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i Análise comparativa de duas soluções para contenção de taludes: Cortina ancorada e solo grampeado Ricardo Leal de Araujo Marins Rio de Janeiro Setembro, 2017 ii Análise comparativa de duas soluções para contenção de taludes: Cortina ancorada e solo grampeado Ricardo Leal de Araujo Marins Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Civil. Orientadores: Leonardo De Bona Becker e Rogério Cyrillo Gomes Rio de Janeiro Setembro, 2017 iii Análise comparativa de duas soluções para contenção de taludes: Cortina ancorada e solo grampeado Ricardo Leal de Araujo Marins PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL. Examinada por: Prof. Leonardo De Bona Becker, D.Sc. Prof. Rogério Cyrillo Gomes, M.Sc. Profa. Alessandra Conde de Freitas, D.Sc. Prof. Marcos Barreto de Mendonça, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL. SETEMBRO DE 2017 iv Marins, Ricardo Leal de Araujo Análise comparativa de duas soluções para contenção de taludes: Cortina ancorada e solo grampeado / Ricardo Leal de Araujo Marins. Rio de Janeiro / Escola Politécnica, 2017. XVI, 98ºp.:il;29,7 cm. Orientadores: Leonardo De Bona Becker e Rogério Cyrillo Gomes Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2017. Referência Bibliográficas: p. 99º-102º. 1. Estrutura de contenção. 2. Estabilidade de taludes. I. Becker, Leonardo De Bona e Gomes, Rogério Cyrillo. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Análise comparativa de duas soluções para contenção de taludes: Cortina ancorada e solo grampeado. v AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer, acima de tudo, aos meus pais, que desde pequeno me ensinaram a importância dos estudos na vida de qualquer pessoa. As horas que eles investiram narrando para mim as suas histórias de vida foi de suma importância, pois não poderia haver incentivos/exemplos maiores do que ouvir tudo que foi vivido por eles. Gostaria de não só agradecer, como também parabenizar pelo empenho em criar a mim e meus irmãos, tudo que conquistei na vida se deve à eles. Sou grato a tudo que vivi na UFRJ ao longo desses anos, sem dúvidas foi a fase da minha vida onde obtive mais crescimento pessoal e profissional, e gostaria de agradecer à todos os amigos e professores que fizeram parte dessa jornada, em especial aos amigos que estiveram comigo desde o início da faculdade, fazer parte da turma que ingressou em 2010/2 é muito significativo para mim, pude fazer amizades que durarão para o resto da vida. Quanto às atividades extracurriculares gostaria de agradecer a oportunidade de participar de projetos que foram essenciais para minha formação, como a iniciação cientifica no Gabinete de desenho técnico com o professor Roberto Machado, toda a experiência agregada durante os projetos na EEFD e do CIAF são, até hoje, um dos principais feitos que pude realizar na vida. Não poderia deixar de me lembrar de agradecer aos coordenadores do projeto “Aluno contadores de histórias”, onde pude viver uma experiência única junto à equipe e as crianças agraciadas com o projeto. Gostaria de agradecer também aos amigos que fiz durante o meu período de estágio, foi uma fase de bastante aprendizado, e felizmente estive cercado por ótimas pessoas, que sempre tiveram paciência para me ajudar e ensinar o que fosse preciso. Não poderia deixar de mencionar todos os amigos feitos durante o meu período de intercâmbio, eles fizeram parte da maior aventura da minha vida, e estarão sempre em minha memória. Gostaria de agradecer pela paciência e empenho demonstrados pelos meus professores orientadores, Rogério Cyrillo e Leonardo Becker, o projeto foi bastante duradouro, pois precisei aprender muito sobre as práticas de projeto geotécnicos durante a elaboração, e ambos se mostraram sempre solícitos e atenciosos as minhas duvidas. vi Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. Análise comparativa de duas soluções para contenção de taludes: Cortina ancorada e solo grampeado Ricardo Leal de Araujo Marins Setembro/2017 Orientador: Leonardo De Bona Becker e Rogério Cyrillo Gomes Curso: Engenharia Civil As obras de contenção, de maciços de terra de um modo geral, cumprem uma das funções mais importantes em obras vizinhas a terrenos que apresentam topografia bastante irregular, ou em obras, que por necessidade do empreendimento, necessitam de grandes volumes de cortes, causando desníveis significativos entre o terreno original e o seu local de implementação. Nesses tipos de obra se fazem necessários o estudo e dimensionamento prévio das estruturas que serão responsáveis por conter e garantir a segurança do empreendimento em questão. O trabalho em questão inicia fazendo uma revisão bibliográfica do tema estabilidade de taludes, dando particular ênfase aos métodos de contenção de cortina ancorada e solo grampeado. Em seguida é apresentado um estudo no qual foi analisado os dois tipos de contenção previamente apresentados, com enfoque em uma situação onde ambas as alternativas foram empregadas. Ao fim do trabalho ambas as soluções foram comparadas com relação às análises de estabilidade e tensão deformação realizadas com auxílio das ferramentas computacionais do pacote GeoStudio. Palavras-chave: Cortina ancorada. Solo grampeado. Estabilidade de taludes. vii Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Civil Engineer. Comparative analysis of two solutions for slope con tainment: Anchored sheet pile wall and Soil nailing Ricardo Leal de Araujo Marins September/2017 Advisor: Leonardo De Bona Becker e Rogério Cyrillo Gomes Course: Civil Engineering Containment constructions of land masses generally execute one of the most important functions in construction close to terrains with a very irregular topography, or in constructions which, because of the necessity of the project, require large volumes of cuts, causing significant slopes between the original site and its place of implementation. In these types of construction it is necessary to study and prior design of the structures that will be responsible for containing and guaranteeing the safety of the project in question. The work in question begins with a bibliographical review of the theme of slope stability, with particular emphasis on the methods of containment of anchored sheet pile wall and soil nailing. Next, a study was presented in which the two types of containment previously presented were analyzed, focusing on a situation where both alternatives were used. At the end of the work both solutions were compared with respect to the stability and stress strain analyzes performed using the computational tools of the GeoStudio package. Keywords: Anchored sheet pile wall. Soil nailing. Slopes stability. viii SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... x LISTA DE TABELAS .................................................................................................. xv 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................1 1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA ........................................................... 1 1.2. OBJETIVO DO TEMA ....................................................................... 2 1.3. JUSTIFICATIVA E MOTIVAÇÃO PARA O TEMA ............................. 3 1.4. ABORDAGEM METODOLÓGICA .................................................... 3 1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO ......................................................... 4 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 6 2.1. TALUDES ......................................................................................... 6 2.1.1. CLASSIFICAÇÃO DE MOVIMENTOS DE TALUDES .............................. 7 2.2. A TEORIA DO EQUILIBRIO LIMITE ................................................. 9 2.3. MÉTODO PARA CÁLCULOS DE ESTABILIDADES DE TALUDES 11 2.3.1. MÉTODO DE MORGENSTERN & PRICE ............................................. 12 2.4. TEORIA DA ELASTICIDADE .......................................................... 13 2.5. TIRANTES ...................................................................................... 15 2.5.1. CONCEITUAÇÃO .................................................................................. 15 2.5.2. PRINCIPIO DE FUNCIONAMENTO ...................................................... 16 2.5.3. COMPONENTES .................................................................................. 17 2.5.4. ENSAIOS .............................................................................................. 20 2.5.5. MÉTODO EXECUTIVO ......................................................................... 22 2.5.6. LIMITAÇÕES E VANTAGENS DO MÉTODO ........................................ 29 2.6. SOLO GRAMPEADO ..................................................................... 31 2.6.1. CONCEITUAÇÃO .................................................................................. 31 2.6.2. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO ...................................................... 32 2.6.3. COMPONENTES .................................................................................. 33 2.6.4. MÉTODO EXECUTIVO ......................................................................... 34 2.7. DESCRIÇÃO DO SOFTWARE SIGMA-W ® .................................. 