Buscar

Linguística e educação bilíngue

Prévia do material em texto

17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 1/42
Linguística e educação bilíngue
Prof. Nataniel Gomes
Descrição
Conceito de ensino bilíngue, políticas linguísticas para a educação bilíngue e a contribuição da Linguística
para a educação bilíngue.
Propósito
Compreender as concepções de ensino bilíngue e as contribuições dos estudos linguísticos na educação
bilíngue para o desenvolvimento das competências necessárias à atuação como professor de Língua
Portuguesa na educação básica.
Objetivos
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 2/42
Módulo 1
Ensino bilíngue: conceitos e de�nições
Identificar os diversos conceitos e definições ligados ao bilinguismo.
Módulo 2
Políticas linguísticas para a educação bilíngue
Reconhecer as políticas linguísticas para a educação bilíngue.
Módulo 3
Linguística e a educação bilíngue
Relacionar os estudos linguísticos à educação bilíngue.
Introdução
Os limites da sua linguagem são os limites do seu mundo.
(WITTGENSTEIN, 2001, p. 5)
O domínio de uma segunda língua passou a ser reconhecido como um diferencial no mercado de trabalho,
sobretudo em um mundo globalizado. Responsáveis e pais começaram a buscar formas para facilitar o
ingresso de crianças e jovens no contexto de segunda língua, principalmente em escolas.

17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 3/42
Muitos se perguntam se realmente a melhor opção seria matricular as crianças em escolas bilíngues. Ou
seja, garantir a vivência delas em ambientes que privilegiam o domínio da segunda língua, oferecendo um
ensino de qualidade e contemplando aspectos sociais, culturais e linguísticos.
Essas e outras questões sobre o bilinguismo ganham cada vez mais interesse e apontam para o
entendimento de que ampliar os limites da linguagem também significa ampliar as possibilidades e o
próprio mundo.
Por isso, vamos estudar esse assunto tão interessante!
1 - Ensino bilíngue: conceitos e de�nições
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os diversos conceitos e de�nições
ligados ao bilinguismo.
O bilinguismo
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 4/42
A demanda pelo bilinguismo
Existem mais de seis mil idiomas em uso no mundo. Na verdade, esse número pode até ser muito maior, já
que nem sempre é fácil diferenciar língua de dialeto.
As quatro línguas mais faladas atualmente, na ordem, são:
1. Inglês
2. Mandarim
3. Hindi
4. Espanhol
É evidente que o inglês se tornou uma língua franca, ou seja, de comércio e contato em todo o mundo. Isso
não nos leva a ignorar que, em cada país ou região, pode haver outra língua, além do inglês e da língua
materna, que também desperte interesses ou seja relevante em alguma perspectiva.
Em nosso país, há uma demanda cada vez maior pela educação bilíngue. Uma prova disso é o crescimento
de escolas desse segmento, que buscam atender aos interesses de muitos pais e à própria demanda
imposta pelo mercado de trabalho. São escolas que procuram superar a seguinte situação: nem todos os
docentes dominam uma segunda língua.
Saiba mais
A Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi) estima que, entre 2014 e 2019, houve um crescimento de
6 a 10% de escolas bilíngues privadas no Brasil. A Abebi também aponta que, em 2019, cerca de 1.200
escolas eram bilíngues ou desenvolviam algum programa do tipo.
Durante um bom tempo, havia a crença de que o ensino de uma segunda língua poderia confundir os jovens
aprendizes, dificultando a aprendizagem da língua materna e da estrangeira. Esse conceito ainda persiste no
entendimento de muita gente.
Já se sabe, porém, que o bilinguismo traz inúmeros benefícios para o falante. Podemos citar pelo menos
dois deles:
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 5/42
Identi�cação com outra cultura
Possibilidade de se colocar no lugar do outro a partir de seu contexto linguístico e cultural.
Aprimoramento de aspectos cognitivos
Ressignificação de conceitos e expansão da memória.
Alguns estudiosos chegam a afirmar que o bilíngue tende a se tornar mais analítico em sua tomada de
decisões. Uma hipótese é que, ao adquirir uma língua, o falante percebe determinadas nuanças do idioma, o
que implica atenção redobrada.
Exemplo
Talvez por isso estudantes bilíngues tendam a obter resultados melhores em testes com matemática ou em
atividades multitarefas.
Concepção de bilinguismo
O que é bilinguismo
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 6/42
Existem diversas definições para o bilinguismo: uma das mais comuns está ligada à coexistência de dois
sistemas linguísticos utilizados por um falante. Mas há outros sentidos para o termo.
Para alguns, o bilíngue é capaz de falar duas línguas sem esforço; para outros, seria aquele indivíduo que se
expressa sem cometer erros graves e mantém uma pronúncia correta. As fartas definições e divergências
sobre o termo acontecem por falta de critérios para uma definição mais consensual entre os estudiosos.
Na verdade, a compreensão do bilinguismo mudou com o avanço dos estudos da Linguística, mas isso não
elimina de todo a dificuldade de se estabelecer uma definição que ajude a delimitar o termo de forma
suficientemente exata. No século XX, a definição mais comum para o bilinguismo estava ligada a indivíduos
que dominavam duas ou mais línguas perfeitamente.
Para Grosjean (2017), as situações a seguir seriam casos de bilinguismo:
Crianças cujos pais falam duas línguas e aprenderam esses idiomas simultaneamente antes dos três
anos de idade.
Jovens que participam de jogos virtuais em uma comunidade na qual determinado idioma é a língua de
contato.
Pessoas que leem e escrevem frases básicas de determinada língua.
Indivíduos que entendem determinada língua, mas não conseguem falar.
Grosjean (2017) entende que os falantes bilíngues usam duas línguas que aprenderam ou adquiriram em
seu cotidiano, alternando seu uso de acordo com suas necessidades e objetivos, como apresentamos nos
quatro casos acima.
Esses falantes se valem do conhecimento linguístico que têm e das suas habilidades para comunicação,
seja no ato de ler, de ouvir, de falar ou de escrever nos idiomas que fazem parte das suas experiências do
dia a dia.
Se for feita uma rápida pesquisa nos dicionários, é provável que o termo “bilinguismo” apareça associado ao
indivíduo que fala duas línguas.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 7/42
Vejamos como o linguista canadense William Francis Mackey (apud MEGALE, 2005, p. 3) resume as quatro
questões que devem ser levadas em conta no estudo do bilinguismo:
Grau de pro�ciência
Não precisa ser equivalente em todos os níveis linguísticos, pois “o indivíduo pode, por exemplo, apresentar
vasto vocabulário em uma das línguas, mas nela apresentar pronúncia deficiente”.
Função e o uso das línguas
Em outras palavras, as circunstâncias nas quais o falante usa duas línguas devem ser estudadas no
bilinguismo.
Alternância de código
Ou seja, a constância e as condições em que o falante muda o uso de uma língua para a outra devem ser
consideradas na definição do bilinguismo.
Interferência
O modo como uma língua influencia a outra e como uma interfere na outra precisa ser considerado na
pesquisa sobre o bilinguismo.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 8/42
Harmers e Blanc (2000 apud MEGALE, 2005, p. 3-5) avançam nessa questão do estudo e definição do
bilinguismo e propõem seis dimensões que devem ser consideradas. Veja cada uma delasa seguir:
Apresenta duas competências linguísticas relacionadas às seguintes definições:
Bilinguismo balanceado: o falante bilíngue balanceado é aquele que possui competência linguística
semelhante nas duas línguas em questão, mesmo que a fluência não seja elevada.
