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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE. POLÍTICA SALARIAL : UMA ANÁLISE NO PLANO CRUZADO UMA RESENHA TEÓRICA AUTORA: Daniele Viana de Araújo PROFA ORIENTADORA: Jacqueline Franco Cavalcante FORTALEZA/CE 1995.1 POLÍTICA SALARIAL : UMA ANÁLISE NO PLANO CRUZADO UMA RESENHA TEÓRICA Monografia submetida a coordenação do Curso de Graduação em Economia, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. Daniele Viana Araújo Bacharelanda Monografia aprovada em 30 de Junho de 1995. ofa. Jacquel' e Franco Cavalcante Orientadora PrAlfred Jose Pessoa de Oliveira a Prof. A suero /Ferreira A minha mãe Núbia, ao meu irmão Candéa e ao Americo. 7 7: 4 AGRADECIMENTOS Várias foram as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuiram para execução deste trabalho. Assim, gostaria de expressar aqui os meus sinceros agradecimentos a estes especiais colaboradores. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus, que sempre esteve do meu lado me dando força, entusiasmo e persistência, me ajudando a enfrentar todas as dificuldades encontradas durante a realização do trabalho. Em especial à Professora Orientadora Jacqueline Franco, pela paciência, atenção e competência demonstrados através da orientação dedicada a este trabalho e durante as duas disciplinas - Técnicas de Pesquisa e Programação Política Econômica - em que tive o prazer de ser sua aluna e a partir daí sua orientanda. Sou sinceramente grata ao professor Alfredo Pessoa, que tive a oportunidade de conhecer durante duas disciplinas - Macroeconomia II e Macroeconomia III - por ele lecionadas, demonstrando serenidade, competência e dedicação, assim como o fez durante sua participação na banca examinadora deste tabalho. Gostaria de manifestar meus sinceros agradecimentos e a honra que senti em ter uma pessoa da competência do Professor Assuero Ferreira como integrante da banca examinadora deste trabalho. À este professor que, direta e indiretamente, me ajudou na execução deste trabalho através de suas abordagens e conselhos. Aos meus colegas que me acompanharam durante os cinco anos de faculdade e hoje estão expressivamente presentes em minha vida, Gisella, Flávia e Tácito, pelo companheirismo, carinho e atenção por eles demonstrados durante todos estes anos de verdadeira amizade. A todos os meus familiares, especialmente àqueles que estiveram mais próximos de mim durante essa fase de realização do trabalho. E finalmente um agradecimento especial a todos os servidores da FEAAC que deram sua contribuição durante todo o período de faculdade. INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO 1- CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ACERCA DA INDEXAÇÃO SALARIAL 1.1 Introdução 11 1.2 Os Sistemas de Indexação Salarial 15 1.2.1 0 Sistema de Recomposição do Pico do Salário Real com Periodicidade Fixa 18 1.2.2 0 Sistema de Recomposição do Pico do Salário Real com Periodicidade Endógena 20 1.2.3 0 Sistema de Redução do Pico do Salário Real com Periodicidade Fixa 21 1.2.4 0 Sistema de Indexação Salarial com Repasses Graduais da Taxa de inflação 22 1.3 A Indexação Salarial e seus Aspectos Macroeconômicos 24 1.3.1 0 Modelo Estruturalista Latino Americano 27 1.3.2 0 Modelo de Arida 30 1.4 Considerações Finais 39 CAPÍTULO 2 - ASPECTOS GERAIS DO PLANO CRUZADO 2.1 Introdução 42 2.2 Precedentes 45 2.3 Sistema Financeiro 49 2.4 Contratos, Congelamento de Preços e Inflação 50 2.5 Considerações Finais 56 -1 CAPÍTULO 3 - A POLUTICA SALARIAL DO PLANO CRUZADO 3.1 Introdução 58 3.2 Acerca da Escala Móvel 62 3.3 Sobre o Cálculo da Média do Salário Real 71 3.4 Considerações Finais 75 CONCLUSÃO 78 BIBLIOGRAFIA 82 ~r( -at ~R .i~ ~ GRÁFICOS GRÁFICO 1 -Dinâmica dos Salários Reais - Pico/Média 17 GRÁFICO 2 - Recomposição do Pico do Salário Real coin Periodicidade Fixa 19 GRÁFICO 3 - O Comportamento do Salário Real sob o Sistema de Recomposição do Pico do Salário Real com Periodicidade Endógena 20 GRÁFICO 4 - O Comportamento do Salário Real sob o Sistema de Redução do Pico com Periodicidade Fixa 22 GRÁFICO 5 - Sistema de Indexação Salarial com Repasses Graduais da Taxa de Inflação 23 GRÁFICO 6 - Os Efeitos sobre os Níveis de Preço e Produto de uma Política Monetária sob um Sistema de Recomposição do Pico com Periodicidade Fixa 33 GRÁFICO 7 - Os Efeitos sobre os Níveis de Preço e Produto de uma Alteração na Frequência dos Reajustes e do Conflito Distributivo sob um Sistema de Recomposição do Pico com Periodicidade Fixa 34 GRÁFICO 8 - O Equilíbrio Macroeconômico de Curto Prazo sob um Sistema de Recomposição do Pico com Periodicidade Endógena 36 GRÁFICO 9 Os Efeitos de uma Política Monetária Restritiva sobre a Periodicidade e os Níveis de Produto e Inflação no Sistema de Recomposição do Pico com Periodicidade Endógena 37 -4 GRÁFICO 10 - Os Efeitos da Redução do Gatilho sobre a Periodicidade e os Níveis de Produto e Inflação no Sistema de Recomposição do Pico com Periodicidade Endógena 38 GRÁFICO 11 63 GRÁFICO 12 65 TABELAS Tabela 1 69 Tabela 2 70 Tabela 3 71 Tabela 4 72 Tabela 5 74 9 INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como objetivo fundamental fazer uma análise da Política Salarial adotada pelo Plano Cruzado em seus principais aspectos, desde seus precedentes até seus desdobramentos. Contudo, alguns objetivos mais específicos serão alcançados no decorrer do trabalho, tais como: uma análise da relação entre inflação, conflito distributivo e salários; uma descrição dos contextos histórico, social e econômico que propiciaram a implementação do referido Programa de Estabilização; uma melhor compreensão das formas de indexação salarial, dando ênfase ao Sistema de Recomposição do Pico do Salario Real com Periodicidade Endógena; uma análise do arcabouço teórico que norteou a edição do Plano Cruzado. O trabalho será dividido em três capítulos. Iniciaremos o primeiro capítulo expondo o contexto em que se deram as primeiras experiências com indexação salarial. Logo após, iremos descrever os sistemas de indexação salarial, ressaltando que a escolha de um determinado sistema conìô parte de um programa de estabilização dependerá do objetivo que se pretende alcançar e dos custos de implementação. Em seguida, analisaremos dois modelos macroeconômicos que relacionam inflação com conflito distributivo e inflação com indexação salarial. Concluiremos o capítulo, expondo as sugestões feitas por Nakano e Bresser Pereira (1984, p.76-101) para uma política administrativa de controle da inflação. No segundo capitulo; faremos algumas considerações acerca dos aspectos gerais do Plano Cruzado. Iniciahnente, analisaremos a base teórica do Programa através de algumas fl0 explicações sobre o diagnóstico de inflação inercial. Com relação aos precedentes, enfatizaremos o periodo representado pela transição à Nova República, ressaltando fatores que propiciaram a implementação do plano. Logo após, verificaremos as principais medidas tomadas com relação ao sistema fmanceiro e aos contratos e seus desdobramentos. Finalmente, tocaremos na questão do congelamento de preços e da inflação, assim como as considerações fmais pertinentes a conclusão do capítulo. Finalmente, no capítulo 3 desta pesquisa analisaremos a Política Salarial adotada pelo Plano Cruzado utilizando, para este fim, os conceitos estudados no capítulo 1 e as considerações gerais realizadas no segundo capítulo. Abordaremos a base teórica que propiciou a edição do Decreto-Lei n° 2.283, seus precedentes e as principais criticas conduzidas a tal política. Além de verificarmos até que ponto as referidas medidas se caracterizaram em uma forma de arrocho salarial ou não. 11 CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕESTEÓRICAS ACERCA DA INDEXAÇÃO SALARIAL 1.1 Introdução A indexação surge como um mecanismo de recomposição dos rendimentos ou valores reais dos agentes econômicos, rebaixados pelo processo inflacionário, na tentativa de mantê-los assegurados. Baseando-se no diagnóstico de inflação inercial, atribui-se à indexação, "mecanismo de política econômica pelo qual as obrigações monetárias têm seus valores em dinheiro corrigidos com base em indices oficiais do governo" (Dicionário de Economia. 1985, p.205), o principal fator mantenedor das taxas de inflação, caracterizada pela "capacidade que os agentes econômicos têm de repassar aumentos de custos para os preços independentemente de existência de pressão de demanda" (Nakano e Bresser Pereira, 1984, p.92). Como nosso objetivo é analisar a política salarial adotada pelo Plano Cruzado, iremos nos concentrar neste capítulo nos principais aspectos da indexação salarial. Iniciaremos pela abordagem dos contextos em que se deram as primeiras experiências com indexação salarial, dando ênfase a primeira experiência formal brasileira e logo após exporemos a caracterização dos sistemas de indexação e os principais modelos macroeconômicos pertinentes ao desenvolvimento da pesquisa. 