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1 Índice 1. Degeneração Hialina...............................................................................................................................pg 2 2. Degeneração amiloide/amiloidose..........................................................................................................pg 3 3. Degenerações celulares...........................................................................................................................pg 5 4. Pigmentação...........................................................................................................................................pg 7 5. Morte celular e necrose.........................................................................................................................pg 10 6. Perturbações circulatórias.....................................................................................................................pg 12 7. Trombose..............................................................................................................................................pg 14 8. Embolia.................................................................................................................................................pg 16 9. Infarto..................................................................................................................................................pg 19 10. Inflamação aguda..................................................................................................................................pg 21 11. Inflamação crônica................................................................................................................................pg 24 12. Cura e Reparo........................................................................................................................................pg 27 13. Tuberculose..........................................................................................................................................pg 29 14. Paracococcidioidomicose......................................................................................................................pg 31 15. Neoplasias: Conceito e Nomenclatura....................................................................................................pg 33 16. Características morfológicas das neoplasias...........................................................................................pg 36 17. Métodos para diagnóstico das neoplasias..............................................................................................pg 38 Patologia Básica 2 Degeneração Hialina O termo hialino se refere a qualquer tipo de material que se apresenta corado homogeneamente em rosa sobre o microscópio ótico quando utilizado a coloração HE. Cada lesão de degeneração hialina não apresentam nada em comum, além do aspecto morfológico, cada um apresenta uma causa patogênica distinta. Na patologia clássica são classificados como processos degenerativos que dependem do metabolismo proteico alterado (hoje em dia já se sabe que nem sempre é isso que acontece), que acarreta no acúmulo de proteínas. As degenerações hialinas podem ser classificadas em dois tipos: Degenerações hialinas extracelulares: são as hialinoses mais comuns, atingindo o tecido conjuntivo fibroso colágeno e as paredes dos vasos. A hialinização do tecido fibroso ocorre em locais de cicatrização antiga, decorrentes de processos inflamatórios. As cicatrizes recentes se apresentam vermelhas, cheia de vasos, com edema e tecido conjuntivo jovem composto por fibroblastos e fibras colágenas, com o tempo, a cicatriz se torna branca, com poucos fibroblastos, com fusão de fibras colágenas, o que confere ao tecido um aspecto de massa homogênea eosinofílica, portanto hialina. Outras degenerações hialinas extracelulares podem ser observado nas paredes dos vasos, principalmente em arteríolas e capilares glomerulares, decorrentes de hipertensão arterial, diabetes, lúpus eritematoso, glomerulonefrites e outros. No caso da hipertensão arterial, ocorre o processo da arteriosclerose das artérias e da hialinose nas arteríolas aferentes. Como consequência, os glomérulos tornam-se isquêmicos, se transformando em uma bola homogênea e acidófila. No caso da diabetes, ocorre hialinização das arteríolas, incluindo as renais e das ilhotas de Langerhans (ocorre deposição de material com características de substâncias amiloides), passando a causar microangiopatias diabéticas, o mesmo ocorre nos glomérulos e retina. No lúpus eritematoso, o espessamento hialino ocorre na parede dos capilares glomerulares, decorrente da deposição de complexos proteicos, imunocomplexos e fibrina. Na glomerulonefrite a deposição de material é de originado a partir das imunoglobulinas. Degenerações hialinas intracelulares: nesse caso, ocorre a deposição das substâncias no interior das células, sob a forma de pequenos grânulos acidófilos, homogêneos ou na forma de aglomerados irregulares, em consequência da coagulação de proteínas citoplasmáticas, causando graves alterações nas células. - degeneração hialina goticular: aparecimento de numerosas gotículas hialinas refráteis no citoplasma das células dos túbulos contornados do rim. Doenças de comprometimento renal acaba levando a esse distúrbio, pois o glomérulo deixa passar proteínas (proteinúria) que são fagocitadas, formando os fagolisossomos visíveis no microscópio. - corpúsculo de Russell: a presença de corpúsculos hialinos em células próximas as neoplasias. Essas células