclerose com injeção percutânea de etanol 5 É o tratamento de escolha para cistos anecoicos que causam sintomas compressivos ou queixas estéticas. Apenas a aspiração do liquido do cisto pode diminuir o seu volume, mas a taxa de recorrência é alta. Sendo assim, após a aspiração do conteúdo liquido injeta-se etanol lentamente. Terapia supressiva com levotiroxina Essa terapia pode reduzir o volume dos nódulos únicos benignos. Entretanto, é contraindicada para mulheres após a menopausa e pacientes com mais de 60 anos. Radioiodo Pode ser indicada para tratamento dos nódulos autônomos hiperfuncionantes ou para a redução de volume de bócio multinodular em pacientes com contraindicação para tratamento cirúrgico. Câncer de Tireoide É raro, mas dentre as neoplasias endócrinas malignas é o mais frequente, possui quadro clínico varável, indo de um crescimento lento e compatível com expectativa de vida normal para aquele com péssima evolução e que causa morte em semanas ou meses. Tem como origem 3 tipos diferentes de células: as foliculares, as parafoliculares e as de origem não tireoidiana. Os tumores diferenciados, que são a maioria dos tumores derivados das células foliculares, são subdivididos em 2 grupos, o carcinoma papílifero da tireoide (PTC) – mais de 85% dos casos- e o carcinoma folicular de tireoide (FTC) – 5-15% dos casos. Os tumores anaplásicos (indiferenciados) constituem menos de 2%. Os carcinomas medulares são derivados das células parafoliculares, produtoras de calcitonina, que podem ser esporádicos ou associados à neoplasia endócrina múltipla. Patogenia Combinação de fatores genéticos e ambientais. Fatores Genéticos As alterações foliculares nas três malignidades derivadas de células foliculares estão agrupadas ao longo de duas vias oncogênicas: a via da proteína quinase ativada pelo mitógeno (MAP) e a vida da fosfatidilinositol-3-quinase. Nas células normais, essas vias são transitoriamente ativadas pela vinculação de ligantes do fator de crescimento solúvel ao domínio extracelular do receptor das tirosinoquinases, o que resulta na autofosforilação do domínio citoplasmático do receptor, permitindo a transdução de sinal. Contudo, nos carcinomas tireoidianos as mutações com ganho de função ao longo de componentes dessas vias levam à ativação constitutiva mesmo na ausência de um ligante, promovendo assim a carcinogênese. Carcinomas papilíferos tireoidianos: a ativação da via da MAP. 6 Pode ocorrer através de dois mecanismos principais. O primeiro mecanismo envolve rearranjos do RET ou do NTRK1 (receptor I da tirosinoquinase neutrófica), ambos codificando tirosinoquinases do receptor transmembrana. O segundo mecanismo envolve ativação de mutações pontuais no BRAF, cujo produto é um componente sinalizador intermediário da via da MAP quinase. Carcinomas tireoidianos foliculares A maioria desses tumores são portadores de mutações na via sinalizadora PI-3K | AKT, resultando na ativação dessa via oncogênica. Além disso, inclui mutações pontuais com ganho de função do RAS e do PIK3CA, aqueles com amplificação do PIK3CA e aqueles com perda de função do PTEN, que é um gene supressor tumoral e regulador negativo dessa via. Carcinomas anaplásicos São tumores altamente agressivos e letais que surgem mais comumente por desdiferenciação de um carcinoma papílifero ou folicular bem diferenciado. As alterações moleculares podem ser as mesmas observadas nos tumores bem diferenciados, associado a outras situações genéticas comuns como: inativação do TP53 que se relacionam a agressividade desse tumor. Carcinomas medulares Neoplasias provenientes das células C parafoliculares que ocorrem na neoplasia endócrina múltipla do tipo 2 e estão associadas a mutações na linhagem germinativa do proto-oncogene RET que levam à ativação constitutiva do receptor. Fatores Ambientais O principal fator de risco predisponente ao câncer tireoidiano é a exposição à radiação ionizante, principalmente durantes os primeiros 20 anos de vida. A deficiência de iodo dietético está vinculada a maior frequência de carcinomas foliculares. Carcinoma Papilífero de Tireoide Mais comum em indivíduos mais jovens (entre 30-40 anos), podendo acometer até crianças. Seu crescimento é lendo e apresenta baixo grau de malignidade, de modo que demora para se manifestar. Sua disseminação se dá por meio dos linfáticos intraglandulares, evoluindo do foco inicial para outras áreas da tireoide e para linfonodos capsulares e cervicais. Podem se manifestar como lesões solitárias ou multifocais no interior da tireoide, podendo ser bem circunscritas e mesmo encapsuladas ou infiltrativas com margens mal definidas. A lesões podem conter áreas de fibrose e calcificação, e frequentemente são císticas. Características Clínicas Como eles são tumores não funcionantes, eles vão se manifestar mais frequentemente