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Página � de �1 79 N E U R O L O G I A A M B U L AT Ó R I O 0 1 - S E M I O L O G I A N E U R O L Ó G I C A 0 2 - M I O P A T I A S 0 3 - D O E N Ç A S D A J U N Ç Ã O N E U R O M U S C U L A R 0 4 - M I E L O P A T I A S 0 5 - E S C L E R O S E L A T E R A L A M I O T R Ó F I C A 0 6 - E S C L E R O S E M Ú L T I P L A 0 7 - N E U R O P A T I A S P E R I F É R I C A S 0 8 - P A R A L I S I A F L Á C I D A A G U D A 0 9 - S Í N D R O M E S H I P O C I N É T I C A S 1 0 - A C I D E N T E V A S C U L A R E N C E F Á L I C O 1 1 - T R O M B O S E V E N O S A C E R E B R A L 1 2 - E P I L E P S I A 1 3 - C O M A E A L T E R A Ç Õ E S D A C O N S C I Ê N C I A 1 4 - M O R T E E N C E F Á L I C A 1 5 - C E F A L E I A 1 6 - D E M Ê N C I A S 1 7 - S Í N C O P E E T O N T U R A 1 8 - S Í N D R O M E S H I P E R C I N É T I C A S Semiologia neurológica A avaliação clínica envolve anamnese (dirigida), exame físico geral e exame neurológico. ANAMNESE: TEMPO DE INSTALAÇÃO: súbito/minutos (ex. evento vascular – icto, apoplexia), horas (ex. encefalite), dias (ex. abscesso), semanas (ex. tumores), meses (ex. doenças degenerativas). TIPO DE EVOLUÇÃO: monofásica (ex. paralisia facial periférica, AVE, etc), progressiva (ex. tumor, doença neurodegenerativa), recorrente (ex. vasculite, polirradiculoneuropatia, miastenia, AIT, esclerose múltipla, epilepsia). EXAME NEUROLÓGICO: avaliar sempre de forma simétrica. 1. Funções corticais. 2. Pares cranianos (I ao XII). 3. Sistema motor – trofismo, tônus, força, movimentos involuntários. 4. Sistema sensitivo – superficial e profunda. 5. Coordenação motora. 6. Reflexos – superficiais, profundos e axiais. 7. Sinais meningo-radiculares. 8. Equilíbrio, postura e marcha. ESTADO MENTAL: observar orientação, memória e fala. Realizar a adaptação do mini mental. Mini mental: somar um ponto para cada um dos itens respondidos corretamente e registrar o total na coluna da direita. O escore final é a soma dos pontos, sendo considerado normal quando superior a 24. Em um estudo aplicado no Brasil, observou-se como corte para normalidade 13 para analfabetos, 18 para 1 a 8 anos de escolaridade e 26 para mais de 8 anos de escolaridade. ! NERVOS CRANIANOS II.(óptico): + Fundoscopia: verificar a retina, papila óptica e vasos retinianos. Página � de �2 79 + Acuidade visual: permitir o uso de óculos para longe ou lente de contato. Posicionar o paciente a 6 metros da Tabela de Snellen ou a 35 cm da Tabela de Rosenbaum. Cobrir um dos olhos e ler a tabela, registrar qual é a menor linha que o paciente consegue ler. + Campimetria por confrontação: posicionar- se a distância de 1 braço à frente do paciente, com paciente e examinador olhando “um dentro do olho do outro”. Abrir os braços e movimentar um dos dedos de uma mão, solicitar que indique qual lado está movendo, sem desviar o olhar dos olhos do examinador. Testar os 4 quadrantes. Se suspeitar de a n o r m a l i d a d e , t e s t a r c a d a o l h o s separadamente. III.(oculomotor), IV (toclear) e VI (abducente): + Inspenção: simetria das fendas palpebrais e da protrusão ocular. + Movimentação extraocular: manter fixa a cabeça do paciente, solicitar que siga apenas com o olhar o dedo do examinador, e informar quando não estiver vendo nítido. Movimentar o dedo nas 6 direções, em forma de H. Observar nistagmo, assimetria da movimentação e queixa de diplopia. Checar convergência movendo o dedo na direção da ponta do nariz. + Reação pupilar à luz: em ambiente escuro, pedir que olhe para a frente e longe. Alternadamente iluminar com um foco de lanterna colocado obliquamente (90°) cada pupila. Observar a reação pupilar do lado iluminado (fotomotor direto) e da outra pupila (fotomotor consensual). Registrar o diâmetro pupilar e qualquer assimetria ou irregularidade. V (trigêmio) + Sensibilidade de face: explicar ao paciente o teste. Com um objeto pontiagudo tocar as regiões frontal, malar e mandibular, comparando a sensação dolorosa a direita e a esquerda e entre cada uma das regiões estimuladas. + Reflexo corneano: explicar ao paciente o teste (retirar lente de contato). Solicitar que olhe para o lado e para cima, tocar a borda externa inferior da córnea do lado oposto com um pedaço de algodão. Observar a reação de piscamento normal em ambos os olhos. Repetir no outro lado. VII.(facial) + Mobilidade de face: - Solicitar que enrugue a testa ou olhe para cima. - Solicitar que feche os olhos com força, tente abri-los e teste a força do m. orbicular dos olhos. - Peça para mostrar os dentes ou dar um sorriso. - Observar presença de assimetrias e ausências de pregas faciais. VIII.(acústico) + Audição: em um ambiente silencioso, provoque um ruído esfregando as pontas dos dedos colocados ao lado de um dos ouvidos do paciente. Gradualmente distancie a mão do ouvido do paciente e peça para informá-lo quando deixar de ouvir o ruído. Repita no lado oposto e compare os resultados. IX.(glossofaringeo) e X (vago): + Voz e deglutição: indague se apresenta dificuldade de deglutição ou alteração de voz. Solicite ao paciente que mantenha a boca aberta e diga "EHHHHHHHHHHH!". Observe a simetria da elevação do palato e a ausência de desvio lateral da rafe mediana. + Reflexo nauseoso: explicar ao paciente que pode sentir náusea ao ser tocado com a espátula. Solicite ao paciente que mantenha a boca aberta. Toque com a ponta da espátula alternadamente os dois pilares anterior da faringe. Indague ao paciente se sentiu náusea ou sensação desagradável e se ela foi igual nos dois toques. XI.(acessório): + Força do músculo trapézio e esterno-clido-mastoideo: solicitar para manter os ombros elevados. Tentar abaixar os ombros. Solicitar que mantenha a cabeça virada para um dos lados, tentar virar a cabeça para o lado oposto, fazendo resistência no queixo, enquanto palpa o esterno-clido- mastoideo oposto. Observe assimetrias e atrofia dos músculos pesquisados Página � de �3 79 XII.(hipoglosso): + Motilidade da língua: observar a língua dentro e fora da boca. Registrar assimetrias, desvios, movimentos anormalis e atrofia da língua no interior da boca e fora dela. SISTEMA MUSCULAR: Inspeção: verificar a presença de assimetrias, atrofias e movimentos involuntários. Tônus muscular: solicitar que fique relaxado e sem opor resistência a mobilização dos membros. Observar a simetria do tônus muscular e a presença de redução (hipotonia) ou de aumento (hipertonia plástica ou espástica). + Com uma das mãos apoiar o braço e com a outra mão segurar a mão do paciente, efetuando movimentos de flexão, extensão e rotação dos membros superiores. Outra manobra é segurar ambas as mãos do paciente sentado, efetuando simultaneamente movimentos de flexão e extensão e rotação dos membros superiores. + Com o paciente deitado colocar uma das mãos na panturrilha e a outra mão segurar o pé efetuando movimentos de flexão, extensão e rotação dos membros inferiores. Força muscular: + Teste: - Testar a força fazendo o paciente manter uma posição enquanto o examinador tenta vencer a resistência. Sempre comparar a força de um músculo com o seu oposto. Registrar a força encontrada conforme escala. - Desvio em pronação: solicitar que mantenha os membros superiores estendidos para frente, com as palmas das mãos viradas para cima e os olhos fechados por 20 a 30 segundos. Examinador executa breves movimentos forçando os braços para baixou. Verificar se o paciente não é capaz de manter a extensão e a supinação. Caso evolua lentamente para pronação e queda do membro superior sugere paresia do membro. + Teste dos músculos ou grupos musculares: SISTEMA SENSITIVO Dor e tato: + Teste: explicar ao paciente o teste a ser realizado e peça que mantenha os olhos fechados e informe ao examinador quando a sensibilidade for alterado (aumentado, diferente ou reduzida) . Realizar o teste em áreas simétricas em ambos lados do corpo e segmentosproximais e distais. Caso exista suspeita de lesão medular, radicular ou Gra u Características % força 0 Não existe contração muscular (sem movimento) 0 1 Existe contração perceptível sem haver, no entanto, movimento (há indicio de movimento) 0-10 2 Músculo é capaz de se movimentar quando a gravidade é eliminada (move articulação) 11-25 3 Músculo é capaz de se movimentar contra a gravidade, porém não contra a resistência 25-50 4 Músculo é capaz de se movimentar contra algum grau de resistência (menor do que esperado) 51-75 5 Músculo é capaz de se movimentar contra a gravidade e resistência máxima sem sinais de fadiga (força muscular normal) 76-10 0 Membro Superior Membro Inferior Deltoide Abdução braço após 45° Iliopsoas Flexão da coxa Bíceps Flexão cotovelo Quadríceps Extensão do joelho Tríceps Extensão cotovelo Grupo posterior coxa Flexão do joelho Preensão da mão Apertar 2 dedos examinador Tibial anterior Extensão tornozelo Abdutores dedos Abdução dos dedos Extensor do hálux Extensão do hálux Página � de �4 79 nervosa pesquisar a área sensitiva correspondente bilateralmente e registrar detalhadamente os limites da alteração. Utilizar um estilete com ponta não traumática para testar a dor e um pedaço de algodão, um pincel ou um leve toque com a ponta do dedo para testar o tato. + Dermátomos: representados na figura ao lado. + Nível medular: Distúrbios COORDENAÇÃO MOTORA Movimentos rápidos alternados (diadococinesia): observar o ritmo e a simetria dos movimentos. + Posição sentada executar alternadamente bater o dorso e a palma das mãos nas coxas . + Bater a ponta do indicador na ponta do polegar o mais rápido possível em ambas as mãos. Movimentos de ponto a ponto: observar a simetria, precisão e a ausência de tremor. + Tocar a ponta do dedo na ponta do dedo do examinador, que o moverá pelos vários quadrantes. + Com olhos fechados, estender o braço e depois tocar a ponta do nariz com a ponta do seu dedo. + Colocar o calcanhar sobre a crista da tíbia da perna oposta e deslizar