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1 Liderança Estratégica Unidade I Prof. Fabyo Ajona M. Marques APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Vinte e um anos de experiência liderando equipes, implantando projetos de melhoria contínua e desenvolvendo sistemas de gestão da qualidade e processos de grandes empresas multinacionais e seus fornecedores: Unilever, Eaton, Honda, Otis e FAG. Graduado em Engenharia Mecânica pela Escola de Engenharia Mauá, MBA pela Universidade de São Paulo (USP), e certificado internacionalmente pela American Society for Quality (ASQ) em Engenharia da Qualidade. Desenvolve pesquisas no curso de mestrado de Engenharia de Produção e Manufatura da Faculdade de Ciências Aplicáveis (FCA) – da Unicamp. Recentemente publicou o artigo “Como o Brasil está frente à quarta revolução industrial: Uma pesquisa survey das indústrias brasileiras” na XXXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) –– e atua em pesquisa inédita que desenvolve um sistema de gestão da qualidade específico para as operações de serviços. Na UNIP, é professor convidado da disciplina Strategic Sourcing do curso de MBA Gestão Estratégica de Compras e da disciplina Liderança Estratégica do curso de MBA em Gestão Lean Manufacturing. É proprietário da RAISING THE BAR, que fornece treinamentos, palestras, consultorias, e avaliações, nas mais importantes ferramentas, técnicas e conceitos de qualidade e produtividade, tanto para a indústria como para o setor de serviços. Sua especialidade na disciplina Liderança Estratégica em Lean Manufacturing também foi desenvolvida atuando por dez anos na Honda, onde liderou equipes e projetos, além de experiência internacional na qual presenciou a cultura do Lean Manufacturing em várias empresas no Japão. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 4 1.1 A Toyota e a crise tripla .............................................................................................................. 5 1.2 Os mandamentos do dia a dia da Toyota .................................................................................. 9 2. ESTILOS DE LIDERANÇA ....................................................................................................... 12 3. SEIS ESTRATÉGIAS ESSENCIAIS DA LIDERANÇA LEAN .................................................. 16 3.1 Genba e Genchi Genbutsu ....................................................................................................... 16 3.2 Valores e princípios .................................................................................................................. 19 3.2.1 Valores ................................................................................................................................................... 19 3.2.2 Os 14 princípios do Sistema Toyota de Produção (TPS) ............................................................... 20 3.3 Líderes excelentes guiando pessoas que chegarão à excelência ........................................... 24 3.4 Problemas, que são oportunidades, não devem ser escondidos ............................................ 24 3.5 Falhas são oportunidades de melhoria pelo aprendizado ....................................................... 24 3.6 Respeito aos mais velhos e mais experientes ......................................................................... 25 4. ESPECIFICIDADES DO ESTILO DE LIDERANÇA LEAN MANUFACTURING ...................... 29 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 36 4 INTRODUÇÃO Durante cinco décadas, a Toyota concentrou-se e se dedicou no aperfeiçoamento do seu método de trabalho, o que resultou em processos cada vez mais enxutos e eficientes. Em determinado momento, estes resultados chegaram a um ponto que chamaram a atenção de várias empresas, que passaram a desejar e utilizar o TPS – Toyota Production System – ou Sistema Toyota de Produção, como referências para as suas operações por todo mundo (REVISTA EXAME, 2011). De fato, mesmo em dias mais recentes, a Toyota apresenta resultados que ainda chamam a atenção, como a tabela abaixo evidencia, onde é demonstrado que com quase a mesma quantidade de funcionários, a Toyota proporciona um valor de mercado muito superior, produzindo mais e obtendo lucros maiores do que a GM. Tabela 1 – Comparativo de Resultados entre Toyota e GM Características TOYOTA GM Valor de Mercado US$ 219 bilhões US$ 18 bilhões Produção (Primeiro trimestre/2007) 2,35 milhões veículos 2,26 milhões veículos Faturamento em 2006 US$ 179 bilhões (dados ainda do ano fiscal encerrado 31/marco/2006) US$ 207 bilhões Resultado em 2006 US$ 12 bilhões (dados ainda do ano fiscal encerrado 31/marco/2006) US$ -2 bilhões Empregados 296 mil 284 mil Fonte: Adaptado de REVISTA EXAME, 2011. Dentro do Sistema Toyota de Produção, TPS, está inserido o Lean Manufacturing, no qual o papel da liderança assume protagonismo porque são justamente os valores e princípios de seus líderes percursores e fundadores, que sustentam este conceito. Assim, neste início do desenvolvimento de nossa disciplina, é fundamental entendermos algo que muitas empresas interpretam equivocadamente ou se negam a enxergar dada a dificuldade que isto pode causar: O fato do Lean Manufacturing ser uma cultura, um conceito que nasceu sob os modos de vida de seus líderes e fundadores. O Lean Manufacturing pode ser visto com um estilo de vida, ou de vida organizacional. Muitas empresas se declaram como sendo Lean Manufacturing, mas a maioria delas atuam desenvolvendo apenas projetos com as ferramentas e técnicas do Lean Manufacturing, e por desconsiderarem ou até ignorarem que o Lean Manufacturing é uma cultura, a maioria desses projetos, que podem até resultar em grandes impactos inicialmente, acabam padecendo com o tempo. Então, comete-se o erro de achar que o Lean Manufacturing é simplesmente uma ferramenta ou uma 5 técnica. Mais uma vez aqui ressaltamos que o Lean Manufacturing é um conceito, uma cultura, como também é o 5S e o Kaizen. Os fundadores da Toyota sempre demonstraram os seus valores e princípios desde os seus primeiros passos, e sempre foram marcados e admirados pelo sucesso e resultados que chamaram a atenção de todo mundo empresarial, como por exemplo, ter ficado por muito tempo ininterruptamente dando resultados muito positivos, lucros, anos após anos, ou décadas após décadas. Também chamava a atenção, que sempre se recuperavam de momentos de recessão e crises, numa velocidade muito superior à de seus concorrentes. Nesse contexto acima, é importante notar que as empresas ocidentais são vistas como empresas que tomam decisões baseadas normalmente no imediatismo e individualismo, enquanto as empresas orientais são muito mais pacientes em suas decisões, pensando a longo prazo e com teamwork – isso é refletido na liderança do Lean Manufacturing (LIKER; CONVIS, 2012). E mais uma vez enfatizando a cultura do Sistema Toyota de Produção, Sakichi Toyoda, fundador da Toyota, quando começou as atividades da Toyota produzindo teares, teve a intenção inicial de fazer uma melhoria para as mulheres que machucavam seus dedos ao tecer. Posteriormente, Kiichiro Toyoda teve a incumbência de desenvolver a Toyota fabricante de carros, mas com o foco em fazer algo melhor ao mundo. No meio deste caminho, foi dada a incumbência para Akira Yokoi assumir uma planta na Indonésia para ajudar a reconstrução daquele país depois de uma destruidora guerra civil. Todos esses reais exemplos, reforçam esta cultura, e os valores e princípios que devem estar inseridos nos seus líderes do TPS. Portanto, a liderança é fundamental para o sucesso do Lean Manufacturing, poisé através de seu entendimento e engajamento, que se insere e finda-se a cultura do Lean em todos, e de todos os níveis de uma organização. Ressaltar que isto ocorre em todos os níveis é um fator crucial também, pois se contrapondo a várias empresas, o desenvolvimento e desdobramento do conhecimento é entre todos, e não sob uma dependência exclusiva de alguns poucos “super-heróis”, black belts, especialistas… considerados os únicos capazes de melhorar processos nessas organizações. 1.1 A Toyota e a crise tripla Também para ilustrar toda essa importância do Lean Manufacturing na Toyota, e sua dependência com as ações da liderança, a obra “The Toyota Way to Lean Leadership”, escrito por Jeffey K. Liker, e Gary L. Convis – ocidentais que ocuparam cargos de liderança na Toyota – demonstra justamente isso através de falhas da liderança que acarretaram na Crise Tripla enfrentada pela Toyota de 2008 a 2011. 6 A grande recessão global de 2008 Figura 1 – Notícia sobre fábrica da Toyota nos EUA que ficaria por mais dias fechada Fonte: SLOAN, 2008. Os líderes ocidentais da Toyota fizeram algo que contradiz os princípios do Lean, decidiram por manter elevados estoques para atender o mercado que estava muito aquecido antes da crise global econômica, que já dava alguns sinais com antecedência. E também como consequência dessa ação, a Toyota teve que ficar por três meses sem operar em algumas de suas plantas. Porém, ao invés de demitir funcionários, utilizou suas reservas não só para manter seu quadro de colaboradores, como para treiná-los e desenvolvê-los, justamente intencionando a recuperação do conceito, de valores, e de princípios do TPS – justamente para reforçar com a liderança, a cultura Lean. A grande crise do recall de 2009 Figura 2 – O terrível acidente ocorrido em 28/08/2009 com o Lexus, que iniciou a crise do recall da Toyota Fonte: SANTEE, 2010. 