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Rafaela Pamplona
RESUMO II – NEUROLOGIA
CEFALEIAS ............................................................................................................................................................................................... 1
MIASTENIA GRAVES ............................................................................................................................................................................... 7
DEMÊNCIAS ........................................................................................................................................................................................... 14
PARKINSON E TREMOR ESSENCIAL .................................................................................................................................................. 17
NEUROLOGIA VASCULAR .................................................................................................................................................................... 22
NEUROINFECÇÃO ................................................................................................................................................................................. 28
CEFALEIAS
Introdução
• Definição: dor localizada acima da linha que passa pelas
orbitas, meato acústico externo e transição occipito-cervical
▪ Abaixo da linha: dores faciais
▪ Abaixo da transição: cervicalgias
• A dor de cabeça geralmente é gerada pelo comprometimento
de estruturas intra ou extracranianas com inervação dolorosa
• Queixa comum nos ambulatórios de clínica médica e
neurologia
• 95% da pessoas tem ou terão um episódio de cefaleia ao
longo da vida
• Prevalência anual de cefaleia foi de 46%
▪ Cefaleia tipo tensional (46 – 78%)
▪ Cefaleia migrânea (14 – 16%)
▪ Cefaleia crônica diária (CCD) (3%)
▪ Cefaleia em salvas (0,1 – 0,3%)
• Migrânea e CCD são as que mais causam incapacidades na
vida diária
▪ Impacto econômico → 20% de absenteísmo!
- Traz perdas financeiras devido a redução da força de
trabalho
• Migrânea
▪ Mais prevalente em mulheres brancas e associada ao uso
de ACO
▪ Associada à baixa renda familiar e sedentarismo
• Problema de saúde publica
• Segundo a classificação internacional de cefaleias, pode ser
▪ Primaria
- Condição em que a dor de cabeça é a própria doença, não
existindo outra causa clínica específica para justificá-la
- Tipos: cefaleia tensional, enxaqueca (migrânea) e cefaleia
em salvas
▪ Secundária
- Relacionadas as doenças neurológicas orgânicas ou
sistêmicas que afetam o encéfalo – causa base
- São mais graves
Epidemiologia
• Cefaleia primária é mais comum que a secundária
• Cefaleia tensional
▪ Mais comum, incidência em 40 – 70%
▪ Ambos os sexos
• Enxaqueca (migrânea)
▪ Segunda mais comum, cerca de 15%
▪ Sexo feminino (3:1)
• Cefaleia em salvas
▪ Pouco comum
▪ Homens de meia idade
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Rafaela Pamplona
Migrânea ou Enxaqueca
• Enxaqueca, do árabe “ach-chaquica”, “hemicrânio”,
significando literalmente metade da cabeça – distribuição
característica da dor
• Aspectos clínicos
▪ Início em qualquer idade
- Mais comum durante a adolescência
- Abaixo dos 30 anos
▪ História familiar positiva (>90% casos)
▪ Prevalência 18% (mulheres) e 6% (homens)
▪ 2º mais comum de cefaleia primária
• Fisiopatologia
▪ Teoria vascular: vasoconstrição durante a aura e aumento
do fluxo na carótida externa durante a fase de cefaleia –
justifica a dor latejante, pulsátil
▪ Teoria neural: gerador no tronco encefálico
▪ Sistema trigeminovascular: ativação do núcleo caudal do
trigêmeo no bulbo com liberação de neuropeptídeos
vasoativos
• Migrânea sem aura ou enxaqueca comum
▪ Cefaleia recorrente
- Ataques com duração de 4 a 72h
▪ Características
- Localização unilateral (20%), bilateral 1/3 dos casos
- Pulsátil
- Moderada intensidade ou severa
- Exacerbação por atividade física
- Associada a náuseas e/ou vômitos
- Fotofobia
- Fonofobia
▪ Critérios diagnósticos
A. Pelo menos 5 ataques ❤ preenchendo os critérios B-D
B. Cefalia durando 4 – 72h
C. Cefaleia com pelo menos 2 características
- Localização unilateral
- Qualidade pulsátil
- Intensidade da dor moderada ou severa
- Exacerbada por atividade física rotineira, fazendo
que se evite (Ex: caminhar ou subir degraus)
D. Durante a cefaleia pelo menos 1 dos seguintes
- Náuseas e/ou vômitos
- Fotofobia ou fonofobia
E. Não atribuída a outro transtorno
• Migrânea com aura ou enxaqueca clássica
▪ Aura: sintomas neurológicos focais (visuais, sensitivos,
distúrbios de linguagem ou motores) reversíveis, que se
desenvolvem entre 5 – 20min com duração < 60 minutos
- Ocorre em 15 a 20% dos pacientes
- Não ocorre em todos os ataques
Ex.: Estreitamento do campo visual, parestesia
▪ Subtipos
- Aura típica com cefaleia migranosa
- Aura típica com cefaleia não migranosa
- Migrânea hemiplégica familiar
- Migrânea hemiplégica esporádica
- Migrânea tipo basilar
▪ Critérios diagnósticos
A. Pelo menos 2 ataques preenchendo o critério B
B. Aura de migrânea cumpre os critérios B e C para um dos
subtipos de migrânea
- B. Cefaleia durando 4 – 72h
- C. Pelo menos 2 características
Localização unilateral
Qualidade pulsátil
Intensidade da dor moderada ou severa
Exacerbada por (fazendo que se evite) atividade
física rotineira (ex: caminhar ou subir degraus)
C. Não atribuída a outro distúrbio
• Tratamento Migrânea
▪ Medidas gerais – não farmacológico
- Mudança do estilo de vida!!
- Evitar possíveis fatores desencadeantes
Identificar e evitar fatores desencadeantes
~ Álcool
~ Alimentos (chocolate, queijos, vinho tinto, glutamato)
~ Consumo excessivo de cafeína
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Rafaela Pamplona
~ Fome (evitar a perda das refeições) – jejum pode
desencadear crises
~ Padrões irregulares de sono (falta e o excesso)
~ Odores orgânicos
~ Esforços persistentes
~ Alterações nos níveis de estresse
~ Outros (luz, luminosidade)
~ Falta de exercícios físicos ou obesidade
Controlar deslocamentos ambientais
~ Mudança de fuso horário
~ Altas altitudes
~ Mudanças de clima
Avaliar a relação com o ciclo menstrual
- Tratar doenças concomitantes – DTM pode desencadear
crises e dificultar o tratamento
- Atividade física regular
- Padrão de sono regular – insônia pode precipitar crises
- Uso do diário das crises – avaliar se há melhorar no
padrão e identificar o fator desencadeante
- Orientação sobre o uso excessivo de analgésicos e
automedicação
O uso excessivo de analgésicos pode alterar a
percepção da dor
- Tratamentos não farmacológicos
▪ Farmacológico da crise – abortivo
- 1º Linha: analgésicos e AINES
Ibuprofeno 400mg, AAS 1000mg, Naproxeno sódico
500-550mg, Paracetamol 1000mg
- Derivados da ergotamina estão em desuso, devido aos
elevados efeitos colaterais
- 2º Linha: Triptanos (tratamento abortivo)
Sumatriptano oral 100mg, Rizatriptano 10mg,
Almotriptano 12,5mg, Zolmitriptano 2,5mg, Eletriptano
40mg, Frovatriptano 2,5mg, Naratriptano 2,5mg
~ Sumatriptana subcutânea 6mg se o paciente estiver
vomitando no início do ataque. Considere em ataques
resistentes a triptofano oral
~ Bolacha oral: Rizatriptano 10mg ou Zolmitriptano
2,5mg se a ingesta de líquidos piorar a náusea
~ Spray nasal: Zolmitriptano 5mg ou sumatriptano 20mg
se o paciente apresentar náuseas
- 3º Linha: Naproxeno sódico 500-550mg em combinação
com o triptofano
- 4º Linha: analgésicos de combinação de dose fixa (com
codeína se necessário; não recomendado para uso
rotineiro)
- Medicações auxiliares: metoclopramida (plasil) 10mg,
domperidona 10mg, haloperidol, dexametasona e
prednisona
Corticoide só é utilizado quando a crise dura mais de 72h
▪ Farmacológico da crise – profilático- Duração: aproximadamente 1 ano
Após 3 meses, as crises precisam reduzir cerca de 50%
– importância do diário das crises
- Indicações
Frequência das crises: 3 ou mais crises por mês
Grau de incapacidade importante: pessoal, familiar,
social e produtiva
Falência da medicação abortiva: ineficácia, uso ou
abuso excessivo, intolerância ou contraindicação para
uso de sintomáticos
Subtipos especiais de migrânea (basilar, hemiplégica,
com aura prolongada, com auras frequentes e atípicas,
infarto migranoso)
Ineficácia da profilaxia não farmacológica
- Betabloqueadores: propranolol, atenolol, nadolol e
metoprolol
- Antidepressivos: amitriptilina e nortriptilina
- Antagonistas serotoninérgicos: metissergida, pizotifeno e
ciproeptadina
- Anticonvulsivantes: VPA/DVPA, TPM
- Bloqueadores de canais de cálcio: cinarizina, flunarizina e
verapamil
É importante saber o medicamento, não a dose
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Rafaela Pamplona
Cefaleia do tipo tensional – CTT
• Forma mais comum de cefaleia primaria
• Classificação
▪ Cefaleia do tipo tensional episódica infrequente
▪ Cefaleia do tipo tensional episódica frequente
- Associada a distúrbio de músculos pericraniano
- Não associada a distúrbio de músculos pericranianos
▪ Cefaleia do tipo tensional crônica
- Associada a distúrbio de músculos pericraniano
- Não associada a distúrbio de músculos pericranianos
• Fisiopatologia
▪ Desconhecida
▪ Anormalidades na contração dos músculos cervicais e
temporais (natureza não esclarecida)
▪ Associação com ansiedade, depressão, ressentimento,
raiva, estresse
• CTT episódica infrequente
▪ Características
- Duração de minutos a dias – pode durar até 7 dias
- Menos de 1 vez por mês
- Dor é bilateral, em pressão ou aperto “em faixa”
- Leve a moderada intensidade
- Não piora com atividade física
- Não há náusea
- Pode ter fotofobia ou fonofobia
▪ Critérios diagnóstico
A. Pelo menos 10 crises que ocorrem menos que 1 dia por
mês em média (<12dias por ano) e cumpre critérios B-D
B. Cefaleia que dura de 30 min a 7 dias
C. Pelo menos 2 das seguintes características
- Localização bilateral
- Caráter em pressão/aperto (não pulsátil)
- Intensidade leve ou moderada
- Não é agravada por atividade física rotineira (caminhar
ou subir degraus)
D. Ambos os seguintes
- Ausência de náusea ou vômitos (pode anorexia)
- Fotofobia ou fonofobia – apenas um!
