Buscar

LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS-CARACTERÍSTICAS FONOLÓGICAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

46 
 
7 CARACTERÍSTICAS FONOLÓGICAS 
Neste capítulo, você poderá comparar a fonologia da língua oral com a 
fonologia da Libras. Vale lembrar que a Libras é uma língua recente, tendo sua 
regulamentação no início do século XXI, quando finalmente expandiu a pesquisa em 
línguas de sinais. Antes disso, os linguistas rejeitavam veemente o estudo acadêmico 
nessa área por não ser uma língua oficial no Brasil, devido à falta de 
representatividade na sociedade e, ainda, devido ao fato de que não havia autores 
reconhecidos que pudessem transcrever suas estruturas com convicção. 
A partir do momento que o Brasil regulamentou a Libras como língua oficial no 
país, por meio da Lei nº. 10.436/2002, linguistas da língua de sinais têm demonstrado 
que, assim como as línguas orais, a língua de sinais tem uma estrutura sublexical 
sistematicamente organizada (PINTO, 2019). Além disso, as línguas de sinais também 
estão em forte contraste com as línguas orais (oral-auditiva), uma vez que são 
produzidas na modalidade gesto-visual e, portanto, os articuladores envolvidos na 
organização fonológica são diferentes. 
Neste capítulo, portanto, você aprenderá sobre o campo da fonologia da língua 
de sinais em uma visão geral seletiva e seus impactos em cada sinal, bem como 
analisará as características individuais que determinam a definição e o tom dos sinais 
em relação aos cinco parâmetros em Libras: configuração de mãos, ponto de 
articulação, movimento, orientação e expressão faciocorporal. 
 
 
Fonte: http://fonologia.org 
A fonologia da Língua Brasileira de Sinais amplia nossos conhecimentos 
quanto às estruturas dos sinais em Libras e nos aproxima ainda mais da gramática da 
modalidade visioespacial (Libras). Como a fonologia é o nível da linguagem que 
interage diretamente com os sinalizadores, as diferenças anatômicas, por sua vez, 
 
47 
 
têm o potencial de influenciar a estrutura fonológica da língua entre suas modalidades. 
Essa diferença é aparente com relação à produção, visto que os articuladores 
envolvidos na fala e na movimentação das mãos são diferentes: os articuladores, na 
língua oral, são os lábios, os dentes, a língua, a garganta e a laringe, já os 
articuladores da Libras são as mãos, os braços, a cabeça, o corpo e a face. Além 
dessa diferença óbvia, existem diferenças fundamentais entre esses conjuntos de 
articuladores. 
Os sinais da Libras podem ter um papel menor na explicação fonológica do que 
na oralidade, uma vez que os sinalizadores de origem são visíveis; em outras 
palavras, a linguagem oralizada é mais propensa à reanálise, devido à acústica da 
decodificação da produção. A Libras pode transmitir múltiplos eventos visuais 
simultaneamente, e há duas mãos e braços envolvidos na articulação. Em 
contrapartida, a oralização é transmitida por meio do fluxo único de um sinal acústico 
(PINTO, 2019). 
7.1 Léxico, Vocabulários Icônicos, Arbitrários e Soletrados 
Conforme explica Pinto (2018, p. 77), “[...] léxico é o ‘banco de dados’ em 
vocabulário que uma pessoa, língua ou comunidade tem em termo de conhecimento 
[...]”. 
Conhecer sinais em Libras isoladamente, sem um contexto fixado, não constitui 
um profissional intérprete de Libras ou nativo dessa língua. Simplesmente sinalizar 
palavra por palavra torna o português sinalizado, e não exatamente a Língua Brasileira 
de Sinais. Se a sinalização for feita desse modo, os surdos não terão acesso à 
informação fidedignamente. 
Para entender ainda melhor essa fase da fonologia da Libras, veremos um 
exemplo na prática. 
Observe a frase: 
 
 “Qual sua idade?” 
 
 
 
48 
 
 
 
Não devemos utilizar apenas datilologia em uma conversa, pois ela não tem 
essa função, assim como não devemos traduzir uma frase sinal por sinal, o que a faz 
um português sinalizado, e não a Libras. 
 
