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1995-tcc-dvaraAjo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, 
ATUÁRIA E CONTABILIDADE. 
POLÍTICA SALARIAL : UMA ANÁLISE NO PLANO CRUZADO 
UMA RESENHA TEÓRICA 
AUTORA: Daniele Viana de Araújo 
PROFA ORIENTADORA: Jacqueline Franco Cavalcante 
FORTALEZA/CE 
1995.1 
POLÍTICA SALARIAL : UMA ANÁLISE NO PLANO CRUZADO 
UMA RESENHA TEÓRICA 
Monografia submetida a coordenação do Curso de Graduação em Economia, 
como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências 
Econômicas. 
Daniele Viana Araújo 
Bacharelanda 
Monografia aprovada em 30 de Junho de 1995. 
ofa. Jacquel' e Franco Cavalcante 
Orientadora 
 
PrAlfred Jose Pessoa de Oliveira a 
Prof. A suero /Ferreira 
 
A minha mãe Núbia, ao meu irmão 
Candéa e ao Americo. 
7 7: 
4 
AGRADECIMENTOS 
Várias foram as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuiram para execução 
deste trabalho. Assim, gostaria de expressar aqui os meus sinceros agradecimentos a estes 
especiais colaboradores. 
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus, que sempre esteve do meu lado me 
dando força, entusiasmo e persistência, me ajudando a enfrentar todas as dificuldades 
encontradas durante a realização do trabalho. 
Em especial à Professora Orientadora Jacqueline Franco, pela paciência, atenção e 
competência demonstrados através da orientação dedicada a este trabalho e durante as duas 
disciplinas - Técnicas de Pesquisa e Programação Política Econômica - em que tive o prazer 
de ser sua aluna e a partir daí sua orientanda. 
Sou sinceramente grata ao professor Alfredo Pessoa, que tive a oportunidade de 
conhecer durante duas disciplinas - Macroeconomia II e Macroeconomia III - por ele 
lecionadas, demonstrando serenidade, competência e dedicação, assim como o fez durante 
sua participação na banca examinadora deste tabalho. 
Gostaria de manifestar meus sinceros agradecimentos e a honra que senti em ter uma 
pessoa da competência do Professor Assuero Ferreira como integrante da banca 
examinadora deste trabalho. À este professor que, direta e indiretamente, me ajudou na 
execução deste trabalho através de suas abordagens e conselhos. 
Aos meus colegas que me acompanharam durante os cinco anos de faculdade e hoje 
estão expressivamente presentes em minha vida, Gisella, Flávia e Tácito, pelo 
companheirismo, carinho e atenção por eles demonstrados durante todos estes anos de 
verdadeira amizade. 
A todos os meus familiares, especialmente àqueles que estiveram mais próximos de 
mim durante essa fase de realização do trabalho. 
E finalmente um agradecimento especial a todos os servidores da FEAAC que deram 
sua contribuição durante todo o período de faculdade. 
INTRODUÇÃO 	 9 
CAPÍTULO 1- CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ACERCA 
DA INDEXAÇÃO SALARIAL 
1.1 Introdução 	 11 
1.2 Os Sistemas de Indexação Salarial 	 15 
1.2.1 0 Sistema de Recomposição do Pico do Salário Real com 
Periodicidade Fixa 	 18 
1.2.2 0 Sistema de Recomposição do Pico do Salário Real com 
Periodicidade Endógena 	 20 
1.2.3 0 Sistema de Redução do Pico do Salário Real com 
Periodicidade Fixa 	 21 
1.2.4 0 Sistema de Indexação Salarial com Repasses 
Graduais da Taxa de inflação 	 22 
1.3 A Indexação Salarial e seus Aspectos Macroeconômicos 	 24 
1.3.1 0 Modelo Estruturalista Latino Americano 	 27 
1.3.2 0 Modelo de Arida 	 30 
1.4 Considerações Finais 	 39 
CAPÍTULO 2 - ASPECTOS GERAIS DO PLANO CRUZADO 
2.1 Introdução 	 42 
2.2 Precedentes 	 45 
2.3 Sistema Financeiro 	 49 
2.4 Contratos, Congelamento de Preços e Inflação 	 50 
2.5 Considerações Finais 	 56 
-1 
CAPÍTULO 3 - A POLUTICA SALARIAL DO PLANO CRUZADO 
3.1 Introdução 58 
3.2 Acerca da Escala Móvel 	 62 
3.3 Sobre o Cálculo da Média do Salário Real 	 71 
3.4 Considerações Finais 	 75 
CONCLUSÃO 	 78 
BIBLIOGRAFIA 	 82 
~r( 
-at 
~R 
.i~ 
~ 
GRÁFICOS 
GRÁFICO 1 -Dinâmica dos Salários Reais - Pico/Média 	 17 
GRÁFICO 2 - Recomposição do Pico do Salário Real coin Periodicidade Fixa 	 19 
GRÁFICO 3 - O Comportamento do Salário Real sob o Sistema de Recomposição 
do Pico do Salário Real com Periodicidade Endógena 	 20 
GRÁFICO 4 - O Comportamento do Salário Real sob o Sistema de Redução do 
Pico com Periodicidade Fixa 	 22 
GRÁFICO 5 - Sistema de Indexação Salarial com Repasses Graduais da 
Taxa de Inflação 	 23 
GRÁFICO 6 - Os Efeitos sobre os Níveis de Preço e Produto de uma 
Política Monetária sob um Sistema de Recomposição do 
Pico com Periodicidade Fixa 	 33 
GRÁFICO 7 - Os Efeitos sobre os Níveis de Preço e Produto de uma 
Alteração na Frequência dos Reajustes e do Conflito Distributivo 
sob um Sistema de Recomposição do Pico com Periodicidade Fixa 	34 
GRÁFICO 8 - O Equilíbrio Macroeconômico de Curto Prazo sob um Sistema 
de Recomposição do Pico com Periodicidade Endógena 	 36 
GRÁFICO 9 Os Efeitos de uma Política Monetária Restritiva sobre a 
Periodicidade e os Níveis de Produto e Inflação no Sistema de 
Recomposição do Pico com Periodicidade Endógena 	 37 
-4 
GRÁFICO 10 - Os Efeitos da Redução do Gatilho sobre a Periodicidade e os 
Níveis de Produto e Inflação no Sistema de Recomposição do 
Pico com Periodicidade Endógena 	 38 
GRÁFICO 11 	 63 
GRÁFICO 12 	 65 
TABELAS 
Tabela 1 	 69 
Tabela 2 	 70 
Tabela 3 	 71 
Tabela 4 	 72 
Tabela 5 	 74 
9 
INTRODUÇÃO 
A presente pesquisa tem como objetivo fundamental fazer uma análise da Política 
Salarial adotada pelo Plano Cruzado em seus principais aspectos, desde seus precedentes até 
seus desdobramentos. 
Contudo, alguns objetivos mais específicos serão alcançados no decorrer do 
trabalho, tais como: uma análise da relação entre inflação, conflito distributivo e salários; 
uma descrição dos contextos histórico, social e econômico que propiciaram a 
implementação do referido Programa de Estabilização; uma melhor compreensão das formas 
de indexação salarial, dando ênfase ao Sistema de Recomposição do Pico do Salario Real 
com Periodicidade Endógena; uma análise do arcabouço teórico que norteou a edição do 
Plano Cruzado. 
O trabalho será dividido em três capítulos. Iniciaremos o primeiro capítulo expondo 
o contexto em que se deram as primeiras experiências com indexação salarial. Logo após, 
iremos descrever os sistemas de indexação salarial, ressaltando que a escolha de um 
determinado sistema conìô parte de um programa de estabilização dependerá do objetivo 
que se pretende alcançar e dos custos de implementação. Em seguida, analisaremos dois 
modelos macroeconômicos que relacionam inflação com conflito distributivo e inflação com 
indexação salarial. Concluiremos o capítulo, expondo as sugestões feitas por Nakano e 
Bresser Pereira (1984, p.76-101) para uma política administrativa de controle da inflação. 
No segundo capitulo; faremos algumas considerações acerca dos aspectos gerais do 
Plano Cruzado. Iniciahnente, analisaremos a base teórica do Programa através de algumas 
fl0 
explicações sobre o diagnóstico de inflação inercial. Com relação aos precedentes, 
enfatizaremos o periodo representado pela transição à Nova República, ressaltando fatores 
que propiciaram a implementação do plano. Logo após, verificaremos as principais medidas 
tomadas com relação ao sistema fmanceiro e aos contratos e seus desdobramentos. 
Finalmente, tocaremos na questão do congelamento de preços e da inflação, assim como as 
considerações fmais pertinentes a conclusão do capítulo. 
Finalmente, no capítulo 3 desta pesquisa analisaremos a Política Salarial adotada 
pelo Plano Cruzado utilizando, para este fim, os conceitos estudados no capítulo 1 e as 
considerações gerais realizadas no segundo capítulo. Abordaremos a base teórica que 
propiciou a edição do Decreto-Lei n° 2.283, seus precedentes e as principais criticas 
conduzidas a tal política. Além de verificarmos até que ponto as referidas medidas se 
caracterizaram em uma forma de arrocho salarial ou não. 
11 
CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕESTEÓRICAS ACERCA DA 
INDEXAÇÃO SALARIAL 
1.1 Introdução 
A indexação surge como um mecanismo de recomposição dos rendimentos ou 
valores reais dos agentes econômicos, rebaixados pelo processo inflacionário, na tentativa 
de mantê-los assegurados. 
Baseando-se no diagnóstico de inflação inercial, atribui-se à indexação, 
"mecanismo de política econômica pelo qual as obrigações monetárias têm seus valores em 
dinheiro corrigidos com base em indices oficiais do governo" (Dicionário de Economia. 
1985, p.205), o principal fator mantenedor das taxas de inflação, caracterizada pela 
"capacidade que os agentes econômicos têm de repassar aumentos de custos para os preços 
independentemente de existência de pressão de demanda" (Nakano e Bresser Pereira, 1984, 
p.92). 
Como nosso objetivo é analisar a política salarial adotada pelo Plano Cruzado, 
iremos nos concentrar neste capítulo nos principais aspectos da indexação salarial. 
Iniciaremos pela abordagem dos contextos em que se deram as primeiras experiências com 
indexação salarial, dando ênfase a primeira experiência formal brasileira e logo após 
exporemos a caracterização dos sistemas de indexação e os principais modelos 
macroeconômicos pertinentes ao desenvolvimento da pesquisa. 
12 
A seguir, exporemos as primeiras experiências com indexação salarial em 
alguns países específicos que surgiram com a I Guerra Mundial e na primeira metade da 
década de 20, com o objetivo de proteger os salários reais da inflação e facilitar as 
negociações coletivas, em um contexto caracterizado pela inflação resultante do tempo de 
guerra e pelo significativo aumento do número de trabalhadores sindicalizados'. 
A Alemanha, por exemplo, pode ser considerada um dos primeiros países a 
adotar um sistema de indexação salarial durante as hiperinflações européias do início dos 
anos 20. Neste país, o Sistema de Escala Móvel já era conhecido antes da I Guerra 
Mundial, sendo os reajustes salariais baseados nos aumentos de preços dos artigos em geral. 
(Balbinotto Neto, p.29) 
Dentre os países com baixa inflação podemos citar a Austrália, cuja indexação 
salarial foi adotada pela primeira vez em 1913. A aceleração do processo inflacionário antes 
de 1913 e após a I Guerra Mundial provocou manifestações por parte dos trabalhadores por 
um mecanismo que protegesse seus salários da inflação. Entre 1913 e 1986 as principais 
mudanças no sistema eram referentes à frequência dos reajustes dos salários nominais, em 
1953 as cláusulas de indexação foram suspensas e readotadas a partir de 1974 devido à 
reivindicações sindicais (Balbinotto Neto, 1991, p.36). 