7 Numa estrada da Califórnia em agosto de 2009, Mark Saylor guiava o seu Lexus ES 350 com sua família o acompanhando, sua esposa Cleofe Saylor, sua filha de 13 anos Mahala Saylor, e seu cunhado, irmão de Cleofe, Chris Lastrella. Notando que o seu veículo não parava de acelerar e sem conseguir conter tal aceleração, desesperadamente ligou para o 911 – serviço de emergência dos Estados Unidos – e reportou o problema, antes de perder o controle do seu Lexus, colidir com um Ford Explorer, e cair por um barranco, causando, infelizmente, o óbito de todos os seus familiares ocupantes (DEVINE; PAYTON; STICKNEY, 2009). Esse caso tomou uma enorme proporção na mídia americana, até porque outros casos emergiram posteriormente, e pela primeira vez a Toyota sofria um desperdício da imagem e na reputação construída por muitas décadas, algo também que contradiz a cultura do Lean Manufacturing. Apesar de ter havido uma supervalorização, e um exagero sobre o seu grau de responsabilidade, a Toyota não mediu esforços para identificar as causas do problema e admitir seus erros, o que a levou a tomar ações importantes para sair ainda mais fortalecida desta situação adversa. A Toyota percebeu duas enormes oportunidades; uma sobre o foco no cliente, de que não se pode desprezar ou ignorar qualquer preocupação manifestada por ele, e que os líderes ocidentais não comunicaram ao departamento de R&D (Research & Development) e/ou aos projetistas responsáveis pelos projetos dos veículos, que ficavam locados no Japão, tais preocupações e alguns problemas constatados. Previamente cientes de algumas manifestações do cliente e outros problemas que eram desconhecidos, os projetistas poderiam rever o projeto e tomar medidas de melhoria que preveniriam toda esta terrível situação. A melhoria na eficiência dos canais de comunicação, e aproximação das áreas de desenvolvimento com os líderes ocidentais, foram algumas outras ações que foram tomadas e que convergiam com os princípios do Lean Manufacturing, assim como o essencial foco ao cliente, ouvindo e tratando simples incômodos e preocupações recebidas pelos usuários dos produtos Toyota. 8 O tsunami e o grande terremoto do Japão de 2011 Figura 3 – A destruição causada pelo tsunami e terremoto de 2011 no Japão Fonte: TANOUE; VENEMA, 2015. Mal a Toyota se recuperava das duas crises anteriores, áreas importantes do Japão eram devastadas por um forte terremoto e um subsequente tsunami. Várias empresas foram destruídas, e a cadeia de fornecimento da Toyota foi afetada porque alguns fornecedores de segunda camada – fornecedores de seus fornecedores – foram atingidos e tiveram que interromper seu fornecimento, afetando plantas da Toyota e o funcionamento de suas linhas de produção (LIKER; CONVIS, 2012). No começo de 1997, uma planta da Aisin Seiki, fornecedor de uma válvula do sistema de freio, se incendiou e ameaçou interromper metade das operações da Toyota por semanas (BEAUDET; NISHIGUCHI, 1998). Estimava-se que as plantas parariam por semanas, mas graças ao cooperativismo e envolvimento entre Toyota e seus fornecedores, houve uma grande movimentação em direção aos conceitos do Just in time – JIT, e as plantas sofreram paralizações de dois a três dias. Porém, nessa época as vendas estavam aquecidas, e mesmo uma hora de uma linha de produção parada significava um grande prejuízo. Então, mais uma vez a Toyota viu que havia um desperdício, agora relacionado com o aprendizado desse incêndio de 1997, que fez com que um fornecedor tivesse a sua produção interrompida e gerasse paradas de linha na Toyota. Todo impacto danoso foi causado pois a Aisin Seiki era a única fonte que a Toyota tinha para o item que ela fornecia. O aprendizado foi que se houvesse um outro fornecedor para tal item, a parada das plantas seria improvável. E no caso abordado aqui na crise tripla, ocorrido em 2011, mais uma vez, agora no Japão, fornecedores de seus fornecedores, que também eram fontes únicas de seus fornecedores, causariam a Toyota o mesmo impacto prejudicial de quatorze anos atrás. Evidenciou-se que não havia um requisito para os fornecedores diretos desenvolverem fontes duplas para os itens que eles forneciam a Toyota, o que preveniria paradas de linhas em catástrofes e colapsos como os ocorridos no Japão em 2011. 9 Todas essas crises enfrentadas fizeram com que a Toyota voltasse às suas bases, recuperando sua liderança para redirecionarem seus focos e atividades para os princípios e valores do Lean. Ao invés de se martirizar com os erros e procurar culpados, os líderes da Toyota tinham que identificar as causas raízes de cada crise, e assim, aproveitando cada oportunidade de melhoria “para melhorar”, e para ter uma empresa e sua liderança mais robusta. E isto também faz parte da cultura do Lean, sempre focar nos reprodutores de seus princípios e valores de seus conceitos, de sua cultura, ser excelente para resolver problemas aproveitando ao máximo cada oportunidade de melhoria, através da identificação precisa das suas causas-raízes. 1.2 Os mandamentos do dia a dia da Toyota Mais adiante abordaremos os 4 Ps, os valores, e princípios da liderança Lean, porém nesta seção, até para auxiliar na compreensão das estratégias que o estilo de liderança da gestão Lean Manufacturing demanda, abordaremos rapidamente os oito mandamentos do dia a dia do TPS. 1o) Qualidade, qualidade, qualidade: É como um mantra, que a todo momento, conscientemente ou inconscientemente todos devem repetir. Há uma busca frenética pela perfeição, que á a grande força motriz da melhoria contínua. 2o) Obsessão por corte de custos: Hoje muitos já perceberam que o Lean Manufacturing é bem aplicado em qualquer processo, e não só os fabris. 3o) Investimento em treinamento: Todos os funcionários passam por extensivos treinamentos antes de assumir qualquer função. 4o) Emprego vitalício: Por experiência do próprio autor dessa apostila, de fato isto não é uma lenda. Pela ênfase que o LeanManufacturing proporciona para o desenvolvimento e autodesenvolvimento, pelo respeito aos indivíduos, e pelos conhecimentos adquiridos, sempre se procura manter o pessoal. Isto se estende até para outras partes, como fornecedores. É muito comum ver empregados e funcionários atuando em empresas orientais por décadas. 5o) Busca pela simplicidade: É dada preferência ao simples, ágil e eficaz, ao invés do complexo, lento e ineficiente. 6o) Visão de longo prazo: O planejamento é chave, e por isso mesmo requisitado em todos os níveis da companhia – no Sistema Toyota de Produção não se “coloca a carroça na frente dos bois”. Também veremos em várias partes desta apostila como a visão a longo prazo é praticada. 7o) Decisão por consenso: Como veremos mais adiante, há um processo chamado hoshin kanri, e outras ferramentas que valorizam a tomada de decisão em equipe. Apesar de resultar num processo de tomada de decisão mais longo, mitiga e minimiza riscos, além de contribuir para a união de todos e inter-relação dos processos. 8o) Proximidade com o consumidor: A Toyota desenvolverá seus produtos e processos com base no que suas pesquisas de mercado e, principalmente, proximidade com 10 o consumidor, indicam. Portanto, seus produtos e processos são projetados e implantados com base nos requisitos dos seus consumidores. Antes de nos aprofundarmos na liderança estratégica para a gestão do Lean Manufacturing, que está entre os mais importantes fatores críticos de sucesso para a implantação de uma cultura Lean Six Sigma, juntamente com capabilidades de gerenciamento de projeto, seleção de pessoas supertalentosas e responsabilidade financeira, de acordo com o estudo “Leadership – a critical success factor for the effective implementation of Lean Six Sigma” de Alessandro Laureani e Jiju Antony, publicado em 2015, será proporcionado na próxima seção desta apostila um apanhado sobre alguns outros estilos de liderança, que possibilitará ao discente uma capacidade de distinção desses estilos, além de possibilitar a comparação com características estratégicas de líderes de Lean, que abordaremos posteriormente. Curiosidades Lean Management + Six Sigma = Lean Six Sigma Tanto o Lean Manufacturing como o Six Sigma, consistem em sistemas de gestão que envolvem mudanças e alinhamentos culturais, novas formas de produzir e/ou prestar serviços (ARNHEITER; MALEYEFF, 2005), além de muito treinamento, educação e envolvimento das pessoas. O Six Sigma é considerado como mais uma estratégia de decisão do negócio, com mais foco no cliente nas decisões gerenciais, e com mais treinamentos focados em ferramentas e técnicas estatísticas. Valendo ressaltar aqui que a nomenclatura seis sigma, que pode submeter a uma imediata suposição que tem a ver com 6 desvios padrões (), na verdade é puramente holística (ARNHEITER; MALEYEFF, 2005), pois mesmo com um processo altamente estável e capaz com uma reduzida variação de 6 , problemas que podem causas fatalidades podem ser permitidos, e a quantidade de problemas pode se tornar insustentável em quantidades muito elevadas de produção. Por isso a forte relação entre ambos conceitos holísticos, o Six Sigma e o TQM – Total Quality Management (ARNHEITER; MALEYEFF, 2005). Outra característica do Six Sigma é que os poderes de conhecimento de suas ferramentas e técnicas ficam mantidos com seus “super-heróis”, classificados como White Belts, Yellow Belts, Green Belts e Black Belts, dependendo do grau de conhecimento e habilidade no uso de ferramentas e técnicas mais sofisticadas. Já o Lean Manufacturing foca mais a demanda, o fluxo da produção ou prestação de serviços, os tempos de processos e operações, as características do produto ou especificidades dos serviços, buscando estabelecer procedimentos padrões que minimizam ou eliminam ao máximo atividades que não agregam valor, através de balanceamento, nivelamento, ritmo e do Kaizen. E no Lean, diferente do Six Sigma, todos, e em todos os níveis, devem ser plenamente capacitados e envolvidos para executar o Kaizen diário, que abordaremos na unidade II desta apostila. 