são os plasmócitos, que fazem parte da reação inflamatória, principalmente em processos crônicos, onde ocorre a deposição da imunoglobinas. - corpúsculo de Councilmam-Rocha lima: doenças causadas por vírus que acometem o fígado, como no caso da hepatite A ou B ou febre amarela. Os hepatócitos se apresentam diminuídos e soltos nas trabéculas. - degeneração hialina de Mallory: comum a várias enfermidades hepáticas, principalmente na cirrose alcoólica. Apresenta uma disposição de filamentos (microtúbulos e microfilamentos formados principalmente por pré-ceratina) paralelos e irregulares - degeneração hialina na deficiência da A1AT: essa deficiência promove o acúmulo de material hialino proteico no fígado. A deficiência genética se manifesta em crianças a partir dos 3 meses, mas também pode aparecer em adultos. - degeneração hialina de Crooke: alteração observada nas células basófilas produtoras de ACTH da hipófise na síndrome de Cushing. - degeneração cérea de Zenker: é observado em células musculares estriadas, como o diafragma, músculo reto, gastrocnêmico e reto abdominal, causado por doenças febris como febre tifoide, difteria, leptospirose, septicemia e choque anafilático. 3 Degeneração amiloide/amiloidoses Se referem à deposição de substâncias homogêneas em certos órgãos, conferindo-lhes cor pálida lardácea. É uma síndrome que agrupa processos patológicos diversos, cuja característica em comum é o depósito intercelular e na parede de vasos de substâncias hialinas, amorfa, proteica, que com o acúmulo progressivo, induz atrofia por compressão e isquemia das células adjacentes. A deposição das fibrilas podem se resultar de uma produção excessiva de proteínas que são propensas a apresentar conformação errada e agregação; mutações que produzem proteínas que não se dobram corretamente e tendem a se agregar; degradação proteolítica defeituosa ou incompleta de proteínas extracelulares. As amiloidoses apresentam características específicas e peculiares, distintas de outras substâncias hialinas, como por exemplo a baixa solubilidade, o aparecimento de fibrilas não ramificadas, estrutura molecular beta e coloração avermelhada pelovermelho Congo que fornece coloração vermelha ao se observar na luz visível, com birrefringência verde quando vista ao microscópio com luz polarizada. A natureza física das amiloidoses consiste, em sua maior parte, de fibrilas finas não ramificadas. Essas fibras se dobram sobre si mesmas, adotando a configuração beta, o que confere a resistência à digesta proteolítica e a coloração vermelha pelo vermelho Congo e a birrefringência verde. A natureza química consiste em sua maior parte por fibrilas AL, semelhante às cadeias leves das imunoglobinas, sua deposição está relacionada com a secreção anômala pelas células β (plasmócitos). Algumas doenças envolvidas nesse processo são hiperplasias medulares de plasmócitos, plasmocitomas solitários e mielomas, além de outros linfomas de origem da linhagem das células β. Essas fibrilas apresentam reações cruzadas com a proteína de Bence-Jones, presente em todos os pacientes que desenvolvem mieloma, sendo um fator possível para a causa. As fibrilas AA estão associadas as proteínas sem qualquer homologia com as imunoglobinas, são derivadas de precursor plasmático SAA (proteína associada ao amiloide sérico), produzida pelo fígado. As enfermidades que acometem essas fibrilas são as doenças inflamatórias infecciosas (hanseníase, tuberculose, osteomielites e bronquiectasias) e não infecciosas (artrite reumatoide, sarcoidose, colite ulcerativa, psoríase, doença de Crohn), e que estão associadas às respostas de fase aguda, e portanto associada à inflamação crônica. Outros tipos de fibrilas ainda estão associados a doenças como carcinoma de células C da tireoide, amiloidoses senil, polineuropatias amiloidóticas, doenças de Alzheimer. Além desses, temos outros tipos de proteínas como o componente-P e glicosaminoglicanos. Patogenia: sempre há a presença de uma proteína precursora solúvel, normalmente são encontradas na circulação. Em alguns casos, há aumento sérico da proteínas precursora, seja porque são feitas em excesso ou porque não são excretadas normalmente, todas são estruturalmente normais, com exceção da transtiretina que decorre de um defeito genético. A conversão da precursora solúvel forma uma substância insolúvel (amiloide). As amiloidoses surgem como consequência de um distúrbio no sistema imunitário, acompanhado pela produção de imunoglobinas anômalas. Os fagócitos fagocitam essas proteínas precursoras solúveis, o que induz a formação da fibrila amiloide. No caso da amiloidose secundária associada a processos inflamatórios crônicos e das amiloidoses heredofamiliares, no qual a proteína precursora é a SAA (associada ao amiloide sérico), sintetizada no fígado e associada a lipoproteínas, em processos inflamatórios agudos e crônicos essa proteínas se encontra aumentada, mesmo em indivíduos normais, nos doentes, o que ocorre é que, há uma degradação anômala dessas proteínas por macrófagos, gerando as fibrilas AA que se depositam na forma de amiloide. Morfologia: as amiloidoses primárias estão relacionadas aos distúrbios plasmocitários, também chamada de amiloidoses associadas às discrasias de células B (fibrilas de AL), os depósitos são mais frequentes no coração, trato gastrointestinal, nervos periféricos, língua e trato respiratório. As amiloidoses secundárias estão associadas aos processos inflamatórios crônicos (fibrilas de AA), esses depósitos são mais sistêmicos e graves, acometendo fígado, rins, baço, suprarrenais e linfonodos, relacionadas com a formação do SAA pelo fígado (estimulado pelas citocinas dos processos inflamatórios como os IL6 e IL1. De qualquer maneira, em todos os casos a substância amiloide se deposita no interstício e na parede dos vasos. A amiloidose que acomete o rim é o tipo mais comum, nesse caso, o depósito ocorre nos glomérulos, que com o avanço desses depósitos, as luzes dos capilares são diminuídas e o glomérulo se transforma em uma bola amiloide afuncional, também acaba afetando as arteríolas . 