No Brasil, devido à aceleração do processo inflacionário desde o final da 
década de 50 e inicio da de 60, tomaram-se comuns os reajustes dos salários nominais 
baseados no pico do salário real e com base na inflação do período anterior. Porém, 
a primeira experiência formal de indexação salarial foi verificada em 1964 como parte do 
' Os setores industriais e os trabalhadores sindicalizados foram os primeiros a adotar as cláusulas de indexação 
salarial, visto que que eram os que tinham poder de barganha para reinvidicá-tas. 
2 Sistema de indexação baseado na recomposição do pico do salário real com periodicidade endógena. it 
13 
Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) (Balbinotto Neto, 1991, p. 62), visando 
reduzir a inflação e compatibilizar os reajustes salariais com as metas do programa de 
estabilização. 
De acordo com os formuladores do PAEG, os reajustes desordenados dos 
salários nominais e o efeito realimentador que eles tinham sobre a taxa de inflação eram as 
principais causas do processo de aceleração inflacionária daquele período. Assim, a lógica 
da política de indexação salarial, naquele momento, baseou-se nesse diagnóstico. Segundo 
Simonsen [1975, p.67 (apud Balbinotto Neto, 1991, p.63)]: 
" O programa reconhecia que numa inflação crônica os salários reais oscilam 
fortemente entre picos e vales, devido à conjugação de altas salariais descontinuas com 
altas contínuas de preços, e que a meta a ser estabelecida deveria ser a estabilização pela 
média (mais aumentos vegetativos de produtividade) e não pelos picos. Isso exige o 
abandono do critério tradicional de reajuste proporcionalmente ao aumento do custo de 
vida desde a última revisão - critério que implica simplesmente a recomposição do pico 
prévio do poder aquisitivo." 
O PAEG optou por uma estratégia gradualista de combate à inflação enquanto 
as taxas não atingissem um patamar considerável. Assim, a política de indexação salarial 
seria apenas um instrumento de coordenação dos reajustes salariais. 
A partir de 1966, a indexação salarial passa a ser utilizada como instrumento 
de política econômica, fazendo parte das medidas antiinflacionárias. Caso a taxa de inflação 
futura fosse subestimada, isso provocaria uma queda no salário real médio ou o inverso, 
14 
caso a inflação futura fosse sobrestimada. Esse era o principal problema apresentado pelo 
sistema de indexação utilizado pelo PAEG.3 
Após 1968 houve uma primeira modificação no sistema de indexação salarial 
em 1968, corrigindo a fórmula dos reajustes salariais. Foi introduzido um coeficiente de 
correção do resíduo inflacionário evitando que a subestimação da inflação futura reduzisse o 
salário real médio. A segunda mudança ocorreu em novembro de 1974, onde o salário real 
médio passaria a ser o dos últimos doze meses, ao invés dos últimos vinte e quatro meses. 
Em 1979, novas mudanças ocorreram na política de indexação salarial, tais 
como: "o princípio de reajuste dos salários nominais passou a ser o da recomposição do 
pico prévio, ao invés da manutenção da média; os reajustes seriam baseados na taxa de 
inflação do período anterior, no caso os últimos seis meses; a frequência dos reajustes 
passou a ser semestral; a taxa de crescimento da produtividade da mão-de-obra passou a 
ser negociada entre as partes interessadas; a taxa de recomposição do pico prévio passou a 
ser diferenciada, variando entre 110% e 80%, conforme o nível de salário do trabalhador; 
e, por fim, adotou-se um novo índice de reajuste, o Índice Nacional de Preços ao 
Consumidor (1NPC), calculado através de uma média ponderada dos índices de custo de 
vida das 10 maiores regiões metropolitanas do pais." (Balbinotto Neto, 1991, p.66). 
Depois de 1979, várias modificações ocorreram e estão ocorrendo nos 
sistemas de indexação salarial brasileiros, que tendem a mudar, pois mudam também o 
contexto, os objetivos e os custos de implementação destes, bem como o poder de barganha 
das partes envolvidas. 
3 A Circular 10/64 e o Decreto Lei N° 54.018, de julho de 1964, estabeleceram que os reajustes não poderiam se 
realizar com um intervalo menor de que 12 meses. Seria, ainda acrescentado um percentual de aumento de 
,.; 	 produtividade e outro que refletisse a inflação futura. 
15 
Nas economias inflacionárias, como o Brasil, o sistema de indexação 
representa uma forma de minimização dos custos no conflito da relação capital-trabalho. 
Segundo Kandir (1989, p.72): 
" Em suma, segundo a análise neo-estruturalista, a economia capitalista está 
marcada por um conflito permanente, que tende a levá-la a oscilações recorrentes, 
associadas a acelerações inflacionárias. Para minimizar os custos inerentes a tais 
processos, os capitalistas procuram celebrar contratos capczes de propiciar maior 
estabilidade às relações capital-trabalho ". 
Na próxima seção iremos conhecer a caracterização dos sistemas de indexação 
salarial, os principais aspectos e parâmetros que os diferenciam, bem como sua utilização. 
1.2 Sistemas de indexação salarial 
A importância da análise dos sistemas de indexação salarial surge com a 
tentativa de se estabelecer políticas de estabilização e de rendas na economia, bem como 
quando ocorrem negociações coletivas entre empresas e sindicatos sobre o nível salarial. 
Existem, segundo BalbinottoNeto (1991, pp.76-78), três aspectos que devem 
ser considerados na caracterização dos sistemas: a periodicidade dos reajustes salariais, o 
grau de recomposição do salário real e o grau de proteção do salário real médio. 
Quanto a periodicidade dos reajustes podem ser fixos ou móveis. No primeiro 
caso, o período de tempo de reajuste é fixado, independente da taxa de inflação. No caso de 
16 
serem móveis, a periodicidade é determinada de acordo com o patamar da taxa de inflação 
acumulada (Balbinotto Neto, 1991, p.77). 
Segundo Balbinotto Neto (1991, p.77-78), no que se refere ao grau de 
recomposição do salário real, o salário nominal pode ser reajustado plena ou parcialmente. 
Parcialmente se a taxa de reajuste for menor que a taxa de inflação do período anterior. 
Além disso, a recomposição pode ser abrupta (quando a inflação é repassada totalmente 
entre um período e outro) ou gradual (quando os reajustes são distribuídos ao longo de um 
determinado periodo). Com relação ao grau de proteção do salário real médio, este 
dependerá do sistema de indexação e do comportamento da taxa de inflação. 
Lopes (1986, pp.86-87) enfatiza, ainda, uma divisão dos sistemas de 
indexação entre passivos e ativos. De natureza passiva, quando o reajuste é condicionado à 
inflação passada, apenas realimentando a taxa de inflação, sem alterar a sua trajetória. De 
natureza ativa, quando influencia a taxa de inflação como meta de política antiinflacionária, 
devendo ter como objetivo reduzir o pico do salário real. 
As cláusulas de um contrato de trabalho indexado estabelecem a 
periodicidade., a taxa e a forma de reajuste com base num determinado índice de preços. 
De acordo com o Gráfico 1, abaixo, esclarecemos alguns conceitos e hipóteses 
necessários à caracterização dos sistemas de indexação salarial. 
17 
Gráfico 1 A 
DINAMICA DOS SALÁRIOS REAIS - PICO/MEDIA 
Salário Real 
Pico 
Reajuste Reajuste Reajuste Reajuste 
Extraído de: Modiano, 1992, p.349. 
De acordo com Modiano (1992,p.349), dentro de um processo inflacionário 
crônico, como demonstra o Gráfico 1, a dinâmica dos salários reais, cujos valores nominais 
são corrigidos pela inflação passada em intervalos fixos de tempo, onde o pico do salário 
real é obtido no momento em que o salário nominal é reajustado e o valor mínimo (vale) no 
final da data base. Enquanto o salário nominal' é mantido constante, o salário real' decresce 
de acordo com a taxa de inflação (medida pela inclinação da "rampa" no gráfico) e dadas as 
constantes oscilações do salário real. 
Analisaremos a seguir, de acordo com os pressupostos acima, as alternativas 
quanto a forma de indexação salarial dentro de um processo inflacionário crônico. 
4 Número de unidr:des monetárias que um assalariado recebe por unidade de tempo. 
5 Expressa o poder de compra efetivo por unidade de tempo. 
13 
1.2,10 sistema de recomposição do pico do salário real com periodicidade fixa. 
Segundo Balbinotto Neto (1991, pp.78-80), neste sistema o salário nominal é 
reajustado com base na inflação do periodo anterior, recompondo o pico do salário real. 
Sendo esta recomposição feita de forma abrupta e com periodicidade fixa. 
Aqui o nível do salário real médio é condicionado ao comportamento da taxa 
de inflação e à frequência dos reajustes salariais. No caso de uma aceleração inflacionária, o 
salário real médio será indexado imperfeitamente. 
Já com relação a frequência dos reajustes, o salário real médio manterá uma 
relação direta, ou seja, quanto mais frequentes os reajustes maior deverá ser o patamar do 
salário real médio. 
De acordo com Cândido Júnior (1992, p.77): "No caso de uma mesma taxa de 
inflação, os reajustes mais frequentes ocasionarão uma redução nas margens de lucro 
acirrando o conflito distributivo. Deste modo, a única maneira de compatibilizar uma 
elevação na frequência dos reajustes, sem reduzir as margens de lucro, será através da 
aceleração da taxa de inflação. Nesta situação o salário real médio também será mantido 
constante': 
No que diz respeito ao seu papel numa política de estabilização, este sistema 
possui um caráter passivo e é capaz de absorver choques inflacionários sem redução no 
nível do produto da economia, ou seja: 
P • taxa de inflação 
P1=P2<P3=P4 
TOT1 = T1 T2 > T2T3 = T3T4 
Log —wt 
pt 
P1 
Havel de Pico 
Salário Real Médio 
19 
" Neste regime de indexação salarial, a economia absorve choques reais 
através de acelerações inflacionária, sem perturbações no nível de atividades". Lopes 
(1986, p.92). 
Assim, este sistema além de ter um papel passivo numa política de 
estabilização, protege imperfeitamente o salário real médio, reduz o grau de liberdade dos 
formuladores de política econômica, devido à sua periodicidade fixa e gera incerteza quanto 
ao valor real do recebimento e pagamento dos reajustes, por não se conhecer a taxa de 
inflação antecipadamente, (Balbinotto Neto, 1991, pp.78-79). 
O Gráfico 2 abaixo pode ilustrar o que vem sendo dito. 
Gráfico 2 
RECOMPOSIÇÃO DO PICO DO SALÁRIO REAL COM 
PERIODICIDADE FIXA 
T3 	T4 Tempo (período 
de reajuste) 
Extraído de: Cândido Júnior, 1992, p.78 
Para se manter constante o nível do salário real médio, teriam que ser 
compatibilizadas maiores taxas de inflação com reduções na periodicidade dos reajustes, ou 
o inverso. 
T1 
	
