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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS DE PERNAMBUCO- FCHPE CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO JOÃO PAULO RODRIGUES DE LIMA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL: AVANÇO OU RETROCESSO? RECIFE- PE 2021 JOÃO PAULO RODRIGUES DE LIMA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL: AVANÇO OU RETROCESSO? Monografia apresentada Faculdade de Ciências Humanas de Pernambuco- FCHPE, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do Prof..... RECIFE- PE 2021 DEDICATÓRIA Dedicatória. RESUMO O presente trabalho irá abordar os argumentos contrários e favorável a redução da maioridade penal a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente. A proposta de redução da imputabilidade é sustentada por parte da sociedade, na medida em que distorcem a origem do problema situado na ausência efetiva de políticas públicas, sendo dois motivos que levam o menor a ser infrator: os fatores socioeconômicos e os fatores sociofamiliares. Também há a impossibilidade da redução por meio das leis que protegem as crianças e os adolescentes, começando com a Constituição Federal sabendo que o artigo 228, que diz que os menores de 18 (dezoito) anos são considerados inimputáveis é uma cláusula pétrea, estando protegida pela imutabilidade, não podendo ser alterada por Emenda Constitucional, sendo possível só através do poder constituinte originário. Também temos a lei específica, que é o Estatuto da Criança e do Adolescente. Após o menor cometer um crime e ser pego, ele passa pelo processo de ressocialização elencado no artigo 112 do ECA, sendo assim, o processo de ressocialização do menor deverá ser diferenciado do maior de idade pois diante da falência do Sistema prisional brasileiro, jovens de 16 (dezesseis) anos em presídios acarreta mais lotação e assim fica mais dificultoso o processo de ressocialização, ocorrendo mais reincidências. Palavras-chave: Imputabilidade. Maioridade Penal. Estatuto da criança e do adolescente. ABSTRACT The present paper will address the arguments against reducing the age of criminality from the Child and Adolescent Study. The proposal to reduce imputability is sustained by society, insofar as they distort the origin of the problem situated in the absence of effective policies two reasons that lead the minor to be an offender: the socioeconomic factors and the socio-family factors. There is also the impossibility of reduction through laws that protect children and adolescents, starting with the Federal Constitution knowing that Article 228, which says that minors under 18 (18) years are considered unworthy is a stony clause, being protected by immutability, and can not be altered by Constitutional Amendment, being possible only through the originating constituent power. We also have the specific law, which is the Child and Adolescent Study. After the minor commits a crime and is caught, the same goes through the process of resocialization listed in Article 112 of the ECA, and thus, the process of resocialization of the minor must be differentiated from the adult because of the bankruptcy of the Brazilian prison system, young people of 16 (sixteen) years in prisons causes more stocking and this makes the process of resocialization more difficult, with more recidivism occurring. Keywords: Imputability. Criminal Majority. Statute of children and adolescents SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 07 2 DESENVOLVIMENTO ......................................................................................... 09 2.1 MARCO HISTÓRICO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL ...................... 09 2.2 FATORES QUE LEVAM O MENOR A SER INFRATOR .............................. 11 2.2.1 Fator Sócio-Familiar ....................................................................................... 11 2.2.2 Fator Sócio-Econômico .................................................................................. 11 2.3 A MAIORIDADE PENAL NO BRASIL ............................................................. 12 2.3.1 O Menor no Contexto da Constituição Federal e o Código Penal ................ 12 2.3.2 As Excludentes de Culpabilidade .................................................................. 13 2.3.3 A Proposta da Ementa à Constituição n° 171/93 .......................................... 17 2.4 APLICAÇÃO DO ECA NA RESSOCIALIZAÇÃO DO MENOR INFRATOR .. 18 2.4.1 Conceito de Ressocialização ......................................................................... 19 2.4.2 Medidas Socioeducativas............................................................................... 20 2.4.3 Corrente Contrária à Redução da Maioridade .............................................. 23 2.4.4 Corrente Favorável à Redução da Maioridade ............................................. 26 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 28 REFERÊNCIAS......................................................................................................29 8 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho faz uma abordagem sobre os argumentos contrários e favorável a redução da maioridade penal através do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei 12.852/13, com o objetivo de debater sobre como e porque a redução da maioridade penal não é a melhor solução para a ressocialização dos menores infratores fazendo uma análise das legislações e de como são aplicadas. Serão abordados pontos como o motivo que leva os jovens a cometer infrações; sobre a inconstitucionalidade da redução da maioridade penal e logo em seguida a ressocialização dos menores infratores de acordo com o ECA e a eficácia das medidas socioeducativas. Sendo dever do estado a proteção aos jovens, garantindo-lhes os meios para que eles possuam autonomia, saúde, cultura, bem-estar e etc. Sendo assim, quando há uma deficiência do Estado em promover tais coisas para os jovens, eles também terão uma deficiência em retribuir tais coisas para a sociedade. O tema abordado é de relevante importância pois atualmente no Brasil vem crescendo a discussão sobre a redução da maioridade penal para 16 (dezesseis) anos, onde