4 No fígado, o amiloide se deposita, inicialmente, nos espaços de Disse, e aos pouco vai envolvendo os sinusóides e hepatócitos, não acomete em complicações clínicas, mas que com o passar do tempo pode causar atrofia pro pressão e deformidade dos hepatócitos, mesmo assim, sua função se mantém preservada. No coração ocorre o acúmulo inicial no espaço subendocárdio, mas que com o tempo vai casando uma atrofia por pressão das fibras musculares, pode ser visível uma alteração no ECG. Um tipo de amiloide mais recente, associado à doença de Alzheimer, decorre da deposição da proteína A4. Outras amiloidoses podem acontecer na língua, laringe e outras partes do trato respiratório, nervos periféricos e pacientes em hemodiálise. Classificação das amiloidoses: são feitas levando em consideração as características clínicas e natureza da amiloidose. Situação anatomoclínica Extensão do depósito (clínica) Denominação genérica Proteínas da fibrila Proteína precursora Inflamações crônicas - Hanseníase - Tuberculose - Artrites etc Câncer - Mieloma e outros linfonas de células B Hereditária - Febre familial do mediterrâneo - Neuropatias amiloidóticas Associadas à hemodiálise - Insuficiência renal crônica Sistêmica (generalizada ou reativa) Amiloidose secundária Amiloidose das discrasias das células imunitárias Amiloidose heredofamilial Amiloidose associada à hemodiálise AA AL AA AA Transtiretina β-2- microglobulina SAA Cadeias leves SAA SAA Transtiretina β-2- microglobulina Envelhecimento - Cardíaca - Cerebral (Alzheimer) - Tumoral Endócrino - Câncer - Ca de tireoide - Insulina - Diabetes Pele Localizada (isolada) Amiloidose primária Amiloidose endócrina Amiloidose cutânea Transtiretina A4 AL Pró-calcitonina Pró-hormônio Ceratina Transtiretina APP Cadeias leves Calcitonina Insulina- glucagon Ceratina A classificação da amiloidose em primária se refere que é mais atípico, sem causa aparente, já a secundária é típica, associadas às doenças crônicas como tuberculose, hanseníase, processos crônicos etc. As amiloidoses sistêmicas se referem àquelas generalizadas, envolvendo vários órgãos ou sistemas, podendo ser tanto primária, secundária ou hereditárias. A localizada se restringe a depósitos de amiloide em um órgão. 5 Degenerações celulares Todas as degenerações celulares são lesões reversíveis que causam alterações bioquímicas e acúmulos de substâncias. O acúmulo de água e eletrólitos é chamado de degeneração hidrópica, acúmulo de proteínas é a degeneração hialina e mucóide, acúmulo de lipídios é esteatose ou lipidoses, o acúmulo de glicogênio é... • Degeneração hidrópica: causa aumento do volume celular, acumula água e eletrólitos, também pode ser chamado de degeneração vacuolar, granular, tumefação turva, degeneração albuminosa e até edema intracelular. As causas dessas alterações dependem da má função das bombas eletrolíticas (dependentes de ATP e da enzima ATPase), as alterações dessas bombas podem causar alteração da produção ou consumo de ATP, pode alterar a integridade da membrana ou alterar a atividade das moléculas. A patogenia consiste em alterações na bomba eletrolítica que são causadas principalmente por hipóxia (choque hipovolêmico, anemia, isquemia e outros), mas também por carência de substrato na fosforilação oxidativa (glicose, aminoácidos e gorduras), por agentes tóxicos-infecciosos, hipertermia exógena e endógena, radicais libres, inibição da ATPase Na+/k+ (agentes tóxicos-infecciosos), lesão/disfunção da membrana celular (agentes infecciosos como hepatites virais e agentes químicos) e soluções hipertônicas (manitol, glicose, sacarose) que são usadas para diminuir oedema cerebral, causando degenerações hidrópicas das células dos túbulos renais. Como consequência dessas lesões ocorre uma retenção de Na, diminui o K, aumenta a pressão osmótico e acumula água. Na patologia macroscópica, esse aumento de volume das células causas um aumento de peso e volume do órgão e uma coloração pálida (com o acúmulo de água, a circulação passa a apresentar uma dificuldade na circulação, causando essa coloração). Na microscopia, é possível observar uma alteração nas células, que se apresentam menos coradas, em casos mais leves, com algumas regiões esbranquiçadas, é possível também observar na célula também a presença de alguns grânulos, pois nesse caso, as organelas celulares também sofrem aumento. Em casos mais graves, as células se apresentam bem mais esbranquiçadas e o núcleo fica colado na periferia da célula, no caso de uma degeneração hidrópica nos hepatócitos, esse acúmulo de água acaba causando um achatamento dos sinusóides. Em casos ainda mais graves, o próprio núcleo pode acumular água, causando impacto na produção de proteínas. Consequências da degeneração hidrópica: normalmente levam a leves alterações funcionais do órgão, mas que podem ser reversíveis ao suprimir as causas da alteração. Os órgãos mais afetados são rim, fígado e coração. • Esteatose: são as degenerações por acúmulo de lipídios (triglicerídeos) nas células. Em geral é a deposição de gorduras neutras no citoplasma, podendo ser chamadas de degeneração/metamorfose gordurosa. É comum de