 
 
A datilologia é utilizada quando queremos falar nomes próprios, palavras 
científicas ou elementos que ainda não se têm sinal e não estão em uma frase 
completa (PINTO, 2019). 
A frase utilizada como exemplo ficaria da seguinte forma em Libras: 
 
 
 
49 
 
Na imagem acima, há o sinal de “idade” + expressão interrogativa que 
contextualiza toda a frase: “Quantos anos você tem?”. 
7.2 Sinais Icônicos 
A iconicidade, ou sinais icônicos, na fonologia da Libras talvez proporcione mais 
iconicidade do que as próprias línguas orais, afinal, os objetos no mundo externo 
tendem a ter associações mais visuais do que auditivas. É importante enfatizar que, 
embora as línguas de sinais não possam mostrar um vínculo arbitrário entre símbolo 
e referente ou forma e significado, esse vínculo é tão convencionado quanto nas 
línguas orais. Também é importante observar que os oralizadores não têm verdadeira 
ciência do simbolismo sonoro que existe nas palavras e que também é importante 
para os surdos, como “dor”, “choro”, “risada”, etc., de modo que os surdos podem não 
conhecer as origens icônicas dos sinais. 
Conforme Pinto (2018), os sinais icônicos são sinais visualmente parecidos 
com os “gestos” que estamos acostumados a fazer em nosso dia a dia com qualquer 
pessoa, sem mesmo saber, os quais são utilizados em Libras. Apesar de serem 
conhecidos em boa parte do mundo, não são considerados sinais universais, mas 
transmitem o que estamos habituados. 
Observe e reflita as palavras no quadro a seguir: 
 
 
 
Após essa reflexão, tente idealizar sinais com as mãos e com o corpo que 
poderiam expressar essas palavras. Tenho certeza de que não encontrou dificuldade 
para sinalizá-las. De modo simplificado, essas palavras fáceis de sinalizar e que todos 
entenderiam são os sinais icônicos. 
Inverteremos, agora, esses exemplos. Observe os sinais a seguir: 
 
 
50 
 
 
 
Os sinais apresentados são sinais que qualquer pessoa faz no dia a dia, 
independentemente de ser surdo ou de estar em sinalização em contexto da Libras. 
As imagens representam: [NÃO], [CASA] e [BEBER]. 
7.3 Sinais Arbitrários 
A arbitrariedade na fonologia é uma questão importante para os fonologistas 
de língua de sinais, pois ela intensifica a questão de legitimidade e autenticidade que 
a Libras tem sua estrutura própria. 
Entendendo melhor os sinais arbitrários, podemos destacar que são o contrário 
dos sinais icônicos, ou seja, os sinais arbitrários não têm uma analogia com a 
realidade, e necessita-se, portanto, de um conhecimento de Libras para identificar os 
sinais no momento de uma sinalização, bem como uma noção para realizá-los. 
Pinto (2018, p. 82) diz que os sinais arbitrários “[...] são sinais sem aparência 
do que estamos acostumados como ‘gestos’ e não possuem formas convencionais. 
Na verdade, um leigo verá o sinal e não entenderá nada do que está sendo dito [...]”. 
Se pedir a você (caso seja leigo em Libras) para sinalizar as palavras: voluntário, 
amigo, computador, difícil, amor, brincar, filho, sábado, mentiroso e água, certamente 
não conseguirá, devido a essas palavras não terem relação com a realidade. Os sinais 
arbitrários são a maioria em Libras, daí a necessidade e a importância de conhecer e 
entender a Língua Brasileira de Sinais. 
Tente identificar o significado dos sinais a seguir: 
 
 
51 
 
 
 
Respectivamente: admirar, desculpe, quarta-feira. 
Você, provavelmente, não conseguiu entender. Assim são os sinais 
arbitrários da fonologia em Libras, isto é, não têm ligação nenhuma com o seu 
significado. 
7.4 Sinais Soletrados 
Nem sempre uma palavra terá um sinal sistematizado dentro dos cinco 
parâmetros em Libras, diante disso, este grupo de sinais pode variar devido ao 
regionalismo. Por exemplo, em Minas Gerais, uma palavra pode ser feita por meio da 
soletração, ao passo que, em Sergipe, há um sinal específico para ela. 
 