12 A seguir, exporemos as primeiras experiências com indexação salarial em alguns países específicos que surgiram com a I Guerra Mundial e na primeira metade da década de 20, com o objetivo de proteger os salários reais da inflação e facilitar as negociações coletivas, em um contexto caracterizado pela inflação resultante do tempo de guerra e pelo significativo aumento do número de trabalhadores sindicalizados'. A Alemanha, por exemplo, pode ser considerada um dos primeiros países a adotar um sistema de indexação salarial durante as hiperinflações européias do início dos anos 20. Neste país, o Sistema de Escala Móvel já era conhecido antes da I Guerra Mundial, sendo os reajustes salariais baseados nos aumentos de preços dos artigos em geral. (Balbinotto Neto, p.29) Dentre os países com baixa inflação podemos citar a Austrália, cuja indexação salarial foi adotada pela primeira vez em 1913. A aceleração do processo inflacionário antes de 1913 e após a I Guerra Mundial provocou manifestações por parte dos trabalhadores por um mecanismo que protegesse seus salários da inflação. Entre 1913 e 1986 as principais mudanças no sistema eram referentes à frequência dos reajustes dos salários nominais, em 1953 as cláusulas de indexação foram suspensas e readotadas a partir de 1974 devido à reivindicações sindicais (Balbinotto Neto, 1991, p.36). No Brasil, devido à aceleração do processo inflacionário desde o final da década de 50 e inicio da de 60, tomaram-se comuns os reajustes dos salários nominais baseados no pico do salário real e com base na inflação do período anterior. Porém, a primeira experiência formal de indexação salarial foi verificada em 1964 como parte do ' Os setores industriais e os trabalhadores sindicalizados foram os primeiros a adotar as cláusulas de indexação salarial, visto que que eram os que tinham poder de barganha para reinvidicá-tas. 2 Sistema de indexação baseado na recomposição do pico do salário real com periodicidade endógena. it 13 Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) (Balbinotto Neto, 1991, p. 62), visando reduzir a inflação e compatibilizar os reajustes salariais com as metas do programa de estabilização. De acordo com os formuladores do PAEG, os reajustes desordenados dos salários nominais e o efeito realimentador que eles tinham sobre a taxa de inflação eram as principais causas do processo de aceleração inflacionária daquele período. Assim, a lógica da política de indexação salarial, naquele momento, baseou-se nesse diagnóstico. Segundo Simonsen [1975, p.67 (apud Balbinotto Neto, 1991, p.63)]: " O programa reconhecia que numa inflação crônica os salários reais oscilam fortemente entre picos e vales, devido à conjugação de altas salariais descontinuas com altas contínuas de preços, e que a meta a ser estabelecida deveria ser a estabilização pela média (mais aumentos vegetativos de produtividade) e não pelos picos. Isso exige o abandono do critério tradicional de reajuste proporcionalmente ao aumento do custo de vida desde a última revisão - critério que implica simplesmente a recomposição do pico prévio do poder aquisitivo." O PAEG optou por uma estratégia gradualista de combate à inflação enquanto as taxas não atingissem um patamar considerável. Assim, a política de indexação salarial seria apenas um instrumento de coordenação dos reajustes salariais. A partir de 1966, a indexação salarial passa a ser utilizada como instrumento de política econômica, fazendo parte das medidas antiinflacionárias. Caso a taxa de inflação futura fosse subestimada, isso provocaria uma queda no salário real médio ou o inverso, 14 caso a inflação futura fosse sobrestimada. Esse era o principal problema apresentado pelo sistema de indexação utilizado pelo PAEG.3 Após 1968 houve uma primeira modificação no sistema de indexação salarial em 1968, corrigindo a fórmula dos reajustes salariais. Foi introduzido um coeficiente de correção do resíduo inflacionário evitando que a subestimação da inflação futura reduzisse o salário real médio. A segunda mudança ocorreu em novembro de 1974, onde o salário real médio passaria a ser o dos últimos doze meses, ao invés dos últimos vinte e quatro meses. Em 1979, novas mudanças ocorreram na política de indexação salarial, tais como: "o princípio de reajuste dos salários nominais passou a ser o da recomposição do pico prévio, ao invés da manutenção da média; os reajustes seriam baseados na taxa de inflação do período anterior, no caso os últimos seis meses; a frequência dos reajustes passou a ser semestral; a taxa de crescimento da produtividade da mão-de-obra passou a ser negociada entre as partes interessadas; a taxa de recomposição do pico prévio passou a ser diferenciada, variando entre 110% e 80%, conforme o nível de salário do trabalhador; e, por fim, adotou-se um novo índice de reajuste, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (1NPC), calculado através de uma média ponderada dos índices de custo de vida das 10 maiores regiões metropolitanas do pais." (Balbinotto Neto, 1991, p.66). Depois de 1979, várias modificações ocorreram e estão ocorrendo nos sistemas de indexação salarial brasileiros, que tendem a mudar, pois mudam também o contexto, os objetivos e os custos de implementação destes, bem como o poder de barganha das partes envolvidas. 3 A Circular 10/64 e o Decreto Lei N° 54.018, de julho de 1964, estabeleceram que os reajustes não poderiam se realizar com um intervalo menor de que 12 meses. Seria, ainda acrescentado um percentual de aumento de ,.; produtividade e outro que refletisse a inflação futura. 15 Nas economias inflacionárias, como o Brasil, o sistema de indexação representa uma forma de minimização dos custos no conflito da relação capital-trabalho. Segundo Kandir (1989, p.72): " Em suma, segundo a análise neo-estruturalista, a economia capitalista está marcada por um conflito permanente, que tende a levá-la a oscilações recorrentes, associadas a acelerações inflacionárias. Para minimizar os custos inerentes a tais processos, os capitalistas procuram celebrar contratos capczes de propiciar maior estabilidade às relações capital-trabalho ". Na próxima seção iremos conhecer a caracterização dos sistemas de indexação salarial, os principais aspectos e parâmetros que os diferenciam, bem como sua utilização. 1.2 Sistemas de indexação salarial A importância da análise dos sistemas de indexação salarial surge com a tentativa de se estabelecer políticas de estabilização e de rendas na economia, bem como quando ocorrem negociações coletivas entre empresas e sindicatos sobre o nível salarial. Existem, segundo BalbinottoNeto (1991, pp.76-78), três aspectos que devem ser considerados na caracterização dos sistemas: a periodicidade dos reajustes salariais, o grau de recomposição do salário real e o grau de proteção do salário real médio. Quanto a periodicidade dos reajustes podem ser fixos ou móveis. No primeiro caso, o período de tempo de reajuste é fixado, independente da taxa de inflação. No caso de 16 serem móveis, a periodicidade é determinada de acordo com o patamar da taxa de inflação acumulada (Balbinotto Neto, 1991, p.77). Segundo Balbinotto Neto (1991, p.77-78), no que se refere ao grau de recomposição do salário real, o salário nominal pode ser reajustado plena ou parcialmente. Parcialmente se a taxa de reajuste for menor que a taxa de inflação do período anterior. Além disso, a recomposição pode ser abrupta (quando a inflação é repassada totalmente entre um período e outro) ou gradual (quando os reajustes são distribuídos ao longo de um determinado periodo). Com relação ao grau de proteção do salário real médio, este dependerá do sistema de indexação e do comportamento da taxa de inflação. Lopes (1986, pp.86-87) enfatiza, ainda, uma divisão dos sistemas de indexação entre passivos e ativos. De natureza passiva, quando o reajuste é condicionado à inflação passada, apenas realimentando a taxa de inflação, sem alterar a sua trajetória. De natureza ativa, quando influencia a taxa de inflação como meta de política antiinflacionária, devendo ter como objetivo reduzir o pico do salário real. As cláusulas de um contrato de trabalho indexado estabelecem a periodicidade., a taxa e a forma de reajuste com base num determinado índice de preços. De acordo com o Gráfico 1, abaixo, esclarecemos alguns conceitos e hipóteses necessários à caracterização dos sistemas de indexação salarial. 17 Gráfico 1 A DINAMICA DOS SALÁRIOS REAIS - PICO/MEDIA Salário Real Pico Reajuste Reajuste Reajuste Reajuste Extraído de: Modiano, 1992, p.349. De acordo com Modiano (1992,p.349), dentro de um processo inflacionário crônico, como demonstra o Gráfico 1, a dinâmica dos salários reais, cujos valores nominais são corrigidos pela inflação passada em intervalos fixos de tempo, onde o pico do salário real é obtido no momento em que o salário nominal é reajustado e o valor mínimo (vale) no final da data base. Enquanto o salário nominal' é mantido constante, o salário real' decresce de acordo com a taxa de inflação (medida pela inclinação da "rampa" no gráfico) e dadas as constantes oscilações do salário real. Analisaremos a seguir, de acordo com os pressupostos acima, as alternativas quanto a forma de indexação salarial dentro de um processo inflacionário crônico. 4 Número de unidr:des monetárias que um assalariado recebe por unidade de tempo. 5 Expressa o poder de compra efetivo por unidade de tempo. 