39 2.7.1. APLICAÇÕES ........................................................................................ 39 2.8. DESCRIÇÃO DO SOFTWARE SLOPE-W ® .................................. 41 3. DESCRIÇÃO GERAL DO PROBLEMA ........................................................... 42 ix 3.1. LOCAL DA OBRA ........................................................................... 42 3.2. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS E DETERMINAÇÃO DOS PERFIS DO TERRENO .............................................................................................. 44 3.3. ESTIMATIVA DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS ..................... 46 3.3.1. RESUMOS DOS PARÂMETROS GEOTECNICOS ESTIMADOS ......... 50 3.4. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DOS EMPUXOS ATUANTES ............. 51 3.4.1. SITUAÇÃO A CURTO PRAZO (ANÁLISE NÃO-DRENADA) ................. 55 3.4.2. SITUAÇÃO A LONGO PRAZO (ANÁLISE DRENADA) ......................... 57 3.5. DETERMINAÇÃO DA CARGA DE TRABALHO DOS TIRANTES E GRAMPOS 60 3.5.1. DETERMINAÇÃO DA CARGA DE TRABALHO DOS TIRANTES ......... 60 3.5.2. DETERMINAÇÃO DA CARGA DE TRABALHO DOS GRAMPOS ......... 62 4. ELABORAÇÃO DOS MODELOS DE ANÁLISE UTILIZANDO OS SOFTWARES DE APOIO ........................................................................................... 64 4.1. ANÁLISE DE ESTABILIDADE (SLOPE/W ®) ................................. 64 4.1.1. ANÁLISES SEM QUALQUER TIPO DE CONTENÇÃO ......................... 64 4.1.2. ANÁLISE COM CORTINA ANCORADA ................................................ 66 4.1.3. ANÁLISE COM SOLO GRAMPEADO ................................................... 71 4.2. ANÁLISE DE TENSÃO-DEFORMAÇÃO (SIGMA-W ®) .................. 75 4.2.1. ANÁLISE DE TENSÃO-DEFORMAÇÃO CORTINA ANCORADA .......... 75 4.2.2. ANÁLISE DE TENSÃO-DEFORMAÇÃO SOLO GRAMPEADO ............. 83 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................................................... 89 5.1. DESLOCAMENTOS NA VIZINHANÇA ........................................... 89 5.2. DEFLEXÃO DA FACE DO TALUDE ............................................... 93 5.3. MOMENTOS NA PAREDE ............................................................. 95 6. CONCLUSÃO .................................................................................................. 97 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 99 x LISTA DE FIGURAS Figura 2-1 - Figura esquemática de um talude, adaptado (BASSANELI, 2016). ........... 7 Figura 2-2 - Representação gráfica dos movimentos tipo: queda, tombamento, escorregamento rotacional, em cunha e planar ou translacional, espalhamento, corrida lenta de terra, de areia seca e de detritos e rastejo ou fluência (TURNER & SCHUSTER, 1996 apud AGUIAR, 2008). ..................................................................... 9 Figura 2-3 - Diferentes mecanismos de colapso, adaptado (AUTOR, 2017) ............... 10 Figura 2-4 - Fatia de solo analisada isoladamente (GERSOVICH, 2009, apud MORGENSTERN & PRICE, 1965) ............................................................................. 12 Figura 2-5 - Carregamento de compressão (PINTO,1998) ......................................... 14 Figura 2-6 - Carregamento de cisalhamento (PINTO, 1998) ....................................... 15 Figura 2-7 - Elementos de um tirante (Figura retirada da NBR 05629) ....................... 18 Figura 2-8 - Grampeamento do solo realizado na França (CLOUTERRE, 1991 apud LIMA, 2007) ................................................................................................................ 31 Figura 2-9 - Esquema de um talude grampeado (Retirado de SILVA, 2006) ............... 32 Figura 2-10 - Comparação NATM com técnica convencional do revestimento rígido (Retirado de ORTIGÃO et al. 1993) ............................................................................ 33 Figura 2-11 - Partes construtivas do chumbador ......................................................... 34 Figura 2-12 - Processo de execução de solo grampeado, adaptado (SOLOTRAT). ... 35 Figura 2-13 - Escavação em bermas de equilíbrio (LIMA, 2007). ................................ 36 Figura 2-14 - Aplicação de revestimento em concreto projetado com utilização de tela soldada (LIMA, 2007) .................................................................................................. 37 Figura 2-15 - Revestimento em grama ou biomantas para taludes de solo grampeado (SOLOTRAT) .............................................................................................................. 38 Figura 2-16 - Deslocamentos abaixo de um tanque contendo líquido (GEO-SLOPE, 2009) .......................................................................................................................... 39 xi Figura 2-17 - Alteração da tensão vertical com a profundidade (GEO-SLOPE, 2009). 40 Figura 2-18 - Sequência de escavação de um modelo (GEO-SLOPE, 2009) ............. 40 Figura 2-19 - Exemplo de momentos em uma cortina ancorada (GEO-SLOPE, 2009) 41 Figura 3-1 - Tipo de paisagens do Rio de Janeiro (Mapeamento digital de classes de solos no estado do Rio de Janeiro, 2007) ................................................................... 42 Figura 3-2 - Mapa de localização (Google Earth) ........................................................ 43 Figura 3-3 - Exato local do terreno em estudo (Google Earth) .................................... 43 Figura 3-4 - Localização das sondagens a percussão realizadas e limite estudado do terreno ........................................................................................................................44 Figura 3-5 – Perfil geotécnico SP1-SP3 ...................................................................... 45 Figura 3-6 – Perfil geotécnico SP3-SP4 ...................................................................... 45 Figura 3-7 – Perfil geotécnico SP1-SP2 ...................................................................... 46 Figura 3-8 - Parâmetros estimados para o caso não-drenado .................................... 51 Figura 3-9 - Parâmetros estimados para o caso drenado ........................................... 51 Figura 3-10 - Local exato da seção de cálculo ............................................................ 52 Figura 3-11 - Seção de cálculo ................................................................................... 53 Figura 3-12 - Edificação vizinha considerada para a estimativa da sobrecarga .......... 54 Figura 3-13 - Diagrama de empuxos da análise a curto prazo (Análise não-drenada) 57 Figura 3-14 - Diagrama de empuxos da análise a longo prazo (Análise drenada) ...... 59 Figura 4-1 - Superfície crítica para a situação em curto prazo (Análise não-drenada) 65 Figura 4-2 - Superfície crítica para a situação em longo prazo (Análise drenada) ....... 65 Figura 4-3 - Superfície de ruptura escolhida como referência para a alocação dos tirantes ........................................................................................................................ 66 xii Figura 4-4 - Modelo para a solução com tirantes ........................................................ 67 Figura 4-5 - Superfície crítica para a solução proposta ............................................... 69 Figura 4-6 – Procedimento de verificação de estabilidade externa ............................. 70 Figura 4-7 - Modelo para a solução com grampos ...................................................... 71 Figura 4-8 - Superfície crítica para a solução proposta ............................................... 73 Figura 4-9 – Tensões verticais efetivas ao final da fase de geração de estado de tensões ....................................................................................................................... 77 Figura 4-10 - Tensões horizontais efetivas ao final da fase de geração de estado de tensões ....................................................................................................................... 78 Figura 4-11 - Deslocamentos ao final da fase da construção da casa vizinha, exageradas 200x. ....................................................................................................... 78 Figura 4-12 - Deslocamentos ao final da fase de cravação das estacas raiz, exageradas 200x. ....................................................................................................... 79 Figura 4-13 - Deslocamentos ao final da primeira fase de escavação, exageradas 200x. ........................................................................................................................... 80 Figura 4-14 - Deslocamentos ao final da execução da primeira linha de tirantes, exageradas 200x. ....................................................................................................... 80 Figura 4-15 - Deslocamentos ao final da segunda fase de escavação, exageradas 200x. ........................................................................................................................... 81 Figura 4-16 - Deslocamentos ao final da execução da segunda linha de tirantes, exageradas 200x. ....................................................................................................... 81 Figura 4-17 - Deslocamentos ao final da terceira fase de escavação, exageradas 200x. ................................................................................................................................... 