 
 
É importante destacar que um sinal soletrado não é a mesma coisa que a 
datilologia de uma palavra. A datilologia pode ser feita com qualquer palavra quando 
não se sabe o sinal, jáo sinal soletrado é o próprio sinal da palavra, sendo uma minoria 
entre os vocabulários (PINTO, 2019). 
Podemos citar como exemplo: 
 
52 
 
 
 
Conforme citado anteriormente, é importante considerar o regionalismo, uma 
vez que as línguas de sinais também oferecem oportunidades únicas para testar 
ideias sobre a natureza da própria linguagem, ideias geralmente formuladas 
exclusivamente a partir de observações na língua oral. De todos os itens da lista de 
diferenças e semelhanças entre as línguas orais e sinalizadas, as áreas que 
apresentam as divergências mais marcantes ocorrem na morfofonética e na fonologia. 
A interface entre morfologia e fonologia é, de fato, diferente, dadas as liberdades e 
restrições disponíveis para cada sistema. 
Diante dos exemplos apresentados entre os vocabulários lexicais e fonológicos, 
creio que as diferenças entre eles ficaram esclarecidas, porém é importante buscar 
outras leituras para aprimorar seus conhecimentos. 
7.5 Estrutura Fonética e Fonológica da Libras 
O termo “fonologia” é usado no contexto da pesquisa em língua de sinais para 
enfatizar os paralelos na estrutura entre a língua oral e a língua de sinais. 
Antecedendo a década de 60, cerca de 40 anos antes da legalização da Libras como 
língua oficial no Brasil, os sinais eram considerados como simples gestos 
independentes, não consideráveis e, portanto, não contendo nenhum nível análogo 
ao fonológico. Brito (1995) reconhecia que os sinais da Língua Brasileira de Sinais 
poderiam ser vistos como composicionais, com subelementos contrastando entre si, 
ao contrário dos gestos. Pesquisas mais recentes buscaram aplicar abordagens à 
teoria fonológica em linguagens oralizadas, como a fonologia autossegmental, para 
sinalizar por uma estrutura própria (PINTO, 2019). 
 
53 
 
7.6 Estruturas Sublexicais: Cinco Parâmetros em Libras 
É amplamente reconhecido na literatura de língua de sinais que os parâmetros 
da Libras enquanto configuração de mão, ponto de articulação, movimento, orientação 
e expressões faciocorporais têm um papel significativo no nível fonológico de maneira 
semelhante à linguagem oralizada, com propriedades de articulação, forma e 
vocalização. Pinto (2018 p. 87), em seu livro Língua Brasileira de Sinais, destaca que: 
[...] os 5 parâmetros da Libras são comparados aos fonemas no português e, 
às vezes, aos morfemas e estas estruturas sublexicais, fazem parte da 
gramática da Língua de Sinais com características distintivas ou 
características notáveis usadas para criar sinais com significado em Libras. 
Para produzir um sinal e retransmitir uma palavra com significado, esse sinal 
deve seguir cinco parâmetros que determinam sua definição e tom como: 
Configuração de Mãos, Ponto de Articulação, Movimento, Orientação e 
Expressão faciocorporal. 
7.7 Configuração de Mão 
O parâmetro configuração de mão (CM) pode não existir em outras línguas de 
sinais, assim como alguns padrões de som que existem em uma língua oralizada não 
existem em outra linguagem. 
Uma mudança na forma (desenho) da mão pode resultar em um significado 
totalmente diferente do pensado, ou, ainda, ser sem sentido, da mesma forma que 
uma unidade de som alterada em uma palavra resulta em um significado diferente, 
como, por exemplo, “colher” (talher) para “colher” (colheita). 
Em um sinal morfético, a forma da mão consiste em um ou mais dedos 
selecionados em uma posição particular para configurar a mão (CM) que, 
posteriormente, é realizada na efetivação dos sinais. Todo sinal tem um formato que 
a mão toma no momento de sinalizar, e este poderá ser oriundo do alfabeto manual 
ou dos números, ou, ainda, de outras configurações que não existem no grupo do 
alfabeto manual e dos números (não oriunda). 
Veja os exemplos a seguir: 
 
 
54 
 
 
 
“Segunda-feira” tem CM em “V” ou em “2” (ordinal). 
 