E. Não ser atribuída a outro distúrbio
• Hiperalgesia ou dolorimento pericraniano
▪ Aumento da sensibilidade dolorosa (palpação)
- Achado mais significativo na CTT
▪ Aumenta com a intensidade e a frequência da cefaleia
▪ Palpação dos músculos: frontal, temporal, masseter,
esternocleidomastóideo, esplênio e trapézio
• Tratamento da CTT
▪ Medidas gerais: orientação, hábitos saudáveis, exercícios,
sono, redução do estresse
▪ Analgesia: analgésicos simples, analgésicos associados à
cafeína e AINEs
▪ Profilaxia: antidepressivos tricíclicos, miorrelaxantes
associados
O tratamento é semelhante ao da enxaqueca, porém os
triptanos não serve
IMPORTANTE
TENSIONAL X ENXAQUECA
30min a 7dias DURAÇÃO 4 a 72h
Aperto/pressão DOR Pulsátil
Bilateral REGIÃO Unilateral
Leve a moderada INTENSIDADE Forte
Não há AGRAVANTES Esforço
Não há náuseas,
vômito
OUTROS SINAIS Náusea, vômito,
fotofobia
Estresse,
ansiedade, tensão
muscular
GATILHOS Insônia, café, vinho,
jejum, hormônios,
estresse
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Rafaela Pamplona
Cefaleia em salvas
• Cluster headache, cefaleia histamínica, cefaleia de Horton,
neuralgia esfenopalatina
• Mais rara, apesar da dor ser intensa é de pequena duração
• Cefaleia trigeminoautonômicas – frequentemente associada a
sintomas autonômicos, como rinorreia, hiperemia conjuntival
• Mais comum em homens
• Incidência elevada de tabagismo e alcoolismo
• Características
▪ Dor forte ou muito forte unilateral
▪ Orbitária, supraorbitária e/ou temporal
▪ Duração de 15 a 180 minutos
▪ Acompanhada por pelo menos 1 sinal ou sintoma
autonômico ipsilateral
- Lacrimejamento
- Congestão nasal
- Rinorreia,
- Edema palpebral
- Sudorese facial
- Miose
- Ptose
▪ Ocorrer até 8 vezes ao dia
▪ Não ser atribuída a outro distúrbio
• Tratamento
▪ Preventivo: Verapamil, metissergida, lítio e melatonina
- Verapamil é preciso realizar ECG seriado e o aumento da
dose deve ser gradual
▪ Neuromoduladores: VPA, TPM e GBP
▪ Preventivo transitório: naratriptano, corticoide
▪ Abortivo: oxigênio (VNI), sumatriptano
- Oxigênio é muito eficaz
- Sumatriptano subcutâneo não tem no Brasil
▪ Considerar encaminhamento precoce a um especialista
Cefaleias secundárias
• Há uma causa base para a dor
▪ Ex.: rompimento de aneurisma, tumor, algum evento
vascular, otite média aguda etc
▪ A causa mais grave é a hemorragia subaracnóidea
• Suspeitar se
▪ Instalação súbita “como um raio na cabeça”
▪ Caráter progressivo – pico máximo de dor em menos de
1min “a pior dor da minha vida”
▪ Iniciar após os 40 anos
▪ Instalação recente em portadores de neoplasias e/ou HIV
▪ Associada a sinal neurológico ou doença sistêmica
▪ Atípica
▪ Apresentar mudança de padrão
• Red flags
▪ “Pior” cefaleia sofrida
▪ 1º cefaleia grave
▪ Agravamento subagudo no decorrer de dias ou semanas
▪ Exame neurológico anormal
▪ Febre ou sinais sistêmicos inexplicados
▪ Vômitos precedendo a cefaleia
▪ Induzida por inclinação, levantamento de peso, tosse
▪ Perturba o sono ou ocorre logo ao acordar
▪ Doença sistêmica conhecida
▪ Início após os 55 anos de idade
• Abordagem prática
▪ Cefaleias agudas recorrentes
- Hemorragia subaracnóidea
Mais grave
Cefaleia em trovoada ou súbita
- Trombose venosa cerebral
Não é comum a dor muito intensa de imediato
- Infecções
- Traumas cranioencefálico e cervical
- Arterite de células gigantes
- Hipotensão intracraniana
▪ Cefaleias agudas
▪ Cefaleias crônicas progressivas
- Tumores intracranianos
- Hipertensão intracraniana idiopática (Pseudotumor
cerebri)
- Abscesso cerebral
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Rafaela Pamplona
Raciocínio clínico-neurológico
• Lembrar do diagnóstico
▪ Sindrômico: síndrome álgica-craniana
▪ Anatômico ou topográfico
Córtex Músculo
Subcórtex Cerebelo
Tronco cerebral Meninges
Medula Espaço subaracnóide
Raízes Crânio/partes moles
Nervos periféricos Vasos sanguíneos
Placa neuromuscular
▪ Etiológico
Vascular Mecano-traumático
Inflamatório/infeccioso Desmielinizante
Autoimune Degenerativo
Tóxico/metabólico Genético
Neoplásico
▪ Nosológico
- Doenças em si
• Primeiro, pior e súbito “a pior dor de cabeça da minha vida”
▪ AVC Hemorrágico intraparenquimatoso
▪ H.S.A
▪ Dissecção arterial
▪ Trombose venosa cerebral
▪ Apoplexia pituitária
▪ Outras hemorragias intracranianas
• Cefaleia progressiva
▪ Lesão com efeito de massa
- Neoplasia (primária? secundária?)
- Hematoma subdural/ Extradural
- Abscesso cerebral/ Lesões granulomatosas
▪ Hipertensão liquórica
- Hidrocefalia
• Cefaleia + sinais focais
▪ Lesões com efeito de massa
- Neoplasia (primária? secundária?)
- Hematoma subdural/ Extradural
- Abscesso cerebral/ Lesões granulomatosas
▪ AVCs isquêmicos ou hemorrágicos
▪ Neuroinfecções
▪ Hipertensão intracraniana idiopática
• Cefaleia + febre + rigidez de nuca
▪ Neuroinfecções
- Bacterianas
- Virais
- Fúngicas
- Parasitárias
▪ Doenças Autoimunes
▪ Carcinomatose meníngea
▪ Hipertensão intracraniana
• Cefaleia + início > 55anos
▪ Neoplasia
▪ Arterite temporal (células gigantes)
• Cefaleia + HIV/ câncer/ imunossupressão
▪ Neuroinfecções
- Viral
- Fungos
- Parasitas
- Bacterianas (+ granulomatosas)
▪ Neoplasia
- Linfoma
- Outras (principalmente metástases)Casos clínicos
CASO 1
Paciente, 20 anos, sexo feminino, chega ao PS com relato de
cefaleia em hemicrânio direito, de forte intensidade há 24 horas,
do tipo pulsátil, acompanhada por náuseas e vômitos, fonofobia
e fotofobia. Refere piora com atividade física. Já apresentou
mais de 5 episódios semelhantes no último mês, sempre com
dores incapacitantes, que a impede de realizar suas atividades
habituais.
Antecedentes: asma.
Qual o diagnóstico? Enxaqueca
Qual medicação você faria no PS? Analgésico, dexametasona,
haldol, plasil
Qual seria suas orientações? Evitar fatores desencadeantes
CASO 2
Paciente, 18 anos, apresenta há 2 meses crises diárias de
cefaleia, que recorrem mais de 5 vezes ao longo do dia,
caracterizadas por episódios que duram cerca de 30 minutos,
com dor na região orbitofrontal direita, associada a hiperemia
conjuntival, ptose palpebral e rinorreia ipsilaterais.
Qual é o diagnóstico? Cefaleia em salvas
Qual o tratamento na crise? Oxigênio
Qual o tratamento preventivo? Verapamil
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Rafaela Pamplona
CASO 3
Paciente, 32 anos, apresentando quadro de cefaleia há 2
meses, 3 vezes por semana, de caráter bilateral, em pressão,
tipo “faixa”, de moderada intensidade, com duração em torno
de 2 dias. Refere piora no fim do dia. Associa o início da
cefaleia, após ter sido promovido a gerente da empresa onde
trabalha. Nega náuseas e vômitos associados.
Qual o diagnóstico? CTT
Qual o tratamento? Preventivo – antidepressivos
CASO 4
Paciente, 55 anos, admitido na emergência do hospital com a
queixa de apresentar de forma súbita, há 30 minutos, a “pior
cefaleia da sua vida”, do tipo explosiva, associada a náuseas e
vômitos.
Antecedentes: DM, HAS e tabagismo.
Ao exame neurológico: NNCC sem alterações; Força, tônus e
trofismo sem alterações; RCP indiferente bilateral. Cerebelo:
Normal. Nuca rígida+; FO: normal.
Qual o diagnóstico? Cefaleia secundária a hemorragia
subaracnóide
Qual o exame você pediria? TC de crânio
Como você trataria? Causa base
MIASTENIA GRAVES
CASO 1
ID: SCF, sexo feminino, 32 anos, parda, balconista.
QP: Fraqueza muscular progressiva e fadiga há 15 dias.
HDA: Paciente relata que há cerca de dois meses notou “visão
borrada” com piora à noite e ao fazer leituras prolongadas e
com melhora ao acordar. Marido refere que, durante o mesmo
período, percebeu que as pálpebras da paciente estavam
ficando mais baixas. No último mês passou a apresentar
cansaço da mandíbula ao final das refeições e dificuldade de
deglutição, se engasgando com facilidade. Há cerca de quinze
dias, evoluiu com alteração na fala, fraqueza muscular
progressiva iniciada em MMSS, com dificuldade para pentear o
cabelo, que progrediu para MMII, prejudicando a deambulação
a ponto de necessitar de cadeira de rodas. Relata quadro de
fadiga e cansaço proeminentes ao final dia, principalmente, nos
dias mais estressantes
Exame Físico
Geral: NDN
Neuro: Vígil, orientada, obedecendo a comandos simples e
complexos. Isocórica e pupilas fotorreagentes.
Ptose palpebral bilateral, disártrica;
Motricidade ocular extrínseca fatigável com movimentação
contínua. Sem outros déficits de nervos cranianos. Tônus
muscular preservado.
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Rafaela Pamplona
FM grau 3/5 em MSE proximal e grau 4/5 em MSD proximal;
FM grau 2/5 em MMII proximal. Demais grupos musculares com
força preservada.
Grau 3 – vence a gravidade
Grau 2 – rola o membro
Reflexos tendinosos profundos +/IV globalmente. Reflexo
cutâneo plantar flexor bilateralmente.
+ hiporreflexo
++ normal
+++ vivo
++++ patológico
Avaliação de coordenação apendicular prejudicada.