Bilinguismo dominante: corresponde ao falante que possui competência maior em uma das
línguas em questão - normalmente, na língua nativa.
Trata de dois conceitos:
Bilinguismo composto.
Bilinguismo coordenado.
O falante é considerado bilíngue composto quando apresenta apenas uma representação cognitiva
para duas traduções análogas, enquanto o bilíngue coordenado é aquele que tem duas
representações para as duas traduções. O falante pode ser mais composto em determinados
conceitos e mais coordenado em outros.
Um indivíduo que estudou duas línguas na infância ao mesmo tempo deve apresentar uma
representação cognitiva para as duas traduções. Já o falante que aprendeu a segunda língua em
contextos diferentes da língua materna normalmente apresenta representações distintas para as
duas traduções.
A faixa etária afeta vários aspectos do desenvolvimento do falante, como o desenvolvimento
linguístico, neuropsicológico, cognitivo e sociocultural. Essa dimensão divide o bilinguismo em
infantil, adolescente e adulto.
Competência relativa 
Organização cognitiva 
Idade de aquisição 
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 9/42
O bilinguismo infantil acontece de forma simultânea ao desenvolvimento cognitivo, podendo
influenciar esse desenvolvimento. Haveria uma subdivisão do bilinguismo infantil em:
Bilinguismo simultâneo: ocorre com as duas línguas simultaneamente.
Bilinguismo consecutivo: a segunda língua é adquirida na infância após a aquisição da estrutura da
língua materna.
Já o bilinguismo adolescente ou adulto ocorre durante essas faixas etárias.
De acordo com a presença ou a ausência de usuário de segunda língua no ambiente do aprendiz,
teremos:
Bilinguismo endógeno: duas línguas são utilizadas como nativas na comunidade, podendo ou não
ser usadas para propósitos institucionais.
Bilinguismo exógeno: os dois idiomas são considerados oficiais, mas não são utilizados de forma
institucional.
A partir da situação da segunda língua na comunidade do estudante, o falante pode desenvolver o
bilinguismo aditivo ou o subtrativo.
Bilinguismo aditivo: as duas línguas são valorizadas no desenvolvimento cognitivo da criança, e a
aquisição da segunda língua ocorre sem prejuízo da língua materna.
Bilinguismo subtrativo: a língua materna é desvalorizada no ambiente da criança, produzindo
desvantagens no processo de aquisição da segunda língua, ocorrendo a perda ou o prejuízo da
língua materna.
Desde o aspecto cultural, podemos ter os bilíngues:
Biculturais: o falante se identifica em dois grupos culturais, sendo reconhecido em ambos.
Monoculturais: o falante se identifica e é reconhecido apenas por um dos grupos; embora seja
bilíngue, ele permanece monocultural.
Presença ou não de indivíduos falantes da segunda língua 
Status da segunda língua 
Identidade cultural 
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 10/42
Aculturais: o falante abandona sua identidade cultural ligada à língua materna e assume valores de
falantes da segunda língua.
Descultural: o falante abandona sua identidade cultural, porém não consegue assumir perspectivas
culturais dos falantes da segunda língua.
Harmers e Blanc compreendem o bilinguismo a partir de concepções multidimensionais que levam em
conta a linguística e outras ciências, como a Psicologia e a Sociologia. Essa é a tendência atual - e assim é
que se deveria estudar o bilinguismo, levando em conta a análise individual, interpessoal, intergrupal e
mesmo social (MEGALE, 2005).
Bilinguismo e aquisição da linguagem
Abordagem gerativista
Ainda é bastante comum questionar o bilinguismo, afirmando que ele não existe em nosso país. Quando se
faz uma declaração assim, acaba-se excluindo os falantes de outras línguas, inclusive aqueles com
competência em uma das quatro habilidades, conforme veremos mais adiante.
Para o linguista norte-americano Thomas Roeper (1999), todo falante nativo tem um conjunto de pequenas
gramáticas para diferentes domínios.
Nesse sentido, todo falante é bilíngue, ou seja, todos são bilíngues no próprio idioma.
A partir de uma perspectiva gerativista de Chomsky, a língua seria o estado estacionário de
desenvolvimento de uma “gramática materna” ou internalizada. Desse modo, o usuário, ao ser exposto a
diferentes gramáticas, produz variações dessa gramática materna ou internalizada.
O mesmo processo acontece quando se alguém se expõe a diferentes línguas simultaneamente. Por isso,
Roeper (1999) usa o conceito das “gramáticas múltiplas” ou “bilinguismo universal”.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 11/42
Conforme a teoria de Chomsky sobre a aquisição da linguagem, a criança inserida em duas línguas
desenvolve duas gramáticas, as quais chamaremos de língua A e de língua B. Assim, as duas línguas terão
algo bem próximo do mesmo nível de desempenho linguístico por parte do falante.
A partir de um olhar do bilinguismo consecutivo apresentado anteriormente, assim como ocorre na
aquisição da língua materna, as crianças encontram uma atividade semelhante ao processo de
desenvolvimento da língua: a necessidade de dominar um sistema gramatical a partir dos dados linguísticos
apresentados a ela.
A aquisição é um problema que Chomsky (2002) tem tentado responder também é conhecida como
“Problema de Platão” (baseado no diálogo Mênon, de Platão). No famoso diálogo, Sócrates demonstra para
Ménon que possuímos certos conceitos matemáticos, mesmo sem passar pela escola, que nos permitem
que fazer cálculos geométricos de forma intuitiva.
Podemos saber bastante, mesmo com poucas evidências.
Tal questão na área da Linguística tem servido para nortear o processo de aquisição da linguagem. É uma
forma de tentar explicar como é possível adquirir a língua materna de forma inata se os dados apresentados
são caóticos - e isso ocorre em uma idade na qual a criança ainda não realiza raciocínios lógicos e
analíticos.
Uma pressuposição importante no processo de aquisição é que o falante não é exposto a dados ordenados
e a todas as estruturas que a língua possui, mas, mesmo assim, ele adquire a língua. Ou seja, o surgimento
de propriedades abstratas, para as quais o aprendiz não recebeu instrução formal, indica a existência de
princípios da gramática universal guiando ou restringindo as possíveis gramáticas da segunda língua.
ramática universal
Conceito de Chomsky que pode ser resumido como o conhecimento inato que o ser humano possui para
adquirir a língua materna.

17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 12/42
Conceitos de bilinguismo
No vídeo a seguir, confira as explicações sobre o contexto, os conceitos e as abordagens teóricas do
bilinguismo.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Pesquisas recentes indicam que falar duas línguas pode ter um profundo impacto no modo como
pensamos e agimos, sendo uma exigência cada vez mais presente no mundo contemporâneo
caracterizado por um globalismo que aprofunda as conexões entre pessoas de diferentes origens
linguísticas. Nesse sentido, assinale a alternativa que apresenta corretamente as vantagens do
bilinguismo.
A
Combate ao envelhecimento, menor flexibilidade mental e maior apreensão da realidade
multicultural.
B
Maior desenvolvimento cognitivo, capacidade de apreensão do diferente e expansão da
memória.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html#13/42
Parabéns! A alternativa B está correta.
