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Introdução à Arquitetura – Elementos Primários, Forma e Espaço Apresentação Nesta Unidade de Aprendizagem serão abordados os elementos básicos compositivos de um projeto. Serão vistos os elementos primários, as suas formas e a inserção destes no espaço, para maior embasamento e compreensão de uma linguagem arquitetônica. Serão utilizados desenhos, diagramas e imagens de projetos para que se possa visualizar esses elementos e suas condicionantes no nosso dia-a-dia. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os elementos primários na ordem do seu desenvolvimento.• Identificar as formas compositivas e suas variações a partir das figuras primárias.• Reconhecer os elementos compositivos no espaço.• Desafio Uma das mais famosas casas do mundo, a Casa da Cascata (Casa Kaufmann) projetada pelo arquiteto americano Frank Lloyd Wright, em 1934, foi considerada uma introdução da arquitetura moderna em seu país. Tendo como base os elementos primários na concepção de uma obra arquitetônica, faça um parágrafo salientando as características que podemos descrever ao visualizar a obra de Frank Lloyd Wright no que diz respeito aos planos, à forma e suas articulações e à forma como elemento definidor do espaço. Infográfico Veja no esquema os elementos primários na ordem do seu desenvolvimento. Conteúdo do livro Algumas definições de arquitetura descrevem a disciplina como o jogo da manipulação das formas sob a luz. Esta definição parece correta, mesmo que às vezes não se conheça corretamente quais formas seriam manipuladas e, em alguns casos, o que é a forma. Para que os profissionais possam executar projetos com qualidade, é preciso que conheçam a geometria que estará presente em suas obras. Neste capítulo Introdução à Arquitetura: Elementos Primários, Forma e Espaço, da obra Arquitetura e Urbanismo, você conhecerá quais são os elementos primários envolvidos na forma arquitetônica, desde as formas primitivas bidimensionais, como o círculo e o quadrado até chegar nos sólidos puros, ou platônicos, que podem ser combinados para formar projetos como os dos exemplos que você verá ao longo do capítulo. Boa leitura. ARQUITETURA E URBANISMO Gabriel Lima Giambastiani Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os elementos primários na ordem do seu desenvolvimento. Determinar as formas compositivas e suas variações a partir das figuras primárias. Reconhecer os elementos compositivos do espaço. Introdução A arquitetura sempre esteve ligada à geometria, seja no processo de representação — utilizando a geometria descritiva —, seja no processo criativo, no qual formas básicas são combinadas para gerar o espaço arquitetônico. Ao longo da história, é possível observar uma preferência por composições em que sejam identificáveis as formas primitivas que as geraram, aumentando a importância do conhecimento sobre o assunto por parte dos projetistas. Neste capítulo, você identificará os elementos primários na compo- sição arquitetônica e como eles podem ser combinados em projetos. Também estudará sobre o conceito de forma, quais são as figuras primi- tivas bidimensionais, bem como os sólidos primários e platônicos, com exemplos de diversos períodos da história. 1 Elementos primários conforme seu desenvolvimento A defi nição de arquitetura feita por Le Corbusier é amplamente conhecida, que defi ne a profi ssão como “[…] o jogo sábio, correto e magnífi co dos volumes dispostos sob a luz” (LE CORBUSIER, 2007, p. 102). Menos conhecida — como é comum com frases célebres — é a justifi cativa que o mestre suíço apresenta após o aforismo: “[…] nossos olhos foram feitos para ver formas na luz; sombra e luz revelam as formas: cubos, cones, esferas, cilindros e pirâmides são as grandes formas primárias que a luz revela bem” (LE CORBUSIER, 2007, p. 102). Para Le Corbusier (2007), a arquitetura trata da manipulação de formas de modo que sejam percebidas da maneira mais clara possível por quem as observa. Ainda no mesmo livro, o autor expande sua apologia à combinação de formas simples como a base da arquitetura de qualidade ao elogiar as construções romanas em um capítulo chamado “A lição de Roma”, cuja ilustração você pode ver na Figura 1. “A luz toca as formas puras e as retribui com juros. Massas simples desenvolvem superfícies imensas que se apresentam com uma variedade carac- terística, de acordo com o tipo de questão que se apresenta: cúpulas, abóbadas, cilindros, prismas retangulares ou pirâmides” (LE CORBUSIER, 2007, p. 200). Figura 1. “A lição de Roma” (Le Corbusier). Fonte: Le Corbusier (2007, p. 200). Ao entender a forma como parte essencial da arquitetura, é preciso ter uma definição clara do que é a forma exatamente. Le Corbusier (2007) exalta o uso de formas puras nas composições sem, no entanto, definir o que é forma. Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço2 Nesse sentido, Edmund Bacon (1967, p. 16) apresenta a forma, especificamente a forma arquitetônica, como “[...] o ponto de contato entre massa e espaço”. Bacon (1967) vai ao encontro de Le Corbusier (2007) ao afirmar que a “[...] clareza e o vigor com que a relação entre massa e espaço é resolvida” seria uma das características inerentes à arquitetura de excelência (BACON, 1967, p. 16). Francis Ching (2013, p. 34) traz exemplos concretos para a sua definição do termo; para ele, a forma pode referir-se tanto à “[...] aparência externa passível de ser reconhecida”, como a cubos, cadeiras e, até mesmo, um corpo humano quanto a “[...] uma condição particular na qual algo atua ou se manifesta, como quando falamos de água na forma de gelo ou de vapor” (CHING, 2013, p. 34) . Para isso, o autor enumera quatro propriedades — formato, tamanho, cor e textura — que ajudam a especificar a forma de um objeto (Quadro 1). Fonte: Adaptado de Ching (2013). Formato O contorno característico ou a configuração da superfície de uma forma específica. Formato é o principal aspecto por meio do qual identificamos e classificamos as formas. Tamanho As dimensões físicas de comprimento, largura e profundidade de uma forma. Embora essas dimensões determinem as proporções de uma forma, sua escala é determinada por seu tamanho relativo a outras formas de seu contexto. Cor Um fenômeno de luz e percepção visual que pode ser descrito em termos da percepção que um indivíduo tem de matiz, saturação e valor tonal. A cor é o atributo que mais distingue uma forma de seu ambiente. Também afeta o peso visual de uma forma. Textura Qualidade visual e tátil conferida a uma superfície pelo tamanho, pelo formato, pela disposição e pela proporção das partes. A textura também determina o grau em que as superfícies de uma forma refletem ou absorvem a luz incidente. Quadro 1. As quatro propriedades que determinam a forma de um objeto 3Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço No entanto, as formas também podem ser percebidas e diferenciadas em relação a outras formas. Você já deve ter visto alguma imagem de ilusão de óptica, na qual a percepção do tamanho de um objeto é distorcida pela presença de outros elementos gráficos. A Figura 2 traz um exemplo clássico desse tipo de distorção. É possível observar como as linhas horizontais parecem estar inclinadas pelo posicionamento estratégico dos quadrados pretos e brancos. Ao olhar com atenção, no entanto, percebe-se que elas são paralelas. Figura 2. Ilusão de óptica. Fonte: OpenClipart-Vectors/Pixabay.com. No exemplo da Figura 2, a geometria das linhas não é alterada, mas, pa- radoxalmente, a sua forma é, ou seja, a maneira como nossos olhos percebem uma figura em relação a outras pode transformar a forma. Le Corbusier (2007), Bacon (1967) e Ching (2013) afirmam que a forma só existena percepção humana. Para tratar das relações entre formas, Ching (2013) estabeleceu três propriedades que ditam a maneira como as formas são percebidas (Quadro 2). Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço4 Fonte: Adaptado de Ching (2013). Posição A localização de uma forma em relação ao seu ambiente ou ao campo visual dentro do qual ela é vista. Orientação A direção de uma forma em relação ao plano do solo, aos pontos cardeais, a outras formas ou ao observador. Inércia visual O grau de concentração e estabilidade de uma forma. A inércia visual de uma forma depende de sua geometria, bem como de sua orientação em relação ao plano do solo, à força da gravidade e à nossa linha de visão. Quadro 2. Padrão e composição de formas As formas primitivas, ou figuras primárias, são um conjunto de figuras geométricas que podem ser facilmente reconhecíveis pelos