ocorrer, principalmente, no fígado, mas que também pode ocorrer nos rins, miocárdio, e em menos casos no músculo esquelético e pâncreas. Relembrando o metabolismo dos lipídios: a partir da alimentação, a gordura vai passar pelo intestino delgado onde vai ser emulsificada pela bile, esses lipídios intestinais ativam lipases pancreáticas que promovem a hidrólise dos TG e então são incorporados aos hepatócitos, onde vão ser incorporados na forma de quilomícron, voltando a sua forma de TG, os quilomícrons caem na linfa seguindo os vasos linfáticos até o ducto torácico, sendo então despejado na circulação venosa, seguindo até o fígado, nesse órgão o TG vai novamente ser quebrado em AG e glicerol, os AGs então podem ser usados para o metabolismo energético ou se juntarem às lipoproteínas seguindo para o tecido adiposo. A alteração consiste num má metabolismo de ácidos graxos, podendo ser afetado nas fases da síntese, da utilização, do transporte ou da excreção. Os ácidos graxos e triglicerídeos podem ser adquiridos a partir da absorção intestinal ou a partir da lipólise no tecido gorduroso, e tem como objetivo a produção de colesterol e ésteres, para síntese de lipídios e glicerídeos ou para produção de energia (oxidação). As causas e patogênese para essas alterações do metabolismo do ácido graxo podem ser a hipóxia (que causa uma redução e má síntese do ATP), mas também por desnutrição proteico-calórica (reduz as lipoproteínas, causa mobilização de lipídios do tecido gorduroso), Kwashiokor (desnutrição proteica por ingestão de apenas carboidratos, pessoas com marasmo não fazem esteatose), aumento da ingestão em dietas hipercalóricas, agentes tóxicos (CCl4) que causa a redução das lipoproteínas), adrenalina, hormônio do crescimento e corticosteroide também podem estar 6 relacionados. Mas o principal agente que causa a esteatose é o etanol, que com o passar do tempo causa uma esteato- hepática alcoólica e progressivamente, causa a produção de toxinas que levam a cirrose, pois ele causa um excesso de acetilCoA (oxidação do etanol), o etanol é preferível ser o oxidado do que os ácidos graxos, que se acumulam, ele causa também uma alteração no transporte de lipoproteínas, sua oxidação produz acetaldeídos que são tóxicos para o metabolismo mitocondrial e aumenta a esterificação de ácidos graxos (excesso de α-glicerolfosfato). Outras causas para o acúmulo de gordura no fígado são a gravidez (não conhecido ainda os fatores que levam a esse acúmulo), Síndrome de Reye (crianças com quadro viral que fazem uso de aas), tetraciclinas, viral (hepatite viral C), colites (doença de Cron) e pancreatites (principalmente a aguda leva a uma resposta inflamatória sistêmica, levando a uma liberação enzimática que causa ainda mais destruição do pâncreas, tudo isso leva a um aumento de moléculas inflamatórias, que acabam por interferir na função hepática). Algumas esteatoses podem ser de origem não alcoólica, como por exemplo, indivíduos obesos, com diabetes mellitus insulino-dependentes, com dislipidemias (hipertrigliceridemia) e indivíduos que trabalham em indústrias petroquímicas. O nosso adipócito, além de acumular gordura, também tem algumas funções para produção de hormônios (estrogênio, glicorticoides, adipisina, vasoina e angitensinogênio) e moléculas pró-inflamatórios (resistina, TNF-α, IL-1, IL-6, PAI-1, agridem receptores de insulina nas células, o que causa a uma resistência de insulina, são indivíduos normalmente obesos e pré-diabéticos), também produz moléculas que ofertam a gordura na circulação para os tecidos, o que é bom, pois reduz a gordura da circulação (leptina, visfatina, adiponectina, omentina). Dessas causas não-alcoólicas, pode acarretar numa mudança da sensação de saciedade, que é controlada por duas vias, uma delas a via periférica se torna predominante, pois a leptina e a adiponectina agem no SNC inibindo o apetite, a grelina (produzida pelo estômago) causam um efeito orexígeno, peptídeos YY-PYY (produzidos pelo íleo e cólon) e são anorexígenos e a insulina e amilina (produzidas pelo pâncreas) também atuam nisso, a via central é regulada pelo hipotálamo mas não causa efeitos grandes nesses indivíduos . Síndrome metabólica: são os indivíduos que apresentam uma circunferência abdominal elevada, colesterol HDL baixo, triglicerídeos elevados, pressão arterial acima de 130 mmHg na sistólica ou acima de 85 mmHg na diastólica, e glicemia em jejum elevada, acima de 100 mg/dl. Para um indivíduos ser considerado com essa síndrome, ele deve apresentar pelo menos 3 desses itens. São indivíduos que apresentam uma obesidade central, dislipidemias, intolerância à glicose, resistência à insulina, hipertensão arterial, esteatose visceral, aumento do risco de aterosclerose e aumento do risco de Diabetes Mellitus tipo 2. A esteatose visceral pode ser investigada em indivíduos por meio da dosagem de transaminases, em que o TGP estaria mais elevado do que o TGO, ou buscar observar o tamanho do fígado por meio de uma ultrassonografia hepática, outro método não invasivo consiste na elastografia para observar a existência de fibrose no fígado. O fígado com esteatose se apresenta aumentado e amarelado na macroscopia, já na microscopia é possível observar vacúolos citoplasmáicos, esteatose microvesicular. Os hepatócitos sofrem com a deposição da gordura neles por meio de vacúolos, que com o avanço da deposição eles vão se fundindo e aumentando de tamanho, deixando o núcleo comprimido na periferia da célula, podem ser observados também algumas coisas pretas, que são a bile, que começa se acumular com o fígado esteatótico. A esteatose é reversível, mas para isso deve ser controlado a causa dela, acabando com o processo da inflamação- balonização-necrose-fibrose-cirrose. Uma vez que a fibrose comece a se instalar nos hepatócitos, o processo para sua reversão começa a se complicar. A fibrose se inicia a partir da destruição dos hepatócitos, em seu estágio inicial, elas começam a aparecer por entre as veias centro-lobular, ao avançar, a fibrose começa aparecer ao redor da veia porta, depois as ramificações da fibrose dentre as veias centro-lobular começam a se conectar e por fim, todas essas fibras se conectam. 