 
 
A palavra “tio” tem CM em “C”. 
 
Os sinais das palavras “segunda-feira”, “remédio” e “tio” são oriundas do 
alfabeto e dos números, uma vez que a configuração da sua mão predominante está 
relacionada a uma letra do alfabeto ou a números (PINTO, 2019). 
 
 
55 
 
 
7.8 Pontos de Articulação 
Assim como na configuração de mão, os pontos de articulação (PA) são 
representados dentro da estrutura dos recursos inerentes. Essa organização reflete a 
generalização de que existem cinco regiões do corpo (tronco, cabeça, braço, mão e 
espaço neutro), assim, precisa-se da mão configurada e do ponto de articulação para 
dar início ao sinal. 
Assim como na configuração de mão, que consiste em categorias dominantes 
e subordinadas, o mesmo ocorre com a categoria de PA. Cada morfema livre é restrito 
a uma única área corporal principal, como a cabeça, o tronco, a mão e o braço não 
dominante ou o espaço neutro (PINTO, 2019). 
 
Cabeça 
Para toda regra pode haver uma exceção, o que ocorre no ponto de articulação. 
Nem todos os sinais idealizados na região da cabeça precisam encostar na face, mas 
devemos observar que a mão predominante está na região da cabeça ou da face, 
tendo como ponto de alicerce o queixo, o nariz, o olho, a boca, a bochecha, a orelha, 
a maçã da face, a testa ou o topo da cabeça. 
Observe os exemplos a seguir: 
 
 
 
56 
 
Observe que o sinal de “bonito” tem movimento à frente da face, mas não 
exatamente precisa ser feito varrendo (encostando) o rosto; “mulher” e “telefone” 
também tiveram como apoio a bochecha, e todas os sinais tiveram como ponto de 
articulação “cabeça”. 
 
Braço 
Os sinais que têm como ponto de articulação “braço” terão seu apoio no braço, 
no antebraço, no punho ou no cotovelo (PINTO, 2019). 
 
 
 
Para o sinal de “banheiro”, o apoio é no antebraço, e, para o sinal de “ciúmes”, 
o apoio é no cotovelo, assim, seu PA é “BRAÇO”! 
 
Mão 
Para este PA, os sinais serão feitos no dorso da mão, na palma da mão e nos 
dedos da mão. 
 
 
 
 
57 
 
Em ambos os exemplos os sinais estão sendo feitos na palma da mão, assim, 
o seu PA é “mão”. 
 
Tronco 
O ponto de articulação “tronco” tem como referência os sinais em que as mãos 
serão posicionadas na barriga, na cintura, no peito, no pescoço ou no ombro (PINTO, 
2019). 
 
 
 
Ambos os sinais têm como PA “tronco”, visto que sua mão configurada está 
incidindo no peito. 
 
Espaço Neutro 
Para o ponto de articulação “espaço neutro”, há somente duas localizações: a 
frente do tronco ou acima da cabeça, ou seja, a mão não encostará em nenhum outro 
membro do corpo. 
Neste PA, a mão predominante do sinalizador estará, no mínimo, a dez 
centímetros de distância do tronco ou acima da cabeça. 
 
 
 
58 
 
Para o sinal da palavra “demitir”, o movimento será concluído após soltar o 
dedo médio para a frente; e o sinal de “vôlei” é feito simulando o lance de jogo acima 
da cabeça. 
 
Movimento 
O terceiro parâmetro, “movimento” (MV), pode ser caracterizado por sinais 
lexicais, pois são atos dinâmicos com uma trajetória, um começo e um fim. Sua 
representação fonológica varia de acordo com a parte do corpo usada para articular o 
movimento (são as setas nas imagens). O movimento utilizado entre um sinal e outro 
é uma mudança natural e não prevalece no movimento do sinal. 
As partes do corpo envolvidas no movimento são organizadas dentro de uma 
característica própria de cada sinal, começando com as articulações proximais e 
terminando com as articulações mais distais. Em alguns sinais, é possível que não 
haja movimentos, o que faz o sinal ser sem movimento, bem como é possível ter dois 
tipos simultâneos de movimentos articulados em conjunto, ou seja, o movimento das 
duas mãos simultaneamente, e, ainda, há uma gama de movimentos possíveis para 
realizar um sinal (PINTO, 2019). 
Já sabemos que os movimentos são parte da fonologia, não apenas de pares 
mínimos, que são bastante escassos, mas também porque a especificação de 
movimento é ativa na gramática, morfológica e fonologicamente.Observe os exemplos a seguir: 
 
 
 
O sinal da palavra “brincar” tem movimento circular, ao passo que o movimento 
da palavra “verdade” tem movimento para cima e para baixo. 
 