Sensibilidade preservada
Histórico
• “Myasthenia gravis" (grega/latina) – fraqueza muscular severa
▪ "mys" = músculo
▪ "astenia" = fraqueza
▪ "gravis" = severo
• Thomas Willis, clínico inglês de Oxford, primeiras descrições
doença 1672 "paralysia spuria non habitualis"
• Primeiro relato miastenia grave 1868, Hèrard, clínico francês,
Hospital Lariboisière, Paris, "De la paralysie glosso-labio-
laryngée”
Introdução
• Adquirida, autoimune
• Também pode ser congênita ou neonatal
▪ Congênita: nasce com defeito na JNM
▪ Neonatal: mãe transfere anticorpos ao feto, bebê
desenvolve sintomas ao nascimento, evolução benigna
• Crônica
• Relativamente incomum
▪ 3 – 5 casos para cada 10mil habitantes
▪ Importante saber identificar
• Mais frequente doença na junção neuromuscular – JNM
• Mulher x Homem – bimodal
▪ Mulher: 20 – 30 anos
▪ Homem: 70 – 80 anos
Epidemiologia
• Incidência: 7-23 / 1.000.000
• Prevalência: 70 -320 / 1.000.000
• Mulher: 20-30 anos
• Homem: 70-80 anos
• A cada 10 mil – 3 a 5 afetados (OMS)
• Mortalidade: 1,7 / 1.000.000
Fisiopatologia
• Processo fisiológico
▪ O estimulo elétrico no componente pré-sináptico permite a
entrada de cálcio, que libera acetilcolina na fenda sináptica
▪ A acetilcolina se liga aos receptores do componente pós-
sináptico, que permite a entrada de sódio no músculo
▪ A entrada de sódio dá início a contração muscular
• Miastenia gravis
▪ Autoanticorpos agridem e destroem os receptores de
acetilcolina, dificultando a entrada de sódio
- Sem a entrada do sódio não ocorre contração muscular,
causando fraqueza
▪ Autoanticorpos contra as proteínas auxiliares MuSK e Lrp4
- Anti-MuSK: a contração fica prejudicada, pois os
anticorpos impedem a organização e agrupamento dos
receptores de acetilcolina
▪ Timoma e outros autoanticorpos (ou seja, titina)
▪ Soro negativos
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Rafaela Pamplona
Autoimune
• Justificativas importantes que justificam MG ser uma doença
imunomediada
▪ Autoanticorpos presentes 80% a
90% pacientes afetados
- 10% dos pacientes são soro
negativos
▪ Autoanticorpos reagem antígeno
específico (AchR)
▪ Autoanticorpos são transferidos
passivamente pela placenta →
Miastenia neonatal
▪ Redução níveis de autoanticorpos é associada melhora
clínica
- Crise miastênica: plasmaferese para filtragem e retirada
de anticorpos
• Timo
▪ Órgão linfoide com função de produzir células do sistema
imune
▪ Formado por células mióides, que possuem receptores de
acetilcolina, muSK e Lrp4 semelhante ao músculo
▪ Órgão imune com antigeno em seu interior, favorecendo o
desenvolvimento da doença
- Linfócitos T autorreativos: relacionado a imunidade
celular, o processo inflamatório causa crescimento do timo
por hiperplasia
• Linfócitos B, imunidade humoral, também produzem
anticorpos contra acetilcolina
• Via complemento
▪ Os anticorpos antirreceptores da acetilcolina pertencem às
subclasses 1 e 3 de imunoglobulina G (IgG), as quais ativam
o sistema complemento e se ligam, em sua maior parte, à
região imunogênica principal, que está localizada na parte
extracelular da subunidade α
Classificação Osserman e Genkins
• Antiga, em desuso
• Ainda é útil para prevalência de acordo com a forma
Classificação pela fundação americana
• A classe da fraqueza é avaliada de acordo com o músculo ou
grupo muscular mais severamente afetado na gravidade
máxima do paciente
▪ Classe I – fraqueza ocular
▪ Classe II – comprometimento além dos oculares
- a – predomínio de membros
- b – predomínio orofaringe: disfagia, disfonia e disartria
▪ Classe III – fraqueza moderada
- a – predomínio de membros
- b – predomínio orofaringe: disfagia, disfonia e disartria
▪ Classe IV – fraqueza grave, dificuldade de deambular
- a – predomínio de membros
- b – predomínio orofaringe: disfagia, disfonia e disartria
▪ Classe V – intubação
Principais sintomas e considerações no diagnóstico diferencial
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Rafaela Pamplona
• Forma ocular – 50% dos casos: diplopia, ptosee fraqueza da
MOE
• Sintomas bulbares – 15% dos casos: manifestação do NC 9,
10, 11 e 12, causando disfagia, disfonia, disartria
• Fraqueza distal é de responsabilidade do sistema piramidal,
que faz parte do SNC, sendo raramente manifestada
Quadro clínico
• Sinal cardinal: fraqueza muscular flutuante, apresentando
fadiga ao final do dia
▪ Grau de fraqueza muscular varia entre os dias, entre as hora
em hora e piora com a atividade e melhora no repouso
• 50% dos pacientes com tipo I – forma ocular – progridem para
a forma generalizada a doença após 3 anos, comprometendo
esqueleto apendicular
▪ Exame fibra única negativo em pcts tipo I implica que há
82% de chance de permanecer na forma ocular
• Não há um preditor para a generalização da doença, ou seja,
o sintoma que iniciou não determina se vai ou não generalizar
Diagnóstico
Quadro clínico + 1 teste confirmatório
Anamnese, exame
físico neurológico
Anticorpo
EMG (forma soro negativa)
• Tipo I: investigar diagnóstico diferenciais
• Buscar lesões do timo – RNM e TC
• Pesquisar outras doenças autoimunes
Exame neurológico
• Manobras de fatigabilidade clínica
▪ Olhar para cima por 60s: causa piora da ptose
▪ Abdução de MMSS por 2min: paciente não sustenta
▪ Elevação de MMII por 90s
▪ Sentar-levantar 20x, sem usar os braços
▪ Contar até 50 em voz alta: acentuação da disartria ou
disfonia
Prova farmacológica
• Teste Edrofônio (Tensilon)
▪ Não é mais utilizado devido aos efeitos colaterais –
bradicardia, hipotensão e choque
• Teste do gelo
▪ Compressa de gelo sobre as pálpebras por 1 a 2min, leva a
inativação temporária do anticolinesterásico
- Sensibilidade 96% Especificidade: 88%
- Valor preditivo negativo 95% - se não houver melhora da
ptose, provavelmente não é MG
Laboratorial – principais anticorpos na MG
• Baixa sensibilidade e alta especificidade
• Anti-RACh
▪ Mais comum
- 50% dos pacientes com MG ocular
- 85% dos pacientes com MG generalizada
▪ Não há correlação com a gravidade dos sintomas
• Anti-MuSK
▪ 40% dos 15% dos pacientes com MG generalizada
negativos para Anti-RACh
▪ Raramente são positivos na MG ocular
• Anti-LRP4
▪ 18% dos pacientes soro negativos para Anti-RACh e anti-
MuSK
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Rafaela Pamplona
Testes neurofisiológicos
• São realizados quando o teste de dosagem de anticorpo dá
negativo
• Estimulação repetitiva
▪ Estímulo de 2-3Hz por 10s
- Quanto maior a amplitude do potencial de ação, maior a
quantidade de fibras contraídas
- Com a estimulação repetida ocorre queda da amplitude
dos potenciais, pois não há comunicação efetiva entre o
nervo e o músculo
▪ Pesquisa mais em nervos proximais, pois a fraqueza é mais
pronunciada na musculatura proximal
- Distal
Nervo mediano – m. abdutor curto do polegar
Nervo ulnar – m. flexor ulnar do carpo
- Proximal
Nervo facial – m. nasal, m. orbicular do olho, m. orbicular
da boca
Nervo acessório – m. trapézio
▪ Decremento > 10%
- Disfunção na JNM: quando há queda da amplitude maior
que 10% entre o 1º e o 4º potencial
▪ Sensibilidade
- MG generalizada: 53 a 100%
- MG ocular: 17%, normalmente dá negativo
• Fibra única
▪ Padrão ouro
▪ Maior sensibilidade pouca especificidade
- É necessário ter clínica para MG
▪ 1agulha estuda 2 fibras muito próximas
- MCD – diferença significativa entre consecutivos
Por serem muito próximas não deve haver muita
diferença na resposta há estimulação
Jitter normal Jitter anormal
Sensibilidade dos testes diagnósticos
% positivo na
MG generalizada
% positivo na
MG ocular
Anti-RACh 80 a 90 40 a 55
Anti-MuSK 40 a 50 < 10
Estimulação repetida 75 < 50
Fibra única 92 a 99 80 a 95
Diagnósticos diferenciais
• Botulismo: compromete os canais de cálcio
• Eaton-Lambert: doença paraneoplásica associada a CA de
pulmão de pequenas. Paciente apresenta fadiga de início
insidioso e gradual, fraqueza e xerostomia
• Miastenia congênita: nasce com alteração ou ausência dos
receptores de ACh – baixa sobrevida
• Doenças Tireoide
• Blefaroespasmo: unilateral
• Neuropatia craniana diabética: neuropatia do III NC, desvio
para fora
• Miller Fisher: arreflexia, ataxia e oftalmoplegia
- Cerebelar: antes de fechar os olhos já cai
▪ Ataxia - Proprioceptiva: cai para lados diferentes
- Vestibulopatia: latência e cai para o lado lesado
• ELA: fraqueza muscular e sinais de comprometimento do 1º
neurônio motor
Tratamento
• Importante saber qual o tratamento mais efetivo e o tempo
máximo da efetividade
• Medidas gerais e preventivas
▪ Evitar infecções
▪ Evitar esforços físicos intensos
12
Rafaela Pamplona
▪ Evitar medicações que podem agravar o quadro
- Contraindicação absoluta
Bloqueador neuromuscular
ATB – aminoglicosídeo, quinolona, macrolídeo
Betabloqueadores – propranolol e atenolol
▪ Imunização
- Evitar vírus atenuado, principalmente contra H.Zoster
- Recomendado: influenza e pneumocócica
• Sintomáticos
▪ Terapia inicial
▪ Inibidor da acetilcolinesterase
▪ Piridostigmina (mestinon)
- Age rápido: 10 a 15min
- Duração: 2h
▪ Neostigmina – saiu do mercado
▪ Efedrina (IAM, Morte Súbita)
▪ Diaminopiridina: M. congênita
▪ Efeito colateral: diarreia, indigestão, hipotensão, taquicardia
▪ Crise colinérgica – dose >120mg 3/3h
▪ Pouca resposta ao anti-MuSK
• Imunoterapias crônicos
▪ Mudam a progressão da doença
▪ Corticoide – Prednisona 1º linha
- Mais utilizado
- Início da ação: 2 a 3 semanas
- Duração: 5 a 6 semanas
- Remissão em 30%, com melhora importante 50%
Iniciar o tto com 20mg, aumentando 5mg/dia até a dose
alvo até chegar à dose alvo, em média 60mg a 80mg
– dose alta pode causar piora transitória do quadro –
importante iniciar o quanto antes o desmame gradual
▪ Azatioprina
- 1º linha
- Início da ação: 1 ano
- Duração: 2 anos
- Poupador de corticoide
- Atua diminuindo a produção de linfócitos e do anti-RACh
- Melhora 70-90%
- Acompanhamento da eficácia: pct deve apresentar
macrocitose (aumento do VCM)
- Efeitos colaterais: síndrome gripal, náuseas, vômitos,
ceratose
- Contraindicação: associação com Alopurinol
▪ Micofenolato de mofetila
- 1º linha
- Início da ação: 6 meses a 1 ano
- Duração: 2 anos
- Poupador de corticoide
- Atua na diminuição e proliferação de linfócitos
- Hemograma periódico para avaliar os neutrófilos, caso
diminuam é sinal de mal prognostico – suspende o
medicamento
▪ Rituximabe
- Anticorpo monoclonal – diminui linfócitos B
- MG refratária
- 2º linha para pacientes com Anti-MuSK positivo
- Efeitos colaterais: febre, calafrios, LEMP
(leucoencefalopatia multifocal progressiva – grave)
▪ Ravulizumabe e Efgargimod
- Início da ação: 1 a 2 semanas
- Duração: 4 a 10 semanas
- Custo elevado
• Imunoterapias agudas
▪ Crise miastênica
- Insuficiência respiratória neuromuscular
- Desencadeada: por infecção, cirurgia, desmame da
imunossupressão, uso de medicações contraindicadas
- Intubação eletiva deve ser feita
Capacidade vital < 20ml/kg
Pressão inspiratória máxima < -30cmH2O
- Intubados: suspender medicamentos sintomáticos, pois
aumenta a produção de secreção
- Plasmaferese (1º) ou Imunoglobulina
- Imunossupressor em concomitância
- Mortalidade 5%
▪ Imunoglobulina
- Se liga aos autoanticorpos
- Início da ação: 1 a 2 semanas
- Duração: 1 a 3 semanas
- Indicação: MG refratária e crise miastênica
- Efeitos colaterais: cefaleia, náuseas, tontura, calafrio
Raro: IRA, anafilaxia por redução de IgA
▪ Plasmaferese
- Filtra e retira os anti-RACh
5 trocas: 3 a 5L de plasma em 7 a 14 dias
- Início da ação: 1 a 7 dias
- Duração: 1 a 3 semanas
- Indicação: crisemiastênica
- Iniciar imunossupressor junto
13
Rafaela Pamplona
Plasmaferese Imunoglobulina
Dose 5 trocas de 3 a 5L
durante 10 a 14dias
400mg/kg por 5dias
Tempo de início 1 a 7 dias 1 a 2 semanas
Duração 1 a 3 semanas 1 a 3 semanas
Efeitos adversos Infecção de linha,
hipotensão,
tromboembolismo
Cefaleia, sobrecarga
hídrica, insuficiência
renal (raro)
• Timectomia – tratamento cirúrgico
▪ Timoma
- Tumor no timo presente em 10 a 15% dos pacientes com
MG
- Faz ressecção completa
▪ Sem timoma
- Investiga anticorpos – se positivo para Anti-RACh
Soro negativo – não faz retirada
- Investiga forma e a gravidade do quadro
- De acordo com a idade
Menor de 50 anos: timectomia
Entre 51 e 65: analisar riscos e benefícios da cirurgia
Acima de 65 anos: não faz retira o timo
Diagnóstico de MG e status de anticorpo confirmado
↓
Avaliação inicial
- Farmacoterapia com anticolinesterásicos com ou sem
imunoterapia para controle dos sintomas
- TC ou RNM de tórax para investigar timoma
↓
TC ou RNM evidência timoma?