grande parte da população concorda , pois se sentem inseguros diante dos crimes violentos que despertam o medo em toda a população, alguns são cometidos por menores e as vítimas de tais crimes argumentam que há impunidade e, sendo assim, são levados por forte emoção e sem pensar nas consequências da redução, nos aspectos da lei que impedem a redução. Sendo assim, quais os argumentos contrários a redução da maioridade penal? A pesquisa será realizada com base nos debates que dividem a sociedade sobre a redução da maioridade penal, sobre o que seria melhor para o menor infrator: um investimento na sua ressocialização ou colocá-los em presídios junto com outros criminosos maiores de idade? Sendo assim será colocado neste trabalho com base na Constituição Federal e no Estatuto da criança e do adolescente o melhor caminho para a ressocialização e a recolocação do jovem na sociedade. Através do método dedutivo, será feita uma análise através de pesquisas bibliográficas, artigos na internet e legislação visando a promoção de um debate levando em consideração os argumentos contrários a redução da maioridade penal. 9 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 MARCO HISTÓRICO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL A maioridade define que um indivíduo possui a capacidade jurídica de responder penalmente por seus atos criminosos, onde aqui no Brasil, essaidade é definida aos 18 anos. No início do século XIX, de acordo com as Ordenações Filipinas, a inimputabilidade penal se encerrava aos 7 (sete) anos de idade. Este menor não estava sujeito à pena de morte. O sistema de “jovem adulto” era aplicado para os jovens que tinham entre 17 (dezessete) e 21 (vinte e um) anos. Estes poderiam ser condenados à morte, ou, dependendo das circunstâncias, poderia ter a diminuição da sua pena. A maioridade penal absoluta era alcançada aos 21 (vinte e um) anos e se via sujeita a aplicação da pena de morte (OLIVEIRA, 2016). A maioridade penal foi instaurada no Brasil pelo primeiro Código Criminal do Império (1830) e era alcançada aos 14 (quatorze) anos, conforme previsto no artigo 10 do seu texto. O critério psicológico do discernimento era aceito, e caso estivesse presente no ato praticado pelo menor, este deveria ser encaminhado às chamadas casas de correção, obedecendo ao artigo 13. O tempo a ser cumprido nestas casas seria determinado pelo magistrado, mas não deveria ultrapassar a data em que o menor completaria 17 (dezessete) anos de idade. A condenação à prisão perpétua era prevista (OLIVEIRA, 2016). Nesse cenário, Carvalho traz: O nosso Código Criminal de 1830 distinguia os menores em quatro classes, quanto a responsabilidade criminal: a) os menores de 14 anos seriam presumidamente irresponsáveis, salvo se se provasse terem agido com discernimento; b) os menores de 14 anos que tivessem agido com discernimento seriam recolhidos a casas de correção pelo tempo que o juiz parecesse, contanto que o recolhimento não excedesse a idade de 17 anos; c) os maiores de 14 anos e menores de 17 anos estariam sujeitos às penas de cumplicidade (isto é, caberia dois terços da que caberia ao adulto) e se ao juiz parecesse justo; d) o maior de 17 anos e menor de 21 anos gozaria da atenuante da menoridade. (CARVALHO, 1977, p. 312) Sendo assim, pode-se perceber que existe uma compreensão de alguns atos 10 que são praticados os infratores deveriam ser dirigidos às chamadas instalações disciplinares industriais, não podendo lá permanecer após atingirem 17 (dezessete) anos de idade. Os infratores deveriam ser dirigidos às chamadas instalações disciplinares industriais, não podendo lá permanecer após atingirem 17 (dezessete) anos de idade. Quando a Lei nº 4.242, de 5 de janeiro de 1921, em seu artigo 3º, revogou o dispositivo do Código de 1890, que tratava da inimputabilidade e trouxe, em seu artigo 20 a seguinte previsão: “o menor de 14 anos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção, não será submetido a processo de espécie alguma e que o menor de 14 a 18 anos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção será submetido a processo especial”. Dessa forma, a lei possibilitou, também, a criação de um serviço que pudesse proporcionar a assistência e desse proteção à infância desamparada e delinquente, resultando na construção de abrigos e tantas outras providências objetivando o auxílio ao menor. As características punitivas do cárcere no Brasil, sobressaem-se com grande disparidade ao aspecto educativo que as prisões deveriam assumir. Através da investigação dos elementos históricos que contribuem para essa postura institucional e atitudinal do sistema penal brasileiro, podemos refletir sobre as consequências de inserir um adolescente nesse contexto. (FERRAZ, 2015). É perceptível a intenção do legislador e da sociedade da época em aprimorar e melhorar a situação do jovem infrator e assim chegar mais próximo do critério de biopsicológico, pois a idade penal passou de 07 (sete) anos para 14 (quatorze) anos, ocorreu um aumento de 7 anos e adotou um critério de discernimento, caso o executor do ato criminoso, maior de 14 anos, não o possuísse era encaminhado às casas de correção pelo Juiz por tempo indeterminado, desde que não exceda o limite máximo de 16 anos. (OLIVEIRA, 2010). Com isso, deve-se lembrar sobre os grandes debates acerca da maioridade penal e com isso traz várias correntes correntes doutrinarias adotadas por juristas em todas as partes do mundo ao tratar da maioridade penal, focando em algumas dessas correntes. 2.2 FATORES QUE LEVAM O MENOR A SER INFRATOR 11 2.2.1 Fator Sócio-Familiar Uma das causas mais próximas a estimular a manipulação do menor é a questão do fator sociofamiliar, pois a família é a base de toda a sociedade, mas, sabemos que, nem toda família possui uma boa estrutura refletindo assim na educação do menor, não sendo educado adequadamente e repetindo na sociedade o que é visto em casa. São muitos fatores que contribuem para a desagregação familiar, dentre eles os mais frequentes são os vícios, sendo os mais comuns os vícios em drogas, tanto lícitas quanto ilícitas, a incidência de parentes criminosos e a falta de cuidado e atenção dos pais para com os filhos menores onde são comuns casos de agressão dentro da própria casa. Sendo assim, os jovens que vivem em tal situação são mais propensos a cometer crimes violentos e a sociedade, ao invés de tentar auxiliar estes jovens fingem não enxergar os nossos problemas sociais e praticam o mais fácil, o julgamento. 