82 Figura 4-18 - Deslocamentos ao final da execução da terceira linha de tirantes, exageradas 200x. ....................................................................................................... 83 Figura 4-19 – Tensões verticais efetivas ao final da fase de geração de estado de tensões ....................................................................................................................... 84 xiii Figura 4-20 – Tensões horizontais efetivas ao final da fase de geração de estado de tensões ....................................................................................................................... 85 Figura 4-21 - Deslocamentos ao final da fase da construção da casa vizinha, exageradas 200x. ....................................................................................................... 85 Figura 4-22 - Deslocamentos ao final da primeira fase de escavação, exageradas 200x. ........................................................................................................................... 86 Figura 4-23 - Deslocamentos ao final da segunda fase de escavação e execução do primeiro nível de grampos e revestimento, exageradas 200x. .................................... 87 Figura 4-24 - Deslocamentos ao final da terceira fase de escavação e execução do segundo nível de grampos e revestimento, exageradas 200x. .................................... 87 Figura 4-25 - Deslocamentos ao final da quarta fase de escavação e execução do terceiro e quarto nível de grampos e revestimento, exageradas 200x. ....................... 88 Figura 5-1 – Limites para recalques diferenciais de um edifício (BJERRUM, 1963 e VARGAS & SILVA, 1973) ........................................................................................... 89 Figura 5-2 - Deslocamentos verticais na vizinhança de acordo com cada fase de execução da cortina ancorada .................................................................................... 90 Figura 5-3 - Deslocamentos verticais na vizinhança de acordo com cada fase de execução do solo grampeado ..................................................................................... 91 Figura 5-4 - Deslocamentos verticais ao fim da execução de cada tipo de contenção 92 Figura 5-5 - Deslocamentos horizontais da cortina de acordo com cada fase de execução .................................................................................................................... 93 Figura 5-6 - Deslocamentos horizontais do solo grampeado de acordo com cada fase de execução ............................................................................................................... 94 Figura 5-7 - Deslocamentos horizontais ao fim da execução de cada tipo de contenção ................................................................................................................................... 94 Figura 5-8 - Momentos na cortina de acordo com cada fase de execução .................. 95 Figura 5-9 - Momentos na parede de acordo com cada fase de execução ................. 96 xiv Figura 5-10 - Momentos ao fim da execução de cada tipo de contenção .................... 96 xv LISTA DE TABELAS Tabela 2-1 - Tipos de movimento de acordo com o tipo de material (VARNES, 1978) .. 7 Tabela 2-2 - Características dos métodos de Análise de Estabilidade de Taludes (FREDLUND & KRAHN, 1977 apud STRAUSS, 1998). .............................................. 12 Tabela 2-3 - Cargas a serem aplicadas durante o ensaio de recebimento (Retirado da NBR 05629) ................................................................................................................ 21 Tabela 2-4 - Classificação da agressividade dos meios (Anexo da NBR -5629/96) .... 24 Tabela 2-5 - Tipos de proteção anticorrosiva (Anexo da NBR-5629/96) ..................... 25 Tabela 3-1 - Parâmetros para solos granulares (MARANGON, 2015) ........................ 47 Tabela 3-2 - Parâmetros para solos coesivos (MARANGON, 2015) ........................... 47 Tabela 3-3 -Valores típicos para índices físicos (LAMBE & WHITMAN, 1969) ........... 47 Tabela 3-4 - Angulo de atrito x N60 (QUARESMA et al, apud DÉCOURT, 1991) ....... 47 Tabela 3-5 - Valores empíricos de φ e peso específico, adaptado (BOWLES, 1996) .. 48 Tabela 3-6 - Consistência de solos coesivos saturados, adaptado (BOWLES, 1996) . 48 Tabela 3-7 - Valores típicos de Módulos de elasticidade (GONÇALVES et al, 2014) .. 48 Tabela 3-8 - Constantes elásticas dos maciços rochosos, adaptado (VALLEJO, 2002) ................................................................................................................................... 49 Tabela 3-9 - Valores do peso específico seco de algumas rochas (FEUP) ................. 49 Tabela 3-10 - Classificação RMR para maciços rochosos .......................................... 49 Tabela 3-11 - Correlações propostas para o módulo de elasticidade das rochas por (BIENIAWISKI,1978) E (SERAFIM E PEREIRA,1983) ................................................ 50 Tabela 3-12 - Pesos específicos dos materiais (SANTOS, 2016) ............................... 54 Tabela 3-13 - Valores para cargas acidentais ............................................................. 55 Tabela 3-14 - Resumo dos parâmetros estimados para a situação não-drenada ........ 56 xvi Tabela 3-15 - Resumo dos parâmetros estimado para a situação drenada ................ 58 Tabela 3-16 - Características de tirantes permanentes, adaptado (SOLOTRAT) ........ 60 Tabela 3-17 - Dimensionamento estrutural de estaca raiz (ALONSO, 1993) .............. 62 Tabela 4-1 - Resumo das correlações utilizadas e resultados determinados para a resistência a arrancamento (ORTIGÃO, 1997 e SPRINGER, 2006) ........................... 67 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA As obras de contenção, de maciços de um modo geral, cumprem uma das funções mais importantes em obras vizinhas a terrenos que apresentam topografia bastante irregular, ou em obras, que por necessidade do empreendimento, necessitam de grandes volumes de cortes, causando desníveis significativos entre o terreno original e o seu local de implementação. Nesses tipos de obra se fazem necessários o estudo e dimensionamento prévio das estruturas que serão responsáveis por conter e garantir a segurança do empreendimento em questão. Baseando-se em parâmetros do solo, que nesse caso serão arbitrados a partir de investigações geotécnicas, uma série de teorias se mostram capaz de determinar as situações críticas, que envolverão o projeto, e determinar as soluções mais adequadas possíveis de acordo com as condições do local. Para se obter o conhecimento do subsolo é necessário que sejam executadas investigações geotécnicas adequadas, que tornam possíveis a proposição de um perfil geotécnico do terreno, estimativa dos parâmetros de análise e a classificação das camadas pertencentes a região futuramente retida pela estrutura de contenção. O local escolhido para estudo se situa no terreno de esquina entre a Avenida Jerônimo Afonso e a Rua Cândido Miguel da Costa, em Niterói, e será utilizado para a edificação de uma creche de três pavimentos. A localidade apresenta topografia irregular, sendo as cotas nos fundos do terreno da ordem de sete metros mais elevadas que o ponto menos elevado de sua testada. Essa característica torna fundamental um grande volume de movimentação de terra, e o decorrente desnível com o terreno vizinho. A grande movimentação de terra necessária neste tipo de projeto traz consigo uma série de procedimentos e boas práticas, que devem ser respeitados durante suas fases de execução, em virtude disso a metodologia de escavação empregada é um fator significativo para garantir a segurança e adequada execução do empreendimento. 2 Tendo em vista a abordagem de tais assuntos, o presente trabalho de conclusão de curso propõe o dimensionamento de uma estrutura de contenção como solução para o desnível gerado a partir do corte, do terreno originalmente existente, necessário para a construção da referida creche. 1.2. OBJETIVO DO TEMA O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo principal elaborar um estudo acadêmico, pretendendo expandir o acervo de documento sobre estruturas de contenção e estabilidade de taludes, com enfoque em soluções por métodos computacionais, acima de tudo comparando soluções com ancoragens ativas e passivas, ressaltando a vantagens e desvantagens de uma com relação à outra. O trabalho em questão tem os seguintes objetivos: a) Apresentar um estudo bibliográfico sobre estruturas de contenção, com ênfase nas dos tipos ancoradas e grampeadas, tendo como ferramenta principal de dimensionamento o software Geo Studio. b) Apresentar um estudo bibliográfico sobre a determinação de parâmetros a partir de sondagens a percussão e da classificação das camadas dos solos existentes no terreno. c) Apresentar a metodologia necessária para a concepção e desenvolvimento de um modelo que compreenda a situação real apresentada, e posterior aplicação do mesmo em um software de análise geotécnica capaz de fornecer soluções para o modelo elaborado. d) Apresentar o caso a ser estudado englobando, contextualização e descrição das fases decorrentes para o dimensionamento e execução do objeto de estudo. e) Apresentar tanto a análise de deslocamentos, empregando-se a teoria da elasticidade, quanto a análise de estabilidade ou ruptura, onde verifica-se o equilíbrio limite pela teoria da elasticidade, desconsiderando a deformabilidade do solo pois as rupturas ocorrem com grandes deformações. 