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1 Rafaela Pamplona RESUMO II – NEUROLOGIA CEFALEIAS ............................................................................................................................................................................................... 1 MIASTENIA GRAVES ............................................................................................................................................................................... 7 DEMÊNCIAS ........................................................................................................................................................................................... 14 PARKINSON E TREMOR ESSENCIAL .................................................................................................................................................. 17 NEUROLOGIA VASCULAR .................................................................................................................................................................... 22 NEUROINFECÇÃO ................................................................................................................................................................................. 28 CEFALEIAS Introdução • Definição: dor localizada acima da linha que passa pelas orbitas, meato acústico externo e transição occipito-cervical ▪ Abaixo da linha: dores faciais ▪ Abaixo da transição: cervicalgias • A dor de cabeça geralmente é gerada pelo comprometimento de estruturas intra ou extracranianas com inervação dolorosa • Queixa comum nos ambulatórios de clínica médica e neurologia • 95% da pessoas tem ou terão um episódio de cefaleia ao longo da vida • Prevalência anual de cefaleia foi de 46% ▪ Cefaleia tipo tensional (46 – 78%) ▪ Cefaleia migrânea (14 – 16%) ▪ Cefaleia crônica diária (CCD) (3%) ▪ Cefaleia em salvas (0,1 – 0,3%) • Migrânea e CCD são as que mais causam incapacidades na vida diária ▪ Impacto econômico → 20% de absenteísmo! - Traz perdas financeiras devido a redução da força de trabalho • Migrânea ▪ Mais prevalente em mulheres brancas e associada ao uso de ACO ▪ Associada à baixa renda familiar e sedentarismo • Problema de saúde publica • Segundo a classificação internacional de cefaleias, pode ser ▪ Primaria - Condição em que a dor de cabeça é a própria doença, não existindo outra causa clínica específica para justificá-la - Tipos: cefaleia tensional, enxaqueca (migrânea) e cefaleia em salvas ▪ Secundária - Relacionadas as doenças neurológicas orgânicas ou sistêmicas que afetam o encéfalo – causa base - São mais graves Epidemiologia • Cefaleia primária é mais comum que a secundária • Cefaleia tensional ▪ Mais comum, incidência em 40 – 70% ▪ Ambos os sexos • Enxaqueca (migrânea) ▪ Segunda mais comum, cerca de 15% ▪ Sexo feminino (3:1) • Cefaleia em salvas ▪ Pouco comum ▪ Homens de meia idade 2 Rafaela Pamplona Migrânea ou Enxaqueca • Enxaqueca, do árabe “ach-chaquica”, “hemicrânio”, significando literalmente metade da cabeça – distribuição característica da dor • Aspectos clínicos ▪ Início em qualquer idade - Mais comum durante a adolescência - Abaixo dos 30 anos ▪ História familiar positiva (>90% casos) ▪ Prevalência 18% (mulheres) e 6% (homens) ▪ 2º mais comum de cefaleia primária • Fisiopatologia ▪ Teoria vascular: vasoconstrição durante a aura e aumento do fluxo na carótida externa durante a fase de cefaleia – justifica a dor latejante, pulsátil ▪ Teoria neural: gerador no tronco encefálico ▪ Sistema trigeminovascular: ativação do núcleo caudal do trigêmeo no bulbo com liberação de neuropeptídeos vasoativos • Migrânea sem aura ou enxaqueca comum ▪ Cefaleia recorrente - Ataques com duração de 4 a 72h ▪ Características - Localização unilateral (20%), bilateral 1/3 dos casos - Pulsátil - Moderada intensidade ou severa - Exacerbação por atividade física - Associada a náuseas e/ou vômitos - Fotofobia - Fonofobia ▪ Critérios diagnósticos A. Pelo menos 5 ataques ❤ preenchendo os critérios B-D B. Cefalia durando 4 – 72h C. Cefaleia com pelo menos 2 características - Localização unilateral - Qualidade pulsátil - Intensidade da dor moderada ou severa - Exacerbada por atividade física rotineira, fazendo que se evite (Ex: caminhar ou subir degraus) D. Durante a cefaleia pelo menos 1 dos seguintes - Náuseas e/ou vômitos - Fotofobia ou fonofobia E. Não atribuída a outro transtorno • Migrânea com aura ou enxaqueca clássica ▪ Aura: sintomas neurológicos focais (visuais, sensitivos, distúrbios de linguagem ou motores) reversíveis, que se desenvolvem entre 5 – 20min com duração < 60 minutos - Ocorre em 15 a 20% dos pacientes - Não ocorre em todos os ataques Ex.: Estreitamento do campo visual, parestesia ▪ Subtipos - Aura típica com cefaleia migranosa - Aura típica com cefaleia não migranosa - Migrânea hemiplégica familiar - Migrânea hemiplégica esporádica - Migrânea tipo basilar ▪ Critérios diagnósticos A. Pelo menos 2 ataques preenchendo o critério B B. Aura de migrânea cumpre os critérios B e C para um dos subtipos de migrânea - B. Cefaleia durando 4 – 72h - C. Pelo menos 2 características Localização unilateral Qualidade pulsátil Intensidade da dor moderada ou severa Exacerbada por (fazendo que se evite) atividade física rotineira (ex: caminhar ou subir degraus) C. Não atribuída a outro distúrbio • Tratamento Migrânea ▪ Medidas gerais – não farmacológico - Mudança do estilo de vida!! - Evitar possíveis fatores desencadeantes Identificar e evitar fatores desencadeantes ~ Álcool ~ Alimentos (chocolate, queijos, vinho tinto, glutamato) ~ Consumo excessivo de cafeína 3 Rafaela Pamplona ~ Fome (evitar a perda das refeições) – jejum pode desencadear crises ~ Padrões irregulares de sono (falta e o excesso) ~ Odores orgânicos ~ Esforços persistentes ~ Alterações nos níveis de estresse ~ Outros (luz, luminosidade) ~ Falta de exercícios físicos ou obesidade Controlar deslocamentos ambientais ~ Mudança de fuso horário ~ Altas altitudes ~ Mudanças de clima Avaliar a relação com o ciclo menstrual - Tratar doenças concomitantes – DTM pode desencadear crises e dificultar o tratamento - Atividade física regular - Padrão de sono regular – insônia pode precipitar crises - Uso do diário das crises – avaliar se há melhorar no padrão e identificar o fator desencadeante - Orientação sobre o uso excessivo de analgésicos e automedicação O uso excessivo de analgésicos pode alterar a percepção da dor - Tratamentos não farmacológicos ▪ Farmacológico da crise – abortivo - 1º Linha: analgésicos e AINES Ibuprofeno 400mg, AAS 1000mg, Naproxeno sódico 500-550mg, Paracetamol 1000mg - Derivados da ergotamina estão em desuso, devido aos elevados efeitos colaterais - 2º Linha: Triptanos (tratamento abortivo) Sumatriptano oral 100mg, Rizatriptano 10mg, Almotriptano 12,5mg, Zolmitriptano 2,5mg, Eletriptano 40mg, Frovatriptano 2,5mg, Naratriptano 2,5mg ~ Sumatriptana subcutânea 6mg se o paciente estiver vomitando no início do ataque. Considere em ataques resistentes a triptofano oral ~ Bolacha oral: Rizatriptano 10mg ou Zolmitriptano 2,5mg se a ingesta de líquidos piorar a náusea ~ Spray nasal: Zolmitriptano 5mg ou sumatriptano 20mg se o paciente apresentar náuseas - 3º Linha: Naproxeno sódico 500-550mg em combinação com o triptofano - 4º Linha: analgésicos de combinação de dose fixa (com codeína se necessário; não recomendado para uso rotineiro) - Medicações auxiliares: metoclopramida (plasil) 10mg, domperidona 10mg, haloperidol, dexametasona e prednisona Corticoide só é utilizado quando a crise dura mais de 72h ▪ Farmacológico da crise – profilático- Duração: aproximadamente 1 ano Após 3 meses, as crises precisam reduzir cerca de 50% – importância do diário das crises - Indicações Frequência das crises: 3 ou mais crises por mês Grau de incapacidade importante: pessoal, familiar, social e produtiva Falência da medicação abortiva: ineficácia, uso ou abuso excessivo, intolerância ou contraindicação para uso de sintomáticos Subtipos especiais de migrânea (basilar, hemiplégica, com aura prolongada, com auras frequentes e atípicas, infarto migranoso) Ineficácia da profilaxia não farmacológica - Betabloqueadores: propranolol, atenolol, nadolol e metoprolol - Antidepressivos: amitriptilina e nortriptilina - Antagonistas serotoninérgicos: metissergida, pizotifeno e ciproeptadina - Anticonvulsivantes: VPA/DVPA, TPM - Bloqueadores de canais de cálcio: cinarizina, flunarizina e verapamil É importante saber o medicamento, não a dose 4 Rafaela Pamplona Cefaleia do tipo tensional – CTT • Forma mais comum de cefaleia primaria • Classificação ▪ Cefaleia do tipo tensional episódica infrequente ▪ Cefaleia do tipo tensional episódica frequente - Associada a distúrbio de músculos pericraniano - Não associada a distúrbio de músculos pericranianos ▪ Cefaleia do tipo tensional crônica - Associada a distúrbio de músculos pericraniano - Não associada a distúrbio de músculos pericranianos • Fisiopatologia ▪ Desconhecida ▪ Anormalidades na contração dos músculos cervicais e temporais (natureza não esclarecida) ▪ Associação com ansiedade, depressão, ressentimento, raiva, estresse • CTT episódica infrequente ▪ Características - Duração de minutos a dias – pode durar até 7 dias - Menos de 1 vez por mês - Dor é bilateral, em pressão ou aperto “em faixa” - Leve a moderada intensidade - Não piora com atividade física - Não há náusea - Pode ter fotofobia ou fonofobia ▪ Critérios diagnóstico A. Pelo menos 10 crises que ocorrem menos que 1 dia por