2.2.2 Fator Sócio-Econômico Cresce cada dia, o número de jovens que entram para a vida do crime e estão em estado de marginalização, ou seja, vivem à margem da sociedade, na miséria, em lugares desprovidos de condições básicas para a sobrevivência do ser humano e sem perspectiva de uma vida melhor. A grande maioria da população ganha menos de um salário-mínimo e os que ganham possuem dificuldades em dispor das garantias que a CF elenca em seu artigo 6°, inciso IV (o salário-mínimo deve atender as necessidades básicas e as de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social). Os filhos desses assalariados são jovens que vivem em situação de risco e os pais, em atitudes desesperadas, muitas vezes seguem para o caminho do crime. 2.3 A MAIORIDADE PENAL NO BRASIL 12 2.3.1 O Menor no Contexto da Constituição Federal e o Código Penal A Constituição Federal de 88 define em seu art. 228 que são penalmente inimputáveis qualquer menor de 18 anos. Aqui no Brasil esta idade pode coincidir com a maioridade penal e menores de 18 (dezoito) anos respondem por infrações de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. A maioridade penal, não pode ser comparada necessariamente, com a maioridade civil, nem com as idades mínimas necessárias para serem realizadas outras atividades comuns. Em alguns países a pessoa que esteja abaixo da maioridade penal, poderá ter punições mais leves e um acompanhamento social e até mesmo psicológico. Geralmente a maioridade penal não vem a coincidir com a idade de imputabilidade penal. Há, portanto, uma diferença entre as normas internacionais e o regime jurídico de responsabilidade juvenil vigente no Brasil: enquanto as normas internacionais reconhecem a imputabilidade penal do menor de dezoito anos e reservam as medidas de caráter protetivo para as crianças abaixo da idade mínima de inimputabilidade penal; o regime jurídico brasileiro não reconhece a imputabilidade penal dos menores de dezoito anos e atribui medidas socioeducativas de caráter protetivo a todos os infratores menores de dezoito anos, não apenas àqueles abaixo da idade mínima de doze anos. Os menores de doze anos estão fora do alcance das medidas socioeducativas do Estatuto da Criança e do Adolescente (PESSOA, 2017). Nesse cenário temos que todos os crimes praticados por menores de dezoito anos são chamados de “atos infracionais” e os adolescentes que os praticam são chamados dede "menores infratores". Aos menores que praticam, são aplicadas “medidas socioeducativas” e se limitam apenas a adolescentes (pessoas com idade compreendida entre doze anos de idade completos e dezoitoanos de idade incompletos. Todavia, a medida socioeducativa de internação poderá ser excepcionalmente aplicada ao jovem de até 21 anos, caso tenha cometido o ato aos quatorze anos). O Estatuto da Criança e do Adolescente traz, em seu artigo 121, § 3º, quanto ao adolescente em conflito com a lei, que “em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos”, por cada ato infracional grave. Após esse tempo, ele passará ao sistema de liberdade assistida ou semiliberdade, podendo 13 retornar ao regime fechado no caso de mau-comportamento. Mesmo que a Constituição brasileira estabeleça o respeito à integridade física e moral dos detentos, não é essa a realidade observada nas unidades prisionais de todo o país. Apesar da negativa de direitos básicos aos detentos não causar comoção popular, os problemas do sistema podem gerar consequências também para as pessoas que estão fora das celas. A superlotação carcerária e a organização de facções dentro dos presídios apenas potencializam o aumento dos crimes. A partir dos 12 anos, qualquer adolescente é responsabilizado pelo ato cometido contra a lei. Essa prioridade na responsabilização, executada por meio de medidas socioeducativas previstas no ECA, têm o objetivo de ajudá-lo a recomeçar e a prepará-lo para um mundo bem diferente do que ele tinha anteriormente. É parte do processo de ressocialização que ele não volte a repetir o ato infracional. Por esse e pro outros motivos que não se deve confundir impunidade com imputabilidade. A imputabilidade, segundo o Código Penal, deve ser a capacidade de a pessoa entender que o fato cometido é ilícito e deve agir de acordo com esse entendimento, fundamentando em sua maturidade psíquica. 2.3.2 As Excludentes de Culpabilidade A culpabilidade é um requisito indispensável para aplicação de pena e, para alguns, para caracterização de crime, havendo grande discussão nesse ponto. Antigamente, era considerado o dolo como espécie da culpabilidade, pois esta era estudada através de uma concepção psicológica entre o indivíduo e a conduta por ele praticada. No começo do século XX foi inserida a teoria normativa da culpabilidade e o dolo/culpa passaram a ser elementos, e não mais modalidades. Esta avaliação da culpabilidade em determinado crime dependia do dolo do agente, isto é, da intenção de praticar o crime de forma voluntária (CAVALIERI, 2017). O ECA prevê algumas medidas educativastais como: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. 