13 1.2,10 sistema de recomposição do pico do salário real com periodicidade fixa. Segundo Balbinotto Neto (1991, pp.78-80), neste sistema o salário nominal é reajustado com base na inflação do periodo anterior, recompondo o pico do salário real. Sendo esta recomposição feita de forma abrupta e com periodicidade fixa. Aqui o nível do salário real médio é condicionado ao comportamento da taxa de inflação e à frequência dos reajustes salariais. No caso de uma aceleração inflacionária, o salário real médio será indexado imperfeitamente. Já com relação a frequência dos reajustes, o salário real médio manterá uma relação direta, ou seja, quanto mais frequentes os reajustes maior deverá ser o patamar do salário real médio. De acordo com Cândido Júnior (1992, p.77): "No caso de uma mesma taxa de inflação, os reajustes mais frequentes ocasionarão uma redução nas margens de lucro acirrando o conflito distributivo. Deste modo, a única maneira de compatibilizar uma elevação na frequência dos reajustes, sem reduzir as margens de lucro, será através da aceleração da taxa de inflação. Nesta situação o salário real médio também será mantido constante': No que diz respeito ao seu papel numa política de estabilização, este sistema possui um caráter passivo e é capaz de absorver choques inflacionários sem redução no nível do produto da economia, ou seja: P • taxa de inflação P1=P2<P3=P4 TOT1 = T1 T2 > T2T3 = T3T4 Log —wt pt P1 Havel de Pico Salário Real Médio 19 " Neste regime de indexação salarial, a economia absorve choques reais através de acelerações inflacionária, sem perturbações no nível de atividades". Lopes (1986, p.92). Assim, este sistema além de ter um papel passivo numa política de estabilização, protege imperfeitamente o salário real médio, reduz o grau de liberdade dos formuladores de política econômica, devido à sua periodicidade fixa e gera incerteza quanto ao valor real do recebimento e pagamento dos reajustes, por não se conhecer a taxa de inflação antecipadamente, (Balbinotto Neto, 1991, pp.78-79). O Gráfico 2 abaixo pode ilustrar o que vem sendo dito. Gráfico 2 RECOMPOSIÇÃO DO PICO DO SALÁRIO REAL COM PERIODICIDADE FIXA T3 T4 Tempo (período de reajuste) Extraído de: Cândido Júnior, 1992, p.78 Para se manter constante o nível do salário real médio, teriam que ser compatibilizadas maiores taxas de inflação com reduções na periodicidade dos reajustes, ou o inverso. T1 12 P - Inflaçáo P2 < P3 T1T2 > T2T3 Salário Real Médio Constante 20 1.2.2 0 sistema de recomposição do pico do salário real com periodicidade endógena. Neste sistema os salários nominais são reajustados quando a taxa de inflação acumulada atinge um determinado patamar. O reajuste é abrupto e o objetivo principal é indexar perfeitamente o salário real médio, mantendo-o constante ao longo do tempo. O Gráfico 3 abaixo ilustra claramente o funcionamento do sistema: Gráfico 3 O COMPORTAMENTO DO SALÁRIO REAL SOB O SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO DO SALÁRIO REAL COM PERIODICIDADE ENDÓGENA Tempo (período de reajuste) Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.80. O salário real médio é mantido constante compatibilizando aumento da inflação com redução na periodicidade dos reajustes. Balbinotto Neto (1991, p.81) afirma, que este sistema possui caráter passivo numa política de estabilização na medida que reproduz a taxa de inflação do período precendente; por outro lado, gera incerteza por não permitir aos agentes (empresários e trabalhadores) saber quando se dará o próximo reajuste, resultante do fato de não se saber qual o patamar inflacionário dos próximos períodos. pè TO T1 T2 T3 21 Uma das criticas a este sistema segue-se no sentido de que a inflação pode atingir patamares muito elevados e a taxa que dispara o gatilho ser baixa, ocorrendo assim um encurtamento dos reajustes salariais, o que implicaria numa aceleração inflacionária ainda maior. Este tipo de indexação foi bastante utilizada nas hiperinflações européias e no Brasil foi adotada como parte das medidas do Plano Cruzado. 1.2.3 0 sistema de redução do pico do salário real com periodicidade fixa. Balbinoto Neto (1991, p.81) afirma que a principal caracteristica desse sistema é que os reajustes dos salários nominais só recompõem parcialmente o pico do salário real como forma de política antiinflacionária. É nesse sentido que o Sistema de Redução do Pico do Salário Real com Periodicidade Fixa possui um caráter ativo ao influenciar a trajetória da taxa de inflação. Outra característica se refere ao fato dos reajustes ocorrerem com base na inflação do período anterior e de forma abrupta. Através do Gráfico 4 abaixo, podemos verificar algumas propriedades do sistema. Uma delas é que ele não protege o salário real médio das oscilações inflacionárias, mesmo quando a taxa de inflação se mantém estável poderá ocorrer uma queda no salário real médio (períodos TOT1 e T1T2). A adoção deste sistema é justificada teoricamente por ser possível a manutenção do salário realmédio com uma desaceleração da taxa de inflação, mesmo com redução no pico (T1T2 e T2T3) onde P2>P3. Porém, isto seria praticamente impossível, P - taxa de inflaçao P! >P2>P3 V! <V2<V3 V - nível do pico do salário real TOT1 = T1T2 = T2T3 Log wt Va V1 0 22 pois a inflação poderia acelerar-se por uma série de fatores que causariam uma redução do salário real médio. (Balbinotto Neto, 1991, pp.81-82) Gráfico 4 O COMPORTAMENTO DO SALÁRIO REAL SOB O SISTEMA DE REDUÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE FIXA T2 T3 Tempo (período de reajuste) Extraído de Balbinotto Neto, 1991, p.82 1.2.4 0 sistema de indexação salarial com repasses graduais da taxa de inflação. Neste sistema os salários são reajustados através de repasses graduais da taxa acumulada de inflação do periodo anterior, sendo possível a aplicação de menores reajustes aos salários nominais ao longo do tempo distribuídos ao longo de um intervalo. De acordo com o Gráfico 5 abaixo, onde a taxa de inflação trimestral será repassada mensalmente, verificamos que, no caso da manutenção da taxa de inflação entre os trimestres, o salário real médio se manterá constante, equivalendo este sistema ao da recomposição do pico. Caso haja uma aceleração inflacionária no trimestre subsequente, haverá uma queda nos salários reais médios, já que os salários nominais estão sendo TO T1 Nivet de Pico Salado real médio m/i3 m1~3 mis mINe Loa IA— pt 23 reajustados com base na taxa de inflação do trimestre anterior. E se houver uma desaceleração, a taxa dos reajustes salariais será superior à taxa de inflação corrente. Gráfico 5 SISTEMA DE INDEXAÇÃO SALARIAL COM REPASSES GRADUAIS DA TAXA DE INFLAÇÃO r - repasse salarial r1=r2=r3=r4=r5= rS Pt - inflaç3o do semestre PO = P12, onde Pt = 100 [ (9+r)' -1 ] 1° TRIMESTRE 3°TRIMESTRE Extraído de: Cândido Júnior, 1992, p.82. Dentre outras caracteristicas deste sistema podemos citar sua periodicidade fixa e o fato dele não proteger o salário real médio das oscilações inflacionárias. Esta última característica introduz um certo grau de incerteza tanto para os empresários quanto para os trabalhadores, pois, em determinado momento a taxa de reajuste pode ser inferior à taxa de inflação e em outro superior, acirrando, desta forma, o conflito distributivo. As principais vantagens deste sistema destacadas por Ballbinotto Neto (1991, p.84) se referem ao maior grau de liberdade conferido aos formuladores de política econômica para determinarem a periodicidade base, bem como a frequência dos reajustes, além de poderem tentar reverter o impacto dos choques inflacionários sobre a economia que pode ser incorporado de forma gradual e não abruptamente. 24 Dentre outras vantagens podemos citar o fato dos trabalhadores poderem acompanhar com maior facilidade a evolução das taxas de inflação, reduzindo as possíveis perdas de poder aquisitivo. Este sistema também contribui para uma maior estabilidade das taxas de inflação na medida em que os reajustes não são transmitidos de forma abrupta. A escolha de um determinado sistema de indexação está diretamente relacionada com os objetivos que se pretende alcançar e com os custos de implementação de cada sistema, não existindo assim, o melhor, mas o mais adequado sistema de indexação salarial (Balbinotto Neto, 1991, p.85). Analisados os sistemas de indexação salarial estudaremos, a seguir, alguns aspectos macroeconômicos da indexação salarial, incluindo neste estudo alguns modelos de maior interesse para a continuidade do capítulo teórico que dará embasamento aos demais capítulos da pesquisa. 1.3 A indexação salarial e seus aspectos macroeconômicos. Veremos aqui alguns autores apontados no estudo de Balbinotto Neto (1991) que deram início ao debate em torno das vantagens e desvantagens da utilização de cláusulas de indexação salarial. Segundo Marshal [ 1925, pp. 188-189 (apud Balbinotto Neto, 1991, p.90)], as cláusulas de indexação salarial atuariam como uma medida para atenuar os efeitos dos ciclos econômicos. 25 Fisher [ 1918,1934, (apud Balbinotto Neto, 1991, p.90)] também mostrou-se a favor da adoção das cláusulas dc Indexação salarial, argumentando que diminuiriam os conflitos sociais decorrentes da inflação reduzindo as defasagens nos reajustes salariais e diminuindo os riscos das partes contratantes decorrentes da inflação incerta. Keynes [ 1982, (apud Balbinotto Neto, 1991, p.90)] por sua vez, mostrou-se contrário à adoção generalizada das cláusulas de indexação salarial, segundo o qual a política keynesiana de aumento do emprego via manipulação da demanda agregada seria ineficaz. Devido às baixas taxas de inflação durante os anos 60, o debate teórico sobre os efeitos da indexação salarial ficou relegado a segundo plano, sendo retomado durante os anos 70, principalmente depois do choque do petróleo (1974) que elevou, consideravelmente, as taxas de inflação em todo o mundo. É nesse contexto que Friedman publica, em 1974, um artigo que revela a importância da adoção de cláusulas de indexação salarial em vários setores como forma de minimizar os efeitos adversos de uma politica de estabilização. Porém, Friedman preferia que não houvesse nem inflação e nem indexação, salientando que: "... a indexação é, quando muito, um substituto imperfeito para a estabilidade da taxa de inflação. Os índices de preços são imperfeitos, só estão disponíveis com um atraso, e geralmente se aplicam a termo de contratos com um atraso adicional. " [Friedman, 1985, p. 400 ( apud Balbinotto neto, 1991, p.93)]. Para Friedman [ 1974 ( apud Balbinotto Neto, 1991, pp.93-94)] vários seriam os efeitos colaterais de uma política de estabilização e o principal deles seria uma redução 26 nos gastos totais que causaria uma redução no nível de produção e emprego e um aumento nos estoques das empresas, levando algum tempo para que essas reações reduzam o patamar inflacionário. Assim, uma política de