até o hálux. REFLEXOS: Reflexos profundos (miotáticos): membro superior (biciptal, estiloradial, triciptal) e inferior (patelar e Aquileu). + Teste: solicitar que fique relaxado e corretamente posicionado antes do exame. Percutir o ponto tendinoso firmemente. Caso não obtenha resposta, peça ao paciente para executar uma discreta contração do músculo pesquisado ou realizar a manobra de Jendrassik (fechar os olhos e executar contração isométrica dos membros não pesquisados. - Se os reflexos parecem hiperativos pesquisar clônus patelar (perna semi-fletida, executar movimento súbito da patela conta o tendão e sustenta-la nesta posição) e aquileu (perna semi- fletida, executar movimento súbito de flexão do pé e sustentá-la nesta posição. - Registrar o reflexo encontrado, conforme a escala abaixo. Reflexos superficiais: + Cutâneo-plantar (sinal de Babinki): a porção lateral da planta do pé, do tornozelo até a porção anterior, com um objeto rombo. Observar a reação dos dedos. Reação indiferente ou normal quando ocorrer a flexão dos dedos e/ou a retirada do pé. Positiva ou Sinal de Babinski quando ocorrer uma extensão do hálux e dos outros dedos. + Cutâneo-abdominal: esfregar com um objeto rombo as regiões laterais do abdome (superior, media e inferior), em direção à linha media. Observar a contração da musculatura, comparando Nível medular Nível sensitivo T1/T2 Clavícula T4 Mamilo T6 Apêndice xifoide T8 Rebordo costal inferior T10 Umbigo T12 Região inguinal Qualitativo Quantitativo Descrição Ausente 0 Não obtido resposta Diminuído + Hipoativo Normal ++ Normal Vivo +++ Hiperativo sem clônus, com aumento da área de resposta à percussão (área reflexógena) Exaltado ++++ Hiperativo com clônus Página � de �5 79 com o lado oposto e com as 3 regiões. Reação normal quando ocorrer a contratura unilateral ou não ocorrer em nenhuma das regiões (em obesos ou pós cirurgia de abdome). Reação anormal ou reflexo ausente quando a reação for assimétrica. + Palmo-mentoniano: esfregar com um objeto rombo a palma da mão em direção ao polegar ou indicador. Observar a contração do mento homolateral normal quando não ocorrer a contratura. Reação anormal ou reflexo presente quando a contratura ocorrer (desfrontalização). + Naso-labial: percutir com a ponta do indicador o lábio superior abaixo do nariz. Observar a ocorrência de sucção dos lábios. Reação normal quando não ocorrer a contratura. Reação anormal ou reflexo presente quando a contratura ocorrer (reflexo não inibido — significa desfrontalização). + Glabelar: percutir com a ponta do indicador a glabela e observar a ocorrência de piscamento. Reação normal quando não ocorrer o piscamento. Reação anormal ou reflexo presente quando o piscapierto ocorrer (reflexo não inibido — significa desfrontalização). Raízes envolvidas: SINAIS MENINGORRADICULARES: produzidos por processos inflamatórios que determinam espasmo da musculatura paravertebral e estiramento de raízes e meninges inflamadas. Sugestivos de processos infecciosos afetando as meninges (meningites) ou hemorragia subaracnoidea. Rigidez de nuca: indica hemorragia sub-aracnoide e meningites. Sinal de Brudzinski: paciente em decúbito dorsal com membros inferiores estendidos. O examinador posiciona uma das mãos sobre o tórax do paciente e com a outra mão determina a flexão súbita do pescoço. O sinal de Brudzinski está presente quando, ao se tentar fletir passivamente o pescoço ocorre ligeira flexão das coxas e dos joelhos. Sinal de Kernig: paciente em decúbito dorsal com a coxa fletida sobre a bacia e a perna fletida sobre a coxa ambas a 90°, seguido de extensão da perna. A extensão passiva do joelho é acompanhada por dor e limitação da extensão da perna Sinal de Lasègue: paciente em decúbito dorsal e membros inferiores estendidos, examinador faz flexão passiva da coxa sobre a bacia. Positivo quando dor na face posterior do membro. EQUILÍBRIO, POSTURA E MARCHA: Senso de Posição: segurar lateralmente o hálux e mova lentamente para cima e para baixo, informe ao paciente quando está movendo para cima e para baixo. Solicitar que feche os olhos e informe a direção que está movendo o dedo. Se alterado, realizar o procedimento no polegar Sinal de Romberg: solicitar que permaneça de pé sem apoio por 5 a 10 segundos. Após fechar os olhos e permanecer na mesma posição por mais 5 a 10 segundos. Será considerado Romberg positivo (perda de propriocepção) quando apresentar instabilidade apenas com os olhos fechados. Marcha e equilíbrio + Observar em pé e sentado durante a entrevista e o exame, verificar se mantém a posição sem oscilações ou quedas para os lados e para trás. + Pedir para caminhar em linha reta alguns metros e voltar. Observar o padrão de marcha. Caso Reflexos Inervação Nível Músculos Estilorradial Radial C5-C6 Braquiorradial Bicipital Musculocutân eo C5-C6 Bíceps braquial Tricipital Radial C7-C8 Tríceps braquial Flexores dos dedos Mediano e ulnar C8-T1 Flexor superficial dos dedos Aquileu Tibial L5 a S2 (S1) Gastrocnêmio e sóleo Patelar Femoral L2 a L4 Quadriceps femoral Adutores da coxa Obturador L2 a L4 Adutor magno, longo e curto Costoabdominal Intercostais Ileoinguinal Ilio- hipogástrico T5 a T12 L1 L1 Página � de �6 79 não seja característico (ex. hemiplégica ou parkinsoniana) descrever detalhadamente. + Caminhar na ponta dos pés e nos calcanhares. ALTERAÇÕES NO EXAME FÍSICO: SISTEMA MOTOR Déficit de força muscular: chama-se plegia quando não há nenhuma contração, se há um pouco de contração chama de paresia. + Monoplegia (paresia): um membro. + Hemiplegia (paresia): um hemicorpo (dimidio). Pode ter predomínio em alguma região, como braquial, facial ou crural (o que pode indicar a artéria acometida). + Paraplegia (paresia): membros simétricos (braquial ou crural). + Tetraplegia (paresia): quatro membros. Não ocorre só por lesão de medula (ex. AVC em tronco). + Diplegia(paresia): dois hemicorpos. Neurônio motor: + Síndrome do neurônio motor superior: fraqueza muscular; hipertonia (espasticidade); hiperreflexia (III) ou clônus (IV); trofismo normal; sinal de Babinski. + Síndrome do neurônio motor inferior: fraqueza muscular; hipotonia muscular; arreflexia ou hiporeflexia; atrofia muscular; fasciculações musculares. SISTEMA SENSITIVO: Distúrbios sensitivos: + Anestesia ou hipoestesia: perda ou redução da sensibilidade (tátil e dolorosa). + Hiperestesia: aumento da sensibilidade. + Analgesia: perda da sensibilidade dolorosa. + Hiper ou hipoalgesia: aumento ou diminuição da sensibilidade dolorosa. + Parestesias: sensações espontâneas (dor, queimação, formigamento, alfinetadas). + Disestesias: sensações distorcidas e desagradáveis com estímulos inócuos. + Alodinia: percepção de um estímulo não doloroso como dor. + Hiperpatia: limiar elevado para dor. + Grafoestesia: capacidade de reconhecer símbolos pelo tato. + Estereognosia: capacidade de reconhecer objetivos pela palpação. + Hipo ou apalestesia: perda ou ausência da sensibilidade profunda (vibratória ou senso percepção). COORDENAÇÃO MOTORA: Incoordenação motora (ataxias): + Ataxia cerebelar: marcha ebriosa; disartria (fala escandida); nistagmo; hipotonia; reflexos pendulares; sinal do rebote; dismetria; disdiadococinesia; distasia (dança dos tendões). + Ataxia sensitiva (aferente): déficit de sensibilidade profunda; sinal de Romberg; sem nistagmo; sem disartria; marcha talonante; hipo ou arreflexia profunda. Afeta cordão posterior da medula. PARES CRANIANOS: Distúrbio visuais e da movimentação ocular: + Perda visual + Papiledema: hipertensão intracraniana, neurite óptica. + Anormalidade pupilares: pupila de Argyll-Robertson (pupila sem reflexo fotomotor, mas com reflexo de acomodação – sífilis). + Distúrbios de campo visual: hemianopsias homônimas ou heterônimas (hemianopsia bitemporal). + Distúrbio do movimento ocular: dipoplia, estrabismo, oftalmoplegia (paresias). + Alteração palpebral: Horner. Distúrbio da fala, deglutição e da linguagem: disfonia, disartria, disfagia, afasias (motora [Broca], sensitiva [Wernicke], mistas [ex. alteração da a. cerebral média]); prosódia (síndromes de aprosódia [entonação]). COGNIÇÃO E CONSCIÊNCIA: Distúrbios cognitivos: orientação, atenção, cálculo; negligência ou hemi-negligência (esquece um dimidio); linguagem (afasia motora e/ou sensitiva); agnosias (distúrbios do reconhecimento visual, auditiva ou somestésica); apraxias (incapacidade de executar determinada função motora, Página � de �7 79 sem que existam déficits); memória (amnédias – imediata, recente, remota). Obs: teste psicométrico – bateria de testes que detectam alterações antes dos exames de imagem. Distúrbios da conscimencia: + Sonolência: sono aumentado, responde a estímulos com clareza. + Torpor: sono aumenta, quando vigil, desorientado. + Estupor: sonolento, responde ao estímulo doloroso, sem resposta verbal. + Coma: sono profundo, sem resposta aos estímulos. + Delirium x estado confusional agudo + Vigil: ciclo vilia-sono. + Estado vegetativo persistente: ciclo vigília sono, sem conteúdo de consciência (síndrome do vigil irresponsivo). + Estado minimamente consciente: paciente demostra algum grau de interação com o meio. + Locked-in (síndrome do cativeiro): parece em coma ou com ciclo vigília-sono e está totalmente consciente. DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO: Síndrome extrapiramidais: + Síndromes hipocinéticas: parkinsonismo - bradicinesia, rigidez muscular, tremor de repouso, instabilidade postura. Doença de Parkinson, Parkinson secundário, Parkinson atípico. + Síndromes hipercinéticas: - Tremor: movimento involuntário rítmico. - Distonia: contrações musculares mantidas, com posturas anormais, torções, “JERKS”. - Coréia: movimento involuntário abrupto, rápido, errático, migratório, não estereotipado. - Atetose: movimento involuntário lento, sinuoso, continuo. + Balismo: movimento involuntário amplo, tipo arremesso, abrupto. + Mioclonia: movimento involuntário tipo “choque”. + Tiques: movimento involuntário estereotipado, breve, repetitivo, sem propósito. + Estereotipia: movimento involuntário repetitivo, sem finalidade. DÉFICITS NEUROLÓGICOS FUNCIONAIS: distúrbios conversivos; histeria. Histeria: eventos não epilépticos psicogênicos (funcionais); distúrbios do movimento psicogênicos (funcionais); déficits neurológicos motores, sensitivos, visuais; marchas bizarras. DIAGNÓSTICOS EM NEUROLOGIA: sindrômico (ex. síndrome piramidal, cerebelar, sensitiva, cognitiva, etc); topográfico (lesão do SNC ou periférica); etiológico (AVE, EM, tumor, etc). EXAMES COMPLEMENTARES: neuroimagem (raio x, tomografia, ressonância, SPECT, PET); ultrassom (DCV, trascraniano); eletroencefalograma (vídeo); polissonografia; exame de líquor (punção lombar); eletroneuromiografia; potenciais evocados (visual, auditivo, somatosensitivo); exames de rotina (sangue – VDRL, HIV, tireoide, vitamina B12, imunológico). Página � de �8 79 Escala Força Muscular 0 Ausência de resposta motora. 