14 a) A inimputabilidade é um conjunto de condições que podem dar ao agente a capacidade de conduzir juridicamente a prática do ato punivel. Quando cosegue-se verificar à sua pouca capacidade mental, devem ficar impossibilitados de efetuar uma correta avaliação da situação de fato, não tendo, pois, capacidade de entendimento do fato tipo que praticaram. b) Os que são considerados de semi-imputabilidade estão os o doentes mental e o agente com pouco desenvolvimento mental ou retardado poderão ser responsabilizados se demonstrado que, apesar da menor capacidade mental, tinha alguma capacidade de entender o caráter ilícito da conduta ou tinha condições de determinar-se de outra forma, que não a prática do tipo penal. Deve-se lembrar que imputabilidade é sinônimo de atribuidade. Imputar é atribuir algo a alguém. Quando se diz que determinado fato é imputável a certa pessoa, está-se atribuindo a essa pessoa ter sido a causa eficiente e voluntária desse mesmo fato. Mais ainda: está-se afirmando ser essa pessoa, no plano jurídico, responsável pelo fato e, consequentemente, passível de sofrer efeitos, decorrentes dessa responsabilidade, previstos pelo ordenamento vigente. Pode, entretanto, a imputabilidade estar referida não ao fato, mas diretamente ao agente. Nesta última hipótese, significa aptidão para ser culpável. Quando se afirma que certa pessoa é imputável, está-se dizendo que ser ela dotada de capacidade para ser um agente penalmente responsável. Ambos os sentidos em exame são usuais e interessam particularmente ao direito penal. (TOLEDO, p. 312-313, 2008). No entendimento de Capez (2011) o agente deve ter condições físicas, psicológicas, morais e psíquicas de saber que está praticando um ilícito penal, o referido autor ainda assevera que, os atributos não são somente esses, além da capacidade de entender os seus atos, o agente deve ter o devido controle sobre sua vontade, o que quer dizer que, o imputável não é somente aquele que tem capacidade intelectual sobre o que significa sua conduta, é necessário ainda que tenha o comando de sua vontade de acordo com esse entendimento. 15 Nesse cenário, Capez (2011) leciona que estes dois elementos devem obrigatoriamente andar juntos, pois na falta de um deles, o sujeito será tratado como inimputável, além disso, Welzel apud Capez (2011) ensina que a capacidade de culpabilidade apresenta dois elementos específicos: um “cognoscivo” e outro “volitivo”, ou seja, a capacidade de compreender o injusto e a determinação da vontade são elementos que em conjunto constituem a capacidade de culpabilidade. Ainda no campo da responsabilidade, Nucci (2011) ensina que anteriormente à Reforma de 1984 a antiga Parte Geral do Código Penal, classificava o Título III como “Da Responsabilidade”, que em sua opinião, tal entendimento merecia ser alterado, tendo em vista que, a imputabilidade é a capacidade de ser culpável enquanto que, a culpabilidade reside no juízo de reprovação social que pode ser realizado ao imputável, nesses termos, a responsabilidade é decorrência da culpabilidade, que em linhas gerais, é a relação existente entre o autor do fato ilícito e o Estado, onde aquele merece ser punido em razão de ter cometido um delito. A par disso, os referidos conceitos não se confundem, mas encontram-se intimamente ligados (BARBOZA, 2014). Castelo Branco (2011) existem três sistemas utilizados para esse fim, quais sejam: o biológico, o psicológico e o biopsicológico. O primeiro avalia apenas aspectos puramente biológicos, a exemplo disso, busca examinar se a pessoa possui desenvolvimento mental retardado. O critério psicológico tem por finalidade avaliar se o indivíduo possui ou não capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Já o critério biopsicológico consiste na junção dos dois critérios anteriores. Em relação ao critério psicológico, Nucci (2011) afirma que, quando aceito exclusivamente, outorga-se ao juiz uma posição de destaque, podendo o magistrado apreciar a imputabilidade com ampla arbitrariedade. Para Capez (2011) o referido sistema contempla somente o momento da prática do crime, e que se fosse adotado unicamente, poderia levar a exclusão da imputabilidade do agente quando este praticasse o fato delituoso compelido totalmente pela emoção, hipótese não vislumbrada em lei como causa dirimente (BARBOZA, 2014). 16 Na opinião de Masson (2008) o critério biopsicológico a seu turno, conjuga a atuação do magistrado e do perito, este se detém na questão biológica, enquanto aquele se preocupa com a psicológica. Nesses termos, Nucci (2011) leciona que este é o sistema adotado pelo Código Penal, conforme depreende-se do art. 26 do referido diploma legal, além de constituir também o sistema adotado por outras legislações, a exemplo disso, a espanhola (BARBOZA, 2014). As causas diante da lei que podem excluir a imputabilidade no Código Penal, Segundo Castelo Branco (2011) as causas da inimputabilidade se resumem em quatro hipóteses, a saber: 1. Doença mental: é caracterizada pela perturbação mental capaz de importar na capacidade de compreender o caráter ilícito do fato. Ex.: psicose, esquizofrenia, etc. 2. Desenvolvimento mental incompleto:é o desenvolvimento que ainda não se aperfeiçoou, seja por causa da idade do agente, seja por falta de convívio social. Ex.: menores de 18 anos e silvícolas. 3. Desenvolvimento mental retardado: caracteriza-se pelo atraso na idade mental cronológica do indivíduo. Ex.: oligofrênicos. 4. Embriaguez completa por caso fortuito ou força maior: também conhecida como acidental, que pode ser completa ou incompleta, se for completo, isenta de pena. Se incompleta, não isenta, mas diminui a pena de 1/3 a 2/3. Ainda com relação à idade limite para se estabelecer a imputabilidade, Mirabete e Fabbrini (2011) advertem que o patamar adotado pelo Brasil é consagrado por vários países, como a Áustria, Dinamarca, Finlândia, França, Colômbia, México, Peru, Uruguai, Equador, Tailândia, Noruega, Holanda, Cuba, Venezuela, etc. Contudo, há países que determinam a idade de 17 anos como a Grécia, Nova Zelândia, Federação Malásia; há também aqueles que seguiram a idade de 16 anos como a Argentina, Birmânia, Filipinas, Espanha, Bélgica, Israel; porém, há aqueles que adotaram a idade de 15 anos quais sejam Índia, Honduras, Egito, Síria, Paraguai, Iraque, Guatemala, Líbano; já a Alemanha e o Haiti determinaram a imputabilidade a partir dos 14 anos; já a Inglaterra optou pelos 10 anos de idade (BARBOZA, 2014). 