mês em média (<12dias por ano) e cumpre critérios B-D B. Cefaleia que dura de 30 min a 7 dias C. Pelo menos 2 das seguintes características - Localização bilateral - Caráter em pressão/aperto (não pulsátil) - Intensidade leve ou moderada - Não é agravada por atividade física rotineira (caminhar ou subir degraus) D. Ambos os seguintes - Ausência de náusea ou vômitos (pode anorexia) - Fotofobia ou fonofobia – apenas um! E. Não ser atribuída a outro distúrbio • Hiperalgesia ou dolorimento pericraniano ▪ Aumento da sensibilidade dolorosa (palpação) - Achado mais significativo na CTT ▪ Aumenta com a intensidade e a frequência da cefaleia ▪ Palpação dos músculos: frontal, temporal, masseter, esternocleidomastóideo, esplênio e trapézio • Tratamento da CTT ▪ Medidas gerais: orientação, hábitos saudáveis, exercícios, sono, redução do estresse ▪ Analgesia: analgésicos simples, analgésicos associados à cafeína e AINEs ▪ Profilaxia: antidepressivos tricíclicos, miorrelaxantes associados O tratamento é semelhante ao da enxaqueca, porém os triptanos não serve IMPORTANTE TENSIONAL X ENXAQUECA 30min a 7dias DURAÇÃO 4 a 72h Aperto/pressão DOR Pulsátil Bilateral REGIÃO Unilateral Leve a moderada INTENSIDADE Forte Não há AGRAVANTES Esforço Não há náuseas, vômito OUTROS SINAIS Náusea, vômito, fotofobia Estresse, ansiedade, tensão muscular GATILHOS Insônia, café, vinho, jejum, hormônios, estresse 5 Rafaela Pamplona Cefaleia em salvas • Cluster headache, cefaleia histamínica, cefaleia de Horton, neuralgia esfenopalatina • Mais rara, apesar da dor ser intensa é de pequena duração • Cefaleia trigeminoautonômicas – frequentemente associada a sintomas autonômicos, como rinorreia, hiperemia conjuntival • Mais comum em homens • Incidência elevada de tabagismo e alcoolismo • Características ▪ Dor forte ou muito forte unilateral ▪ Orbitária, supraorbitária e/ou temporal ▪ Duração de 15 a 180 minutos ▪ Acompanhada por pelo menos 1 sinal ou sintoma autonômico ipsilateral - Lacrimejamento - Congestão nasal - Rinorreia, - Edema palpebral - Sudorese facial - Miose - Ptose ▪ Ocorrer até 8 vezes ao dia ▪ Não ser atribuída a outro distúrbio • Tratamento ▪ Preventivo: Verapamil, metissergida, lítio e melatonina - Verapamil é preciso realizar ECG seriado e o aumento da dose deve ser gradual ▪ Neuromoduladores: VPA, TPM e GBP ▪ Preventivo transitório: naratriptano, corticoide ▪ Abortivo: oxigênio (VNI), sumatriptano - Oxigênio é muito eficaz - Sumatriptano subcutâneo não tem no Brasil ▪ Considerar encaminhamento precoce a um especialista Cefaleias secundárias • Há uma causa base para a dor ▪ Ex.: rompimento de aneurisma, tumor, algum evento vascular, otite média aguda etc ▪ A causa mais grave é a hemorragia subaracnóidea • Suspeitar se ▪ Instalação súbita “como um raio na cabeça” ▪ Caráter progressivo – pico máximo de dor em menos de 1min “a pior dor da minha vida” ▪ Iniciar após os 40 anos ▪ Instalação recente em portadores de neoplasias e/ou HIV ▪ Associada a sinal neurológico ou doença sistêmica ▪ Atípica ▪ Apresentar mudança de padrão • Red flags ▪ “Pior” cefaleia sofrida ▪ 1º cefaleia grave ▪ Agravamento subagudo no decorrer de dias ou semanas ▪ Exame neurológico anormal ▪ Febre ou sinais sistêmicos inexplicados ▪ Vômitos precedendo a cefaleia ▪ Induzida por inclinação, levantamento de peso, tosse ▪ Perturba o sono ou ocorre logo ao acordar ▪ Doença sistêmica conhecida ▪ Início após os 55 anos de idade • Abordagem prática ▪ Cefaleias agudas recorrentes - Hemorragia subaracnóidea Mais grave Cefaleia em trovoada ou súbita - Trombose venosa cerebral Não é comum a dor muito intensa de imediato - Infecções - Traumas cranioencefálico e cervical - Arterite de células gigantes - Hipotensão intracraniana ▪ Cefaleias agudas ▪ Cefaleias crônicas progressivas - Tumores intracranianos - Hipertensão intracraniana idiopática (Pseudotumor cerebri) - Abscesso cerebral 6 Rafaela Pamplona Raciocínio clínico-neurológico • Lembrar do diagnóstico ▪ Sindrômico: síndrome álgica-craniana ▪ Anatômico ou topográfico Córtex Músculo Subcórtex Cerebelo Tronco cerebral Meninges Medula Espaço subaracnóide Raízes Crânio/partes moles Nervos periféricos Vasos sanguíneos Placa neuromuscular ▪ Etiológico Vascular Mecano-traumático Inflamatório/infeccioso Desmielinizante Autoimune Degenerativo Tóxico/metabólico Genético Neoplásico ▪ Nosológico - Doenças em si • Primeiro, pior e súbito “a pior dor de cabeça da minha vida” ▪ AVC Hemorrágico intraparenquimatoso ▪ H.S.A ▪ Dissecção arterial ▪ Trombose venosa cerebral ▪ Apoplexia pituitária ▪ Outras hemorragias intracranianas • Cefaleia progressiva ▪ Lesão com efeito de massa - Neoplasia (primária? secundária?) - Hematoma subdural/ Extradural - Abscesso cerebral/ Lesões granulomatosas ▪ Hipertensão liquórica - Hidrocefalia • Cefaleia + sinais focais ▪ Lesões com efeito de massa - Neoplasia (primária? secundária?) - Hematoma subdural/ Extradural - Abscesso cerebral/ Lesões granulomatosas ▪ AVCs isquêmicos ou hemorrágicos ▪ Neuroinfecções ▪ Hipertensão intracraniana idiopática • Cefaleia + febre + rigidez de nuca ▪ Neuroinfecções - Bacterianas - Virais - Fúngicas - Parasitárias ▪ Doenças Autoimunes ▪ Carcinomatose meníngea ▪ Hipertensão intracraniana • Cefaleia + início > 55anos ▪ Neoplasia ▪ Arterite temporal (células gigantes) • Cefaleia + HIV/ câncer/ imunossupressão ▪ Neuroinfecções - Viral - Fungos - Parasitas - Bacterianas (+ granulomatosas) ▪ Neoplasia - Linfoma - Outras (principalmente metástases)Casos clínicos CASO 1 Paciente, 20 anos, sexo feminino, chega ao PS com relato de cefaleia em hemicrânio direito, de forte intensidade há 24 horas, do tipo pulsátil, acompanhada por náuseas e vômitos, fonofobia e fotofobia. Refere piora com atividade física. Já apresentou mais de 5 episódios semelhantes no último mês, sempre com dores incapacitantes, que a impede de realizar suas atividades habituais. Antecedentes: asma. Qual o diagnóstico? Enxaqueca Qual medicação você faria no PS? Analgésico, dexametasona, haldol, plasil Qual seria suas orientações? Evitar fatores desencadeantes CASO 2 Paciente, 18 anos, apresenta há 2 meses crises diárias de cefaleia, que recorrem mais de 5 vezes ao longo do dia, caracterizadas por episódios que duram cerca de 30 minutos, com dor na região orbitofrontal direita, associada a hiperemia conjuntival, ptose palpebral e rinorreia ipsilaterais. Qual é o diagnóstico? Cefaleia em salvas Qual o tratamento na crise? Oxigênio Qual o tratamento preventivo? Verapamil 7 Rafaela Pamplona CASO 3 Paciente, 32 anos, apresentando quadro de cefaleia há 2 meses, 3 vezes por semana, de caráter bilateral, em pressão, tipo “faixa”, de moderada intensidade, com duração em torno de 2 dias. Refere piora no fim do dia. Associa o início da cefaleia, após ter sido promovido a gerente da empresa onde trabalha. Nega náuseas e vômitos associados. Qual o diagnóstico? CTT Qual o tratamento? Preventivo – antidepressivos CASO 4 Paciente, 55 anos, admitido na emergência do hospital com a queixa de apresentar de forma súbita, há 30 minutos, a “pior cefaleia da sua vida”, do tipo explosiva, associada a náuseas e vômitos. Antecedentes: DM, HAS e tabagismo. Ao exame neurológico: NNCC sem alterações; Força, tônus e trofismo sem alterações; RCP indiferente bilateral. Cerebelo: Normal. Nuca rígida+; FO: normal. Qual o diagnóstico? Cefaleia secundária a hemorragia subaracnóide Qual o exame você pediria? TC de crânio Como você trataria? Causa base MIASTENIA GRAVES CASO 1 ID: SCF, sexo feminino, 32 anos, parda, balconista. QP: Fraqueza muscular progressiva e fadiga há 15 dias. HDA: Paciente relata que há cerca de dois meses notou “visão borrada” com piora à noite e ao fazer leituras prolongadas e com melhora ao acordar. Marido refere que, durante o mesmo período, percebeu que as pálpebras da paciente estavam ficando mais baixas. No último mês passou a apresentar cansaço da mandíbula ao final das refeições e dificuldade de deglutição, se engasgando com facilidade. Há cerca de quinze dias, evoluiu com alteração na fala, fraqueza muscular progressiva iniciada em MMSS, com dificuldade para pentear o cabelo, que progrediu para MMII, prejudicando a deambulação a ponto de necessitar de cadeira de rodas. Relata quadro de fadiga e cansaço proeminentes ao final dia, principalmente, nos dias mais estressantes Exame Físico Geral: NDN Neuro: Vígil, orientada, obedecendo a comandos simples e complexos. Isocórica e pupilas fotorreagentes. Ptose palpebral bilateral, disártrica; Motricidade ocular extrínseca fatigável com movimentação contínua. Sem outros déficits de nervos cranianos. Tônus muscular preservado. 