como massa indolor no pescoço ou no interior da tireoide, ou como metástase linfonodal cervical. Carcinoma Folicular de Tireoide Tem seu pico de incidência na quinta década de vida, sendo mais frequente em mulheres. É histologicamente caracterizado pela presença de pequenos folículos com pouco coloide, eles são diferenciados dos adenomas benignos pela presença e ou invasão de cápsula vascular. Quando apenas 7 a cápsula está envolvida denomina-se minimamente invasivo, quando houver invasão dos vasos sanguíneos os carcinomas são classificados como invasivos e apresentam potencial para disseminação metastática. Características Clínicas Se manifestam mais frequentemente como nódulos frios, podendo ser hiperfuncionantes em casos raros. Essas neoplasias tendem a metastatizar através do sangue para pulmões, ossos e fígado. Carcinoma Anaplásico São tumores indiferenciados do epitélio folicular tireoidiano, são bastante agressivos com alta taxa de mortalidade. Tem taxa de incidência maior aos 65 anos, e um quarto dos pacientes com esse câncer apresentam história pregressa de carcinoma tireoidiano bem diferenciado. Se manifestam como massas volumosas que tipicamente crescem além da cápsula tireoidiana para as estruturas adjacentes do pescoço. As células são altamente anaplásicas podendo assumir os seguintes padrões histológicos: grandes células pleomórficas gigantes, células fusiformes com aspecto sarcomatoso, lesões mistas de células fusiformese gigantes. Características Clínicas Eles crescem com muita agressividade, tendo as metástases para locais distantes como manifestação comum, mas as maiores causas de óbito são devido ao crescimento agressivo local e ao comprometimento das estruturas vitais do pescoço. Carcinoma Medular Esses tumores vão secretar calcitonina, podendo secretar outros hormônios peptídicos também como a somatostatina, a serotonina e o VIP. Podem surgir como nódulo solitário ou se manifestar como lesões múltiplas envolvendo os dois lobos da tireoide. A multicentricidade é comum nos casos familiais. As lesões maiores frequentemente contêm áreas de necrose e hemorragia, podendo se estender através da cápsula tireoidiana. Os depósitos amiloides, derivados de moléculas alteradas de calcitonina, estão presentes em muitos casos. Características Clínicas Nos casos esporádicos, se manifesta mais frequentemente como massa no pescoço, algumas vezes associada a efeitos compressivos, como disfagia ou rouquidão. Em alguns casos, as manifestações iniciais são provocadas pela secreção de um hormônio peptídico. -Diagnóstico- É diagnosticado quase sempre pela presença de um nódulo da tireoide percebido à palpação durante o exame físico ou descoberto acidentalmente por meio da realização de US cervical. História clínica - História prévia de radioterapia na região anterior da cabeça e do pescoço - Presença de carcinoma papilífero em membros da família sugerindo hereditariedade. - Idade, uma vez que as lesões malignas são mais frequentes em <20 anos e após 60 anos de idade. - Mais comum no sexo feminino, porém homens têm mais chances de lesões malignas. 8 - Crescimento rápido do nódulo em semanas ou meses, dispneia, disfagia, tosse crônica ou alteração da voz, são sinais compressivos e invasivos do carcinoma de tireoide. Exame Físico Ao exame físico, os sinais semiológicos sugerem malignidade são: fixação do nódulo às estruturas subjacentes (traqueia e músculo), ausência de mobilidade à deglutição e presença de linfonodomegalia. A consistência endurecida pode ser sinal de malignidade, mas também se relaciona a cistos benignos calcificados. Exames Laboratoriais A dosagem de TSH e T4 estão normais na maioria dos casos. Se houver suspeita de nódulo autônomo ou áreas de autonomia em bócio diagnosticado previamente, essas dosagens podem estar alteradas. Dosagem de calcitonina basal pois seus valores elevados permitem diagnóstico e tratamento precoces do carcinoma medular. Ultrassonografia cervical A técnica propicia informações sobre a localização, quantidade, dimensão, ecogenicidade e vascularização dos nódulos. As características que apontam para malignidade são: nódulos malignos apresentam todo o contorno ou parte dele sem boa diferenciação com o parênquima tireoidiano adjacente; lesões sólidas apresentam maior probabilidade de malignidade quando comparadas a lesões císticas; carcinoma de tireoide normalmente é hipoecoicos; presença de calcificações; padrão de fluxo sanguíneo intranodular. Citologia Aspirativa com Agulha Fina (CAAF) Método seguro e eficiente para diagnóstico de carcinoma tireoidiano, pois possibilita a diferenciação entre carcinoma papilífero, medula e aplásico, além de outras doenças como a tireoidite de Hashimoto e o linfoma. Achados citopatológicos mais importantes na CAAF. 9
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