3 1.3. JUSTIFICATIVA E MOTIVAÇÃO PARA O TEMA O desenvolvimento do corrente trabalho para a conclusão do curso de graduação em Engenharia Civil na Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro teve como principal fator o interesse do autor de se aprofundar no tema, que lhe foi apresentado em duas oportunidades durante a graduação, sendo a primeira na disciplina “EEC599 Problema Especiais em Fundações e Obras Subterrâneas”, ministrada pelos Professores Rogério Cyrillo Gomes e José Luiz Couto de Souza, e a segunda na disciplina “EEC550 Estabilidade de Taludes e Estruturas de Contenção”, ministrada pelo Professor Leonardo De Bona Becker. Em ambas as disciplinas foi dada a oportunidade ao autor, partindo de uma situação real, buscar, fundamentar e determinar os parâmetros impreterivelmente necessários para a obtenção de uma análise de estabilidade em um determinado problema, e essa parametrização da realidade para uma situação passível de ser analisada através das teorias aprendidas durante o curso, que despertaram no autor a motivação para a idealização do presente trabalho. Desse modo, o autor vislumbrou a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos durante a graduação à realidade de projetos, visando seu desenvolvimento individual em uma área, que o mesmo conta com pouca experiência, exceto a acadêmica, produzindo ao final do trabalho uma memória que contenha informações úteis para a sua vida profissional e acadêmica. 1.4. ABORDAGEM METODOLÓGICA Segundo ARRUDA (2015), a Metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exata de toda ação desenvolvida no método do trabalho de pesquisa, da explicação do tipo de pesquisa ao tratamento dos dados, enfim, de tudo aquilo que se utilizou no trabalho. O ponto de partida para o presente trabalho foi a escolha do local onde seria explorado o assunto desejado. Após conversar sobre as motivações do trabalho com o Professor Rogério Cyrillo, ele propôs o local, situado em Niterói, como objeto de estudo, pois o terreno era favorável as hipóteses que o autor desejava empregar. Logo após essa proposição inicial, foram disponibilizadas a planta de localização - contendo o local das sondagens junto às curvas de nível do terreno - e o boletim de sondagensà percussão executadas no terreno. 4 Partindo dos dados incialmente fornecidos coube ao autor elaborar os perfis do solo necessários para o completo conhecimento da estratigrafia do terreno, sendo um destes utilizado posteriormente como base para o desenho do modelo computacional. Tendo em mãos o perfil representativo para a seção de cálculo definida, procurou-se estimar os parâmetros do solo de acordo com os resultados encontrados nos boletins de sondagens, com base em correlações, que serão no decorrer deste trabalho detalhadas. Com o modelo computacional devidamente definido dá se início às fases de análise da situação problema, e as sugestões de intervenções pretendidas. Utilizando os softwares de apoio, que analisarão o problema em termos de estabilidade e deslocamentos, são feitas as análises global de estabilidade e por fase de execução da contenção, sendo as mesmas sempre fundamentadas em pré-dimensionamentos executadas pelo autor, de maneira que se tenha noção da ordem de grandeza das solicitações presentes em cada situação. Por fim é efetuada a análise dos resultados obtidos respaldada nas referências utilizadas no decorrer do corrente trabalho. 1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO O presente trabalho de conclusão de curso é estruturado em sete capítulos. O primeiro capítulo intenciona fazer uma breve introdução sobre o tema escolhido, esclarecendo objetivos, motivações e metodologia, embasando os conceitos utilizados para a elaboração do trabalho. O segundo capítulo apresenta a revisão bibliográfica que serviu como base ao trabalho. É realizada uma revisão sobre o tema “Estabilidade de taludes e Estrutura de contenção” descrevendo e contextualizando o referido tema a situação problema proposta. Neste capítulo é dada atenção especial aos componentes principais do estudo, como contenções em cortinas ancoradas e estruturas com solo grampeado. O terceiro capítulo apresenta a completa contextualização do problema, descrevendo detalhadamente as condições iniciais do local de estudo, as intervenções necessárias para a implementação do projeto, as correlações empregadas para a determinação 5 dos parâmetros de análise, o pré-dimensionamento feito para aferição dos empuxos de terra causados devido a intervenção. O quarto capítulo apresenta a elaboração do modelo de análise com o auxílio das ferramentas computacionais, e posterior análise e detalhamento dos resultados obtidos, tanto no software de análise de estabilidade, quanto no software de análise de tensão-deformação, que será utilizado para a estimativa dos deslocamentos associados às fases de construção. O quinto capítulo é reservado a análise de resultados obtidos no capítulo anterior, e a apresentação de uma análise comparativa entre os dois tipos de contenção empregados. Por fim, no sexto capítulo são apresentadas as considerações finais sobre o estudo baseando-se nos resultados obtidos e analisados no decorrer do trabalho, listando-se, em seguida, as Referências Bibliográficas, no capítulo 7, utilizadas durante a produção do trabalho, e os anexos. 6 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA “Tradicionalmente, os problemas geotécnicos são considerados em dois grupos distintos: a análise dos recalques ou deformações e a análise da estabilidade ou ruptura. Para o primeiro grupo, o solo é caracterizado pela relação tensão-deformação. empregando-se a teoria da elasticidade. Para a análise da estabilidade, verifica-se o equilíbrio limite pela teoria da elasticidade, desconsiderando a deformabilidade do solo, pois as rupturas ocorrem com grandes deformações.” (PINTO, 1998) A seguinte revisão bibliográfica busca fundamentar, sucintamente, todas as teorias e conceitos relacionadas a elaboração do trabalho apresentado. 2.1. TALUDES Segundo Filho e Virgili (1998, p. 243, apud BASSANELI, 2016), os taludes ou as encostas naturais podem ser definidos como superfícies inclinadas de maciços terrosos, rochosos ou mistos (solo e rocha), criado de processos geológicos e geomorfológicos diversos, podendo apresentar alterações, tais como cortes, desmatamentos e introdução de cargas. Uma ilustração pode ser vista na Figura 2-1. Segundo estes mesmos autores, o termo encosta é comumente empregado em estudos de caráter regional. Os autores classificam os taludes em dois tipos: o talude de corte, entendido como um talude originado de escavações antrópicas diversas; e o talude artificial, que se refere ao declive de aterros construídos a partir de materiais de diferentes granulometrias e origens, incluindo rejeitos industriais, urbanos ou de mineração. Carmignani e Fiori (2009, apud BASSANELI, 2016) apresentam definição análoga de talude, como sendo “toda e qualquer superfície inclinada que limita um maciço de terra, rocha ou de ambas, distinguindo igualmente talude natural (encostas ou vertentes) e artificial (cortes e aterros)”. 7 Figura 2-1 - Figura esquemática de um talude, adapt ado (BASSANELI, 2016). 2.1.1. CLASSIFICAÇÃO DE MOVIMENTOS DE TALUDES A classificação dos deslizamentos de terra e movimentos de massa em encostas não pode ser feita de maneira muito simplificada, pois a combinação de materiais, formas e agentes responsáveis pelos movimentos resultam em condições para diferentes tipos de movimentos. Dentre a série de classificações existentes, de acordo com diferentes critérios, pode- se destacar a apresentada por VARNES (1978), que se baseia no tipo de movimento e material envolvido na ocorrência. A classificação consiste em identificar o movimento por meio de dois nomes, um indicando o tipo de movimento e o outro indicando o material envolvido (Tabela 2-1). Tabela 2-1 - Tipos de movimento de acordo com o tip o de material (VARNES, 1978) Os tipos de movimento, como mostram a Figura 2-2, podem ser: Predominantemente grosso Predominantimente fino Queda Queda de rocha Queda de detritos Queda de terra Tombamento Tombamento de rocha Tombamento de detritos Tombamento de terra Escorregamento ou deslizamento Escorregamento de rocha Escorregamento de detritos Escorregamento de terra Espalhamento Espalhamento de rocha Espalhamento de detritos Espalhamento de terra Corrida Corrida de rocha Corrida de detritos Corrida de terra Tipo de movimento Tipo de material Solos Rocha 8 • QUEDA Movimento de material através de queda livre súbita em encostas muito íngremes e precipícios. O material é comumente desprendido em blocos (BRUNSDEN & PRIOR, 1984 apud AGUIAR, 2008). • TOMBAMENTO Rotação de massa de solo ou rocha em relação a ponto ou eixo localizado abaixo do centro de gravidade da massa deslocada. O tombamento pode ser devido a material sobre o talude e, devido à água ou gelo nas fraturas da massa (TURNER & SCHUSTER, 1996 apud AGUIAR, 2008). • ESCORREGAMENTO OU DESLIZAMENTO Movimento de massa ao longo de uma superfície esperada. Os escorregamentos podem ser subdivididos, de acordo com as superfícies de ruptura, em rotacional, em cunha e planar (BRUNSDEN & PRIOR, 1984 e TURNER & SCHUSTER, 1996 apud AGUIAR, 2008). • ESPALHAMENTO Movimento de extensão lateral, distribuída em massa fraturada (BRUNSDEN & PRIOR, 1984 apud AGUIAR, 2008). • CORRIDA Caracteriza-se pelo fato de que a massa, em movimento, comporta-se como um material viscoso, com os movimentos inter-granulares predominando em relação aos movimentos de superfície de cisalhamento. São movimentos extremamente rápidos, com velocidades superiores a 3m/s, ocasionados pela anulação da resistência ao cisalhamento, em virtude da destruição da estrutura (BRUNSDEN & PRIOR, 1984 e LACERDA, 2003 apud AGUIAR, 2008). • FLUÊNCIA OU RASTEJO São movimentos extremamente lentos. Envolvem, em rochas, deformações profundas e superficiais contínuas, que resultam em dobramentos e torções do material. Nos solos, estes movimentos podem ser contínuos, denominados fluência ou intermitentes,9 ditos rastejo, que estão relacionados com o regime de chuvas (LACERDA, 2003 apud AGUIAR, 2008). Figura 2-2 - Representação gráfica dos movimentos t ipo: queda, tombamento, escorregamento rotacional, em cunha e planar ou translacional, esp alhamento, corrida lenta de terra, de areia seca e de detritos e rastejo ou fluência (TURNER & SCHUSTER, 1996 apud AGUIAR, 2008). 