8 Rafaela Pamplona FM grau 3/5 em MSE proximal e grau 4/5 em MSD proximal; FM grau 2/5 em MMII proximal. Demais grupos musculares com força preservada. Grau 3 – vence a gravidade Grau 2 – rola o membro Reflexos tendinosos profundos +/IV globalmente. Reflexo cutâneo plantar flexor bilateralmente. + hiporreflexo ++ normal +++ vivo ++++ patológico Avaliação de coordenação apendicular prejudicada. Sensibilidade preservada Histórico • “Myasthenia gravis" (grega/latina) – fraqueza muscular severa ▪ "mys" = músculo ▪ "astenia" = fraqueza ▪ "gravis" = severo • Thomas Willis, clínico inglês de Oxford, primeiras descrições doença 1672 "paralysia spuria non habitualis" • Primeiro relato miastenia grave 1868, Hèrard, clínico francês, Hospital Lariboisière, Paris, "De la paralysie glosso-labio- laryngée” Introdução • Adquirida, autoimune • Também pode ser congênita ou neonatal ▪ Congênita: nasce com defeito na JNM ▪ Neonatal: mãe transfere anticorpos ao feto, bebê desenvolve sintomas ao nascimento, evolução benigna • Crônica • Relativamente incomum ▪ 3 – 5 casos para cada 10mil habitantes ▪ Importante saber identificar • Mais frequente doença na junção neuromuscular – JNM • Mulher x Homem – bimodal ▪ Mulher: 20 – 30 anos ▪ Homem: 70 – 80 anos Epidemiologia • Incidência: 7-23 / 1.000.000 • Prevalência: 70 -320 / 1.000.000 • Mulher: 20-30 anos • Homem: 70-80 anos • A cada 10 mil – 3 a 5 afetados (OMS) • Mortalidade: 1,7 / 1.000.000 Fisiopatologia • Processo fisiológico ▪ O estimulo elétrico no componente pré-sináptico permite a entrada de cálcio, que libera acetilcolina na fenda sináptica ▪ A acetilcolina se liga aos receptores do componente pós- sináptico, que permite a entrada de sódio no músculo ▪ A entrada de sódio dá início a contração muscular • Miastenia gravis ▪ Autoanticorpos agridem e destroem os receptores de acetilcolina, dificultando a entrada de sódio - Sem a entrada do sódio não ocorre contração muscular, causando fraqueza ▪ Autoanticorpos contra as proteínas auxiliares MuSK e Lrp4 - Anti-MuSK: a contração fica prejudicada, pois os anticorpos impedem a organização e agrupamento dos receptores de acetilcolina ▪ Timoma e outros autoanticorpos (ou seja, titina) ▪ Soro negativos 9 Rafaela Pamplona Autoimune • Justificativas importantes que justificam MG ser uma doença imunomediada ▪ Autoanticorpos presentes 80% a 90% pacientes afetados - 10% dos pacientes são soro negativos ▪ Autoanticorpos reagem antígeno específico (AchR) ▪ Autoanticorpos são transferidos passivamente pela placenta → Miastenia neonatal ▪ Redução níveis de autoanticorpos é associada melhora clínica - Crise miastênica: plasmaferese para filtragem e retirada de anticorpos • Timo ▪ Órgão linfoide com função de produzir células do sistema imune ▪ Formado por células mióides, que possuem receptores de acetilcolina, muSK e Lrp4 semelhante ao músculo ▪ Órgão imune com antigeno em seu interior, favorecendo o desenvolvimento da doença - Linfócitos T autorreativos: relacionado a imunidade celular, o processo inflamatório causa crescimento do timo por hiperplasia • Linfócitos B, imunidade humoral, também produzem anticorpos contra acetilcolina • Via complemento ▪ Os anticorpos antirreceptores da acetilcolina pertencem às subclasses 1 e 3 de imunoglobulina G (IgG), as quais ativam o sistema complemento e se ligam, em sua maior parte, à região imunogênica principal, que está localizada na parte extracelular da subunidade α Classificação Osserman e Genkins • Antiga, em desuso • Ainda é útil para prevalência de acordo com a forma Classificação pela fundação americana • A classe da fraqueza é avaliada de acordo com o músculo ou grupo muscular mais severamente afetado na gravidade máxima do paciente ▪ Classe I – fraqueza ocular ▪ Classe II – comprometimento além dos oculares - a – predomínio de membros - b – predomínio orofaringe: disfagia, disfonia e disartria ▪ Classe III – fraqueza moderada - a – predomínio de membros - b – predomínio orofaringe: disfagia, disfonia e disartria ▪ Classe IV – fraqueza grave, dificuldade de deambular - a – predomínio de membros - b – predomínio orofaringe: disfagia, disfonia e disartria ▪ Classe V – intubação Principais sintomas e considerações no diagnóstico diferencial 10 Rafaela Pamplona • Forma ocular – 50% dos casos: diplopia, ptosee fraqueza da MOE • Sintomas bulbares – 15% dos casos: manifestação do NC 9, 10, 11 e 12, causando disfagia, disfonia, disartria • Fraqueza distal é de responsabilidade do sistema piramidal, que faz parte do SNC, sendo raramente manifestada Quadro clínico • Sinal cardinal: fraqueza muscular flutuante, apresentando fadiga ao final do dia ▪ Grau de fraqueza muscular varia entre os dias, entre as hora em hora e piora com a atividade e melhora no repouso • 50% dos pacientes com tipo I – forma ocular – progridem para a forma generalizada a doença após 3 anos, comprometendo esqueleto apendicular ▪ Exame fibra única negativo em pcts tipo I implica que há 82% de chance de permanecer na forma ocular • Não há um preditor para a generalização da doença, ou seja, o sintoma que iniciou não determina se vai ou não generalizar Diagnóstico Quadro clínico + 1 teste confirmatório Anamnese, exame físico neurológico Anticorpo EMG (forma soro negativa) • Tipo I: investigar diagnóstico diferenciais • Buscar lesões do timo – RNM e TC • Pesquisar outras doenças autoimunes Exame neurológico • Manobras de fatigabilidade clínica ▪ Olhar para cima por 60s: causa piora da ptose ▪ Abdução de MMSS por 2min: paciente não sustenta ▪ Elevação de MMII por 90s ▪ Sentar-levantar 20x, sem usar os braços ▪ Contar até 50 em voz alta: acentuação da disartria ou disfonia Prova farmacológica • Teste Edrofônio (Tensilon) ▪ Não é mais utilizado devido aos efeitos colaterais – bradicardia, hipotensão e choque • Teste do gelo ▪ Compressa de gelo sobre as pálpebras por 1 a 2min, leva a inativação temporária do anticolinesterásico - Sensibilidade 96% Especificidade: 88% - Valor preditivo negativo 95% - se não houver melhora da ptose, provavelmente não é MG Laboratorial – principais anticorpos na MG • Baixa sensibilidade e alta especificidade • Anti-RACh ▪ Mais comum - 50% dos pacientes com MG ocular - 85% dos pacientes com MG generalizada ▪ Não há correlação com a gravidade dos sintomas • Anti-MuSK ▪ 40% dos 15% dos pacientes com MG generalizada negativos para Anti-RACh ▪ Raramente são positivos na MG ocular • Anti-LRP4 ▪ 18% dos pacientes soro negativos para Anti-RACh e anti- MuSK 11 Rafaela Pamplona Testes neurofisiológicos • São realizados quando o teste de dosagem de anticorpo dá negativo • Estimulação repetitiva ▪ Estímulo de 2-3Hz por 10s - Quanto maior a amplitude do potencial de ação, maior a quantidade de fibras contraídas - Com a estimulação repetida ocorre queda da amplitude dos potenciais, pois não há comunicação efetiva entre o nervo e o músculo ▪ Pesquisa mais em nervos proximais, pois a fraqueza é mais pronunciada na musculatura proximal - Distal Nervo mediano – m. abdutor curto do polegar Nervo ulnar – m. flexor ulnar do carpo - Proximal Nervo facial – m. nasal, m. orbicular do olho, m. orbicular da boca Nervo acessório – m. trapézio ▪ Decremento > 10% - Disfunção na JNM: quando há queda da amplitude maior que 10% entre o 1º e o 4º potencial ▪ Sensibilidade - MG generalizada: 53 a 100% - MG ocular: 17%, normalmente dá negativo • Fibra única ▪ Padrão ouro ▪ Maior sensibilidade pouca especificidade - É necessário ter clínica para MG ▪ 1agulha estuda 2 fibras muito próximas - MCD – diferença significativa entre consecutivos Por serem muito próximas não deve haver muita diferença na resposta há estimulação Jitter normal Jitter anormal Sensibilidade dos testes diagnósticos % positivo na MG generalizada % positivo na MG ocular Anti-RACh 80 a 90 40 a 55 Anti-MuSK 40 a 50 < 10 Estimulação repetida 75 < 50 Fibra única 92 a 99 80 a 95 Diagnósticos diferenciais • Botulismo: compromete os canais de cálcio • Eaton-Lambert: doença paraneoplásica associada a CA de pulmão de pequenas. Paciente apresenta fadiga de início insidioso e gradual, fraqueza e xerostomia • Miastenia congênita: nasce com alteração ou ausência dos receptores de ACh – baixa sobrevida • Doenças Tireoide • Blefaroespasmo: unilateral • Neuropatia craniana diabética: neuropatia do III NC, desvio para fora • Miller Fisher: arreflexia, ataxia e oftalmoplegia - Cerebelar: antes de fechar os olhos já cai ▪ Ataxia - Proprioceptiva: cai para lados diferentes - Vestibulopatia: latência e cai para o lado lesado • ELA: fraqueza muscular e sinais de comprometimento do 1º neurônio motor Tratamento • Importante saber qual o tratamento mais efetivo e o tempo máximo da efetividade • Medidas gerais e preventivas ▪ Evitar infecções ▪ Evitar esforços físicos intensos 12 Rafaela Pamplona ▪ Evitar medicações que podem agravar o quadro - Contraindicação absoluta Bloqueador neuromuscular ATB – aminoglicosídeo, quinolona, macrolídeo Betabloqueadores – propranolol e atenolol ▪ Imunização - Evitar vírus atenuado, principalmente contra H.Zoster - Recomendado: influenza e pneumocócica • Sintomáticos ▪ Terapia inicial ▪ Inibidor da acetilcolinesterase ▪ Piridostigmina (mestinon) - Age rápido: 10 a 15min - Duração: 2h ▪ Neostigmina – saiu do mercado ▪ Efedrina (IAM, Morte Súbita) ▪ Diaminopiridina: M. congênita ▪ Efeito colateral: diarreia, indigestão, hipotensão, taquicardia ▪ Crise colinérgica – dose >120mg 3/3h ▪ Pouca resposta ao anti-MuSK • Imunoterapias crônicos ▪ Mudam a progressão da doença ▪ Corticoide – Prednisona 1º linha - Mais utilizado - Início da ação: 2 a 3 semanas - Duração: 5 a 6 semanas - Remissão em 30%, com melhora importante 50% Iniciar o tto com 20mg, aumentando 5mg/dia até a dose alvo até chegar à dose alvo, em média 60mg a 80mg – dose alta pode causar piora transitória do quadro – importante iniciar o quanto antes o desmame gradual ▪ Azatioprina - 1º linha - Início da ação: 1 ano - Duração: 2 anos - Poupador de corticoide - Atua diminuindo a produção de linfócitos e do anti-RACh - Melhora 70-90% - Acompanhamento da eficácia: pct deve apresentar macrocitose (aumento do VCM) - Efeitos colaterais: síndrome gripal, náuseas, vômitos, ceratose - Contraindicação: associação com Alopurinol ▪ Micofenolato de mofetila - 1º linha - Início da ação: 6 meses a 1 ano - Duração: 2 anos - Poupador de corticoide - Atua na diminuição e proliferação de linfócitos - Hemograma