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FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Biotecnologia: cirurgia de redesignação de sexo Victória Cristina da Silva Oliveira Volta Redonda 2022 1. Introdução A cirurgia de redesignação sexual, também conhecida como transgenitalização, é um procedimento cirúrgico em que as características sexuais de nascença de um indivíduo são mudadas para aquelas socialmente associadas ao gênero que ele se reconhece. Este tipo de cirurgia, além da alteração do nome e do designativo sexual, tornou-se um meio necessário para garantir a inserção do transexual no meio social, diminuindo as barreiras e preconceitos por ele enfrentados. Sendo que, o procedimento de transgenitalização surge como uma forma terapêutica, a fim de permitir a disposição do corpo do indivíduo, para que assim, consiga adequar sua identidade física com a aquela que tem a convicção psíquica de pertencer. 2. Desenvolvimento A pessoa é um ser complexo, em constante construção e evolução. Assim, é necessário que o ordenamento jurídico consiga acompanhar as mudanças advindas deste constante vir a ser, garantindo aos indivíduos direitos capazes de assegurar o bem- estar e a segurança nas relações sociais e jurídicas. A transexualidade é um fenômeno definido como transtorno de identidade sexual, e não basta que o Estado garanta ao indivíduo o direito de realizar a cirurgia de transgenitalização; é necessário que promova mecanismos para a inserção do indivíduo no meio social, sendo imprescindível, a alteração do seu nome e gênero, de modo a adequar a situação jurídica à situação fática que o sujeito se encontra. 3. Aspectos Legais O Código Civil de 2002, influenciado pela Constituição de 1988, trouxe consigo uma maior proteção para a pessoa humana, centro de toda a órbita jurídica. E para tanto, consagra, em sua parte geral, um capítulo específico para tratar acerca dos direitos de personalidade. Desse modo, podemos fazer uma análise extensiva da regra contida no artigo 13º do Código Civil de 2002, para permitir a ablação do próprio corpo, nos casos de transexualismo, através da cirurgia de transgenitalização, desde que presente determinados requisitos, protegendo e garantindo o direito de personalidade para as pessoas que se encontram nesse processo. Portanto, este tipo de cirurgia surge como uma solução terapêutica e é regulamentado pela Resolução nº 1.955/2014 do Conselho Federal de Medicina, estando incluído na lista de procedimentos custeados pelo Sistema Único de Saúde- SUS. 4. Tipos de técnicas As técnicas para realizar a cirurgia de redesignação sexual estão evoluindo cada dia mais para que as mulheres ou homens que passem por esse tipo de procedimento tenham um melhor resultado, buscando deixar a fisionomia do genital mais parecida com a realidade, além de fazer com que o(a) cliente tenha maior prazer e satisfação, diminuindo as taxas de complicações cirúrgicas. Para que essa cirurgia seja realizada, as pessoas que a buscam devem passar por um longo processo com diversos profissionais da saúde, sendo importante que sejam realizados exames e consultas de equipe multiprofissional para descobrir se o(a) paciente possui algum tipo de problema que possa interferir nesse processo. Passando por estas fases iniciais, onde o indivíduo já é considerado um transexual, inicia-se a segunda fase, que tem duração de dois anos, onde será avaliada a vivência do paciente no gênero que ele deseja, fazendo uso das terapias com hormônios e possíveis cirurgias como implante de silicone nas mamas antes da cirurgia final de transgenitalização. No caso da mulher trans, há diversas formas diferentes para realizar a cirurgia de redesignação sexual, sendo que a mais utilizada até os dias atuais é a penectomia, também conhecida como falectomia ou inversão peniana. Esta consiste na amputação do órgão genital masculino e realiza uma vaginoplastia (fazendo uma cavidade neovaginal). Após isso, é realizada a construção do sistema urogenital que consiste em encurtar a uretra para permitir que esse sistema seja funcional e estético, além da construção dos pequenos e grandes lábios e a formação do clitóris. Além da última, há a técnica de retalhos escrotais, as de enxertos/retalhos escrotais e as que utilizam intestino ou peritônio. Todas elas apresentam risco de complicações acerca do assoalho pélvico devido, aos retalhos que ocorrem na estrutura do genital para que ele possa funcionar corretamente. Dentre essas complicações, estão a estenose vaginal, estenose uretral, prolapso vaginal ou genital, perfuração da parede vaginal, dispareunia e fraqueza da parede vaginal. Além disso, o manejo incorreto pode resultar em infecções, hemorragia, feridas, fistula retovaginal, entre outros diminuindo a qualidade de vida do indivíduo. Por outro lado, a técnica mais utilizada na cirurgia de redesignação do homem trans é a metoidioplastia. O tratamento hormonal com testosterona faz com que o clitóris tenha um crescimento, ficando maior que o clitóris feminino comum. São feitas incisões ao redor do clitóris, que é desprendido do púbis, tornando-se mais livre para movimentar- se. Utiliza-se tecido da vagina para aumentar o comprimento da uretra, que ficará na parte interna do neopênis, e o tecido da vagina e dos pequenos lábios também são utilizados para revestir e dar o formato do neopênis. O saco escrotal é feito a partir dos grandes lábios e implantes de próteses de silicone para simular os testículos. O pênis resultante é pequeno, atingindo cerca de 6 a 8 cm, porém é um método rápido e capaz de preservar a sensibilidade natural da genitália. Outra técnica utilizada pode ser a faloplastia, que é um método mais complexo, caro e pouco disponível. Nesta técnica, são utilizados enxertos de pele, músculos, vasos sanguíneos e nervos de outro local do corpo, como do antebraço ou coxa, para a criação do novo órgão genital com maior tamanho e volume. 