 
 
59 
 
Orientação 
A orientação é tradicionalmente considerada um parâmetro secundário, uma 
vez que há menos pares mínimos baseados apenas na orientação (BRITO, 1995). 
Alguns autores se baseiam na direção da palma da mão e das pontas dos dedos da 
mão (p. ex., a palma da mão está voltada para a esquerda e as pontas dos dedos 
estão voltadas para a frente). Pinto (2018, p. 106) cita, ainda, que: 
[...] quando um sinal tem sua direção e há uma inversão, significa a oposição, 
contrário ou concordância. Esta se refere à direção em que a palma da mão 
fique virada para produzir um sinal. Podendo ser: palma da mão para cima, 
palma para baixo, palma da mão direita, palma da mão esquerda, com a 
palma para frente ou palma da mão para trás (palma virada para você). 
Expressão Faciocorporal 
O quinto e último parâmetro, as expressões faciocorporais (ECF), também é 
conhecido como “expressões não-manuais”. Esse recurso é idealizado com a face 
e/ou o corpo, podendo ser feito em conjunto com a utilização das mãos ou para 
transcorrer um contexto. Esse item é extremamente importante, e, caso não seja 
idealizado concomitantemente, os sinais tornam-se comprometidos e até sem sentido. 
Diante de todos os parâmetros apresentados, forma-se o sinal em Libras. 
Observe um sinal em que são aplicados os cinco parâmetros de Libras: 
 
 
 
 
60 
 
Agrupando os dados da tabela, conseguimos obter as informações necessárias 
para que um sinal seja realizado de forma adequada. Todos os sinais têm esses 
parâmetros, e uma pequena falha na execução de algum deles altera o seu 
significado, inclusive trazendo consequências à morfologia da Libras. 
7.9 Processo de Aquisição da Libras 
Somos encorajados a pensar que a aquisição da primeira língua (L1) é fácil, 
principalmente para as crianças, e, ainda, pode entrar em comparação com a 
aquisição adulta de uma segunda língua (L2). No entanto, também sabemos que a 
aquisição da L1 desafia todas as crianças. Todos cometem erros característicos no 
caminho para o domínio de sua linguagem, pois não há um tempo ou uma idade certa 
para que se aprenda uma língua, visto que cada pessoa tem seu tempo e, 
infelizmente, existem distúrbios que comprometem o desenvolvimento da linguagem. 
As diferentes maneiras pelas quais as crianças surdas enfrentam e superam os 
desafios da aquisição da primeira língua levantam questões atraentes no estudo do 
desenvolvimento da linguagem infantil. A maioria das crianças surdas, principalmente 
aquelas nascidas de pais surdos, vê uma linguagem gesto-visual a partir do dia em 
que nascem, assim como filhos de pais ouvintes têm acesso a língua oral antes 
mesmo de nascer. Essa linguagem gesto-visual é a língua materna (natural) das 
pessoas com surdez (PINTO, 2019). 
 
 
 
A maioria das crianças surdas, especificamente filhos de pais ouvintes, pode 
não ter acesso precoce a um sistema linguístico que envolva as mãos e a visão. As 
capacidades sensoriais da criança surda indicam que, sem assistência considerável, 
é pouco provável que ela adquira uma língua oralizada. Os pais ouvintes podem não 
 