11 Como resultados, empresas que tem o Six Sigma mantêm seus processos mais centralizados na meta (ARNHEITER; MALEYEFF, 2005), com menos variações e mais estabilidade, e uma estrutura para a educação de métodos estatísticos. Enquanto empresas com Lean Manufacturing como cultura, garantem a qualidade com controle mais atributivo (ARNHEITER; MALEYEFF, 2005), através de poka yokes, dispositivos passa-não-passa ou Jidoka, uma empresa mais estruturada para o desenvolvimento e educação de todos, além de garantir a eficiência e eficácia com as ferramentas e técnicas do Lean que eliminam ou reduzem desperdícios, atividades que não agregam valor com foco no impacto ao cliente. 12 2. ESTILOS DE LIDERANÇA Liderar pode ser definido como uma atitude empreendedora, que leva as pessoas para uma certa direção – o melhor caminho – através de atitudes ou movimentos que inspiram, guiam, motivam, instruem, corrigem, orientam, influenciam para a conquista de resultados requeridos, para o desenvolvimento profissional e pessoal (R. MARQUES, 2018). A liderança é influenciada por vários fatores, por exemplo: o entrosamento da equipe que será liderada, o conhecimento acumulado, e a capacidade de argumentação (BLB BRASIL, 2017). E de acordo com a teoria de contingência de Fiedler (YUKL, 1998), a eficácia do líder, o seu poder de influenciar seus liderados, dependerá de seu estilo de liderança, que variará de acordo com sua personalidade, e do ambiente de trabalho (LESKIW; SINGH, 2007) que invariavelmente está sujeito a mudanças. Portanto, descreveremos a seguir as características de alguns estilos de liderança: – Estilo autocrático: Pejorativamente chamado por “chefão” ou “ditador”. O tipo de liderança que manda e espera que os liderados obedeçam, centralizador, e que fica sobrecarregado, inclusive com o controle ficando exclusivamente na mão do gestor (HSM UNIVERSITY, 2019). Nesse estilo de liderança, o foco da liderança está no próprio líder (R. MARQUES, 2018), no qual ele mesmo decide as diretrizes e ações, quem deve executá-las e como devem ser desenvolvidas, e apenas espera que os liderados as cumpram sem qualquer contestação, o que faz com que se tenha pouco envolvimento e que os membros do time ajam com muito mais individualismo do que coletivismo (BLB BRASIL, 2017). Assim, as ideias dos colaboradores, que inclusive costumam ser mais especialistas no que executam, são ignoradas parcialmente ou totalmente, o que por outro lado torna a velocidade de tomada de ações mais ágil, apesar dos colaboradores costumarem se empenhar mais na presença do líder (HSM UNIVERSITY, 2019). Normalmente este tipo de liderança gera alta produtividade às custas de frustração e dificuldades de relacionamento dentro da equipe, mas é indicado para situações que requer ordem e onde o poder hierárquico tem maior peso na estrutura organizacional (R. MARQUES, 2018). Uma vertente deste estilo de liderança é o chamado como estilo nível 5 de liderança, que o líder que se mantém no topo da hierarquia de capabilidades e provém suporte para a organização com uma combinação paradoxal entre humildade pessoal com vontade profissional (COLLINS, 2001). – Estilo democrático: Também é conhecido como estilo participativo, envolvendo todos os liderados para estabelecer metas, resolver problemas, construir o time, e etc., porém retém a autoridade de tomada de decisão (LAUREANI, ANTONY, 2015). O foco desse estilo está no líder, mas muito também na equipe, necessitando que seja bastante participativa, pois será incentivada para debater em grupo diretrizes e providências, sob a assistência do líder. Esse estilo faz com que o líder seja um membro da equipe, sem encarregar-se de muitas tarefas (METIDIERI, 2011). Portanto, esse estilo de liderança proporciona muita interação entre lideradose líder, e todos se sentem mais respeitados pela participação nos projetos (HSM UNIVERSITY, 2019), provendo ideias livremente e fazendo os liderados sentirem como partes do negócio, afinal eles participam ativamente não só da escolha e implantação das ações, mas também das análise preliminares e da construção dos 13 resultados obtidos (R. MARQUES, 2018). Desse modo, o líder que faz uso desse estilo obtém simpatia dos liderados pela capacidade de escuta que demonstra para definir em conjunto o que é melhor para a maioria (BLB BRASIL, 2017), e supostamente para a organização. Isso causa maior comprometimento, mas por outro lado, por todo envolvimento e participação que esse estilo patrocina e requer, as tomadas de decisão costumam se mostrar mais lentas, além de possível falta de controle para alguma tarefa ou processo por falta de alguém que quis democraticamente assumir a sua responsabilidade (HSM UNIVERSITY, 2019). Há preocupação com o bem-estar e satisfação dos liderados, valorizando a colaboração, empenho e dedicação das pessoas, com foco na gestão do clima organizacional, no desenvolvimento das pessoas, com uma comunicação direta e efetiva (R. MARQUES, 2018). O líder costuma ser mais objetivo, se baseando em fatos para fazer críticas e elogios (METIDIERI, 2011). Uma outra dificuldade inerente deste estilo é que aqueles que discordam da decisão tomada democraticamente, eventualmente podem se sentir prejudicados, e podem afrontar o líder, ou mesmo fazer com que os demais liderados se unam contra ele (BLB BRASIL, 2017). – Estilo liberal: O líder com este estilo é descentralizador e age quase que exclusivamente delegando tarefas, assumindo que a equipe já é experiente e que não precisa de suas orientações, confiando na capacidade de autogestão dos liderados, e é justamente essa confiança que motiva os liderados, pois são livres para tomadas de decisões e há muito menos burocracia (HSM UNIVERSITY, 2019). O líder permite que cada liderado construa o seu próprio cronograma de trabalho da forma que melhor lhe convir, admitindo o senso de responsabilidade requerido aos liderados, o que lhe previne de controlá-los, mas que também pode até fazer com que alguns prorroguem inadvertidamente e inapropriadamente suas tarefas, pois sabem que não serão controlados ou fiscalizados (R. MARQUES, 2018). Nesse estilo de liderança os liderados podem se sentir perdidos, sem orientações ou direcionamentos, e sem saber o que e como fazer (METIDIERI, 2011). Nesse estilo ainda, os líderes proporcionam feedbacks somente quando os liderados solicitam, as pessoas ficam mais individualistas, e até podem perder o respeito pelo seu líder, além da produtividade gerada ser baixa justamente devido à falta de controle e orientação (HSM UNIVERSITY, 2019). O estilo liberal possui uma variação de estilo que é o estilo afiliativo, que promove harmonia e ajuda a resolver conflitos, e que constrói equipes para assegurar a conexão entre seus membros, de modo que esses sentirão prazer em trabalhar com esse estilo de liderança. Porém, também devido à falta de controle, o mau desempenho não é fiscalizado ou controlado (GOLEMAN; BOYATZIS; MCKEE, 2003). – Coach: Esse estilo de liderança foca o desenvolvimento e a performance das pessoas (HSM UNIVERSITY, 2019), bem como os resultados proporcionados (R. MARQUES, 2018). O líder com estilo de coaching identifica as competências, habilidades e capabilidades de cada membro do time e delega tarefas a partir dessa classificação, e com uma postura similar à de um professor, costuma destacar os melhores, os incentivando, lhes proporcionando os maiores desafios, inclusive de crescimento, mas em detrimento à atenção aos liderados com desempenho abaixo das expectativas (BLB BRASIL, 2017), que justamente costumam requerer maiores esforços e dedicação do líder para os desenvolverem. O líder com esse estilo aplica seus conhecimentos de coaching para ajudar os liderados a descobrirem novas capabilidades técnicas, emocionais e comportamentais, desenvolvendo seus pontos 14 de melhoria e até identificando uma diretriz para suas carreiras profissionais (R. MARQUES, 2018), e as desenvolve no ambiente corporativo (HSM UNIVERSITY, 2019). Com esse estímulo, o time toma consciência, se torna mais comprometido, e seus membros sentem-se capacitados e apoiados para implantarem iniciativas extraordinárias, sob um nível de comunicação assertivo, reconhecimentos e apontamentos de oportunidades de melhoria, orientados e motivados, estimulados para o aprendizado (R. MARQUES, 2018), sob feedbacks também constantes e com líderes e liderados se desenvolvendo diariamente, apesar da comunicação deixar de ser efetiva quando há pessoas indispostas a se desenvolver e à mudanças (HSM UNIVERSITY, 2019). Esse estilo de liderança normalmente produz liderados dedicados e proativos (BLB BRASIL, 2017). Por demandar mais tempo, pois é priorizado o crescimento do colaborador, pode haver atrasos em entregas a curto prazo (HSM UNIVERSITY, 2019). – Situacional: Esse estilo também é denominado como adaptativo (R. MARQUES, 2018), e consiste em adaptar o estilo de liderança à uma situação organizacional enfrentada (BLB BRASIL, 2017). Portanto aqui o líder foca nas situações atuais enfrentadas e na capacidade, experiência e nível de maturidade dos colaboradores. Sua complexidade vem da necessidade de necessitar do desenvolvimento de vários estilos de liderança para estar preparado para especificas e inesperadas situações que irão requerer determinado estilo mais apropriado para determinado cenário. Para esse estilo de liderança é necessário que se tenha a capacidade de avaliar os cenários e contextos no qual o negócio está inserido, suas demandas, e especialmente os níveis de capacitação técnica, comportamental, emocional, o comprometimento, o engajamento dos membros da equipe, para que também as tarefas sejam designados de acordo com isso visando a obtenção dos melhores resultados (R. MARQUES, 2018). Esse estilo é muito importante