No passado, havia o mito de que aprender ou adquirir uma segunda língua poderia prejudicar o uso da
língua materna. Mas as pesquisas mostram que dominar duas línguas confere um benefício cognitivo,
incluindo a capacidade de memória. Além disso, há uma exigência cada vez mais profunda no mundo
contemporâneo caracterizado por globalização, práticas interculturais e respeito à diversidade, o que
pode ser fomentado pela aprendizagem de outra língua.
Questão 2
A partir de investigações desenvolvidas por pesquisadores da área do bilinguismo, há uma discussão
sobre aspectos e definições desse conceito. Atualmente, a tendência nos estudos linguísticos, em
termos de concepção de bilinguismo, aponta para a opção por:
C Menor capacidade de análise e maior percepção das nuances do idioma e capacidade
de múltiplas tarefas.
D
Maior possibilidade de visão do ponto de vista alheio, redução da ampliação da
memória e menor flexibilidade mental.
E
Maior capacidade de concentração, menor capacidade imagética e de controle da
atenção e maior percepção da multiculturalidade.
A conceitos estritamente linguísticos.
B conceitos fundamentalmente multidimensionais.
C definições focadas na dimensão política.
D compreensão do bilinguismo em termos de cultura.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 14/42
Parabéns! A alternativa B está correta.
Os trabalhos de Harmers e Blanc e a tendência atual apontam para uma compreensão
multidimensional do bilinguismo, levando em conta fatores interculturais, aspectos políticos e sociais,
assim como a dimensão linguística e o perfil do falante ou do estudante (faixa etária, ambiente de
convivência etc.), entre outros aspectos implicados no bilinguismo.
2 - Políticas linguísticas para a educação bilíngue
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as políticas linguísticas para a
educação bilíngue.
Estudos sobre políticas linguísticas
Políticas linguísticas
E compreensão do bilinguismo focada na geopolítica.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 15/42
De acordo com Calvet (2008), as políticas linguísticas correspondem a decisões em diferentes âmbitos e
níveis de governo sobre as relações que ocorrem entre a sociedade ou as pessoas e as línguas.
É perceptível o aumento da oferta bilíngue, assim como a crescente preocupação sobre o melhor momento
para se começar a aprender uma nova língua. Além disso, também se debate sobre as variadas políticas
linguísticas envolvidas no ensino bilíngue, já que não há, por enquanto, políticas oficiais e integradas sobre o
tema.
Apesar de seu expressivo crescimento, não há números oficiais dessas
escolas, legislação específica sobre seu funcionamento e as pesquisas sobre
educação bilíngue de elite no contexto brasileiro ainda são incipientes, visto
que os estudos realizados internacionalmente nem sempre nos trazem dados
aplicáveis a nossa realidade.
(LIBERALI; MEGALE, 2011, p.1)
Os estudos sobre as políticas linguísticas têm se desenvolvido nas últimas seis décadas, em especial nos
últimos quarenta anos. Infelizmente, ainda não existe uma teoria que dê conta da complexidade de
situações envolvidas na linguagem a partir de aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos etc.
Por isso, alguns sugerem que a ênfase para tentar responder às demandas surgidas deveria ser a seguinte:
campos de investigação versus teorias de política linguísticas.
Para Ricento (2000), o desenvolvimento das pesquisas sobre as políticas linguísticas tem a ver com os
processos de descolonização e formação de países na África e na Ásia, além do domínio teórico do
estruturalismo e da noção de que os problemas linguísticos poderiam ser resolvidos por meio do
“planejamento linguístico”. Por isso, no início, muitos trabalhos estavam focados na tipologia linguística e no
planejamento com o propósito de modernizar países que tinham conseguido sua independência.
Curiosidade
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 16/42
A diversidade era entendida como um obstáculo para o desenvolvimento dessas nações, enquanto a
homogeneidade estava ligada aos avanços e ao desenvolvimento para a modernização.
Na década de 1970, como as políticas de modernização e planejamento linguístico dos países que haviam
conquistado a independência fracassaram, alguns pesquisadores destacaram problemas que acarretaram
seu insucesso, tais como:
Variáveis envolvidas.
Dificuldade de avaliar as políticas implementadas.
Complexidade da reorganização das sociedades de países recém-independentes.
Políticas linguísticas e colonização
O que se percebe nesse contexto é que a língua do colonizador foi usada com a intenção de modernizar o
país, mas enfatizou a dominação social e cultural de um povo que já havia conquistado a sua
independência. Naquele momento, a política linguística, de modo geral, enfatizava o monolinguismo como
uma ideologia que nada tem de científico, mas, em vez disso, presta seus favores à manutenção dos
mesmos grupos que dominavam aquelas nações colonizadas.
À medida que a língua inglesa se torna dominante, a questão dos direitos linguísticos vira uma pauta de
discussão. Daí surge a noção de uma ecologia das línguas, enfatizando a diversidade linguística com a
proposta de ampliar os direitos de falantes de todas as línguas (RICENTO, 2000).
Nesse contexto, as investigações buscam entender as relações entre ideologia e política
linguística, o que orienta a escolha de determinadas línguas e como seus lugares são
marcados por meio da linguagem.
Na verdade, podemos identificar a política linguística mesmo nas situações em que ela não é explícita ou
oficialmente estabelecida.
Desse modo, nos países, nos grupos sociais ou mesmo nas instituições em que não encontramos o registro
formal de políticas linguísticas, a natureza da política linguística dessas sociedades deve ser buscada ou
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 17/42
identificada por meio de estudos das práticas e crenças linguísticas dessas comunidades ou instituições.
Por outro lado, nas sociedades ou comunidades em que tal política se faz presente de maneira formal e
registrada por escrito, não há uma garantia de que o efeito dela nas práticas linguísticas seja consistente e
certo (SPOLSKY, 2004).
Políticas linguísticas e ideologia
No caso da educação bilíngue, a política linguística está ligada às ações individuais de grupos socialmente
definidos ou de organizações sobre essas questões de linguagem, como é o caso do ambiente de sala de
aula, no qual os alunos entendem que o docente define quem fala e o que fala, além de julgar se a
manifestação linguística está correta ou não.
Atenção!
Vale destacar que a linguagem e as políticas linguísticas estão inseridas em ambientes de grande
complexidade, em meios interativos e em constante transformações. Essas mudanças, por menores que
sejam, afetam o todo. Por isso, seu estudo precisa levar em conta fatores não linguísticos, como os
aspectos políticos, demográficos, sociais, culturais, religiosos, psicológicos etc. Esses fatores estão
vinculados às tentativas de intervenção nas práticas linguísticas e nas crenças de pessoas ou grupos, além
das mudanças subsequentes que podem ou não ocorrer (SPOLSKY, 2004).
As políticas linguísticas geralmente são encontradas em documentos oficiais, como cláusulas
constitucionais ou regulamentações administrativas. Mas elas também podem ser vistas em documentos
que falam sobre investimentos na área.
Por outro lado, em muitos casos, ocorre uma total ausência de documentos, embora sempre haja o aspecto
ideológico sobre o uso da linguagem e seus padrões de uso.
Segundo Spolsky (2004), existem geralmente três motivaçõespara as políticas linguísticas:
Identidade com o interesse de estabelecer o status de nação por meio de uma língua homogênea.
A questão da imagem, a qual estabelece que aquela língua precisa ser disseminada para criar um
conceito positivo para quem ainda não a usa “corretamente”.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 18/42
Insegurança, que tem relação com o uso não padronizado da língua para as necessidades do falante na
sociedade.
Existem diversos grupos sociais, comunidades e espaços que, além da escola, podem ser estudados nesse
processo da política linguística bilíngue.