2.2. A TEORIA DO EQUILIBRIO LIMITE Os métodos das linhas de deslizamento e da análise limite são fundamentados na teoria da plasticidade e, podem conduzir a soluções corretas para problemas de estabilidade, respeitando-se algumas condições. Uma técnica alternativa para análise de configurações de colapso é denominada de método do equilíbrio limite. 10 O método consiste primeiramente, em se arbitrar um mecanismo de colapso, constituído por formas genéricas (plana, circular, poligonal e etc) simples ou associadas (Figura 2-3). Em seguida, garantindo-se o atendimento ao critério de escoamento em todos os pontos da superfície, analisa-se o equilíbrio estático da massa de solo que compõe o mecanismo de colapso. Desta forma a resolução do problema se resume na pesquisa do mecanismo de colapso que oferece menos estabilidade à situação. Figura 2-3 - Diferentes mecanismos de colapso, adap tado (AUTOR, 2017) Vale ressaltar que, diferentemente a outros métodos, este método é essencialmente aproximado. Entretanto, a experiência tem mostrado que ele conduz a soluções que concordam bem com as observações de colapso em casos reais de obras (VELLOSO, MARIA E LOPES, 1998). O método se baseia na determinação do equilíbrio de uma massa de solo delimitada por uma superfície de ruptura. Tendo como objetivo a determinação de um fator de segurança (FS). O fator de segurança é uma razão entre ao cisalhamento do talude e a tensão de cisalhamento instabilizante, ao longo de uma suposta superfície. Em caso de superfícies potenciais de ruptura circulares, onde existem momentos resistentes e atuantes, com relação a um ponto, o fato de segurança é dado pela razão entre o momento resistente e o momento instabilizante. As análises por equilíbrio limite impõem as seguintes hipóteses: - Solo encontra-se na iminência de ruptura, ou seja, toda a resistência ao cisalhamento do solo está mobilizada para que se garanta o equilíbrio; 11 - O solo possui comportamento rígido-plástico; - A superfície potencial de ruptura é conhecida ou arbitrada a priori; - Existe mobilização uniforme da resistência ao cisalhamento ao longo da superfície de ruptura, resultando em somente um fator de segurança (FS) ao longo da mesma. Sendo considerada a mobilização uniforme da resistência por toda a superfície de ruptura, o fator de segurança (FS), pode ser calculado pelas expressão: FS = τ�� τ Onde: �rr = Resistência ao cisalhamento na superfície de ruptura, no momento da ruptura. � = Tensão cisalhante atuante na superfície de ruptura 2.3. MÉTODO PARA CÁLCULOS DE ESTABILIDADES DE TALUD ES A análise de estabilidade de taludes compreende um conjunto de técnicas, que tem por objetivo determinar um valor, que quantifique quanto um determinado talude está próximo a ruptura. Alguns dos métodos mais utilizados, para cálculo de estabilidade por equilíbrio limite são caracterizados a seguir. Estes métodos são distintos entre si, quanto à forma da superfície de ruptura considerada, quanto às equações de equilíbrio usadas e quanto às hipóteses sobre as forças entre as fatias do talude. Estas diferenças são apresentadas, de maneira sucinta, na Tabela 2-2. 12 Tabela 2-2 - Características dos métodos de Análise de Estabilidade de Taludes (FREDLUND & KRAHN, 1977 apud STRAUSS, 1998). 2.3.1. MÉTODO DE MORGENSTERN & PRICE Este método foi escolhido para análise de estabilidade do corrente trabalho por ser o método mais geral de equilíbrio limite para qualquer tipo de superfície de ruptura, foi desenvolvido por Morgenstern & Price em 1965, a Figura 2-4 representa os esforços considerados. Figura 2-4 - Fatia de solo analisada isoladamente ( GERSOVICH, 2009, apud MORGENSTERN & PRICE, 1965) Para tornar o problema estaticamente determinado, a relação entre E e T é dada por uma função: Método Circular Equilíbrio de forças Forças entre camadas Talude infinito x Paralelo ao talude Métodos das cunhas x Define inclinação Fellenius x Resultante paralelo à base de cada fatia Bishop x Horizontal Janbu Simplificado x* x Horizontal Lowe e Karafiath x x Define inclinação Spencer x x Inclinação constante Morgenstern & Price x x X/E = λ f(x) Janbu rigoroso x x Define linha de empuxo Fredlund e Krahm x x X/E = λ f(x) Nota 1: E e X são respectivamente as forças horizontais e verticais entre fatias Nota 2: x* significa que o método pode ser adaptado para tal condição 13 T = λf(x)E ou tanθ = T/E = λf(x) Onde λ é um parâmetro que deve ser determinado a partir da solução de f(x). Caso f(x) = 0 a solução se torna idêntica à de Bishop e quando f(x) é constante, a solução se torna idêntica à de Spencer. O método é solucionado iterativamente arbitrando-se valores para FS e λ, em seguida calcula-se E e M(x) para cada fatia. O processo iterativo é repetido até os esforços e momentos serem nulos nas fatias inicial e final, a esquerda e direita das mesmas, respectivamente. x = xo → M(xo) = E(xo) = 0 x = xn → M(xn) = E(xn) = 0 2.4. TEORIA DA ELASTICIDADE Segundo Pinto (1998), quando o solo é submetido a solicitações externas, através de carregamentos ou descarregamentos (escavações), as suas tensões internas são afetadas. Havendo alteração das tensões efetivas, o solo sofre deformação, em consequência de diversos fatores como, a compressão das partículas; algumas partículas com formato de placas, como as micas e as argilas, podem fletir; e as partículas escorregam entre si e se reordenam. Este último aspecto é predominantemente mais importante que os demais, pois dele resultam as deformações observadas externamente ao solo. O comportamento dos solos é estudado pela aplicação da teoria da elasticidade, para as deformações, e pela consideração do equilíbrio limite, para as rupturas. A seguir serão expostas as relações entre as tensões e as deformações, que são expressas por meio de módulos. • MÓDULO DE ELASTICIDADE Um corpo de prova sujeito a uma força normal de compressão sofre deformação, encurtando-se, como na Figura 2-5. O encurtamento dividido pelo comprimento inicial, é denominado deformação, ε, é proporcional a tensão, σ, que atua na seção transversal, sendo esta a hipótese básica da Lei de Hooke. O fator de 14 proporcionalidade entre a tensão aplicada e deformação sofrida é chamada de módulo de elasticidade ou módulo de Young do material, E. Em conjunto com a deformação na direção da força aplicada, ocorrem também ocorrem deformações laterais. As deformações normais à força aplicada são proporcionais a ε, tendo seu fator de proporcionalidade, ν, denominado coeficiente de Poisson. Figura 2-5 - Carregamento de compressão (PINTO,1998) • MÓDULO DE ELASTICIDADE VOLUMÉTRICO Quando são aplicadas três tensões ortogonais de igual valor, a deformação volumétrica é expressa por: εv = 3ε(1-2 ν) De maneira análoga ao módulo de elasticidade E, é definido como módulo de elasticidade volumétrico, K, a relação: K = σ/ εv • MÓDULO DE CISALHAMENTO As deformações de um material também podem ser definidas pelo módulo de cisalhamento, G, caracterizado pela relação entre uma tensão cisalhante aplicada e a distorção por ela provocada, γ, de acordo com a Figura 2-6. O módulo de cisalhamento se relaciona aos parâmetros previamente definidos, devido à ocorrência também de cisalhamento na compressão. Teoricamente, se verifica que: 15 G = E/2(1+ν) Figura 2-6 - Carregamento de cisalhamento (PINTO, 19 98) 2.5. TIRANTES 2.5.1. CONCEITUAÇÃOConforme seu conceito, o tirante é um elemento linear capaz de transmitir esforços de tração entre suas extremidades: a extremidade que fica fora do terreno é a cabeça e a extremidade que fica enterrada é conhecida por trecho ancorado, e denominada comprimento ou bulbo de ancoragem. O trecho que liga a cabeça ao bulbo é conhecido por trecho livre ou comprimento livre (YASSUDA & DIAS, 1998). A norma brasileira NBR 5629/1996 - "Execução de tirantes ancorados no solo", apresentam basicamente o conceito acima exposto. O bulbo de ancoragem, na grande maioria das vezes, é constituído por calda de cimento, que tem por finalidade prover a aderência necessária com o solo. No trecho livre o aço deve estar livre do cimento, ou seja, não deve haver aderência do aço à calda. Para tanto é prática usual se revestir o aço com material que o isole da calda, tal como graxa, tubo ou mangueira de plástico (YASSUDA & DIAS, 1998). Segundo a NBR 5629/1996, o tirante não pode ter um trecho livre com comprimento inferior a três metros. Entende-se que os três metros citados se referem à distância da cabeça ao início do bulbo, que efetivamente transmitirá cargas ao terreno. Ainda de acordo com a norma, o tirante deve ser ensaiado individualmente com cargas de 120% até 175% da carga de projeto, sendo que o bulbo não pode sofrer arrancamento nem deformações excessivas por fluência, durante os ensaios. 