7 Pigmentação Os principais pigmentos endógenos são a melanina, hemossiderina, bilirrubina e lipofuscina,alguns pigmentos exógenos são carvão, ferro, chumbo, medicamentos e tatuagem. Melanina: a melanina é um pigmento produzido pelo melanócito, que por sua vez se origina a partir da crista neural, o melanócito se encontra na epiderme, principalmente, mas também na íris, para fornecer o pigmento do olho, no SNC e as vezes, por algum defeito congênito pode se depositar em algum trato digestivo, respiratório ou outros. O melanócito vai produzir nas vesículas chamadas de melanossomas a melanina. A melanina é formada a partir do substrato que é a tirosina que vai ser convertida, por meio da tirosinase, em melanina por meio de algumas etapas. A sua produção é estimulada principalmente pela luz ultravioleta, mas também por meio de hormônios estimuladores de melanócitos (melatonina e melanocortina), que são parecidos com o ACTH, o estrógeno, no caso de grávidas também podem estimular essa pigmentação. A melanina tem como função a proteção contra a radiação solar. O excesso de melanina pode ser estimulado, em geral, por efeitos fisiológicos, por inflamações que estimulam localmente. Algumas decorrências disso é o aparecimento de sardas que também são efeitos do aumento da melanina, lentigo, que são parecidos com pintas mas já são consideradas hiperplasias. Algumas doenças também estão relacionadas com a produção em excesso da melanina, por exemplo a neurofibromatose é um erro genético que causa múltiplos tumores benignos originadas nos nervos, essa doença causa manchas na pele. Síndrome de Peutz-Jeghers causa manchas pigmentadas na cavidade oral com múltiplos pólipos intestinais (tumores benignos). A doença de Albright causa deformidade óssea e pigmentação da pele. A doença de Addison está relacionada com ACTH, por deficiência da suprarrenal que não produz glicocorticoide, não estimulando a produção da melanina, causando manchas nas gengivas e articulação. Tumores como nevo (pinta, tumor benigno) e melanoma. A deficiência da melanina causa vitiligo e albinismo, e pode ser causada por queimadura ou doenças como a hanseníase (lepra). Para detecção do pigmento melânico, pode ser usado algumas colorações como pela prata (Fontana Masson), reação DOPA e imunoistoquímica (S-100, H B-45). Ao se visualizar no microscópio, podemos notar que a melanina se deposita em cima do núcleo das células basais, que são os queratinócitos. Para determinar se uma pinta é realmente apenas uma pinta e não um nevo ou melanoma, devemos observar se há assimetria (as duas metades tem tamanho igual), a delimitação da borda, a cor homogênea, a dimensão menor que 6 mm e a evolução (se ela não cresce de tamanho). O nevo pode ser um proliferação na derme ou na região juncional. Um nevo também pode aparecer na íris ou na conjuntiva. A avaliação histológica de uma pinta deve avaliar o quão profundo ela invadiu o tecido, acima de 4mm a chance de sobrevida de um paciente já é muito baixa, pois há risco de gerar metástase. Pigmentação pós-inflamatória são causadas por uma dermatite, que causa um aumento de melanina na região. O vitiligo é uma despigmentação progressiva da pele, normalmente é uma doença imunológica que agride os melanócitos ou melanossomas, que causa a perda de melanina, mas pode haver tratamentos que estimulam a repigmentação, o diagnóstico pode ser feito observando as lâminas microscópicas da disposição da melanina sobre as células basais. Hemossiderina: é um pigmento originado da hemoglobina, da quebra dela, normalmente no baço, medula óssea e eventualmente no fígado, essa quebra libera o grupo heme que apresenta o ferro, que quando cai na circulação é transportado pela transferrina, que encaminha o ferro até as células (da medula óssea e fígado), e nelas ele fica acoplado com a ferritina, o depósito aumentado de ferritina com ferro é chamado de hemossiderina, que apresenta um acoplamento maior com o ferro do que teria a ferritina. A hemossiderina então causa a hemossiderose, que é o acúmulo excessivo de ferro nos tecidos, por conta do excesso de destruição de hemácias, do excesso da absorção intestinal, podem ser encontrados nos macrófagos (fígado ou baço) e hepatócitos, epitélio renal e pancreático e fibras cardíacas. Para observação nas lâminas é usado o azul da Prússia. 