Para muitos autores, as políticas linguísticas são um subcampo da Linguística Educacional, que é uma área
da Linguística Aplicada. Por isso, destacamos todo o contexto da independência de países após a Segunda
Guerra, que teve bastante impacto na educação - em especial, na escolha das línguas que deveriam ser
ensinadas.
Na América do Sul, houve o rebaixamento e uma tentativa de extermínio das línguas indígenas por parte do
colonizador, que não admitia seu uso no sistema educacional. Atualmente, há uma pressão para que o
inglês seja utilizado nas escolas. No Brasil, isso ocorreu quando ele foi tornado obrigatório nos ensinos
fundamental e médio.
Conforme já mencionamos, o bilinguismo é uma forma de política linguística que pode ser implementada
pelo Estado, por instituições ou mesmo individualmente, se contrapondo ao conceito de monolinguismo,
ainda muito arraigado em nosso país. Entender as políticas linguísticas é compreender as ideologias
envolvidas e como determinados projetos são capazes de naturalizar políticas implementadas para atender
aos interesses de grupos dominantes.
Por isso, certos governos podem se utilizar do senso comum para validar ou justificar suas políticas
linguísticas. Desse modo, conforme adverte Mulon (2017), é possível que certos usos linguísticos produzam
determinados resultados sociais ou ideológicos.
Exemplo
Políticos ou movimentos políticos que optam pelo uso de uma língua não oficial por representarem
determinado segmento ou grupo que não usa a língua oficial, como ocorre com o talian, falado por
imigrantes italianos em cidades do sul do Brasil.
A forma como essas ideologias linguísticas são construídas pode ser objeto dos estudos linguísticos.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 19/42
Um dos maiores impactos na educação bilíngue tem a ver com a conexão entre língua e identidade como
uma tentativa de homogeneização para impor um padrão a ser utilizado em toda uma nação.
Política linguística no Brasil
Em nosso país, o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL) se dedica às
políticas linguísticas, desenvolvendo projetos que apoiam comunidades de línguas e variedades minoritárias
do Brasil e do Mercosul para a manutenção e a promoção da diversidade linguística.
Uma das ações do IPOL é a cooficialização de línguas em alguns munícipios, podendo essas línguas
cooficializadas serem usadas em documentos oficiais com patamar idêntico ao da língua portuguesa.
oo�cialização
Cooficialização de uma língua consiste num dispositivo jurídico que possibilita a emissão de documentos
oficiais e a prestação de serviços públicos numa língua além do português, bem como a possibilidade de essa
língua cooficializada circular em diversos espaços públicos, incluindo as escolas.
Comentário
Para se ter uma ideia do processo de cooficialização de língua no Mercosul e no Brasil, o IPOL apresentava
uma situação, em agosto de 2021, na qual 21 línguas em 45 municípios brasileiros eram cooficializadas.
Como vimos anteriormente, a educação bilíngue tem se tornado cada vez mais frequente em nosso país,
sendo uma prática que cresce entre as escolas.
Liberali e Megale (2011) comparam nosso contexto ao da Colômbia, em que:
O avanço de carreira é dependente em alto grau da pro�ciência em língua inglesa, e a
educação bilíngue é vista como a chave para o desenvolvimento da língua estrangeira.
(MEJÍA, 2004, apud LIBERALI; MEGALE, 2011, p. 101)
O multilinguismo de nosso país remonta ao período anterior ao descobrimento. O colonizador português,
afinal, encontrou mais de mil línguas indígenas aqui.
A partir daquele momento, instalou-se uma ideologia que visava à destruição de tais línguas por meio da
imposição da língua portuguesa. Essa ideologia foi responsável pela morte e extinção de 85% dessas
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 20/42
línguas ao longo de 500 anos.
Para o senso comum, é corrente afirmar que o brasileiro fala português, desconsiderando as línguas nativas
e as dos imigrantes. Por isso, é importante uma verdadeira reorientação, do ponto de vista linguístico, sobre
comunidade e identidade e sobre o conceito de bilinguismo.
O conceito da hierarquia entre as línguas ainda é muito forte. Nele, cria-se uma noção de superioridade ou
inferioridade entre determinadas línguas, além do mito de que certos idiomas são mais fáceis ou mais
difíceis de se aprender.
Educação bilíngue
Educação bilíngue no Brasil
Considerando o ambiente escolar bilíngue, é possível encontrar propostas sobre educação bilíngue
começando com o próprio processo de alfabetização.
No site de diversas escolas, aparece o projeto político pedagógico (PPP) com algumas informações sobre o
bilinguismo. Trechos do PPP costumam afirmar que os alunos são alfabetizados no ensino fundamental
(inicialmente na língua materna), iniciando-se, em seguida, a preparação para a alfabetização na língua
estrangeira.
Projetos assim entendem que a alfabetização deve ser realizada primeiramente na língua materna e só
depois na estrangeira. A intenção seria evitar que um código linguístico interferisse no outro. Isso denota, de
acordo com visões monoglóssicas do bilinguismo, uma noção de purismo linguístico.
isões monoglóssicas
Caracterizam-se pela separação de uma língua como primeira língua e da outra como língua adicional, ou seja,
as línguas correspondem a espaços autônomos e independentes nos quais sentidos ou significados de uma
língua são transferidos de um sistema linguístico para outro.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 21/42
Outras escolas destacam em seu PPP que o ensino da língua estrangeira serve para facilitar a interação dos
estudantes com outras culturas. Segundo essas instituições, com a globalização, o conhecimento de uma
segunda língua tem um papel primordial na formação profissional do estudante.
Certas escolas oferecem muitas opções de aspectos multilíngues, tais como:
Professores brasileiros e estrangeiros qualificados.
Turmas com número de alunos de acordo com padrões daquela língua estudada, seja inglês, francês,
alemão ou outra qualquer.
Preparação para a certificação em línguas estrangeiras.
Programa de diplomas certificados internacionalmente.
É curioso observar que a quantidade de alunos raramente é explicitada, mas se supõe que ela seja menor
que o número tradicionalmente encontrado nas salas de aula, revelando uma visão xenocentrista de mundo,
ou seja, produtos, estilos ou ideias de outras culturas são preferenciais em vez daqueles relativos à própria
cultura.
Escolas que têm a alfabetização separada parecem sugerir um purismo linguístico e uma visão
monoglóssica do bilinguismo, levando a uma concepção compartimentada da língua como unidades
estanques trabalhadas pedagogicamente de forma separada.
Normalmente, essas escolas têm aulas ministradas em determinada língua estrangeira e outras na
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 22/42
língua materna.
Embora haja uma orientação para o bilinguismo, elas se mantêm com línguase usos separados.
Outro ponto abordado nessas diferentes escolas - e que serve como propaganda - é que parte dos seus
professores é nativo da língua que ensinam. O que está por trás disso é a ideia de que, por ser nativo, esse
docente domina o ensino desse idioma e fala por determinada cultura, sendo supostamente seu melhor
representante.
Essa é uma visão ainda muito homogênea do falante e da língua. Seria como se ele não passasse por algum
processo de hibridismo linguístico durante o contato com outras línguas e culturas, sobretudo em um
mundo globalizado.
O que podemos perceber é que a educação bilíngue ainda caminha cercada de propaganda e expectativas,
prometendo cursos multilíngues, enquanto a legislação ainda impõe uma política linguística que se baseia
no mito do monolinguismo na educação básica.