1 Contração visível 2 Movimento sem ação da gravidade 3 Movimento contra a gravidade 4 Movimento contra pouca resistência 5 Normal Miopatias Doenças que comprometem a estrutura, canal e metabolismo da fibra muscular. Vem do grego µυοπάθεια, sendo myo (músculo) e pátheia (padecença, doença). PREVALÊNCIA DAS DOENÇAS NEUROMUSCULARES: distrofia muscular de Duchene 1:3.000 nascimentos masculinos; distrofia miotônica 1:800 nos EUA; esclerose lateral amiotrófica 4- 8/100.000; síndrome de Guillian Barre 1/100.000; atrofia muscular espinhal 1/6.000-10.000; miastenia gravis 5/100.000; neuropatia hereditária de Charcot-Marie-Tooth 150.000 acometidos no EUA. CLASSIFICAÇÃO: Hereditárias: distrofia muscular, miotonias, canelopatias, miopatias congênitas, miopatias metabólicas, miopatias mitocondriais. Adquiridas: miopatias inflamatórias, miopatias endócrinas (ex. hipotireoidismo), associada a doença sistêmica (ex. lúpus), miopatias tóxicas (ex. estatinas, quimioterápicos). AVALIAÇÃO DAS MIOPATIAS: ASPECTOS CLÍNICOS: sinais e sintomas; evolução temporal; história familiar; fatores desencadeante (ex. exercícios); sintomas ou sinais sistêmicos; distribuição da fraqueza (proximal ou distal). Sinais e sintomas: a distribuição dos sinais e sintomas dependem do tipo de miopatia em questão. Os sinais e sintomas não são comuns a todas, algumas tem um sintoma ou sinal predominante não comum as outras. - Negativos (“perdas”): fraqueza muscular (proximal), fadiga, intolerância ao exercício, atrofia muscular (proximal); hipo e arreflexia (?). - Positivos (“ganhos”): mialgias, câimbras, contraturas, rigidez, mioglobinuria, hipertrofia (pseudohipertrofia), miotonia.+ Fraqueza muscular: predominantemente proximal. Deve-se avaliar a função de cada musculo. Normalmente usa a escala do Medical Research Council para quantificar a perda de força. - Sinais de fraqueza muscular proximal: escapula alada em membros superiores; manobra de Gowers em membros inferiores (paciente tem que fazer movimentos na imagem ao lado par conseguir levantar do chão); marcha levantando a bacia. Obs: Gowers não é sinal especifico das miopatias. + Atrofia: predominantemente proximal. + Hipertrofia: chamada de pseudohipertrofia, pois tecido normal do músculo (necrose) é substituído por gordura e fibrose. + Hipotonia: característico de pessoas com doença muscular. É o primeiro sinal identificável em crianças (ex. não consegue sugar), mas geralmente é por uma doença do SNC (80%) e não uma miopatia (20%). + Miotonia: pode ser desencadeada pela percussão com o martelo. Evolução temporal: início no nascimento, criança, jovem, adulto, idoso. Importante para diferenciar as causas (ex. congênita, autoimune, etc). História familiar: autossômica recessiva ou dominante, ligada ao X, transmissão materna (ex. mitocôndrias). Fatores desencadeante: exercícios; percussão estimulando miotonia(ex. distrofia miotonica). Sinais e sintomas gerais: ptose palpebral fixa bilateral (ex. miopatia mitocondrial); redução do sulco nasogeniano (ex. distrofia muscular fascioescapulohumeral); deformidades articulares; alterações de pele como dermatomiosite (sinal de Gottron, heliotropo). INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL: enzimas musculares, eletroneuromiografia, biopsia, testes genéticos. Enzimas musculares: exame que mais ajuda ao clínico. Essas enzimas estão dentro da fibra muscular e quando há um processo de destruição dessa fibra essas enzimas são liberadas no sangue. Portanto, quanto maior a destruição maior é a quantidade de enzimas no sangue. Por isso Página � de �9 79 elas podem aumentar em casos que não são miopatias (ex. exercício extenuante), seno necessário repetir os exames algumas vezes. + Creatinaqinase: produção de energia, transforma ADP em ATP na fibra muscular. Suas principais isoformas são a CK-MM (muscular) e a CK-MB (cardíaca). Valores normais no organismo variam com etnia (afrodescendente é maior), atividade física, estatinas e outros. Os valores da CK na miopatia podem chegar a ser mil vezes maior que o normal. Em casos muito graves não tem mais CK porque o paciente fica sem músculo. + Desidrogenase lática: mantem níveis normais de NAD+, no excesso de ácido pirúvico (metabolismo anaeróbio e exercício vigoroso). + Aldolase: divide frutose 1,6-bifosfato em glicerldeido-3-fosfato (utilização da glicose). + Transaminase: transforma aminoácidos em energia (ciclo do ácido cítrico). O aumento dessa enzima pode confundir com problema hepático, mas vale lembrar que na miopatia ela nunca está mais de dez vezes acima do seu valor normal. Eletroneuromiografia: é um exame especifico que não deve ser pedido para todos. Pode ser feito estudo da condução sensitiva, estudo da condução motora, teste de estimulação repetitiva (junção neuromuscular), eletromiografia de agulha. + Eletromiografia de agulha: avalia a fisiologia muscular (unidade motora – neurônio e suas fibras musculares), determinado se é uma doença muscular primária, doença neurogênica, etc. O sinal dessas unidades motoras é captado por uma agulha, formando uma curva em um gráfico. Em uma doença miopática há uma diminuição da duração e amplitude da curva e maior recrutamento; já na doença neurogênica há um aumento da duração e amplitude e diminuição do recrutamento. Biopsia: músculo ou nervo, sendo que geralmente não é feito. Pode-se fazer histoquímica (padrão distrófico, vacuolar [disfunção metabólica]) e imunohistoquímica. Teste genético: + Exoma: sequenciar todos os 20.000 genes do genoma para identificar as mutações genéticas. Anteriormente, os genes eram estudados um a um, à procura de mutações que causassem doença. Com o sequenciamento e análise do exoma completo, passou a ser possível investigarmos todos os genes com um único exame. MIOPATIAS DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE: causada por uma deficiência severa ou completa de distrofina no músculo esquelético, sendo um distúrbio genético ligado ao X. A distrofina é uma proteína da membrana da fibra muscular, responsável por estabilizar a membrana. A falta de distrofina faz com que ocorram pequenos rompimentos do sarcolema, aumentando a passagem de Ca2+ para dentro da célula, levando essa fibra a necrose. Clínica: tem início aos 3-5 anos, com fraqueza muscular proximal de membros inferiores e perda progressiva da força, com perda da deambulação até 12 anos. Há uma pseudo-hipertrofia da panturrilha. Morrem aos 18-25 anos por problemas respiratórios ou cardíacos (sobrecarga entricular). Exames complementares: enzimas musculares excessivamente aumentada; eletroneuromiografia tem padrão miopático (mas é dispensável se clinica é característica); teste genético. Tratamento: fisioterapia e prednisona 0,5-1 mg/kg/dia. O corticoide é dado para impedir a progressão da escoliose e manter musculatura respiratória (melhor qualidade de vida após 14-15 anos). Obs: Ataluren é um medicamento que vem se mostrando eficaz na doença, mas só funciona para um tipo de mutação que só acomete 5% dos pacientes. DISTROFIA MUSCULAR DE BECKER: redução parcial de distrofina no músculo (10-30%). É uma forma mais benigna das distrofinopatias. Quadro clínico e laboratorial, semelhante a distrofia muscular de Duchenne, porem com atraso do início (≥ 6 anos) e curso da doença mais prolongado (não para de caminhar aos 12 anos). Eletroneuromiografia: tem achados semelhantes da distrofia de Duchenne, mas dependerão da severidade da doença. Tratamento: somente fisioterapia. DISTROFIA MIOTÔNICA: doença multissistêmica autossômica dominante que cursa com diabetes, catarata, alterações cardíacas (bloqueio atrioventricular), calvície, redução dos hormônios sexuais masculinos, diminuição dos sulcos na face (facies de machadinha); Página � de �10 79 constipação (distúrbio esfincteriano). A percussão leva a miotomia, que na EMG causa um barulho semelhante a aceleração de uma moto. CASO CLÍNICO: NMSC, 7 anos, masculino. DPM normal até os 3 anos iniciou com quedas frequentes, progressivamente dificuldade de subir escadas (corrimão). Mãe notou aumento de volume de panturrilhas. História mórbida familiar de primo materno com mesma doença (mas sem investigação). + Exame físico: atrofia quadríceps bilateral, hipertrofia gastrocnêmios bilateral, hipotonia de membros superiores e inferiores. Força proximal membros inferiores de 3+. Arreflexia bicipital, triciptal, estilorradial, patelar, Aquileu. Marcha Anserina (miopática). Sinal Gowers positivo. + Exames laboratoriais: CK 8600UI (VN <190); ENMG não realizada; biópsia de músculo não realizada; teste genético para distrofina com mutação (deleção) exons 45-49. + Diagnóstico: distrofia muscular de Duchanne (pela idade). Página � de �11 79 Doenças da junção neuromuscular As principais doenças da junção neuromuscular são a miastenia gravis e as síndromes miastênicas (congênitas ou adquiridas). JUNÇÃO NEUROMUSCULAR: é a junção entre a parte terminal de um axónio motor