estabilização que vise reduzir a taxa de inflação, trará consigo um considerável aumento no nível de desemprego que poderá persistir por um bom tempo, produzindo, portanto, distúrbios no nível de atividade econômica. De acordo com Friedmam a indexação salarial diminuiria os custos de uma política de estabilização em termos de taxa de crescimento do produto e do emprego, ampliando o campo de ação do governo no combate à inflação, já que as pressões políticas não seriam tão fortes. ( apud Balbinotto Neto, 1991, p.93) Uma das criticas feitas a Friedman com relação a indexação salarial foi contra sua afirmação de que as cláusulas de indexação não seriam nem inflacionárias nem detlacionárias. Pois, segundo Goldstein [ 1975, p.6.82, (apud Balbinotto Neto, p.99)] apesar da indexação não ser uma causa da inflação ela pode propagar e manter a espiral salário- preços. Dessa maneira, Balbinotto Neto (1991, p.100) ressalta que o debate teórico em torno da adoção das cláusulas de indexação salarial gerou duas abordagens sobre os efeitos macroeconômicos da indexação em relação à estabilização econômica. Alguns economistas advogam a favor da adoção das cláusulas argumentando que elas ajudariam a atenuar as flutuações no nível do produto e da taxa de inflação. Outros economistas argumentam que a indexação salarial prejudicaria a eficácia das políticas de demanda agregada e de combate à inflação6 além de aumentar a instabilidade de economia frente à alguns choque de oferta. 6 Dado que diminuiria a eficácia dos instrumentos tradicionais de combate à inflaçAo: políticas monetária e fiscal. ~~. 27 Nas próximas seções analisaremos inicialmente o modelo estruturalista latino- americano desenvolvido por Oliveira e Canavese no qual a indexação dos salários torna-se um mecanismo para a propagação de choques inflacionários dada mudanças nos preços relativos. Neste caso, a evidênciase dá ao caráter inercial da inflação e sua relação com as cláusulas de indexação salarial. Em seguida, apresentaremos o modelo de Pérsio Arida sobre os efeitos da indexação sobre variáveis como inflação, crescimento econômico e emprego. 1.3.1 0 modelo estruturalista Latino Americano O modelo estruturalista latino americano, surgido na década de 50, enfatiza a relação entre alterações nos preços relativos e aumento do nível geral de preços devido aos problemas estruturais enfrentados em fase de industrialização. Sendo a indexação salarial um mecanismo de propagação da inflação. As altas taxas de inflação verificadas na América Latina nos anos 70 e 80, proporcionaram o surgimento do neo-estruturalismo, que propõe novos programas de estabilização voltados para o curto prazo. O modelo a seguir, esquematizado por Balbinotto Neto (1991, pp.130-134), baseou-se nos trabalhos de Oliveira(1967), Canavesse (1979, 1982), Barbosa (1983), Cardoso (1980), supõe que a economia esteja dividida em dois setores: wn agrícola, onde os preços são formados pelo jogo de mercado, e outro industrial, onde os preços são determinados pelo mark-up imposto aos custos variáveis. E a taxa de inflação é obtida por uma média ponderada das taxas de inflação dos dois setores. Assim: tc=ata+(1- a) ti tc = ti + a(ta - ti) (1') tc =- taxa de inflação corrente a = participação do setor agrícola no índice geral de preços ta = taxa de inflação dos preços agrícolas ti = taxa de inflação dos preços industriais A taxa de inflação dos preços industriais seria obtida da seguinte forma: ti = u x d(wt - qt) + (1 - u)nt (2) onde: u = participação dos salários nos custos unitários wt = taxa de crescimento dos salários qt = taxa de crescimento da produtividade da mão-de-obra nt = taxa de crescimento dos preços domésticos dos insumos importados Ou seja, a taxa de crescimento dos preços industriais é igual à uma média ponderada da taxa de crescimento dos salários, deduzida da taxa de crescimento da produtividade da mão-de-obra, adicionando-se a taxa de crescimento dos preços domésticos dos insumos importados. Já a taxa de crescimento dos preços domésticos dos insumos importados está diretamente relacionada com o aumento da taxa de câmbio, que é reajustada de acordo com a inflação corrente. 28 (1) 29 nt=et+rt (3) onde: et = taxa de variação da taxa de câmbio = taxa de inflação corrente = te rt = taxa de crescimento dos preços dos insumos importados nt = tc + rt (3') Substituindo (3') em (2) e a equação (1'), obteremos: tc = u(wt - qt) + (tc + rt) (1 - u) + a (ta - ti) (4) Supondo que a taxa de crescimento da produtividade da mão-de-obra seja zero (qt = 0), que não tenhamos aumentos nos preços dos insumos importados (rt = 0) e que os preços relativos estejam ajustados (ta = ti), teremos que: tc = u(wt) + (1 - u)tc tc - (1 - u)tc = u(wt) tc = wt (4') Como, neste modelo, os salários são indexados com base na inflação do período anterior, obtemos a equação: tc=tc - 1 onde: tc - 1 = taxa de inflação no período anterior A partir deste modelo, pode-se verificar como a indexação salarial tende a perpetuar a taxa de inflação passada no futuro, tornando-se, deste modo, inercial. Foi a partir deste diagnóstico que foram elaborados os planos heterodoxos de estabilização na Argentina (Plano Austral) e Brasil (Plano Cruzado). 30 A seguir analisaremos o modelo de Arida (1982) que propõe um estudo sobre os efeitos de um determinado sistema de indexação salarial sobre a taxa de inflação, o crescimento e o nível de emprego. Arida fixa sua análise no sistema de recomposição do pico coin periodicidade fixa e no sistema de recomposição do pico com periodicidade endógena. 1.3.2 0 modelo de Arida Árida (1982, p.321) inicia sua análise descrevendo o processo inflacionário como sendo resultado do conflito distributivo entre trabalhadores e empresários, onde supõe que os trabalhadores desejam receber um salário real A que é superior ao salário real B, que os empresários desejam pagar, onde (A-B) é o "hiato de incompatibilidade ". (Balbinotto Neto, 1991, p.135). a) O modelo completo de Arida. Vejamos agora o modelo completo, onde Arida explicita os determinantes do hiato de incompatibilidade, os determinantes de A e de B. Segundo Arida (1982, p.321) os principais determinantes de A se encontram nos fatores sociais e institucionais, como: a existência de um pacto social, o grau de combatividade dos sindicatos, o caráter do regime político, o fato da economia ser ou não 31 indexada, etc. Também nos fatores econômicos, cujo principal determinante é a taxa de desemprego. Arida incorpora tais considerações através da formalização da equação abaixo: A=p' +y' [(y-1)-y] (1) onde se considera: p' > 0 = parâmetro que capta os fatores sociais e institucionais na determinação de A' ; y' = parâmetro que reflete o impacto do desemprego sobre a pretensão salarial; y = taxa normal de crescimento; y - 1 = taxa de crescimento do periodo anterior. No caso de B, seus principais determinantes são: o mark-up requerido pelas firmas, as taxas de crescimento da economia e o nível de produtividade do trabalho. Supondo-se, implicitamente, uma economia oligopolizada onde o trabalho é o único insumo. Assim: P=W(1/I)(l+m) onde, se considera: P = nível de preços; W= salário real; I = produtividade do trabalho; (1 + m) = R = mark-up. Obteremos: (2) 7 Um fator que diminuiria p' seria a existência de um pacto social. 32 B=W/P=I/R (3) Considerando as taxas de crescimento da economia como um determinante de B, pode-se formular: B=p" - Y"L(Y - l) - y) (4) onde: p"=I/R p=p"" -p'>0 y" = influência das taxas de crescimento sobre o mark-up desejado, onde y = y' - y" > 0 Assim: A - B=p - y[(Y - 1) - y] (5) O hiato de incompatibilidade seria, assim, determinado pelo nível de preços da economia, pelo o impacto do desemprego sobre a pretensão salarial dos trabalhadores, a influência das taxas de crescimento sobre o mark-up desejado, pela taxa normal de crescimento e taxa de crescimento do período anterior. b) O comportamento da economia sob o sistema de recomposição do pico com periodicidade fixa. Quando uma economia é indexada, o fator desemprego tende a ter pouca influência sobre o nível de salário real desejado pelos trabalhadores. Concluindo-se que quanto mais indexada for a economia, menores serão as flutuações cíclicas em termos de inflação e produto. Supondo a adoção de uma política monetária restritiva, vista como um deslocamento da curva de demanda agregada m4rn(1) para mini' na figura abaixo, o primeiro 33 efeito seria uma redução da taxa de expansão do produto (yi < ye4) sem alteração significativa do patamar inflacionário (Per), com deslocamento do ponto de equilíbrio Z4) para Z° . A partir daí inicia-se o processo de ajustamento até que a economia atinja o ponto Z i , com redução da taxa de crescimento do produto e da inflação. Gráfico 6 OS EFEITOS SOBRE OS NÍVEIS DE PREÇO E PRODUTO DE UMA POLÍTICA MON ETÁRIA SOB UM SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE FIXA. vi Y. V% Y= m, ` mo Y, Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.142. No caso de tuna política monetária expansionista o efeito será inverso, com resultado fm.l de um aumento tanto na taxa de expansão do produto como na taxa de inflação de equilíbrio. Analisaremos agora os efeitos para a economia de uma alteração na frequência dos reajustes salariais através da figura abaixo. Teremos uma curva de demanda agregada (m4m4) e duas curvas de oferta agregada (OAB e 0A1) com equilíbrio inicial Z4 Supondo um aumento na frequência dos reajustes de anual em 0A4 para semestral em 0A1, verificamos que o ponto de equilíbrio se desloca para Z1 onde ocorre uma redução no nível de crescimento do produto (Yei < Ye4) e um aumento na taxa de inflaçãoPei < Per). OAp OA, 34 Porém, ocorrerá unia a redução no nível de desemprego reduzindo o valor de A, obtendo, assim, uma pequena recuperação do crescimento do produto. O efeito final ainda continuará sendo uma aceleração na taxa de inflação e uma redução na taxa de crescimento. Segundo Arida (1982, p.326) uma redução do salário real de A para B, com o aumento do hiato de incompatibilidade, só seria alcançada com um aumento do patamar inflacionários . Gráfico 7 OS EFEITOS SOBRE OS NÌVEIS DE PREÇO E PRODUTO DE UMA ALTERAÇÃO NA FREQUÊNCIA DOS REAJUSTES E DO CONFLITO DISTRIBUTIVO SOB UM SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE FIXA r. Y` m, Y, Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.143. c) O comportamento da economia sob o sistema de recomposição do pico com periodicidade endógena. De acordo com Balbinotto Neto (19991, p.140), alguns pressupostos devem ser considerados para o melhor entendimento do comportamento da economia sob este sistema, tais como: S A adcção de um pacto social, por exemplo, atenuaria o conflito distributivo, reduzindo as taxas de inflação e aumentando as taxas de crescimento econômico. 