Legislação educacional e bilinguismo
Essa realidade pode começar a mudar com a aprovação das diretrizes curriculares nacionais para a oferta
de educação plurilíngue. Essas diretrizes foram elaboradas e propostas pelo Conselho Nacional de
Educação (CNE) na forma do Parecer CNE/CEB nº 2/2020 a fim de serem homologadas e se tornarem
finalmente uma resolução.
O documento aborda diversas temáticas relacionadas com plurilinguismo, bilinguismo e cooficialização de
línguas. Entre elas, destacam-se:
Diversidade e valorização das línguas das populações indígenas.
Direitos linguísticos e sociais da população surda.
Educação em regiões de fronteira e interculturalidade.
Educação plurilíngue a partir da língua portuguesa e de línguas adicionais na educação básica.
O Parecer CNE/CEB nº 2/2020 faz menção à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para reforçar que a
língua inglesa se tornou a única língua adicional na educação básica - mais especificamente, a partir do 6º
ano do ensino fundamental.
Mas o cumprimento desse requisito não precisa limitar a experiência linguística na educação básica, pois
outras línguas adicionais podem ser ofertadas aos alunos.

17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 23/42
A expectativa é que não somente as chamadas línguas de prestígio social estejam
presentes, mas que também se faculte o aprendizado de línguas indígenas, africanas
e outras. De qualquer modo, as competências e habilidades dispostas na BNCC devem
constituir o arcabouço para a elaboração das diversas possibilidades de programas
de educação plurilíngue do país.
(BRASIL, 2020, p. 19)
O documento (BRASIL, 2020, p. 20) traz várias recomendações, tais como:
O estabelecimento, por parte do MEC e das redes públicas de ensino, de parcerias com instituições de
ensino superior de reconhecida notoriedade na área de bilinguismo a fim de promover políticas de
educação plurilíngue.
Criação de espaço e condições para o desenvolvimento de plataforma digital com materiais e recursos
didáticos para educação plurilíngue.
Fomento à política de educação plurilíngue, envolvendo formação inicial e continuada de professores nas
instituições de educação superior (IES).
Fomento a bolsas de estudo e a pesquisas acadêmicas interdisciplinares em programas de pós-
graduação nas modalidades de educação plurilíngue.
Criação ou adoção de padrões de avaliação e de certificação de proficiência para docentes em nível
nacional.
Criação ou adoção de padrões de avaliação e de certificação de proficiência linguística e em conteúdos
para estudantes em nível nacional.
Criação de política nacional de avaliação para educação plurilíngue.
Revisão e modernização dos cursos de Pedagogia, Letras e demais licenciaturas, visando a formar
docentes conforme as demandas decorrentes das diretrizes curriculares nacionais para a oferta de
educação plurilíngue.
Formulado a partir do Parecer CNE/CEB nº 2/2020 (BRASIL, 2020, p. 24), o projeto de resolução estabelece
as seguintes definições:
Escola caracterizada por promover currículo único, integrado e ministrado em duas línguas de
instrução, visando ao desenvolvimento de competências e habilidades linguísticas e acadêmicas
Escola bilíngue 
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 24/42
dos estudantes nessas línguas (art. 2º).
Escola com currículo bilíngue optativo que se caracteriza por promover o currículo escolar em língua
portuguesa em articulação com o aprendizado de competências e habilidades linguísticas em
línguas adicionais, sem que o desenvolvimento linguístico ocorra integrada e simultaneamente ao
dos conteúdos curriculares (art. 3º).
Escola que se caracteriza pelo estabelecimento de parcerias e pela adoção de materiais e propostas
curriculares de outro país, ofertando, portanto, currículos em língua portuguesa e línguas adicionais
(art. 4º).
Outros pontos estabelecidos pelo documento são:
Entre 30 e 50% das atividades curriculares na educação infantil e no ensino fundamental. Mínimo de
20% da grade curricular oficinal no ensino médio.
Mínimo de três horas semanais.
O tempo é de escolha da instituição.
Escola com carga horária estendida em língua adicional 
Escola brasileira com currículo internacional 
Carga horária de língua adicional nas escolas bilíngues 
Carga horária de língua adicional na escola com currículo bilíngue optativo 
Carga horária de língua adicional na escola brasileira com currículo internacional 
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 25/42
O projeto pedagógico bilíngue das instituições que oferecem todas as etapas da educação básica
deve contemplar a educação infantil, o ensino fundamental e o médio.
Os docentes devem ter formação complementar em educação bilíngue de 120 horas e comprovação
de proficiência de nível mínimo B2 (CEFR – common european framework).
Além dessas diretrizes, não devemos nos esquecer de outro importante documento, a Lei nº 14.191, de 3 de
agosto de 2021, que altera a Lei nº 9.394 (LDB) para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue de
surdos. No próximo módulo, trataremos de alguns aspectos relacionados à educação bilíngue e ao aluno
surdo.
Políticas linguísticas e educação bilíngue
Veja no vídeo a apresentação das principais questões sobre políticas linguísticas para educação bilíngue no
Brasil.
Projeto pedagógico 
Formação de professores bilíngues 

17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 26/42
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Os estudos sobre políticas linguísticas nos mostram que tais políticas se dão em diversos níveis ou
dimensões. Elas ocorrem no âmbito internacional, nacional, estadual e municipal, trazendo implicações
para a educação bilíngue. Esses estudos inicialmente estão relacionados com:
Parabéns! A alternativa A está correta.
As pesquisas sobre as políticas linguísticas vinculam-se aos processos de descolonização, aos
processos de independência e à modernização de países na África e na Ásia, assim como ao domínio
da teoria estruturalista e ao entendimento de que o avanço e o desenvolvimento dependiam da
homogeneidade linguística, isto é, de um planejamento linguístico contrário à diversidade linguística.
A processos de descolonização.
B domínio das teorias gerativistas.
C aversão ao planejamento linguístico.
D formação de países europeus.
E modernização a partir de formação de poliglotas.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 27/42
Questão 2
Na relação entre políticas linguísticas e educação bilíngue no Brasil, podemos reconhecer:
Parabéns! A alternativa C está correta.
No Brasil, em dezenas de municípios, ocorre a cooficialização de línguas, na qual a língua cooficializada
é aceita em documentos oficiais, além do português. Nessa situação, tal língua é usada em vários
espaços e situações,incluindo o espaço escolar.
A apagamento das línguas dos imigrantes.
B longa tradição de legislação educacional voltada para a educação bilíngue.
C presença de processos de cooficialização.
D proibição do uso de línguas estrangeiras no contexto escolar.
E adoção de várias línguas oficiais no Brasil.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 28/42
3 - Linguística e a educação bilíngue
Ao �nal deste módulo, você será capaz de relacionar os estudos linguísticos à educação
bilíngue.
Estudos linguísticos e bilinguismo
O mito do monolinguismo
O mito do monolinguismo em nosso país é capaz de promover o apagamento de povos indígenas,
imigrantes, surdos e falantes que usam modelos da língua portuguesa não culta, tornando seus falantes
estigmatizados, uma vez que as línguas utilizadas são de tradição oral, quase sempre sem escrita.
Usamos o termo “mito” pelo fato de que os estudos da Linguística Aplicada acerca do bilinguismo - ainda
relativamente recentes na comparação com outras subáreas da Linguística - mostram a não pertinência da
crença ou ideologia em uma língua única e absoluta.