61 
 
ter conhecimento de uma língua sinalizada, e, em alguns casos, são ativamente 
desencorajados a aprender a Libras. Uma criança surda filha de pais ouvintes 
enfrenta, assim, uma séria interrupção na transmissão de geração para geração da 
linguagem, pois há ausência de informações perceptivelmente acessíveis extraídas 
de um sistema linguístico nativo. 
Eventualmente, crianças surdas de pais ouvintes podem encontrar uma língua 
sinalizada, possivelmente quando entrarem em uma escola que ofereça Libras ou 
mesmo em uma escola inclusiva. Esse acesso pode ocorrer em idades variadas, o 
que seria incorreto, afinal, quanto mais cedo a criança ter acesso à sua língua natural, 
melhor será a sua aquisição linguística. De acordo com Pinto (2018, p. 215): 
Os aspectos pedagógicos na aquisição da Libras como L1 dos surdos devem 
ser pautadas em elementos estruturantes do processo de aquisição da língua 
das pessoas com surdez [...]. No caso do surdo, o aprendizado de sua língua 
materna (a libras) não é ao nascer, e sim, ao detectar a surdez. 
O campo da aquisição da L1 deve ser iniciado com os bebês gradualmente, 
desenvolvendo, assim, uma língua nativa desde o nascimento até se tornarem 
proficientes. A aquisição da L2 é significativamente diferente para os que já derivam 
de uma L1 e migram para o aprendizado de um idioma adicional ou até mesmo de 
uma língua substitutiva, devido a alguma condição. 
Uma das características mais importantes na aquisição da L1 é o processo sem 
esforço, uma vez que a flexibilidade do cérebro de uma criança permite que ela 
aprenda uma língua sem conhecimento consciente ou sem consciência de suas 
regras gramaticais. Em contrapartida, a aquisição da L2 geralmente ocorre quando o 
conhecimento cognitivo requer um esforço consciente para entender e aprender a 
estrutura da língua-alvo. 
Outra distinção importante para entender a aquisição da Libras é a fonte do 
input linguístico. No caso de aquisição da L1, os pais, os cuidadores e a comunidade 
envolvente são a fonte da língua-alvo e, como tal, fornecem um ambiente a partir do 
qual a criança absorverá a gramática em formação. Em contrapartida, os aprendizes 
de L2 são expostos ao idioma-alvo em uma sala de aula restrita, com a supervisão de 
professores para aprender a língua. 
A descoberta da Libras exige a mesma organização linguística que a das 
línguas orais, ou seja, a aquisição da Libras tem semelhanças com a aquisição do 
português. Pessoas surdas que obtêm a Libras como sua língua materna têm de 
 
62 
 
distinguir os constituintes mínimos de sinais para desenvolver uma fonologia manual, 
aprender a como flexionar um sinal para mudar seu significado e saber a ordem dos 
diferentes componentes para expressar um significado pretendido. 
Dito isso, as diferenças na modalidade entre sinalização e oralização também 
dão certas características de aquisição da linguagem que são exclusivas para a língua 
de sinais. 
7.10 Aquisição da Libras Como L1 
A aquisição da Libras como L1 é um esforço nada objetivo, dada a escassez 
de crianças surdas que adquirem a Libras logo após o nascimento. Embora haja 
tecnologias que detectam a surdez logo nos primeiros dias de vida, não é comum 
encontrar crianças surdas filhos de pais ouvintes se pautando na língua de sinais, em 
vez de na língua portuguesa e na oralização. Seria uma volta histórica em que a 
oralização se faz necessária? 
Não. Essa informação é dada simplesmente pelo fato de que a maioria das 
crianças surdas são filhas de pais ouvintes e, portanto, são criadas em uma casa onde 
a Libras não é o principal meio de comunicação. Como resultado, a maioria das 
crianças surdas não tem exposição a uma linguagem gesto-visual, o que atrasa a 
introdução linguística correta. A aquisição descontínua da Libras pode ter 
consequências severas na aquisição da língua materna. A exposição tardia à língua 
que se constituiria como língua natural traz também desvantagens no 
desenvolvimento de outras habilidades cognitivas, como a interpretação de intenções 
de outras pessoas para consigo, o que se interliga à “Teoria da Mente”. 
Dependendo da idade e da quantidade de exposição à Libras, os assinantes 
surdos são classificados como: sinalizadores nativos, iniciais, tardios e de casa 
(PINTO, 2019). 
 