12 
P - Inflaçáo 
P2 < P3 
T1T2 > T2T3 
Salário Real 
Médio Constante 
20 
1.2.2 0 sistema de recomposição do pico do salário real com periodicidade endógena. 
Neste sistema os salários nominais são reajustados quando a taxa de inflação 
acumulada atinge um determinado patamar. O reajuste é abrupto e o objetivo principal é 
indexar perfeitamente o salário real médio, mantendo-o constante ao longo do tempo. 
O Gráfico 3 abaixo ilustra claramente o funcionamento do sistema: 
Gráfico 3 
O COMPORTAMENTO DO SALÁRIO REAL SOB O SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO 
DO PICO DO SALÁRIO REAL COM PERIODICIDADE ENDÓGENA 
Tempo (período 
de reajuste) 
Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.80. 
O salário real médio é mantido constante compatibilizando aumento da 
inflação com redução na periodicidade dos reajustes. 
Balbinotto Neto (1991, p.81) afirma, que este sistema possui caráter passivo 
numa política de estabilização na medida que reproduz a taxa de inflação do período 
precendente; por outro lado, gera incerteza por não permitir aos agentes (empresários e 
trabalhadores) saber quando se dará o próximo reajuste, resultante do fato de não se saber 
qual o patamar inflacionário dos próximos períodos. 
pè 
TO 	T1 	T2 T3 
21 
Uma das criticas a este sistema segue-se no sentido de que a inflação pode 
atingir patamares muito elevados e a taxa que dispara o gatilho ser baixa, ocorrendo assim 
um encurtamento dos reajustes salariais, o que implicaria numa aceleração inflacionária 
ainda maior. 
Este tipo de indexação foi bastante utilizada nas hiperinflações européias e no 
Brasil foi adotada como parte das medidas do Plano Cruzado. 
1.2.3 0 sistema de redução do pico do salário real com periodicidade fixa. 
Balbinoto Neto (1991, p.81) afirma que a principal caracteristica desse sistema 
é que os reajustes dos salários nominais só recompõem parcialmente o pico do salário real 
como forma de política antiinflacionária. É nesse sentido que o Sistema de Redução do Pico 
do Salário Real com Periodicidade Fixa possui um caráter ativo ao influenciar a trajetória da 
taxa de inflação. Outra característica se refere ao fato dos reajustes ocorrerem com base na 
inflação do período anterior e de forma abrupta. 
Através do Gráfico 4 abaixo, podemos verificar algumas propriedades do 
sistema. Uma delas é que ele não protege o salário real médio das oscilações inflacionárias, 
mesmo quando a taxa de inflação se mantém estável poderá ocorrer uma queda no salário 
real médio (períodos TOT1 e T1T2). 
A adoção deste sistema é justificada teoricamente por ser possível a 
manutenção do salário realmédio com uma desaceleração da taxa de inflação, mesmo com 
redução no pico (T1T2 e T2T3) onde P2>P3. Porém, isto seria praticamente impossível, 
P - taxa de inflaçao 
P! >P2>P3 
V! <V2<V3 
V - nível do pico do 
salário real 
TOT1 = T1T2 = T2T3 
Log wt 
 
Va 
V1 
 
 
0 
 
22 
pois a inflação poderia acelerar-se por uma série de fatores que causariam uma redução do 
salário real médio. (Balbinotto Neto, 1991, pp.81-82) 
Gráfico 4 
O COMPORTAMENTO DO SALÁRIO REAL SOB O SISTEMA DE REDUÇÃO DO 
PICO COM PERIODICIDADE FIXA 
T2 	T3 Tempo (período de reajuste) 
Extraído de Balbinotto Neto, 1991, p.82 
1.2.4 0 sistema de indexação salarial com repasses graduais da taxa de inflação. 
Neste sistema os salários são reajustados através de repasses graduais da taxa 
acumulada de inflação do periodo anterior, sendo possível a aplicação de menores reajustes 
aos salários nominais ao longo do tempo distribuídos ao longo de um intervalo. 
De acordo com o Gráfico 5 abaixo, onde a taxa de inflação trimestral será 
repassada mensalmente, verificamos que, no caso da manutenção da taxa de inflação entre 
os trimestres, o salário real médio se manterá constante, equivalendo este sistema ao da 
recomposição do pico. Caso haja uma aceleração inflacionária no trimestre subsequente, 
haverá uma queda nos salários reais médios, já que os salários nominais estão sendo 
TO 
	
T1 
 
Nivet de Pico 
Salado real médio 
m/i3 m1~3 mis mINe 
 
Loa IA— 
pt 
23 
reajustados com base na taxa de inflação do trimestre anterior. E se houver uma 
desaceleração, a taxa dos reajustes salariais será superior à taxa de inflação corrente. 
Gráfico 5 
SISTEMA DE INDEXAÇÃO SALARIAL COM REPASSES GRADUAIS DA TAXA DE 
INFLAÇÃO 
r - repasse salarial 
r1=r2=r3=r4=r5= rS 
Pt - inflaç3o do semestre 
PO = P12, onde 
Pt = 100 [ (9+r)' -1 ] 
1° TRIMESTRE 
	