seres humanos, e às quais as pessoas tendem a reduzir todas as formas mais complexas. Em outras palavras, quando você vê uma garrafa, seu cérebro tende a interpretar aquela forma como um agrupamento de cilindros, por exemplo. Esse processo cognitivo é parte da psicologia da Gestalt, explicada por Ching (2013, p. 38) da seguinte maneira: [...] a psicologia gestaltística afirma que a mente simplifica o meio visual a fim de compreendê-lo. Dada qualquer composição de formas, temos a ten- dência a reduzir o tema, em nosso campo visual, aos formatos mais simples e regulares. Quanto mais simples e regular for um formato, mais fácil será percebê-lo e compreendê-lo. As figuras primitivas, puras ou regulares são definidas de modo geométrico como aqueles polígonos que “[...] têm seus vértices igualmente espaçados em um círculo de modo que suas arestas sejam do mesmo tamanho” (POTTMANN et al., 2007, p. 79). Dessa maneira, as figuras primitivas mais conhecidas são o triângulo equilátero, o quadrado e o pentágono, embora todos os polígonos que 5Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço obedeçam às regras já citadas, independentemente do número de arestas, são considerados regulares. A Figura 3 demonstra diferentes figuras primitivas. Figura 3. Círculo, triângulo, quadrado, pentágono e hexágono. Fonte: Ching (2013, p. 38). 2 Formas compositivas e suas variações a partir das figuras primárias Conta-se que o navio de Aristipo de Cirene naufragou próximo à cidade de Rodes e, ao chegar à praia, o filósofo encontrou algumas figuras regula- res desenhadas na areia; vendo aquilo, gritou para os outros sobreviventes: “Animem-se! Vejo sinais de humanidade” (VITRUVIUS, 2006, p. 167). Os principais exemplos das figuras primitivas, aquelas cujas arestas po- dem ser posicionadas de maneira equidistante em um círculo, são o próprio círculo, o triângulo e o quadrado. Para autores como Le Corbusier (2007) e Bacon (1967), é na articulação das formas primárias que está a chave para a produção de projetos arquitetônicos de excelência. Círculo O círculo é a epítome da forma ideal, uma vez que qualquer ponto que seja posicionado sobre sua aresta se encontrará exatamente à mesma distância do centro da fi gura do que outro ponto qualquer posicionado sobre essa mesma linha. Talvez por essa característica, essa forma é comumente associada a divindades e outros fenômenos de difícil explicação: [...] o círculo é relacionado com o divino: um simples círculo representa a eternidade desde a antiguidade, visto que ele não tem nem início nem fim. Um texto antigo diz que Deus é um círculo cujo centro está em todo lugar mas cuja circunferência não está em lugar nenhum (MUNARI, 2012, p. 5). Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço6 Embora Munari (2012) associe o círculo ao divino, afastando-o das cons- truções, as quais ele associa ao quadrado, existem grandes possibilidades compositivas utilizando essa figura geométrica. Ching (2013) trata o círculo como uma figura centralizadora e introvertida, uma forma adequada para programas que demandem centralidade. Ao combinar o círculo com formas retas ou angulares, é possível, ainda segundo Ching (2013, p. 39), “[...] induzir no círculo um movimento de rotação aparente”. A Figura 4a traz exemplos de composições com círculos e seções de círculos. Na arquitetura moderna, tornou-se comum a prática da combinação de formas puras. Um dos exemplos mais interessantes desse tipo de composição é o Edifício da Assembleia Legislativa de Chandigarh, projetado por Le Corbusier (CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019), que insere um círculo dentro de um quadrado para o programa especial do edifício (Figura 4b). Figura 4. (a) Composições com círculos e seções de círculos; (b) planta baixa da Assembleia Legislativa de Chandigarh (Le Corbusier). Fonte: (a) Ching (2013, p. 39); (b) Ching, Jarzombek e Prakash (2019, p. 758). (a) (b) Quadrado Chama-se quadrado o polígono formado por quatro arestas de mesma dimen- são. Trata-se de uma fi gura intuitiva que pode ser desenhada e identifi cada facilmente. Munari (2012, p. 5) afi rma que “[...] o quadrado é fortemente ligado com o homem e suas construções, arquitetura, estruturas harmônicas, 7Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço escritas e outras