para empresas que se renovam constantemente, e/ou que se lançam em diferentes segmentos ou diferentes regiões globais (BLB BRASIL, 2017). – Exigente: Um estilo indispensável para situações nas quais se requer precisão, sob pena de gerar estresse elevado e alta rotatividade devido ao elevado grau de cobrança de um líder que possui grande conhecimento da área e não admite falhas (BLB BRASIL, 2017). – Motivador: O líder que adota esse estilo sabe lidar muito bem com as questões emocionais, e transmite energia positiva para a equipe. Nesse estilo de liderança, o líder procura fazer com que os liderados desenvolvam atividades que gostem, acreditando nelas, conseguindo fazer com que eles não se sintam amedrontados nem mesmo mediante situações de mudanças bruscas (BLB BRASIL, 2017). Devido ao alto envolvimento emocional e alta preocupação com as pessoas pode haver uma perda de eficiência, tirando o líder do foco e comprometendo resultados. – Técnico: Esse estilo é ótimo para envolver as pessoas através de treinamentos e ações de conscientização (LAUREANI, ANTONY, 2015). O líder valoriza a competência de seus liderados e são detentores de muito conhecimento prático, ocasionando confiança aos seus subordinados que os enxerga como exemplo e até o seguem naturalmente (BLB BRASIL, 2017). Em contrapartida, os líderes que adotam esse estilo de liderança costumam se mostrar mais resistentes às mudanças, justamente como proteção dos conhecimentos que detêm dentro das condições atuais. 15 – Visionário: Os líderes com este estilo de liderança definem os objetivos da equipe, deixando seus membros livres para tomarem suas iniciativas livremente, inovando, experimentando, assumindo riscos, e etc., tudo visando o atingimento de seus objetivos (GOLEMAN; BOYATZIS; MCKEE, 2003). Esses líderes lidam bem com planejamento e execução de projetos, sendo ideais para lidar com inovações, e possuem elevada capacidadeanalítica e lógica para prever tendências e necessidades comportamentais, e assim lideram orientando com eficiência para o que deve ser executado, e fazem uso de práticas visando a otimização das tarefas (BLB BRASIL, 2017). Tais líderes focam na economia de tempo e controlam o ganho em produtividade. A maior dificuldade nesse estilo de liderança reside em tratar questões de relação interpessoal, uma vez que o lado racional desses líderes é muito mais preponderante e ativo do que o emocional (BLB BRASIL, 2017). – Burocrático: Nesse estilo de liderança, o líder resolve problemas com muito controle, constitui o seu poder através do controle no fluxo de informações, e se pauta em procedimento e dados históricos, ignorando se ainda esses são válidos mediante variações e mudanças de cenário (LAUREANI, ANTONY, 2015). – Servidor: O líder está focado em atender outras áreas, enquanto também busca atingir seus objetivos próprios (GREENLEAF, 1977). O estilo de liderança transcendente pode ser considerado como uma variação do estilo servidor. No estilo transcendente o líder proporciona um alto padrão para a sustentabilidade global do negócio, com um processo mais inclusivo e consensual de tomada de decisão considerando fatores econômicos, sociais, e ambientais, portando vai além do foco em lucro, focando-se o tripé lucro-pessoas-planeta (GARDINER, 2006). – Transacional: O líder com este estilo se baseia no claro estabelecimento de objetivos e metas, e pune e reconhece os liderados para encorajá-los a atingi-los (BURNS, 1978). – Transformacional: Estilo de liderança no qual o líder visualiza a necessidade de mudança, cria uma visão para guiar a equipe para esta mudança através da inspiração, e ela é executada com o comprometimento dos membros da equipe (BASS, 1990). A importância da liderança no campo da melhoria contínua vem merecendo especial atenção na literatura (DEMING, 2013), e a pesquisa mostra que líderes eficientes possuem distintos estilos de liderança (KIRKPATRICK; LOCKE, 1991). E de uma forma geral, comportamentos e estilos dos líderes da gestão Lean Manufacturing¸ são vistos como paradoxais, até por isso se torna difícil apontar um dos estilos explorados acima como sendo o estilo predominante desses líderes. Se por um lado os líderes em Lean Manufacturing devem estar focados no desenvolvimento do conhecimento técnico, como a capacidade de tomar decisões baseado em fatos, analisando, estabelecendo e cumprindo procedimentos de operação padrão para a eficiência e eficácia dos processos, por outro lado, aspectos sociais, como o empoderamento e colaboração para se ter muita criatividade e inovação, devem ser gerenciados também (VAN ASSEN, 2016). Assim, os líderes Lean Manufacturing devem agir meticulosamente e gerenciar com consistência, enquanto agem também para empoderar a operação para fomentar criatividade e melhorias (LARN; O’DONNEL; ROBERTSON, 2015). 16 3. SEIS ESTRATÉGIAS ESSENCIAIS DA LIDERANÇA LEAN Akio Toyoda, atual presidente da Toyota e neto do seu fundador, na obra “The Toyota Way to Lean Leadership”, escrito por Jeffey K. Liker, e Gary L. Convis, enumera seis necessidades fundamentais de uma liderança estratégica em Lean Manufacturing. Genba e Genchi Genbutsu. Valores e princípios “no sangue”. Pessoas chegam à excelência guiadas por líderes excelentes. Problemas nunca devem ser escondidos. Falhas são oportunidades. Respeito aos mais velhos. Cada um desses pontos acima será explorado a seguir, pois também por eles se diferencia as estratégias do estilo dos líderes da gestão Lean Manufacturing, de outros estilos de liderança e de líderes que costumamos presenciar na prática, no dia a dia. 3.1 Genba e Genchi Genbutsu Sempre me fascinou a forma como problemas são muito bem solucionados em empresas orientais, de uma forma bem diferente e muito mais eficaz do que em empresas convencionais. E uma das principais particularidades na forma em como os orientais tratam os seus problemas, é não abrindo mão da necessidade inicial e clara de um entendimento completo e muito preciso deles. Conhecimento complementar 5GEN Há empresas orientais que usam a ferramenta 5Gen para esta finalidade. Genba: Vá até o local onde o problema ocorre. Genbutsu: Examine tudo, “as coisas”, os objetos… 17 Genjitsu: Colete fatos e dados. Genri: Consulte a teoria para saber como deveria tudo funcionar e estar. Gensoku: Siga os padrões operacionais existentes. Na Toyota ressalta-se o genba e o genchi genbutsu, que tem o significado de “vá e veja com seus próprios olhos”. Sem dúvida isto assume um papel de extrema importância, pois se logo no início do processo de resolução de problemas não for obtida uma clara e completa identificação do problema, muito provavelmente a solução definida não será eficaz, e então reincidências do problema não serão prevenidas. Portanto, um líder deve compreender e praticar tudo isto com muita consistência, além de ser capaz de desenvolver o mesmo em sua equipe (LIKER; CONVIS, 2012). Tem que se ter muito bem compreendido que é muito improvável que se resolva um problema apropriadamente e com eficácia, sem ir até onde ele ocorre ou ocorreu, pois só assim poderá entendê-lo minuciosamente. Para nós, ocidentais, pode ser mais difícil de compreender isto de imediato ou enxergar a clara lógica contida neste contexto, afinal há empresas ocidentais onde seus líderes nunca, ou raramente, ingressaram em seus chãos de fábrica. Não se resolve problemas, ou desperdícios são reduzidos e eliminados, ou promove-se melhorias, sem se basear em fatos, constatar a realidade, observar tudo que acontece ou aconteceu. Portanto, é fundamental que o líder Lean Manufacturing tenha esta prática muito bem desenvolvida, mas que entenda que deve ainda se auto desenvolver mais e mais, e desenvolver continuamente também os membros da sua equipe nestes aspectos. Para refletir… Como um investigador resolve um crime de assassinato? Certamente um bom investigador não ficará sentado na sua delegacia para entender o que aconteceu, identificar a causa do crime, e o seu causador, o criminoso, não é mesmo? O investigador não tenta à distância, acusar e deflagrar a prisão do culpado. Não, a primeira ação que o investigador toma é sair de sua mesa e ir até o local do crime, à cena do crime (o seu genba), que inclusive estará preservado para o trabalho dele. Lá, observará os fatos, os acontecimentos, como cada detalhe da cena do crime, como os objetos estão dispostos e preservados em relação a uma situação normal, como a vítima morreu, com qual arma, em que posição o corpo se encontra, qual parte do corpo foi atingida, também verificará a rotina da vítima, o seu itinerário, os registros do seu cartão de crédito, procura entrevistar pessoas para saber o que se passou e etc. (genchi genbutsu). Sem começar por aí, deixando de compreender 18 muito bem o problema, o crime, dificilmente o investigador conseguirá chegar com acurácia na causa do crime e no culpado. Ressalta-se ainda neste tópico, que o TPS – Sistema Toyota de Produção – não surgiu de uma consultoria, mas sim, justamente do genba e genchi genbutsu do engenheiro Taiichi Ohno. Durante e após a segunda guerra mundial, a empresa estava enfrentando uma situação muito difícil, e não seriam mais tolerados elevados estoques e desperdícios, e então o presidente Eiji Toyoda pediu a Ohno, seu principal executivo, que reinventasse os processos produtivos da montadora. Ao invés de recorrer a uma consultoria, Ohno foi para o genba – para o chão de fábrica – e fez um minucioso pente fino em todos os processos – genchi genbutsu (REVISTA EXAME, 2011). 