periódico para avaliar os neutrófilos, caso diminuam é sinal de mal prognostico – suspende o medicamento ▪ Rituximabe - Anticorpo monoclonal – diminui linfócitos B - MG refratária - 2º linha para pacientes com Anti-MuSK positivo - Efeitos colaterais: febre, calafrios, LEMP (leucoencefalopatia multifocal progressiva – grave) ▪ Ravulizumabe e Efgargimod - Início da ação: 1 a 2 semanas - Duração: 4 a 10 semanas - Custo elevado • Imunoterapias agudas ▪ Crise miastênica - Insuficiência respiratória neuromuscular - Desencadeada: por infecção, cirurgia, desmame da imunossupressão, uso de medicações contraindicadas - Intubação eletiva deve ser feita Capacidade vital < 20ml/kg Pressão inspiratória máxima < -30cmH2O - Intubados: suspender medicamentos sintomáticos, pois aumenta a produção de secreção - Plasmaferese (1º) ou Imunoglobulina - Imunossupressor em concomitância - Mortalidade 5% ▪ Imunoglobulina - Se liga aos autoanticorpos - Início da ação: 1 a 2 semanas - Duração: 1 a 3 semanas - Indicação: MG refratária e crise miastênica - Efeitos colaterais: cefaleia, náuseas, tontura, calafrio Raro: IRA, anafilaxia por redução de IgA ▪ Plasmaferese - Filtra e retira os anti-RACh 5 trocas: 3 a 5L de plasma em 7 a 14 dias - Início da ação: 1 a 7 dias - Duração: 1 a 3 semanas - Indicação: crisemiastênica - Iniciar imunossupressor junto 13 Rafaela Pamplona Plasmaferese Imunoglobulina Dose 5 trocas de 3 a 5L durante 10 a 14dias 400mg/kg por 5dias Tempo de início 1 a 7 dias 1 a 2 semanas Duração 1 a 3 semanas 1 a 3 semanas Efeitos adversos Infecção de linha, hipotensão, tromboembolismo Cefaleia, sobrecarga hídrica, insuficiência renal (raro) • Timectomia – tratamento cirúrgico ▪ Timoma - Tumor no timo presente em 10 a 15% dos pacientes com MG - Faz ressecção completa ▪ Sem timoma - Investiga anticorpos – se positivo para Anti-RACh Soro negativo – não faz retirada - Investiga forma e a gravidade do quadro - De acordo com a idade Menor de 50 anos: timectomia Entre 51 e 65: analisar riscos e benefícios da cirurgia Acima de 65 anos: não faz retira o timo Diagnóstico de MG e status de anticorpo confirmado ↓ Avaliação inicial - Farmacoterapia com anticolinesterásicos com ou sem imunoterapia para controle dos sintomas - TC ou RNM de tórax para investigar timoma ↓ TC ou RNM evidência timoma? SIM NÃO Timectomia Pct tem anti-RACh positivo ou é soronegativo? SIM NÃO Pct tem um dos seguintes - MG generalizada - MG ocular com sintomas incapacitantes apesar da farmacoterapia SIM NÃO Sem timectomia Idade < 50 anos 51 a 65 anos > 65 anos Timectomia Decisão baseada na gravidade dos sintomas e riscos operatórios Sem timectomia Gravidez • Exacerbação dos sintomas no 1ºtrimestre e no puerpério • MG neonatal ocorre em 10 – 20%: observar durante 72h • Planejamento gestacional • 1ª escolha ▪ Sintomático: Piridostigmina ▪ Tratamento crônico: prednisona e Azatioprina • Pré-eclâmpsia ▪ Metildopa e Hidralazina: para controle pressórico ▪ Sulfato magnésio é contraindicado ▪ Levetiracetam, Valproato (Fenitoína – refratária) podem ser utilizados Prognóstico • Geralmente, bom • Mortalidade baixa • Crise miastênica ▪ Morbidade > 2 semanas ventilação 14 Rafaela Pamplona DEMÊNCIAS Introdução • São doenças neurodegenerativas • Epidemiologia ▪ Diminui a expectativa de vida ▪ Saúde pública ▪ Prevalência - Demência: é proporcional ao aumento da faixa etária - Doença de Alzheimer: é o protótipo/principal • Conceito ▪ CID - Deterioração global da cognição, que é a capacidade de aprendizado de forma insidiosa - Alteração desempenho em relação ao status prévio por no mínimo 6 meses - Critérios de exclusão Rebaixamento consciência Delirium: alteração psicótica por uma alteração metabólica, infecciosa ou intoxicação exógena – quadro agudo Demências • Investigação clínica ▪ Sempre buscar identificar o que está causando o quadro demencial, excluindo causas agudas, quadros infecciosos, metabólicos ▪ Exame neurológico - Praticamente normal, pode ter algum achado, mas nada é específico ▪ Exames laboratoriais - Normalmente sem alteração, quando alterado é relacionado a outras patologias - Hemograma - Eletrólitos: sódio, potássio, - Glicemia - Coagulograma - TGO, TGP - Exame de urina - Avaliação pulmonar - Os exames laboratoriais funcionam como de exclusão, de que seja um delirium Doença de Alzheimer • Protótipo das demências – mais comum • Histórico ▪ Alois Alzheimer em 1906 - Pacientes com distúrbios de comportamento/cognitivo: alteração de comportamento, perda de memória, violência não mencionada anteriormente etc - Autopsia: atrofia cortical difusa • Conceitos ▪ Doença neurodegenerativa insidiosa, progressiva, crônica e irreversível ▪ Relacionado a atrofia da região parahipocampal ▪ Afeta todas as funções cognitivas, trazendo alterações comportamentais, de memória, afetivas, de aprendizagem, executiva, fala etc • Quadro clínico ▪ Primeiro sinal – perda de memória ▪ Apraxia: dificuldade com atividades diárias ▪ Faz coisas sem sentido, coloca coisas em lugares estranhos ▪ Confusão mental (horário/data/local) ▪ Esquece palavras comuns ou utiliza palavras incorretas ▪ Memória antiga demora mais para perder • Genética ▪ Forma esporádica mais comum ▪ Forma familiar ocorre em 5-7% dos casos - Padrão autossômico dominante - Alelo E4 da apolipoproteína E (presente nas duas formas) • Macroscopia Normal Doença de Alzheimer 15 Rafaela Pamplona ▪ Atrofia difusa dos hemisférios cerebrais, envolvendo córtex e substância branca, e evidente através da dilatação simétrica dos ventrículos laterais – hidrocefalia - Hidrocefalia ex vácuo porque ocorre secundariamente à atrofia, ou seja, os ventrículos se dilatam para preencher um vazio - Geralmente a atrofia na doença de Alzheimer afeta predominantemente os lobos frontais e temporais - Ocorre uma atrofia de sulcos e giros cortesias, principalmente em região frontal e temporal - Atrofia do hipocampo • RNM ▪ Mais escuro – mais licor ▪ Hipocampo atrófico – hipocampo armazena nossas memorias ▪ Diagnóstico: atrofia parahipocampal Normal Seta aponta para hipocampo totalmente preenchido Doença de Alzheimer Seta aponta para atrofia parahipocampal com presença de líquor preenchendo o espaço • Microscopia ▪ Padrão ouro: Biopsia pós-morto ▪ Características anatomopatológicas – patognomônica - Emaranhados neurofibrilares: intracelular – deposição de material amiloide dentro dos corpos de neurônio - Placas senis: extracelular – deposição de proteínas beta amiloides no neurópilo Neurópilo: tecido entre os tecido entre os corpos celulares dos neurônio - Há também espessamento e tortuosidades dos dendritos e axônios nas proximidades do depósito, que podem ser demonstrados com impregnação pela prata • Fatores de risco ▪ Idade: aumenta com a idade ▪ Hereditariedade ▪ Sexo feminino ▪ Genética ▪ Idade materna: gestação acima de 40 anos ▪ TCE: fratura de base de crânio ▪ Outros • Fatores protetores ▪ Nível educacional - Quanto mais orientado/mais leitor, menor a chance de diminuir de ter, mas não exclui a possibilidade ▪ Antioxidantes: vitamina E, ômega 3 ▪ AINEs ▪ Estrogênios: ACO 16 Rafaela Pamplona • Quadro clínico – 3 fases ▪ Inicial: 2 primeiros anos - Perda de memória leve Rápida/fugaz para as coisas do dia a dia ▪ Intermediaria: de 2 a 10 anos - Alterações de Afasia: linguagem, dificuldade de entendimento e na escrita Apraxia Agnosia: dificuldade de nomear objetos ▪ Avançado: acima de 10 anos - Funções cerebrais amplamente afetadas - Alteração do comportamento: agressividade, apatia, depressão - Afasia importante - Incapacidade de deambular • Diagnóstico – Clínico ▪ Mini mental: mede o conteúdo de consciência - Grau de consciência e orientação - Baixa pontuação na doença de Alzheimer - Difícil de realizar em analfabetos ▪ Laboratório: excluir outras causas ▪ LCR: não é feito de rotina. Pode ter diminuição das proteínas no líquor ▪ TC de crânio com contraste: atrofia parahipocampal • Diagnóstico diferencial ▪ Excluir causas estruturais: tumor, infecção do SNC ▪ Rebaixamento agudo do nível de consciência - Delirium - Desidratação - Hipoperfusão cerebral - Medicações - Distúrbio infecto-metabólico (coma hiperosmolar – HEE) • Tratamento ▪ Não reverte a condição clínica e não vai voltar a memória ▪ Objetivo é desacelerar a evolução, não bloquear ▪ Anticolinesterásicos: aumenta a concentração de ACh na fenda sináptica - Tacrina: não é mais usada - Donepezila: mais usada Começa com 5mg, depois de 4 semanas para 10mg - Rivastigmina: 2ª opção - Galantamina: 2ª opção ▪ Antagonista do receptor NMDA (glutaminérgico) - Memantina:para casos moderados a graves Demência vascular • Demência com evolução devido a razões vasculares • Tipos ▪ Por múltiplos infartos em vários locais ▪ Por infarto estratégico (específico) ▪ Doença de Binswanger - Doença de pequenos vasos - Quebra do epêndima nas regiões periventriculares com aumento do conteúdo líquido da substância branca local, perda de mielina e espaço perivascular aumentado Hipersinal – partes brancas ▪ Hipoperfusão cerebral: IAM, parada cardiorrespiratória ▪ AVE-h • Diagnóstico ▪ Demência surge de 1 a 2 anos após a lesão vascular ▪ Sintomas subcorticais - Bradifemia: pensamento lento - Ataxia - Hemiparesia decorrente de AVC - Alteração de deglutição • Tratamento ▪ Galantamina ▪ Antipsicóticos: para pacientes com alteração de comportamento e distúrbios do sono Demência frontotemporal ou Demência de Pick • 1892: Arnold Pick – quadro característicos ▪ Pacientes < 50 anos ▪ Atrofia frontotemporal - Presença de reflexos primitivos ▪ Frontalização – síndrome da liberação frontal - Região frontal do cérebro é responsável Pelo centro de controle comportamental e emocional Pela personalidade Pelos movimentos voluntários do corpo ▪ Ocorre alteração comportamental, não perda de memória • Tratamento ▪ Tratar doença de base com antipsicóticos mais usadas em demências vasculares 17 Rafaela Pamplona Demência de corpos de Lewy • Demência • Sintomas de parkinsonismo ▪ Alteração do movimento: tremor, rigidez, bradicinesia • Alterações de sono • Disautonomia ▪ Alteração do SNA causando taquicardia, disfunção urinaria, disfunção sexual, sudorese, constipação Hidrocefalia de pressão normal • Dilatação ventricular por acúmulo de líquor • Pressão normal • É uma urgência, não é emergência • Síndrome de Hakim Adams – Tríade ▪ Demência ▪ Alterações esfincterianas ▪ Distúrbios de marcha • Quadro clínico: sutil, demência, ataxia de marcha, incontinência urinária • Diagnóstico ▪ Clínico ▪ TC e RNM ▪ TAP teste – realizado no hospital - Pouco feito na prática - Retira 30ml de líquor diariamente, observando a evolução do paciente - Caso o paciente melhore, serve como diagnóstico e conduta pré-operatória • Tratamento ▪ Potencialmente cirúrgico ▪ Derivação ventriculoperitonial (DVP) - Implante de um sistema interno de drenagem de líquor para região peritoneal, feita em região frontal ou occipital, onde coloca um dreno em ventrículo - Maiores riscos: infecção, desconexão da válvula, mudança de pressão da válvula etc PARKINSON E TREMOR ESSENCIAL Parkinsonismo X Doença de Parkinson • Parkinsonismo ▪ Termo genérico que designa uma série de doenças com causas diferentes, as quais têm em comum a presença de sintomas parkinsonianos, ou seja, aqueles sintomas encontrados na Doença de Parkinson • Doença de Parkinson ▪ É uma das muitas formas de Parkinsonismo e também a mais frequente, correspondendo a cerca de 80% de todas as formas de Parkinsonismo ▪ Como não se conhece a causa da DP, ela é também denominada de Parkinsonismo primário Doença de Parkinson • Distúrbios de movimento • Insidiosa, progressiva e irreversível • Histórico ▪ 1871: James Parkinson publica o ensaio “Paralisia agitante” - Tremor, principalmente das mãos - Curvatura do tronco para frente - Aceleração dos passos - Enrijecimento da musculatura de forma geral - Sem alterações de memória • Epidemiologia ▪ Acomete de 1-2% população acima de 65anos ▪ Sexo masculino 2 :1 ▪ Início 6ª década ▪ 100-200 casos/ 200 mil hab ▪ 5 milhões de casos no mundo ▪ No Brasil são 200 mil casos 18 Rafaela Pamplona • Fisiopatologia ▪ Diminuição da quantidade de dopamina - Neurotransmissor responsável pelo movimento ▪ A diminuição de dopamina causa degeneração neuronal, levando a modificação do aspecto da substância negra no mesencéfalo - Diminuição dos neurônios - Mesencéfalo é a região atingida - Substância negra: responsável pela produção de dopamina ▪ Neurodegenerativa, piora com o aumento da idade • Anatomia ▪ Substância negra se divide em - Parte compacta: produção dos neurônios dopaminérgicos - Parte reticulada ▪ Corpo estriado: núcleo caudado + putâmen - O corpo estriado libera o movimento do corpo para o cerebelo refinar ▪ Dopamina e acetilcolina são os neurotransmissores responsáveis pelo movimento - Acetilcolina controla o movimento - Dopamina faz uma inibição do movimento • Fisiopatologia ▪ Falta da dopamina - O controle do movimento ocorre por feedback da dopamina que se liga as vias nigroestriatais ▪ A diminuição de dopamina na substância negra ativa o corpo estriado, responsável pelo controle dos movimentos - Tremor 19 Rafaela Pamplona • Microscopia ▪ Presença de corpos de Lewy nos neurônios impede a produção de dopamina • Fatores de risco ▪ Idade ▪ História Familiar ▪ Sexo Masculino ▪ TCE – devido a inclusão dos corpos de Lewy ▪ Vida Rural ▪ Pesticidas • Quadro clínico ▪ Sintomas motores - Tremor de Repouso – sintoma inicial Inicial unilateral, assimétrico Inicia nas extremidades – mãos Desaparece com ação (≠tremor cerebelar) Tremor do tipo “contar moedas” - Bradicinesia Lentificação dos movimentos Sintoma mais incapacitante Hipocinesia Hipomimia – face de máscara Hipofonia – voz baixa e lenta Micrografia – letra pequena - Rigidez Tônus: hipertonia do tipo plástica ~ Sinal da roda denteada - Instabilidade Postural Curvatura anterior devido a mudança do centro de gravidade - Freezing Congelado, colado ao chão, não consegue andar Fácies em mascara, deltoide atrofiado, tronco para frente, braços anteriorizados, pés juntos Postura típica – instabilidade postural Rigidez Não há perda efetiva da força ▪ Sintomas não motores - Bradifenia: lentificação mental - Demência: por conta do isolamento, transtornos psiquiátricos - Depressão: mais chance de depressão. - Autonômicos - Intelecto ileso 20 Rafaela Pamplona • Diagnóstico ▪ Clínico ▪ Exames complementares ▪ Imagem - PET Melhor exame Caro, pouco acessível, não deve ser solicitado de rotina A baixa captação de fluorodopa visualizada utilizando o PET no putâmen pode indicar a deterioração do metabolismo na substância negra (responsável pela produção de dopamina) devido a degeneração dos neurônios dopaminérgicos, o que acontece no caso concreto da DP - TC ou RNM – excluir outras causas PET – não colore bem por não ter os neurônios • Diagnóstico diferencia – síndromes parkinsonianas ▪ Paralisia supranuclear progressiva ▪ Doença difusa de corpos de Lewy ▪ Drogas indutoras de parkinsonismo - Benzodiazepínicos - Ácido valproico - Fenitoína - Tramadol - Aminoglicosídeos - Anticolinérgicos - Bupropiona - Amicacina - Antipsicóticos - Lítio - Haldol ▪ Doença de Wilson ▪ Tremor essencial ▪ Fibromialgia, polimialgia, artrite Parkinsonismo atípico – parkinsonismo secundário • Idade Precoce • Bilateral e simétricos • SEM tremor repouso • Demência e instabilidade postural precoce • Sinais Piramidais (AVC? Tumor?) • Sinais Cerebelares • Disautonomia no início do quadro • História familiar positiva • Déficit de olhar vertical, sinais piramidais, sinais cerebelares, mioclonias, acometimento de neurônio motor inferior, síndrome da mão alienígena • Resposta precária à levodopa • Parkinsonismo afetando exclusivamente a marcha • Tratamento clínico: melhora o padrão dos sintomas, mas não evita a evolução ▪ L-dopa - Fabricada com inibidor da dopa descarboxilase, permitindo que chegue ao SNCsem sofrer degradação periférica a dopamina - Efeitos colaterais: discinesia tardia, efeito on-off ▪ Agonista dopamina: pramipexol - Mais específica para o tremor ▪ Inibidor MAO-B: selegilina - Neuroprotetor - Pouco utilizada ▪ Anticolinérgicos: biperideno - Evitar em pacientes acima de 65anos ▪ Amantadina ▪ Inibidores da COMT: entacapone - Pouco usado - Diarreia explosiva - Muitos efeitos adversos 21 Rafaela Pamplona • Tratamento cirúrgico ▪ Indicações - Complicações motoras refratárias - Não há comorbidades clínicas graves - Há resposta a positiva levodopa - Ausência de depressão e demência Tremor essencial • Transtorno movimento mais comum • Epidemiologia ▪ Qualquer idade ▪ Ambos os sexos • Etiologia ▪ Padrão familiar importante • Classificação ▪ Essencial hereditário - Mais comum - História familiar positiva - Acima de 65 anos ▪ Essencial esporádico - História familiar negativa - Abaixo de 65 anos ▪ Senil - Com ou sem história familiar positiva - Acima de 65 anos • Critérios para diagnóstico Critérios Principais Critérios Secundários 1. Tremor de ação bilateral das mãos e antebraços (sem tremor de repouso) 1. Duração superior a 3 anos 2. Ausência de outros sinais neurológicos, com exceção de roda denteada 2. História familiar positiva 3. Pode ocorrer tremor isolado da cabeça sem postura anormal 3. Resposta ao álcool ▪ Começa em um membro superior e rapidamente afeta o outro ▪ Tremor piora com emoção, fome, cansaço, temperaturas extremas ▪ Tremor desaparece durante o sono ▪ Amplitude do tremor aumenta ao longo dos anos ▪ Bebida alcoólica melhora o tremor • Exame físico ▪ Tremor postural e cinético ▪ Membros superiores afetados ▪ Tremor pode afetar cabeça, voz e lábios ▪ Tônus e reflexos ▪ Ausência de rigidez e bradicinesia – específicos da DP IMPORTANTE Tremor Parkinsoniano Tremor Essencial Repouso Postural Unilateral / assimétrico Simétrico / discreta assimetria Sinais parkinsonianos ∅ de sinais parkinsonianos História familiar positiva em 5-10% dos casos História familiar positiva em 50-70% dos casos Não melhora com álcool Melhora com álcool Responde a drogas dopaminérgicas e anticolinérgicas Responde a betabloqueador e primidona • Tratamento ▪ Preferencial - Propranolol - Topiramato - Primidona ▪ Menos usado - Alprazolam - Nimodipina – mais utilizada em situações de HSA, para evitar vasoespasmo 22 Rafaela Pamplona NEUROLOGIA VASCULAR Acidente vascular encefálico • Causa mais comum de óbito no Brasil ▪ Cerca de 100mil casos ao ano • 1 a cada 6 pessoas no mundo terão AVE • 70 a 80% são isquêmicos • Impacto econômico ▪ 1 óbito para 3 sequela/complicação Anatomia • Polígono de Willis é formado pelas artérias: cerebral posterior, comunicante anterior, carotida interna, cerebral posterior e comunicante posterior ▪ Importância na redundância da circulação cerebral: a medida que alguma obstrução ou estenose ocorra uma dessas artérias pertencentes ao polígono, a circulação cerebral de maneira geral não é prejudicada de maneira significativa, pois as outras artérias conseguem suprir a deficiência de qualquer uma delas • Artéria carótida interna se divide em ▪ Artéria cerebral anterior: irriga face medial e lateral do encéfalo e o polo