com uma placa motora. O neurônio libera acetilcolina, que se liga a um receptor e estimula a célula muscular para entrada de cálcio para contração muscular via fatores de segurança da junção neuromuscular. Na fenda sináptica há acetilcolinesterase, que metaboliza a acetilcolina liberada pelo neurônio. MIASTENIA GRAVIS: doença autoimune, com formação de diversos anticorpos, sendo os principais o anticorpo anti-receptor de acetilcolina (80%) e o anticorpo anti-MuSK (7,5%). Pode ser associada ao timoma (10-15%) e hiperplasia tímica em jovens (80%). Ocorre principalmente em mulheres jovens (20-40 anos) e sintomas pioram no calor. IMUNOPATOGÊNESE: no timo os linfócitos sofrem uma seleção positiva e negativa, sendo “programados” para não reconhecer componentes próprios. Uma falha nesse processo causa doenças autoimunes como a miastenia gravis. FORMAS CLÍNICAS: Ocular: dipoplia e ptose (uni ou bilateral), podendo não ter ptose. Tem oscilação diária. Cerca de 70% acaba desenvolvendo a forma generalizada. Generalizada: ptose, diplopia, disfagia, disfonia, fraqueza muscular proximal (pode ter acometimento mais em membro superior ou em inferior). Reflexos normais (exceto em casos mais graves e na síndrome de Lambert Eaton) e sensibilidade normal. Também tem oscilação diária. AVALIAÇÃO: Teste do gelo: colocar gelo em uma ptose durante 2-5 minutos. A baixa temperatura diminui o metabolismo, diminuindo a degradação de acetilcolina pela acetilcolinesterase, revertendo a ptose. Portanto, se houver uma diferença maior que 2mm na medida da fenda palpebral é indicativo de miastenia gravis. Testes farmacológicos (teste do edrofônio): usa um acetilcolinesterásico, ou seja, que inibe a acetilcolinesterase e aumenta a acetilcolina na fenda sináptica. É feita uma injeção de 2-10 mg durante 60s, vendo os efeitos até uns 5 minutos. Reverter os sintomas temporariamente, por isso não é usado no tratamento. Pode ter efeito colateral (ex.salivação). Não é feito no Brasil pela falta de medicação. A sensibilidade é de 60-85% na forma ocular e de 70-95% na forma generalizada. Pode ter falsos positivos. Eletromiografia: teste de estimulação repetitiva. É feito uma punção do nervo, capitando o potencial de ação de resposta fibra muscular. Após isso é feito cinco estímulos de baixa frequência (1 a 5 Hz), formando curvas de resposta da fibra. Um incremento ou decremento entre a amplitude da primeira e última curva não pode ser maior que 10% para ser considerado normal. Na miastenia há um decremento maior que 10%, pois não há tantos receptores para acetilcolina agir como em uma pessoa normal. Após o quinto estimulo não há mais decremento pois é liberado o estoque de acetilcolina no neurônio. A sensibilidade é de 10-17% na forma ocular e 53-100% na forma generalizada. Testes imunológicos: dosagem de anticorpo anti-receptor de acetilcolina, que tem sensibilidade de 50-75% na forma ocular e 70-95% na forma generalizada. Lembrando que 80% dos casos são causados por esse anticorpo. Outros: tomografia de tórax (timoma e hiperplasia), testes de tireoide (associação com hipertireoidismo). TRATAMENTO: Farmacológico: + Anticolinesterásico: Mestinon (piridostigmina) em comprimidos de 60mg a cada 4h. É a primeira droga, se não funcionar usar imunossupressor. Em excesso pode causar crise colinérgica. + Corticosteróides: prednisona 1 mg/kg. Deve-se tomar cuidado, pois pode potencializar o efeito colinérgico do mestinon (crise colinérgica). Por isso ou se começa com uma dose alta de corticoide e diminui o mestinon ou começa com uma dose baixa de corticoide e vai aumentando. + Outros: imunossupressores (azatioprina, ciclosporina, tacrolimus, micofenolato mofetil) imunoglobulina, plasmaferese. Página � de �12 79 Timectomia: é questionável se é benéfico ou não. COMPLICAÇÕES: Crise colinérgica: sintomas colinérgicos pelo excesso de medicamento e piora dos sintomas da miastenia com evolução para insuficiência respiratória. Há fraqueza, bradicardia, sialorreia, diarreia, broncorréia, câimbras, fasciculações. Tratamento é UTI e retirar mestinon. Crise miastênica: rápida evolução dos sintomas com insuficiência respiratória. + Causa: infecções e medicações (pioram a transmissão muscular – ex. betabloqueador, penicilina, aminoglicosideo, relaxantes musculares). + Tratamento: UTI, tratar infecções, retirar drogas; imunoglobulina 400 mg/kg/dia por 5 dias, 3 a 5 sessões de plasmaferese. Obs: uma grávida miastenia gravis pode passar anticorpos para o feto, causando prejuízos a este (ex. dificuldade nas mamadas). CASO CLÍNICO: SL, 33 anos feminina, iniciou há 2 anos com diplopia no final da tarde Há 6 meses notou ptose palpebral à esquerda. Há 1 mês após IVAS dificuldade para lavar os cabelos. + Exame físico: Paresia de reto medial à direita, ptose à esquerda. Força muscular IV+ proximal MMSS, demais exame normal. No ambulatorio teste do gelo positivo. + Exames complementares: avaliação tireoidiana normal; teste de estimulação repetitiva com decremento maior 10% em nervos facial e acessório; tomografia Computadorizada de Toráx- Normal (afastar hiperplasia timo ou tumor) + Evolução: mestinon® (anticolinesterásico) 30mg/4/4h melhora sintomas. Página � de �13 79 Mielopatias MEDULA ESPINHAL Laminas de REXED: divisão da medula espinhal em 10 laminas de acordo com a constituição citoarquitetonica. Núcleos: nucleo motor, nucleo intermediolateral (tem as primeiras cédulas da cadeia simpática), nucleo dorsal, nucleo proprius, susbstância gelatinosa (aferencias sensitivas). Fasciculos e tratos: tratos ascendentes, descendentes, bidirecionais. ! Vascularização: artéria espinhal anterior (irriga 2/3 da medula) e artérias espinhais posteriores (1/6 da medula cada). ALTERAÇÕES: dor, alterações motoras, alterações sensitivas, alterações de reflexos e tônus, alterações esfincterianas. Dor: + Origem: dor local por ossos e ligamentos (cervical em ombros e lombar em cintura pélvica); vasos piais e vias dolorosas intrínsecas (irritabilidade, compressão). Alterações sensitivas: + Fenômenos positivos: impulsos nervosos espontâneos que elevam as experiências sensitivas. - Parestesias, formigamentos, agulhadas, pontadas, choques - gânglios dorsais, cordão posterior. ° Síndrome de Lhermitte: extensão mecânica (ex. flexão da cervical) causa sensação de choque em coluna dorcal e cervical baixa. Pode se espalhar para membros, principalmente superior. - Calor, frio, prurido - cordão posterior, tratos espinotalâmicos. - Parestesias em pés e pernas bilaterais - cauda equina, cordão posterior. - Parestesias somente das mãos - lesão cervical alta. + Fenômenos negativos - Alguns padrões: ° Perda sensitiva segmentar (ex: mãos, antebraços). ° Perda sensitiva dos braços, pescoço (em manta) e preservada de tronco inferior e pernas - síndrome medular central. ° Síndrome de Brown-Séquard. ° Perda sensitiva tronco e pernas com região perianal intacta - lesão intramedular ou compressão medular anterior. - Amortecimento - cordão posterior. - Perda de sensibilidade - lesões incompletas. - Alguns padrões podem ser úteis: ° Diminuição do senso de posição e sensibilidade vibratória com reflexos normais – lesão de cordão posterior. ° Diminuição do senso de posição e sensibilidade vibratória e nível sensitivo abdome e tórax - lesão torácica. Alterações motoras: perda de força pode ser de origem na placa motora (ex. miastenia gravis), neurônio motor, medula (trauma medular, mielopatia), córtex motor (ex. AVC, TCE, neoplasia). Por isso é importante diferencia-los. Alterações esfincterianas: geralmente urológicas (ex. bexiga neurogênica). Lembrando que Página � de �14 79 inervação do m. detrusor da bexiga é por núcleos de neurônios motores especiais em S1-S3; já esfíncter anal por nervos pudendos vindos do corno anterior da medula lombosacra. DIAGNÓSTICO: história, exame físico (com neurológico) e exames complementares. História: importante saber o tempo de evolução (ex. processos hiperagudos trauma, processos agudos infecção, processos longos degeneração ou neoplasias). Exame físico: importante pensar na correspondência dos níveis medulares (dermatomos), principalmente tronco. Geralmente a lesão está localizada dois seguimentos acima da região com alteração de sensibilidade. Lembrando que a mudança de sensibilidade não é abrupta nos dermatomos (há sobreposição dos territórios de sensibilidade). Exames complementares: exames neurorradiológicos (radiografias simples, tomografia computadorizada, ressonância magnética), exame de líquor, estudos eletroneurofisiológicos. + Exame de líquor: detecção de presença de sangue (acidentes vasculares na medula), infecções, inflamações (autoimune). + Eletroneuromiografia: diferenciar neuropatia de miopatia; doença de neuroniomotor inferior; polirradiculoneurite; associações mielopatia-neuropatia. PADRÕES CLÍNICOS Síndrome medular central: + Etiologias: trauma (com artrose cervical em indivíduos idosos); mielopatia espondilótica (pela compressão anterior na medula); siringomielia (clássico); neoplasias (metastática, glial, linfoma). - Siringomielia: degeneração axonal e formação de cavidades císticas com acúmulo de líquido no interior da medula espinhal. Causa clássica de síndrome medula central. Geralmente tem alterações em parte superior do tronco e membros superiores, mas pode ter outros padrões de acometimento. Pode ocorrer atrofia dos músculos interosseos da mão. + Perda sensorial: dor e temperatura (cruzamento de trato espinotalamico); poupa região sacral. + Perda motora: fraqueza e até atrofia em braços e pernas. Pode ocorrer na ausência de fratura óssea vertebra. Síndrome medular anterior: + Etiologia: isquemia do território da artéria espinhal anterior (ex. compressão – tumor, hérnia discal, espondiloartrose). + Perdas: função motora (primeira envolvida); perda sensibilidade epicrítica e térmica. + Preservação relativa: propriocepçãoconsciente (posição) Síndrome medular posterior: + Etiologia: lesão