8 A hemossiderose focal aparece em locais específicos de órgãos, pode ser no baço, por meio de nódulos de Gandy- Gamna, pode se depositar nos músculos cardíacos, acarretando uma insuficiência cardíaca congestiva, na síndrome de Goodpasture acumula ferro no pulmão. O mais comum desse acúmulo é justamente o hematoma. A hemossiderose difusa é mais comum em anemias hemolíticas (destruição excessiva de hemácias que causa, acúmulo de ferro nos tecidos) e transfusões (ocorre a destruição parcial de hemácias, que com o tempo, em pacientes que se submetem a esse processo constantemente, podem sofrer acúmulo do ferro). Pode ocorrer algumas outras doenças como hemocromatose primária e secundária (talassemia). A hemocromatose primária é causada por defeito na absorção do ferro. Normalmente consegue entrar nas células sem bloqueio. Mas para a saída do ferro de dentro dessas células, uma proteína produzida pelo fígado permite que um canal de ferro presente em macrófagos ou enterócitos se abra e então o ferro de dentro deles saia. Com a hemocromatose primária, a produção da proteína hepática não ocorre, levando a muita absorção de ferro pelos enterócitos ou macrófagos. Essa hemocromatose pode se manifestar tanto em jovens quando em períodos mais tardios, além dos 30 anos. Esses indivíduos apresentam hiperferritinemia, saturação da trasnferrina, aumento de ferro nos tecidos (principalmente no fígado e na medula óssea), causa cirrose, diabetes (depósito nas ilhotas pancreáticas), hiperpigmentação de ferro na pele. O tratamento consiste em causar flebotomina (retirada de sangue do indivíduo), homens tem maiores chances de desenvolver essa doença pelo fato de não menstruarem e não terem perda de sangue. Outras situações podem causar hiperferritinemia ou acúmulo de ferro, por exemplo, são as síndromes inflamatórias, metabólicas, alcoolismo crônico, excesso de oferta (em atletas), transfusões repetitivas, citólise (fígado ou músculo) e doenças crônicas do fígado (cirrose). Ao visualizar no microscópio, um tecido hepático, por exemplo, a deposição de ferro pode ser observada ao notar a presença de uma coloração marrom ao redor dos hepatócitos. Dermatite de estase, muito comum em idosos, também causa esse acúmulo de ferro, causando pigmentação mais escura na pele. Bilirrubina: vem também da quebra das hemácias, podendo se apresentar como bilirrubina direta ou indireta, uma vez liberada a bilirrubina no sangue após sua quebra é transporta pela albumina até o fígado, onde ela vai se conjugar e ser excretada com sais biliares e águas. As causas para seu acúmulo pode ser decorrentes da formação excessiva das hemácias, por dificuldade da captação, deficiência na conjugação ou na excreção. Lesões hepatocelulares (de causa viral, hepatite autoimune, hepatite alcoólica, toxicidade e doença de Wilson) são as principais causas de aumento da bilirrubina. As colestases são defeitos na excreção da bilirrubina do fígado, podendo ser de causa intra-hepática ou extra-hepática (tumores de pâncreas, cálculo). Alguns distúrbios genéticos também podem acarretar no aumento da bilirrubina como a síndrome de Crigler- Najjar, de Gilbert, Dubin-Johnson. A marca clínica do aumento da bilirrubina é a icterícia (podendo ser por conta do aumento da BrD, BrI ou as duas). Lipofusina é o pigmento que aparece no envelhecimento decorrente de quebra de moléculas e atrofia geral, sem implicação clínica maior. Amálgama: é o pigmento presente na mucosa oral decorrente do acúmulo de prata. Antracose: é o pigmento decorrente de acúmulo decarvão, normalmente no pulmão, decorrente do fumo ou da poluição das cidades e indústrias. A impregnação no pulmão causa enfisema. O pigmento não causa inflamação nem desenvolve para um câncer. Tatuagem: pode levar a uma reação do corpo que responde a introdução desse pigmento na pele. 9 Resumo do artigo “Síndrome Nefrótica: formação de edema e seu tratamento com diurético.” Edema é a o elemento definidor da síndrome nefrótica, podendo gerar diversas sequelas, como imobilidade, rachaduras de pele e infecção local. O tratamento do edema nefrótico normalmente é de baixa eficácia, com muitos efeitos colaterais e interações com outros medicamentos Introdução: O edema está presente em todos os indivíduos com síndrome nefrótica, contabilizando até 30% do peso de um indivíduo, este é um dos quatro elementos definidores da síndrome nefrótica e o que mais necessita de intervenções, os outros três elementos são a hipoalbuminemia, hiperlipidemia e proteinúria. O fardo de pacientes que convivem com doenças sintomáticas é alta, pais de crianças com edema reportam aumento da ansiedade e muitas visitas hospitalares emergenciais. O edema periférico pode ser desconfortável, levando a uma capacidade funcional restrita, restrito movimento de pernas e imobilidade. O edema também pode causar tensão da pele, resultando em rasgos, pele quebrada e extrusão de líquidos, aumentando a chance de infecção bacteriana. O risco para infecção é exacerbado em pacientes com imunodeficiência nefrótica, devido a perda de imunoglobulinas e transformação de células T disfuncionais. Além disso, congestão pulmonar assintomática podem ocorrer, e está fortemente associada a riscos cardiovasculares em pacientes com sobrecarga renal. Os principais contribuintes para o edema é a perda excessiva de albumina pela urina e excesso de sódio. Os diuréticos são usados pelo fato de sabermos que apresenta efeitos nos túbulos renais de reabsorção de sódio e água. Formação do edema: há dois paradigmas na formação do edema, o under-fill (pouco cheio) e o over-fill (muito cheio), acredita-se que esses efeitos podem ser apresentados em um mesmo indivíduo mas em períodos diferentes. - Teoria do under-fill: a hipoalbuminemia reduz a capilaridade oncótica, e esse desbalanceado de forças leva ao vazamento de fluido e diminuíssemos do volume circulante. Essa teoria propõe que essa diminuição do volume leva a uma hipoperfusão renal e ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, causando uma grande reabsorção de sódio e água. Os principais locais de reabsorção de sódio é nos túbulos coletores distais, corticais e medulares, e sofrem controle da aldosterona. Na nefrose, o dutos coletores corticais aumentam a retenção de sódio, levando a uma estimularão basolateral do Na, K, ATPase e Canais de Sódio