19 3.2 Valores e princípios Todos, em todos os níveis da organização, devem ter os mesmos princípios e valores “no sangue”, em seus DNA, e o líder na gestão Lean Manufacturing assumeo protagonismo neste processo. O líder deve entender e viver estes princípios e valores da empresa, com a empresa investindo para criar líderes assim. Afinal, como dito anteriormente, estamos nos referindo a uma cultura, e não a uma simples técnica ou ferramenta. Akio Toyoda no prefácio da obra “The Toyota Way to Lean Leadership”, escrito por Jeffey K. Liker, e Gary L. Convis, afirma que um líder do Sistema Toyota de Produção – TPS – deve entender muito bem e viver os princípios e valores da empresa, e que é fundamental que qualquer funcionário em qualquer nível organizacional da empresa tenha também em seu DNA tais princípios e valores incorporados. Os valores e princípios da liderança Lean Manufacturing devem fazer parte do estilo de vida de seus líderes, caso contrário dificilmente terão a performance esperada, e não poderão se auto desenvolver como necessitam (LIKER; CONVIS, 2012). 3.2.1 Valores Os líderes devem estar comprometidos com valores, como: foco na resolução de problemas, espírito de desafio, melhorar continuamente, genba e genchi genbutsu, trabalho em equipe, e respeito. A consistência em como se consegue a qualidade ou a resolução de problemas é mais importante do que o resultado proporcionado imediatamente. Se o processo não propiciou desenvolvimento para as pessoas, o resultado não é validado, e os envolvidos devem reprocessar. Os percursores da Toyota possuíam o espírito de desafio incorporados, afinal a empresa surge com o desafio de fazer com que as mulheres que tecessem deixassem de ferir os seus dedos, e a divisão de veículos surge para que se tornasse algo bom para a sociedade mundial. No estilo de liderança do Sistema Toyota de Produção, o espírito de desafio é um valor central para perseguir a perfeição, e o que aprendem com isto sempre se torna uma reflexão que gerará novas melhorias. Kaizen, é o termo designado para a melhoria contínua, outro valor crucial no TPS que a liderança deve incorporar, praticar, autodesenvolver, e atuar para desdobrar muito bem por toda a equipe. Na Unidade II desta apostila reservaremos um capítulo exclusivo sobre a relação do chamado Kaizen Diário, e a liderança. Genba e genchi genbutsu são valores que norteiam os líderes em suas decisões. É esperado líderes com estes valores que sejam muito hábeis e detentores de profundos conhecimentos sobre as técnicas e ferramentas que lhe fará chegar precisamente sobre as causas raízes dos problemas, identificando as suas soluções, e baseando-se em fatos. Um efeito da prática desse valor pela liderança, é que quando se coleciona fatos e se baseia neles, evita-se debates improdutivos que não focam o problema real (LIKER; CONVIS, 2012). 20 Na Toyota, o sucesso individual acontece apenas em equipe, na qual há o desenvolvimento como indivíduo, e a promoção de carreira se dá pelo comportamento demonstrado no trabalho em equipe. Atualmente, é muito mais fácil presenciarmos pessoas conversando sobre trabalho em equipe (teamwork), (LIKER; CONVIS, 2012) do que praticando esse valor verdadeiramente, pois normalmente os líderes atuais estão se preocupando mais com seus sucessos individuais. Então nesse sentido, no Lean Manufacturing, o líder é o promotor do trabalho em equipe, inibindo o individualismo. A inovação na liderança do sistema TPS O Prius, famoso modelo de carro híbrido da Toyota, é um excelente exemplo do estilo de inovar no sistema TPS. No início da década de 90, o então presidente, Eiji Toyoda, solicitou a seus engenheiros que pensassem qual o tipo de carro estaria sendo comercializado no século seguinte. Veja que ao invés dele chamar um “super” engenheiro especialista para que dele viesse uma ideia fenomenal, ele preferiu envolver o seu time, trabalhar em equipe, dar empoderamento a ele. E assim, por quatro anos trabalharam arduamente até definirem o projeto do Prius (EXAME, 2011). Desta forma é que todos se desenvolvem através de estratégias do líder Lean, deixando de desenvolver apenas poucos “super” capazes para ter um desenvolvimento muito mais abrangente. Respeito é considerado o valor fundamental. Inicia-se com o desejo de contribuir com a sociedade, fornecendo os melhores produtos e serviços, mas também enxergamos o respeito a outras partes interessadas, como a comunidade, clientes e empregados – como veremos mais adiante no detalhamento da história da Toyota na Indonésia. E mesmo no caso já citado anteriormente, no meio da crise econômica global, a Toyota com plantas paradas por três meses, não demitiu nenhum funcionário, e ainda investiu no desenvolvimento das pessoas. Como Jeffey K. Liker, e Gary L. Convis, pontuaram em sua obra “The Toyota Way to Lean Leadership”, nas visitas da alta gerência da Toyota nas plantas pelo mundo a fora, a primeira pergunta normalmente era para saber como estava a motivação das pessoas, e não sobre a lucratividade da operação. Pelo conteúdo desta própria apostila, veremos através de casos, evidências que fortalecem estes valores citados acima dentro de outros conceitos e informações que serão apresentadas. 3.2.2 Os 14 princípios do Sistema Toyota de Produção (TPS) Os 14 princípios da Toyota estão desdobrados sobre o conceito dos 4 Ps, que são: filosofia (Philosophy), processos (Processes), pessoas (People) e habilidades para solução de problemas (Problem-skills). Os 4 Ps são recomendados como o início para quem pretende implantar o Lean Manufacturing (LIKER; MEIER, 2007). 21 Já ressaltamos suficientemente a importância da questão da filosofia, do conceito, da cultura, no papel da liderança. Falamos de uma filosofia de longo prazo, para agregar valores para clientes, sociedade, comunidade, e outras partes interessadas no quê e em como a empresa performa suas atividades. Ainda nessa filosofia, assume-se que seguindo o processo corretamente, os resultados serão alcançados, e neles as pessoas e parceiros são desenvolvidos para que tragam problemas e oportunidades à tona, criando ambientes desafiadores que forçam as pessoas a pensarem e se desenvolverem, incluindo até os fornecedores. E por último, acredita-se que resolvendo continuamente os problemas, impulsiona-se o aprendizado organizacional (LIKER; MEIER, 2007). Portanto, é dentro desses 4 Ps que se encaixam os seguintes 14 princípios: 1. Filosofia: Baseie suas decisões de gestão em uma filosofia de longo prazo, mesmo à custa de objetivos financeiros de curto prazo. Isto significa, como o docente autor desta apostila presenciou atuando por dez anos numa empresa oriental, que o ROI (Return on Investment), índice que calcula o retorno sobre um investimento – que fornece a informação de quanto tempo o montante investido retorna para a companhia – não é destacado e nem requerido como costuma ser nas empresas ocidentais. Isto ocorre porque não se consegue mensurar ou prever no denominador do cálculo do ROI, os importantes ganhos futuros ou mesmo ganhos no desenvolvimento das pessoas, que na cultura do Lean Manufacturing são imprescindíveis. Para refletir… Qual seria o ROI deste seu curso de MBA? Apenas como suposição, vamos imaginar que o valor que você investiu por todo o seu curso, considerando mensalidade, matrícula, custos de deslocamento e etc., tenha sido no total R$ 5 mil. Agora suponha que você é funcionário público e este upgrade em suas competências lhe proporcionará automaticamente uma promoção, elevando o seu salário de R$ 6 mil para R$ 8 mil. Com isto, o seu ROI pode ser calculado como segue: ROI =___ R$ 5 mil___ R$ 2 mil / mês Logo, o seu ROI, retorno sobre investimento, será de apenas dois meses e meio. Porém, este cálculo despreza totalmente o seu acréscimo no desenvolvimento, o seu enriquecimento no currículo, que inclusive poderão lhe trazer futuramente um novo emprego no qual você ganhará ainda mais. Por isso o Lean Manufacturing não dá tanta importância para ROI, como por exemplo, oSix Sigma dá. 22 2. Processo: Criar fluxo de processo contínuo para trazer problemas para a superfície. Isso implica redesenhar o processo de trabalho para alcançar um fluxo contínuo de alto valor agregado. Ou em outro sentido, reduzir a zero o tempo de um projeto parado ou que esteja esperando alguém para atuar nele. 3. Processo: Use sistema “puxado” para evitar a superprodução. Just in time: O que os clientes querem, na quantidade, e quando querem, com flexibilidade para atender variações e mudanças na demanda do cliente. 4. Processo: Heijunka – balanceamento, nivelamento da carga de trabalho, e cadência da operação. 5. Processo: Construir uma cultura de parar para estudar problemas, e para obter qualidade na primeira vez que algo for feito (SANTOS, 2018). Estimular o uso de ferramentas e técnicas do tipo; poka yoke, Andon ou jidoka. 6. Processo: Tarefas padronizadas são a base para a melhoria contínua e alocação dos colaboradores (SANTOS, 2018). Padronização das melhores práticas, porém melhorando-as continuamente, obtendo processos previsíveis, estáveis. Isso é a base para se ter tarefas padronizadas e para tornar possível o heijunka. 7. Processo: Utilize o controle visual para que nenhum problema esteja oculto. Use indicadores visuais simples para ajudar as pessoas a determinar imediatamente se estão de acordo com as condições definidas, como padrões ou se há desvios. E conceba um sistema visual simples para suportar o JIT no local onde o trabalho é feito (SANTOS, 2018). Lean Manufacturing trata-se de simplicidade com foco no cliente e na contenção de despesas, então quando nos referimos a controle visual, não necessariamente se requer um painel vislumbrante, iluminado, muitas vezes um pedaço de papel é o suficiente para que se tenha eficiência no controle do processo. 