Sinalizadores Nativos 
São expostos à Libras por seus pais desde o nascimento. Os cuidadores são 
geralmente membros ativos da comunidade surda, o que oferece às crianças um rico 
ambiente linguístico, a partir do qual elas podem aprender uma linguagem gesto-
 
63 
 
visual, além da comunicação sinalizada por seus próprios pais.Esse é o melhor 
caminho quando se descobre a surdez em uma criança. 
 
Sinalizadores Iniciais 
Calcula-se que entre 90 a 95% das crianças surdas são filhas de pais ouvintes 
que nunca foram expostos à Libras. Muitas vezes, os pais dessas crianças passam a 
aprender a Libras depois da descoberta da surdez do seu filho, e, como resultado, a 
informação linguística fica deficiente e insuficiente para a crianças. A Libras começa 
a ser introduzida em associações de surdos ou em cursos de Libras ou somente 
quando a criança começa a frequentar uma escola especializada ou inclusiva. Por 
isso, a fluência na língua de sinais se destaca entre 5 e 6 anos de idade. 
 
Sinalizadores de Transição 
Os surdos tardios em transição são frequentemente indivíduos que recorreram 
à oralização, processo em que indivíduos surdos são ensinados a falar para entender 
os membros da família que são ouvintes. Esses indivíduos não são expostos à Libras 
antes dos 6 anos ou mais e, como consequência, têm sérios problemas no 
aprendizado educacional. 
 
Surdos Oralizadores 
Constituem os casos mais extremos de aquisição tardia da Libras. Na verdade, 
esses indivíduos surdos foram cercados por uma comunidade ouvinte e, portanto, 
foram totalmente privados da língua de sinais, sendo ensinados a falar e ler os lábios. 
Segundo Pinto (2018, p. 44), esse tipo de surdo “[...] pode ter uma surdez leve ou 
moderada e leva uma vida de ouvinte, comunicam apenas pela leitura labial e fala, 
dão muita importância ao aparelho auditivo, são contra Intérpretes e tem dificuldade 
de encontrar sua identidade [...]”. 
7.11 Aquisição da Libras Como L2 
A aquisição da Libras como L2 propõe-se a adultos ouvintes que querem 
aprender a Libras como sua segunda língua. Essa modalidade existe quando a 
pessoa já tem a primeira língua (L1) totalmente consolidada na modalidade oralizada 
 
64 
 
e objetiva a adquirir uma segunda língua em uma segunda modalidade (língua de 
sinais). De fato, nessa modalidade, as pessoas são frequentemente referidas como 
aprendentes do M2 (2ª modalidade), uma vez que o alvo da L2 é expresso como outra 
língua oral e estrangeira, geralmente o inglês, para brasileiros. 
Entender os mecanismos de aquisição da Libras como L2 é particularmente 
relevante, pois tem consequências importantes na comunidade surda. Pais ouvintes 
de crianças surdas, intérpretes de Libras e trabalhadores de apoio de comunicação 
em língua de sinais precisam de boas habilidades na Libras para se tornarem bons 
modelos linguísticos para crianças surdas e estreitarem a lacuna comunicativa entre 
pessoas surdas e ouvintes. Entretanto, comparando a Libras como L1 ou aquisição 
de L2 oralizada, o estudo da aquisição da Libras como L2 permanece amplamente 
inexplorado. Os poucos estudos disponíveis investigam, principalmente, o 
desenvolvimento fonológico, o papel da iconicidade na língua de sinais e o 
desenvolvimento por meio da audição de adultos. “Para aprender libras, o ouvinte terá 
que iniciar estudos fazendo um curso básico de libras e tentar conviver o máximo de 
tempo com surdos para conhecer a cultura dessa comunidade, o que irá favorecer, e 
muito, na aquisição [...]” (PINTO, 2018, p. 223). 
 