Epitelial Apical (ENaC), a estimulação do Na, K e ATPase resulta da indução da transcrição de subunidades, mirando as bombas recém sintetizadas para a membrana basolateral, onde elas são capazes de reabsorver o Na. Já os ENaC seguem para a membrana apical sem mecanismos de transcrição. Somente essa teoria, apesar de considerável apoio, não sustenta a explicação para indivíduos com formação de edema, pois caso fosse suficiente, poderíamos usar bloqueadores do sistema renina-anguotensina-aldosterona, para que assim esse sistema não atuaria tentando aumentar a pressão sanguínea e reter Na, no entanto, é sabido que bloquear esse sistema não resolve. Ao medirmos o volume sanguíneo, vimos que apenas 2% dos pacientes com síndrome nefrótica tem um baixo volume - Teoria do over-fill: essa teoria diz que simplesmente a mudança da pressão oncótica e a ativação do sistema (RAA) é insuficiente para causar o edema, mas sim, uma mudança na capilaridade endotelial da barreira de filtração é necessária para que se desenvolva. A permeabilidade capilar é importante para determinar a distribuição do fluido entre os vasos e o interstício. A mudança na membrana basal ocorre na síndrome nefrótica, o aumento dela está associada com a permeabilidade a proteínas, além de apresentar também uma alteração na composição proteica e de rigidez. Pacientes com essa síndrome tem uma maior capacidade de filtração capilar, sem ter uma hipertensão associada, sugerindo que a funcionalidade da área de filtração está aumentada. Alguns estudos demonstraram defeito na membrana basal do capilar causado pelo acúmulo de ferritina. Pacientes com esse aumento de permeabilidade conseguiram ser tratados ao se usar esteroides e extrato de bilbao, que reduz a permeabilidade. O desenvolvimento de ascites também pode ocorrer por meio dos mesmos mecanismos do edema 10 Morte celular e necrose Causas de agressão celular: podem estar relacionadas ao oxigênio, à agentes físicos, químicos, biológicos, mecanismos imunes, distúrbios genéticos e nutricionais e ao envelhecimento. Apoptose: é responsável pela estruturação embriológica de todos os tecidos. As linhagens celulares que não farão parte desse tecido entrarão em apoptose. A morte celular é decorrente de vários estímulos envolvendo ou não a via mitocondrial. Tanto nas vias intrínsecas e extrínsecas, o principal objetivo é a ativação das pró-caspases em caspases no citoplasma celular e que irão, por ação enzimática, degradar constituintes celulares. A ação enzimática das caspases irá fragmentar as organelas celulares, as quais ficarão envolvidas pela membrana celular. Este modelo evita que constituintes celulares fiquem expostos no extracelular evitando, assim, a inflamação. Os macrófagos residentes nos tecidos fagocitam os restos apoptóticos, sem inflamação. Lesão irreversível: é uma incapacidade celular e tecidual de adaptação à agressão de persistência prolongada ao estímulo nocivo. Por exemplo, uma célula normal, ao passar por uma situação de stress, ela pode se adaptar ou sofrer uma injúria, caso essa injúria for leve e moderada, a célula consegue se reverter para o seu estado normal, caso o contrário, a injúria se torna irreversível, e isso pode levar à morte celular (necrose ou apoptose). São diversos mecanismos e vias que podem casar uma via irreversível, como baixa produção de ATP, dano mitocondrial, entrada de cálcio em excesso, dano da membrana, produção proteica defeituosa e diversos outros estímulos que ativam o diversas enzimas celulares que podem levar à danos e então ativar fatores pró-apoptóticos. Uma isquemia, por exemplo impede a chegada do sangue em certos tecidos, assim temos um menor fornecimento de oxigênio, diminuindo a fosforilação oxidativa nas mitocôndrias, diminuindo a produção de ATP, a bomba de Na/K se torna defeituosa, aumentando o influxo de Ca, Na e H2O e o efluxo de K, além disso, a falta de ATP vai induzir a célula para entrar em anaerobiose, diminuindo o glicogênio, aumentando o ácido lático que diminui o pH, e também, a falta de ATP causa uma falha na síntese proteica pelos ribossomos, levando a uma deposição lipídica. A lesão mitocondrial pode causar tanto a apoptose, quando houver a liberação de fatores pró-apoptóticos como a proteína C, ou induzir a uma necrose por meio de um aumento de permeabilidade da mitocôndria, que permite a saída de íons H+, diminuindo o potencial de membrana, diminuindo a síntese de ATP. O cálcio tem um papel importante na morte celular, pois sua concentração no citosol, aumenta a atividade de enzimas que degradam estruturas celulares, essas enzimas podem ser proteases e fosfolipases que acabam causando um dano na membrana celular, endonucleases que causam um dano no núcleo da célula (material genético) além de aumentarem a permeabilidade da mitocôndria, diminuindo a produção de ATP. Radicais livres tem um efeito sobre a mitocôndria também, o aumento deles está relacionado com processosinflamatórios, radiação, produtos químicos, reperfusão e injúria celular, isso vai causar um aumento de superóxidos na mitocôndria, aumentando a formação de H2O2, que pela reação de Fenton vai produzir os radicais livres, isso acaba gerando uma oxidação de ácidos graxos, causando a disrupção da membrana e organelas, oxida as proteínas, perdendo sua atividade enzimática e acaba levando a um dobramento anormal de sua estrutra e oxida também o DNA, aumentando as chances de mutação. Os radicais livres podem ser removidos por mecanismos antioxidantes, como por exemplo o sistema glutationa peroxidase, SOD e catalases. Tipos de necrose: Podem ser do tipo