35 - A periodicidade é unia variável endógena que deve ser determinada; - O governo estabelece um limite para a taxa de inflação (x) que determina a capacidade dos empresários para reduzir o salário real de A para B; - A intensidade do conflito distributivo depende das taxas de crescimento da economia; - A periodicidade dos reajustes põe um limite para o conflito distributivo, na medida em que possui uma relação direta com a aceleração inflacionária, ou seja, quanto mais elevada for a taxa de inflação mais frequentes deverão ser os reajustes, e assim o inverso; - Dadas as curvas de oferta e demanda agregada de uma economia, são obtidas as taxas de equilíbrio da inflação e do crescimento do produto, bem como o estabelecimento da periodicidade dos reajustes. Vejamos, a seguir, uma análise gráfica do modelo, onde no eixo das abcissas temos a taxa de crescimento do produto e no eixo das ordenadas a taxa de inflação. No quadrante I, a reta m4m4 representa a curva de demanda agregada para uma dada taxa de expansão monetária9, demonstrando as várias combinações possíveis de P e Y. A curva de oferta agregada, visualizando o Gráfico 8 abaixo, não é afetada pela taxa de inflação. Seu deslocamento dependerá do teto x que dispara os reajustes dos salários nominais e do conflito distributivo. No quadrante II as curvas AA e A'A' representam o trade-off entre a taxa de inflação e a periodicidade dos reajustes, dado um determinado hiato de incompatibilidade. O 9 Quanto maior a taxa de expansão monetária, mais distante da origem se localizará a reta que apresenta a demanda agregada. Ei , A' A E4)• 36 deslocamento da curva AA dependerá do teto x, ou seja, quanto menor for o valor de x, mais próxima da origem se localizará a curva AA. Portanto, dadas as curvas de demanda (m4m4)) e oferta (Ye) agregadas e estabelecido o hiato de incompatibilidade (AA), os níveis de equilíbrio da economia são visualizados pelos pontos E4 e E4' . Gráfico 8 O EQUILÍBRIO MACROECONÔMICO DE CURTO PRAZO SOB UM SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE ENDÓGENA. D Dl Dft 43, Ye m4 Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.145. V Suponhamos agora, que seja adotada uma política monetária restritiva, onde ocorre um deslocamento da curva de demanda agregada para a esquerda. Verificamos, de acordo com o gráfico 9 , que este deslocamento provoca uma queda na taxa de inflação, sem alterar a taxa de crescimento do produto. Porém teremos um deslocamento ao longo da curva AA, tomando os reajustes mais espaçados (D4, D1). Os novos níveis de equilíbrio serão observados pelos pontos Z1 e Z1'. 37 Uma política monetária restritiva, não afeta diretamente o conflito distributivo e nem a capacidade dos empres4rips de reduzirem o salário real de A para B, não influenciando a taxa de crescimento da economia. Portanto, o reajuste, neste modelo, ê obtido via diminuição na frequência dos reajustes e não via redução na taxa de crescimento do produto."' Gráfico 9 OS EFEITOS DE UMA POLÍTICA MONETÁRIA RESTRITIVA SOBRE A PERIODICIDADE E OS NÍVEIS DE PRODUTO E INFLAÇÃO NO SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE ENDÓGENA. A P Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.146. Analisaremos agora os efeitos para a economia caso ocorra urna redução do gatilho que dispara os reajustes dos salários nominais. De acordo com o Gráfico 10, poderemos observar um deslocamento da curva AA' para BB'e um deslocamento para a esquerda da curva da oferta agregada. Assim, com a ° No caso de uma politica monetária expansionista teremos um aumento na taxa de inflação seguido de um aumento na frequência sem auteração no nível de crescimento do produto. 38 redução do teto X, teremos uma redução na taxa de crescimento de Y4) para Y1, e um aumento na taxa de inflação de Pdi para P 1, seguido de um aumento na frequência dos reajustes do ponto D+ para Dl. Uma alteração no conflito distributivo, apesar de não deslocar a curva AA' para BB' i I provocará os mesmos efeitos perversos sobre a economia. No caso de um pacto social, por exemplo, o inverso ocorrerá, ou seja, uma redução na taxa de inflação, diminuição na frequência dos reajustes e aumento na taxa de crescimento do produto. Gráfico 10 OS EFEITOS DA REDUÇÃO DO GATILHO SOBRE A PERIODICIDADE E OS NÍVEIS DE PRODUTO E INFLAÇÃO NO SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE ENDÓGENA. P A B 4 D 134) D1' D1 3 Y1 Y4) W Extraído de Balbinotto Neto, 1991, p.147 11 Não ocorrendo alteração no teto X 39 Arida (1982, p.336-339) conclui sua análise afirmando que seria indiferente a adoção de qualquer um dos sistemas para minorar os efeitos de determinados choques exógenos, com urna diminuição na produtividade do trabalho e/ou um acirramento no conflito distributivo. Porém, a adoção do sistema com periodicidade endógena oferece um espaço maior de manobra aos formuladores de política econômica através da utilização do gatilho salarial. Com relação ao aumento do grau de indexação s' larial via aumento na frequência dos reajustes ou via redução do gatilho, em ambos os casos teremos efeitos perversos sobre a economia, verificados através do aumento da taxa de inflação e da redução da taxa de crescimento cio produto. A utilização do sistema de periodicidade endógena torna mais eficaz a adoção de uma política monetária contracionista do que a utilização do sistema com periodicidade fixa, sob o primeiro, a política monetária reduz a inflação sem reduzir o nível de crescimento do produto. O modelo de Arida também sugere a adoção de medidas de política econômica pouco tradicionais, como a promoção de um pacto social entre trabalhadores e empresários que poderia reduzir a taxa de inflação e elevar a taxa de crescimento da economia. 1.4 Considerações Finais Concluímos a partir dos modelos analisados na seção anterior, que o processo inflacionário é resultante do conflito distributivo entre trabalhadores e empresários e que a 40 indexação salarial tende a perpetuar as taxas de inflação passada no futuro, apesar de não ser um fator acelerador. Também a partir da inércia inflacionária, Nakano e Bresser Pereira (1994, p.90) sugerem uma fórmula de controle inflacionário baseada na associação de um "controle administrativo de preços" a uma "desindexação planejada". Pelo fato da ineficiência, já comprovada através de experiências anteriores, da administração da demanda agregada, o controle administrativo de preços, apesar de suas dificuldades12 , ainda é o método mais recomendável numa situação de inflação autônoma. Tal controle deverá ter como principais objetivos "(1) reduzir a taxade inflação; (2) garantir uma alocação satisfatória de recursos; e (3) evitar distorções na distribuição de renda" (Nakano e Bresser Pereira, 1984, p.91). Porém, existe uma tendência das políticas de estabilização em priorizar o primeiro objetivo em detrimento dos demais, gerando distorções no processo de distribuição de renda e estimulando a criação do "câmbio negro" e a falta de controle no tabelamento. No entanto, se os três objetivos acima forem respeitados e as dificuldades forem amenizadas, o controle administrativo de preços poderá ser bem sucedido associado ao principal fator mantenedor da inflação: o caráter indexado da economia. Como a forma tradicional de indexação, baseada na taxa de inflação passada, tende a perpetuar essa taxa no futuro aumentando os níveis de preços, os referidos autores sugeriram uma forma de indexação planejada que utilizasse metade da inflação passada da 12 Impossibilidade de controlar preços num mercado competitivo, principalmente a não padronização dos artigos e ao grande número de empresas; falta de um aparelho burocrático pesado; distorções nos preços relativos devido aos desvios que poderão existir entre preço de produção e preço estabelecido pelo tabelamento; e a tendência na redução dos salários reais ao fixar. 41 inflação futura prevista de forma declinante, levando-se em consideração as reduções reais decorrentes dos aumentos de produtividade (Nakano e Bresser Pereira, 1984, p.93-95). Segundo os autores, a única alternativa de política econômica numa situação de estagflação e desemprego generalizados em economias oligopolizadas e indexadas como a brasileira seria um controle inflacionário baseado na " combinação de controles administrativos de preços sobre setores oligopolistas e na desindexação parcial (via redutor e/ou consideração de uma inflação fartura declinante) " (Nakano e Bresser Pereira, 1984,. p.96). Devendo as políticas fiscais e monetárias ocupar um papel complementar nesse contexto. Uma avaliação empírica das propostas elaboradas por Nakano e Bresser Pereira será melhor evidenciada com a análise das medidas adotadas pelo Plano Cruzado nos capítulos seguintes. Após termos estudado as diversas formas de indexação salarial e, principalmente, o modelo sugerido por Arada", assim como suas conclusões a respeito da adoção de determinados sistemas como parte de programas de estabilização, iremos, a seguir, fazer algumas considerações sobre o Plano Cruzado para então chegarmos ao nosso objeto de estudo, que é a Política Salarial adotada pelo Programa. No próximo capítulo iremos expor as principais fontes e discussões teóricas que serviram de base para a formulação do Plano Cruzado. Exporemos também os acontecimentos fundamentais que precederam e propiciaram a edição do Programa e seus principais desdobramentos. 