8. Processo: Utilize tecnologia somente se for confiável, e que sirva suas pessoas e seu processo. Novamente pode-se abordar a simplicidade na solução de problemas. A tecnologia pode colocar em risco o fluxo, portanto deve-se fazer uso de testes reais antes de adquiri-la ou implantá-la, e deve-se rejeitar ou modificar tecnologias que entram em conflito com a sua cultura ou que possam perturbar a estabilidade, a confiabilidade e/ou a previsibilidade dos processos (SANTOS, 2018). Casos, infelizmente, muito reais e frequentes Muitas empresas gastam milhares ou até milhões de dólares adquirindo e implantando novas tecnologias. Porém, muitas dessas mesmas empresas esquecem de fazer isto sem antes desenvolver uma boa análise da situação atual, e pressupõem que o processo atual deixou de atender os requisitos da produção. Em muitas ocasiões, que este docente já presenciou, a empresa não precisava ter gasto tanto 23 em uma nova tecnologia, através de uma máquina, equipamento, ou dispositivo, bastava entender melhor o problema, identificar as causas com precisão, e tomar as medidas necessárias nos fatores de processo preexistentes – por exemplo, reduzindo problemas que geram paradas de linha, eliminando problemas de qualidade com o uso da habilidade de resolução de problemas, reduzindo longos tempos de set up através, por exemplo, da ferramenta SMED, e etc. E em muitos outros casos, devido à precariedade na análise, o investimento nessas tecnologias não resulta em ganho algum. 9. Pessoas e Parceiros: Cresça os líderes que entendem completamente o trabalho, filosofia, e que as ensinam para os outros. Isso significa desenvolver líderes de dentro da própria empresa (SANTOS, 2018), por isso em empresas orientais é mais difícil ver membros da alta administração oriundos de fora de sua filosofia. Os líderes devem ser modelos para a filosofia da empresa, e explicitam isso através do modo de conduzir os negócios e através do Kaizen diário, que abordaremos mais adiante. 10. Pessoas e Parceiros: Desenvolver pessoas e equipes excepcionais que seguem a filosofia da sua empresa. Não por acaso mais uma vez cita-se a filosofia, a cultura da empresa. Crenças da empresa devem ser amplamente compartilhadas e vividas ao longo de vários anos, devendo haver treinamentos para os indivíduos e equipes, que se tornarão excepcionais com a finalidade de trabalharem sempre dentro da filosofia corporativa para obterem resultados excepcionais (LIKER; MEIER, 2007). Portanto, o líder deve trabalhar duro para reforçar a cultura continuamente e devem fazer uso de equipes funcionais cruzadas, para melhorar a qualidade e a produtividade dos processos, bem como os seus próprios fluxos, além de resolver problemas técnicos difíceis. Afinal, o empoderamento ocorre apenas quando as pessoas usam as ferramentas da empresa para melhorar seus processos, juntamente com o fortalecimento do trabalho em equipe (SANTOS, 2018). 11. Pessoas e Parceiros: Respeite sua rede extensa de parceiros e fornecedores, desafiando-os e ajudando-os a melhorar. Respeito aos parceiros é incorporá-los ao processo da empresa, e assim, desafiá-los para crescer e se desenvolver também. Defina objetivos e metas desafiadoras a eles, mas provenha auxílio para alcançá-los (SANTOS, 2018). Essa é uma forma de mostrar que a empresa os valoriza também, cabendo justamente ao líder envolvê-los. 12. Habilidade Para a Solução de Problemas: Vá e veja para compreender melhor a situação (genba + genchi genbutsu). Mais uma vez reforça-se esta necessidade do líder e de desenvolvê-la entre a equipe. 13. Habilidade Para a Solução de Problemas: Nemawashi – Tome decisões lentamente por consenso, considerando todas as opções. E implemente as ações oriundas deste processo rapidamente. Nemawashi será abordado mais adiante. 24 14. Habilidade Para a Solução de Problemas: Torne-se uma organização de aprendizagem pela reflexão (Hansei) e melhoria contínua (Kaizen). Na empresa oriental que o docente autor desta apostila atuou, havia a aplicação do DST-PDCA. DST – draw, see and think: antes de partir para o Kaizen, deve-se sonhar, desenhando, visualizando, e pensando sobre a oportunidade. Uma vez que essa fase fosse concluída, partia-se para o PDCA. Quando a empresa estabelece um processo estável, ferramentas de melhoria contínua devem ser utilizadas para determinar a causa raiz de ineficiências e aplicar contramedidas efetivas para retomar essa estabilidade. Processos que escancaram seus problemas devem ser idealizados – por exemplo através de WIP, working in process, conhecido também como estoque intermediário do processo. E protege-se a base de conhecimento organizacional através do desenvolvimento de pessoal, com segurança no emprego, promoção lenta, e sistemas de sucessão muito cuidadosos (SANTOS, 2018). 3.3 Líderes excelentes guiando pessoas que chegarão à excelência A maior lacuna que causa insucesso na implantação do Lean, é a liderança. Apesar de ser igual à visão tradicional, no Lean há menos discursos vazios, pois aqui um grande ganho que se deseja é o aprendizado do próprio líder juntamente com o do seu time. Portanto, há menos probabilidade de sustentar uma cultura Lean, com líderes e a alta administração sendo controversos. 3.4 Problemas, que são oportunidades, não devem ser escondidos Também conforme experiência do docente, nas reuniões numa empresa com a cultura Lean, sempre se fala a má notícia antes, como um sinal de respeito através de um feedback honesto. Se isto não ocorrer, as pessoas não crescem e não há respeito com elas. No Lean não há espaço para os chamados “líderes ou engenheiros de PowerPoint”, pois o foco está na causa-raiz do problema, e então explora-se como que ela foi identificada, e não só o resultado que pode ser insustentável se justamente a identificação da causa raiz não foi desenvolvida de forma apropriada. 3.5 Falhas são oportunidades de melhoria pelo aprendizado Mais acima isso foi ressaltado mais de uma vez, e aqui acrescentamos que a liderança estratégicaem Lean Manufacturing não coloca o time e o próprio líder em posição de falha, e sim de aprendizagem, de desafio. 25 3.6 Respeito aos mais velhos e mais experientes Na Toyota, fazem parte do board (conselheiros), ex-presidentes, e os líderes costumam ter seus sensei – pessoas mais velhas, mais experientes – para guiar suas decisões e desenvolvimento. Akio Toyoda, atual presidente da Toyota, admite que que tem muitos sensei, que estão sempre lhe trazendo ensinamentos (LIKER; CONVIS, 2012). Agora que o discente obteve uma completa visão do que a liderança estratégica em Lean Manufacturing deve incorporar, vamos citar dois acontecimentos com dois diferentes líderes em duas diferentes organizações e regiões, que elucidam estes valores e princípios descritos acima. Casos: A Toyota contribuindo com a Indonésia A Indonésia foi invadida pelo Japão em 1942 durante a segunda guerra mundial, tirando-a do controle holandês. Em 1945, com a rendição do Japão aos Aliados, os dirigentes do Partido Nacionalista da Indonésia nomearam a sua independência, que foi concedida pelos holandeses somente em 1949 (PEDAL NA ESTRADA, 2006). Pelos anos seguintes, a Indonésia conviveu com impactantes crises políticas e conflitos internos. Com a finalidade de ajudar a Indonésia, em 1970, Akira Yokoi foi nomeado para liderar a operação da Toyota na Indonésia, que até então se concentrava exclusivamente na fabricação e fornecimento somente de componentes para as fábricas no Japão que montavam os veículos acabados. A incumbência dada a Yokoi era, em primeiro lugar, de ajudar a Indonésia, sem preocupação com vendas ou lucros. A Toyota se comprometeu com os governantes desse país a ajudá-los, industrializando e reconstruindo o país. Daí a principal incumbência de Yokoi: Fazer o melhor para a Indonésia (LIKER; CONVIS, 2012). O primeiro passo de Yokoi na Indonésia – exercitando o seu princípio de genba e genchi genbutsu – foi fazer um tour de quatorze horas pela Indonésia, onde evidenciou com seus próprios olhos, estradas e pontes destruídas, além de nenhum comércio aberto ou mesmo lugares para se alimentar (LIKER; CONVIS, 2012). E com base no resultado do seu esforço para ver o que de fato ocorria, ele tomou a decisão de introduzir alguns modelos de veículos na planta da Toyota da Indonésia: uma linha de caminhões grandes e de utilitários para serem usados na reconstrução das áreas afetadas, uma linha de vans (Hi-Ace) para auxiliar nas áreas rurais, e o Corolla para áreas relativamente mais ricas (LIKER; CONVIS, 2012). Tudo estava ocorrendo dentro do que se esperava, até 15 de janeiro de 1974, quando tumultos tomaram conta da capital Jakarta. Essa rebelião vinha de pessoas pobres, e a fábrica da Toyota em Jakarta foi incendiada. Com isto, Yokoi percebeu que essas pessoas mais desfavorecidas, que constituíam a maioria da população na Indonésia, não percebiam o que a Toyota estava fazendo de bom para o seu país. Foi então que se convenceu que deveria construir um produto para essas pessoas, que teria que ser um carro com preço de venda muito acessível. Porém, era impossível atingir esse desejo com a política industrial da indonésia, onde a taxa de importação era muito onerosa. Utilizando o seu aprendizado e desenvolvimento, adquirido 26 quando atuou nas operações da Malásia e da Tailândia, Yokoi se aproximou do poder legislativo e do ministro da indústria da Indonésia. E assim, foi concedido à Toyota a liberação de taxas, desde que esse carro fosse fabricado com setenta por cento de peças fabricadas dentro da Indonésia, e comercializado com um preço de venda correspondente a um terço do preço de venda do Corolla (LIKER; CONVIS, 2012). Essas condições eram muito difíceis de se cumprir, mesmo assim Yokoi seguiu para o Japão onde foi apresentar a sua ideia, que enfrentou grande resistência principalmente por causa do baixo volume de vendas inicialmente previsto para o veículo que Yokoi queria produzir e ofertar na Indonésia. Mas lá, ele recebeu a sugestão de um líder que se