17 2.3.3 A Proposta da Ementa à Constituição n° 171/93 Com o crescimento dos crimes geralmente praticados por menores, a sociedade sofre com esse cenário que ocorre no Brasil, e ficam pedindo sempre medidas que consigam conter a violência nas cidades. O governo, com alguns vários deputados liderando e incentivando na aprovação e na votação da PEC, (PEC 171/93), que há muitos anos está para ser votada, conseguiram com que fosse aberta a discussão e até mesmo a votação da mesma, mas com algumas mudanças nessa emenda constitucional. Na PEC original, reduz a maioridade penal de 18 (dezoito) para 16 (dezesseis) anos, para todos os crimes. Com a mudança, a PEC só ira funcionar, para aqueles que cometerem crimes hediondos, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte(ARRUDA, 2015. p.35). A proposta justifica-se que o conceito de inimputabilidade penal, tenha como um fundamento a presunção legal de menoridade e todos os seus efeitos quando for fixado um entendimento de algum ato criminoso. O critério de avaliação será sempre o biológico, tendo como observação principal o entendimento do menor e seu desenvolvimento mental. Há, em tramitação, a Proposta de Emenda à Constituição nº 171, de 1993 (PEC 171/93), de autoria do ex-deputado Benedito Domingos, que tem por objetivo a mudança na redação do art. 228, Constituição Federal 1988, que afirma serem “penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos” (BRASIL, 1988). Com a PEC existe um argumento muito utilizado que é o aumento expressivo da criminalidade entre os menores de dezoito anos, que precisam de institutos adequados ao seu recolhimento para reeducação ou correção de comportamento. Já que, segundo explicita, as medidas socioeducativas afastam o adolescente do meio social em um curto período de tempo e, após, eles retornam às práticas criminosas. Já o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente prevê algumas sanções e com isso agrega uma forma de ressocialização, com a tentativa de declinar a incidência da violência nas grandes cidades quando esse menor volta à sociedade, onde será detalhado mais adiante. 18 2.4 APLICAÇÃO DO ECA NA RESSOCIALIZAÇÃO DO MENOR INFRATOR O ECA foi instituído pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990, ela regulamenta os direitos das crianças e dos adolescentes inspiradas pelas diretrizes fornecidas pela Constituição Federal de 1988. O Estatuto diz quer todas as crianças e adolescentes tem direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte e à convivência familiar e comunitária. O estatuto diz ainda que, é dever da família, da comunidade da sociedade em geral e do poder público efetivar estes delitos. Isso, por acaso, é proteger demais? Ninguém quer impunidade para quem cometeu um ato contra a lei. A responsabilização faz parte do processo de aprendizado dos adolescentes. O tratamento é diferenciado por conta da condição peculiar de desenvolvimento em que o adolescente se encontra, e qual é a intenção disto: possibilitar ao jovem um recomeço de vida ou fazê-lo sofrer pelos erros cometidos? Sendo assim, as medidas socioeducativas são pedagógicas, possuindo o objetivo de inseri-los novamente na sociedade. Imperioso ressaltar o que diz o art. 105 do ECA a respeito dos atos infracionais cometidos por crianças, este aduz que, nessa hipótese serão aplicadas as medidas previstas no art. 101, a saber: Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras as seguintes medidas: I- encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II- orientação, apoio e acompanhamento temporários; III- matricula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V- requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI- inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII- acolhimento institucional; VIII- inclusão em programa de acolhimento familiar; IX- colocação em família substituta. Quando se tratar de adolescentes praticando ato infracional, necessário trazer à baila o que preceitua o art. 112, in verbis: Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I- advertência; II- obrigação de reparar o dano; 19 III- prestação de serviços à comunidade; IV- liberdade assistida; V- inserção em regime de semiliberdade; VI- internação em estabelecimento educacional; O dispositivo em comento além de assegurar o princípio da Prioridade Absoluta, também dispõe sobre o princípio da Proteção Integral à criança e ao adolescente que para Oliveira (2010) remete ao fato de denominados sujeitos necessitarem de atenção especial, levando em consideração sua condição de ser em desenvolvimento, o que para o referido autor, justifica a inimputabilidade penal dos menores de 18 anos. 2.4.1 Conceito de Ressocialização O entendimento do sentido de ressocialização na área penal remete ao esclarecimento de alguns pontos, e o início é pela etimologia do termo. A noção etimológica do termo Ressocialização recobre um amplo campo semântico: reabilitação, recuperação, readaptação, reinserção, entre outros léxicos correlatos (BECHARIA, 2004). Ressocialização conota, portanto, o sentido de repetir a socialização, ou o ato de lidar novamente com os outros, retomar avida em grupo, em sociedade. Na área do Direito Penal, ressocialização refere reeducação social do apenado durante e depois de cumprimento de pena. Em sentido amplo, abrange um conjunto de ações que visa à readaptação do preso na sociedade, contribuindo na sua recuperação nos aspectos psicossociais, profissionais e educacionais, com objetivo de inibir qualquer ato reincidente de natureza criminal (FILHO, 2015). O problema da marginalidade é causado por uma série de fatores. Vivemos em um país onde há má gestão de programas sociais/educacionais, escassez das ações de planejamento familiar, pouca oferta de lazer nas periferias, lentidão de urbanização de favelas, pouco policiamento comunitário, e assim por diante (PESSOA, 2017). 