SIM NÃO
Timectomia Pct tem anti-RACh positivo
ou é soronegativo?
SIM NÃO
Pct tem um dos seguintes
- MG generalizada
- MG ocular com sintomas
incapacitantes apesar da
farmacoterapia
SIM NÃO
Sem timectomia
Idade
< 50 anos 51 a 65 anos > 65 anos
Timectomia Decisão baseada
na gravidade dos
sintomas e riscos
operatórios
Sem timectomia
Gravidez
• Exacerbação dos sintomas no 1ºtrimestre e no puerpério
• MG neonatal ocorre em 10 – 20%: observar durante 72h
• Planejamento gestacional
• 1ª escolha
▪ Sintomático: Piridostigmina
▪ Tratamento crônico: prednisona e Azatioprina
• Pré-eclâmpsia
▪ Metildopa e Hidralazina: para controle pressórico
▪ Sulfato magnésio é contraindicado
▪ Levetiracetam, Valproato (Fenitoína – refratária) podem ser
utilizados
Prognóstico
• Geralmente, bom
• Mortalidade baixa
• Crise miastênica
▪ Morbidade > 2 semanas ventilação
14
Rafaela Pamplona
DEMÊNCIAS
Introdução
• São doenças neurodegenerativas
• Epidemiologia
▪ Diminui a expectativa de vida
▪ Saúde pública
▪ Prevalência
- Demência: é proporcional ao aumento da faixa etária
- Doença de Alzheimer: é o protótipo/principal
• Conceito
▪ CID
- Deterioração global da cognição, que é a capacidade de
aprendizado de forma insidiosa
- Alteração desempenho em relação ao status prévio por no
mínimo 6 meses
- Critérios de exclusão
Rebaixamento consciência
Delirium: alteração psicótica por uma alteração
metabólica, infecciosa ou intoxicação exógena – quadro
agudo
Demências
• Investigação clínica
▪ Sempre buscar identificar o que está causando o quadro
demencial, excluindo causas agudas, quadros infecciosos,
metabólicos
▪ Exame neurológico
- Praticamente normal, pode ter algum achado, mas nada é
específico
▪ Exames laboratoriais
- Normalmente sem alteração, quando alterado é
relacionado a outras patologias
- Hemograma
- Eletrólitos: sódio, potássio,
- Glicemia
- Coagulograma
- TGO, TGP
- Exame de urina
- Avaliação pulmonar
- Os exames laboratoriais funcionam como de exclusão, de
que seja um delirium
Doença de Alzheimer
• Protótipo das demências – mais comum
• Histórico
▪ Alois Alzheimer em 1906
- Pacientes com distúrbios de comportamento/cognitivo:
alteração de comportamento, perda de memória, violência
não mencionada anteriormente etc
- Autopsia: atrofia cortical difusa
• Conceitos
▪ Doença neurodegenerativa insidiosa, progressiva, crônica e
irreversível
▪ Relacionado a atrofia da região parahipocampal
▪ Afeta todas as funções cognitivas, trazendo alterações
comportamentais, de memória, afetivas, de aprendizagem,
executiva, fala etc
• Quadro clínico
▪ Primeiro sinal – perda de memória
▪ Apraxia: dificuldade com atividades diárias
▪ Faz coisas sem sentido, coloca coisas em lugares estranhos
▪ Confusão mental (horário/data/local)
▪ Esquece palavras comuns ou utiliza palavras incorretas
▪ Memória antiga demora mais para perder
• Genética
▪ Forma esporádica mais comum
▪ Forma familiar ocorre em 5-7% dos casos
- Padrão autossômico dominante
- Alelo E4 da apolipoproteína E (presente nas duas formas)
• Macroscopia
Normal
Doença de Alzheimer
15
Rafaela Pamplona
▪ Atrofia difusa dos hemisférios cerebrais, envolvendo córtex
e substância branca, e evidente através da dilatação
simétrica dos ventrículos laterais – hidrocefalia
- Hidrocefalia ex vácuo porque ocorre secundariamente à
atrofia, ou seja, os ventrículos se dilatam para preencher
um vazio
- Geralmente a atrofia na doença de Alzheimer afeta
predominantemente os lobos frontais e temporais
- Ocorre uma atrofia de sulcos e giros cortesias,
principalmente em região frontal e temporal
- Atrofia do hipocampo
• RNM
▪ Mais escuro – mais licor
▪ Hipocampo atrófico – hipocampo armazena nossas
memorias
▪ Diagnóstico: atrofia parahipocampal
Normal
Seta aponta para hipocampo
totalmente preenchido
Doença de Alzheimer
Seta aponta para atrofia
parahipocampal com
presença de líquor
preenchendo o espaço
• Microscopia
▪ Padrão ouro: Biopsia pós-morto
▪ Características anatomopatológicas – patognomônica
- Emaranhados neurofibrilares: intracelular – deposição de
material amiloide dentro dos corpos de neurônio
- Placas senis: extracelular – deposição de proteínas beta
amiloides no neurópilo
Neurópilo: tecido entre os tecido entre os corpos
celulares dos neurônio
- Há também espessamento e tortuosidades dos dendritos
e axônios nas proximidades do depósito, que podem ser
demonstrados com impregnação pela prata
• Fatores de risco
▪ Idade: aumenta com a idade
▪ Hereditariedade
▪ Sexo feminino
▪ Genética
▪ Idade materna: gestação acima de 40 anos
▪ TCE: fratura de base de crânio
▪ Outros
• Fatores protetores
▪ Nível educacional
- Quanto mais orientado/mais leitor, menor a chance de
diminuir de ter, mas não exclui a possibilidade
▪ Antioxidantes: vitamina E, ômega 3
▪ AINEs
▪ Estrogênios: ACO
16
Rafaela Pamplona
• Quadro clínico – 3 fases
▪ Inicial: 2 primeiros anos
- Perda de memória leve
Rápida/fugaz para as coisas do dia a dia
▪ Intermediaria: de 2 a 10 anos
- Alterações de
Afasia: linguagem, dificuldade de entendimento e na
escrita
Apraxia
Agnosia: dificuldade de nomear objetos
▪ Avançado: acima de 10 anos
- Funções cerebrais amplamente afetadas
- Alteração do comportamento: agressividade, apatia,
depressão
- Afasia importante
- Incapacidade de deambular
• Diagnóstico – Clínico
▪ Mini mental: mede o conteúdo de consciência
- Grau de consciência e orientação
- Baixa pontuação na doença de Alzheimer
- Difícil de realizar em analfabetos
▪ Laboratório: excluir outras causas
▪ LCR: não é feito de rotina. Pode ter diminuição das
proteínas no líquor
▪ TC de crânio com contraste: atrofia parahipocampal
• Diagnóstico diferencial
▪ Excluir causas estruturais: tumor, infecção do SNC
▪ Rebaixamento agudo do nível de consciência
- Delirium
- Desidratação
- Hipoperfusão cerebral
- Medicações
- Distúrbio infecto-metabólico (coma hiperosmolar – HEE)
• Tratamento
▪ Não reverte a condição clínica e não vai voltar a memória
▪ Objetivo é desacelerar a evolução, não bloquear
▪ Anticolinesterásicos: aumenta a concentração de ACh na
fenda sináptica
- Tacrina: não é mais usada
- Donepezila: mais usada
Começa com 5mg, depois de 4 semanas para 10mg
- Rivastigmina: 2ª opção
- Galantamina: 2ª opção
▪ Antagonista do receptor NMDA (glutaminérgico)
- Memantina:para casos moderados a graves
Demência vascular
• Demência com evolução devido a razões vasculares
• Tipos
▪ Por múltiplos infartos em vários locais
▪ Por infarto estratégico (específico)
▪ Doença de Binswanger
- Doença de pequenos vasos
- Quebra do epêndima nas regiões periventriculares com
aumento do conteúdo líquido da substância branca local,
perda de mielina e espaço perivascular aumentado
Hipersinal – partes brancas
▪ Hipoperfusão cerebral: IAM, parada cardiorrespiratória
▪ AVE-h
• Diagnóstico
▪ Demência surge de 1 a 2 anos após a lesão vascular
▪ Sintomas subcorticais
- Bradifemia: pensamento lento
- Ataxia
- Hemiparesia decorrente de AVC
- Alteração de deglutição
• Tratamento
▪ Galantamina
▪ Antipsicóticos: para pacientes com alteração de
comportamento e distúrbios do sono
Demência frontotemporal ou Demência de Pick
• 1892: Arnold Pick – quadro característicos
▪ Pacientes < 50 anos
▪ Atrofia frontotemporal
- Presença de reflexos primitivos
▪ Frontalização – síndrome da liberação frontal
- Região frontal do cérebro é responsável
Pelo centro de controle comportamental e emocional
Pela personalidade
Pelos movimentos voluntários do corpo
▪ Ocorre alteração comportamental, não perda de memória
• Tratamento
▪ Tratar doença de base com antipsicóticos
mais usadas em
demências vasculares
17
Rafaela Pamplona
Demência de corpos de Lewy
• Demência
• Sintomas de parkinsonismo
▪ Alteração do movimento: tremor, rigidez, bradicinesia
• Alterações de sono
• Disautonomia
▪ Alteração do SNA causando taquicardia, disfunção urinaria,
disfunção sexual, sudorese, constipação
Hidrocefalia de pressão normal
• Dilatação ventricular por acúmulo de líquor
• Pressão normal
• É uma urgência, não é emergência
• Síndrome de Hakim Adams – Tríade
▪ Demência
▪ Alterações esfincterianas
▪ Distúrbios de marcha
• Quadro clínico: sutil, demência, ataxia de marcha,
incontinência urinária
• Diagnóstico
▪ Clínico
▪ TC e RNM
▪ TAP teste – realizado no hospital
- Pouco feito na prática
- Retira 30ml de líquor diariamente, observando a evolução
do paciente
- Caso o paciente melhore, serve como diagnóstico e
conduta pré-operatória
• Tratamento
▪ Potencialmente cirúrgico
▪ Derivação ventriculoperitonial (DVP)
- Implante de um sistema interno de drenagem de líquor
para região peritoneal, feita em região frontal ou occipital,
onde coloca um dreno em ventrículo
- Maiores riscos: infecção, desconexão da válvula,
mudança de pressão da válvula etc
PARKINSON E TREMOR ESSENCIAL
Parkinsonismo X Doença de Parkinson
• Parkinsonismo
▪ Termo genérico que designa uma série de doenças com
causas diferentes, as quais têm em comum a presença de
sintomas parkinsonianos, ou seja, aqueles sintomas
encontrados na Doença de Parkinson
• Doença de Parkinson
▪ É uma das muitas formas de Parkinsonismo e também a
mais frequente, correspondendo a cerca de 80% de todas
as formas de Parkinsonismo
▪ Como não se conhece a causa da DP, ela é também
denominada de Parkinsonismo primário
Doença de Parkinson
• Distúrbios de movimento
• Insidiosa, progressiva e irreversível
• Histórico
▪ 1871: James Parkinson publica o ensaio “Paralisia agitante”
- Tremor, principalmente das mãos
- Curvatura do tronco para frente
- Aceleração dos passos
- Enrijecimento da musculatura de forma geral
- Sem alterações de memória
• Epidemiologia
▪ Acomete de 1-2% população acima de 65anos
▪ Sexo masculino 2 :1
▪ Início 6ª década
▪ 100-200 casos/ 200 mil hab
▪ 5 milhões de casos no mundo
▪ No Brasil são 200 mil casos
18
Rafaela Pamplona
• Fisiopatologia
▪ Diminuição da quantidade de dopamina