13 Principalmente por fazer parte da estrutura teórica para formulaçáo do Plano Cruzado. 42 CAPÍTULO 2 ASPECTOS GERAIS DO PLANO CRUZADO 2.1 Introdução Em processo inflacionário crônico, a inflação tende a adquirir um caráter autônomo, ou seja, se perpetua na medida em que os agentes econômicos buscam manter sua participação na renda nacional vinculando o reajuste de preços e ativos à inflação passada, reproduzindo, desta forma, a inflação passada no futuro com base num sistema de indexação institucional, no caso a correção monetária. Os defensores das teses inercialistas, de acordo com Bier, Paulani e Messenberg (1987, p.1.9-27), são favoráveis à utilização de medidas heterodoxas no combate à inflação, defendem o ataque à própria tendência inercial, procurando desvincular a inflação futura da inflação passada. E são opostos à adoção de medidas ortodoxas, ressaltando a natureza perversa e recessiva de tal mecanismo. A partir do referencial teórico de inflação inercial, alguns autores apresentaram importantes propostas de combate à inflação que serviram de base para a formulação do Plano Cruzado. Uma dessas propostas ficou conhecida por "Proposta Larida"I4 (Paul Singer 1987, p.66). As medidas sugeridas por seus formuladores estavam sustentadas numa concepção inercial de inflação que se diferenciava da concepção de alguns autores, como Lopes (Bier, 14 Elaborada por André Lara Resende e Pérsio Arida. Paulani e Messenberg, 1987, p.31) que justificava um comportamento defensivo por parte dos agentes econômicos que tentam mcompor seus picos de renda real. Para Resende e Arida: "os agentes estão perfeitamente conscientes da distribuição de renda prevalecente e buscam, ao reajustar setts preços e rendimentos, defender sua média de renda real e não seu pico. Assim, quando a expectativa de inflação se eleva, os agentes tenderão reduzir o intervalo entre dois reajustes ou, alternativamente, elevar seu pico de renda rea/ "(Bier, Paulani e Messenberg, 1987, p.25). A essência da Proposta Larida estava na emissão de uma nova moeda indexada, num primeiro momento, à ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional) que coexistiria com o Cruzeiro apenas durante um periodo de transição. Os preços administrativos, as operações fmanceiras e os depósitos à vista seriam automaticamente convertidos à nova moeda, pressupondo-se que os demais preços seriam espontaneamente convertidos. Os salários e os aluguéis teriam a liberdade de escolher o momento da conversão, mas deveriam seguir a regra de conversão com base no valor médio real desses contratos nos últimos seis meses. Os autores destacam ainda a importância do aumento da liquidez na economia, pois com a queda na inflação o custo de reter moeda se reduz e a demanda por moeda tende a crescer substancialmente (Bier, Paulani e Messenberg, 1987, p.29). A Proposta Larida condena explicitamente o congelamento de preços que, consequentemente, congelaria os preços relativos em desequilíbrio. Porém, este foi um dos principais aspectos que não foi adotado pelo Plano Cruzado, como veremos nas próximas 44 seções, que optou pelo congelamento/tabelamento indiscriminado de todos os preços defasados ou sobreavaliados. Com relação aos contratos, para os pré-fixados seria estabelecido uma tabela de conversão Cruzeiros/nova moeda com desvalorização diária do Cruzeiro. Os p®s-fixados seriam corrigidos pela ORTN entre a data de celebração do contrato e o dia da reforma, para então serem convertidos. Paul Singer (1987, p.66-67) criticou a "Proposta Larida" e a "Operação Cr uzado " no que se refere as conversões pela média que pressupõem que as partes estão satisfeitas com suas médias de um periodo arbitrariamente imposto. Verificando que este fato é bastante contestado principalmente no que se refere aos salários que eram corrigidos pelo pico e com a continuação de um processo inflacionário a periodicidade dos reajustes salariais tenderia a diminuir, como acontecia, antes dos choques, na Argentina e Israel. Porém, Paul Singer (1987, p.66-67), destaca uma "superioridade política" da "Proposta Larida" sobre a "Operação Cruzado" por não ser compulsória e nem centrada no fator "choque ", sugerindo uma maior negociação de preços com a participação dos vários segmentos da sociedade, tendo o Governo o papel de "árbitro" e não de centralizador de todas as decisões, dando maior espaço para os mecanismos de mercado. Urna outra proposta de combate à inércia inflacionária, foi sugerida por Lopes (Bir, Paulani e Messenberg, 1987, pp. 27-39), onde, os salários, aluguéis e preços deveriam ser convertidos para nova moeda com base nos seus valores reais médios, evitando, dessa forma, distorções nos preços relativos. Com relação aos contratos financeiros, a proposta de Lopes (Bier, Paulani e Messenberg, 1987, p.33) foi análoga à Proposta Larida. 45 Lopes (1986, pp. 20-21) enfatiza ainda a importância dos controles de preços no combate á inflação, ressaltando a ineficiência do controle da demanda agregada `para impedir que um recrudescimentodas expectativas inflacionárias das empresas se transforme em aceleração da inflação." A principal diferença entre as duas propostas refere-se ao grau de intervenção estatal. Arida e Resende enfatizam um maior espaço para os mecanismos de mercado e Lopes salienta uma participação mais ativa do Governo (Bier, Paulani e Messenberg, 1987, p. 34) É nesse contexto e no âmbito dessas discursões que, a seguir, iremos analisar os aspectos mais gerais do Plano Cruzado, até que ponto o programa absorveu as sugestões das referidas propostas, quais foram seus precedentes, suas principais medidas e consequências para, a partir de então, fazermos um estudo da política salarial adotada pelo plano no que se refere ao tipo de indexação e as consequências para o nível de salário real. 2.2 Precedentes A acentuada dependência financeira (desde 1979) que colocou o Brasil numa condição de "submisso dentro da hierarquia da Divisão Internacional do Trabalho" (Amaral Filho, 1986, p.2) fez com que, a partir do fmal de 1980, o governo brasileiro passasse a atender as exigências dos banqueiros internacionais no sentido de por em prática medidas de política econômica de caráter recessivo. 46 Entre 1981 e 1983, o Brasil enfrenta sua `pior crise conjuntural deste século" (Paul Singer, 1987, p.33), sendo 1982 mareado pelo fechamento dos créditos por parte dos bancos internacionais, obrigando o país a utilizar-se apenas da dívida pública interna como fonte de financiamento. A política econômica imposta pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), nesse periodo, fez com que o Brasil adotasse medidas no sentido de desvalorizar o Cruzeiro para aumentar as exportações e estimular o setor privado a se desfazer de suas dívidas em dólar através de depósitos junto ao Banco Central com taxa de remuneração externa mais variação cambia115. De acordo com Amaral Filho (1986, p.19-21) "este foi o processo macroeconômico mais importante na aceleração da inflação dos anos 80", além de caracterizar o papel ativo do Estado na captação de recursos para manter os compromissos da dívida. Em 1984, a economia brasileira retoma o crescimento estimulado, principalmente, pela expansão da demanda interna e das exportações, proporcionando uma situação bastante confortável com relação às reservas cambiais. A Nova República herda, assim, grande potencial para gerar um saldo comercial positivo com o propósito de pagar, pelo menos, os juros da dívida. Outra herança foi o arrocho salarial que, com a transformação do cenário politico (fim da era militar e transição à Nova República), os assalariados começaram a encontrar condições mais favoráveis para amenizar esse arrocho. 15 De acordo com a resolução 432, Lei n° 4.131, as empresas tomadoras de empréstimos poderiam realizar depósitos em moeda estrangeira junto ao BACEN e este assumiria o risco de câmbio e os encargos devidos ao credor externo. 