3°TRIMESTRE 
Extraído de: Cândido Júnior, 1992, p.82. 
Dentre outras caracteristicas deste sistema podemos citar sua periodicidade 
fixa e o fato dele não proteger o salário real médio das oscilações inflacionárias. Esta última 
característica introduz um certo grau de incerteza tanto para os empresários quanto para os 
trabalhadores, pois, em determinado momento a taxa de reajuste pode ser inferior à taxa de 
inflação e em outro superior, acirrando, desta forma, o conflito distributivo. 
As principais vantagens deste sistema destacadas por Ballbinotto Neto (1991, 
p.84) se referem ao maior grau de liberdade conferido aos formuladores de política 
econômica para determinarem a periodicidade base, bem como a frequência dos reajustes, 
além de poderem tentar reverter o impacto dos choques inflacionários sobre a economia que 
pode ser incorporado de forma gradual e não abruptamente. 
24 
Dentre outras vantagens podemos citar o fato dos trabalhadores poderem 
acompanhar com maior facilidade a evolução das taxas de inflação, reduzindo as possíveis 
perdas de poder aquisitivo. Este sistema também contribui para uma maior estabilidade das 
taxas de inflação na medida em que os reajustes não são transmitidos de forma abrupta. 
A escolha de um determinado sistema de indexação está diretamente 
relacionada com os objetivos que se pretende alcançar e com os custos de implementação de 
cada sistema, não existindo assim, o melhor, mas o mais adequado sistema de indexação 
salarial (Balbinotto Neto, 1991, p.85). 
Analisados os sistemas de indexação salarial estudaremos, a seguir, alguns 
aspectos macroeconômicos da indexação salarial, incluindo neste estudo alguns modelos de 
maior interesse para a continuidade do capítulo teórico que dará embasamento aos demais 
capítulos da pesquisa. 
1.3 A indexação salarial e seus aspectos macroeconômicos. 
Veremos aqui alguns autores apontados no estudo de Balbinotto Neto (1991) 
que deram início ao debate em torno das vantagens e desvantagens da utilização de cláusulas 
de indexação salarial. 
Segundo Marshal [ 1925, pp. 188-189 (apud Balbinotto Neto, 1991, p.90)], as 
cláusulas de indexação salarial atuariam como uma medida para atenuar os efeitos dos ciclos 
econômicos. 
25 
Fisher [ 1918,1934, (apud Balbinotto Neto, 1991, p.90)] também mostrou-se a 
favor da adoção das cláusulas dc Indexação salarial, argumentando que diminuiriam os 
conflitos sociais decorrentes da inflação reduzindo as defasagens nos reajustes salariais e 
diminuindo os riscos das partes contratantes decorrentes da inflação incerta. 
Keynes [ 1982, (apud Balbinotto Neto, 1991, p.90)] por sua vez, mostrou-se 
contrário à adoção generalizada das cláusulas de indexação salarial, segundo o qual a 
política keynesiana de aumento do emprego via manipulação da demanda agregada seria 
ineficaz. 
Devido às baixas taxas de inflação durante os anos 60, o debate teórico sobre 
os efeitos da indexação salarial ficou relegado a segundo plano, sendo retomado durante os 
anos 70, principalmente depois do choque do petróleo (1974) que elevou, 
consideravelmente, as taxas de inflação em todo o mundo. É nesse contexto que Friedman 
publica, em 1974, um artigo que revela a importância da adoção de cláusulas de indexação 
salarial em vários setores como forma de minimizar os efeitos adversos de uma politica de 
estabilização. Porém, Friedman preferia que não houvesse nem inflação e nem indexação, 
salientando que: 
"... a indexação é, quando muito, um substituto imperfeito para a estabilidade 
da taxa de inflação. Os índices de preços são imperfeitos, só estão disponíveis com um 
atraso, e geralmente se aplicam a termo de contratos com um atraso adicional. " [Friedman, 
1985, p. 400 ( apud Balbinotto neto, 1991, p.93)]. 
Para Friedman [ 1974 ( apud Balbinotto Neto, 1991, pp.93-94)] vários seriam 
os efeitos colaterais de uma política de estabilização e o principal deles seria uma redução 
26 
nos gastos totais que causaria uma redução no nível de produção e emprego e um aumento 
nos estoques das empresas, levando algum tempo para que essas reações reduzam o patamar 
inflacionário. Assim, uma política de estabilização que vise reduzir a taxa de inflação, trará 
consigo um considerável aumento no nível de desemprego que poderá persistir por um bom 
tempo, produzindo, portanto, distúrbios no nível de atividade econômica. 
De acordo com Friedmam a indexação salarial diminuiria os custos de uma 
política de estabilização em termos de taxa de crescimento do produto e do emprego, 
ampliando o campo de ação do governo no combate à inflação, já que as pressões políticas 
não seriam tão fortes. ( apud Balbinotto Neto, 1991, p.93) 
Uma das criticas feitas a Friedman com relação a indexação salarial foi contra 
sua afirmação de que as cláusulas de indexação não seriam nem inflacionárias nem 
detlacionárias. Pois, segundo Goldstein [ 1975, p.6.82, (apud Balbinotto Neto, p.99)] apesar 
da indexação não ser uma causa da inflação ela pode propagar e manter a espiral salário-
preços. 
Dessa maneira, Balbinotto Neto (1991, p.100) ressalta que o debate teórico em 
torno da adoção das cláusulas de indexação salarial gerou duas abordagens sobre os efeitos 
macroeconômicos da indexação em relação à estabilização econômica. Alguns economistas 
advogam a favor da adoção das cláusulas argumentando que elas ajudariam a atenuar as 
flutuações no nível do produto e da taxa de inflação. Outros economistas argumentam que a 
indexação salarial prejudicaria a eficácia das políticas de demanda agregada e de combate à 
inflação6 além de aumentar a instabilidade de economia frente à alguns choque de oferta. 
6 Dado que diminuiria a eficácia dos instrumentos tradicionais de combate à inflaçAo: políticas monetária e fiscal. 
~~. 
27 
Nas próximas seções analisaremos inicialmente o modelo estruturalista latino-
americano desenvolvido por Oliveira e Canavese no qual a indexação dos salários torna-se 
um mecanismo para a propagação de choques inflacionários dada mudanças nos preços 
relativos. Neste caso, a evidênciase dá ao caráter inercial da inflação e sua relação com as 
cláusulas de indexação salarial. Em seguida, apresentaremos o modelo de Pérsio Arida sobre 
os efeitos da indexação sobre variáveis como inflação, crescimento econômico e emprego. 
1.3.1 0 modelo estruturalista Latino Americano 
O modelo estruturalista latino americano, surgido na década de 50, enfatiza a 
relação entre alterações nos preços relativos e aumento do nível geral de preços devido aos 
problemas estruturais enfrentados em fase de industrialização. Sendo a indexação salarial 
um mecanismo de propagação da inflação. 
As altas taxas de inflação verificadas na América Latina nos anos 70 e 80, 
proporcionaram o surgimento do neo-estruturalismo, que propõe novos programas de 
estabilização voltados para o curto prazo. 
O modelo a seguir, esquematizado por Balbinotto Neto (1991, pp.130-134), 
baseou-se nos trabalhos de Oliveira(1967), Canavesse (1979, 1982), Barbosa (1983), 
Cardoso (1980), supõe que a economia esteja dividida em dois setores: wn agrícola, onde os 
preços são formados pelo jogo de mercado, e outro industrial, onde os preços são 
determinados pelo mark-up imposto aos custos variáveis. E a taxa de inflação é obtida por 
uma média ponderada das taxas de inflação dos dois setores. Assim: 
tc=ata+(1- a) ti 
tc = ti + a(ta - ti) 	(1') 
tc =- taxa de inflação corrente 
a = participação do setor agrícola no índice geral de preços 
ta = taxa de inflação dos preços agrícolas 
ti = taxa de inflação dos preços industriais 
A taxa de inflação dos preços industriais seria obtida da seguinte forma: 
ti = u x d(wt - qt) + (1 - u)nt 	(2) 
onde: 
u = participação dos salários nos custos unitários 
wt = taxa de crescimento dos salários 
qt = taxa de crescimento da produtividade da mão-de-obra 
nt = taxa de crescimento dos preços domésticos dos insumos importados 
Ou seja, a taxa de crescimento dos preços industriais é igual à uma média 
ponderada da taxa de crescimento dos salários, deduzida da taxa de crescimento da 
produtividade da mão-de-obra, adicionando-se a taxa de crescimento dos preços domésticos 
dos insumos importados. 
Já a taxa de crescimento dos preços domésticos dos insumos importados está 
diretamente relacionada com o aumento da taxa de câmbio, que é reajustada de acordo com 
a inflação corrente. 
28 
(1) 
29 
nt=et+rt 	 (3) 
onde: 
et = taxa de variação da taxa de câmbio = taxa de inflação corrente = te 
rt = taxa de crescimento dos preços dos insumos importados 
nt = tc + rt 	 (3') 
Substituindo (3') em (2) e a equação (1'), obteremos: 
tc = u(wt - qt) + (tc + rt) (1 - u) + a (ta - ti) 	(4) 
Supondo que a taxa de crescimento da produtividade da mão-de-obra seja zero 
(qt = 0), que não tenhamos aumentos nos preços dos insumos importados (rt = 0) e que os 
preços relativos estejam ajustados (ta = ti), teremos que: 
tc = u(wt) + (1 - u)tc 
tc - (1 - u)tc = u(wt) 
tc = wt 	 (4') 
Como, neste modelo, os salários são indexados com base na inflação do 
período anterior, obtemos a equação: 
tc=tc - 1 
onde: 
tc - 1 = taxa de inflação no período anterior 
A partir deste modelo, pode-se verificar como a indexação salarial tende a 
perpetuar a taxa de inflação passada no futuro, tornando-se, deste modo, inercial. Foi a 
partir deste diagnóstico que foram elaborados os planos heterodoxos de estabilização na 
Argentina (Plano Austral) e Brasil (Plano Cruzado). 
30 
A seguir analisaremos o modelo de Arida (1982) que propõe um estudo sobre 
os efeitos de um determinado sistema de indexação salarial sobre a taxa de inflação, o 
crescimento e o nível de emprego. Arida fixa sua análise no sistema de recomposição do 
pico coin periodicidade fixa e no sistema de recomposição do pico com periodicidade 
endógena. 
1.3.2 0 modelo de Arida 
Árida (1982, p.321) inicia sua análise descrevendo o processo inflacionário 
como sendo resultado do conflito distributivo entre trabalhadores e empresários, onde supõe 
que os trabalhadores desejam receber um salário real A que é superior ao salário real B, 
que os empresários desejam pagar, onde (A-B) é o "hiato de incompatibilidade ". (Balbinotto 
Neto, 1991, p.135). 
a) O modelo completo de Arida. 
Vejamos agora o modelo completo, onde Arida explicita os determinantes do 
hiato de incompatibilidade, os determinantes de A e de B. 
Segundo Arida (1982, p.321) os principais determinantes de A se encontram 
nos fatores sociais e institucionais, como: a existência de um pacto social, o grau de 
combatividade dos sindicatos, o caráter do regime político, o fato da economia ser ou não 
31 
indexada, etc. Também nos fatores econômicos, cujo principal determinante é a taxa de 
desemprego. Arida incorpora tais considerações através da formalização da equação abaixo: 
A=p' +y' [(y-1)-y] 	(1) 
onde se considera: 
p' > 0 = parâmetro que capta os fatores sociais e institucionais na 
determinação de A' ; 
y' = parâmetro que reflete o impacto do desemprego sobre a pretensão 
salarial; 
y = taxa normal de crescimento; 
y - 1 = taxa de crescimento do periodo anterior. 
No caso de B, seus principais determinantes são: o mark-up requerido pelas 
firmas, as taxas de crescimento da economia e o nível de produtividade do trabalho. 
Supondo-se, implicitamente, uma economia oligopolizada onde o trabalho é o único insumo. 
Assim: 
P=W(1/I)(l+m) 
onde, se considera: 
P = nível de preços; 
W= salário real; 
I = produtividade do trabalho; 
(1 + m) = R = mark-up. 
Obteremos: 
(2) 
7 Um fator que diminuiria p' seria a existência de um pacto social. 
32 
B=W/P=I/R 	 (3) 
Considerando as taxas de crescimento da economia como um determinante de 
B, pode-se formular: 
B=p" - Y"L(Y - l) - y) 	(4) 
onde: 
p"=I/R 	p=p"" -p'>0 
y" = influência das taxas de crescimento sobre o mark-up desejado, 
onde y = y' - y" > 0 
Assim: 
A - B=p - y[(Y - 1) - y] 	(5) 
O hiato de incompatibilidade seria, assim, determinado pelo nível de preços da 
economia, pelo o impacto do desemprego sobre a pretensão salarial dos trabalhadores, a 
influência das taxas de crescimento sobre o mark-up desejado, pela taxa normal de 
crescimento e taxa de crescimento do período anterior. 
b) O comportamento da economia sob o sistema de recomposição do pico com 
periodicidade fixa. 
Quando uma economia é indexada, o fator desemprego tende a ter pouca 
influência sobre o nível de salário real desejado pelos trabalhadores. Concluindo-se que 
quanto mais indexada for a economia, menores serão as flutuações cíclicas em termos de 
inflação e produto. 
Supondo a adoção de uma política monetária restritiva, vista como um 
deslocamento da curva de demanda agregada m4rn(1) para mini' na figura abaixo, o primeiro 
33 
efeito seria uma redução da taxa de expansão do produto (yi < ye4) sem alteração 
significativa do patamar inflacionário (Per), com deslocamento do ponto de equilíbrio Z4) 
para Z° . A partir daí inicia-se o processo de ajustamento até que a economia atinja o ponto 
Z i , com redução da taxa de crescimento do produto e da inflação. 
Gráfico 6 
OS EFEITOS SOBRE OS NÍVEIS DE PREÇO E PRODUTO DE UMA POLÍTICA 
MON ETÁRIA SOB UM SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM 
PERIODICIDADE FIXA. 
vi 	Y. 	V% 	Y= m, ` 	mo 	Y, 
Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.142. 
No caso de tuna política monetária expansionista o efeito será inverso, com 
resultado fm.l de um aumento tanto na taxa de expansão do produto como na taxa de 
inflação de equilíbrio. 
Analisaremos agora os efeitos para a economia de uma alteração na frequência 
dos reajustes salariais através da figura abaixo. Teremos uma curva de demanda agregada 
(m4m4) e duas curvas de oferta agregada (OAB e 0A1) com equilíbrio inicial Z4 Supondo 
um aumento na frequência dos reajustes de anual em 0A4 para semestral em 0A1, 
verificamos que o ponto de equilíbrio se desloca para Z1 onde ocorre uma redução no nível 
de crescimento do produto (Yei < Ye4) e um aumento na taxa de inflaçãoPei < Per). 
OAp 
OA, 
34 
Porém, ocorrerá unia a redução no nível de desemprego reduzindo o valor de A, obtendo, 
assim, uma pequena recuperação do crescimento do produto. O efeito final ainda continuará 
sendo uma aceleração na taxa de inflação e uma redução na taxa de crescimento. 
Segundo Arida (1982, p.326) uma redução do salário real de A para B, com o 
aumento do hiato de incompatibilidade, só seria alcançada com um aumento do patamar 
inflacionários . 
Gráfico 7 
OS EFEITOS SOBRE OS NÌVEIS DE PREÇO E PRODUTO DE UMA ALTERAÇÃO NA 
FREQUÊNCIA DOS REAJUSTES E DO CONFLITO DISTRIBUTIVO SOB UM 
SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE FIXA 
r. 	Y` 	m, 	 Y, 
Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.143. 
c) O comportamento da economia sob o sistema de recomposição do pico com 
periodicidade endógena. 
De acordo com Balbinotto Neto (19991, p.140), alguns pressupostos devem 
ser considerados para o melhor entendimento do comportamento da economia sob este 
sistema, tais como: 
S A adcção de um pacto social, por exemplo, atenuaria o conflito distributivo, reduzindo as taxas de inflação e 
aumentando as taxas de crescimento econômico. 
35 
- A periodicidade é unia variável endógena que deve ser determinada; 
- O governo estabelece um limite para a taxa de inflação (x) que determina a 
capacidade dos empresários para reduzir o salário real de A para B; 
- A intensidade do conflito distributivo depende das taxas de crescimento da 
economia; 
- A periodicidade dos reajustes põe um limite para o conflito distributivo, na 
medida em que possui uma relação direta com a aceleração inflacionária, ou seja, quanto 
mais elevada for a taxa de inflação mais frequentes deverão ser os reajustes, e assim o 
inverso; 
- Dadas as curvas de oferta e demanda agregada de uma economia, são obtidas 
as taxas de equilíbrio da inflação e do crescimento do produto, bem como o estabelecimento 
da periodicidade dos reajustes. 
Vejamos, a seguir, uma análise gráfica do modelo, onde no eixo das abcissas 
temos a taxa de crescimento do produto e no eixo das ordenadas a taxa de inflação. No 
quadrante I, a reta m4m4 representa a curva de demanda agregada para uma dada taxa de 
expansão monetária9, demonstrando as várias combinações possíveis de P e Y. 
A curva de oferta agregada, visualizando o Gráfico 8 abaixo, não é afetada 
pela taxa de inflação. Seu deslocamento dependerá do teto x que dispara os reajustes dos 
salários nominais e do conflito distributivo. 
No quadrante II as curvas AA e A'A' representam o trade-off entre a taxa de 
inflação e a periodicidade dos reajustes, dado um determinado hiato de incompatibilidade. O 
9 Quanto maior a taxa de expansão monetária, mais distante da origem se localizará a reta que apresenta a demanda 
agregada. 
Ei , 	 
A' A 
 