- Neurotransmissor responsável pelo movimento
▪ A diminuição de dopamina causa degeneração neuronal,
levando a modificação do aspecto da substância negra no
mesencéfalo
- Diminuição dos neurônios
- Mesencéfalo é a região atingida
- Substância negra: responsável pela produção de
dopamina
▪ Neurodegenerativa, piora com o aumento da idade
• Anatomia
▪ Substância negra se divide em
- Parte compacta: produção dos neurônios dopaminérgicos
- Parte reticulada
▪ Corpo estriado: núcleo caudado + putâmen
- O corpo estriado libera o movimento do corpo para o
cerebelo refinar
▪ Dopamina e acetilcolina são os neurotransmissores
responsáveis pelo movimento
- Acetilcolina controla o movimento
- Dopamina faz uma inibição do movimento
• Fisiopatologia
▪ Falta da dopamina
- O controle do movimento ocorre por feedback da
dopamina que se liga as vias nigroestriatais
▪ A diminuição de dopamina na substância negra ativa o
corpo estriado, responsável pelo controle dos movimentos
- Tremor
19
Rafaela Pamplona
• Microscopia
▪ Presença de corpos de Lewy nos neurônios impede a
produção de dopamina
• Fatores de risco
▪ Idade
▪ História Familiar
▪ Sexo Masculino
▪ TCE – devido a inclusão dos corpos de Lewy
▪ Vida Rural
▪ Pesticidas
• Quadro clínico
▪ Sintomas motores
- Tremor de Repouso – sintoma inicial
Inicial unilateral, assimétrico
Inicia nas extremidades – mãos
Desaparece com ação (≠tremor cerebelar)
Tremor do tipo “contar moedas”
- Bradicinesia
Lentificação dos movimentos
Sintoma mais incapacitante
Hipocinesia
Hipomimia – face de máscara
Hipofonia – voz baixa e lenta
Micrografia – letra pequena
- Rigidez
Tônus: hipertonia do tipo plástica
~ Sinal da roda denteada
- Instabilidade Postural
Curvatura anterior devido a mudança do centro de
gravidade
- Freezing
Congelado, colado ao chão, não consegue andar
Fácies em mascara, deltoide atrofiado, tronco para frente,
braços anteriorizados, pés juntos
Postura típica – instabilidade postural
Rigidez
Não há perda efetiva da força
▪ Sintomas não motores
- Bradifenia: lentificação mental
- Demência: por conta do isolamento, transtornos
psiquiátricos
- Depressão: mais chance de depressão.
- Autonômicos
- Intelecto ileso
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Rafaela Pamplona
• Diagnóstico
▪ Clínico
▪ Exames complementares
▪ Imagem
- PET
Melhor exame
Caro, pouco acessível, não deve ser solicitado de rotina
A baixa captação de fluorodopa visualizada utilizando o
PET no putâmen pode indicar a deterioração do
metabolismo na substância negra (responsável pela
produção de dopamina) devido a degeneração dos
neurônios dopaminérgicos, o que acontece no caso
concreto da DP
- TC ou RNM – excluir outras causas
PET – não colore bem por não ter os neurônios
• Diagnóstico diferencia – síndromes parkinsonianas
▪ Paralisia supranuclear progressiva
▪ Doença difusa de corpos de Lewy
▪ Drogas indutoras de parkinsonismo
- Benzodiazepínicos
- Ácido valproico
- Fenitoína
- Tramadol
- Aminoglicosídeos
- Anticolinérgicos
- Bupropiona
- Amicacina
- Antipsicóticos
- Lítio
- Haldol
▪ Doença de Wilson
▪ Tremor essencial
▪ Fibromialgia, polimialgia, artrite
Parkinsonismo atípico – parkinsonismo secundário
• Idade Precoce
• Bilateral e simétricos
• SEM tremor repouso
• Demência e instabilidade postural precoce
• Sinais Piramidais (AVC? Tumor?)
• Sinais Cerebelares
• Disautonomia no início do quadro
• História familiar positiva
• Déficit de olhar vertical, sinais piramidais, sinais cerebelares,
mioclonias, acometimento de neurônio motor inferior,
síndrome da mão alienígena
• Resposta precária à levodopa
• Parkinsonismo afetando exclusivamente a marcha
• Tratamento clínico: melhora o padrão dos sintomas, mas não
evita a evolução
▪ L-dopa
- Fabricada com inibidor da dopa descarboxilase,
permitindo que chegue ao SNCsem sofrer degradação
periférica a dopamina
- Efeitos colaterais: discinesia tardia, efeito on-off
▪ Agonista dopamina: pramipexol
- Mais específica para o tremor
▪ Inibidor MAO-B: selegilina
- Neuroprotetor
- Pouco utilizada
▪ Anticolinérgicos: biperideno
- Evitar em pacientes acima de 65anos
▪ Amantadina
▪ Inibidores da COMT: entacapone
- Pouco usado
- Diarreia explosiva
- Muitos efeitos adversos
21
Rafaela Pamplona
• Tratamento cirúrgico
▪ Indicações
- Complicações motoras refratárias
- Não há comorbidades clínicas graves
- Há resposta a positiva levodopa
- Ausência de depressão e demência
Tremor essencial
• Transtorno movimento mais comum
• Epidemiologia
▪ Qualquer idade
▪ Ambos os sexos
• Etiologia
▪ Padrão familiar importante
• Classificação
▪ Essencial hereditário
- Mais comum
- História familiar positiva
- Acima de 65 anos
▪ Essencial esporádico
- História familiar negativa
- Abaixo de 65 anos
▪ Senil
- Com ou sem história familiar positiva
- Acima de 65 anos
• Critérios para diagnóstico
Critérios Principais Critérios Secundários
1. Tremor de ação bilateral
das mãos e antebraços
(sem tremor de repouso)
1. Duração superior a 3 anos
2. Ausência de outros sinais
neurológicos, com exceção
de roda denteada
2. História familiar positiva
3. Pode ocorrer tremor
isolado da cabeça sem
postura anormal
3. Resposta ao álcool
▪ Começa em um membro superior e rapidamente afeta o
outro
▪ Tremor piora com emoção, fome, cansaço, temperaturas
extremas
▪ Tremor desaparece durante o sono
▪ Amplitude do tremor aumenta ao longo dos anos
▪ Bebida alcoólica melhora o tremor
• Exame físico
▪ Tremor postural e cinético
▪ Membros superiores afetados
▪ Tremor pode afetar cabeça, voz e lábios
▪ Tônus e reflexos
▪ Ausência de rigidez e bradicinesia – específicos da DP
IMPORTANTE
Tremor Parkinsoniano Tremor Essencial
Repouso Postural
Unilateral / assimétrico Simétrico / discreta assimetria
Sinais parkinsonianos ∅ de sinais parkinsonianos
História familiar positiva
em 5-10% dos casos
História familiar positiva em
50-70% dos casos
Não melhora com álcool Melhora com álcool
Responde a drogas
dopaminérgicas e
anticolinérgicas
Responde a betabloqueador e
primidona
• Tratamento
▪ Preferencial
- Propranolol
- Topiramato
- Primidona
▪ Menos usado
- Alprazolam
- Nimodipina – mais utilizada em situações de HSA, para
evitar vasoespasmo
22
Rafaela Pamplona
NEUROLOGIA VASCULAR
Acidente vascular encefálico
• Causa mais comum de óbito no Brasil
▪ Cerca de 100mil casos ao ano
• 1 a cada 6 pessoas no mundo terão AVE
• 70 a 80% são isquêmicos
• Impacto econômico
▪ 1 óbito para 3 sequela/complicação
Anatomia
• Polígono de Willis é formado pelas artérias: cerebral posterior,
comunicante anterior, carotida interna, cerebral posterior e
comunicante posterior
▪ Importância na redundância da circulação cerebral: a
medida que alguma obstrução ou estenose ocorra uma
dessas artérias pertencentes ao polígono, a circulação
cerebral de maneira geral não é prejudicada de maneira
significativa, pois as outras artérias conseguem suprir a
deficiência de qualquer uma delas
• Artéria carótida interna se divide em
▪ Artéria cerebral anterior: irriga face medial e lateral do
encéfalo e o polo frontal
- Intima relação com o quiasma óptico (NC II)
▪ Artéria cerebral média: irriga face lateral e polo temporal
- Mais importante, pois é a mais acometida
- Segmentos
M1: horizontal, corresponde a irrigação proximal, emite
vários ramos, chamados de artérias lenticulo estriadas,
que irrigam o corpo estriado, região da capsula interna,
região dos gânglios da base e tálamo – AVE lacunar
M2: vertical, irriga lobo frontal, parietal e parte superior
do temporal
M3: irriga área de Broca, giro angular e giro
supramarginal
M4: irriga o restante da região cortical
• Artéria cerebral posterior
▪ Irrigação posterior do cérebro
▪ AVC em região posterior é mais raro, menos agressivo e
causam menos sequelas
• Artéria comunicante posterior
▪ Possui intima relação com
- Nervo oculomotor (NC III)
- Emergência da artéria carótida interna
Une artéria cerebral média e cerebral posterior
23
Rafaela Pamplona
• Artéria cerebelar inferoposterior - PICA
▪ Carrega o sangue para a medula e cerebelo, AVE nessa
área é chamado de Síndrome de Wallenberg
- Área que contribui para o equilíbrio, coordenação,
sensação da face e do corpo, sensação de
posicionamento corporal, função da corda vocal e
coordenação dos movimentos oculares
AVE isquêmico
• Oclusão arterial aguda em um ramo distal da irrigação
cerebral, impedindo o fluxo sanguíneo adequado na área
• A sequela do AVE é determinada pelo seguimento acometido
• Acidente isquêmico transitório – AIT
▪ Déficit agudo, com duração de 15min a 1h
▪ Melhora em 24h – sem sequela definitiva
▪ Deve ser investigado, pois pode evoluir com AVEi
• Acidente vascular encefálico isquêmico – AVEi
▪ Súbita instalação de um déficit neurológicos focal
persistente
▪ Não melhora após 24h – deixa sequela
▪ Etapas
- Isquêmica: redução do fluxo
- Penumbra isquêmica: área potencial para infarto, são
áreas isquêmicas recuperáveis – principal momento de
atuação
- Infarto e necrose: lesões neurais irreversíveis
• Tratamento AIT e AVEi
▪ Cardioembólico: ateroma de origem cardíaca
▪ Artero-embólico: embolo de origem periférica
▪ Trombótico: placa de ateroma com origem no próprio
cérebro
Fatores de risco
• Não modificáveis
▪ Idade: mais comum em idosos, a incidência dobra a cada
década
▪ Sexo masculino 2:1
▪ Etnia: raça negra – devido aos maiores níveis de renina
▪ Hereditariedade
• Modificáveis
▪ HAS – principal fator de risco
▪ Diabetes – 2º principal fator de risco
▪ Síndrome metabólica
▪ Tabagismo, alcoolismo, ACO, sedentarismo, etc
Subtipos de AVE
• Embólico – 45% dos casos
▪ Cardioembólico: fibrilação atrial, cardiopatia dilatada
▪ Artero-embólico: HAS
• Trombótico
▪ Origem na artéria cerebral
▪ AVE lacunar – mais comum
- Menores de 2cm
- Na maioria das vezes é silencioso
- Pode apresentar cefaleia ou demência
- RNM e TC é perceptível AVE lacunar antigo
Sinais de alerta para AVE
• Paralisia facial