20 2.4.2 Medidas Socioeducativas As medidas socioeducativas, são respostas que o Estado dá ao adolescente, na prática de algum ato infracional, que normalmente é entendido como crime ou até mesmo contravenção penal pela legislação.Sendo assim, são elas: I – Advertência: (art,115 do ECA):é uma repreensão judicial, com o objetivo de sensibilizar e esclarecer o adolescente sobre as consequências de uma reincidência infracional. A advertência é realizada através de audiência onde o Juiz da Vara da Infância e do Adolescente irá realizar a repreensão verbal ao menor na presença dos pais ou responsáveis que será reduzida a termo e assinada. Advertência será aplicada quando o menor infrator cometer um crime leve e que inexista violência contra a vítima e outro requisito é o menor ser primário. II – Obrigação de reparar o dano: (art,116 do ECA): é ressarcimento por parte do adolescente do dano ou prejuízo econômico causado à vítima. A obrigação de reparar o dano ocorre quando há dano patrimonial a vítima, sendo assim, é obrigação do infrator, dos pais ou responsáveis reparar o dano. Tal obrigação deverá ser acordada entre o menor infrator e a vítima na presença do juiz, podendo-se devolver o bem extraído ou acordar sua restituição em dinheiro. O entender do Liberati (1999, p. 84), é dessa forma: A medida de obrigação de reparar o dano deve ser imposta em procedimento contraditório, onde sejam assegurados ao adolescente os direitos constitucionais de ampla defesa, de igualdade processual, da presunção de inocência, com assistência técnica de advogado. III – Prestação de serviços à comunidade: (art,117 do ECA):é a realização de tarefas gratuitas e de interesses comunitário por parte do adolescente em conflito com a lei, durante período máximo de seis meses e oito horas por semana. Tais tarefas serão realizadas em escolas, hospitais, creches e etc. os serviços serão oferecidos com gratuidade no intuito de colocar os jovens em ações sociais para trazer-lhes mais empatia e consciência para com o próximo, sendo assim, beneficia o menor infrator e a sociedade que foi indiretamente afetada pelo mesmo. 21 O adolescente deve estar apto para o trabalho que lhe for sancionado, não podendo ultrapassar seis meses, sendo acompanhado por um profissional que irá fazer um relatório e encaminhar para o Juiz para que se note as melhoras do menor. IV – Liberdade assistida; (art,118 e 119 do ECA):acompanhamento, auxílio e orientação do adolescente em conflito com a lei por equipes multidisciplinares, por período mínimo de seis meses, objetivando oferecer atendimento nas diversas áreas de políticas públicas, como saúde, educação, cultura, esporte, lazer e profissionalização com vistas à sua promoção e de sua família, bem como inserção no mercado de trabalho. A sua aplicação será feita pelo Juiz colocando ao lado do menor uma pessoa apta para auxiliá-lo e inseri-lo novamente em sua família e na sociedade. Liberati (1999, p. 87), garante que “a medida tem ampla abrangência na linha de acompanhamento, auxílio e orientação ao adolescente, visando a sua perfeita integração familiar e comunitária”. V – Inserção em regime de semiliberdade: (art,120 do ECA):sem prazo fixo, mas com liberação compulsória aos 21 anos, o regime permite a realização de tarefas externas, sem precisar de autorização.; Liberati (1999, p. 89) “por semiliberdade, como regime e política de atendimento, entende-se aquela medida socioeducativa destinada a adolescentes infratores que trabalham e estudam durante o dia e a noite recolhe-se em entidade especializada”. No Regime de semiliberdade o menor será recolhido em estabelecimento adequado e é estabelecida de duas maneiras que varia de acordo com o comportamento do menor infrator. Liberati (1999, p. 89), compreende a semiliberdade de duas maneiras, como: Existem dois tipos de semiliberdade; o primeiro é aquele tratamento tutelar determinado desde o início pela autoridade judiciária, através do devido processo legal, o segundo caracteriza-se pela progressão de regime, o adolescente internado é beneficiado com a mudança de regime, do internato para a semiliberdade. 22 VI – Internação em estabelecimento educacional; (art,121) esta medida tem caráter pedagógico, visando à reinserção do adolescente infrator ao meio familiar e comunitário, bem como o seu aprimoramento profissional. Art. 121. A internação constitui medida privativa de liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. § 1º. Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. § 2º. A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. § 3º. Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. § 4º. Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 5º. A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. A medida de socioeducativa de internação deverá ser executado no menor tempo possível, de acordo com o desenvolvimento do infrator, devendo ser realizada no mínimo em seis meses e no máximo em três anos, devendo o mesmo ser liberado obrigatoriamente aos 21 (vinte e um) anos. Sabendo que a internação é a medida mais complicada, visto a condição da pessoa em desenvolvimento dos jovens a mesma deve ser efetuada para que não traga constrangimento para os menores e que não abale a integridade física e psíquica dos jovens. Explana Liberati (1995, p. 92) que: Ao efetuar a contenção e a segurança dos infratores internos, as autoridades encarregadas não poderão, de forma alguma, praticar abusos ou submeter a vexame ou a constrangimento não autorizado por lei. Vale dizer que devem observar os direitos do adolescente privado de liberdade, alinhados no art. 124. As medidas socioeducativas elencadas acima possuem o objetivo de ressocializar os jovens para que os mesmos consigam se reintegrar na sociedade, mas, mesmo com os avanços que temos para conquistar tais direitos ainda há muitas falhas na aplicação desses direitos, principalmente quando se fala na medida de internação pois a mesma é privativa de liberdade, afetando mais os jovens ao invés de ressocializá-los (CAVALIERI, 2017). 23 O motivo é a deficiência de recursos que o Estado dá para os “estabelecimentos adequados” que são conhecidos popularmente como “escola de criminosos” pelo simples fato de os jovens que cumprem a pena privativa de liberdade voltar a cometer crimes pois quando voltam para a sociedade são excluídos do mercado de trabalho e vistos pelas pessoas como marginais, sendo assim eles não têm espaço para se inserir na sociedade novamente e voltam a cometer crimes. 