E4)• 
 
 
 
36 
deslocamento da curva AA dependerá do teto x, ou seja, quanto menor for o valor de x, mais 
próxima da origem se localizará a curva AA. Portanto, dadas as curvas de demanda (m4m4)) 
e oferta (Ye) agregadas e estabelecido o hiato de incompatibilidade (AA), os níveis de 
equilíbrio da economia são visualizados pelos pontos E4 e E4' . 
Gráfico 8 
O EQUILÍBRIO MACROECONÔMICO DE CURTO PRAZO SOB UM SISTEMA 
DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE ENDÓGENA. 
D Dl Dft 43, Ye 	m4 
Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.145. 
V 
Suponhamos agora, que seja adotada uma política monetária restritiva, onde ocorre 
um deslocamento da curva de demanda agregada para a esquerda. Verificamos, de acordo 
com o gráfico 9 , que este deslocamento provoca uma queda na taxa de inflação, sem alterar 
a taxa de crescimento do produto. Porém teremos um deslocamento ao longo da curva AA, 
tomando os reajustes mais espaçados (D4, D1). Os novos níveis de equilíbrio serão 
observados pelos pontos Z1 e Z1'. 
37 
Uma política monetária restritiva, não afeta diretamente o conflito distributivo e 
nem a capacidade dos empres4rips de reduzirem o salário real de A para B, não 
influenciando a taxa de crescimento da economia. Portanto, o reajuste, neste modelo, ê 
obtido via diminuição na frequência dos reajustes e não via redução na taxa de crescimento 
do produto."' 
Gráfico 9 
OS EFEITOS DE UMA POLÍTICA MONETÁRIA RESTRITIVA SOBRE A 
PERIODICIDADE E OS NÍVEIS DE PRODUTO E INFLAÇÃO NO SISTEMA 
DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO COM PERIODICIDADE ENDÓGENA. 
A 
	 P 
Extraído de: Balbinotto Neto, 1991, p.146. 
Analisaremos agora os efeitos para a economia caso ocorra urna redução do gatilho 
que dispara os reajustes dos salários nominais. 
De acordo com o Gráfico 10, poderemos observar um deslocamento da curva AA' 
para BB'e um deslocamento para a esquerda da curva da oferta agregada. Assim, com a 
° No caso de uma politica monetária expansionista teremos um aumento na taxa de inflação seguido de um aumento 
na frequência sem auteração no nível de crescimento do produto. 
38 
redução do teto X, teremos uma redução na taxa de crescimento de Y4) para Y1, e um 
aumento na taxa de inflação de Pdi para P 1, seguido de um aumento na frequência dos 
reajustes do ponto D+ para Dl. 
Uma alteração no conflito distributivo, apesar de não deslocar a curva AA' para 
BB' i I provocará os mesmos efeitos perversos sobre a economia. No caso de um pacto 
social, por exemplo, o inverso ocorrerá, ou seja, uma redução na taxa de inflação, 
diminuição na frequência dos reajustes e aumento na taxa de crescimento do produto. 
Gráfico 10 
OS EFEITOS DA REDUÇÃO DO GATILHO SOBRE A PERIODICIDADE E OS 
NÍVEIS DE PRODUTO E INFLAÇÃO NO SISTEMA DE RECOMPOSIÇÃO DO PICO 
COM PERIODICIDADE ENDÓGENA. 
P 
 
A B 
 
 
 
 
 
4 	 
 
 
 
D 
	
134) D1' D1 3 
	
Y1 	Y4) 
	