• Hemiparesia
• Hemihipoanestesia
• Disfasias
• Confusão mental
• Ambliopia
• Perda de equilíbrio
• Crise convulsiva
• Cefaleia
Síndrome da cerebral média
• Irriga parte do lobo frontal e todo o lobo temporal
• Sintomas: dificuldade de força e déficit de sensibilidade
contralateral
• Hemiparesia ou hemiplegia contralateral
• Hemihipoanestesia contralateral
• Disartria
• Afasia global (Broca + Wernick): hemisfério dominante
▪ Afasia de Wernick – sensorial
- Afasia interpretativa
- Cria novas palavras
- Preserva a fluência, mas sem conteúdo compreensível
▪ Afasia de Broca – condução
- Desaprende a falar, mas compreende o que ouve
- Perde a fluência, emite sons
▪ Afasia global
- Não fala
• Anosognosia: hemisfério não dominante (não reconhece um
lado do corpo)
Síndrome cerebral anterior
• Hemiparesia ou hemiplegia contralateral
• Hemihipoanestesia do MI contralateral
• Apraxia de marcha: sabe andar, mas não sabe executar
• Mutismo acinético: apático, irresponsivo
24
Rafaela Pamplona
▪ Síndrome abúlica: perda da iniciativa
▪ Acometimento do lobo frontal, região relacionada ao
comportamento, sendo muito comum alteração de
comportamento
Síndrome de Wallemberg
• Oclusão da PICA – território posterior
• Pares cranianos baixos – NC 9, 10, 11 e 12: origem no bulbo
• Hemiparesia ou hemiplegia contralateral• Anestesia contralateral
• Disfagia e disfonia – síndrome bulbar
▪ Sinal da cortina – NC IX glossofaríngeo
• Horner ipsilateral: miose, ptose e anidrose
• Soluços – NC X
Avaliação pré-hospitalar
• Escala de Cincinnati (CPSS): em menos de 1min
▪ F – face: queda facial
▪ F – força: debilidade do braço
▪ F – fala: fala anormal
- 1 achado – 72% de chance de ser AVE
- 3 achados – mais de 85% de chance
Avaliação hospitalar
• Escala de NIH Stroke Scale
▪ Escala padrão quantitativa de severidade e magnitude do
déficit neurológico após AVC
▪ Serve como avaliação comparativa de acordo com a
pontuação que o paciente
▪ Quanto maior o NIH pior o prognóstico
- ≤ 4 pontos: AIT
Não há indicação de trombólise
~ Exceção: afasia grave, hemianopsia completa
- > 22 pontos – AVE potencialmente grave
Não há indicação de trombólise
Exames
• TC axial de crânio sem contraste
▪ 1º escolha
▪ Bom para rastreio
- Descarta hemorrágico
▪ Determina conduta
▪ Sempre avaliar de fora para dentro
25
Rafaela Pamplona
• RNM de Encéfalo
▪ Sem contraste
▪ Detecta pequenos AVE
▪ Pouco utilizado na prática devido ao alto custo e a demora
no resultado
• Doppler Transcraniano
▪ Pouco uso na prática
▪ Detecta alteração em vasos obstruídos
• ECG
▪ Excluir causas cardíacas
▪ Busca por bradiarritmia, ES, FA, IAM
• Ecocardiograma
▪ Avalia forame oval e função cardíaca
• Doppler de Carótidas
▪ Busca por placa de ateroma ou estenose nas carótidas
Diagnóstico diferencial
• Hipoglicemia
• Tumor cerebral – insidioso
• Crises Epilépticas
• Intoxicação Exógena
• Distúrbios Metabólicos – hiponatremia e hipercapnia
• Doenças Desmielinizantes
• Encefalopatias Hipertensivas
Tempo é cérebro
• Recomendações do instituto de neurologia para candidatos
potenciais ao trombolítico
Avaliação
• Monitorização dos sinais vitais
• ABCDE
• Fornecer O2 – melhorar a perfusão
• Acesso venoso
• Coleta de sangue – enzimas cardíacas para descartar IAM
• Glicemia, PA, Temperatura
▪ PA ótima para perfusão cerebral: 180 x 100 mmHg
• Avaliação neurológica
• TC de crânio
• ECG
• Avaliar trombólise – extremamente específico
▪ Contraindicações e tempo ≤ 4,5h ❤
• Anticoagulação
▪ Alteplase-rtPA
- Não reduz mortalidade, reduz sequela
- Avaliar critérios de inclusão e exclusão
>18 anos
TC de crânio sem evidência de hemorragia
Tempo de início dos sintomas ≤ 4,5h
• Terapia invasiva
Contraindicações para trombólise ❤
• < 18 anos ou > 80 anos
• Tempo entre o início dos sintomas e o início do tratamento
≥4,5h
• Nos últimos 3 meses: AVEi, TCE grave, cirurgia de
crânio/medula
• Nos últimos 21 dias: hemorragia TGI
• Antecedentes: AVEh, neoplasia TGI ou SNC
• Suspeita de: HSA, dissecção de aorta, endocardite
• PAS ≥185 e PAD ≥110
• Melhora do déficit
26
Rafaela Pamplona
• Isquemia extensa na TC de crânio
• Plaquetas < 100mil
• INR < 1,7
• Uso de anticoagulantes orais diretos <48h
• Uso de heparina em dose terapêutica <24h
• Glicemia sérica <50mg/dl
• Definir individualmente
▪ NIH >22
▪ Abuso de álcool e drogas
▪ Hiperglicemia
Prevenção secundária
• Baseada na etiologia
• HAS, DM, Dislipidemia
• Obesidade
• Dieta
• Doppler de Carótidas
• Imunização
• Reabilitação
▪ Neurologia
▪ Cardiologia
▪ Fonoaudiologia
▪ Nutrição
▪ Psicologia
▪ Terapia ocupacional
▪ Enfermagem
▪ Fisioterapia
AVE hemorrágica
• 20% dos AVE
• Ocorre extravasamento de sangue – extremamente irritativo
• Maior grau de mortalidade
• Maior possibilidade de crise convulsiva
• Locais mais acometidos: putâmen, tálamo, cerebelo e ponte
Fatores de risco
• HAS
• Trauma
• Diátese hemorrágica
• Angiopatia amiloide
▪ Mais comum em >70anos, causa hemorragia lobar
• Malformação vascular
• Drogas
▪ Principalmente a cocaína
Hemorragia intraparenquimatosa
• Principais causas
▪ Aneurisma de Charcot-Bouchard associado a HAS
- Microaneurisma ou aneurisma miliar
▪ Comum nas artérias lenticoloestriadas, fazendo hemorragia
no putâmen e no tálamo
▪ Locas mais acometidos: putâmen, tálamo, cerebelo e ponte
▪ Hemorragia lobar: lobo frontal, temporal e parietal
- >70anos – angiopatia amiloide
• Clínica
▪ Hemiplegia/paresia FBC Contra
▪ Hemi (hipo/anestesia): lesões talâmicas
▪ Vertigem, náuseas e vômitos: pares cranianos baixos
▪ Anisocoria
▪ Pupilas PUNtiformes: indica AVE na PONte
• TC
▪ Área hiperdensa com desvio da linha média e sangramento
no ventrículo
▪ HIP causa fechamento do ventrículo, aprisionando o LCR
- Emergência neurocirúrgica: hidrocefalia – DVE
• Tratamento
▪ Suporte
▪ Glasgow ≤ 8 – IOT
▪ Sinais de HIC
- TC de urgência se apresentar desvio da linha média faz
DVE
- Indicado: hiperventilação e manitol
▪ PA: 160 x 100mmHg evita vasoespasmo
Hemorragia subaracnóide
• Cefaleia + rigidez de nuca + sincope = HSA
• Trauma é a principal causa
• Aneurisma sacular congênito
▪ Mulheres entre 35 a 55 anos
▪ Ruptura espontânea
▪ Aneurisma mais comum: artéria comunicante anterior
• Malformação arteriovenosa
▪ 15 a 30 anos
▪ Menos comum
• Quadro clínico
▪ Cefaleia holocraniana (crânio inteiro)
- Pior cefaleia da vida: tipo pedrada ou raio na cabeça
- Início súbito e de forte intensidade
▪ Síncope
▪ Rigidez de nuca após 24h
- Febre – suspeitar de meningite
27
Rafaela Pamplona
▪ Ptose palpebral
- NC III – levanta a pálpebra superior
Íntima relação com a artéria comunicante posterior
Anisocoria, diplopia e estrabismo divergente
- NC VII – fecha a pálpebra
• Exames
▪ AngioTC – estrela da morte
▪ Arteriografia – padrão ouro para detectar aneurisma
• Complicações da HSA
▪ Ressangramento
- Até o 3º dia – risco altíssimo, paciente deve ficar em
repouso absoluto
- 20% até o 7º dia
▪ Vasoespasmo
- Entre 1 e 14 dias – pico no 7º
- Sangue é extremamente irritativo, causando
vasoespasmo nos vasos vizinhos
Pode causar AVEi
▪ Hidrocefalia
- Ocorre em 15%
- Obstrução do espaço subaracnóide
Trombose venosa profunda
• Isquemia venosa
• Causas
▪ Neuroinfecções
▪ ACO
▪ Gravidez e puerpério
▪ Traumas
▪ Distúrbios de coagulação
- Hipercoagulabilidade: deficiência da proteína S, proteína
C, antitrombina III e trombofilias
Anatomia
• Vai das veias superficiais para profundas – veia jugular
• Seio sagital superior
▪ Mais acometido
• Confluência dos seios
▪ Torcular de herófilo – protuberância occipital
• Seio sigmoide
▪ Na confluência entre o seio transverso e sagital
Sinal do delta vazio
• Trombose venosa do seio sagital superior
• Sinal clássico no corte coronal
▪ Imagem hipodensa – vazio
Clínica
• Cefaleia
• Convulsão
Exames
• Angioressonância
▪ Padrão ouro
▪ Avalia a fase arterial e venosa
Tratamento
• Trombólise: medicamentosa e endovenosa
▪ Heparina
- Iniciar logo após o diagnóstico
- Até a melhora neurológica
• Anticoagulação oral
▪ Melhorou o quadro neurológico – Marevan
- Manter INR entre 2 – 3 (se alargado ↑ sangramento)
- Continuidade do tratamento
Idiopática: 3 meses
ACO: 3 – 6 meses
Déficit de proteica S e C: 6 a 12 meses
Déficit de antitrombina III, mutação do fator V de Leiden:
longo prazo
▪ Xarelto: substitui o Marevan, não interfere no INR
• Endovascular - Agravamento clínico
▪ Retornar heparina endovenosa e suspende anticoagulação
oral
28
Rafaela Pamplona
NEUROINFECÇÃO
MENINGITES BACTERIANAS
• Infecções graves
• Mortalidade e morbidade elevadas
• Quanto mais rápido o diagnóstico e início do tratamento
melhor o prognóstico
Definição
• Processo infeccioso
▪ Meninges- Paquimeninge = dura-máter
- Leptomeninge = aracnoide e pia-mater
▪ Espaço subaracnóideo
▪ Encéfalo
• Reação inflamatória do SNC
• Diminuição da consciência, convulsões, hipertensão
intracraniana e AVC
Etiologia
• Principais agentes envolvidos
▪ S. pneumoniae: pneumococo – mais prevalente em adultos
▪ N. meningitidis: meningococo – maior prevalência em idoso,
rigidez de nuca, sinais de Kernig, Lasegue e Brudzinski
▪ H. influenza
• Outros agentes
▪ Estreptococos do grupo B (S. agalactiae)
- Principalmente nos extremos de idade
- Mais prevalente em crianças
▪ Listeria monocytogenes
• Meningite viral
▪ É mais comum do que a bacteriana
▪ Quadro clínico mais leve
Vacinação: diminuição acentuada de meningite por
hemófilos e, em menor grau, pelo pneumococo
Epidemiologia
• É a infecção supurativa mais comum do SNC
• Incidência > 2,5 casos/100.000 hab
• Mortalidade da meningite
▪ Meningococo e hemófilos: 5 a 15%
▪ Pneumococo: 15 a 30%
• Sequelas
▪ Meningococo e hemófilos: 15 a 20% dos casos
▪ Pneumococo: 30%
Fisiopatologia
• Bactérias e vírus colonizam a nasofaringe por aderência às
células epiteliais nasofaríngeas
• Os agentes externos conseguem invadir o interior dos vasos
subjacentes e sobreviver aos mecanismos de defesa (sist.