47 Tancredo Neves compõe sua equipe econômica de forma heterogênea , nomeando Francisco Dorneles, adepto ao pepsamento ortodoxo, para o Ministério da Fazenda e João Sayad, economista ligado à corrente heterodoxa, para o Ministério do Planejamento, gerando contradições na condução da política econômica. (Modiano, 1990, p.354) Com a morte de Tancredo, José Sarney assume a presidência e demonstra-se inclinado à corrente desenvolvimentista com o possível esgotamento das propostas de cunho ortodoxo. A política econômica ficou indefinida entre os meses de março e agosto de 1985, enquanto isso o movimento sindical desencadeava uma ofensiva grevista visando reposições e reajustes salariais. O governo abriu mão da intervenção nos sindicatos, o que representou um certo avanço democrático após o longo período de autoritarismo militar. Assim, o ano de 1985 foi marcado pela extensão do movimento sindical. Nesse período, apesar dos ganhos nos rendimentos dos assalariados e da elevação no nível de emprego, não ocorreu uma proporcional distribuição de renda, o que acelerou o conflito distributivo e elevou o patamar inflacionário através dos preços dos produtos alimentícios. Com o aumento da massa salarial e significativo crescimento do emprego, verificou- se uma expansão no mercado interno e uma aceleração no nível de crescimento econômico confirmadas pela expansão das indústrias de bens de capital e aumento das importações também de bens de capital (Paul Singer, 1987, p.43). Em agosto de 1985, Dornelles se demite do Ministério da Fazenda por não conseguir mobilizar uma política econômica de ajuste ortodoxo. Dilson Funaro assume e 48 com ele, prevalece a proposta desenvolvimentista, tomando como principal medida o rompimento com o FMI que teve poucas repercussões políticas por não ter representado em "desafio à hegemonia do bloco credor." (Paul Singer, 1987, p.47) Com o agravamento da crise econômica, o governo Sarney elabora um modesto pacote fiscal e creditício caracterizado por forte ecletismo (trabalhar um grande número de instrumentos, mas um pouco de cada um) e gradualismo16 A principal debilidade da política econômica de Funaro estava na ausência de mobilização política a seu favor. O governo da Nova República não teria como impor sua política fiscal e nem controle de preços sem o respaldo do apoio popular. Assim, a crise monetária não poderia ser resolvida de modo a preservar o crescimento econômico sem um realinhamento das forças sociais e políticas. Apesar de 1985 ser o ponto de inflexão no desempenho do mercado de trabalho, a política de cunho gradualista adotada com a Nova República fracassa com a manifestação do . choque da oferta agrícola, devido à forte seca no sul do pais, aumentando para 17% ao mês (Modiano, 1990, p.356) os preços dos produtos alimentícios. Assim, o gradualismo fracassa em pelo menos estabilizar as taxas inflacionárias. As elevadas taxas de inflação, a falta de apoio popular e o perigo político das manifestações por eleições diretas, levaram o Governo a decretar o novo programa de estabilização: o Plano Cruzado. 16 Caracterizado por cortes moderados no gasto público, aumento também moderados da arrecadação tributária e redução da taxa de juros com objetivo de fazer cair a despesa financeira do governo. 49 2.3 0 Sistema Financeiro O Plano Cruzado, instituído em 28 de fevereiro de 1986 através do Decreto-Lei 2.283 (corrigido em 10 de março pelo Decreto-Lei 2.284), baseado numa concepção inercialista de inflação, tinha como principal objetivo zerar a inflação com manutenção do crescimento econômico, sendo, pelo menos teoricamente, neutro do ponto de vista do conflito distributivo, pressupondo que todos ganhariam com a nova situação de inflação zero. Porém, de acordo com Amaral Filho (1986, p.4) o próprio regime de acumulação brasileiro que "combina relações capitalistas altamente avançadas com aquelas extremamente atrasadas" se caracteriza pelo "alto grau de excludência em relação ás classes sociais inferiores, camponesas e urbanas". A reforma monetária que criou o Cruzado como padrão monetário nacional,17 tendo como objetivo recuperar o caráter de equivalente geral para a moeda, foi implantada sob a forma de choque, centralizando todas as decisões nas mãos do Poder Executivo Federal e, de início, teve amplo apoio popular com o congelamento de preços. Este apoio popular pôde ser verificado através dos `fiscais do Sarney" e contou com a ajuda dos meios de comunicação de massa, contribuindo, significativamente, para uma maior legitimação do Pacote e para uma inicial queda nas taxas de inflação. Com relação ao Sistema Financeiro, cuja principal fonte de recursos eram as transferências financeiras o fato de um brusca redução na taxa de inflação já significa perdas no que tange ao fluxo de receitas. 17 Com a equivaldncia de Cr$ 1.000,00/Cz$1,00. 50 Outro fato a ser considerado foi o congelamento por doze meses da ONT1S (Obrigações do TesouroNacional), desindexando parcela significativa da dívida pública e, consequentemente, desvalorizando grande parte dos ativos das instituições financeiras. Para minimizar esse efeito redistributivo de renda contra os bancos algumas medidas foram tomadas. Uma importante medida tomada pelo Governo foi a permissão de cobrança pelos bancos de vários serviços que até então eram gratuitos e a criação do mercado interfinanceiro. Além do fato do Governo ter recomprado os títulos públicos trocando-os por LBC(s) (Letras do Banco Central) reduzindo as perdas do Sistema Financeiro. Com relação ao tabelamento da taxa de juros, o Governo não tomou nenhuma decisão, assim como fez com relação ao congelamento da taxa cambial (Amaral Filho, 1986, pp.13-14). Verificou-se também, uma fuga de capital das cadernetas de poupança e de outros ativos fmaceiros causada pela desilusão monetária, o que levou a um crescimento significativo da demanda por consumo. 2.4 Contratos, Congelamento de Preços e Inflação Com relação aos contratos, estes seguiram exatamente a linha teórica de neutralidade distributiva de uma concepção inercialista de inflação, na medida em que foram convertidos por seus valores reais médios. Os contratos realizados antes da Reforma foram IS A OTN substituiu a ORTN que era corrigida mensalmente com base na variação do índice oficial de inflação. 51 tratados de acordo com o fato de serem ou não indexados. Os contratos com correção monetária pré-fixada ou sem correção monetária foram convertidos de acordo com uma tabela de conversão Cruzeiro/Cruzado com desvalorização diária do Cruzeiro.'` Os pós- fixados foram corrigidos pela ORTN diária entre a data de celebração do contrato e o dia da Reforma, para então serem convertidos. Os impostos foram convertidos automaticamente pela razão Cr$ 1.000,00/Cz$ 1,00, que de acordo com Bier, Paulani e Messenberg (1987,p.114) provocou um aumento real na arrecadação fiscal do Governo. Os salários, que serão analisados com maior profundidade no próximo capítulo, foram convertidos por seus valores reais médios dos últimos seis meses, mais abono de 8% aos salários em geral e 15% ao salário mínimo. Para os contratos salariais foi adotado o sistema de escala móvel como forma de indexação, fugindo das propostas desindexadoras anteriores ao Plano Cruzado.20 Os aluguéis seguiram a regra geral de conversão dos contratos, na medida em que foram convertidos pelos seus valores médios reais. Com relação aos preços, o congelamento destes demonstrou o fato do Plano Cruzado não ter contemplado a totalidade do arcabouço teórico da Proposta Larida. De acordo com Bier, Paulani e Messenberg (1987, p.119) esta medida além de possuir uma natureza política, na medida em que proporcionou grande apoio popular ao pacote, teve uma natureza econômica, vista como " a única f brma de viabilizar desindexação da economia." 19 Cerca de 0,45% ao dia (Bier, Paulini e Messenberg, 1987, p.114). 20 Na próxima parte desde trabalho iremos ver porque o tratamento dado aos salários fugiu do arcabouço teórico que fundamentou o Programa. 52 O congelamento de preços e, secundariamente, a redução na rentabilidade das cadernetas de poupança e de outras aplicações financeiras proporcionaram uma grande expansão do consumo, impondo importantes mudanças na condução do Programa. Paul Singer (1987, p.111) enfatizou a questão da distribuição de renda do setor monopolista - geralmente produtor de artigos padronizados e de fácil controle de preços - para o setor competitivo - caracterizado pela produção de bens não-padronizados - cujos preços permaneceram, na realidade, liberados. Com seus preços defasados, o setor monopolista foi induzido a não aumentar sua oferta, estrangulando o crescimento do setor competitivo e gerando, dessa forma, tensões entre o nível de oferta necessário e a demanda desejada.21 A retenção de estoques especulativos devido ao congelamento de preços, trouxe consigo algumas consequências que prejudicaram o andamento do Programa, influenciando inclusive negativamente, a opinião pública onde, de acordo com Paul Singer (1987, p.99), o percentual de pessoas que achavam ter melhorado seu nível de vida devido à Operação Cruzado caiu de 80% em 25.03.1986 para 44% em 26.08.1986. Essas consequências foram verificadas, principalmente, pela fixação de preços muito acima do nível congelado ou tabelado devido ao dificil controle de preços no mercado competitivo. Outra consequência foi verificada através da frequente cobrança de ágios (mercado negro) e o que é pior, com o consentimento de grande parte dos consumidores que preferiam pagar mais caro a não adquirir o artigo. 