W 
Extraído de Balbinotto Neto, 1991, p.147 
11 Não ocorrendo alteração no teto X 
39 
Arida (1982, p.336-339) conclui sua análise afirmando que seria indiferente a 
adoção de qualquer um dos sistemas para minorar os efeitos de determinados choques 
exógenos, com urna diminuição na produtividade do trabalho e/ou um acirramento no 
conflito distributivo. Porém, a adoção do sistema com periodicidade endógena oferece um 
espaço maior de manobra aos formuladores de política econômica através da utilização do 
gatilho salarial. 
Com relação ao aumento do grau de indexação s' larial via aumento na frequência 
dos reajustes ou via redução do gatilho, em ambos os casos teremos efeitos perversos sobre 
a economia, verificados através do aumento da taxa de inflação e da redução da taxa de 
crescimento cio produto. 
A utilização do sistema de periodicidade endógena torna mais eficaz a adoção de 
uma política monetária contracionista do que a utilização do sistema com periodicidade fixa, 
sob o primeiro, a política monetária reduz a inflação sem reduzir o nível de crescimento do 
produto. 
O modelo de Arida também sugere a adoção de medidas de política econômica 
pouco tradicionais, como a promoção de um pacto social entre trabalhadores e empresários 
que poderia reduzir a taxa de inflação e elevar a taxa de crescimento da economia. 
1.4 Considerações Finais 
Concluímos a partir dos modelos analisados na seção anterior, que o processo 
inflacionário é resultante do conflito distributivo entre trabalhadores e empresários e que a 
40 
indexação salarial tende a perpetuar as taxas de inflação passada no futuro, apesar de não 
ser um fator acelerador. 
Também a partir da inércia inflacionária, Nakano e Bresser Pereira (1994, p.90) 
sugerem uma fórmula de controle inflacionário baseada na associação de um "controle 
administrativo de preços" a uma "desindexação planejada". 
Pelo fato da ineficiência, já comprovada através de experiências anteriores, da 
administração da demanda agregada, o controle administrativo de preços, apesar de suas 
dificuldades12 , ainda é o método mais recomendável numa situação de inflação autônoma. 
Tal controle deverá ter como principais objetivos "(1) reduzir a taxade inflação; (2) 
garantir uma alocação satisfatória de recursos; e (3) evitar distorções na distribuição de 
renda" (Nakano e Bresser Pereira, 1984, p.91). Porém, existe uma tendência das políticas 
de estabilização em priorizar o primeiro objetivo em detrimento dos demais, gerando 
distorções no processo de distribuição de renda e estimulando a criação do "câmbio negro" e 
a falta de controle no tabelamento. 
No entanto, se os três objetivos acima forem respeitados e as dificuldades forem 
amenizadas, o controle administrativo de preços poderá ser bem sucedido associado ao 
principal fator mantenedor da inflação: o caráter indexado da economia. 
Como a forma tradicional de indexação, baseada na taxa de inflação passada, tende 
a perpetuar essa taxa no futuro aumentando os níveis de preços, os referidos autores 
sugeriram uma forma de indexação planejada que utilizasse metade da inflação passada da 
12 Impossibilidade de controlar preços num mercado competitivo, principalmente a não padronização dos artigos e ao 
grande número de empresas; falta de um aparelho burocrático pesado; distorções nos preços relativos devido aos 
desvios que poderão existir entre preço de produção e preço estabelecido pelo tabelamento; e a tendência na redução 
dos salários reais ao fixar. 
41 
inflação futura prevista de forma declinante, levando-se em consideração as reduções reais 
decorrentes dos aumentos de produtividade (Nakano e Bresser Pereira, 1984, p.93-95). 
Segundo os autores, a única alternativa de política econômica numa situação de 
estagflação e desemprego generalizados em economias oligopolizadas e indexadas como a 
brasileira seria um controle inflacionário baseado na " combinação de controles 
administrativos de preços sobre setores oligopolistas e na desindexação parcial (via 
redutor e/ou consideração de uma inflação fartura declinante) " (Nakano e Bresser Pereira, 
1984,. 	p.96). Devendo as políticas fiscais e monetárias ocupar um papel complementar nesse 
contexto. 
Uma avaliação empírica das propostas elaboradas por Nakano e Bresser Pereira será 
melhor evidenciada com a análise das medidas adotadas pelo Plano Cruzado nos capítulos 
seguintes. 
Após termos estudado as diversas formas de indexação salarial e, principalmente, o 
modelo sugerido por Arada", assim como suas conclusões a respeito da adoção de 
determinados sistemas como parte de programas de estabilização, iremos, a seguir, fazer 
algumas considerações sobre o Plano Cruzado para então chegarmos ao nosso objeto de 
estudo, que é a Política Salarial adotada pelo Programa. 
No próximo capítulo iremos expor as principais fontes e discussões teóricas que 
serviram de base para a formulação do Plano Cruzado. Exporemos também os 
acontecimentos fundamentais que precederam e propiciaram a edição do Programa e seus 
principais desdobramentos. 
13 Principalmente por fazer parte da estrutura teórica para formulaçáo do Plano Cruzado. 
42 
CAPÍTULO 2 ASPECTOS GERAIS DO PLANO CRUZADO 
2.1 Introdução 
Em processo inflacionário crônico, a inflação tende a adquirir um caráter autônomo, 
ou seja, se perpetua na medida em que os agentes econômicos buscam manter sua 
participação na renda nacional vinculando o reajuste de preços e ativos à inflação passada, 
reproduzindo, desta forma, a inflação passada no futuro com base num sistema de indexação 
institucional, no caso a correção monetária. 
Os defensores das teses inercialistas, de acordo com Bier, Paulani e Messenberg 
(1987, p.1.9-27), são favoráveis à utilização de medidas heterodoxas no combate à inflação, 
defendem o ataque à própria tendência inercial, procurando desvincular a inflação futura da 
inflação passada. E são opostos à adoção de medidas ortodoxas, ressaltando a natureza 
perversa e recessiva de tal mecanismo. 
A partir do referencial teórico de inflação inercial, alguns autores apresentaram 
importantes propostas de combate à inflação que serviram de base para a formulação do 
Plano Cruzado. 
Uma dessas propostas ficou conhecida por "Proposta Larida"I4 (Paul Singer 1987, 
p.66). As medidas sugeridas por seus formuladores estavam sustentadas numa concepção 
inercial de inflação que se diferenciava da concepção de alguns autores, como Lopes (Bier, 
14 Elaborada por André Lara Resende e Pérsio Arida. 
Paulani e Messenberg, 1987, p.31) que justificava um comportamento defensivo por parte 
dos agentes econômicos que tentam mcompor seus picos de renda real. 
Para Resende e Arida: "os agentes estão perfeitamente conscientes da distribuição 
de renda prevalecente e buscam, ao reajustar setts preços e rendimentos, defender sua 
média de renda real e não seu pico. Assim, quando a expectativa de inflação se eleva, os 
agentes tenderão reduzir o intervalo entre dois reajustes ou, alternativamente, elevar seu 
pico de renda rea/ "(Bier, Paulani e Messenberg, 1987, p.25). 
A essência da Proposta Larida estava na emissão de uma nova moeda indexada, 
num primeiro momento, à ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional) que 
coexistiria com o Cruzeiro apenas durante um periodo de transição. Os preços 
administrativos, as operações fmanceiras e os depósitos à vista seriam automaticamente 
convertidos à nova moeda, pressupondo-se que os demais preços seriam espontaneamente 
convertidos. Os salários e os aluguéis teriam a liberdade de escolher o momento da 
conversão, mas deveriam seguir a regra de conversão com base no valor médio real desses 
contratos nos últimos seis meses. 
Os autores destacam ainda a importância do aumento da liquidez na economia, pois 
com a queda na inflação o custo de reter moeda se reduz e a demanda por moeda tende a 
crescer substancialmente (Bier, Paulani e Messenberg, 1987, p.29). 
A Proposta Larida condena explicitamente o congelamento de preços que, 
consequentemente, congelaria os preços relativos em desequilíbrio. Porém, este foi um dos 
principais aspectos que não foi adotado pelo Plano Cruzado, como veremos nas próximas 
44 
seções, que optou pelo congelamento/tabelamento indiscriminado de todos os preços 
defasados ou sobreavaliados. 
Com relação aos contratos, para os pré-fixados seria estabelecido uma tabela de 
conversão Cruzeiros/nova moeda com desvalorização diária do Cruzeiro. Os p®s-fixados 
seriam corrigidos pela ORTN entre a data de celebração do contrato e o dia da reforma, para 
então serem convertidos. 
Paul Singer (1987, p.66-67) criticou a "Proposta Larida" e a "Operação Cr uzado " 
no que se refere as conversões pela média que pressupõem que as partes estão satisfeitas 
com suas médias de um periodo arbitrariamente imposto. Verificando que este fato é 
bastante contestado principalmente no que se refere aos salários que eram corrigidos pelo 
pico e com a continuação de um processo inflacionário a periodicidade dos reajustes 
salariais tenderia a diminuir, como acontecia, antes dos choques, na Argentina e Israel. 
Porém, Paul Singer (1987, p.66-67), destaca uma "superioridade política" da 
"Proposta Larida" sobre a "Operação Cruzado" por não ser compulsória e nem centrada no 
fator "choque ", sugerindo uma maior negociação de preços com a participação dos vários 
segmentos da sociedade, tendo o Governo o papel de "árbitro" e não de centralizador de 
todas as decisões, dando maior espaço para os mecanismos de mercado. 
Urna outra proposta de combate à inércia inflacionária, foi sugerida por Lopes (Bir, 
Paulani e Messenberg, 1987, pp. 27-39), onde, os salários, aluguéis e preços deveriam ser 
convertidos para nova moeda com base nos seus valores reais médios, evitando, dessa 
forma, distorções nos preços relativos. Com relação aos contratos financeiros, a proposta de 
Lopes (Bier, Paulani e Messenberg, 1987, p.33) foi análoga à Proposta Larida. 
45 
Lopes (1986, pp. 20-21) enfatiza ainda a importância dos controles de preços no 
combate á inflação, ressaltando a ineficiência do controle da demanda agregada `para 
impedir que um recrudescimentodas expectativas inflacionárias das empresas se 
transforme em aceleração da inflação." 
A principal diferença entre as duas propostas refere-se ao grau de intervenção 
estatal. Arida e Resende enfatizam um maior espaço para os mecanismos de mercado e 
Lopes salienta uma participação mais ativa do Governo (Bier, Paulani e Messenberg, 1987, 
p. 34) 
É nesse contexto e no âmbito dessas discursões que, a seguir, iremos analisar os 
aspectos mais gerais do Plano Cruzado, até que ponto o programa absorveu as sugestões das 
referidas propostas, quais foram seus precedentes, suas principais medidas e consequências 
para, a partir de então, fazermos um estudo da política salarial adotada pelo plano no que se 
refere ao tipo de indexação e as consequências para o nível de salário real. 
2.2 Precedentes 
A acentuada dependência financeira (desde 1979) que colocou o Brasil numa 
condição de "submisso dentro da hierarquia da Divisão Internacional do Trabalho" 
(Amaral Filho, 1986, p.2) fez com que, a partir do fmal de 1980, o governo brasileiro 
passasse a atender as exigências dos banqueiros internacionais no sentido de por em prática 
medidas de política econômica de caráter recessivo. 
