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Bruna Wink Neves 8° Semestre Aula 14 Queimaduras Masculino, 45 anos, sofreu queimadura por combustão de álcool há 30 minutos. Peso: 90 kg. Apresenta queimaduras de 2o grau em região anterior do MSD e MSE, abdome e região anterior da coxa direita e coxa esquerda. Está consciente, Glasgow 15, sem sinais de queimadura na região de pescoço e rosto. Queixa de dor intensa (10/10). Deu entrada em uma UPA trazido por familiares. Pulsos presentes nos quatro membros e TEC < 3s nas quatro extremidades Questões: 1) Qual a % SCQ do paciente? R: Apresenta queimaduras de 2° grau em região anterior do MSD e MSE, abdome e região anterior da coxa direita e da coxa esquerda, ou seja: ● Anterior do MSD: 4,5 ● Anterior do MSE: 4,5 ● Abdome: 9% ● Anterior da coxa D: 4,5 ● Anterior da coxa E: 4,5 ● TOTAL: 27% 2) Quais os passos iniciais para o atendimento primário? R: A,B,C,D,E 3) Quanto e como devo realizar a infusão de volume para esse paciente? R: Fórmula de Brook modificada (2ml x peso , %SCQ) ● 2ml x 90 x 27 = 4860 - 50% (2430 ml) nas primeiras 8 horas; - 50% (2430) nas 16 horas restantes; Em ringer lactato aquecido 4) Está indicada a intubação orotraqueal para esse paciente? R: Por ora, não está indicada a IOT. Levando em conta o paciente consciente, contactante, com glasgow 15 e sem sinais de queimadura na região do pescoço ou face. 5) Devo encaminhar esse paciente para um centro especializado? R: Paciente com queimadura maior de 10%. Sim, deve-se encaminhar para um centro especializado! Introdução Grande maioria dos atendimentos iniciais ao paciente vítima de queimadura é realizado fora de uma unidade especializada Importante: tratamento precoce Os pacientes vítimas de queimadura são feitos nos pronto socorros ou até em UPAs Crianças em até 30 a 50% são atingidas por esse problema, sendo que curiosidade e maus tratos entram nessa porcentagem. Idosos em até 10% também são atingidos, levando em consideração que eles possuem uma diminuição de reflexos. Adultos: etilismo, tabagismo e drogas são causas possíveis. Fisiopatologia A profundidade da queimadura vai depender da temperatura/calor específico e do tempo de exposição. Podendo levar a: ● Efeitos sistêmicos: hemodinâmicos, hipermetabolismo, edema, imunossupressão, diminuição da perfusão renal (desidratação); Bruna Wink Neves 8° Semestre Aula 14 Queimaduras ● A área queimada resulta em tecido desvitalizado. Ou seja, tecido morto, o qual deve ser retirado, levando em conta que ele pode ser uma fonte de contaminação; ● Maciça perda hídrica, de eletrólitos e proteína; ● Diminuição da perfusão tecidual; ● Risco do agravo da inflamação; Quando se hidrata rapidamente ao queimado, ele possui chances de uma recuperação de área da zona de estase, baseado nas zonas de lesão: ● Z. Coagulação: maior lesão térmica e perda irreversível de tecido (coagulação das proteínas); ● Z. Estase: diminuição da perfusão tecidual e hidratação; ● Z. Hiperemia: perfusão tecidual aumentada, grande chance de recuperação em 24 horas (exceto na hipoperfusão prolongada); Tipos de queimadura: ● Chama; ● Escaldadura; ● Contato; ● Química; ● Elétrica; Relembrando: 1. Epiderme; 2. Derme; - Papilar; - Reticular; Classificação das queimaduras ● Epiderme: são as queimaduras chamadas de superficiais, sendo elas de 1° grau; ● Derme papilar: parciais superficiais, sendo elas de 2° grau superficial; ● Derme reticular: parciais profundas, sendo elas 2° grau profundo; ● Espessura total, sendo elas de 3° grau; ● Até a fáscia/músculos, sendo elas de 4° grau; Queimadura Superficial - 1° grau ● Afeta somente a epiderme; ● Vermelhidão, dor (ardência), edema; ● Regeneração completa em 7 dias; ● Sem bolhas; Exemplo: queimadura solar Queimadura parcial Superficial - 2° grau superficial ● Atinge a epiderme e a espessura parcial