expressões” que demandem estabilidade. Para Ching (2013), o quadrado é a representação simbólica do puro e do racional, uma fi gura estática e neutra. O autor defende que todos os retângulos, mesmo aqueles cujas arestas tenham dimensões diferentes, são derivações do quadrado, confi gurando apenas “[...] desvios de uma norma pelo aumento de altura ou da largura” (CHING, 2013, p. 41). A rotação do quadrado altera a percepção de sua forma, que pode variar de estática, quando repousa sobre uma das arestas, à dinâmica, com sensação de movimento, quando está apoiado sobre um dos vértices com rotação que faça com que suas diagonais fiquem não horizontais e verticais (Figura 5a). Na arquitetura, abundam os exemplos de composições utilizando combinações de quadrados. Na arquitetura moderna, arquitetos como Mies van der Rohe, Bakema e Louis Kahn ficaram conhecidos por criarem composições pela combinação de figuras geométricas puras, em especial, o quadrado. Na Figura 5b, é possível observar a elevação da Casa del Fascio, do arquiteto italiano Giuseppe Terragni, com uma composição utilizando a repetição de quadrados. Figura 5. (a) Rotações de quadrados; (b) elevação da Casa del Fascio (Giuseppe Terragni). Fonte: (a) Ching (2013, p. 41); (b) Alonso Pereira (2010, p. 270). (a) (b) Triângulo A terceira fi gura pura mais comum em composições arquitetônicas é o triângulo, que está presente na arquitetura desde tempos imemoráveis, sendo possível encontrá-lo na arquitetura egípcia produzida por volta do ano 2.500 a.C. Esse fato deve-se à estabilidade da fi gura quando apoiada sobre uma de suas arestas, como é possível ver na Figura 6a, que traz um corte da Pirâmide de Quéops. Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço8 Ching (2013) postula que o triângulo é sinônimo de estabilidade, e esse é o motivo para a sua presença massiva na arquitetura da Antiguidade. Essa estabilidade só é possível quando ele está apoiado sobre uma das arestas, caso contrário, existe um equilíbrio precário ou, até mesmo, a tendência aparente de cair sobre um dos lados. A Figura 6b demonstra como é verdadeira a percepção apontada por Ching (2013). Figura 6. (a) Pirâmide de Quéops (Egito); (b) rotação de um triângulo. Fonte: (a) e (b) Ching (2013, p. 40). (a) (b) 3 Elementos compositivos do espaço As fi guras primitivas são percebidas de diferentes maneiras dependendo de sua inclinação, posição em relação a outras fi guras e repetição. Na arquitetura, no entanto, é raro o trabalho ser feito exclusivamente com um plano único. O trabalho do arquiteto consiste, de forma primária, em arranjar objetos tridi- mensionais em um espaço também tridimensional de modo a gerar artefatos que sejam ao mesmo tempoúteis e belos. Em “A lição de Roma”, texto de Le Corbusier (2007), o autor fala em como a luz, ao tocar os sólidos simples, gera superfícies imensas que variam de acordo com o tipo de sólido. A seguir, o suíço apresenta sua seleção de sólidos primiti- vos: cúpulas e abóbadas, que podemos simplificar como semiesferas; cilindros; prismas retangulares, entre eles os cubos e paralelepípedos; e as pirâmides. 9Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço Ching (2013), por sua vez, classifica como formas primárias as esferas, os cilindros, os cones, as pirâmides e os cubos. A justificativa de Ching (2013, p. 58) para elencar essas formas como as primárias deve-se ao fato de que estas podem ser “[...] ampliadas ou postas em rotação de modo a gerarem formas vo- lumétricas ou sólidos distintos”. Além disso, ao explicar a origem desses sólidos, o autor defende que sua origem e natureza geométrica são atributos relevantes: [...] os círculos geram esferas e cilindros; os triângulos geram cones e pirâ- mides; e os quadrados geram cubos. Nesse contexto, o termo sólido não se refere à firmeza da substância, mas a um corpo ou uma figura geométrica tridimensional (CHING, 2013, p. 58). Uma abordagem mais científica é apresentada por Pottmann et al., em Architectural geometry (2007, p. 80), em que os autores apresentam os sólidos platônicos como aqueles em que “[...] o mesmo número de faces encontra cada vértice”. Com essa definição mais restrita, existiriam apenas cinco sólidos platônicos: o tetraedro, com quatro faces; o cubo, com seis faces; o octaedro, com oito faces; o dodecaedro, com doze faces; e o icosaedro, com vinte faces. Na Figura 7, é possível visualizar essas figuras e como elas podem ser planificadas. Figura 7. Sólidos platônicos e suas planificações. Fonte: Adaptada de Pottmann et al. (2007). Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço10 Para a aplicação na arquitetura, utilizaremos a definição de Ching (2013), uma vez que os sólidos apresentados por esse autor são os mais comumente encontrados nas volumetrias de obras de arquitetura. Esfera A característica defi nidora da esfera, e o que a torna uma forma única entre os sólidos geométricos, é o fato de que, assim como acontece com o círculo, todos os pontos posicionados sobre sua superfície estarão equidistantes do centro da esfera. Essa fi gura é formada, segundo Ching (2013), pela revolução de um semicírculo em torno do seu diâmetro, constituindo uma forma centralizadora e extremamente concentrada. De um ponto de vista pictórico, as esferas são os únicos sólidos que são percebidos com a mesma forma independentemente do ângulo de vista, inexis- tindo distorções por pontos de vista distintos. Desse modo, a esfera sempre é percebida como um círculo. A Figura 8a mostra como se dá essa percepção. Na arquitetura, os exemplos de uso de esferas variam desde as cúpulas e abóbadas, citadas por Le Corbusier (2007), até os projetos em que esferas completas são utilizadas. O caso mais emblemático do uso de esferas é o Cenotáfio de Newton, projeto teórico realizado pelo arquiteto francês Étienne-Louis Boullée em 1784 (Figura 8b). Figura 8. (a) Esfera e sua percepção: um círculo; (b) cenotáfio para Newton (Etienne-Louis Boullée). Fonte: (a) Ching (2013, p. 44); (b) Boullée (2020a, 2020b). (a) (b) 11Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço Cilindro A exemplo da esfera, o cilindro também é considerado um sólido de revolução. No entanto, sua geração se dá pela revolução de um retângulo sobre um de seus lados, gerando uma forma que é centralizada em relação ao seu eixo de revolução. Ching (2013) apresenta o cilindro como estável, quando repousa sobre uma das faces circulares, e instável, quando seu eixo central for incli- nado. Sua percepção visual é bastante interessante, uma vez que, ao olhar um cilindro perpendicularmente ao seu eixo de rotação, o que é visto é um retângulo, enquanto que, ao olhar paralelamente a esse eixo, ele é percebido como um círculo. A Figura 9a demonstra esse efeito. Existem muitos exemplos do uso do cilindro como elemento compositivo na arquitetura. Alguns projetos de torres podem ser descritos como cilindros alongados; alguns templos da Antiguidade também utilizavam o cilindro como forma geradora. Na Grécia, esse tipo de templo recebeu o nome de Tholos e, até hoje, é possível encontrar ruínas que demonstram sua geometria, como a que pode ser vista na Figura 9b, do Tholos de Delphi. Figura 9. (a) Cilindro e sua percepção: um círculo e um retângulo; (b) Tholos de Delphi. Fonte: (a) Ching (2013, p. 44); (b) furud/Pixabay.com. (a) (b) Cone Último dos sólidos de revolução, o cone é gerado pela revolução de um triângulo retângulo sobre um de seus catetos. A exemplo do cilindro, segundo Ching (2013), esse sólido é bastante estável quando apoiado sobre a base circular, mas ganha instabilidade quando é inclinado ou invertido, deixando seu vértice como apoio, gerando um estado precário de equilíbrio. Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço12 Sua percepção visual varia de acordo com o ponto de vista: se olhado paralelamente ao eixo de revolução, o cone é percebido como um círculo; no entanto, ao olhar perpendicularmente a esse eixo, a figura percebida é um triângulo, como atesta a Figura 10a. Na arquitetura, não é comum encontrar cones usados de maneira isolada, mas a sua combinação com outros elementos. Um exemplo dessa combinação é a Catedral Metropolitana de Brasília (Figura 10b), projetada por Oscar Niemeyer. Nesse exemplo, é possível identificar a interseção de dois cones invertidos, um com a base maior do que o outro. Figura 10. (a) O cone e sua percepção: um triângulo e um círculo; (b) Catedral Metropolitana de Brasília (Oscar Niemeyer). Fonte: (a) Ching (2013, p. 45); (b) Thorge/Pixabay.com. (b)(a) Pirâmide Esse interessante sólido é formado por uma base quadrada a partir da qual faces