46 
Entre 1981 e 1983, o Brasil enfrenta sua `pior crise conjuntural deste século" (Paul 
Singer, 1987, p.33), sendo 1982 mareado pelo fechamento dos créditos por parte dos bancos 
internacionais, obrigando o país a utilizar-se apenas da dívida pública interna como fonte de 
financiamento. 
A política econômica imposta pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), nesse 
periodo, fez com que o Brasil adotasse medidas no sentido de desvalorizar o Cruzeiro para 
aumentar as exportações e estimular o setor privado a se desfazer de suas dívidas em dólar 
através de depósitos junto ao Banco Central com taxa de remuneração externa mais variação 
cambia115. De acordo com Amaral Filho (1986, p.19-21) "este foi o processo 
macroeconômico mais importante na aceleração da inflação dos anos 80", além de 
caracterizar o papel ativo do Estado na captação de recursos para manter os compromissos 
da dívida. 
Em 1984, a economia brasileira retoma o crescimento estimulado, principalmente, 
pela expansão da demanda interna e das exportações, proporcionando uma situação bastante 
confortável com relação às reservas cambiais. 
A Nova República herda, assim, grande potencial para gerar um saldo comercial 
positivo com o propósito de pagar, pelo menos, os juros da dívida. Outra herança foi o 
arrocho salarial que, com a transformação do cenário politico (fim da era militar e transição 
à Nova República), os assalariados começaram a encontrar condições mais favoráveis para 
amenizar esse arrocho. 
15 De acordo com a resolução 432, Lei n° 4.131, as empresas tomadoras de empréstimos poderiam realizar depósitos 
em moeda estrangeira junto ao BACEN e este assumiria o risco de câmbio e os encargos devidos ao credor externo. 
47 
Tancredo Neves compõe sua equipe econômica de forma heterogênea , nomeando 
Francisco Dorneles, adepto ao pepsamento ortodoxo, para o Ministério da Fazenda e João 
Sayad, economista ligado à corrente heterodoxa, para o Ministério do Planejamento, 
gerando contradições na condução da política econômica. (Modiano, 1990, p.354) 
Com a morte de Tancredo, José Sarney assume a presidência e demonstra-se 
inclinado à corrente desenvolvimentista com o possível esgotamento das propostas de cunho 
ortodoxo. 
A política econômica ficou indefinida entre os meses de março e agosto de 1985, 
enquanto isso o movimento sindical desencadeava uma ofensiva grevista visando reposições 
e reajustes salariais. O governo abriu mão da intervenção nos sindicatos, o que representou 
um certo avanço democrático após o longo período de autoritarismo militar. Assim, o ano de 
1985 foi marcado pela extensão do movimento sindical. 
Nesse período, apesar dos ganhos nos rendimentos dos assalariados e da elevação 
no nível de emprego, não ocorreu uma proporcional distribuição de renda, o que acelerou o 
conflito distributivo e elevou o patamar inflacionário através dos preços dos produtos 
alimentícios. 
Com o aumento da massa salarial e significativo crescimento do emprego, verificou-
se uma expansão no mercado interno e uma aceleração no nível de crescimento econômico 
confirmadas pela expansão das indústrias de bens de capital e aumento das importações 
também de bens de capital (Paul Singer, 1987, p.43). 
Em agosto de 1985, Dornelles se demite do Ministério da Fazenda por não 
conseguir mobilizar uma política econômica de ajuste ortodoxo. Dilson Funaro assume e 
48 
com ele, prevalece a proposta desenvolvimentista, tomando como principal medida o 
rompimento com o FMI que teve poucas repercussões políticas por não ter representado em 
"desafio à hegemonia do bloco credor." (Paul Singer, 1987, p.47) 
Com o agravamento da crise econômica, o governo Sarney elabora um modesto 
pacote fiscal e creditício caracterizado por forte ecletismo (trabalhar um grande número de 
instrumentos, mas um pouco de cada um) e gradualismo16 
A principal debilidade da política econômica de Funaro estava na ausência de 
mobilização política a seu favor. O governo da Nova República não teria como impor sua 
política fiscal e nem controle de preços sem o respaldo do apoio popular. Assim, a crise 
monetária não poderia ser resolvida de modo a preservar o crescimento econômico sem um 
realinhamento das forças sociais e políticas. 
Apesar de 1985 ser o ponto de inflexão no desempenho do mercado de trabalho, a 
política de cunho gradualista adotada com a Nova República fracassa com a manifestação 
do . choque da oferta agrícola, devido à forte seca no sul do pais, aumentando para 17% ao 
mês (Modiano, 1990, p.356) os preços dos produtos alimentícios. Assim, o gradualismo 
fracassa em pelo menos estabilizar as taxas inflacionárias. 
As elevadas taxas de inflação, a falta de apoio popular e o perigo político das 
manifestações por eleições diretas, levaram o Governo a decretar o novo programa de 
estabilização: o Plano Cruzado. 
16 Caracterizado por cortes moderados no gasto público, aumento também moderados da arrecadação tributária e 
redução da taxa de juros com objetivo de fazer cair a despesa financeira do governo. 
49 
2.3 0 Sistema Financeiro 
O Plano Cruzado, instituído em 28 de fevereiro de 1986 através do Decreto-Lei 
2.283 (corrigido em 10 de março pelo Decreto-Lei 2.284), baseado numa concepção 
inercialista de inflação, tinha como principal objetivo zerar a inflação com manutenção do 
crescimento econômico, sendo, pelo menos teoricamente, neutro do ponto de vista do 
conflito distributivo, pressupondo que todos ganhariam com a nova situação de inflação 
zero. Porém, de acordo com Amaral Filho (1986, p.4) o próprio regime de acumulação 
brasileiro que "combina relações capitalistas altamente avançadas com aquelas 
extremamente atrasadas" se caracteriza pelo "alto grau de excludência em relação ás classes 
sociais inferiores, camponesas e urbanas". 
A reforma monetária que criou o Cruzado como padrão monetário nacional,17 tendo 
como objetivo recuperar o caráter de equivalente geral para a moeda, foi implantada sob a 
forma de choque, centralizando todas as decisões nas mãos do Poder Executivo Federal e, 
de início, teve amplo apoio popular com o congelamento de preços. Este apoio popular pôde 
ser verificado através dos `fiscais do Sarney" e contou com a ajuda dos meios de 
comunicação de massa, contribuindo, significativamente, para uma maior legitimação do 
Pacote e para uma inicial queda nas taxas de inflação. 
Com relação ao Sistema Financeiro, cuja principal fonte de recursos eram as 
transferências financeiras o fato de um brusca redução na taxa de inflação já significa perdas 
no que tange ao fluxo de receitas. 
17 Com a equivaldncia de Cr$ 1.000,00/Cz$1,00. 
50 
Outro fato a ser considerado foi o congelamento por doze meses da ONT1S 
(Obrigações do TesouroNacional), desindexando parcela significativa da dívida pública e, 
consequentemente, desvalorizando grande parte dos ativos das instituições financeiras. 
Para minimizar esse efeito redistributivo de renda contra os bancos algumas 
medidas foram tomadas. 
Uma importante medida tomada pelo Governo foi a permissão de cobrança pelos 
bancos de vários serviços que até então eram gratuitos e a criação do mercado 
interfinanceiro. Além do fato do Governo ter recomprado os títulos públicos trocando-os por 
LBC(s) (Letras do Banco Central) reduzindo as perdas do Sistema Financeiro. 
Com relação ao tabelamento da taxa de juros, o Governo não tomou nenhuma 
decisão, assim como fez com relação ao congelamento da taxa cambial (Amaral Filho, 1986, 
pp.13-14). 
Verificou-se também, uma fuga de capital das cadernetas de poupança e de outros 
ativos fmaceiros causada pela desilusão monetária, o que levou a um crescimento 
significativo da demanda por consumo. 
2.4 Contratos, Congelamento de Preços e Inflação 
Com relação aos contratos, estes seguiram exatamente a linha teórica de 
neutralidade distributiva de uma concepção inercialista de inflação, na medida em que foram 
convertidos por seus valores reais médios. Os contratos realizados antes da Reforma foram 
IS A OTN substituiu a ORTN que era corrigida mensalmente com base na variação do índice oficial de inflação. 
51 
tratados de acordo com o fato de serem ou não indexados. Os contratos com correção 
monetária pré-fixada ou sem correção monetária foram convertidos de acordo com uma 
tabela de conversão Cruzeiro/Cruzado com desvalorização diária do Cruzeiro.'` Os pós-
fixados foram corrigidos pela ORTN diária entre a data de celebração do contrato e o dia da 
Reforma, para então serem convertidos. 
Os impostos foram convertidos automaticamente pela razão Cr$ 1.000,00/Cz$ 1,00, 
que de acordo com Bier, Paulani e Messenberg (1987,p.114) provocou um aumento real na 
arrecadação fiscal do Governo. 
Os salários, que serão analisados com maior profundidade no próximo capítulo, 
foram convertidos por seus valores reais médios dos últimos seis meses, mais abono de 8% 
aos salários em geral e 15% ao salário mínimo. Para os contratos salariais foi adotado o 
sistema de escala móvel como forma de indexação, fugindo das propostas desindexadoras 
anteriores ao Plano Cruzado.20 
Os aluguéis seguiram a regra geral de conversão dos contratos, na medida em que 
foram convertidos pelos seus valores médios reais. 
Com relação aos preços, o congelamento destes demonstrou o fato do Plano 
Cruzado não ter contemplado a totalidade do arcabouço teórico da Proposta Larida. De 
acordo com Bier, Paulani e Messenberg (1987, p.119) esta medida além de possuir uma 
natureza política, na medida em que proporcionou grande apoio popular ao pacote, teve uma 
natureza econômica, vista como " a única f brma de viabilizar 	desindexação da 
economia." 
19 Cerca de 0,45% ao dia (Bier, Paulini e Messenberg, 1987, p.114). 
20 Na próxima parte desde trabalho iremos ver porque o tratamento dado aos salários fugiu do arcabouço teórico que 
fundamentou o Programa. 
52 
O congelamento de preços e, secundariamente, a redução na rentabilidade das 
cadernetas de poupança e de outras aplicações financeiras proporcionaram uma grande 
expansão do consumo, impondo importantes mudanças na condução do Programa. 
Paul Singer (1987, p.111) enfatizou a questão da distribuição de renda do setor 
monopolista - geralmente produtor de artigos padronizados e de fácil controle de preços - 
para o setor competitivo - caracterizado pela produção de bens não-padronizados - cujos 
preços permaneceram, na realidade, liberados. Com seus preços defasados, o setor 
monopolista foi induzido a não aumentar sua oferta, estrangulando o crescimento do setor 
competitivo e gerando, dessa forma, tensões entre o nível de oferta necessário e a demanda 
desejada.21 
A retenção de estoques especulativos devido ao congelamento de preços, trouxe 
consigo algumas consequências que prejudicaram o andamento do Programa, influenciando 
inclusive negativamente, a opinião pública onde, de acordo com Paul Singer (1987, p.99), o 
percentual de pessoas que achavam ter melhorado seu nível de vida devido à Operação 
Cruzado caiu de 80% em 25.03.1986 para 44% em 26.08.1986. 
Essas consequências foram verificadas, principalmente, pela fixação de preços 
muito acima do nível congelado ou tabelado devido ao dificil controle de preços no mercado 
competitivo. Outra consequência foi verificada através da frequente cobrança de ágios 