16 A NBR 5629/1996 define os tipos de tirantes existentes e os tipos de carregamento que os mesmo podem ser submetidos, como descrito abaixo: • TIRANTE INJETADO Peças particularmente montadas, tendo como elemento principal um ou mais elementos resistentes à tração, que são introduzidas no terreno em perfuração específica, nas quais por meio de injeção de calda de cimento (ou outro aglutinante) em parte dos elementos, forma um bulbo de ancoragem que é ligado à estrutura por meio do elemento resistente à tração e da cabeça do tirante. • TIRANTE PROVISÓRIO Aquele indicado a ser utilizado por tempo inferior a dois anos. • TIRANTE PERMANENTE Aquele indicado a ser utilizado por tempo superior a dois anos. • CARGA LIMITE DE ENSAIO Máxima carga empregada ao tirante para o qual ainda há estabilização do deslocamento. • CARGA DE TRABALHO Carga que pode ser aplicada ao tirante, de modo que este apresente a segurança exigida contra o escoamento do elemento resistente à tração, contra o arrancamento do bulbo e contra deformações por fluência. • CARGA DE INCORPORAÇÃO Carga empregada ao tirante durante a sua incorporação à estrutura. 2.5.2. PRINCIPIO DE FUNCIONAMENTO A função básica do tirante é transmitir um esforço externo de tração para o terreno, através do bulbo. Evidentemente o esforço externo é aplicado na cabeça e transferido para o bulbo através do trecho livre. A transmissão dos esforços é feita pelo elemento 17 resistente à tração, normalmente aço. O aço constituinte do tirante deve resistir ao esforço com uma segurança apropriada em relação ao escoamento e ainda deve ter uma proteção adequada contra a corrosão, conforme definido na norma brasileira, a fim de assegurar a sua durabilidade. O bulbo não deve se romper por arrancamento e nem deformar em demasia em função de cargas de longa duração, por efeito de fluência, com uma margem de segurança adequada. Os valores do fator de segurança da NBR-5629/96 são de 1,75 e 1,5 com relação ao arrancamento, respectivamente para tirantes definitivos e provisórios, e de 1,5 para fluência (YASSUDA & DIAS, 1998). 2.5.3. COMPONENTES Segundo Yassuda e Dias (1998) o tirante na prática da engenharia tem três partes principais: a cabeça, o comprimento livre e o bulbo ou comprimento ancorado, conforme definido pela norma brasileira, que serão definidos a seguir. A Figura 2-7 apresenta os componentes de um tirante com a notação descrita a seguir: 1- Cabeça 1a – Placas de apoio (uma ou mais chapas, groute, etc) 1b – Cunha de grau (metálica, groute ou concreto armado) 1c – Bloco de ancoragem (parafuso, cunha, etc) 2 – Estrutura ancorada 3 – Perfuração do terreno. 4 – Bainha. 5 – Aço, fibra, etc. 6 – Bulbo de ancoragem. 18 Figura 2-7 - Elementos de um tirante (Figura retirad a da NBR 05629) A seguir apresenta-se a descrição de cada componente. • CABEÇA Segundo a NBR 5629/1996 a cabeça é o dispositivo que transfere a carga do tirante à estrutura a ser ancorada, constituído de placas de apoio, cunhas, cones, porcas, etc. A placa de apoio tem a função de distribuir as tensões sobre a estrutura e usualmente é composta por uma ou mais chapas metálicas. Assim, se a estrutura é de concreto, a chapa deve ter um tamanho tal que produza sobre as mesmas tensões de compressão aceitáveis, condicionando o cálculo de punção (YASSUDA & DIAS, 1998). Ainda segundo Yassuda e Dias (1998) a cunha de grau é um elemento empregado para dar alinhamento adequado ao eixo do tirante em relação à cabeça. Os aços empregados em tirantes têm em geral alta resistência à tração, porém têm resistência limitada à flexão. Portanto, o bloco de ancoragem onde o aço é preso deve, obrigatoriamente, ficar muito próximo de 90 graus com relação ao eixo longitudinal do aço. A norma NBR 5629/1996 denomina genericamente de "Bloco de ancoragem" as peças que prendem o elemento tracionado na região da cabeça. Na prática existem três tipos 19 principais: por porca (e eventualmente contraporca), por clavetes denteados ou cunhas e por botões. O sistema de porcas é usado em tirantes de barras nas quais existem roscas, de modo que para prender o aço basta se usar uma porca e, eventualmente, uma contraporca. O sistema de clavetes denteados ou cunhas é usado em tirantes com múltiplos fios ou cordoalhas. O sistema de botões é usado como alternativa para prender os fios junto à cabeça. Neste caso a ponta de cada fio é prensada num macaco apropriado de modo a formar um bulbo com diâmetro maior que o do fio (YASSUDA & DIAS, 1998). • TRECHO LIVRE A NBR 5629/1996 define como a distância entre a cabeça do tirante e o ponto inicial de aderência do bulbo de ancoragem, observada na montagem do tirante e conforme previsto em projeto. No trecho livre o aço deve ser isolado da calda de injeção. Com esta finalidade, durante a montagem do tirante o comprimento livre é protegido por um tubo ou mangueira, cujo interior é injetado em operação independente da execução do bulbo e da bainha, com calda de cimento ou outro material inerte, de forma que seja garantida a aprovação nos ensaios, além de proporcionar uma proteção extra contra a corrosão. Para o caso de tirantes de barra, há a inevitabilidade de serem protegidas também as eventuais luvas de ligação do aço existentes ao longo do comprimento livre (YASSUDA & DIAS, 1998). • TRECHO ANCORADO OU BULBO A NBR 5629 define como o trecho do tirante projetado para transmitir a carga aplicada ao terreno. Por definição existem dois tipos: os que trabalham a compressão e os que trabalham a tração. No primeiro tipo a transferência de cargas do aço para o aglutinante ocorre da extremidade mais profunda em direção ao trecho livre e no segundo, do fim do trecho livre em direção a extremidade mais profunda, ou seja, no primeiro tipo o aço não adere ao aglutinante, já no segundo tipo ocorre a aderência entre o aço e o aglutinante. A transmissão de esforços do aço ao terreno é feita pela calda de cimento que constitui o bulbo. Por apresentarem características diferentes, tanto de dimensões como de aderência, devem ser considerados separadamente o comprimento 20 necessário para ancorar o aço na calda de cimento e o comprimento necessário para ancorar a calda de cimento ao terreno (YASSUDA & DIAS, 1998). 2.5.4. ENSAIOS A seguir descrevem-se os ensaios estabelecidos pela NBR 5629 para verificação da qualidade da execução e de capacidade de carga de tirantes. ANBR 5629/1996 estabelece os conceitos de carga inicial (Fo) e deslocamento inicial para a execução dos ensaios. Por motivos técnicos de medição a força de tração deve ter um valor inicial igual a Fo = 0,1 fyk S, onde fyk é a resistência característica à tração do elemento resistente do tirante e S é a menor seção do elemento resistente à tração do tirante. Por sua vez os deslocamentos iniciais, para carga inicial de ensaio, não são medidos. • ENSAIO BÁSICO Para verificar a correta execução do tirante, observa-se principalmente a conformação do bulbo de ancoragem, a centralização do tirante no bulbo, a qualidade da injeção e a definição do comprimento livre do tirante, através de escavação deste, após o ensaio de qualificação. Desta forma, verifica-se o comportamento do tirante sob a ação de carga por meio dos deslocamentos elástico e permanente, e da capacidade de carga. • ENSAIO DE QUALIFICAÇÃO Neste ensaio são verificados a capacidade de carga do tirante e seus deslocamentos sob carga, calculado o seu comprimento livre e avaliado o atrito ao longo deste comprimento livre, a partir dos deslocamentos observados. O tirante deve ser carregado partindo da carga inicial Fo e seguir pelos estágios 0,4 Ft, 0,75 Ft, 1,0 Ft, 1,25 Ft, e 1,5 Ft, para tirantes provisórios e até 1,75 Ft, para tirantes permanentes, sendo Ft a carga de trabalho do tirante. Após cada estágio, a partir de 1,75 Ft, deve ser procedido o alívio até a carga inicial Fo, seguindo os mesmos estágios do carregamento, com medições de deslocamentos da cabeça, para obtenção dos deslocamentos permanentes. 