21 Neste sentido, Paul Singer (1987, p.112-114) sugeriu o estabelecimento dos preços administrados através de negociações entre participantes de uma mesma cadeia produtiva com uma real demonstração de seus custos. No que se refere aos preços de mercado, o autor sugeriu um maior estímulo por parte do Governo para expandir a oferta de bens no setor competitivo, onde seria impossível controlar preços. Os fatos ressaltados acima revelam que a real taxa de inflação era maior que a oficial, levando, de acordo com Paul Singer (1987, p.99-102), à uma partição da inflação em três. Uma delas foi a "reprimida ", representada por custos subjetivos impossíveis de serem quantificados e contabilizados. Um grande exemplo desses custos eram as horas perdidas em filas a procura de artigos em falta. Uma outra forma de manifestação da inflação foi classificada como "oculta ", não podendo ser medida e representada pela cobrança clandestina de ágios que, de início, era denunciada aos órgãos competentes como a SUNAB e, primordialmente devido à sua inoperância e à falta de produtos, os ágios começaram a ser respaldados pelos compradores em geral. O último tipo de inflação classificada por Singer era registrada pelos Índices do Custo de Vida que, de acordo com os preceitos do plano deveria ser igual a zero, mas devido aos produtos que não puderam ser tabelados ou congelados, como os artigos não padronizados e os de segunda mão, por exemplo, verificou-se um crescente aumento da taxa oficial de inflação. Ainda. segundo Singer, uma importante observação sobre a referida partição da inflação era o fato dos trabalhadores não puderem incluir em suas reivindicações os efeitos das inflações oculta e reprimida que tendem a proliferar-se à medida que aumentam os artigos em falta. Com o recrudescimento do consumo e a possível proliferação das inflações oculta e reprimida, assim como a elevação do índice oficial de inflação, o Governo anunciou em 24 54 de julho um "tímido pacote fiscal" (Modiano, 1990, p.362), criando os empréstimos compulsórios na aquisição de carros e gasolina para serem restituídos após três anos, e em impostos sobre passagens internacionais e compra de dólares para viagem não-restituíveis, envolvendo parte da sociedade responsável por parcela considerável formadora da opinião pública. Com o pacote o Governo reequilibraria os mercados dos automóveis, combustíveis, passagens ao exterior e dólares para viagem, assim como deveria arrecadar receita para financiar o "Plano de Metas" (Modiano, 1990, p.363) criado com o objetivo de obter um crescimento do PIB de 7% ao ano. Segundo Singer (1987,. p.95-98) o Pacote estava ̀ furado'. Primeiro, porque houve vazamento de informações antes do anúncio das medidas. Depois, pelo fato do Governo ter expurgado do IPC (índice de Preços ao Consumidor) os aumentos de preços dos referidos artigos sujeitos aos empréstimos compulsórios, com o objetivo de não repassá-los aos valores indexados, como aos salários, OTNs e cadernetas de poupança aumentando o componente oculto da inflação. E por último, devido à não justificativa do repasse do aumento dos combustíveis para tarifas de taxi, já que, segundo o Governo, os empréstimosnão deveriam ser caracterizados como impostos. De agosto de 1986 até o dia das eleições - quinze de novembro - a política econômica permaneceu praticamente paralisada. Talvez a única medida relevante neste periodo tenha sido a promoção de uma modesta desvalorização do Cruzado devido à queda nas receitas das exportações ocorrida em Outubro/86. ; I 55 Numa tentativa de aumentar a arrecadação do Governo anuncia-se, após a vitória maciça do PMDB nas eleições, o segundo pacote fiscal do Plano Cruzado: o Cruzado II. Objetiva-se aumentar a arrecadação em 4% do PIB (Modiano, 1990, p.364) através do reajuste dos impostos indiretos sobre cigarros, bebidas e automóveis e do aumento de alguns preços públicos, como: gasolina, telefone, energia e tarifas postais, proporcionando o recrudescimento da inflação reprimida até então. Nessa ocasião também foi regulamentada a escala móvel para os salários que seriam reajustados cada vez que a inflação atingisse o patamar de 20%, tornando a economia mais indexada do que antes do Plano Cruzado. Com a ameaça de uma explosão inflacionária o Governo inicia uma tentativa de um primeiro pacto social que fracassou, pois, apesar do crescimento do consumo, dos salários e do emprego, a insatisfação popular continuava se manifestando devido à falta de produtos no mercado, à fixação de vários preços acima do nível congelado ou tabelado e à frequente cobrança de ágio. Nesse período houve uma redução das exportações devido ao aquecimento do mercado interno e um significativo aumento das importações que foram frequentemente utilizadas para completar a oferta de produtos. Outro fato que proporcionou um adiamento das exportações e antecipação das importações era a expectativa de maiores desvalorizações do Cruzado. De acordo com Modiano (1990, p.363-365), o fracasso do Plano Cruzado pôde ser confirmado pela falta de apoio popular, pelos saldos negativos da balança comercial verificado entre Outubro/86 e Janeiro/87 apesar das minidesvalorizações diárias do Cruzado 56 e finalmente quando, em Abril/87, a taxa de inflação ultrapassava o patamar de 20% a.m. e o ministro Funaro deixava o cargo. 2.5 Considerações Finais De acordo com Singer (1987, p.109), no que se refere à inflação pode-se afirmar que o Plano Cruzado teve um "relativo êxito" na medida em que conseguiu reduzir uma inflação de 400% a.a. para cerca de 40% .a.a. Contudo, a cobrança generalizada de ágios, o aumento de muitos preços difíceis de serem tabelados ou congelados e a decretação do Cruzado 1I, provocaram o recrudescimento das taxas de inflação. Com relação a redistribuição de renda verificada pelo crescimento do produto que acarretou aumentos nos níveis de emprego e salário, Singer (1987, p.133) não atribui ao Plano Cruzado tal redistribuição, mas ao próprio: crescimento da economia que já vinha sendo confirmada desde 1984. Porém, deve-se ressaltar que esse efeito redistribuidor estimulou o surgimento de pontos de estrangulamento na medida em que transferiu renda do setor monopolista para o setor competitivo. No que se refere a Balança Comercial, esta passou de uma situação superavitária verificada desde 1983 para uma tendência deficitária com a significativa redução das reservas cambiais devido ao crescimento da demanda interna, apesar das minidesvalorizações diárias do Cruzado. Além dos aspectos analisados acima, Singer (1987, p.135) atribui o fracasso do Plano também a forma como o Governo o conduziu, centralizando todas as decisões e ao 57 mesmo tempo tornando-se preso à determinadas, como o congelamento de preços que amarrou suas mãos na medida em que não podia desfazê-lo correndo o risco de perder a necessária legitimidade política. O fracasso macroeconômico também pôde ser verificado através do descompasso entre oferta e demanda. No capítulo seguinte abordaremos as principais questões relacionadas a Política Salarial adotada pelo Plano Cruzado, desde seus precedentes até seus desdobramentos. 58 CAPÍTULO 3 - A POLÍTICA SALARIAL DO PLANO CRUZADO 3.1. Introdução Utilizando os conceitos expostos no Capítulo 1 deste trabalho e as considerações feitas acerca do piano Cruzado no capítulo anterior, pretendemos fazer uma análise da política salarial adotada pelo referido Programa de Estabilização em seus principais aspectos. Iremos iniciar com um breve comentário sobre as formas de indexação utilizadas até a data da implementação do Programa, sendo o dia 28 de fevereiro de 1986 caracterizado como um ponto de inflexão na condução da Política Salarial. Logo após, levantaremos algumas questões sobre a base teórica de tal politica, incluindo inclusive, a questão do conflito distributivo caracterizado por Arida, ressaltado no primeiro capíiulo, como sendo condicionador do processo de aceleração inflacionária. Finalmente, chegaremos ao nosso objeto de estudo ressaltando as principais criticas conduzidas à. política salarial do Plano Cruzado, realizando algumas simulações e abordagens pertinentes a conclusão da pesquisa. Como foi exposto anteriormente, a primeira experiência formal de indexação salarial ocorreu em 1964 com o PAEG, sendo os salários reajustados anualmente com base na estimativa da inflação futura. A partir de 1974, a inflação passada passou a ser a referência para os reajustes salariais e o salário real médio passou a ser baseado nos últimos doze meses ao invés dos últimos vinte e quatro meses. Em novembro de 1979, a Lei N°. 59 6.708, de 30 de outubro do mesmo ano (Paiva, 1987, p.117), modificou a periodicidade dos reajustes salariais de anual para semestral. Desde essa data até fevereiro de 1986 ocorreram várias mo 1ificações22 no sistema de indexação utilizado - sistema de recomposição do pico do salário real com periodicidade fixa - sem que os mecanismos básicos instituídos em 1979 fossem alterados. A referida lei tinha como caracteristicas básicas ( i ) o reajuste anual dos salários baseados nos acordos coletivos, (ii )a correção semestral automática através do INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor - e após 1985 através do IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Ampliado - e, (iii) a proibição do repasse dos reajustes salariais aos preços, fiscalizados pelo Conselho Interministerial de Preços (CIP) (Paiva, 1987, p.117). Como vimos no capítulo anterior , a partir de 1984 o Brasil entra numa fase de crescimento que, associada ao fato da consolidação do movimento democrático verificado com transição à Nova República, permitiu aos setores mais organizados da classe trabalhadora adquirirem maior poder de barganha com relação às suas reivindicações. Assim, a forma de reajuste salarial baseada na inflação passada gerou manifestações no sentido de institucionalizar a trimestralidade dos reajustes automáticos. Porém, essa medida era amplamente evitada pelo Governo que temia o recrudescimento das taxas de inflação através da liberdade de fixação de preços por parte dos setores oligopolistas, e o aumento do déficit público via elevação dos gastos com pessoal (Ministério do Trabalho, Secretaria de Emprego e Salário, Relatório de Pesquisa-02/86,p.7). 22 "Os reajustes eram diferenciados por faixa salarial. Tanto as faixas salariais quanto os percentuais de reajuste foram alterados ao longo da vigência da lei" ( Paiva, 1987, p.117). 60 Alternativamente à trimestraljdade começou a ser sugerida a adoção da escala móvel, baseando-se no fato do processo inflacionário ser um mecanismo de distribuição de renda23 e, como o gatilho preserva o salário real do processo de aceleração inflacionária, os aumentos de preços perderiam sentido. Nesse sentido, Arida argumentou, que a periodicidade endógena oferece um espaço maior de manobra aos formuladores de política econômica através da utilização do gatilho salarial. O diagnóstico de inflação inercial sobre o qual se baseou o Plano Cruzado era totalmente
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