da artéria espinhal posterior; aterosclerose (perfusão deficiente por colaterais); deficiência de vitamina B12. + Perda: sensibilidade proprioceptiva (posição) – dificuldade de caminhar, fechar os olhos. Sinal de Romberg positivo e outras provas de sensopercepção. + Relativa preservação: motora, dor e temperatura + Prognóstico: melhor que a síndrome medular anterior. Síndrome do cone medular e cauda equina: a cauda equina é encontrada a partir de T12-L1. Essa síndrome pode ter início súbito ou gradual, tendo déficits simétricos. + Etiologias: iatrogenia de punção lombar; síndrome do canal estreito (espondiloartrose). + Manifestações: - Dor inconstante em períneo e coxas. - Fraqueza sacral (tônus anal). - Sensibilidade: hipo ou anestesia em sela (distribuição sacral); sensibilidade dissociada (siringomielia). - Perda de reflexos profundos: aquileano e patelar. - Bexiga neurogênica e impotência precoce e marcante. - Claudicação neurogênica – caminhada provoca dor que melhora com repouso (síndrome do canal estreito). Página � de �15 79 Síndrome de Brown-Séquard (hemissecção medular): + Etiologias: trauma penetrante (arma branca), radiação, descompressão bárica, inflamação. + Manifestações: ipsilateral (fraqueza e senso de posição) e contralateral (perda de sensibilidade térmica e dolorosa). MIELOPATIAS AGUDAS: inflamatórias, vasculares (isquêmica e hemorrágica), compressão mecânica (traumática, não traumática). Trauma raquimedular: de acordo com o nível do trauma há determinado comprometimento de sensibilidade e motricidade. Mielopatias inflamatória: + Mielite transversa: evolução de dias a semanas. Geralmente ocorre uma infecção viral prévia (1/3). Pode atingir todos os níveis da medula, mas o mais comum é o nível de T8-T12, a cervical é atingida apenas em 10% dos casos. Incidência de 0,13/100.000. Pode ser uma manifestação inicial de esclerose múltipla (5-10%) e síndrome de Devic. - Neuromielite óptica (Síndrome de Devic): anticorpos contra aquaporina 4. Se caracteriza por neurite ótica recorrente bilateral ou unilateral e mielite extensa (mais de 2 segmentos de extensão). Geralmente não há envolvimento do encéfalo. + Colagenases: lúpus eritematoso sistêmico (mielite transversa, mielopatia subaguda); síndrome de Sjögren. + Infecções: HIV, HS2, CMV, toxoplasmose; herpes vírus tipo 1; herpes zoster; Schistosoma mansoni; cisticercose, outros. - Espaço epidural, meninges, espaço subdural: abscesso epidural (S. aureus), aracnoidite crônica. ° Abcesso epidural: vem por via hematogenica, sendo clássico no paciente jovem com espinhas. Paciente tem febre e muita dor na coluna. Pode se estender para medula, levando a uma necrose inflamatória. É um emergência e o abscesso precisa ser drenado logo. ° Aracnoidite crônica: geralmente afeta múltiplas raízes nervosas. - Medula espinhal: abscesso intramedular (estafilococo, estreptococo); mielite transversa (20-40% viral); HIV (mielopatia vacuolar), HTLV-1 (não responde a antirretrovirais), outros. Mielopatias tóxicas ou metabólicas: + Degeneração combinada subaguda: por deficiência de vitamina B12. É combinada porque tem envolvimento do cordão posterior (sensibilidade profunda), tratos corticoespinhais (síndrome piramidal), neuropatia periférica. + Metotrexate, citosina arabinosídeo intratecal. + Deficiência de vitamina E. + Mielopatia hepática. + Mielopatia por radioterapia: cada vez menos comum. - Precoce: 6 semanas a 6 meses pós-radioterapia. Tratada com corticoide. - Tardia: 6 meses a 4 anos. Oclusão progressiva por proliferação endotelial da microcirculação. Tratamento é anticoagulação. Mielopatia e neuropatia + Adquirida: - Deficiência nutricional: vitamina B12, vitamina E, folato, mielopatia associada a AIDS com alteração do metabolismo de vitamina B12. - Infecciosa: HTLV-1, HIV, sífilis. - Inflamatória: síndrome de Sjogren, sarcoidose. - Toxica-geográfica: cassava, latirismo, fluorose, mielo-opticoneuropatia subaguda, mieloneuropatia tropical. + Hereditária - Com anormalidade metabólica: adrenomieloneuropatia, leucodistrofia metacromatica, doença de Krabbe, abetalipoproteinemia, deficiência de vitamina E familial, defeitos da cadeia respiratória, doença por corpos de poliglucosan adulta - Sem anormalidades metabólicas: paraplegia espástica hereditária, atrofia espinocerebelar. MIELOPATIAS CRÔNICAS: espondilose cervical; compressão tumoral; esclerose múltipla; siringomielia; paraparesia espástica tropical (HTLV-1 –retrovírus); mielopatia vacuolar por HIV. Mielopatia espondilótica: cervical ou lombossacra. + Mielopatia espondilótica cervical: fraqueza e atrofia muscular dos membros superiores, sem Página � de �16 79 envolvimento sensitivo ou acometimento dos membros inferiores. Dificuldade de abdução dos ombros, sinal do braço caído ou punho caído. Síndrome da cabeça caída por atrofia muscular cervical posterior. Amiotrofia unilateral (mais frequente) ou bilateral. Idade de início aos 30-60 anos. Mais frequente em homens. Tratamento é fixação. Compressão tumoral: + Extradural (55%): metástase (pulmão, mama. Linfoma, próstata). + Intradural e extramedular (40%): neurofibromas, meningiomas, Schwannoma, ependimoma. + Intramedular (5%): ependimomas e astrocitomas (geralmente em crianças). Miscelânea (33%) – hemangioblastoma, lipoma, teratoma, dermoide, epidermoide, metástases. Paraplegias espásticas familiares: + Formas de herança: autossômica dominante, autossômica recessiva, ligadas ao X. + Formas clínicas: não complexas ou complexas. As complexas são aquelas associadas a outros problemas neurológicos (ex. epilepsia, retardo mental, mal formações) ou distúrbios metabólicos. TRATAMENTO: Etiológico: clínico e cirúrgico. Sintomático: reabilitação (fisioterapia motora, urológica); órteses- próteses; analgésicos; drogas anti-espasticidade, antidepressivos; psicoterapia, terapia ocupacional. Página � de �17 79 Esclerose lateral aminiotrófica É uma das doenças do neurônio motor junto com esclerose lateral primária, atrofia espinhal progressiva, paralisia bulbar progressiva e paralisia pseudobulbar. É uma doença fatal, caracterizada por perda progressiva de neurônios motores superiores e inferiores (nível bulbar e medular). Exames de imagem mostram que com o tempo outras áreas do SNC acabam sendo afetadas (entra em estado vegetativo). Doenças do neurônio motor: quando aparecem sintomas geralmente mais de 50% vias descendentes e mais de 50% células do corno anterior da medula estão comprometidos. + Síndrome do neurônio motor superior: espasticidade, hiperreflexia, Babinski, Hofmann. + Síndrome do neurônio motor inferior: atrofia muscular, fasciculações (cervical para níveis inferiores). HISTÓRICO: Foi descrita por Jean-Martin Charcot em 1869, sendo chamada de doença de Charcot. Nos EUA é chamado de doença de Louis Gehring (1939). EPIDEMIOLOGIA: 90-95% esporádica e 5-10% familial (geralmente autossômica dominante). Prevalência de 1,5-2,7/100.000 habitantes. Incidência de 2,7/100.000/ano. Afeta mais os homens (H1,5:1M), com mediana de idade de 64 anos (50-65). Cerca de 5% tem início com menos de 30 anos. Incidência em maiores de 80 anos é 10,2/100.000 por ano para homens e 6,1/100.000 por ano para mulheres. Sobrevida em média é de 3-4 anos. FISIOPATOLOGIA: diversas causas vem sendo descritas para essa doença. A teoria mais famosa é da deficiência da superóxido dismutase (SOD1), que faz a metabolização do glutamato. Sem ela ocorre uma toxicidade glutamatérigica. Por isso uma das tentativas de tratamento é com um inibidor da formação de glutamato, mas ele só consegue retardar a evolução da doença (retarda em 6 meses a necessidade de traqueostomia). Fatores ambientais: acredita-se que tenha envolvimento com dieta, ocupação, tabagismo, poliomielite, jogadores de futebol profissional, atividade física, idade materna, localização geográfica, lesão por eletricidade,exposição a toxinas, trauma, anos de educação. Atualmente a única confirmação é que tabagistas tem maior chance de desenvolver a doença. Fatores genéticos: muitos genes já foram descobertos, mas nenhuma ainda possibilitou o desenvolvimento de um tratamento específico. DIAGNOSTICO: há critérios diagnósticos. Clínica: atrofia muscular, etc. + Forma bibraquial: há atrofia dos braços. Geralmente acomete mais idosos. Sobrevida acima do esperado para a doença. Exames complementares: + Neuroimagem: degeneração walleriana; outros fatores que possam estar agravando a situação (ex. espondiloartrose). + Biopsia muscular: não é feito, mas se for mostra uma alteração da distribuição das fibras musculares, fazendo um reagrupamento (sinal de reinervação - compensação). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: poliomielite. TRATAMENTO: sintomático. Suporte ventilatório: quando a capacidade vital está menor que 50%. Geralmente quando frequência respiratório maior que 35 rpm, PaCO2 maior que 50mmHg, PaO2 menor que 50 mmHg. Pode ser suporte não invasivo (BPAP, CPAP) ou invasivo (entubação oro-traqueal, traqueostomia). Página � de �18 79 Esclerose múltipla Doença inflamatória, autoimune, desmielinizante (oligodrendrocito) do sistema nervoso central que tem: evidência de disseminação no espaço; evidência de disseminação no tempo; inexistência de causas para sinais e sintomas (ambientais e genéticos); hereditário em 5% dos casos. EPIDEMIOLOGIA: prevalência de 15/100.000 no Brasil; de 100/100.000 nos EUA e Europa. Há predomínio em mulheres (70-75%), entre 20-40 anos, caucasiana e que vivem em locais frios. Por isso no Brasil é mais comum em Sã Paulo e Região Sul. Idade: predomínio em jovens, com idade de início antes dos 16 anos de idade em 5% dos casos. O pico de início é na puberdade (20 anos), com recorrência aos 28-30 anos. FISIOPATOLOGIA: processo inflamatório desencadeado por fatores ambientais e genéticos, sendo que há envolvimento da imunidade celular e humoral (reação de hipersensibilidade tipo IV). Ocorre permeabilidade pela barreira hemato- encefalica para entrada desses componentes no sistema nervoso central, levando a um processo inflamatório e desmielinização dos neurônios. Isso provoca alterações no impulso nervoso. Os sinais e sintomas produzidos variam de acordo com o local onde essa desmielinização ocorre. Após 2- 3 meses pode ocorrer remielinização. Geralmente existe uma fase de muita desmielinização e depois para e há anos de progressão. Causa: hereditária (5%); fatores ambientais e genéticos. + Hereditariedade: chances de desenvolver esclerose múltipla é de 1/1000 se não tem parentes com esclerose; 1/100 se tem um parente de segundo grau (tio, tia, avôs); 1/40 se tem um pai, mãe ou irmão; 1 em 4 se tem gêmeos idênticos. + Ambiental: - Pessoas que mudam de uma cidade para outra de alta prevalência aumentam o risco de desenvolver esclerose múltipla. - Esclerose múltipla ocorre mais distante da linha do Equador (redução da vitamina D em áreas de pouco sol) - Infecção: vírus (herpes, adenovírus, rubéola, retrovírus) e outros (Borrelia, clamídia, superantígenos) mimetizando. A semelhança entre antígenos estranhos e do próprio corpo pode levar a ativação de células auto reativas por reatividade cruzada. ° EBV e HHV6 são os principais suspeitos. Isso porque existe um número elevado de anticorpos anti-EBV em pacientes; há uma soropositividade para o EBV de 100% em pacientes (co ntra 90% da população normal); há uma correlação entre a reativação do vírus EBV (que estava latente) com os surtos da esclerose múltipla. O risco de esclerose é maior nos indivíduos com história de mononucleose infecciosa. + Imunogenética: existem haplótipos de MHC que aumentam a susceptibilidade a doenças auto- imunes (HLA-DRB*1501-DQA1*0102-DQB1*0602). DISSEMINAÇÃO NO ESPAÇO (MULTIFOCAL): pode ter alteração em vários locais - nervos cranianos no tronco (ex. nervo óptico), encefálo, medula, multifocal. Essa disseminação pode ser evidenciada pela clínica ou por exames de imagem. Exames de imagem: mostram lesões infratentoriais, justacorticias, periventriculares, cerebelo, medula espinal, etc. As lesões características da esclerose múltipla são em “chama de vela” (processo inflamatório ao redor de vênulas). Relação clínica-imagem: nem sempre há esta relação, podendo ter clinica sem imagem correspondente ou imagem sem clinica correspondente. Obs: é chamado de síndrome radiológica isolada (RIS) quando há um achado ocasional no exame de imagem, sem sintomas. DISSEMINAÇÃO NO TEMPO: ataques recorrentes ou progressão. Pode ser clínico ou em imagem. Exame de imagem: + Lesões ativas: tem acumulo de gadolínio, que é um sinal de inflamação aguda. Desaparece 6-8 semanas depois. + Lesões antigas: podem ser hiperintensas (remielinização) ou em “buracos negros” (lesão axonal). EVENTOS NA ESCLEROSE MÚLTIPLA: surto, recorrência, exacerbação, progressão. Página � de �19 79 Surto, recorrência ou exacerbação: são caracterizados por episódio agudo de disfunção do SNC, com duração de pelo menos 24 horas. Ausência de febre ou alteração metabólica. Todos os eventos que ocorrem dentro de um mês são considerados de um único surto. + Pseudosurtos: não são surtos verdadeiros. São consequências de antigas desmielinizações, pois a região nunca volta a sua capacidade normal (parece que fica com mais canais de sódio que o normal). Paciente tem sintomas semelhantes a quando teve na desmielinização original. Geralmente desencadeados por aumento de temperatura (ex. febre) ou alteração metabólica. + Características clínicas primeiro surto: - Neurite óptica: tipicamente unilateral; retrobulbar; dor típica; “alguma recuperação”; ausência de exudatos na retina; raro hemorragia. É a terceira apresentação mais frequente. - Mielite: parcial motor e sensitiva, sendo a sensitiva a mais frequente; Sinal de Lhermitte (sensação de choques que percorrem a coluna cervical e dorsal, com irradiação para os membros superiores, e por vezes até os inferiores quando o paciente realiza a flexão da coluna cervical); disfunção bexiga e intestino. É a apresentação mais frequente. - Tronco/cérebro: síndromes motoras oculares (ex. oftalmoparesia internuclear, nistagmo); síndromes sensitivas cruzadas/hemisensorial; hemiparesia; neuralgia do trigêmeo; espasmos hemifaciais. As paresias são a segunda apresentação mais frequente. - Cerebelo: tremor; síndrome atáxica aguda. - Paroxismos: espasmos tônicos. Remissão: melhora ou completo desaparecimento dos sintomas ou ambos que estiverem presentes pelo menos 24 horas e deverá durar pelo menos um mês para se considerar significante (isso porque em 30 dias ocorre remielinização). FORMAS CLÍNICAS: forma assintomática (raríssimo) ou sintomática (remitente recorrente; primariamente progressiva; secundariamente progressiva; progressiva recorrente). Remitente e recorrente (RR-MS): ataques com completa ou incompleta recuperação e estabilidade entre os surtos. É a mais frequente (85-90% dos casos), sendo que a maioria ocorre antes dos 40 anos. Afeta duas vezes mais as mulheres. Os sintomas dependem da parte do SNC afetada e a duração dos surtos pode ser de semanas até anos, sem acumulação de incapacidade (escala de incapacidade). Secundariamente progressiva (SP-MS): incialmente é remitente e recorrente, mas tem progressão com mais ou menos surtos. Ocorre em 10% dos casos. Cerca de 80% das pessoas com a remitente recorrente desenvolvem a secundária progressiva. Ocorre a partir dos 40 anos. Deixa de existir a fase de remissão e a incapacidade vai se acumulando progressivamente. É a fase mais debilitante da esclerose. Progressiva recorrente: inicia com gradual deteriorização com episódios subsequentes. Primariamente progressiva: declínio gradual com ausência de surtos. Geralmente pacientes do sexo feminino acima de 40 anos. Há progressão. A paraparesia espástica é a mais frequente. DIAGNÓSTICO: + História: episódios prévios (surtos), outrasdoenças, história familiar, “credibilidade”. + Exame físico: “evidência objetiva”, outras lesões. + Testes adicionais: ressonância, exame de liquor, tomografia, potencial evocado. Página � de �20 79 - Ressonância magnética: exame de critério diagnóstico. Existem protocolos pré-estabelecidos (ex. tem que fazer imagem com contraste). - Potencial evocado visual: mostra comprometimento subclínico do nervo óptico. Não é um critério diagnóstico, só um exame auxiliar. O paciente é colocado na frequente de um computador com uma imagem. Coloca-se eletrodos que fazem o trajeto da via ótica até o córtex e isso é transformado em linhas de um gráfico. Por exemplo, considerando o trajeto do nervo optico, caso houvesse uma desmielinização ou remielinização, o valor seria muito maior que 100ms (resposta retardada). - Liquido cerebroespinhal: uso para diferenciar com outras doenças (ex. infecções) e pela procura de imunoglobulinas (principalmente IgG). A presença de imunoglobulinas ocorre pela quebra de barreira, não sendo especifica para a esclerose múltipla. Há index elevado de IgG (index = [IgG liquor/ albumina líquor] / [IgG sérico/ albumina sérica]). Há bandas oligoclonais de imunoglobulina (BOC) na eletroforese, pois existe uma ativação crônica de linfócitos B oligoclonais (o aumento da sobrevida do linfócito B ocorre devido interação deste com linfócito T). Critério diagnóstico: leva em consideração a apresentação clínica e os exames complementares. ! DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: tem amis de 100 diagnósticos diferenciais. Infecção: Lyme, sífilis, leucoencefalopatia multifocal progressive, HIV, HTLV-1. Inflamatório: LES, síndrome de Sjogren, vasculite, Sarcoidose, D Bechet’s. Metabólico: deficiência de vitamina B12, adrenoleucodistrofia, doenças mitocondriais, outras doenças genéticas. Neoplasia: linfoma de SNC. Doenças medulares: malformação, degenerative spine disease. TRATAMENTO Surto: corticosteroide (0,5-1g de metilpredisolona intravenosa por 3-5 dias) para reduzir a reação inflamatória. Estudos mostram que o uso de corticoide melhora rapidamente a função visual, reduz as recidivas de neurite optica e diminui o risco de desenvolvimento da esclerose nos dois anos após uma neurite optica. Formas + Recorrente e remitente: imunomoduladores (ex. Rebif, Betaserona, Copaxone, Avonex), imunossupressivos, plasmaferese, imunoglobulina, transplante autólogo, outros. - O medicamento com maior resposta é o natalizumab (reverte lesões), o problema é que o uso deste pode levar a reativação de um vírus JC, presente em 40% da população, que migra para SNC e causa desmielinização e destruição axonal (leucoencefalopatia multifocal progressiva). Por isso paciente positivos para JC podem tomar esse medicamento por no máximo 2 anos, já que após isso o risco da leucoencefalopatia é oito vezes maior. Portanto, esse medicamento não é usado em casos leves. + Secundaria progressiva: só tem tratamento se continuar tendo surtos. Página � de �21 79 + Progressiva primaria: ausência de drogas eficazes. Parece que o anticorpo monoclonal Ocraclizumab tem algum efeito, mas não foi confirmado ainda. CASOS CLÍNICOS: Caso 1: Paciente sexo feminino, 24 anos há 3 dias paresia de membro inferior direito com evolução de 24 horas permanecendo com paresia (há 3 dias). Ao exame paresia de membro inferior direito com hiperreflexia. HMP: perda visual há 1 ano em olho direito que permaneceu por 2 semanas com posterior recuperação completa. Forma remitente recorrente ou surto e remissão. + Evolução: Aos 35 anos anos com história de 6 surtos (“crises de paralisias”, perda de sensibilidade, alteração da coordenação) e atualmente sem surtos mas com dificuldade progressiva de marcha sem melhora dos sintomas. Forma secundária progressiva. Caso 2: queixa principal de dificuldade para andar. Paciente do sexo feminino, 40 anos, há 3 anos notou que tinha dificuldade para dançar, sensação de pé direito pesado, na época foi ao ortopedista e foi indicado palmilha. Seguiu com piora notando que arrastava a perna direita. Há 