21 A carga máxima do ensaio deve ser correspondente à carga de trabalho (Ft), multiplicada pelo fator de segurança adotado, e no máximo igual a 0,9 fykS. A NBR 5629/1996 preconiza que devem ser feitas medições das cargas através de correlação com a pressão indicada em manômetro do conjunto manômetro-macaco- bomba. Por sua vez os deslocamentos da cabeça devem ser medidos a partir da carga inicial, em relação a um ponto de referência fixo na extremidade do tirante, na direção da tração aplicada, com extensômetro, com resolução de 0,01 mm. • ENSAIO DE RECEBIMENTO São previstos quatro tipos de carregamentos, conforme a utilização do tirante e sequência de execução, sendo que todos os ensaios devem partir da carga inicial Fo, ir até a carga máxima prevista, retornar à carga inicial Fo e recarregar até a carga de trabalho Ft com medições de deslocamentos da cabeça, tanto nas fases de carga como na de descarga, para as cargas indicadas na Tabela 2-3. Tabela 2-3 - Cargas a serem aplicadas durante o ens aio de recebimento (Retirado da NBR 05629) A NBR 5629/1996 preconiza que devem ser feitas medições das cargas através de correlação com a pressão indicada em manômetro do conjunto manômetro-macaco- bomba. Por sua vez os deslocamentos da cabeça devem ser medidos com régua graduada, a partir da carga inicial Fo, em relação a um ponto de referência fixo na extremidade do tirante, na direção da tração aplicada, em relação à viga ou à linha de referência fixada em local livre da influência dos movimentos localizados da estrutura ou do terreno. Conjuntamente é estabelecido na NBR 5629/1996 que os ensaios devem atender a seguinte distribuição: Para tirantes definitivos é preciso executar ensaios do tipo A em pelo menos 10% dos tirantes da obra e do tipo B nos restantes; e para tirantes provisórios é necessário executar ensaios do tipo C em pelo menos 10% dos tirantes da obra e do tipo D nos restantes. Tirante Ensaio Estágios de carga e descarga Permanente Tipo A Fo e 0,3Ft; 0,6Ft; 0,8Ft; 1,0Ft; 1,2Ft; 1,4Ft; 1,6Ft e 1,75Ft Permanente Tipo B Fo e 0,3Ft; 0,6Ft; 0,8Ft; 1,0Ft; 1,2Ft e 1,4Ft Provisório Tipo C Fo e 0,3Ft; 0,6Ft; 0,8Ft; 1,0Ft; 1,2Ft e 1,5Ft Provisório Tipo D Fo e 0,3Ft; 0,6Ft; 0,8Ft; 1,0Ft e 1,2Ft 22 • ENSAIO DE FLUÊNCIA O ensaio consiste em medir deslocamentos da cabeça do tirante tracionado pelo macaco, sob carga constante, no mínimo para os seguintes tempos, em cada estágio: 10 min, 20 min, 30 min, 40 min, 50 min e 60 min. Os ensaios devem ser executados com carga constante e nos seguintes níveis de carregamento: 0,75 Ft; 1,00 Ft; 1,25 Ft; 1,50 Ft; e 1,75 Ft. A partir de 60 min, as medições podem ser consideradas suficientes e o estágio concluído, se o deslocamento nos últimos 30 min for inferior a 5% do deslocamento total do ensaio; caso contrário, devem ser procedidas medições a cada 30 min até a condição acima ser satisfeita (ABNT 5629, 1996) A NBR 5629/1996 recomenda que devem ser feitas medições das cargas devem ser mantidas as mais estáveis possíveis, aceitando-se no máximo um intervalo de ± 3% em relação à carga base do estágio, e ser controladas através da correlação com a pressão indicada no conjunto manômetro-macaco-bomba. No que lhe diz respeito os deslocamentos devem ser medidos a partir da carga inicial (Fo), em relação a um ponto de referência fixo na extremidade do tirante, na direção da tração aplicada, medido com dois extensômetro com resolução de 0,01 mm, instalados diametralmente opostos em relação ao eixo do tirante. 2.5.5. MÉTODO EXECUTIVO O seguinte processo de execução de tirantes descrito a seguir deve ser obedecido. O processo apresentado foi redigido conforme as publicações de Yassuda e Dias (1998) para a segunda edição do livro “Fundações Teoria e Prática”. • PREPARO DO TIRANTE Inicialmente o aço é cortado e/ou emendado no comprimento de projeto, bem como todas as equipagens auxiliares tais como bainhas, tubos de injeção etc. Os devidos cuidados devem ser tomados com os componentes do tirante, como descrito a seguir: Barras de aço As emendas devem ser planejadas de forma que fiquem no limite do comprimento livre com o bulbo. Preferencialmente, não devem haver emendas ao longo do trecho livre, quando inevitáveis, devem ser posicionadas o mais próximo possível do bulbo. O aproveitamento de pontas restantes deve, preferencialmente, limitar-se ao bulbo. 23 Os aços utilizados na confecção do tirante devem vir acompanhados do certificado do lote de fabricação, a fim de atestar a sua qualidade, e evitar possíveis confusões com tipos de aços de mesmo aspecto. Placas e cunhas de grau Deve ser dada atenção especial às dimensões destas peças. Placas com dimensões inferiores ao necessário podem causar o puncionamento do concreto, e cunhas que não fornecem a ortogonalidade necessária da cabeça com o eixo longitudinal do tirante resultam em flexão composta do elemento, que é crítica em elementos sujeitos a consideráveis cargas de tração, especialmente em aços especiais de alta resistência a tração. Proteção anticorrosiva do aço A NBR 5629/1996 estabelece condições rigorosas quanto ao tratamento que deve ser dado ao tirante, para que os mesmos não sofram envelhecimento e nem alterações importantes quando estiverem sob tensão, durante sua vida útil. As proteções estão divididas nas classes 1 a 3 e são aplicáveis para cada tipo de tirante e solo. A norma apresenta uma tabela para caracterizar a agressividade do meio (Tabela 2-4) e outra resumindo os tipos de proteção necessários (Tabela 2-5). 24 Tabela 2-4 - Classificação da agressividade dos mei os (Anexo da NBR -5629/96) Não agressivo Medianamente agressivo Muito agressivo Águas puras residuo filtrável (*) > 50 150 a 50 < 50 Águas ácidas pH > 6,0 pH 5,5 a pH 6,0 pH < 5,5 Águas ácidas com CO2 dissolvido < 30 30 a 45 > 45 Águas selenitosas teor de SO4 < 150 150 a 500 > 500 Águas magnesianas teor de Mg++ < 100 100 a 200 > 200 Águas amoniacais teor de NH4+ < 100 100 a 150 > 150 Águas com cloro teor de Cl < 200 200 a 500 < 500 A determinação precisa do grau de agressividade do solo é assunto controvertido, encontrando- se, na literatura especializada, as mais variadas indicações. Como orinetação preliminar, são fornecidos os valoresda tabela. Grau de agressividade do meio (unidades em mg/l) Tipos de águas freáticas Casos especiais: No caso de obras em terrenos próximos à fábricas de produtos quimicos corrossivos, junto ao mar ou rios poluidos, dever-se-á procurar um especialista em corrosão. (*) são as águas de montanhas, de fontes, com ação lixiviante, que dissolvem a cal livre e hidrolisam os silicaros e aluminatos do cimento. 25 Tabela 2-5 - Tipos de proteção anticorrosiva (Anexo da NBR-5629/96) Aplicação das proteções Considerando que a falha ou ruptura de um tirante se dá pontualmente, é necessário apenas um ponto mal protegido quanto a corrosão, para que todo o tirante esteja sujeito a falha. Desta forma é indispensável considerar: Banho das peças metálicas em fluido decapante e desengordurante, antes da aplicação da proteção. Classe - Aplicação Proteção Classe 1: - Tirantes permanentes em meio muito ou medianamente agressivo - Tirantes provisórios em meio muito agressivo Exigido o emprego de duas barreiras fisicas em todo o comprimento (*): Trecho ancorado: - revestido com tubo plástivo ou tubo metálico com espessuta mínima de 4 mm. Trecho livre: a) graxa + duro plástico individual por fio ou cordoalha + duto plástico envolvendo todo o conjunto + cimento entre os dutos b) ou graxa + duto plástico envolvido por outro duto plástico + cimento no vazio entre os dois dutos + cimento entre o tubo de fora e o terreno. Classe 2: - Tirantes permanentes em meio não agressivo - Tirantes provisórios em meio medianamente agressivo Trecho ancorado: - utilização de centralizadores de forma a garantir um recobrimento mínimo de 2cm. Trecho livre: Idêntico à classe 1. Classe 3: - Tirantes provisórios em meio não agressivo Trecho ancorado: - utilização de centralizadores. Trecho livre: - proteção por um duto plástico abrangendo individualmente cada barra, fio ou cordoalha ou um duto plástico envolvendo o conjunto destes. (*) Entendendo-se por barreira física de proteção anticorrossiva um dos seguintes componentes: - películas protetoras sintéticas (tintas e resinas); - tubo contínuo de polipropileno, polietileno, PVC ou similar; - graxa, quando houver garantia de recobrimento, continuidade e permanência no local da aplicação e for específica para uso em cabo de aço. - tratamento superficial de galvanização ou zincagem; - nata ou argamssa à base de cimento: válida apenas para tirantes provisórios ou como primeira proteção de um sistema duplo e quando utilizado cimento com teores de: - Cloro toral: 0,05% da massa de cimento - Enxofre: 0,15% da massa de cimento Nota:Álem do que prescreve a norma, é recomendável o us de um dispositivo que assegure a continuidade da proteção na transição do trecho livre para a cabeça do tirante. Este dispositivo pode ser um tubo de PVC, engastado na estrutura de concreto, com comprimento sobressaindo do concreto e penetrando no terreno, em cerca de 40 cm, à semelhança da recomendação da norma francesa TA 77. 