O linguista e professor Marcos Bagno (1999, p. 27) lembra que os estudos linguísticos têm comprovado que
não existe uma “língua no mundo que seja ‘una’, uniforme e homogênea”. Desse modo, o monolinguismo
não passa de uma ficção.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 29/42
Toda e qualquer língua humana viva é, intrinsecamente e inevitavelmente
heterogênea, ou seja, apresenta variação em todos os seus níveis estruturais
(fonologia, morfologia, sintaxe, léxico etc.) e em todos os seus níveis de uso social,
variação regional, social, etária, estilística etc.
(BAGNO, 1999, p. 228)
Além disso, o bilinguismo geralmente é entendido a partir das línguas prestigiadas no chamado bilinguismo
de elite, ou seja, o bilinguismo ligado a línguas de prestígio no âmbito nacional ou internacional.
O que se pode perceber é que o bilinguismo/multilinguismo é muito mais complexo do
que se imagina, passando inclusive pelas variedades da língua portuguesa.
Com base em tudo que foi visto até agora, podemos depreender que nosso país não estimula o ensino
bilíngue, principalmente entre as minorias, ou seja, tal política linguística do monolinguismo é tratada de
forma natural. Isso gera um sentimento de inferioridade das línguas faladas, porque elas não são
reconhecidas.
Mesmo em comunidades urbanas, percebe-se que a língua utilizada no ambiente escolar é diferente da
falada no ambiente doméstico ou mesmo na comunidade. O contexto sociolinguístico no qual o professor
está inserido em nosso país, afinal, é extremamente complexo.
Bagno (2009, p. 9) ressalta que o Brasil foi um campo muito fértil para a aplicação dos postulados teóricos
e da metodologia de trabalho empírico da sociolinguística variacionista. Para ele, desde os anos 1970, “tem
se acumulado um respeitável volume de investigações aqui empreendidas dentro desse paradigma”.
A linguística tem apresentado dados a favor de uma educação inclusiva, reconhecendo e valorizando a
diversidade linguística.
Para Hornberger (1991, apud CAVALCANTI, 1999), há três modelos sobre a educação bilíngue:
Modelo de transição
Modelo no qual a língua do estudante serve como meio para se chegar à língua dominante.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 30/42
Modelo de manutenção
Modelo no qual a língua da comunidade é considerada como algo de direito, mas que pode servir como um
tipo de transição para a língua-alvo da sociedade dominante.
Modelo de enriquecimento
Modelo que entende a língua como recurso para estudantes de comunidades minoritárias ou da sociedade
dominante.
Mas quando a diversidade linguística não é considerada e o monolinguismo é naturalizado, os
questionamentos sobre variedade linguística são silenciados. Nem mesmo as variedades que o aluno
encontra na família são mencionadas.
Diversidade linguística e bilinguismo
Para a Linguística, não há variantes superiores ou inferiores de determinado sistema linguístico. O que
existem são variantes que podem ser consideradas de prestígio, estigmatizadas ou neutras. Por isso, é tão
importante que o profissional da educação tenha acesso à Linguística.
Temos em qualquer língua as chamadas variantes padrão e variantes não padrão. Os
princípios que regulam as propriedades das variantes padrão e não padrão
geralmente extrapolam critérios puramente linguísticos. Na maioria das vezes, o que
se determina como sendo uma variante padrão relaciona-se à classe social de
prestígio e a um grau relativamente alto de educação formal dos falantes. Variantes
não padrão geralmente desviam-se desses parâmetros.
(SILVA, 1996, p. 12)
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 31/42
A maioria dos cursos de formação de professores, inclusive o curso de Letras, não forma profissionais para
trabalhar com falantes heterogêneos com uma lista de conflitos e problemas dos mais variados, estando
inseridos em comunidades que passam a cada dia mais por transformações intensas.
Questões como diversidade linguística e cultural precisam estar inseridas no espaço da sala de aula. Se não
for assim, haverá um distanciamento do ensino em relação ao contexto de diversidade no qual o aluno está
inserido.
É fundamental que o professor tenha acesso a disciplinas, como, por exemplo, Linguística, Linguística
Aplicada, Sociolinguística e outras, de modo que ele seja sensibilizado para o contexto sociolinguístico que
existe em nosso país. Com isso, o profissional terá suporte para combater as ideologias que se apoiam nas
diferenças linguísticas para manter políticas de discriminação, preconceito e exclusão social.
Normalmente, os cursos de Letras, quando se trata do ensino de língua materna, ainda são voltados para
um tipo de falante ideal em uma comunidade homogênea, o que é bem diferente da realidade brasileira,
sobretudo das minorias.
Na formação de professores, principalmente nos cursos de Pedagogia e de Letras, deve-se valer dos
estudos linguísticos, em particular das pesquisas provenientes da Sociolinguística, para oferecer ao futuro
profissional da educação uma visão e a fundamentação teórica que o ajudem a lidar com a diversidade
linguística do nosso país.
A escola brasileira está presente nos mais diversos contextos, mas os currículos ainda estão longe de
alcançar essa meta da diversidade.
Bilinguismo e minorias
Educação bilíngue de minorias
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 32/42
Em algumas instituições privadas, pais, responsáveis e professores esperam que os alunos venham a
dominar uma língua adicional durante a sua vida estudantil.
Mas como ficam outros grupos minoritários na questão do bilinguismo, como os indígenas e os surdos?
Cavalcanti (1999) chama a atenção para o fato de o Brasil não reconhecer nem encorajar o ensino bilíngue
em relação às minorias linguísticas.

A legislação tem mudado um pouco esse cenário em função das leis que procuram assegurar a educação
bilíngue para comunidades indígenas e de surdos.

O esforço e a dedicação das organizações não governamentais (ONG) e da comunidade acadêmica
também objetivam mudar esse quadro.
Vamos destacar alguns pontos sobre o bilinguismo no contexto dos surdos e das populações indígenas no
Brasil.
Educação bilíngue e povos indígenas
O cenário de alguns povos indígenas é marcado por uma língua falada, mas não necessariamente escrita,
ou seja, marcada pela oralidade. Trata-se, portanto, de um contexto bem diferente do abordado até aqui,
normalmente chamado de bilinguismo de elite.
Assim, levando em conta o contato das comunidades indígenas com a sociedadedominante, a necessidade
do bilinguismo se tornou ainda mais urgente. Ele é utilizado por professores indígenas ou não indígenas em
processos muito rápidos de escolarização dessas comunidades sem ser devidamente acompanhado da
implementação e discussão das necessidades reais que o grupo entende como prioritário.
Nesse caso, notamos uma ausência de políticas linguísticas que sustentem os professores indígenas, além
da dificuldade com alunos em diferentes níveis de conhecimento linguístico da língua materna e da língua
portuguesa.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 33/42
D’Angelis (1996 apud NOBRE, 2012) aponta algumas estratégias para o sucesso do ensino da língua
materna em comunidades indígenas:
Ocupação de espaços não ocupados pela língua portuguesa.
Tomada de "lugares" hoje ocupados pela escrita da língua portuguesa para a escrita na língua indígena.
Tomada ou criação de lugares "nobres" de veiculação da língua indígena falada.
Infelizmente, podemos notar uma ausência de uma política linguística para os indígenas. O que existe é uma
tentativa homogeneização linguística, ainda que de forma sutil.
Basta consultar documentos, como a Constituição Federal de 1988, por exemplo, que considera a língua
portuguesa como oficial, salvo entre os povos indígenas que podem usar suas línguas maternas no ensino.