complemento)
• Atravessam a parede dos vasos e o complexo da barreira
hematoencefálica atingindo o LCR
▪ Barreira hematoencefálica
- Semipermeável: só permite a passagem de moléculas
pequenas
- Constituída de células endoteliais com junções estreitas e
projeções dos astrócitos, que envolvem a parede capilar e
são capazes de produzir citocinas
• Passam a sobreviver e replicar-se no LCR
Proteção do SNC
• O SNC tem algumas particularidades em relação aos demais
sistemas
• O crânio, as meninges, o LCR no espaço subaracnóide que
confere tanto proteção mecânica como biológica
• LCR é produzido no plexo coróide e o volume médio no adulto
é de 150 ml, habitualmente pobre em proteínas e células
▪ Com o aumento da celularidade o LCR fica mais viscoso,
dificultando a reabsorção, levando a hipertensão
intracraniana
Manifestações clínicas
• Síndrome de hipertensão intracraniana
▪ Cefaleia intensa, náuseas, vômitos ("jato") e confusão
mental
• Síndrome toxêmica
▪ Febre alta, delirium, mal-estar; dissociação pulso-
temperatura
• Síndrome de irritação meníngea
▪ Rigidez de nuca
▪ Sinal Lasegue: para radiculopatia!!
▪ Sinais de Kernig: incapacidade ou resistência em permitir a
extensão total do joelho com o quadril flexionado a 90º
▪ Sinal Brudzinski: flexão espontânea de quadril e joelho
durante a flexão passiva do pescoço
29
Rafaela Pamplona
• Quadro clínico na criança
▪ Crianças menores de 5/6 anos o quadro é generalizado e
inespecífico
▪ Após 5/6 anos os sinais e sintomas são mais parecidos com
os do adulto
▪ Febre, irritabilidade, prostração, vômitos, convulsões,
abaulamento da fontanela
▪ Sinais de rigidez de nuca, Kernig e Brudzinski ocorre em
50% dos casos
▪ É mais grave
Diagnóstico
• Hemocultura e LCR antes de iniciar o tratamento
▪ Caso a coleta do LCR não seja possível iniciar o tratamento
empírico
• Rotina para LCR – mandatória
▪ Espaço subaracnóide preenchido por líquido
• Exames laboratoriais de rotina
▪ HGM: leucocitose com predomínio de polimorfonucleares
- Infecções severas pode haver leucopenia
▪ PCR elevada
- Meningite viral pode vir inalterada
• Hemoculturas seriadas
• TC
▪ Antes de colher o LCR sempre que tiver suspeita de lesão
estrutural no SNC – risco de herniação
▪ Sempre em realizar antes da punção quando
- >60 anos
- Alteração do nível de consciência
- Imunossuprimidos
- História de lesão no SNC
- Crises epilépticas na última semana
- Déficit neurológico focal, como papiledema, pupila
dilatada ou anormalidades do campo visual
- Linguagem anormal
- Desvio de braço ou perna
- Incapacidade de responder a 2 perguntas ou seguir 2
comandos
Alterações do Líquor
• Pressão de abertura: > 20cm H2O
▪ Normal: < 20cmH2O
• Contagem células: 1.000 a 5.000/mm3
▪ Predominância de neutrófilos 80 – 95%
▪ Normal: < 5
• Níveis de glicose
▪ Bactéria: <40mg/dl ou menor que 40% da glicose sérica
▪ Viral: níveis normais
• Proteína: elevada > 50 mg/dL
• Lactato
▪ Bactéria: aumentado
Bactérias TB Vírus
Celularidade Neutrófilos Linfócitos
Glicose e Lactato Aumentado Normal
• Testes para detecção de bactérias
▪ Coloração de gram: identifica 60 a 90% dos casos
Neisseria meningites
Streptococcus pneumoniae
30
Rafaela Pamplona
• Cultura
▪ Positiva em 70 a 85% dos casos em que não receberam
antibioticoterapia previamente à coleta
• Repetir exame do líquor se
▪ Não houver melhora clínica após 48h
▪ Febre persistente após 8 dias sem outra causa aparente
Tratamento meningite bacteriana
• Emergência médica!
• Colher exames e iniciar o tratamento de emergência
• Casos mais graves: petéquias, choque, HIC
▪ Hidratação, ceftriaxona em bolus, vancomicina em infusão
venosa lenta (1 hora) e manitol (se edema cerebral)
• Corticosteróides
▪ 15 a 30 minutos antes da 1ª dose, ou acompanhando a
primeira dose
- Adultos: 10mg de 6/6h por 4 dias
- Crianças: 0,4 a 0,6 mg/kg de 6/6h por 4 dias
▪ Diminuição da mortalidade, redução nas alterações
auditivas e nas sequelas neurológicas
▪ Importância do corticoide: ação rápida e eficaz na
modulação negativa da atividade dos mediadores
inflamatórios, que ocasionam agressão significativa ao
tecido cerebral
Tratamento empírico
• Considerar fatores de risco e a idade do paciente
▪ 1º escolha: cefalosporinas de terceira geração (ceftriaxona
e cefotaxime). Devido a resistência bacteriana se
recomenda associar vancomicina até o resultado da cultura.
▪ Nos pacientes alérgicos a penicilina pode-se associar
vancomicina com moxifloxacina
< 3 meses Ampicilina + ceftriaxona
3 meses a 17 anos Ceftriaxona
18 a 50 anos Ceftriaxona
> 50 anos Ampicilina + ceftriaxona
+ dexametasona
▪ Ceftriaxona 2g IV, 12/12h
▪ Vancomicina 15-20mg/kg, 12/12h
▪ Ampicilina 2g, 4/4h – em <3meses, >50anos e
imunodeprimidos
Durante a evolução
• Exames de imagem são imprescindíveis quando houver
sinais clínicos de complicações durante o tratamento
▪ Ventriculites
▪ Coleções epidurais infectadas
▪ Abscessos cerebrais
Profilaxia
• Quimioprofilaxia dos contactantes de hemófilos e
meningococo
• Primeiras 24 horas até o 30º dia pós-contato
• Indicações:
▪ Contactantes íntimos: médico que intubou, acompanhante
que fica mais que 4h por dia
▪ Colegas de berçários, creches ou pré-escolar (< 7 anos)
▪ Adultos das instituições (creches, berçários)
▪ Outros contactantes com relação íntima e prolongada ou
contato com secreções orais
▪ Profissionais de saúde expostos às secreções do paciente
• Esquema terapêutico
▪ Rifampicina 600mg VO/dia 12/12h, por 2 dias
▪ Ceftriaxona 250 mg IM dose única
▪ Ciprofloxacino 500mg VO dose única
▪ Azitromicina 500mg VO dose única
Diagnóstico diferencial
• Meningites virais na fase inicial (enterovírus)
• Abscessos cerebrais
• Meningoencefalites por Tb e fungos (episódios agudos ou de
reagudização)
• Focos bacterianos parameníngeos
• Meningismo
▪ Sinais de irritação meníngea, sem infecção do SNC
Evolução – sinais de melhora
• Melhora do quadro de confusão mental entre 4 a 6 horas
• Diminuição da febre entre 6 a 12 horas
• Melhora dos sinais de irritação meníngea após alguns dias
• Meningites por meningococo e hemófilos sem complicações:
▪ Alta após 7 dias, se afebril por 5 dias
- Resposta mais rápida ao ATB
• MBA por pneumococos sem complicações
▪ Alta após 10 a 14 dias
Meningites recorrentes
• Pneumococo em 1/3 dos casos
• Causas:deficiência imunológica, alterações anatômicas e
fístulas ocultas (após TCE)
• Diagnósticos
▪ Alterações anatômicas: neuroimagem
▪ Fístulas: exames de medicina nuclear; TC frontal e
mastóide; pesquisa de glicose nas secreções nasal e
auricular
31
Rafaela Pamplona
MENINGITE CRÔNICA
• Definição
▪ Sd. inflamatória meníngea > 3 ou 4 semanas
▪ Representa 10% de todas as meningites
▪ Alta morbimortalidade
▪ 1/3 das meningites crônicas permanece sem diagnóstico
▪ Procedimento diagnóstico: quadro clínico, neuroimagem e
LCR
▪ Meningite crônica pode ser infeccioso ou não
- Quadro inflamatório autoimune
- Neoplasias
Quadro clínico
• Insidioso (semanas)
▪ Quadro mais brando, como se fosse uma viral resistente,
geralmente não há rebaixamento do nível de consciência
• > 50% astenia, cefaleia, anorexia, náuseas, rigidez de nuca,
febrícula, confusão mental e letargia.