simpatizou com a ideia, orientando que ele deveria pensar numa multiplataforma onde um carro, uma van e uma pick up pudessem ser todos fabricados. A partir disso, Yokoi passou a estudar e aprendeu que carros com menos curvas em seu design são menos custosos para se produzir do que carros com mais curvas. Também teve uma ideia radical de remover os vidros das portas traseiras, substituindo-as por uma placa de vinil. Com estas ações, o projeto tornou- se viável, mas ainda havia a resistência de muitos na Toyota, que viam esse novo veículo como uma ameaça à reputação da marca. Essa barreira foi vencida com a colaboração de Masayuki Kato, um renomado e importante executivo da área de pesquisa e desenvolvimento, que foi quem justamente designou Yokoi para essa desafiadora missão na Indonésia, e que acompanhava de perto todos os passos de Yokoi. O novo veículo, chamado Kijang, foi lançado em 1977, começou com um baixo volume de vendas que não trazia rentabilidade, mas com o passar dos anos tornou- se o carro mais vendido na Indonésia. Era visto como o “carro do povo”, e um milhão de unidades foram vendidas por 25 anos. 27 Casos: Quase que ao mesmo tempo que Yokoi, só que do outro lado do mundo… Gary Convis, um dos dois autores do livro utilizado como principal referência no desenvolvimento desta disciplina, “The Toyota Way to Lean Leadership”, era um jovem gerente de manufatura de uma planta da Ford nos Estados Unidos e fora confrontado com inúmeros problemas de qualidade num Lincoln duas portas que acabara de ser lançado (LIKER; CONVIS, 2012). Um dos problemas era que o painel interior do veículo, entre o porta-malas e os assentos traseiros, era encontrado solto em alguns carros na linha de montagem. Esse painel era fixado na estrutura do carro (chassi), através de um Velcro. Alguns veículos apresentavam um problema de posição que fazia com que esse Velcro não alcançasse o local de sua fixação. E para esse problema ser corrigido havia a necessidade de retirada do veículo da linha de montagem, remoção dos bancos traseiros e dos trilhos, para que a falha de posição do Velcro fosse corrigida; um processo de retrabalho complexo que levava cerca de trinta minutos para reparar cada lado, por veículo (LIKER; CONVIS, 2012). Nessa época, nos anos 60 e 70, em empresas como a Ford e a GM, a relação da liderança e o pessoal operacional se fazia com desconfiança e destrato. Além disso, a métrica existente e principal era a quantidade de produtos produzidos, então paradas de linhas de produção eram praticamente inadmissíveis. Certo dia, Gary resolveu rastrear o problema, através do genba e genchi genbutsu, e foi até a área de montagem do trilho no chassi dos veículos. Lá evidenciou que todos os funcionários eram bem treinados e que as ferramentas certas estavam disponíveis e em boas condições. Assim, voltou à linha de montagem e anunciou o que poucos ou ninguém levou a sério; que a linha de montagem pararia se um novo problema fosse encontrado. Uma semana depois, um novo problema de fixação e posicionamento do Velcro foi identificado na linha, e seu funcionamento foi interrompido (LIKER; CONVIS, 2012). Quando a linha parou, o chefe da produção entrou na sala de Gary gritando com ele. Porém, em quarenta e cinco minutos o problema foi resolvido definitivamente e a linha voltou a rodar. Com isto também foi proporcionado mais poder e importância ao departamento de controle de qualidade da fábrica (LIKER; CONVIS, 2012). 28 Para refletir… Os dois casos abordam a liderança. Enquanto Yokoi tratou o seu enorme desafio com inovação, construindo relações dentro e fora da companhia, com persuasão, Convis puxou a corda do Andon, parou a linha de montagem para que um problema extremamente inconveniente fosse solucionado. Dentro do pensamento Lean, ou do Sistema Toyota de Produção (TPS), as atitudes e estratégias deYokoi para superar o seu desafio são vistas como de um líder Lean, por outro lado, a forma como Convis venceu o seu desafio é vista como um verdadeiro desastre no TPS (LIKER; CONVIS, 2012). Por quê? (A resposta para este questionamento será encontrada abaixo, na próxima seção desta apostila). 29 4. ESPECIFICIDADES DO ESTILO DE LIDERANÇA LEAN MANUFACTURING O presidente das operações da Ford no Brasil, Marcos de Oliveira, afirmou que por mais que outras montadoras conheçam como o Sistema Toyota de Produção funcione, elas não conseguem replicá-lo, pois não possuem a atenção aos detalhes, a visão de longo prazo com paciência para esperar resultados, e o nível de disciplina, que a Toyota possui (EXAME, 2011). De fato, as empresas orientais parecem adorar a parábola da lebre e da tartaruga para ressaltar as suas visões, as suas formas de trabalho, que contradizem o imediatismo das empresas ocidentais. O docente escritor desta apostila ouviu inúmeras vezes essa parábola quando atuava num concorrente japonês da Toyota. Para esses orientais, é muito mais desejável ser uma tartaruga, que é mais consistente e lenta, do que uma lebre veloz que corre na frente e para de vez em quando para cochilar. Em seu ritmo constante, a tartaruga observa muito mais tudo que acontece ao seu redor, aprimorando os seus conhecimentos, enquanto uma lebre somente corre, e não se desenvolve, pois não presta atenção em nada que está acontecendo em volta dela. Taiichi Ohno, percursor do Sistema Toyota de Produção, afirmou que seu sistema só funciona se todos os seus autores agirem como tartarugas (LIKER; CONVIS, 2012). Portanto, os seus líderes também necessitam ter esta visão, e ser hábeis para promovê-la e desdobrá-la entre as equipes de trabalho. Outra especificidade muito relevante, é que nas linhas de produção das montadoras orientais, o empoderamento e autonomia pelos operadores dos processos é tamanha que raramente seus funcionários faltam ou mesmo se atrasam para o trabalho. Como seus trabalhadores são altamente especializados, é uma tarefa muito difícil substitui-los sem ter um impacto negativo em um outro aspecto muito importante, o balanceamento e o nivelamento de trabalho (heijunka), que se dá pelo procedimento padrão que proporciona uma cadência essencial à consistência de seus processos, afinal, os estoques dos processos são baixíssimos ou até inexistentes. Apenas para ilustrar, há fábricas da Toyota que promovem premiações, inclusive com sorteio de carros, para as que atingirem níveis de absenteísmo iguais a zero (EXAME, 2011). Resposta para o questionamento anterior A forma como Convis superou o seu desafio na Ford, relatada no quadro “Para refletir” acima, é vista como um desastre em termos de gestão do Lean Manufacturing porque tudo foi praticamente conduzido por Convis e alguns membros da área da qualidade. Numa operação Lean Manufacturing, os próprios operadores puxam a corda do Andon para interromperem a linha de produção, pois eles estão focados numa cadência e num ritmo que qualquer situação indesejada irá afetá-los e atrapalhá-los. Além disso, na situação de Convis, não se percebe no final um fortalecimento da relação entre os envolvidos, nem tampouco o desenvolvimento dos operadores da linha ou, muito menos, o empoderamento, a autonomia dos operadores e o aprimoramento das habilidades de análise e resolução de problemas. O único foco 30 fora a resolução dos problemas quase que individualmente e de imediato. Sem contar que o problema não foi eliminado completamente, apesar da grande melhoria alcançada. No TPS, se algum operador, de qualquer nível, encontrar uma oportunidade de melhoria em seu processo, ele puxa uma corda e o interrompe – não há a convivência com ineficiências, desperdícios ou situações indesejáveis. Como estamos observando, para se ter a implantação de um sistema de produção como o da Toyota, até de gestão enxuta de negócios (Lean Enterprise), é fundamental que se tenha um novo estilo e perfil de liderança, uma quebra de paradigmas através de um novo modelo mental nos líderes das empresas ocidentais. Somente dessa forma é que barreiras que surgirão neste caminho, serão vencidas (LIKER; CONVIS, 2012). A criação e busca de um sistema integrado para processos que geram um fluxo de valor, em contínua busca pela excelência, só é obtida através de disciplina e consciência. A lógica Lean é aparentemente muito simples, o que faz a diferença no sucesso ou insucesso de sua aplicação é a atitude de todas as pessoas envolvidas (LIKER; CONVIS, 2012). Portanto, o elevado grau de autodisciplina, consciência e busca incondicional pela melhoria de performance, são diferenças estratégicas na forma de liderar no Lean. A tabela abaixo ressalta algumas diferenças, estratégias, entre o estilo de liderança denominado tradicional, de empresas ocidentais, e do estilo de liderança Lean. Tabela 2 – Comparativo de estilos de liderança ESTRATÉGIAS DA LIDERANÇA TRADICIONAL ESTRATÉGICAS DA LIDERANÇA LEAN Foco no faturamento Foco nas margens de lucro Foco na melhoria das atividades que agregam valor Foco de melhoria nas atividades que não agregam valor Apagar incêndios é valorizado Prevenir incêndios é valorizado Foco em métricas financeiras Foco em métricas operacionais Sub otimização é valorizada Fluxo do valor é valorizado Trabalhadores especializados organizados por função Trabalhadores treinados multifuncionalmente são organizados de acordo com os fluxos de valor Complexidade é o padrão Simplicidade é o padrão Inspeção da qualidade Construção da qualidade Locais de trabalho e gerenciamento não visuais Locais de trabalho e gerenciamento visuais 31 Agendas dinâmicas e prioridades Agenda e prioridades estáticas Responsabilidades obscuras e não bem definidas Responsabilidades muito bem definidas e claras Excessivas análises e aprovações da liderança Decisões são tomadas por aqueles que estão mais próximos ao trabalho Melhorias identificadas