(mercado negro) e o que é pior, com o consentimento de grande parte dos consumidores que 
preferiam pagar mais caro a não adquirir o artigo. 
21 Neste sentido, Paul Singer (1987, p.112-114) sugeriu o estabelecimento dos preços administrados através de 
negociações entre participantes de uma mesma cadeia produtiva com uma real demonstração de seus custos. No que se 
refere aos preços de mercado, o autor sugeriu um maior estímulo por parte do Governo para expandir a oferta de bens 
no setor competitivo, onde seria impossível controlar preços. 
Os fatos ressaltados acima revelam que a real taxa de inflação era maior que a 
oficial, levando, de acordo com Paul Singer (1987, p.99-102), à uma partição da inflação em 
três. 
Uma delas foi a "reprimida ", representada por custos subjetivos impossíveis de 
serem quantificados e contabilizados. Um grande exemplo desses custos eram as horas 
perdidas em filas a procura de artigos em falta. 
Uma outra forma de manifestação da inflação foi classificada como "oculta ", não 
podendo ser medida e representada pela cobrança clandestina de ágios que, de início, era 
denunciada aos órgãos competentes como a SUNAB e, primordialmente devido à sua 
inoperância e à falta de produtos, os ágios começaram a ser respaldados pelos compradores 
em geral. 
O último tipo de inflação classificada por Singer era registrada pelos Índices do 
Custo de Vida que, de acordo com os preceitos do plano deveria ser igual a zero, mas 
devido aos produtos que não puderam ser tabelados ou congelados, como os artigos não 
padronizados e os de segunda mão, por exemplo, verificou-se um crescente aumento da 
taxa oficial de inflação. 
Ainda. segundo Singer, uma importante observação sobre a referida partição da 
inflação era o fato dos trabalhadores não puderem incluir em suas reivindicações os efeitos 
das inflações oculta e reprimida que tendem a proliferar-se à medida que aumentam os 
artigos em falta. 
Com o recrudescimento do consumo e a possível proliferação das inflações oculta e 
reprimida, assim como a elevação do índice oficial de inflação, o Governo anunciou em 24 
54 
de julho um "tímido pacote fiscal" (Modiano, 1990, p.362), criando os empréstimos 
compulsórios na aquisição de carros e gasolina para serem restituídos após três anos, e em 
impostos sobre passagens internacionais e compra de dólares para viagem não-restituíveis, 
envolvendo parte da sociedade responsável por parcela considerável formadora da opinião 
pública. 
Com o pacote o Governo reequilibraria os mercados dos automóveis, combustíveis, 
passagens ao exterior e dólares para viagem, assim como deveria arrecadar receita para 
financiar o "Plano de Metas" (Modiano, 1990, p.363) criado com o objetivo de obter um 
crescimento do PIB de 7% ao ano. 
Segundo Singer (1987,. 	p.95-98) o Pacote estava ̀ furado'. Primeiro, porque houve 
vazamento de informações antes do anúncio das medidas. Depois, pelo fato do Governo ter 
expurgado do IPC (índice de Preços ao Consumidor) os aumentos de preços dos referidos 
artigos sujeitos aos empréstimos compulsórios, com o objetivo de não repassá-los aos 
valores indexados, como aos salários, OTNs e cadernetas de poupança aumentando o 
componente oculto da inflação. E por último, devido à não justificativa do repasse do 
aumento dos combustíveis para tarifas de taxi, já que, segundo o Governo, os empréstimosnão deveriam ser caracterizados como impostos. 
De agosto de 1986 até o dia das eleições - quinze de novembro - a política 
econômica permaneceu praticamente paralisada. Talvez a única medida relevante neste 
periodo tenha sido a promoção de uma modesta desvalorização do Cruzado devido à queda 
nas receitas das exportações ocorrida em Outubro/86. 
; 
I 
55 
Numa tentativa de aumentar a arrecadação do Governo anuncia-se, após a vitória 
maciça do PMDB nas eleições, o segundo pacote fiscal do Plano Cruzado: o Cruzado II. 
Objetiva-se aumentar a arrecadação em 4% do PIB (Modiano, 1990, p.364) através 
do reajuste dos impostos indiretos sobre cigarros, bebidas e automóveis e do aumento de 
alguns preços públicos, como: gasolina, telefone, energia e tarifas postais, proporcionando o 
recrudescimento da inflação reprimida até então. Nessa ocasião também foi regulamentada a 
escala móvel para os salários que seriam reajustados cada vez que a inflação atingisse o 
patamar de 20%, tornando a economia mais indexada do que antes do Plano Cruzado. 
Com a ameaça de uma explosão inflacionária o Governo inicia uma tentativa de um 
primeiro pacto social que fracassou, pois, apesar do crescimento do consumo, dos salários e 
do emprego, a insatisfação popular continuava se manifestando devido à falta de produtos 
no mercado, à fixação de vários preços acima do nível congelado ou tabelado e à frequente 
cobrança de ágio. 
Nesse período houve uma redução das exportações devido ao aquecimento do 
mercado interno e um significativo aumento das importações que foram frequentemente 
utilizadas para completar a oferta de produtos. Outro fato que proporcionou um adiamento 
das exportações e antecipação das importações era a expectativa de maiores desvalorizações 
do Cruzado. 
De acordo com Modiano (1990, p.363-365), o fracasso do Plano Cruzado pôde ser 
confirmado pela falta de apoio popular, pelos saldos negativos da balança comercial 
verificado entre Outubro/86 e Janeiro/87 apesar das minidesvalorizações diárias do Cruzado 
56 
e finalmente quando, em Abril/87, a taxa de inflação ultrapassava o patamar de 20% a.m. e 
o ministro Funaro deixava o cargo. 
2.5 Considerações Finais 
De acordo com Singer (1987, p.109), no que se refere à inflação pode-se afirmar 
que o Plano Cruzado teve um "relativo êxito" na medida em que conseguiu reduzir uma 
inflação de 400% a.a. para cerca de 40% .a.a. Contudo, a cobrança generalizada de ágios, o 
aumento de muitos preços difíceis de serem tabelados ou congelados e a decretação do 
Cruzado 1I, provocaram o recrudescimento das taxas de inflação. 
Com relação a redistribuição de renda verificada pelo crescimento do produto que 
acarretou aumentos nos níveis de emprego e salário, Singer (1987, p.133) não atribui ao 
Plano Cruzado tal redistribuição, mas ao próprio: crescimento da economia que já vinha 
sendo confirmada desde 1984. Porém, deve-se ressaltar que esse efeito redistribuidor 
estimulou o surgimento de pontos de estrangulamento na medida em que transferiu renda do 
setor monopolista para o setor competitivo. 
No que se refere a Balança Comercial, esta passou de uma situação superavitária 
verificada desde 1983 para uma tendência deficitária com a significativa redução das 
reservas cambiais devido ao crescimento da demanda interna, apesar das 
minidesvalorizações diárias do Cruzado. 
Além dos aspectos analisados acima, Singer (1987, p.135) atribui o fracasso do 
Plano também a forma como o Governo o conduziu, centralizando todas as decisões e ao 
57 
mesmo tempo tornando-se preso à determinadas, como o congelamento de preços que 
amarrou suas mãos na medida em que não podia desfazê-lo correndo o risco de perder a 
necessária legitimidade política. 
O fracasso macroeconômico também pôde ser verificado através do descompasso 
entre oferta e demanda. 
No capítulo seguinte abordaremos as principais questões relacionadas a Política 
Salarial adotada pelo Plano Cruzado, desde seus precedentes até seus desdobramentos. 
58 
CAPÍTULO 3 - A POLÍTICA SALARIAL DO PLANO CRUZADO 
3.1. Introdução 
Utilizando os conceitos expostos no Capítulo 1 deste trabalho e as considerações 
feitas acerca do piano Cruzado no capítulo anterior, pretendemos fazer uma análise da 
política salarial adotada pelo referido Programa de Estabilização em seus principais 
aspectos. 
Iremos iniciar com um breve comentário sobre as formas de indexação utilizadas até 
a data da implementação do Programa, sendo o dia 28 de fevereiro de 1986 caracterizado 
como um ponto de inflexão na condução da Política Salarial. 
Logo após, levantaremos algumas questões sobre a base teórica de tal politica, 
incluindo inclusive, a questão do conflito distributivo caracterizado por Arida, ressaltado no 
primeiro capíiulo, como sendo condicionador do processo de aceleração inflacionária. 
Finalmente, chegaremos ao nosso objeto de estudo ressaltando as principais criticas 
conduzidas à. política salarial do Plano Cruzado, realizando algumas simulações e 
abordagens pertinentes a conclusão da pesquisa. 
Como foi exposto anteriormente, a primeira experiência formal de indexação 
salarial ocorreu em 1964 com o PAEG, sendo os salários reajustados anualmente com base 
na estimativa da inflação futura. A partir de 1974, a inflação passada passou a ser a 
referência para os reajustes salariais e o salário real médio passou a ser baseado nos últimos 
doze meses ao invés dos últimos vinte e quatro meses. Em novembro de 1979, a Lei N°. 
59 
6.708, de 30 de outubro do mesmo ano (Paiva, 1987, p.117), modificou a periodicidade dos 
reajustes salariais de anual para semestral. Desde essa data até fevereiro de 1986 ocorreram 
várias mo 1ificações22 no sistema de indexação utilizado - sistema de recomposição do pico 
do salário real com periodicidade fixa - sem que os mecanismos básicos instituídos em 1979 
fossem alterados. 
A referida lei tinha como caracteristicas básicas ( i ) o reajuste anual dos salários 
baseados nos acordos coletivos, (ii )a correção semestral automática através do INPC - 
Índice Nacional de Preços ao Consumidor - e após 1985 através do IPCA - Índice de Preços 
ao Consumidor Ampliado - e, (iii) a proibição do repasse dos reajustes salariais aos preços, 
fiscalizados pelo Conselho Interministerial de Preços (CIP) (Paiva, 1987, p.117). 
Como vimos no capítulo anterior , a partir de 1984 o Brasil entra numa fase de 
crescimento que, associada ao fato da consolidação do movimento democrático verificado 
com 	transição à Nova República, permitiu aos setores mais organizados da classe 
trabalhadora adquirirem maior poder de barganha com relação às suas reivindicações. 
Assim, a forma de reajuste salarial baseada na inflação passada gerou manifestações 
no sentido de institucionalizar a trimestralidade dos reajustes automáticos. Porém, essa 
medida era amplamente evitada pelo Governo que temia o recrudescimento das taxas de 
inflação através da liberdade de fixação de preços por parte dos setores oligopolistas, e o 
aumento do déficit público via elevação dos gastos com pessoal (Ministério do Trabalho, 
Secretaria de Emprego e Salário, Relatório de Pesquisa-02/86,p.7). 
22 "Os reajustes eram diferenciados por faixa salarial. Tanto as faixas salariais quanto os percentuais de reajuste foram 
alterados ao longo da vigência da lei" ( Paiva, 1987, p.117). 
60 
Alternativamente à trimestraljdade começou a ser sugerida a adoção da escala 
móvel, baseando-se no fato do processo inflacionário ser um mecanismo de distribuição de 
renda23 e, como o gatilho preserva o salário real do processo de aceleração inflacionária, os 
aumentos de preços perderiam sentido. 
Nesse sentido, Arida argumentou, que a periodicidade endógena oferece um 
espaço maior de manobra aos formuladores de política econômica através da utilização do 
gatilho salarial. 
O diagnóstico de inflação inercial sobre o qual se baseou o Plano Cruzado era 
totalmente

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