6 meses dificuldade progressiva também na perna esquerda. Ao exame hiperreflexia de membros inferiores com hipertonia espastica. Marcha parética espástica. Ressonância magnética com múltiplas lesões desmielinizantes. Forma primária progressiva. Página � de �22 79 Neuropatias periféricas Pode ter diferentes manifestações clinicas dependendo de qual fibra nervosa está acometida (ex. fraqueza, parestesia, ataxia, anestesia, alodinea, etc). NERVO PERIFÉRICO: compostos de neurônios de diferentes espessuras, com diferentes quantidades de mielina. Cada espessura de fibra traz ou leva diferentes tipos de informação (tabela ao lado). AVALIAÇÃO DA NEUROPATIA PERIFÉRICA: ANAMNESE Parte do sistema nervoso periférico envolvida: motor, sensitivo, autonômico. Distribuição: + Mononeuropatia: acomete uma única região, mas paciente nem sempre consegue localizar. + Mononeurite múltipla: neurite acomete diferentes regiões, sendo assimétrico. + Polineuropatia: neurite simétrica. É tamanho dependente, acometendo primeiro nervos mais longos. Forma padrões “em luva” ou “em bota”. Tempo de evolução: a instalação da doença pode ser agudo (< 4 semanas); subagudo (4 a 8 semanas); ou crônica (> 8 semanas). Levar em consideração o tempo de instalação da doença em si, não a partir da chegada na consulta. Condições médicas associadas: + História mórbida pregressa - Endócrina: diabetes, hipotireoidismo. - Renal: insuficiência renal crônica, uremia. - Infecciosa: HIV, hepatites, herpes zoster, hanseníase, tuberculose. - Reumatológica: AR, lupus, vasculite, sarcoidose. - Hematológica ou neoplasia: linfoma, leucemia. - Pulmonar: granulomatose de Wegener. - Metabólica: porfiria intermitente aguda, leucodistrofia, adrenoleucodistrofia. + Drogas e medicações: geralmente o paciente faz associação temporal com o uso da droga e o surgimento da neurite (exceto amiodarona que tem efeitos 2-3 anos depois do uso). - Medicações: amiodarona (antiarrítmico), fenitoína (anticonvulsivante), vincristina (quimioterápico), RIP (tuberculostático), talidomida e dapsona (hanseníase). - Intoxicação exógena: álcool, tolueno, chumbo, mercúrio. + História familiar: casamento consanguíneo de pais ou avós. - Sintomas semelhantes na família: neuropatia hereditária. - Doenças associadas em familiares: vasculite, hipotireoidismo, diabetes mellitus, insuficiência renal crônica. EXAME FÍSICO: alteração de trofismo cutâneo; alteração de trofismo muscular; diminuição de força muscular; hipotonia; hipo ou arreflexia; alteração de sensibilidade (falso positivo nos paciente com mais de 65 anos de idade – diminuição de tato e sensibilidade vibratória de MMII); palpação de nervos periféricos; alteração de marcha e equilíbrio. EXAMES COMPLEMENTARES: Investigação laboratorial: variam de acordo com a sintomatologia e comorbidades. + Primeira etapa: busca de doenças mais comum como vasculites, diabetes, hipotireoidismo, insuficiência renal, etc. Pedir glicemia, hemoglobina glicada; creatinina, uréia; TSH, T3 e T4 livre; VHS, proteína C reativa; hemograma; pesquisa de BAAR na linfa (hanseníase); função hepática; sorologias HIV, hepatite B e C. + Segunda etapa: dosagem de vitamina B12, ácido metilmalônico e homocisteína; eletroforese de proteínas; dosagem sérica de IgG, IgM e IgA; FAN, FR, anti-Ro, anti-La, ANCA; investigação de neoplasias. Página � de �23 79 + Terceira etapa: - Screening toxicológico (metais pesados, cobre). - Dosagem de metabólitos (porfibilinogênio urinário, ácido d-aminolevulínico, porfibilinogênio deaminase, ácidos graxos de cadeia longa). - Anticorpos (anti-MAG, anti-sulfatídeo, anti-GM1, anti-GQ1b, anti-ANNA-1, anti-Hu). - Testes genéticos. Estudo eletrofisiológico: tem como objetivo localizar a lesão; avaliar nervos com alterações subclínicas; descobrir o mecanismo patológico predominante (desmielinização ou lesão axonal); desenervação ativa e/ou crônica;prognóstico (mielina se refaz, axônio não). + Estudo da condução nervosa: feita com estímulos elétricos controlados, permite identificar a velocidade de condução nervosa. Pode ajudar a diferenciar se a doença é desmielinizante (tem redução da velocidade de condução) ou axonal (tem redução da amplitude de despolarização). + Eletromiografia de agulha: registro da atividade elétrica muscular através da inserção de eletrodo de agulha no músculo. + Técnicas especiais: teste de estimulação repetitiva; onda F; reflexo H; Blink reflex. Biopsia de nervo periférico: para avaliação da estrutura. Raramente é utilizado. + Indicações: suspeita de hanseníase com pesquisa na linfa negativa (hanseníase na forma neural pura); vasculite (vasa nervorum); amiloidose; sarcoidose; infiltração neoplásica. + Escolha do nervo: nervo afetado clinicamente; afetado eletrofisiologicamente; função sensitiva (ex. nervo sural), jamais tirar um com função motora; sequelas. TRATAMENTO: controlar a causa, tratamento específico, tratamento sintomático. CAUSAS MAIS FREQUENTES: mononeurites (síndrome do túnel do carpo), mononeurite múltiplas (hanseníase), neuropatia periférica (neuropatia diabética). SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO: compressão do nervo mediano no túnel do carpo (ossos e retinaculos). Sintomas: + Dor e/ou parestesia na mão. + Déficit sensitivo no território do nervo mediano. + Pior à noite ou após uso frequente. + Melhora com movimento (“sacudir”) das mãos (sinal de flick). + Derruba objetos. Exame físico: + Alteração de sensibilidade predominantemente no território do nervo mediano (testar na ponta do terceiro dedo). + Pode ter alteração autonômica (mão mais seca, fria, úmida, cianótica). + Hipotrofia ou fraqueza da região tenar. + Manobra de Phalen: paciente junta os punhos fazendo uma angulação de 90° durante 60s, reproduzindo clínica de parestesia ou dor. Sensibilidade cerca de 51%, especificidade de 76%. + Sinal de Tinel: percussão de qualquer trajeto de nervo periférico, produzindo sintomas no seu território proximal ou distal. No nervo mediano tem sensibilidade de 60% e especificidade de 47%. + Formato do punho: - Calcular a relação entre a largura e a altura do punho, se ela for maior ou igual a 0,7 indica uma maior predisposição para a síndrome. Sensibilidade é de 69%. - Se não puder medir, pode-se usar o polegar e o terceiro dedo da outra mão para abraçar o pulso. Se não conseguir fechar tem predisposição a síndrome. Exames complementares: ultrassonografia (espessamento do n. mediano). Tratamento: + Tratar causa: diabetes mellitus, hipotireoidismo, artrite reumatoide, etc. + Uso de tala: imobilização, evitando movimentos inconsciente. + Infiltração local: diminuição da dor. + Descompressão cirúrgica. HANSENÍASE: infecção pelo Mycobacterium leprae (BAAR), que prefere áreas mais frias e superficiais. Transmissão se dá por contato frequente e prolongado do paciente e portadores da Página � de �24 79 forma multibacilar. Bacilo invade célula de Schwann, provoca dismielinização, reação inflamatória e fibrose do nervo. Segue-se a isso a remielinização e consequente espessamento do nervo (pelas frequentes dismielinizações e remielinizaçãoes). Diagnóstico: + Clínica: lesão de pele e nervo; madarose (queda de parte da sobrancelha); hipoestesia e parestesia no território do nervo; - Nervos mais afetados: n. sural, n. ulnar, n. radial superficial, n; auricular posterior, n. mediano (no túnel do carpo), n. fibular (na cabeça da fíbula). + Exames complementares: reação de Mitsuda (prognóstico); baciloscopia; exame histopatológico; sorologia?, PCR?. Tratamento: Dapsona, rifampicina, clofazimina. Lembrando que as duas primeiras podem causar neuropatia periférica pós-tratamento. NEUROPATIA DIABÉTICA: Manifestação clínica: pode fazer mononeuropatia, polineuropatia, mononeuropatia multipla, comprometimento visceral, etc. + Polineuroparia simétrica: é o mais comum. Tem sintomas distais em membros inferiores que evoluem para afetar também membros superiores. Há disestesia ( pior à noite); hipoestesia; alterações tróficas de pele e fâneros; fraqueza distal; hiporreflexia aquileu. - Hipoestesia em pés: sensibilidade de 90% e especificidade de 85-89%. Maior chance para o desenvolvimento de úlceras distais. Fisiopatologia: relacionada a hiperglicemia e a associação desta com dislipidemia e hipertrigliceremia. Isso altera os estímulos inflamatórios dentro das células, levando há um acumulo de radicais livres e apoptose da célula. Pode ter tanto comprometimento da parte vascular do nervo quanto do nervo propriamente dito. Tratamento: controle glicêmico intensivo; controle da dislipidemia; tratamento da dor neuropát ica. A dor pode ser muito incapacitante, chegando ao uso de tricíclico, IRS, bloqueadores de canais de cálcio, opióides. Caso um deles não tenha efeito pode-se alternar entre esses medicamentos ou combina-los. Página � de �25 79 Paralisia flácida aguda A fraqueza é uma queixa comum em prontos socorros. Cerca de 65% destes tem uma fraqueza generalizada. MIELITE TRANSVERSA IDIOPÁTICA: processo inflamatório na medula sem causa aparente. Critérios diagnósticos: + Critérios de inclusão: - Desenvolvimento de disfunção sensorial, motora ou autonômica atribuída à medula espinal. - Sintomas e sinais bilaterais (não necessariamente simétricos). - Nível sensitivo claramente definido. - Neuroimagem excluindo compressão extra-axial. - Inflamação na medula espinhal demonstrada por plocitose na LCR. Índice de IgG elevada ou realce do gadolínio na ressonância magnética dentro dos primeiros 7 dias - Progressão clínica com um nadir entre 4 horas e 21 dias após o início. + Critérios de exclusão: - História de radiação na coluna antes dos 10 anos. - Uma clara distribuição de déficits clínicos compatíveis com trombose da artéria espinal anterior. - Fluxo anormal sobre a superfície da medula espinhal que poderia ser consistente com uma malformação arteriovenosa. - Evidências sorológicas ou clínica de uma doença sistêmica autoimune. - Manifestações no