26 Proteção adicional nas emendas dos tubos de proteção. Aplicação de graxa ou calda de cimento sempre por injeção. O tratamento deve ser feito em local adequado, em oficinas ou instalações especiais no canteiro, devidamente abrigado do vento e chuva. Montagem O tirante pode ser montado em oficina ou, até mesmo no próprio canteiro, desde que atenda as condições mínimas, a bancada de montagem deve ter comprimento igual a no mínimo ao maior tirante da obra. Os acessórios devem ser abastadamente resistentes e bem instalados para não serem danificados durante o transporte do tirante, mantendo-se fixos durante a introdução no furo. Neste momento, deve ser garantido especialmente o posicionamento dos espaçadores e válvulas. • PERFURAÇÃO Deve seguir precisamente a locação, inclinação e direção indicadas no projeto. É frequente que a perfuração ultrapasse o comprimento teórico de projeto em alguns decímetros para que haja espaço, que eventualmente poderá abrigar materiais que não foram totalmente removidos durante a perfuração, e que serão conduzidos ao fundo do furo durante o processo. O diâmetro da perfuração deve ser compatível com o do tirante montado, a folga é geralmente de 1 a 2 cm em relação aos espaçadores. O tipo de equipamento e metodologia deve atender, especificamente, o tipo de terreno, comprimento e diâmetro do furo, como também as características do tirante. Desta forma é importante considerar: Para tirantes sem sistema de reinjeção, é recomendado que o furo seja totalmente revestido para garantir o recobrimento do aço e para permitir boa eficiência no processo de injeção única. Em rocha sã, rocha alterada ou solo seco, poderá ser feito perfuração com equipamentos de rotopercussão e limpeza do furo com ar comprimido. Podem ser utilizados lama ou fluido especial para facilitar o processo de perfuração, desde que inertes ao cimento e aço. 27 • INJEÇÃO DO TIRANTE Estágio único É empregada para o chumbamento de tirantes desaparelhados de válvulas de reinjeção. Na grande maioria são tirantes de barra única. É também conhecido como injeção de bainha. A metodologia que deve ser desempenhada para se atingir o padrão necessário, consiste na seguinte sequência de atividades: Perfuração com revestimento até o final do furo Lavagem final do furo com água limpa deve ser procedida até a água de retorno se mostrar limpa. Ou limpeza final com ar comprimido, caso tenha sido este o processo de perfuração. Preenchimento do furo com calda de cimento, a partir de seu fundo, sendo mantido o revestimento.Introdução do tirante e instalação da cabeça de injeção no revestimento. Injeção de calda de cimento sob pressão simultaneamente à retirada do revestimento. O revestimento deve ser retirado por fases, com comprimento de 1m a 3m, na região do bulbo. Reinjeção única Compreende a aplicação de um único estágio de injeção após a execução da injeção em estágio único. Para a aplicação desta reinjeção é necessário a instalação de um tubo paralelamente ao tirante, dotado de válvulas de estágio único. A calda de cimento sob pressão é aplicada de maneira que apenas as válvulas posicionadas em região mais frágil do terreno se abrirão. Estágios múltiplos Durante a montagem do tirante é instalado paralelamente um tubo de injeção de PVC, que permite o deslocamento de um obturador em seu interior. Neste tubo são feitas válvulas reinjetáveis em locais pré-determinados, que podem ser acessadas pelo obturador, que aplicará pressão e volume de calda controlados, em tantos estágios forem necessários. 28 A metodologia que deve ser desempenhada para se atingir o padrão necessário, consiste na seguinte sequência de atividades: Com o tirante já disposto no furo, é feita a injeção, através da válvula mais profunda, até que haja total preenchimento do furo. Após a pega do cimento, que ocorre em aproximadamente 10 horas, é feita a primeira etapa de reinjeção. Neste estágio as válvulas são injetadas individualmente com auxílio de um obturador duplo. A abertura da válvula se dá por meio da força decorrente da calda sob pressão, após essa ocorrência a calda é injetada pelas fissuras da bainha, atingindo o terreno. Neste instante é registrada uma queda de pressão no sistema de injeção, que caracteriza a abertura da válvula. A calda irá preencher os possíveis vazios ou falhas da bainha, em seguida irá comprimir o terreno, que provocará a ruptura hidráulica do mesmo, a calda se infiltrará pelas fissuras provocadas por este fenômeno, gerando a denominada “clacagem” do terreno. Terminada a injeção deste estágio, deve ser feita a lavagem do tubo. • PROTENSÃO Segundo a NBR 05629, todos os tirantes de uma obra devem ser submetidos a ensaios de protensão. Os ensaios devem ser executados como descritos anteriormente neste trabalho. A protensão do tirante é comumente executada contra a estrutura, por meio de um conjunto macaco hidráulico-bomba-manômetro, o qual deve ser previamente aferido em instituição idônea. Os seguintes cuidados devem ser tomados: Os tirantes, em caso de cortinas a serem aterradas, devem somente ser testados após a devida compactação e/ou termino do aterro, caso contrário podem ocorrer deformações excessivas, fissuras e até mesmo ruptura da estrutura. No caso de execução de cortinas pelo método descendente, é necessário que os testes sejam feitos parcialmente, pois há riscos de carregamento excessivo durante os ensaios, caso o teste seja executado antes da escavação dos níveis subjacentes. Os testes parcialmente feitos devem ser finalizados quando a estrutura tiver altura suficiente. 29 • INCORPORAÇÃO A incorporação do tirante à estrutura somente pode ser procedida de forma definitiva após a constatação do bom desempenho do mesmo através do ensaio de recebimento. O valor da carga de incorporação deve considerar possíveis deformações do maciço arrimado. A NBR 05629 preconiza que a carga de incorporação, seja indicada no projeto e esteja entre 80% e 100% da carga de trabalho. • PROTEÇÃO DA CABEÇA A parte mais vulnerável de uma ancoragem está na cabeça e proximidades, devido a ação de intempéries. De uma maneira geral deve-se considerar para a proteção da cabeça: Limpeza e aplicação de tinta anticorrosiva, após a incorporação. Execução de capa de argamassa de cimento e areia, a fim de garantir um recobrimento de no mínimo 2 cm de todas as partes metálicas. Em zonas mais agressivas, regiões marinhas, é aconselhável a aplicação de cola para concreto a interface entre a estrutura e a argamassa de proteção. Em tirantes definitivos, é recomendável a injeção com calda de cimento de um tubo adicional de PVC incorporado à estrutura envolvendo os primeiros 0,4 m do trecho livre. 2.5.6. LIMITAÇÕES E VANTAGENS DO MÉTODO A solução de cortinas ancoradas para uma contenção oferece uma série de vantagens, obviamente, desvantagens também estão atreladas a este tipo de alternativa, a seguir serão listadas algumas dessas características que a solução apresenta: • VANTAGENS Os tirantes trabalham ativamente, devido à protensão, suportando esforços com baixo deslocamento associado da estrutura. 30 Todos os tirantes são ensaiados individualmente, garantindo segurança quanto à qualidade da execução. É capaz de suportar elevadas cargas de solicitação, contendo taludes com grandes alturas. Podem ser empregados em diversas situações, como na contenção de taludes de corte ou de aterro e contenção de blocos de rocha. Não oferece tensões elevadas na base. • DESVANTAGENS Em alguns casos os tirantes necessitam de elevados comprimentos, o que, pode gerar a necessidade de penetrar no subsolo das vizinhanças. Durante o processo de injeção de ancoragem pode ocorrer deformações, devido às pressões desenvolvidas, como o levantamento do terreno, o que oferece riscos as construções vizinhas. Em consequência da baixa densidade de tirantes empregados, a falha de um elemento pode resultar em elevadas solicitações aos demais. 31 2.6. SOLO GRAMPEADO 2.6.1. CONCEITUAÇÃO O solo grampeado ou solo pregado é uma técnica em que o reforço do maciço é obtido por meio da inclusão de elementos, como grampos ou pregos, resistentes à tensões de tração, esforços cortantes e momentos de flexão. Os elementos de reforço são muito semelhantes às ancoragens, porém sem pré-tensão ou trecho livre. Os grampos são posicionados sub-horizontalmente ou inclinados no maciço por processo de cravação (grampos cravados) ou injeção (grampos injetados) de maneira que introduzam esforços resistentes de tração e cisalhamento (ORTIGÃO et. al., 1993). Segundo Ortigão et al. (1993) a técnica foi empregada no Brasil de maneira intuitiva por construtores de túneis em 1970, mas que esta experiência bem sucedida não foi devidamente disseminada. Em 1972, foi utilizada pela primeira vez na França com o nome de sol cloué. A obra realizada na França, anteriormente citada, consistia em uma estrutura temporária de um talude ferroviário, apresentando alta densidade de grampos reduzido comprimento, de 4 a 6m (Figura 2-8). O solo era constituído de arenito de Fontainbleau. O espaçamento entre grampos foi da ordem de 70 cm. Os reforços foram injetados em furos de cerca de 100 mm de diâmetro em talude de 70º (ZIRLIS, 1998 e LIMA, 2007). Figura 2-8 - Grampeamento do solo realizado na Fran ça (CLOUTERRE, 1991 apud LIMA, 2007) 32 Nos Estados Unidos, foi realizada uma escavação, em 1976, de 13,7m de profundidade, gerando 2.140m² de área total da face de um talude vertical a ser contido para a instalação do Hospital Good Samaritan em Portland, Oregon. O solo era caracterizado por sedimentos medianamente compactos a compactos de areia fina e silte. Sendo uma obra pioneira, um grande número de instrumentação e estudos foram realizados na época (ZIRLIS & PITTA, 1992). Segundo Ortigão et. al., após a aplicação do método de forma intuitiva em 1970, a técnica foi novamente utilizada a partir de 1976, em São Paulo em muros de até 12 metros de altura, com grampos executados em concreto moldado in loco e a face de elementos pré-moldados. Entre os anos de 1983 a 1993 foram documentadas 20 obras utilizando a referida técnica, indicando a disseminação do método pelo país. 2.6.2. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO O comportamento mecânico do solo grampeado está baseado na concepção que o solo atrás do talude possa ser subdividido em duas
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