 
Fonte: https://prezi.com 
A aquisição da língua oralizada e sinalizada é comparável, de várias maneiras, 
com a principal sobreposição de construção da estrutura entre sinais e palavras. Antes 
que as crianças tenham um léxico estabelecido, elas usam gestos orais e manuais 
 
65 
 
comunicativos sem analisar contrastes e regularidades sublexicais. Por meio da 
pressão de um modelo de filtro e seleção fonológica, surge um sistema de contrastes, 
e a substituição sistêmica leva à regularização. Ao sinalizar uma palavra, a criança 
pode procurar regularidades visuais entre famílias de formas de mãos por meio da 
fonologia emergente, porém, em ambas as modalidades, há um efeito marcante. As 
limitações sensorimotoras das crianças levam a estratégias para reduzir a marcante 
produção, e isso possivelmente influencia as conexões entre partes da gramática e o 
crescimento das representações fonológicas e a analogia do “menos é mais”. 
Muitos estudos psicolinguísticos fazem uma suposição de que há equivalência 
suficiente entre as modalidades de sinal e fala para testar as teorias da estrutura e do 
processamento da linguagem. Ao mesmo tempo, existem aspectos que são mais 
divergentes. Embora haja um amplo leque de maneiras de se falar sobre espaço e 
movimento, não há uma língua oralizada que articule palavras em um espaço real, 
como as línguas de sinais o fazem com o recurso do “classificador”. Uma frase em 
português, como, por exemplo, “a bola está rolando sobre o gramado”, codifica os 
componentes semânticos de figura, fundo e localização de uma maneira arbitrária e 
específica da linguagem. 
Quando surdos falam sobre espaço, eles usam construções de 
“classificadores”, por meio das quais as unidades morfológicas da construção podem 
codificar a semântica espacial e a entidade simultaneamente no espaço real (PINTO, 
2019). Uma comparação intrigante diz respeito ao domínio das crianças surdas sobre 
o sistema classificador em comparação com as crianças ouvintes. A modalidade visual 
pode parecer muito mais icônica do que as palavras e influenciar a taxa e a 
padronização do desenvolvimento da linguagem. 
O desenvolvimento de morfemas verbais em línguas faladas geralmente 
começa com verbos familiares aprendidos dentro de casa e contextos repetitivos 
antes de ser usado com itens novos. A aquisição de classificadores em crianças 
surdas segue, assim, um padrão superior, e a produtividade é alcançada lentamente, 
mesmo com os gestos e a iconicidade disponíveis. Ao esperar pela produtividade, 
observa-se que o modelo de classificador é preenchido em parcelas. A produtividade 
é sinalizada quando os componentes de significado começam a ser intercambiáveis 
no modelo. Embora a Libras seja usada de maneiras muito diferentes em crianças 
 
66 
 
bimodais, esse caminho de desenvolvimento para uma estrutura combinatória é 
familiar e previsível. 
 
8 LITERATURA SURDA 
Comunicar e interagir são necessidades de todos e vão além da busca por 
compreensão. Nesse sentido, a literatura surda ou a literatura por meio dos recursos 
da língua de sinais facilita o processo de construção cognitiva e a ampliação de 
vocabulário, fazendo com que o silêncio dos surdos não seja manifestado por 
preconceitos culturais e exclusão social, permitindo que seja reconhecida a existência 
de possibilidades, para essa comunidade, de recursos de conhecimento semelhantes 
aos dos ouvintes. 
Neste capítulo, portanto, você vai entender do que se trata a literatura surda, 
reconhecendo as suas características e diferenciando-a da literatura tradicional, 
voltada aos ouvintes. 
8.1 O Que é Literatura Surda? 
A palavra literatura, em sentido amplo, aplica-se a todas as produções 
literárias de um país ou de uma época, sendo, portanto, um dos ramos essenciais do 
conhecimento humano. Literatura abrange os textos, orais ou escritos, sejam eles 
poesia, história, textos de gramática, eloquência, textos filosóficos ou teológicos, 
textos das ciências, dramas, dentre outras. Entretanto, a literatura não pode ser 
reduzida à sua etimologia — litterae, litteratura —, que se refere à “coisa escrita”, ainda 
mais quando nos referimos à literatura surda (PINTO, 2019). 
Distinguir os meios ou os recursos de literatura surda envolve um mundo 
totalmente diverso do habitual e preestabelecido em uma nação ouvintista que não 
conhece as culturas e as especificidades da comunidade surda. 
Enquanto define-se surdo por sua perda auditiva, dividimos o mundo em duas 
categorias que dependem do modo de comunicação: aqueles que se comunicam 
usando a verbalização e aqueles que se comunicam usando a língua de sinais. Diante 
desse ponto de vista, temos, portanto, uma diferença cultural,e não uma deficiência

Continue navegando