SNC de uma causa infecciosa (ex. sífilis, doença de Lyme, HIV, HTLV-1, Mycoplasma, etc). - Lesões cerebrais na ressonância que são sugestivos de esclerose múltipla. - Neurite óptica prévia. Diagnósticos diferencial: doença desmielinizantes (ex. esclerose múltipla, neuromielite optica); doenças inflamatórias ou autoimunes (ex. LES, neurosarcoidose, Behçet); infecção bacteriana (ex. sífilis, tuberculose), viral (ex. herpes simples, CMV, EBV, influenza), parasitária (ex. toxoplasmose), fungica (ex. aspergilose); paraneoplasico. Paciente 1: mulher, 25 anos, previamente hígida. Há 15 dias teve dor abdominal, que evoluiu para tetraparesia flácida arreflexa e insuficiência respiratória (necessitou de intubação e ventilação mecânica). Nervos cranianos normais, sensibilidade normal. + Exames de complementares: - LCR: leucócitos 5/mm3, proteína 374 mg/dl. Suspeita de SGB. Feito imunoglobulinas intravenosas, mas sem melhora clínica. Solicitou-se então outros exames. - Porfobilinogênio urinário, coproporfirina e dosagem de ácido delta aminolevulínico normais. Suspeita de porfiria intermitente aguda. - EMG: discresia da amplitude do PAMC, com recrutamento diminuído, sensitivo normal. Isso mostrou que não é uma lesão desmielinizante e sim lesão de axônio. - Ressonância encefálica normal. - Ressonância cervical: alteração de sinal medular da junção bulbo-medular até a região distal da porção visualizada da medula, nas colunas anteriores da medula. SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ (SGB): distúrbio autoimune onde há lesão de nervos periféricos, pela formação de anticorpos anti-mielina ou anti- axônio. Por isso pode ser a síndrome com subtipo desmielinizante ou com subtipo axonal. Evolução: começa com uma infecção (ex. via aérea, do trato gastrointestinal, etc), seguida pela formação de anticorpos anti-gangliosideo. Após isso começam os sintomas, que devem progredir em menos de 4 semanas,até atingir um platô. Depois pode melhorar, podendo ainda ter uma incapacidade residual ou não. Critérios diagnósticos. + Necessário para o diagnóstico: fraqueza progressiva em membros inferiores e superiores associado a uma hipo ou arreflexia. + Aspectos adicionais: progressão em até 4 semanas; relativamente simétrico; sintomas sensitivos leves; alteração de nervo craniano (principalmente paralisia facial bilateral); disautonomia; dor. Página � de �26 79 + Duvida diagnóstica: suspeitar do diagnóstico se: LCR com mais de 50 células/ul; disfunção pulmonar grave em fraqueza inicial; sintomas sensitivos graves com pouca fraqueza; disfunção esfincteriana desde o início ou persistente; febre; nível sensitivo; fraqueza muito assimétrica; progressão por mais de 4 semanas. Prognóstico: depende de alguns fatores. Há um score que se faz na admissão hospitalar e depois de sete dias de admissão. Ele avalia a probabilidade do paciente não voltar a caminhar. Esse score considera: + Idade. + História de diarreia a até 4 semanas antes da fraqueza. Isso porque sugere infecção pelo Campylobacter jejuni, que faz a forma axonal (prognóstico pior). + Avaliação de grupos musculares. ! Tratamento: imunoglobulina hiperimune (2g/kg/ 5 dias); plasmaferese (cinco sessões em 2 semanas); analgesia; suporte ventilatório; cuidados intensivos. Paciente 2: homem, 58 anos. Há 16 dias, diminuição da força em membros inferiores, piora progressiva, de caráter ascendente, acometendo cintura pélvica, tronco, membros superiores, alteração da voz e dispneia. Ao exame tetraparesia flácida, predominantemente distal, arreflexa. Hipoestesia tátil e dolorosa em luva até cotovelo. + Exames complementares: - LCR: leucócitos 1/mm3, proteína 280 mg/dl. - EMG: polineuropatia desmelinizante com degeneração axonal secundaria e bloqueio de condução em nervos mediano e ulnar. Bloqueio de condução em um quadro agudo chama atenção para SGB. + Conduta: plasmaerese, com melhora clínica. PORFIRIA INTERMITENTE AGUDA: deficiência de porfobilinogênio deaminase pela mutação do gene HMBS (11q23.3). Isso causa um acumulo de ácido delta aminolevulínico no sangue porfobilinogênio na urina. Diagnóstico: urina avermelhada após exposição à luz; confirmação pelo acumulo de metabólitos (ácido delta aminolevulínico no sangue porfobilinogênio); dosar atividade de enzima; teste genético. Paciente 3: homem, 34 anos. Epilepsia desde 14 anos e idade, em uso de fenítoina e fenobarbital. Há 6 meses teve crise convulsiva, com fraqueza generalizada. Foi atendido em outro serviço, sendo encaminhado para fisioterapia, onde teve melhora parcial. Há 2 semanas, piora global da força muscular, com dispneia (necessidade de intubação e ventilação mecânica). Exame com diparesia facial, tetraparesia grave flácida, de predomínio distal, arreflexa. Hipoestesia tátil de mão direita e todo membro inferior esquerdo. + Exames complementares: - LCR: leucócito 2,5/mm3, proteína 26,1 mg/dl. - Dosagem de ácido delta aminolevulínico: 66,10 m/g de creatinina (VR < 4,5). - Porfobilinogenio urinário 1,38 mg/dl (VR < 0,1). - EMG: ausência de todos os potenciais sensitivos e motores testados, com desenervação aguda difusa. MIASTENIA GRAVIS: doença autoimune, com formação de diversos anticorpos, sendo os principais o anticorpo anti-receptor de acetilcolina. Diagnóstico: anticorpo anti-receptor de acetilcolina; teste de estimulação com decremento maior que 10%. Paciente 4: mulher, 17 anos, hígida. Há 3 dias, febre com dispneia (necessidade de intubação e ventilação mecânica). Ao exame pstose palpebral, diparesia facial, tetraparesia global, reflexos global ++/4+, sensibilidade normal. História relatada pelos familiares de que há 3 meses disfoia, dipoplia, ptose palpebral; há 2 meses fraqueza apendicular; há 1 mês disfagia. + Exames complementares: - EMG: teste de estimulação repetitiva com decremento de 51,2% em nervo mediano e 53,5% em nervo facial. - Anticorpo anti-AchR: 6,24 nmol/l (VR < 0,15). INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADOS: inibe irreversivelmente a enzima acetilcolinesterase, aumentando a acetilcolina na fenda sináptica. Com isso o sistema nervoso parassimpático fica hiperestimulado. Há retorno aos níveis normais quando há síntese de nova Página � de �27 79 enzima. Manifestações clínicas: miose, vomito, fasciculações, diarreia, bradicardia, sudorese, salivação, desidratação, hipotensão, pneumonia (aspiração das secreções), convulsões. Exames complementares: + Eletroneuromiografia: decremento significativo em baixa frequência seguido de incremento em alta frequência. Disfunção da fenda sináptica. Tratamento: atropina e tratamento suportivo. + Atropina: anticolinérgico que diminui os sintomas muscarinicos. Cuidado para não dar em excesso e causar intoxicação pela atropina. Paciente 5: homem, 37 anos. Há 12 horas, tetraparesia progressiva, acometendo face e segmento bulbar, evoluindo para insuficiência respiratória (necessidade de intubação e ventilação mecânica). Ao exame hiperemia conjuntival com miose; Hipotensão arterial, bradicardia, broncorreia; fasciculações difusas + Exames complementares: - EGM: PAMC repetitivo com decremento significativo seguido de incremento. - Colinesterase sérica - 230 U/L (VR > 4200) + Evolução: filha confirmou ingestão de organofosforados com intenção suicida. + Conduta: tratamento com atropina e ventilação mecânica de suporte. Extubado no terceiro dia de internação. MIOPATIA NECROTIZANTE: inflamação e necrose de fibras musculares desencadeadas por infecções (ex. HIV), drogas ou medicamentos, neoplasias. Paciente 6: homem, 19 anos hígido. Há 1 mês, mialgia difusa após esforço físico, acompanhado de edema muscular, evoluindo para fraqueza proximal de membro inferiores, fraqueza proximal dos quatro membros e cervical e febre. + Exames complementares: CK 26.167 U/l (VR < 200); anti-HIV positivo; EMG miopático; biopsia muscular com mioptia necrotizante, com fofatase ácida (indica disfunção do lisossomo) e fosfatase alcalina (reação inflamatória em atividade). + Tratamento: prednisona e imunoglobulina intravenosa, mostrando melhora clínica. Pac . NC HX/Lab EMG LCR Diagnóstico 1 Normais Diminuição de recrutamento Aumento de proteína Mielite transversa 2 Normais Desmielinizante e bloqueio de condução Aumento de proteína SGB 3 Dispiaresia facial Epilepsia/ fraqueza recorrente Ausência de potenciais Normal Porfiria intermitente aguda 4 Ptose palpebral Ac AchR+ TER om decremento - Miastenia gravis 5 Miose, broncorre ia Bradicardia PAMC repetitivo, TER com decremento - Intoxicação por organofosforados 6 Normais Aumento de CK Miopático - Miopatia necrotizante Página � de �28 79 ! Página � de �29 79 Síndromes hipocinéticas Incluídas nos distúrbios de movimento antigamente chamados de síndromes extrapiramidais. Podem ser de dois tipos, as síndromes hipocinéticas (ex. Parkinson) e as síndromes hipercinéticas (ex. coreias, discinesias). ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO: Programação: giro da área motora pré-central (área motora suplementar). Para programar o movimento recebe informações do lobo parietal (sensitivo – informações periféricas). Execução: pela via piramidal. Tem origem no córtex motor, descendo pelo trato corticoespinhal (primeiro neurônio motor), faz conexão com outro neurônio na medula (segundo neurônio motor), que sai para o músculo. Coordenação: cerebelo, que também recebe informações periféricas e mantem conexão com lobo frontal. Uma alteração no cerebelo causa falta de coordenação (ex. dismetria, ataxia). Modulação: gânglios da base. Alterações nestes causam hipocinesia e hipecinesia. PARKINSONISMO: Critérios diagnósticos: deve ter dois dos quatros sintomas abaixo, sendo que um deve ser, obrigatoriamente, a bradicinesia. + Bradicinesia: lentidão anormal dos movimentos. Pode ser percebido por “facies de jogador de poker” (diminui o número de piscadas [do normal 24/min pisca 4-12/min], ausência de expressão
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