• Coma, obnubilação, sinais neurológicos focais, paralisia de
nervos cranianos, tonturas e convulsões.
• Investigação
▪ Fatores de risco, antecedentes epidemiológicos, doenças
sistêmicas, viagens recentes e sinais de infecção em outros
órgãos
Meningites crônicas infecciosas mais frequentes
Bactérias Fungos Parasitas Vírus
M. Tuberculosis C. Neoformans Neurocisticercose
(T. Solium)
HIV
T. Pallidum H. Capsulatum T. Gondii HTLV 1/2
B. Burgdorferi Aspergillus sp S. Mansoni ——
• Mais frequentes no Brasil
▪ Espiroqueta: sífilis, Borrelia
▪ Fungos: Aspergillus, Histoplasma, blastomicose, cripto,
cândida
▪ Protozoários: toxoplasmose, chagas
▪ Helmintos: cisticercose, esquistossomose
▪ Vírus: CMV, HSV 1, HSV2, VZ, EBV, sarampo, rubéola,
parotidite, HIV, HTLV 1/2, dengue
Meningites crônicas não infecciosas mais frequentes
• Carcinomatose meníngea – metástase em outro órgão
• Leucemia/Linfoma
• Sarcoidose
• Infecções parameníngeas (empiema subdural, abscesso
epidural, osteomielite, mastoidite/sinusite, abscesso cerebral
Abordagem clínica
• Rx tórax e articulações
• RM e TC de crânio com contraste
• Hemograma, função renal e hepática
• Dosagem de ECA (sarcoidose)
• Culturas de urina, escarro, biopsia de pele, meninges e M.O
• LRC
NEUROTUBERCULOSE
• Agente etiológico: M. tuberculosis (BAAR)
• Outros agentes: M. bovis e atípicos
• Transmissão: inalação de perdigotos
• É consequência de infecção primária ou reativação de
infecção prévia
• Disseminação: a partir do complexo pulmonar ganglionar
primário por via hematogênica → meninges
• Formas de apresentação: meningoencefalite, tuberculoma
(tumoral), abscesso e mal de Pott (medular)
Tuberculoma
Mal de Pott
Epidemiologia
• Aumento da prevalência com o surgimento da AIDS
• Incidência no Brasil: 37,1 casos/100.000 hab. (2008)
• Dificuldade do diagnóstico, baixa adesão ao tto
Quadro clínico
• Sintomas arrastados
• Febre, cefaleia, alteração progressiva do nível de consciência
• Pode ocorrer comprometimento de pares cranianos (III, IV, VI
e VII)
▪ Aumento da viscosidade, aumenta a pressão e acomete os
nervos
32
Rafaela Pamplona
• Convulsões
• Consumpção
• Disfagia
• Pode haver hidrocefalia por obstrução do forame
• Consumo de glicose
LCR
• Padrão ouro
▪ Pressão de abertura normal ou discretamente elevada.
▪ Pleocitose moderada (5 a 2000 céls) com presença de LMN
e PMN
▪ Predomínio de linfócitos
▪ Aumento do teor protéico (até 500 mg/dL) com aumento do
teor de globulinas gama
▪ Hipoglicorraquia (4 a 40 mg/dL) com aumento do teor de
lactato
Imagem
• Espessamentos meníngeos (base do crânio)
• Hidrocefalias (comunicantes ou não) → paquimeningite de
base ou granulomas obstrutivos, alargamento dos ventrículos
• Tríade clássica na Angiografia
▪ Hidrocefalia
▪ Estreitamento vascular na base do crânio.
▪ Estreitamento ou oclusão das pequenas e médias artérias
cerebrais
Tratamento
• Por 9 meses
HIV E DOENÇAS OPORTUNISTAS NO SNC
• Manifestação do SNC – faz teste para HIV e VDRL
▪ Acometem 40 a 70% dos portadores do HIV
▪ Primeira manifestação de AIDS em 7 a 20%
▪ Infecções oportunistas (linf T CD4+ < 200 céls/mm3)
- Neurocriptococose
- Neurossífilis
- Neurotuberculose
- Encefalite viral
- Neurotoxoplasmose
- LEMP (vírus JC)
Neurocriptococose – fungo
• Início insidioso
• Ocorre em cerca de 5 a 7% dos pacientes com HIV
• Sinais e sintomas
▪ Sd. hipertensão intracraniana
- Pressão 60/70
- Drenagem diária do LCR, as vezes usa DVP
- Pode causar perda da visão
▪ Cefaleia de forte intensidade
▪ Náuseas e vômitos
▪ Convulsões e sinais focais
• Diagnóstico
▪ LCR.
▪ Detecção do antígeno criptocócico por aglutinação em látex
(Sens. 91% e Espec. 95%)
▪ Exames de imagem
- Hipotrofia cortical
- Lesões expansivas (criptococoma) – semelhante ao
abscesso, faz diagnóstico diferencial com TB e tumor
- Hidrocefalia
- Edema difuso
- Pseudocistos gelatinosos
• Tratamento
▪ Anfotericina B (0,7mg/Kg/dia), EV + 5-Fluorocitosina
(100mg/kg/dia), VO, por 2 semanas
- Seguido por fluconazol (400mg/dia), VO, por 8 semanas
▪ DVP em casos mais graves
33
Rafaela Pamplona
Neurossífilis
• Agente etiológico: T. pallidum
• Transmissão: sexual ou vertical
• Episódios de exacerbação e latência
• Quadro clínico
▪ Fase secundaria
- Gerais: febre, queda do estado geral, astenia,
linfadenomegalia generalizada e rash
- Neurológicos: meningite, neuropatias cranianas (perda
auditiva neurossensorial e sintomas oculares-uveíte)
▪ Fase terciária
- Goma sifilítica
- Tabes dorsalis: acometimento posterior da medula,
causando ataxia
- VDRL positivo
• Diagnóstico
▪ VDRL (no líquor)→ ↑E; ↓S (30a 70%)
- Fazer VRDL no sangue e no líquor, no líquor tem baixa
sensibilidade
▪ FTA-Abs, hemaglutinação passiva e ELISA → ↑S
- FTA-Abs fica positivo a toda vida: cicatriz sorológica
▪ LCR
- Pleocitose mononuclear: aumenta celularidade
- Aumento de proteínas >40
Maior fração gama das Ig
• Tratamento
▪ Penicilina cristalina (EV): 14 a 21 dias
- Acompanhamento com sorologia mensal (por 3 meses),
depois trimestral
NEUROTOXOPLASMOSE
• Se manifesta com sinais focais, que podem ser progressivos
• Agente etiológico: T. gondii
• Transmissão: ingestão de carne crua ou malcozida ou por
contaminação pelas fezes de gato
• É a infecção oportunista mais prevalente em HIV+
• Causada por reativação de infecção latente
• Sinais neurológicos
▪ Sinais de irritação meníngea
▪ Convulsões – gera muita crise epiléptica
▪ Sinais focais
▪ Ataxia
▪ Alteração do nível de consciência
▪ Coma
• Diagnóstico
▪ Específico
- Presença do parasita no sedimento do LCR (raro) ou em
material de biopsia
- Na prática: presunção pela clínica, estudo de imagem e
resposta ao tratamento
▪ Imagem – é suficiente
- Nódulos com reação inflamatória perilesional, edema
acentuado, na região córtico-subcortical e núcleos da
base
▪ LCR: pleocitose (<200), LMN, ↑ proteína, glicose normal
▪ Anticorpos anti-toxoplasma positivo em >95% dos casos
Granuloma da toxoplasmose
Lesão captante
Efeito de massa
• Tratamento
▪ Pirimetamina 75-100 mg/dia, VO
+
▪ Sulfadiazina 1,5-2 g/dia, VO
+
▪ Ácido folínico
▪ Suspender quando não houver mais sinais de atividade
como captação de contraste na TC
▪ Tratamento manutenção (indefinido ou até melhora da
imunidade) – prevenir infecção oportunista
- Pirimetamina 25-50 mg/dia + Sulfadiazina 1g/dia
4 a 8 semanas
34
Rafaela Pamplona
ENCEFALITES VIRAIS
• Processo inflamatório agudo no parênquima encefálico, não
passa pelas meninges
• Principais sintomas
▪ Febre
▪ Alteração do nível de consciência
▪ Convulsões
▪ Sinais focais neurológicos
• Manifestação mais grave do SNC!
▪ A localizaçãodo vírus no SNC é pior, pois vai direto para o
parênquima, causando destruição neuronal
Epidemiologia
• Predomina em idosos, crianças e pacientes
imunossuprimidos
• Doença com elevada mortalidade (5 a 20%) e sequelas (20%)
Etiologia
• Principais agentes em imunocompetentes
▪ Herpes simples (HSV)
- Mais comum e mais grave
▪ Arbovírus (Dengue e vírus do Oeste do Nilo)
▪ Enterovírus
• Principais agentes em imunocompetentes
▪ CMV
▪ Varicela-zoster (VZV)
Fisiopatologia
• Penetração através de mucosas do trato respiratório, TGI,
TGU, pele, conjuntiva ocular e sangue
• Disseminação hematogênica (arboviroses): atravessa a BHE
• Disseminação neural (herpes vírus)
• SNC: propagação viral, agressão, penetração e lesão da
célula
• Inflamação multifocal ou difusa no encéfalo
Quadro clínico
• Quadro febril agudo
• Alteração do nível de consciência, confusão, torpor e coma
• Cefaleia, sinais neurológicos focais, convulsões
• Distúrbio de comportamento, da personalidade, disfunção
cognitiva, movimentos involuntários, ataxia, mioclonia
• Pêntade
▪ Febre, cefaleia, confusão mental, déficit focal, crise
epiléptica
Encefalite Herpética
• 90% dos casos de encefalite
• Pode ocorrer em imunocompetentes ou imunossuprimidos
• Reativação de infecção endógena adquirida no passado
• Atinge o SNC por via neural (trigeminal ou olfatória?)
• Neurotropismo pelos neurônios da glia do lobo temporal
• Diagnóstico laboratorial
▪ LCR
- Padrão inflamatório
- Pressão de abertura: normal ou aumentada.
- Citologia: 10 a 500 céls/mm3, LMN.
- Bioquímica: proteinorraquia levemente aumentada (<300
mg/dL); lactato e glicose normais.
- Resposta imune: após 7 a 10 dias da infecção (sorologia).
(Rubéola, sarampo, HSV, VZV, CMV, HTLV-1 e JC).
- PCR (polimerase chain reaction): antígeno ou part. virais
no LCR. (HSV, VZV, enterovírus) - padrão ouro
• Outros exames diagnósticos
▪ EEG: presença de ondas “zeta de Magnus” na região
temporal
▪ TC de crânio
▪ RM de encéfalo: melhor sensibilidade
- Edema difuso
- Captação de contraste cortical e subcortical
- Lesão focal na região temporal
T2 Flair
• Tratamento
▪ Precoce com aciclovir (HSV 1 e 2 e VZV)
- Dose: 10 mg/kg de 8/8h EV, por 14 a 21 dias
▪ Ganciclovir e foscarnet (CMV)
▪ Biopsia cerebral em último caso