triangulares se encontram em um vértice central. Suas propriedades de estabilidade são semelhantes às do cone, com a exceção de que a pirâmide, ao contrário do cone, possui faces laterais planas, podendo, portanto, repousar sobre estas com considerável estabilidade. Visualmente, as pirâmides são percebidas como triângulos ao serem observadas por sua lateral e, como um quadrado, quando observadas de modo perpendicular à sua base. A Figura 11a demonstra como a sua percepção assemelha-se à do cone, com a diferença de que a sua base quadrada confere um aspecto mais duro e angular. As pirâmides estão presentes na arquitetura há milênios e, em razão de sua estabilidade, foram uma das primeiras formas a permitir construções em grande escala, como as pirâmides egípcias. Na arquitetura do século XX, foram ressigni- ficadas em projetos como a ampliação do Museu do Louvre, em Paris (Figura 11b). 13Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço Figura 11. (a) Pirâmide e sua percepção: um triângulo e um quadrado; (b) Pirâmide do Louvre (I. M. Pei). Fonte: (a) Ching (2013, p. 45); (b) 139904/Pixabay.com. (b)(a) Cubo Esse sólido, com o qual todos estamos acostumados a trabalhar e manipular, é formado por seis quadrados iguais dispostos de modo que todos os ângulos entre as faces sejam retos. Segundo Ching (2013), é uma forma estática devido à igualdade de suas dimensões, que carece de movimento e direção aparentes. Sua percepção visual pode ser transformada de acordo com o ponto de vista, mas sua forma é tão estável e estática que se mantém, segundo Ching (2013), claramente reconhecível, independentemente do ângulo de visualização. A figura percebida ao olhar para um cubo será um quadrado quando o observador se posicionar perpendicularmente ao objeto, como demonstra a Figura 12a. O cubo e suas variações dimensionais — os paralelepípedos — são as formas mais encontradas em projetos de arquitetura ao longo da história. Os prismas de base retangular formam a baseda arquitetura ocidental desde a Antiguidade. Para ilustrar esse uso, a Figura 12b traz um projeto inusitado realizado na Holanda, projetado por Piet Blom, em 1984 — as Casas Cubo. Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço14 Figura 12. (a) O cubo e sua percepção: um quadrado; (b) Casas Cubo (Piet Blom). Fonte: (a) Ching (2013, p. 45); (b) Broesis/Pixabay.com. (b)(a) O conhecimento das formas geométricas, suas propriedades e maneiras de percepção são parte essencial da formação dos arquitetos. Esses conceitos consagrados de arquitetura corroboram para que os profissionais possam manipular corretamente as formas geométricas puras e gerar projetos com nível de qualidade excepcional. ALONSO PEREIRA, J. R. Introdução à história da arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2010. BACON, E. N. Design of cities. New York: The Viking Press, 1967. BOULLÉE, E.-L. Mausoléu para Newton: corte, durante o dia com efeito interior noturno. 1 desenho. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/793749/classicos-da-ar- quitetura-mausoleu-para-newton-etienne-louis-boullee/53a2643bc07a8079c500022f- -ad-classics-cenotaph-for-newton-etienne-louis-boullee-section-during-the-day-with- -interior-night-effect. Acesso em: 23 abr. 2020b. BOULLÉE, E.-L. Mausoléu para Newton: fachada. 1 desenho. Disponível em: ht- tps://www.archdaily.com.br/br/793749/classicos-da-arquitetura-mausoleu-para- -newton-etienne-louis-boullee/53a26459c07a8079c5000231-ad-classics-cenotaph- -for-newton-etienne-louis-boullee-exterior-elevation. Acesso em: 23 abr. 2020a. 15Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço Os links para sites da web fornecidos neste livro foram todos testados, e seu funciona- mento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. CHING, F. D. K. Arquitetura: forma, espaço e ordem. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. CHING, F. D. K.; JARZOMBEK, M.; PRAKASH, V. História global da arquitetura. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2019. LE CORBUSIER. Toward an architecture. Los Angeles: Getty Publications, 2007. MUNARI, B. Square, circle, triangle. Nova York: Princeton Architectural Press, 2016. POTTMANN, H. et al. Architectural geometry. Exton, PA: Bentley Institute Press, 2007. VITRUVIUS. Ten books on architecture: The Project Gutenberg. 