frontal - Intima relação com o quiasma óptico (NC II) ▪ Artéria cerebral média: irriga face lateral e polo temporal - Mais importante, pois é a mais acometida - Segmentos M1: horizontal, corresponde a irrigação proximal, emite vários ramos, chamados de artérias lenticulo estriadas, que irrigam o corpo estriado, região da capsula interna, região dos gânglios da base e tálamo – AVE lacunar M2: vertical, irriga lobo frontal, parietal e parte superior do temporal M3: irriga área de Broca, giro angular e giro supramarginal M4: irriga o restante da região cortical • Artéria cerebral posterior ▪ Irrigação posterior do cérebro ▪ AVC em região posterior é mais raro, menos agressivo e causam menos sequelas • Artéria comunicante posterior ▪ Possui intima relação com - Nervo oculomotor (NC III) - Emergência da artéria carótida interna Une artéria cerebral média e cerebral posterior 23 Rafaela Pamplona • Artéria cerebelar inferoposterior - PICA ▪ Carrega o sangue para a medula e cerebelo, AVE nessa área é chamado de Síndrome de Wallenberg - Área que contribui para o equilíbrio, coordenação, sensação da face e do corpo, sensação de posicionamento corporal, função da corda vocal e coordenação dos movimentos oculares AVE isquêmico • Oclusão arterial aguda em um ramo distal da irrigação cerebral, impedindo o fluxo sanguíneo adequado na área • A sequela do AVE é determinada pelo seguimento acometido • Acidente isquêmico transitório – AIT ▪ Déficit agudo, com duração de 15min a 1h ▪ Melhora em 24h – sem sequela definitiva ▪ Deve ser investigado, pois pode evoluir com AVEi • Acidente vascular encefálico isquêmico – AVEi ▪ Súbita instalação de um déficit neurológicos focal persistente ▪ Não melhora após 24h – deixa sequela ▪ Etapas - Isquêmica: redução do fluxo - Penumbra isquêmica: área potencial para infarto, são áreas isquêmicas recuperáveis – principal momento de atuação - Infarto e necrose: lesões neurais irreversíveis • Tratamento AIT e AVEi ▪ Cardioembólico: ateroma de origem cardíaca ▪ Artero-embólico: embolo de origem periférica ▪ Trombótico: placa de ateroma com origem no próprio cérebro Fatores de risco • Não modificáveis ▪ Idade: mais comum em idosos, a incidência dobra a cada década ▪ Sexo masculino 2:1 ▪ Etnia: raça negra – devido aos maiores níveis de renina ▪ Hereditariedade • Modificáveis ▪ HAS – principal fator de risco ▪ Diabetes – 2º principal fator de risco ▪ Síndrome metabólica ▪ Tabagismo, alcoolismo, ACO, sedentarismo, etc Subtipos de AVE • Embólico – 45% dos casos ▪ Cardioembólico: fibrilação atrial, cardiopatia dilatada ▪ Artero-embólico: HAS • Trombótico ▪ Origem na artéria cerebral ▪ AVE lacunar – mais comum - Menores de 2cm - Na maioria das vezes é silencioso - Pode apresentar cefaleia ou demência - RNM e TC é perceptível AVE lacunar antigo Sinais de alerta para AVE • Paralisia facial • Hemiparesia • Hemihipoanestesia • Disfasias • Confusão mental • Ambliopia • Perda de equilíbrio • Crise convulsiva • Cefaleia Síndrome da cerebral média • Irriga parte do lobo frontal e todo o lobo temporal • Sintomas: dificuldade de força e déficit de sensibilidade contralateral • Hemiparesia ou hemiplegia contralateral • Hemihipoanestesia contralateral • Disartria • Afasia global (Broca + Wernick): hemisfério dominante ▪ Afasia de Wernick – sensorial - Afasia interpretativa - Cria novas palavras - Preserva a fluência, mas sem conteúdo compreensível ▪ Afasia de Broca – condução - Desaprende a falar, mas compreende o que ouve - Perde a fluência, emite sons ▪ Afasia global - Não fala • Anosognosia: hemisfério não dominante (não reconhece um lado do corpo) Síndrome cerebral anterior • Hemiparesia ou hemiplegia contralateral • Hemihipoanestesia do MI contralateral • Apraxia de marcha: sabe andar, mas não sabe executar • Mutismo acinético: apático, irresponsivo 24 Rafaela Pamplona ▪ Síndrome abúlica: perda da iniciativa ▪ Acometimento do lobo frontal, região relacionada ao comportamento, sendo muito comum alteração de comportamento Síndrome de Wallemberg • Oclusão da PICA – território posterior • Pares cranianos baixos – NC 9, 10, 11 e 12: origem no bulbo • Hemiparesia ou hemiplegia contralateral• Anestesia contralateral • Disfagia e disfonia – síndrome bulbar ▪ Sinal da cortina – NC IX glossofaríngeo • Horner ipsilateral: miose, ptose e anidrose • Soluços – NC X Avaliação pré-hospitalar • Escala de Cincinnati (CPSS): em menos de 1min ▪ F – face: queda facial ▪ F – força: debilidade do braço ▪ F – fala: fala anormal - 1 achado – 72% de chance de ser AVE - 3 achados – mais de 85% de chance Avaliação hospitalar • Escala de NIH Stroke Scale ▪ Escala padrão quantitativa de severidade e magnitude do déficit neurológico após AVC ▪ Serve como avaliação comparativa de acordo com a pontuação que o paciente ▪ Quanto maior o NIH pior o prognóstico - ≤ 4 pontos: AIT Não há indicação de trombólise ~ Exceção: afasia grave, hemianopsia completa - > 22 pontos – AVE potencialmente grave Não há indicação de trombólise Exames • TC axial de crânio sem contraste ▪ 1º escolha ▪ Bom para rastreio - Descarta hemorrágico ▪ Determina conduta ▪ Sempre avaliar de fora para dentro 25 Rafaela Pamplona • RNM de Encéfalo ▪ Sem contraste ▪ Detecta pequenos AVE ▪ Pouco utilizado na prática devido ao alto custo e a demora no resultado • Doppler Transcraniano ▪ Pouco uso na prática ▪ Detecta alteração em vasos obstruídos • ECG ▪ Excluir causas cardíacas ▪ Busca por bradiarritmia, ES, FA, IAM • Ecocardiograma ▪ Avalia forame oval e função cardíaca • Doppler de Carótidas ▪ Busca por placa de ateroma ou estenose nas carótidas Diagnóstico diferencial • Hipoglicemia • Tumor cerebral – insidioso • Crises Epilépticas • Intoxicação Exógena • Distúrbios Metabólicos – hiponatremia e hipercapnia • Doenças Desmielinizantes • Encefalopatias Hipertensivas Tempo é cérebro • Recomendações do instituto de neurologia para candidatos potenciais ao trombolítico Avaliação • Monitorização dos sinais vitais • ABCDE • Fornecer O2 – melhorar a perfusão • Acesso venoso • Coleta de sangue – enzimas cardíacas para descartar IAM • Glicemia, PA, Temperatura ▪ PA ótima para perfusão cerebral: 180 x 100 mmHg • Avaliação neurológica • TC de crânio • ECG • Avaliar trombólise – extremamente específico ▪ Contraindicações e tempo ≤ 4,5h ❤ • Anticoagulação ▪ Alteplase-rtPA - Não reduz mortalidade, reduz sequela - Avaliar critérios de inclusão e exclusão >18 anos TC de crânio sem evidência de hemorragia Tempo de início dos sintomas ≤ 4,5h • Terapia invasiva Contraindicações para trombólise ❤ • < 18 anos ou > 80 anos • Tempo entre o início dos sintomas e o início do tratamento ≥4,5h • Nos últimos 3 meses: AVEi, TCE grave, cirurgia de crânio/medula • Nos últimos 21 dias: hemorragia TGI • Antecedentes: AVEh, neoplasia TGI ou SNC • Suspeita de: HSA, dissecção de aorta, endocardite • PAS ≥185 e PAD ≥110 • Melhora do déficit 26 Rafaela Pamplona • Isquemia extensa na TC de crânio • Plaquetas < 100mil • INR < 1,7 • Uso de anticoagulantes orais diretos <48h • Uso de heparina em dose terapêutica <24h • Glicemia sérica <50mg/dl • Definir individualmente ▪ NIH >22 ▪ Abuso de álcool e drogas ▪ Hiperglicemia Prevenção secundária • Baseada na etiologia • HAS, DM, Dislipidemia • Obesidade • Dieta • Doppler de Carótidas • Imunização • Reabilitação ▪ Neurologia ▪ Cardiologia ▪ Fonoaudiologia ▪ Nutrição ▪ Psicologia ▪ Terapia ocupacional ▪ Enfermagem ▪ Fisioterapia AVE hemorrágica • 20% dos AVE • Ocorre extravasamento de sangue – extremamente irritativo • Maior grau de mortalidade • Maior possibilidade de crise convulsiva • Locais mais acometidos: putâmen, tálamo, cerebelo e ponte Fatores de risco • HAS • Trauma • Diátese hemorrágica • Angiopatia amiloide ▪ Mais comum em >70anos, causa hemorragia lobar • Malformação vascular • Drogas ▪ Principalmente a cocaína Hemorragia intraparenquimatosa • Principais causas ▪ Aneurisma de Charcot-Bouchard associado a HAS - Microaneurisma ou aneurisma miliar ▪ Comum nas artérias lenticoloestriadas, fazendo hemorragia no putâmen e no tálamo ▪ Locas mais acometidos: putâmen, tálamo, cerebelo e ponte ▪ Hemorragia lobar: lobo frontal, temporal e parietal - >70anos – angiopatia amiloide • Clínica ▪ Hemiplegia/paresia FBC Contra ▪ Hemi (hipo/anestesia): lesões talâmicas ▪ Vertigem, náuseas e vômitos: pares cranianos baixos ▪ Anisocoria ▪ Pupilas PUNtiformes: indica AVE na PONte • TC ▪ Área hiperdensa com desvio da linha média e sangramento no ventrículo ▪ HIP causa fechamento do ventrículo, aprisionando o LCR - Emergência neurocirúrgica: hidrocefalia – DVE • Tratamento ▪ Suporte ▪ Glasgow ≤ 8 – IOT ▪ Sinais de HIC - TC de urgência se apresentar desvio da linha média faz DVE - Indicado: hiperventilação e manitol ▪ PA: 160 x 100mmHg evita vasoespasmo Hemorragia subaracnóide • Cefaleia + rigidez de nuca + sincope = HSA • Trauma é a principal causa • Aneurisma sacular congênito ▪ Mulheres entre 35 a 55 anos ▪ Ruptura espontânea ▪ Aneurisma mais comum: artéria comunicante anterior • Malformação arteriovenosa ▪ 15 a 30 anos ▪ Menos comum • Quadro clínico ▪ Cefaleia holocraniana (crânio inteiro) - Pior cefaleia da vida: tipo pedrada ou raio na cabeça - Início súbito e de forte intensidade ▪ Síncope ▪ Rigidez de nuca após 24h - Febre – suspeitar de meningite 27 Rafaela Pamplona ▪ Ptose palpebral - NC III – levanta a pálpebra superior Íntima relação com a artéria comunicante posterior Anisocoria, diplopia e estrabismo divergente - NC VII – fecha a pálpebra • Exames ▪ AngioTC – estrela da morte ▪ Arteriografia – padrão ouro para detectar aneurisma • Complicações da HSA ▪ Ressangramento - Até o 3º dia – risco altíssimo, paciente deve ficar em repouso absoluto - 20% até o 7º dia ▪ Vasoespasmo - Entre 1 e 14 dias – pico no 7º - Sangue é extremamente irritativo, causando vasoespasmo nos vasos vizinhos Pode causar AVEi ▪ Hidrocefalia - Ocorre em 15% - Obstrução do espaço subaracnóide Trombose venosa profunda • Isquemia venosa • Causas ▪ Neuroinfecções ▪ ACO ▪ Gravidez e puerpério ▪ Traumas ▪ Distúrbios de coagulação - Hipercoagulabilidade: deficiência da proteína S, proteína C, antitrombina III e trombofilias Anatomia • Vai das veias superficiais para profundas – veia jugular • Seio sagital superior ▪ Mais acometido • Confluência dos seios ▪ Torcular de herófilo – protuberância occipital • Seio sigmoide ▪ Na confluência entre o seio transverso e sagital Sinal do delta vazio • Trombose venosa do seio sagital superior • Sinal clássico no corte coronal ▪ Imagem hipodensa – vazio Clínica • Cefaleia • Convulsão Exames • Angioressonância ▪ Padrão ouro ▪ Avalia a fase arterial e venosa Tratamento • Trombólise: medicamentosa e endovenosa ▪ Heparina - Iniciar logo após o diagnóstico - Até a melhora neurológica • Anticoagulação oral ▪ Melhorou o quadro neurológico – Marevan - Manter INR entre 2 – 3 (se alargado ↑ sangramento) - Continuidade do tratamento Idiopática: 3 meses ACO: 3 – 6 meses Déficit de proteica S e C: 6 a 12 meses Déficit de antitrombina III, mutação do fator V de Leiden: longo prazo ▪ Xarelto: substitui o Marevan, não interfere no INR • Endovascular - Agravamento clínico ▪ Retornar heparina endovenosa e suspende anticoagulação oral 28 Rafaela Pamplona NEUROINFECÇÃO MENINGITES BACTERIANAS • Infecções graves • Mortalidade e morbidade elevadas • Quanto mais rápido o diagnóstico e início do tratamento melhor o prognóstico Definição • Processo infeccioso ▪ Meninges- Paquimeninge = dura-máter - Leptomeninge = aracnoide e pia-mater ▪ Espaço subaracnóideo ▪ Encéfalo • Reação inflamatória do SNC • Diminuição da consciência, convulsões, hipertensão intracraniana e AVC Etiologia • Principais agentes envolvidos ▪ S. pneumoniae: pneumococo – mais prevalente em adultos ▪ N. meningitidis: meningococo – maior prevalência em idoso, rigidez de nuca, sinais de Kernig, Lasegue e Brudzinski ▪ H. influenza • Outros agentes ▪ Estreptococos do grupo B (S. agalactiae) - Principalmente nos extremos de idade - Mais prevalente em crianças ▪ Listeria monocytogenes • Meningite viral ▪ É mais comum do que a bacteriana ▪ Quadro clínico mais leve Vacinação: diminuição acentuada de meningite por hemófilos e, em menor grau, pelo pneumococo Epidemiologia • É a infecção supurativa mais comum do SNC • Incidência > 2,5 casos/100.000 hab • Mortalidade da meningite ▪ Meningococo e hemófilos: 5 a 15% ▪ Pneumococo: 15 a 30% • Sequelas ▪ Meningococo e hemófilos: 15 a 20% dos casos ▪ Pneumococo: 30% Fisiopatologia • Bactérias e vírus colonizam a nasofaringe por aderência às células epiteliais nasofaríngeas • Os agentes externos conseguem invadir o interior dos vasos subjacentes e sobreviver aos mecanismos de defesa (sist. complemento) • Atravessam a parede dos vasos e o complexo da barreira hematoencefálica atingindo o LCR ▪ Barreira hematoencefálica - Semipermeável: só permite a passagem de moléculas pequenas - Constituída de células endoteliais com junções estreitas e projeções dos astrócitos, que envolvem a parede capilar e são capazes de produzir citocinas • Passam a sobreviver e replicar-se no LCR Proteção do SNC • O SNC tem algumas particularidades em relação aos demais sistemas • O crânio, as meninges, o LCR no espaço subaracnóide que confere tanto proteção mecânica como biológica • LCR é produzido no plexo coróide e o volume médio no adulto é de 150 ml, habitualmente pobre em proteínas e células ▪ Com o aumento da celularidade o LCR fica mais viscoso, dificultando a reabsorção, levando a hipertensão intracraniana Manifestações clínicas • Síndrome de hipertensão intracraniana ▪ Cefaleia intensa, náuseas, vômitos ("jato") e confusão mental • Síndrome toxêmica ▪ Febre alta, delirium, mal-estar; dissociação pulso- temperatura • Síndrome de irritação meníngea ▪ Rigidez de nuca ▪ Sinal Lasegue: para radiculopatia!! ▪ Sinais de Kernig: incapacidade ou resistência em permitir a extensão total do joelho com o quadril flexionado a 90º ▪ Sinal Brudzinski: flexão espontânea de quadril e joelho durante a flexão passiva do pescoço 29 Rafaela Pamplona • Quadro clínico na criança ▪ Crianças menores de 5/6 anos o quadro é generalizado e inespecífico ▪ Após 5/6 anos os sinais e sintomas são mais parecidos com os do adulto ▪ Febre, irritabilidade, prostração, vômitos, convulsões, abaulamento da fontanela ▪ Sinais de rigidez de nuca, Kernig e Brudzinski ocorre em 50% dos casos ▪ É mais grave Diagnóstico • Hemocultura e LCR antes de iniciar o tratamento ▪ Caso a coleta do LCR não seja possível iniciar o tratamento empírico • Rotina para LCR – mandatória ▪ Espaço subaracnóide preenchido por líquido • Exames laboratoriais de rotina ▪ HGM: leucocitose com predomínio de polimorfonucleares - Infecções severas pode haver leucopenia ▪ PCR elevada - Meningite viral pode vir inalterada • Hemoculturas seriadas • TC ▪ Antes de colher o LCR sempre que tiver suspeita de lesão estrutural no SNC – risco de herniação ▪ Sempre em realizar antes da punção quando - >60 anos - Alteração do nível de consciência - Imunossuprimidos - História de lesão no SNC - Crises epilépticas na última semana - Déficit neurológico focal, como papiledema, pupila dilatada ou anormalidades do campo visual - Linguagem anormal - Desvio de braço ou perna - Incapacidade de responder a 2 perguntas ou seguir 2 comandos Alterações do Líquor • Pressão de abertura: > 20cm H2O ▪ Normal: < 20cmH2O • Contagem células: 1.000 a 5.000/mm3 ▪ Predominância de neutrófilos 80 – 95% ▪ Normal: < 5 • Níveis de glicose ▪ Bactéria: <40mg/dl ou menor que 40% da glicose sérica ▪ Viral: níveis normais • Proteína: elevada > 50 mg/dL • Lactato ▪ Bactéria: aumentado Bactérias TB Vírus Celularidade Neutrófilos Linfócitos Glicose e Lactato Aumentado Normal • Testes para detecção de bactérias ▪ Coloração de gram: identifica 60 a 90% dos casos Neisseria meningites Streptococcus pneumoniae 30 Rafaela Pamplona • Cultura ▪ Positiva em 70 a 85% dos casos em que não receberam antibioticoterapia previamente à coleta • Repetir exame do líquor se ▪ Não houver melhora clínica após 48h ▪ Febre persistente após 8 dias sem outra causa aparente Tratamento meningite bacteriana • Emergência médica! • Colher exames e iniciar o tratamento de emergência • Casos mais graves: petéquias, choque, HIC ▪ Hidratação, ceftriaxona em bolus, vancomicina em infusão venosa lenta (1 hora) e manitol (se edema cerebral) • Corticosteróides ▪ 15 a 30 minutos antes da 1ª dose, ou acompanhando a primeira dose - Adultos: 10mg de 6/6h por 4 dias - Crianças: 0,4 a 0,6 mg/kg de 6/6h por 4 dias ▪ Diminuição da mortalidade, redução nas alterações auditivas e nas sequelas neurológicas ▪ Importância do corticoide: ação rápida e eficaz na modulação negativa da atividade dos mediadores inflamatórios, que ocasionam agressão significativa ao tecido cerebral Tratamento empírico • Considerar fatores de risco e a idade do paciente ▪ 1º escolha: cefalosporinas de terceira geração (ceftriaxona e cefotaxime). Devido a resistência bacteriana se recomenda associar vancomicina até o resultado da cultura. ▪ Nos pacientes alérgicos a penicilina pode-se associar vancomicina com moxifloxacina < 3 meses Ampicilina + ceftriaxona 3 meses a 17 anos Ceftriaxona 18 a 50 anos Ceftriaxona > 50 anos Ampicilina + ceftriaxona + dexametasona ▪ Ceftriaxona 2g IV, 12/12h ▪ Vancomicina 15-20mg/kg, 12/12h ▪ Ampicilina 2g, 4/4h – em <3meses, >50anos e imunodeprimidos Durante a evolução • Exames de imagem são imprescindíveis quando houver sinais clínicos de complicações durante o tratamento ▪ Ventriculites ▪ Coleções epidurais infectadas ▪ Abscessos cerebrais Profilaxia • Quimioprofilaxia dos contactantes de hemófilos e meningococo • Primeiras 24 horas até o 30º dia pós-contato • Indicações: ▪ Contactantes íntimos: médico que intubou, acompanhante que fica mais que 4h por dia ▪ Colegas de berçários, creches ou pré-escolar (< 7 anos) ▪ Adultos das instituições (creches, berçários) ▪ Outros contactantes com relação íntima e prolongada ou contato com secreções orais ▪ Profissionais de saúde expostos às secreções do paciente • Esquema terapêutico ▪ Rifampicina 600mg VO/dia 12/12h, por 2 dias ▪ Ceftriaxona 250 mg IM dose única ▪ Ciprofloxacino 500mg VO dose única ▪ Azitromicina 500mg VO dose única Diagnóstico diferencial • Meningites virais na fase inicial (enterovírus) • Abscessos cerebrais • Meningoencefalites por Tb e fungos (episódios agudos ou de reagudização) • Focos bacterianos parameníngeos • Meningismo ▪ Sinais de irritação meníngea, sem infecção do SNC Evolução – sinais de melhora • Melhora do quadro de confusão mental entre 4 a 6 horas • Diminuição da febre entre 6 a 12 horas • Melhora dos sinais de irritação meníngea após alguns dias • Meningites por meningococo e hemófilos sem complicações: ▪ Alta após 7 dias, se afebril por 5 dias - Resposta mais rápida ao ATB • MBA por pneumococos sem complicações ▪ Alta após 10 a 14 dias Meningites recorrentes • Pneumococo em 1/3 dos casos • Causas:deficiência imunológica, alterações anatômicas e fístulas ocultas (após TCE) • Diagnósticos ▪ Alterações anatômicas: neuroimagem ▪ Fístulas: exames de medicina nuclear; TC frontal e mastóide; pesquisa de glicose nas secreções nasal e auricular 31 Rafaela Pamplona MENINGITE CRÔNICA • Definição ▪ Sd. inflamatória meníngea > 3 ou 4 semanas ▪ Representa 10% de todas as meningites ▪ Alta morbimortalidade ▪ 1/3 das meningites crônicas permanece sem diagnóstico ▪ Procedimento diagnóstico: quadro clínico, neuroimagem e LCR ▪ Meningite crônica pode ser infeccioso ou não - Quadro inflamatório autoimune - Neoplasias Quadro clínico • Insidioso (semanas) ▪ Quadro mais brando, como se fosse uma viral resistente, geralmente não há rebaixamento do nível de consciência • > 50% astenia, cefaleia, anorexia, náuseas, rigidez de nuca, febrícula, confusão mental e letargia. • Coma, obnubilação, sinais neurológicos focais, paralisia de nervos cranianos, tonturas e convulsões. • Investigação ▪ Fatores de risco, antecedentes epidemiológicos, doenças sistêmicas, viagens recentes e sinais de infecção em outros órgãos Meningites crônicas infecciosas mais frequentes Bactérias Fungos Parasitas Vírus M. Tuberculosis C. Neoformans Neurocisticercose (T. Solium) HIV T. Pallidum H. Capsulatum T. Gondii HTLV 1/2 B. Burgdorferi Aspergillus sp S. Mansoni —— • Mais frequentes no Brasil ▪ Espiroqueta: sífilis, Borrelia ▪ Fungos: Aspergillus, Histoplasma, blastomicose, cripto, cândida ▪ Protozoários: toxoplasmose, chagas ▪ Helmintos: cisticercose, esquistossomose ▪ Vírus: CMV, HSV 1, HSV2, VZ, EBV, sarampo, rubéola, parotidite, HIV, HTLV 1/2, dengue Meningites crônicas não infecciosas mais frequentes • Carcinomatose meníngea – metástase em outro órgão • Leucemia/Linfoma • Sarcoidose • Infecções parameníngeas (empiema subdural, abscesso epidural, osteomielite, mastoidite/sinusite, abscesso cerebral Abordagem clínica • Rx tórax e articulações • RM e TC de crânio com contraste • Hemograma, função renal e hepática • Dosagem de ECA (sarcoidose) • Culturas de urina, escarro, biopsia de pele, meninges e M.O • LRC NEUROTUBERCULOSE • Agente etiológico: M. tuberculosis (BAAR) • Outros agentes: M. bovis e atípicos • Transmissão: inalação de perdigotos • É consequência de infecção primária ou reativação de infecção prévia • Disseminação: a partir do complexo pulmonar ganglionar primário por via hematogênica → meninges • Formas de apresentação: meningoencefalite, tuberculoma (tumoral), abscesso e mal de Pott (medular) Tuberculoma Mal de Pott Epidemiologia • Aumento da prevalência com o surgimento da AIDS • Incidência no Brasil: 37,1 casos/100.000 hab. (2008) • Dificuldade do diagnóstico, baixa adesão ao tto Quadro clínico • Sintomas arrastados • Febre, cefaleia, alteração progressiva do nível de consciência • Pode ocorrer comprometimento de pares cranianos (III, IV, VI e VII) ▪ Aumento da viscosidade, aumenta a pressão e acomete os nervos 32 Rafaela Pamplona • Convulsões • Consumpção • Disfagia • Pode haver hidrocefalia por obstrução do forame • Consumo de glicose LCR • Padrão ouro ▪ Pressão de abertura normal ou discretamente elevada. ▪ Pleocitose moderada (5 a 2000 céls) com presença de LMN e PMN ▪ Predomínio de linfócitos ▪ Aumento do teor protéico (até 500 mg/dL) com aumento do teor de globulinas gama ▪ Hipoglicorraquia (4 a 40 mg/dL) com aumento do teor de lactato Imagem • Espessamentos meníngeos (base do crânio) • Hidrocefalias (comunicantes ou não) → paquimeningite de base ou granulomas obstrutivos, alargamento dos ventrículos • Tríade clássica na Angiografia ▪ Hidrocefalia ▪ Estreitamento vascular na base do crânio. ▪ Estreitamento ou oclusão das pequenas e médias artérias cerebrais Tratamento • Por 9 meses HIV E DOENÇAS OPORTUNISTAS NO SNC • Manifestação do SNC – faz teste para HIV e VDRL ▪ Acometem 40 a 70% dos portadores do HIV ▪ Primeira manifestação de AIDS em 7 a 20% ▪ Infecções oportunistas (linf T CD4+ < 200 céls/mm3) - Neurocriptococose - Neurossífilis - Neurotuberculose - Encefalite viral - Neurotoxoplasmose - LEMP (vírus JC) Neurocriptococose – fungo • Início insidioso • Ocorre em cerca de 5 a 7% dos pacientes com HIV • Sinais e sintomas ▪ Sd. hipertensão intracraniana - Pressão 60/70 - Drenagem diária do LCR, as vezes usa DVP - Pode causar perda da visão ▪ Cefaleia de forte intensidade ▪ Náuseas e vômitos ▪ Convulsões e sinais focais • Diagnóstico ▪ LCR. ▪ Detecção do antígeno criptocócico por aglutinação em látex (Sens. 91% e Espec. 95%) ▪ Exames de imagem - Hipotrofia cortical - Lesões expansivas (criptococoma) – semelhante ao abscesso, faz diagnóstico diferencial com TB e tumor - Hidrocefalia - Edema difuso - Pseudocistos gelatinosos • Tratamento ▪ Anfotericina B (0,7mg/Kg/dia), EV + 5-Fluorocitosina (100mg/kg/dia), VO, por 2 semanas - Seguido por fluconazol (400mg/dia), VO, por 8 semanas ▪ DVP em casos mais graves 33 Rafaela Pamplona Neurossífilis • Agente etiológico: T. pallidum • Transmissão: sexual ou vertical • Episódios de exacerbação e latência • Quadro clínico ▪ Fase secundaria - Gerais: febre, queda do estado geral, astenia, linfadenomegalia generalizada e rash - Neurológicos: meningite, neuropatias cranianas (perda auditiva neurossensorial e sintomas oculares-uveíte) ▪ Fase terciária - Goma sifilítica - Tabes dorsalis: acometimento posterior da medula, causando ataxia - VDRL positivo • Diagnóstico ▪ VDRL (no líquor)→ ↑E; ↓S (30a 70%) - Fazer VRDL no sangue e no líquor, no líquor tem baixa sensibilidade ▪ FTA-Abs, hemaglutinação passiva e ELISA → ↑S - FTA-Abs fica positivo a toda vida: cicatriz sorológica ▪ LCR - Pleocitose mononuclear: aumenta celularidade - Aumento de proteínas >40 Maior fração gama das Ig • Tratamento ▪ Penicilina cristalina (EV): 14 a 21 dias - Acompanhamento com sorologia mensal (por 3 meses), depois trimestral NEUROTOXOPLASMOSE • Se manifesta com sinais focais, que podem ser progressivos • Agente etiológico: T. gondii • Transmissão: ingestão de carne crua ou malcozida ou por contaminação pelas fezes de gato • É a infecção oportunista mais prevalente em HIV+ • Causada por reativação de infecção latente • Sinais neurológicos ▪ Sinais de irritação meníngea ▪ Convulsões – gera muita crise epiléptica ▪ Sinais focais ▪ Ataxia ▪ Alteração do nível de consciência ▪ Coma • Diagnóstico ▪ Específico - Presença do parasita no sedimento do LCR (raro) ou em material de biopsia - Na prática: presunção pela clínica, estudo de imagem e resposta ao tratamento ▪ Imagem – é suficiente - Nódulos com reação inflamatória perilesional, edema acentuado, na região córtico-subcortical e núcleos da base ▪ LCR: pleocitose (<200), LMN, ↑ proteína, glicose normal ▪ Anticorpos anti-toxoplasma positivo em >95% dos casos Granuloma da toxoplasmose Lesão captante Efeito de massa • Tratamento ▪ Pirimetamina 75-100 mg/dia, VO + ▪ Sulfadiazina 1,5-2 g/dia, VO + ▪ Ácido folínico ▪ Suspender quando não houver mais sinais de atividade como captação de contraste na TC ▪ Tratamento manutenção (indefinido ou até melhora da imunidade) – prevenir infecção oportunista - Pirimetamina 25-50 mg/dia + Sulfadiazina 1g/dia 4 a 8 semanas 34 Rafaela Pamplona ENCEFALITES VIRAIS • Processo inflamatório agudo no parênquima encefálico, não passa pelas meninges • Principais sintomas ▪ Febre ▪ Alteração do nível de consciência ▪ Convulsões ▪ Sinais focais neurológicos • Manifestação mais grave do SNC! ▪ A localizaçãodo vírus no SNC é pior, pois vai direto para o parênquima, causando destruição neuronal Epidemiologia • Predomina em idosos, crianças e pacientes imunossuprimidos • Doença com elevada mortalidade (5 a 20%) e sequelas (20%) Etiologia • Principais agentes em imunocompetentes ▪ Herpes simples (HSV) - Mais comum e mais grave ▪ Arbovírus (Dengue e vírus do Oeste do Nilo) ▪ Enterovírus • Principais agentes em imunocompetentes ▪ CMV ▪ Varicela-zoster (VZV) Fisiopatologia • Penetração através de mucosas do trato respiratório, TGI, TGU, pele, conjuntiva ocular e sangue • Disseminação hematogênica (arboviroses): atravessa a BHE • Disseminação neural (herpes vírus) • SNC: propagação viral, agressão, penetração e lesão da célula • Inflamação multifocal ou difusa no encéfalo Quadro clínico • Quadro febril agudo • Alteração do nível de consciência, confusão, torpor e coma • Cefaleia, sinais neurológicos focais, convulsões • Distúrbio de comportamento, da personalidade, disfunção cognitiva, movimentos involuntários, ataxia, mioclonia • Pêntade ▪ Febre, cefaleia, confusão mental, déficit focal, crise epiléptica Encefalite Herpética • 90% dos casos de encefalite • Pode ocorrer em imunocompetentes ou imunossuprimidos • Reativação de infecção endógena adquirida no passado • Atinge o SNC por via neural (trigeminal ou olfatória?) • Neurotropismo pelos neurônios da glia do lobo temporal • Diagnóstico laboratorial ▪ LCR - Padrão inflamatório - Pressão de abertura: normal ou aumentada. - Citologia: 10 a 500 céls/mm3, LMN. - Bioquímica: proteinorraquia levemente aumentada (<300 mg/dL); lactato e glicose normais. - Resposta imune: após 7 a 10 dias da infecção (sorologia). (Rubéola, sarampo, HSV, VZV, CMV, HTLV-1 e JC). - PCR (polimerase chain reaction): antígeno ou part. virais no LCR. (HSV, VZV, enterovírus) - padrão ouro • Outros exames diagnósticos ▪ EEG: presença de ondas “zeta de Magnus” na região temporal ▪ TC de crânio ▪ RM de encéfalo: melhor sensibilidade - Edema difuso - Captação de contraste cortical e subcortical - Lesão focal na região temporal T2 Flair • Tratamento ▪ Precoce com aciclovir (HSV 1 e 2 e VZV) - Dose: 10 mg/kg de 8/8h EV, por 14 a 21 dias ▪ Ganciclovir e foscarnet (CMV) ▪ Biopsia cerebral em último caso