2.4.3 Corrente Contrária à Redução da Maioridade A prisão de menores de idade em companhia de criminosos maiores, num sistema prisional assumidamente falido, contribuiria para aumentar a reincidência. A solução estaria no investimento efetivo e amplo em educação, bem como na aplicação adequada do Estatuto da Criança e do Adolescente, alterando-o, se o caso, para tratar com maior rigidez os crimes violentos. Segundo Masson (2008) os defensores desta posição acreditam que a redução da maioridade penal somente seria possível com o advento de uma nova Constituição Federal, oriunda do Poder Constituinte Originário, tendo em vista tratar- se de cláusula pétrea implícita concernente ao direito fundamental do menor de 18 anos, que não pode ser julgado, processado e condenado pela Justiça Comum Para a corrente contrária a redução da maioridade o indivíduo que possui idade inferior a dezoito anos, não possui uma capacidade plena de discernimento psicológico, a ponto de poder ser responsável por um crime. Na lição de Mirabete e Fabbrini (2011) não se pode negar que atualmente um jovem de 16 a 17 anos, independente do seio social, tenhaamplo conhecimento do mundo que o cerca, bem como condições de discernir acerca da ilicitude de seus atos, todavia, na opinião dos autores, reduzir a maioridade penal constituiria um retrocesso para a política penal e penitenciária brasileiras, além de promover a “promiscuidade” dos jovens com delinquentes contumazes. O ministro da justiça José Eduardo Cardozo, declarou ser contrário à redução da maioridade. “Qualquer projeto que reduza a maioridade penal, nos termos do que está hoje consagrado na Constituição Federal é inconstitucional, porque todos os https://jus.com.br/tudo/poder-constituinte 24 direitos e garantias individuais consagrados na Constituição são cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser modificados nem por emenda constitucional, (...) apenas com uma nova constituição”, disse ele, cuja opinião foi reforçada pela presidente Dilma Rousseff. Destarte, a corrente doutrinária contrária à redução da maioridade penal defende que a maioridade penal aos 18 (dezoito) anos não é causadora da situação de violência em nosso país, que a solução para a criminalidade e delinquência juvenil está na não aplicação eficaz do Estatuto da Criança e do Adolescente; conforme pontifica Mirabete (2007): A redução do limite de idade no direito penal comum representaria um retrocesso na política penal e penitenciário brasileiro e criaria a promiscuidade dos jovens com delinquentes contumazes. O ECA prevê, aliás, instrumentos eficazes para impedir a prática reiterada de atos ilícitos por pessoas com menos de 18 anos, sem os inconvenientes mencionados. Segundo essa corrente o Estatuto da Criança e do Adolescente é paternalista e por isso, proporciona uma excessiva proteção aos menores infratores, criando dessa forma uma situação de incredibilidade da sociedade em face da Justiça. Aquilo que seria absolutamente normal em uma ilha deserta, para um indivíduo isolado (apanhar frutas de qualquer árvore, apossar-se de tudo que lhe aprouvesse, destruir o que se lhe apresentasse como hostil ou desagradável, etc.), pode ser um grave crime na vida em sociedade. Ora, a criança é um ser inicialmente ilhado. Precisa ver e aprender para que possa “bem comportar-se” no interior da comunidade que brevemente irá impor-lhe desde a forma correta de mastigar, de vestir-se, até o modo de comportar-se perante as coisas e as pessoas. É, na verdade, um duro aprendizado esse de ter que conter apetites e impulsos naturais diante de certas regras ou normas de conduta impostas de fora. E não se deve esquecer que até mesmo os santos sucumbiram, por vezes no curso desse aprendizado, como nos revela Santo Agostinho no relato do furto das peras. Que dizer dos milhares de pequenos seres (a imensa maioria) não tão bem dotados ou predestinados? Não é nada fácil abandonar o mundo mágico e livre da infância para, passando pela puberdade, transformar-se no “homem razoável”(...) (TOLEDO, p. 320, 2008). Afirmam ainda que o sistema carcerário brasileiro vem sofrendo uma crise estrutural e funcional e que o crescimento da população carcerária é um problema que 25 a cada dia vem se agigantando, pois o aumento da criminalidade e consequentemente da violência vem aflorando a fragilidade das prisões brasileiras, no tocante às condições para cumprimento de penas privativas de liberdade, nesse sentido: O sistema penitenciário brasileiro está em crise. A ocorrência semanal de rebeliões e incidentes violentos indica que as prisões e delegacias não estão administradas de modo eficiente e que as autoridades não exercem controle total sobre essas instituições penais. Os condenados passam meses em condições de superlotação e falta de higiene nas carceragens das delegacias, sua transferência para penitenciárias adiada devido à falta de espaço, inércia da justiça ou corrupção. As condições de detenção existentes em numerosas prisões e delegacias brasileiras são pavorosas e equivalem a formas cruéis, desumanas e degradantes de tratamento e punição. Os internos correm o risco de contrair doenças potencialmente fatais, como a tuberculose e a AIDS, e os presos afetados não recebem tratamento adequado. Já ocorreram casos de morte sob custódia de presos paraplégicos devido à negligência médica. O pessoal é insuficiente e em muitos casos recorre-se a policiais armados em lugar de profissionais treinados para a função (MOURA, 2000, p. 351). Dessa forma a redução da maioridade penal serviria para agravar ainda mais o problema do sistema carcerário, constituindo-se no golpe fatídico ao sistema carcerário brasileiro. Sendo, portanto, descabido o raciocínio de que, o sistema prisional, mormente a sua estrutura e funcionamento nos dias de hoje, pudesse caracterizar-se como a solução punitiva inibidora dos crimes juvenis, pois, se o sistema prisional não recupera os adultos, quanto mais os menores. Segundo o disposto no artigo 227, parágrafo 3º, inciso V, a proteção especial abrange: "obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade"; ressalte-se que a privação de liberdade é prevista de forma explícita neste dispositivo Constitucional. Importa alinhavar que Toledo (2008) justifica seu posicionamento com base nos ideais acima mencionados, sob o argumento de que o menor deve ser tratado de modo especial, mediante legislação especial. Caso essa legislação esteja carecendo de atualização ou apresentando deficiências, o ideal é buscar aprimorá-la e não necessariamente reduzirem-se os limites de idade penal, tendo em vista as reconhecidas falhas do sistema penitenciário. 