Atualmente, existe a compreensão de que as línguas indígenas são consideradas línguas nacionais, além da
língua portuguesa.
E qual é o papel da Linguística na educação bilíngue de língua em indígenas?
De acordo com o Censo 2010 (IBGE, 2012), a população indígena em nosso país é de 896,9 mil. Desse
contingente, 572 mil indígenas vivem em área rural, dos quais 517 mil moravam em terras indígenas
reconhecidas oficialmente, ou seja, 57,5% do número total da população indígena. Outro dado importante do
censo é que houve um crescimento de indígenas morando em áreas urbanas.
Sobre as línguas ministradas nas escolas indígenas, dados estatísticos da educação escolar indígena
(BRASIL, 2007) apontam que, em 78,3% das escolas indígenas, as aulas são ministradas na língua indígena;
as outras 21,7%, em língua portuguesa.
A partir desses dados, a Linguística tem o papel de:
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 34/42
Influenciar no comportamento sobre a aquisição da linguagem, a estrutura ou o uso de códigos linguísticos,
abrangendo todas as esferas de poder.
Delimitar soluções para questões de linguagem, as quais, geridas por aquele povo, ajudam na manutenção
de sua língua frente a outra, que é majoritária.
Desse modo, a linguística pode ter um papel de planejamento, seja no corpus coletado e suas intervenções,
no status social da língua e em sua relação com outra língua ou na aquisição para ampliar aquela língua.
Ao se pensar no papel da Linguística em escolas indígenas bilíngues, nota-se que, em muitas delas, os
professores são indicados pelas comunidades, sendo muitas vezes oriundos do próprio local, o que pode
auxiliar no ensino da língua.
Além disso, a escola, por intermédio da Linguística, é capaz de implementar e criar sistemas de escrita
quando o povo é ágrafo, além de poder produzir material didático de qualidade. Consequentemente, isso
tudo pode fazer com que uma língua passe por um verdadeiro “avivamento” linguístico, garantindo a
transmissão dela além do ambiente escolar.
Confira o relato de uma situação concreta na qual podemos verificar a importância da Linguística na escola
bilíngue:
No estado do Acre [...] apresentou-se uma situação peculiar em que algumas
línguas indígenas – também faladas no Peru e na Bolívia, países vizinhos – já
possuíam sistemas ortográficos nos seus países. Essa situação exigiu uma
tomada de posição bastante desafiadora, pois, em vez de incorporarem os
sistemas já adotados, os professores indígenas e seus consultores buscaram
desenvolver sistemas de escrita que fossem o resultado de suas demandas e
descobertas com a escola e com a escrita, por consequência. Por conta dessa
situação, algumas línguas indígenas possuem convenções ortográficas
diferentes em cada lado da fronteira política, o que, até o momento, não se
configurou em uma dificuldade no intercâmbio escrito entre os vários falantes,
especialmente os que habitam as regiões fronteiriças e se utilizam da língua
escrita na comunicação.
(PAULA, 2015, p. 120-121)
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 35/42
A produção escrita na língua materna dos indígenas satisfaz à necessidade de:
Publicação de material didático.
Circulação das histórias daquele povo.
Provisão de todo tipo de texto demandado pela comunidade.
Elaboração de placas sinalizando pontos importantes da terra.
Tudo isso pode ser feito a partir de uma educação linguística nesse contexto da cultura e comunidade
indígenas.
O profissional com uma boa bagagem linguística pode contribuir para a análise da língua, ajudando em sua
descrição, propondo soluções ortográficas e potencializando o impacto dela no povo, o que vai gerar uma
verdadeira emancipação para os falantes, além da autoestima em relação à língua.
Educação bilíngue e comunidade surda
Assim como os indígenas, a comunidade de surdos também não é contemplada da forma devida quando o
tema é o bilinguismo. A abordagem bilíngue busca formar o surdo nas duas línguas: a língua de sinais e a
da comunidade ouvinte - no nosso caso, a língua portuguesa.
As propostas para o ensino passaram a tomar forma a partir do Decreto nº 5.626/2005, que regulamentou a
Lei da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Assim, os surdos tiveram direito ao conhecimento da língua de
sinais e a língua portuguesa passou a ser utilizada na escrita, assumindo o papel da segunda língua. Com
isso, a educação dos surdos passou a ser bilíngue.
Ainda que a legislação garanta o direito de a Libras ser a primeira língua do surdo e o
português escrito, sua segunda língua, a educação bilíngue do surdo precisa ser
garantida concretamente no dia a dia das famílias e do ambiente escolar.
Estudos linguísticos apontam que o bilinguismo que propõe o acesso de duas ou mais línguas no contexto
escolar é o mais adequado para a comunidade surda, sendo que a língua de sinais é a primeira língua.
A Libras deve ser a L1, ou seja, a primeira língua da criança surda brasileira e a língua
portuguesa deve ser sua L2, segunda língua. A razão dessa a�rmação é que [ambas]
estão relacionadas com o processo de aquisição dessas línguas, considerando a
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 36/42
condição física das pessoas surdas: são surdas. Então, qualquer língua oral exigirá
certos procedimentos para ser adquirida por uma pessoa surda.
(QUADROS, 1997, p. 67)
Vale destacar que o surdo adquire a língua de sinais por meio da experiência visual com outros usuários da
língua numa experiência que, além de cultural, é linguística. Pesquisas mostram que a aquisição da língua
de sinais ocorre de maneira igual à de outras línguas e no mesmo período que o de uma criança ouvinte, ou
seja, do balbucio, passando pelo período pré-linguístico, estágio de um sinal, das primeiras e múltiplas
combinações, desde que inseridas em um ambiente linguístico favorável.
A voz dos surdos são as mãos e os corpos que pensam, sonham e expressam. As
línguas de sinais envolvem movimentos que podem parecer sem sentido para muitos,
mas que signi�cam a possibilidade de organizar as ideias, estruturar o pensamento e
manifestar o signi�cado da vida para os surdos.
(QUADROS, 1997, p. 119)
Quando os pais da criança surda são ouvintes, nem sempre esse ambiente linguístico favorável é garantido
para a aquisição e o desenvolvimento da língua de sinais.
As barreiras linguísticas que existem em decorrência de umalíngua de contato que possa ser
compartilhada na família ficam ainda maiores quando a criança entra na escola, já que raramente os
professores dominam a língua de sinais. Além disso, muitos intérpretes que trabalham em escolas têm uma
formação com lacunas, podendo haver um contexto no qual o preconceito ainda é existente.
O bilinguismo do surdo inclui o desenvolvimento do aluno dentro e fora do ambiente escolar.
O surdo deve ser exposto à língua de sinais entre zero e três anos como primeira língua e como língua
de instrução, além do ensino do português como língua oficial do país, para garantir o acesso aos
cidadãos surdos brasileiros do conhecimento formal.
A aquisição da língua de sinais ajuda no desenvolvimento linguístico e cognitivo, facilitando o processo
de aprendizagem e servindo para a leitura e a compreensão, além de dar acesso a conhecimentos

17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 37/42
culturais e sociais.
A educação bilíngue para surdos está inserida em um contexto de grandes disputas e de tensão entre a
língua de sinais e a língua portuguesa, já que ambas são manifestações linguísticas assimétricas.