superficial da derme (derme papilar); Bruna Wink Neves 8° Semestre Aula 14 Queimaduras ● Lesões bolhosas (flictenas); ● Eritema; ● Repitelização espontânea em 14 dias; ● Empalidece à digitopressão; ● Dor intensa; Queimadura Parcial Profunda - 2° Grau Profundo ● Atinge a epiderme e a espessura profunda da derme (derme reticular); ● Presença de bolhas (íntegras ou rotas); ● Lesões mais aderidas; ● Eritema mais empalidecido (cor salmão); ● Dor moderada; ● Empalidece pouco à digitopressão; ● Pode deixar cicatrizes; ● Pode necessitar de tratamento cirúrgico; Queimaduras de Espessura Total (3° grau) ● Toda espessura da pele; ● Indolor; ● Branco ao enegrecido; ● Mosqueada ou marmórea; ● Seca; ● Ausência de bolhas; ● Textura "coriácea" - tipo cera; ● Não reepiteliza (necessário enxerto para pele) ● Empalidece pouco à digitopressão; Extensão ● Pequena: < 10%; ● Média: 10-25%; ● Grande: > 25%; Bruna Wink Neves 8° Semestre Aula 14 Queimaduras Tratamento da ferida por queimadura Profundidade Tratamento Superficial - 1° grau Hidratação local Espessura parcial superficial - 2° grau superficial Troca diária com curativos não aderentes ou hidrocolóide com troca a cada 3-5 dias Espessura parcial profunda - 2° grau profundo Excisão tangencial e enxertia Espessura total - 3° grau Escarectomia e enxertia Extensão para planos profundos Escarectomia e enxerto ou retalho Atendimento primário ao paciente com queimadura A. Airway; B. Breathing; C. Circulation; D. Disability; E. Exposure; A - Vias Aéreas Avaliar a via aérea do ponto de vista mecânico, fazendo inspeção da cavidade oral (corpo estranho, próteses, fraturas de dente). Além disso, observar eventual aspecto carbonáceo (fuligem) e presença de estridor. B - Respiração Lesão inalatória supraglótica ● Prever possível edema (IOT precoce); - Na dúvida, devemos intubar, caso os níveis respiratórios estejam bons, extuba. ● Pode ocorrer na face queimada; ● Observar rouquidão; ● Queimadura de vibrissas; Lesão inalatória subglótica ● Combustão pode conter produtos tóxicos; ● Intoxicação por CO → carboxiemoglobina (dosagem sérica); - Não sai da gasometria, portanto é necessário essa carboxiemoglobina; Sinais e sintomas da lesão inalatória ● Queimadura de face e pescoço; ● Queimadura de vibrissas nasais; ● Queimadura de boca; ● Fuligem nas fossas nasais e boca; ● Escarro carbonáceo; ● Dispnéia e estridor; ● Taquipneia; ● Rouquidão; ● Congestão de fale; ● Tosse; ● Roncos; ● Sibilos; ● Alteração do sensório; Gravidade baseada na quantidade dos sintomas: ● Leve: 1-4; ● Moderado: 5-8; ● Grave: 9-13; Bruna Wink Neves 8° Semestre Aula 14 Queimaduras (USP-RP-2021)Homem de 62 anos foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros do segundo andar de um prédio em chamas e levado para o setor de emergência de um hospital. Um familiar relatou que o paciente ficou preso por alguns minutos no cômodo que pegou fogo. Ao exame, apresentava queimaduras em face e outras características que podem ser vistas na figura. Qual a conduta que deve ser tomada mais precocemente? A. Máscara de oxigênio com FiO2 a 80%; - Se for colocar máscara, até o momento de intubar, deve ser 100%; B. Intubação orotraqueal e ventilação com FiO2 a 100%; C. Reposição volêmica com cristaloides e curativo com sulfadiazina de prata; - Reposição será necessária, porém não agora; D. Reposição volêmica com colóides e curativo com nitrato deu certo; Além do que foi anotado acima, devemos avaliar a necessidade de escarotomia do tórax (queimaduras circulares) e isso restringe a respiração. O raio x na avaliação primária está contraindicado Quando intubar? ● Sinais de obstrução (rouquidão, estridor, uso de musculatura acessória); ● Sinais de comprometimento respiratório ● (fadiga respiratória, oxigenação insuficiente/ IRpA); ● Extensão da queimadura > do que 40 a 50% com queimadura