5. Cuidados de enfermagem no pós-operatório No pós-operatório, deve-se avaliar o paciente quanto aos critérios para alta, estabilidade dos sinais vitais, ausência de náusea e vômitos, capacidade de ingerir líquidos, capacidade de locomoção como antes - se a cirurgia permitir -, sangramento mínimo ou ausente, ausência de dor de grande intensidade; ausência de sinais de retenção urinária, que o paciente e acompanhante tenham conhecimento verbal e por escrito dos cuidados relativos ao pós-operatório e como proceder diante de complicações. Atividades físicas e a vida sexual, geralmente, são liberadas após cerca de 3 a 4 meses após a cirurgia. No caso da mulher, normalmente é necessário o uso de lubrificantes específicos para a região durante as relações sexuais. Além disso, é possível que a pessoa tenha acompanhamento com ginecologista, para orientações e avaliações da pele da neovagina e uretra, entretanto, como a próstata permanece, também pode ser necessária a realização de consultas com o urologista. 6. Orientações aos familiares A transição de gênero é um processo que inclui vivências múltiplas para a pessoa, bem como para a família também, que pode colaborar de forma positiva ou negativa. O enfrentamento de desafios cotidianos, o compartilhamento de dúvidas e de sentimento podem ocorrer de modo mais oportuno caso haja acolhimento da família. A literatura cita a importância da referência familiar e do vínculo afetivo das pessoas trans com seus familiares e amigos. Geralmente, as pessoas que têm acompanhamento familiar, comparado às que tiveram pouca aceitação, sofrem menos no processo de redesignação de sexo. A partir do momento que a família vai demonstrando apoio, há também uma recuperação da autoestima e o reconhecimento de gênero muito significativa para o(a) cliente. Portanto, é importanteorientar os familiares para prestarem apoio neste momento tão importante na vida do(a) paciente. Além disso, auxiliarem na recuperação do pós- operatório e da reinserção da “nova” pessoa no meio social. 7. Conclusão Conclui-se que a cirurgia de redesignação de sexo é um procedimento de solução terapêutica custeados pelo SUS, realizada em pacientes transexuais, a fim de mudar suas características sexuais para aquela do gênero a que se reconhecem. Há diversas técnicas utilizadas para esta cirurgia, como a penectomia e técnica de retalhos escrotais para as mulheres trans; e faloplastia e metoidioplastia para os homens. No pós-operatório, o enfermeiro deve avaliar o paciente para determinar, junto com a equipe multiprofissional, se o paciente está apto para a alta hospitalar. Além disso, orientar sobre o início de atividades físicas e vida sexual, que só podem retornar por volta de 4 meses após a cirurgia. Também é importante salientar que a família tem influência na escolha da pessoa trans pelo procedimento de redesignação, além de afetar a reinserção do indivíduo na sociedade. Portanto, é interessante orientar os familiares que apoiem os seus, deem suporte emocional e ajudem a enfrentar esse momento delicado. 8. Referências BRAZ, Denise Garrido de Carvalho; REIS, Maycon Barros; HORTA, Ana Lúcia de Moraes; FERNANDES, Hugo. Vivências familiares no processo de transição de gênero. Artigo Original • Acta Paul Enferm 33 • 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/czHnsGb3ghN9XgsdQsxVCvR/?lang=pt. Acesso em: 27 de março de 2022. CARNEIRO, Morais, Andréia Vanessa; MORAES, Cortes, Helena. Cirurgia de redesignação sexual: implicações para o cuidado. Capa > V. 10, N. 3 (2020) > MORAIS. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/16773/11546. Acesso em 28 de março de 2022. Fernanda Carolina Lopes Cardoso: Mariana Oliveira de Sá. As consequências da cirurgia de transgenitalização: um estudo acerca dos direitos de personalidade na era de um direito civil constitucionalizado, [s.d.]; disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=5b1add8961a1cfa0 ; acesso em: 30 de março de 2022 FERREIRA, Barbara Rose Bezerra Alves; SILVA, Flavio Junio do Espírito Santo Carmo da. A intervenção fisioterapêutica na reabilitação pós cirurgia de redesignação de sexo masculino para feminino: relato de caso. Revista Pesquisa em Fisioterapia, Salvador, v. 2, n. 10, p. 288-300, mai. 2020. Disponível em : file:///C:/Users/annem/Downloads/2854-Texto%20do%20Artigo- 17827-1-10- 20200528.pdf Acesso em: 30 de março de 2022 LI, Joy S et al. Vaginoplasty tips and tricks. 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