Linguística e educação bilíngue
Assista aos comentários sobre as contribuições dos estudos linguísticos (em especial, da Linguística
Aplicada e da Sociolinguística) para a educação bilíngue.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Ainda que o Brasil apresente um sem-número de línguas (em especial, as variedades de línguas
indígenas), ainda persiste o mito do monolinguismo, que é visto como natural. Entre os prejuízos
causados por esse mito, podemos citar a:

17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 38/42
Parabéns! A alternativa D está correta.
No Brasil, além do português com incontáveis variantes, há as línguas indígenas, que são quase 200,
assim como as línguas de imigrantes e seus descentes e a língua de sinais. Apesar de tudo isso, ainda
permanece no senso comum a noção de que se fala apenas uma língua aqui: é o chamado
monolinguismo. Tal preconceito acaba estigmatizando as nações indígenas, os surdos e os imigrantes,
já que quase todos esses outros modelos predominam na linguagem oral, sem escrita. Sobre as
variantes da língua portuguesa, o famoso gramático e membro da Academia Brasileira de Letras
Evanildo Bechara já disse que o brasileiro precisa ser um poliglota dentro do próprio idioma.
Questão 2
De modo geral, os cursos de formação de professores, incluindo o curso de Letras, apresentam sérias
deficiências no que se refere à formação de profissionais preparados para lidar com falantes
A
criação da ilusão da existência do bilinguismo, ou seja, a existência de mais de uma
língua em um país como o Brasil, que adota o português em todo o território nacional.
B
valorização das línguas faladas pelas minorias, isto é, das comunidades falantes de
variedades não dominantes, promovendo a autoestima desses grupos desprestigiados.
C
criação de modelos estereotipados de sucesso com a valorização das tradições
linguísticas preexistentes, anteriores ao processo de colonização e que impuseram a
língua do colonizador.
D
estigmatização dos povos indígenas, imigrantes, surdos e falantes que não se utilizam
de modelos da norma culta, uma vez que as línguas utilizadas por eles são de tradição
oral, quase sempre sem escrita.
E
visibilização das minorias bilíngues, já que ressalta as diferenças entre as línguas,
valorizando as tradições e combatendo a visão estereotipada que desprestigia as
línguas de tradição oral.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 39/42
heterogêneos. Para superar essas deficiências, é fundamental:
Parabéns! A alternativa A está correta.
De modo geral, as licenciaturas, inclusive na área de Letras, ainda não conseguem preparar os
professores para lidar com falantes heterogêneos, o que acontece no cotidiano da sala de aula nas
mais variadas manifestações e variações. Para tentar suprir essa carência, é primordial que os cursos
tenham disciplinas que tratem da diversidade linguística no Brasil ou no mundo. Esse é o caso da
Sociolinguística, que estuda a língua na sociedade e suas variações de uso, seja tal uso social,
diacrônico, estético ou geográfico, além das línguas consideradas minoritárias, como as línguas
indígenas, a língua de sinais, a falada pelos imigrantes e outras.
A
inserir na formação docente aspectos ligados à diversidade linguística e cultural, além
de promover o acesso do professor a disciplinas que o sensibilizem para o contexto
sociolinguístico existente no país.
B
promover a formação do falante ideal em comunidades heterogêneas, de modo a
proporcionar uma instrução de excelência que atenda às necessidades das minorias
existentes na realidade brasileira.
C
promover mudanças curriculares que incluam o bilinguismo como instrumento de
socialização das minorias em uma abordagem focada na língua padrão, quebrando
paradigmas da superioridade linguística.
D
promover o desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores que atendam ao
monolinguismo brasileiro e fortaleçam a unidade nacional a partir do aprofundamento
da identidade com a língua materna.
E
promover ideologias que se apoiem nas diferenças linguísticas, dando suporte ao
combate a políticas de discriminação, preconceito e exclusão social tão comuns na
sociedade brasileira e que se refletem no cotidiano das escolas.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 40/42
Considerações �nais
Você aprendeu por meio deste conteúdo a importância da relação entre os estudos linguísticos e a
educação bilíngue. Viu também que o bilinguismo é uma necessidade diante da diversidade linguística que
caracteriza o nosso país.
A partir de investigações desenvolvidas por pesquisadores da área do bilinguismo, você ainda pôde
perceber a importância da Linguística para servir ao ensino ou à aquisição de segunda língua a partir de
conceitos, princípios e resultados de pesquisas que proporcionam resultados melhores no ensino bilíngue.
Aproveite, portanto, o que você aprendeu para continuar refletindo sobre os desafios da Linguística aplicada
no ensino de língua.
Podcast
Vamos, neste podcast, retomar os principais pontos do conteúdo apresentado.

Referências
BAGNO, M. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2009.
BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 41/42
BRASIL. Estatísticas sobre educação escolar indígena no Brasil. Brasília: INEP, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CEB Nº. 2/2020. Diretrizes curriculares nacionais para a
oferta de educação plurilíngue. Brasília: CNE/CEB, 2020.
CALVET, L.J. As políticas linguísticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
CAVALCANTI, M. C. Estudos sobre educação bilíngue e escolarização em contextos de minorias
linguísticas no Brasil. ID.E.L.T.A. v. 15. n. especial. 1999.
CHOMSKY, N. El lenguaje y los problemas del conocimiento. Madrid: A. Machado Libros, 2002.
GROSJEAN, F. Bilinguismo individual. Revista UFG. v. 10. n. 5. 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010: população indígena é de 896,9 mil,
tem 305 etnias e fala 274 idiomas. ago. 2012.
LIBERALI, F. C.; MEGALE, A. H. Uma língua de vantagem. Carta fundamental. 2011. p. 58-60.
MEGALE, A. H. Bilinguismo e educação bilíngue: discutindo conceitos. Revista virtual de Estudos da
Linguagem – ReVEL. v. 3. n. 5. ago. 2005.
MULON, K. B. G. Políticas linguísticas na educação bilíngue: entre promessas, lacunas e expectativas.
Dissertação de mestrado.Universidade Federal do Paraná: Curitiba, 2017.
NOBRE, D. De que bilingüismo falamos na formação de professores?. Anais do SIELP. v. 2. n. 1. EDUFU,
2012.
PAULA, A. S. Educação escolar indígena e política linguística. Revista do GELNE. v. 17. n. 1-2. 2015.
QUADROS, R. M. de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.
RICENTO, T. Historical and theoretical perspectives in language policy and planning. Journal of
sociolinguistics 4/2. Blackwell Publishers, 2000. p. 196-213.
ROEPER, T. Universal bilingualism. Bilingualism: language and cognition. v. 2. 1999.
SILVA, T. T. da. Identidades terminais. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
SPOLSKY, B. Language policy. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
WITTGENSTEIN, L. Tractatus logico-philosophicus. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2001.
17/01/2023 17:02 Linguística e educação bilíngue
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03416/index.html# 42/42
Explore +
Para saber mais sobre a Linguística aplicada ao ensino de Língua Portuguesa, assista aos seguintes vídeos
no YouTube:
I ciclo de palestras: bilinguismo e ensino bilíngue – Antonieta Megale, disponível no canal do grupo de
pesquisa FELICE – CNPq.
Neurociência, psicolinguística e educação bilíngue, disponível no canal do projeto de extensão
Psicolinguística e Neurociência da Linguagem da Universidade Federal do Acre (UFAC).
I ciclo de palestras: bilinguismo e ensino bilíngue - Janaina Weissheimer, disponível no canal do grupo de
pesquisa FELICE – CNPq.

Continue navegando