da cavidade oral e edema facial importante; ● Glasgow < 8, queimaduras faciais extensas e profundas C - Circulação ● Monitorização não invasiva (PA, SatO2, FC, Cardioscopia, Tx); - Isso deve ser sempre feito, independentede estar no C ou não; ● Acesso venoso periférico calibroso; ● Avaliar pulsos e TEC nos 4 membros; ● Avaliar com cautela a queimadura elétrica; ● Avaliar necessidade de fasciotomia (queimadura elétrica); ● Evitar cateter venoso central desnecessário; D - Déficit Neurológico ● Avaliar trauma associado; ● Status neurológico; ● Escala de Glasgow; ● Glicemia; ● TCE; E - Exposição Esse talvez seja um dos principais passos nesses casos de queimadura ● Remover toda a roupa do paciente - evitando hipotermia; ● Remover anéis, jóias, piercings, brincos; Bruna Wink Neves 8° Semestre Aula 14 Queimaduras ● Examinar o paciente por toda superfície corporal; ● Avaliar o couro cabeludo; ● Avaliar a profundidade da queimadura; ● Calcular a superfície corpórea da queimadura; Neste momento não é necessário realizar curativos Cálculo da Superfície Corpórea Queimada Regra de Wallace (Regra dos 9) ● Palma da mão (do paciente) corresponde a 1% de sua superfície corpórea; ● App E-burn (já faz até o cálculo da reposição volêmica); ● Diagrama de Lund & Browder (usado principalmente para crianças) ATENÇÃO! Queimaduras de 1o grau não são consideradas para cálculo da SCQ! Fórmulas para ressucitação volêmica ● Fórmula de Parkland: 4ml x peso x %SCQ ● Fórmula de Brook modificada: 2ml x peso x %SCQ; ● CTQ Campinas 2-4ml x peso x %SCQ Em criança: 3 ml x peso x %SCQ ● Solução: Ringer Lactato Aquecido (aquecido para evitar hipotermia) - 50% nas primeiras 8 horas; - 50% nas 16 horas remanescentes; Bruna Wink Neves 8° Semestre Aula 14 Queimaduras Objetivo da hidratação ● Garantir boa perfusão tecidual; ● Evitar aumento da parte necrosada; ● Garantir volemia suficiente para produzir diurese, com débito urinário: - Adulto: > 0,5ml/kg/h; - Criança: > 1ml/kg/h; Qual é a melhor maneira de saber que ele está hidratado? R: Débito urinário, sendo adulto: > 0,5ml/kg/h e criança: > 1ml/kg/h; Analgesia ● Dipirona 1g endovenoso (dor leve); ● Tramadol (dor moderada à intensa); ● Morfina 10 mg + 9 ml de SF (dor intensa): - Maior parte dos casos; - Fazer 3-4 ml endovenoso, ACM (significa a critério médico) (dor intensa: 70kg); Importante: checar alergias Limpeza Após analgesia Desbridamento Bruna Wink Neves 8° Semestre Aula 14 Queimaduras Antibiótico tópico e curativo Curiosidade: Reposição metabólica ● Reposição energética: - Fórmula de Curreri: 25 Kcal/kg/día + 40 Kcal por % SCQ ● Reposição proteica: - 1-2g/kg/dia ● Via de administração preferencial: enteral Outras condutas no atendimento ao paciente queimado: ● Acima de 20% SCQ: SVD (sonda vesical de demora) e SNE (sonda nasoenteral) ● Cabeceira elevada a 30 graus ● Reavaliação contínua! ● Jejum não está indicado de rotina ● Profilaxia antitetânica! ● NÃO está indicado o uso de ATB profilático! Exames complementares ● HMG, Na, K, Cr, Gasometria com Lactato, Urina 1; ● RX tórax (depois do atendimento primário); ● USG à beira leito ● Outros exames dependente de politrauma/história do paciente Investigação secundária ● Traumas associados; ● Ambiente aberto ou fechado; ● Consumo de drogas/álcool; ● Violência, abuso; ● Tempo da queimadura; ● Uso de medicação contínua; ● Doenças prévias; ● Atenção aos maus tratos (criança); Encaminhar para um centro especializado, quando ● Queimaduras de espessura parcial acima de 10%; ● Queimaduras de espessura total (na ausência de cx plástica); ● Queimaduras em face, mãos, pés, genitais e grandes articulações; ● Queimaduras elétricas; ● Suspeita de lesão inalatória; ● Doenças associadas que podem se agravar; ● Traumas concomitantes; ● Crianças; ● Autoextermínio;
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