2006. Disponível em: https://www.gutenberg.org/files/20239/20239-h/20239-h.htm. Acesso em: 22 abr. 2020. Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço16 Dica do professor Acompanhe no vídeo aspectos referentes aos elementos primários, às formas e à inserção destes no espaço. Veja alguns detalhes sobre transformação da forma, aberturas e propriedades do espaço arquitetônico. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/fe8dc4bf6a745e9cc53e2b64b601a753 Exercícios 1) Nos elementos primários ponto, reta, plano e volume, um deles tem como característica a bidimensionalidade. Assinale qual é este elemento e as suas propriedades corretas: A) A reta e as suas propriedades de comprimento, direção e superfície. B) O plano e as suas propriedades de comprimento, largura, profundidade e superfície. C) O plano e as suas propriedades de comprimento, largura, formato e superfície. D) O volume e as suas propriedades de comprimento, largura, profundidade, forma e superfície. E) O volume e as suas propriedades de comprimento, largura, profundidade, formato e superfície. 2) A forma pode ser identificada pelas figuras primárias: A) O ponto, a reta e o plano. B) A reta, o volume e o plano. C) O cubo, o cilindro, o quadrado e a pirâmide. D) A esfera, o cilindro, o cone e o cubo. E) O círculo, o triângulo e o quadrado. A Villa Rotonda, projeto do arquiteto italiano Andrea Palladio, pode ser considerada no que diz respeito à sua forma: 3) A) Forma regular, forma aditiva e forma centralizada. B) Forma irregular, forma aditiva e forma agrupada. C) Forma regular, forma aditiva e forma agrupada. D) Forma irregular, forma aditiva e forma centralizada. E) Forma irregular, forma subtrativa e forma radial. Ao analisar o projeto abaixo, do arquiteto Mies Van Der Hohe, podemos afirmar, no que diz respeito aos elementos horizontais e suas aberturas:4) A) Identificamos um plano base, plano de cobertura e abertura em planos. B) Identificamos o plano de base elevado e aberturas em quinas. C) Identificamos o plano de base elevado, plano de cobertura e aberturas entre 2 planos. D) Identificamos plano de base rebaixado, plano de base e abertura em plano. E) Identificamos o plano de cobertura e aberturas em quinas. 5) As aberturas nos planos de fechamentos influenciam de forma direta na relação visual interior e exterior de um cômodo. Suas características podem influenciar no grau de fechamento do plano, na vista e na iluminação. Sobre as aberturas podemos afirmar: A) As aberturas localizadas ao longo das arestas dos planos de fechamento do espaço fortalecem visualmente as quinas do volume, promovendo uma continuidade visual e interação com os espaços adjacentes. B) Uma abertura pode estar localizada na própria quina dos planos da parede ou na quina da parede com o teto, mas somente nesta segunda opção é que teremos efetivamente a abertura em um canto no espaço. C) Na abertura entre dois planos uma abertura pode se estender verticalmente entre o piso e o teto e horizontalmente entre duas paredes. D) O tamanho, o formato e a localização da abertura são determinantes na configuração de um cômodo. Podemos influenciar na ventilação e iluminação natural do espaço, mas essa abertura não terá relação com o "foco" no ambiente. E) A luz do sol através das aberturas projeta sombras nas superfícies dos planos e, através dessa projeção, conseguimos perceber o tamanho da abertura, mas dificilmente seu desenho. Na prática As formas e os elementos primários são importantes na concepção dos projetos e estão presentes no nosso dia-a-dia nas mais variadas tipologias arquitetônicas. Veja no esquema abaixo o projeto da Casa da Música, em Portugal, e a identificação dos elementos primários, formas e os elementos identificadores do espaço. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. CHING, Francis D.K. 3ªed. Bookman, 2013. Cap. 1, 2 e 3. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Introdução à Arquitetura. CHING, Francis D.K.; ECKLER, F. James. 1ªed. Bookman, 2013. Cap. 4. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Função e forma: partes distinta da arquitetura Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://novasteorias.blogspot.com/2009/10/funcao-e-forma-partes-nao-distinta-da.html
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