pela gerência Melhorias identificadas pelos trabalhadores Fonte: Adaptado de KAREN MARTIN & ASSOCIATES, 2011. Portanto, o líder de Lean Manufacturing, de uma forma geral, tem que pensar na criação ou manutenção de um sistema através do aprendizado contínuo, de pessoas competentes e obcecadas por melhorar continuamente. Em linhas gerais, aconselhando algum líder que queira se tornar um líder com estratégias em Lean, poderíamos afirmar que é fundamental a definição de valores considerando os requisitos e expectativas das partes interessadas na organização, a criação e estabelecimento de processos padronizados e a definição e gerenciamento para competências e motivação do time. E num nível de maior detalhamento, que tenha como estratégia a produção de acordo com a demanda visualizada, que seja obcecado e muito bom, assim como seu time também deve ser inspirado a fazer o mesmo, para continuamente eliminar desperdícios e buscar a excelência de seus processos, e celebrar as conquistas com o seu time (LIKER; CONVIS, 2012). Quanto à melhoria, esta requer que o líder tenha a habilidade de pensar nas diversas combinações de pessoas, processos, clientes, fornecedores, e outros fatores, e como esses ingredientes podem ser integrados para ajudar uma organização a alcançar o seu objetivo, suas metas estratégicas, ou sua visão (LIKER; CONVIS, 2012). Para refletir… Pense e enumere mentalmente empresas e líderes que: Preferem ser como “tartarugas” a “lebres”; Entendem o real impacto do nível de absenteísmo na cadência e eficiência de seus processos; Entendem o porquê de uma meta ter que ser sempre “melhorar”, e que suas operações são planejadas – ou criadas – para fazer tudo, na hora certa, com os recursos certos, e com a qualidade certa; A alta direção não só queira que o Lean Manufacturing seja implantado, mas que também esteja envolvida e tenha conhecimento, se desenvolva,e utilize constantemente o Lean. 32 Além do papel de estabelecer um ambiente adequado, os líderes têm uma tarefa mais estruturada a cumprir: Construir a infraestrutura para dirigir e dar suporte à melhoria na organização, o que é difícil e crítico para o sucesso do Lean, e que exige muita habilidade do líder, pois é necessário que este envolvimento seja multifuncional. Não adianta ser só de uma pessoa, de uma equipe, tem que ser de todos. É como a qualidade total, na qual a responsabilidade pela qualidade também tem que ser de todos, senão não será obtida. Daí a necessidade da alta direção ser muito boa, de realmente desejar o Lean, de querer a quebra de paradigmas, e implantar uma cultura, um conceito, pois se ela não estiver também nesse processo, não será obtido sucesso na implantação do TPS. 33 Experiência do autor Em uma das experiências profissionais do autor, ele foi designado a implantar um conceito embasado no Sistema Toyota de Produção. A empresa considerava que o conceito já estava implantado, restando mantê-lo e torná-lo mais robusto. Porém a realidade não era bem essa, pois a grande maioria da alta gerência e até líderes de menor nível hierárquico sequer tinham conhecimentos sobre o referido conceito. A diretoria da operação, que se colocava como grande patrocinadora e incentivadora do referido conceito, essencialmente em seus discursos, na hora de decidir entre seguir com os direcionamentos do conceito, ou bater as suas métricas financeiras ou de quantidade de produtos produzidos, sempre optava por estas últimas. Desse modo, não era por acaso que todas as ineficiências e contrariedades ao conceito que se dizia ter, eram facilmente evidenciados numa rápida caminhada pela fábrica. Operadores que nunca foram treinados e nem sabiam ao que se referia o referido conceito. Baixa motivação e comprometimento. Sérias dificuldades para se instaurar autonomia nos processos. Baixíssimo empoderamento da qualidade. Pobre habilidade em análise e resolução de falhas. Não era entendida a importância do absenteísmo, pois não havia o foco em padronizar processos para se balancear trabalhos e ter cadência com consistência. Linhas de produção com baixíssimos indicadores de eficiência, com OLE – Overall Line Effectiveness – inferiores a 50%. Outro aspecto que logo de início me chamou a atenção foi que os operadores nunca paravam a linha por causa de um problema, a prioridade era fazê-la rodar e conviver com ele. Como isto contrariava os preceitos da filosofia, uma das primeiras ações que tomei foi fazer justamente como Convis no caso acima, parei a linha para que uma ineficiência histórica fosse tratada. Naquele momento ganhei inimigos, inclusive da direção da fábrica. Como a direção na realidade não estava comprometida com a referida filosofia, às vésperas de auditorias de acompanhamento da implantação do referido conceito, ou mesmo quando a alta direção corporativa do grupo vinha visitar a fábrica, horas, dias, ou meses, eram gastos somente tentando esconder a sujeira de baixo do tapete, surgindo com destaque os pintores e maquiadores de fábrica, além dos criativos engenheiros de PowerPoint. Então, o líder Lean adota estratégias para envolver todos, não só através de comunicações, mas principalmente através de postura, dando exemplos, decisões, e mostrando que realmente desejam e conhecem o Lean. E mais, o líder assume a estratégia de promover o Lean pela educação, para também se obter desenvolvimento nas habilidades para analisar e tratar problemas e desperdícios, sabendo utilizar ferramentas e técnicas para essa finalidade. E além de tudo isto, o que é mais ainda difícil de identificar em líderes tradicionais, a importantíssima estratégia de utilização 34 de pesquisa, como importante fonte de desenvolvimento ou mesmo autodesenvolvimento contínuos (LIKER; CONVIS, 2012). Uma outra estratégia trivial para os líderes, vale também ser enfatizada aqui para o líder Lean: O desenvolvimento de temas que simplifique o objetivo e faça o foco da organização ser mais concreto. Isso facilita e encaminha os esforços diários das pessoas para uma meta comum e muito bem compreendida. Ao invés disso, é frequente vermos alguns líderes convencionais anunciarem declarações de objetivos excessivamente detalhadas, que mais confundem a organização, deixando as operações ou processos incertos sobre qual direção deve ser seguida, e se tornam inúteis para guiar a organização no cotidiano (LIKER; CONVIS, 2012). Também é essencial, como já vimos mais acima, que a liderança promova a cooperação, o respeito entre todas as pessoas, e patrocine os comportamentos necessários que ajudam as pessoas dentro do sistema a mudar e alinhar suas energias, incentivando e dando oportunidades para todos na empresa participarem da melhoria. Por isso que ao entrar numa empresa Lean provavelmente você se deparará com um ritmo frenético, mas diferentemente das empresas convencionais, as pessoas estarão gastando energia muito mais prevenindo do que apagando incêndios (LIKER; CONVIS, 2012). Uma boa forma da empresa comunicar e sensibilizar sobre a direção tomada e desejada de fato pela empresa, é que haja uma definição de metas e objetivos estabelecidos e analisados multifuncionalmente. É a técnica Hoshin Kanri que será muito bem explorada mais adiante na Unidade II, que possibilita isso de forma muito robusta no Lean. E como primeiro passo, o líder não só comunica essas metas e objetivos definidos multifuncionalmente, como busca a sensibilização. E como enfatizado no meu caso acima, deve haver constância de propósito da liderança. E como dito no parágrafo acima, deve desenvolver um ambiente contra “apagar incêndios”, e sim para preveni-los, mas mesmo quando for apagar incêndios, pare, aprenda, e aja para prevenir novos incêndios. Apagar incêndios simplesmente não faz as pessoas e os processos melhorarem, olharem para frente e avançarem. 35 Comparações entre estratégias “convencionais” da liderança para implantar o Lean, e como de fato um líder Lean implanta esse conceito numa empresa realmente voltada para a cultura Lean. Numa visão muito frequente de implantação de Lean Manufacturing, adotada por empresas que demonstram desejar implantá-lo, o líder convencional começa a construir o sistema da seguinte forma: i. Estabelece e comunica o objetivo da organização. ii. Enxerga a empresa como um sistema. iii. Projeta, desenvolve, e implanta um sistema que reúna informações para o Lean e melhoria contínua. iv. Conduz um plano de melhoria e integra-o dentro do plano de negócios da empresa. v. Gerencia: conscientiza, educa, treina, promove um relacionamento aberto, motiva, cobra e dispensa. Já o líder Lean Manufacturing assume as seguintes estratégias: i. Estabelece e comunica a missão da organização a todos e com todos os líderes e alta direção. ii. Enxerga a empresa como um sistema e o Lean como uma cultura, um conceito, que a alta direção e todos os demais líderes também enxergam. iii. Projeta, desenvolve, e implanta um sistema que reúna informações para o Lean e melhoria contínua. Isso é feito como um programa e não projetos que são encerrados, e que reúne tanto protagonistas internos e externos, como por exemplo, clientes e fornecedores. Em empresas Lean, vários eventos são organizados com fornecedores e clientes para não só comunicarem suas expectativas, mas para envolvê-los, e até para desenvolverem neles habilidades importantes, como a de análise e solução de problemas e a própria cultura de Kaizen. Para ilustrar, é fácil imaginar os benefícios na comunicação e na própria melhoria, em se ter fornecedores com tais competências desenvolvidas. iv. Conduzir um plano de melhoria e integrá-lo dentro do plano de negócios da empresa. O plano de negócios da empresa é a própria melhoria, de todos e para todos. v. Gerencia: conscientiza, educa, treina,
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