26 2.4.4 Corrente Favorável à Redução da Maioridade Alguns autores defendem que deveria haver uma maior flexibilidade para o limite da maioridade penal, como considerar várias faixas etárias, como etapas progressivas de imputabilidade, conforme Bentivoglio (1998): A criação de outras faixas de responsabilização penal, capaz, de par e passo, conscientizar a sociedade e seus membros de que cada violação da norma penal corresponde a uma sanção, ainda que atentando-se para as características etárias do violador. “Trata-se, como se vê, da chamada imputação mitigada”, adotada entre outras, pela legislação penal Italiana... (Bentivoglio, 1998). A real finalidade da redução da maioridade penal é evitar à impunidade e dar uma resposta satisfatória as famílias de vítimas de crimes tidos como hediondos e permanecem impunes pelo fato de terrem sido praticados por adolescentes. De acordo com Masson (2008), os adeptos desta posição acreditam que uma emenda constitucional seria uma medida suficientemente capaz de reduzir a maioridade penal, em razão de não ser cláusula pétrea, mas sim uma norma constitucional inserida no capítulo inerente a família, a criança, ao adolescente e ao idoso. No entanto, não se olvida da necessidade de que as penas sejam executadas em estabelecimentos carcerários especiais, separados e qualificados de acordo com a idade e periculosidade do agente; onde possam ser reeducados, alfabetizados e possam receber uma formação profissional, nesse sentido ainda temos Bentivoglio (1998): Dar ao adolescente, ainda não inteiramente formado, tratamento símile ao do infrator adulto viola a realidade científica e não traz, em mesmo a sociedade a sociedade, qualquer vantagem evidente. “A adoção, por outro lado, da responsabilidade mitigada" evita que crianças e adolescentes infratores sejam colocados todos na mesma vala, como inimputáveis absolutos, às vezes, convivendo dentro da mesma instituição. Assim, em caso de tais disposições não serem cumpridas, estabelecer punições de caráter tributário, administrativo, e mesmo penal, para os Estados, os entes públicos e as pessoas que fossem incumbidas da execução de penas para os 27 sentenciadosna faixa etária em causa. Argumentam que a redução da maioridade penal não consiste em vingança repressiva, mas sim, de um aspecto contributivo e preventivo, à medida que se insere positivamente no combate aos anseios relacionados à violência e insegurança social. Segundo Reale (1990): Tendo o agente ciência de sua impunidade, está dando justo motivo à imperiosa mudança na idade limite da imputabilidade penal, que deve efetivamente começar aos dezesseis anos, inclusive, devido à precocidade da consciência delitual resultante dos acelerados processos de comunicação que caracterizam nosso tempo. Assim, para os defensores da redução da maioridade penal não se necessita de uma capacidade de discernimento elevada para se compreender quais condutas são proibidas e quais condutas são permitidas. Para Greco (2011) apesar de a maioridade penal estar contida no texto constitucional, nada impede que havendo vontade política, esta seja reduzida, tendo em vista que o aludido art.228 não se encontra entre os dispositivos considerados irreformáveis, não se adaptando ao rol de cláusulas pétreas, dessa forma, o autor alerta que a única implicação prática da inserção da inimputabilidade penal no texto da Carta Maior, é que somente mediante um procedimento qualificado de emenda, poderá ocorrer a redução da maioridade penal, tornando-se impraticável essa redução por meio de lei ordinária. Na opinião de Nucci (2011) os jovens da atualidade não são os mesmos do início do século, razão pela qual, torna-se desnecessário tratá-los como pessoas que não têm noção do caráter ilícito do que fazem ou deixam de fazer, por isso, a redução é uma imposição natural, podendo ocorrer igualmente como em outros países, o estabelecimento de uma separação no local de cumprimento de pena para os maiores de 18 anos e para os menores que forem considerados imputáveis. https://jus.com.br/tudo/separacao 28 CONCLUSÃO Em um país que sempre ocorreram problemas na sociedade, onde muitas crianças e adolescentes nunca tiveram a oportunidade de uma educação adequada para o enfrentamento de todos os desafios que a vida dispõe. Mesmo assim, a redução da maioridade seria uma saída de emergência para este cenário nacional. Com isso, essa prática é recorrente no mundo e toda vez que um menor de idade pratica um ato infracional com crueldade, é transformado e não é penalizado da forma correta. Muitas pessoas acreditam que na redução da menoridade penal, seja a maneira mais eficaz e capaz de diminuir o índice da violência que está presente na sociedade, o que de fato sabe-se que não é o caminho. Entretanto, o aumento da criminalidade infanto-juvenil vem elevando-se até os dias de hoje e cada vez mais recruta maior número de menores, faz com que a maioridade penal seja o foco de grandes polêmicas e discussões na sociedade, sobretudo no meio jurídico. Todas a medidas são tomadas, sempre impulsionadas pelos fatos e acontecimentos, pela falta de transparência com a população e pelo sensacionalismo da mídia, faz com que se enxergue o problema de outra maneira. Se, no lugar de olhar por esse ângulo começarmos a entender que a sociedade civil organizada e as entidades governamentais. A redução da maioridade penal, diante do que foi demonstrado nesse artigo, transparece um avanço em seu marco histórico e certamente teria diversos benefícios como satisfação de sentimento de impunidade que a sociedade enfrenta diariamente nas grandes cidades. Desta forma, se teria uma redução de nos índices de criminalidade, sabendo que o menor apesar de muitas vezes não ter tido oportunidades, deve ser punido com o rigor da lei. 29 REFERÊNCIAS ARRUDA, Vinícius Mota de. Redução Da Maioridade Penal. Disponível em: https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqTccs/1011300294.pdf. Acesso em: 21 de out. 2021. BRASIL. Maioridade Penal e Cláusula Pétrea. Disponível em <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/justica-e-direito/maioridade-penal-e- clausula-petrea-7z2wb595cy9vqong162r4enec/> Acesso em: 2 de out. 2021. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. 14ª ed. Brasília. 2016. BRASIL. Constituição Federal. 20ª ed. Brasília. 2014 BARBOZA, Suyeme Rochelly Silva de Araújo. 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