coagulação/isquemia, liquefação, caseosa, gordurosa, gomosa, hemorrágica, fibrinóide e gangrenosa. - Necrose isquêmica: é ocasionada por uma obstrução do fluxo sanguíneo arterial. Por exemplo, a aterosclerose da artéria poplítea gera isquemia na extremidade e então necrose, também pode gerar, principalmente, isquemia e obstrução coronariana, levando à necrose do miocárdio (infarto), nas primeiras horas, a arquitetura histológica do paciente ainda se mantém, no entanto, as células estão motas. Depois, caso o paciente sobreviva, ele apresentará uma inflamação no local, para degradar esse tecido necrótico, que vai ser substituído por colágeno. No rim e no baço, o tromboembolismo pode gerar uma necrose isquêmica. - Necrose hemorrágica: ocorre principalmente em órgãos com dupla irrigação, com estroma frouxo ou com muitas irrigações colaterais. O clássico da necrose hemorrágica é o tromboembolismo pulmonar, por exemplo, um trombo 11 nos membros inferiores da veia poplítea pode ascender, chegar ao lado direito do coração e então para a artéria pulmonar, causando a necrose hemorrágica. Podemos ter também uma necrose hemorrágica no cérebro, em que ocorre uma rotura vascular em decorrência de um trauma ou aneurisma cerebral. No intestino, é causada principalmente pela obstrução da artéria mesentérica (geralmente por aterosclerose). Pode ocorrer ainda uma necrose isquêmica seguida de hemorragia, causando uma inundação de sangue na área que sofreu a isquemia, caso isso ocorra no pulmão, como é um órgão frouxo e de dupla irrigação, a obstrução de um dos ramos da artéria pulmonar, faz com que a artéria brônquica supra isso, levando a uma inundação da área que sofre da necrose. A mesma coisa acontece no intestino, no mesentério, pois é um órgão rico em irrigação colateral, e que acaba sofrendo essa inundação. Essa necrose hemorrágica também pode ser causada por um impedimento do fluxo sanguíneo, por exemplo, uma torção no pedículo vascular comprime a veia, mantendo o fluxo arterial, o sangue entra mas não sai, o mesmo ocorre no ovário por uma torção do pedículo. - Necrose de liquefação: ocorre em tecidos com pouco estroma conjuntivo, como o cérebro, e também pode decorrer de processos infecciosos bacterianos. No cérebro, a liquefação se inicia principalmente por uma isquemia no Polígono de Willis (aterosclerose ou embolia), causando uma liquefação do cérebro, se torna um material amolecido e gelatinoso. É frequente ocorrer a cavitação com aspecto de cisto devido à reabsorção do material pela micróglia. No pulmão pode ocorrer um empiema pulmonar, um exsudato purulento (pus, causado por uma infecção, esse material é rico em neutrófilos, fibrina e restos de bactéria e tecido morto e degenerado) na pleura secundário a uma pneumonia bacteriana. O mesmo pode ocorrer em crianças que desenvolvem meningite purulenta (Meningococcus). - Necrose caseosa: é clássico de tuberculose, caseo significa que parece com um queijo coalho, pois na macroscopia ele fica amarelo e mole, é mediada por uma resposta de hipersensibilidade do tipo IV, sendo uma necrose imune- inflamatória. Nesse caso, ocorre a formação de Nódulos de Ghon relacionados com a Micobacterium tuberculosis, promovendo a resposta inflamatória e faz o foco da necrose, permeada por células como linfócitos e macrófagos, podendo formar os granulomas caseosos. - Necrose gordurosa: ocorre na gordura subcutânea pós um trauma, é clássica da pancreatite aguda por autoativação de enzimas pancreáticas, inclusive a lipase pancreática. Geralmente ocorre por obstrução do ducto de Wirsung ou do Colédoco (cálculos biliares, tumores de cabeça de pâncreas) ou or alcoolismo crônico e agudo. No caso de uma pancreatite aguda, as enzimas destroem o parênquima pancreático e a lipase degenera a gordura intra e peripancreática, a lipase pancreática extravasa para a cavidade abdominal levando à necrose gordurosa do mesentério (necrose em pingo de vela). - Gangrena úmida: ocorre nas necroses isquêmicas que são acompanhadas de infecção e em infecções extensas com obliteração da microcirculação. Por exemplo na necrose úmida devido à infecção de pele, sendo que pacientes obesos e diabéticos são mais suscetíveis (Síndrome de Fournier). As gangrenas têm a seguinte evolução, ocorre a absorção, drenagem, cicatrização, calcificação, encistamento, ulceração e infecção. 12 Perturbações circulatórias Sistema circulatório: quando falamos sobre os distúrbios circulatórios temos que ter a visão do todo, apresentamos uma bomba central que é o coração, um sistema venoso e outro arterial, um sistema capilar por onde ocorre a distribuição e recolhimento do sangue nas células, e um sistema linfático, que vai drenar dos tecidos a linfa, transportando-na para o sistema circulatório. Além disso, temos também que entender a estrutura dos vasos, eles são formados, em geral, por células musculares lisas, células endoteliais e pelo pericito, dividido em três compartimentos em geral, a camada íntima, média e adventícia. No lúmen desses vasos, temos diversas moléculas, produzidas principalmente pelas células endoteliais, e receptores. Distúrbios da circulação venosa: estão relacionados com o aparecimento de uma estase sanguínea, que pode acarretar em uma trombose venosa, edema, hipóxia, que gera atrofia e degeneração parenquimatosa, e hemorragia, que leva a uma hemossiderose e fibrose congestiva. Hemorragia: saída de sangue do compartimento vascular para os espaços extravasculares ou exterior. Podem se apresentar de diversas maneiras, podem gerar um hematoma, uma forma de tumoração na área da hemorragia; podem gerar petéquias, que são pequenas hemorragias cutâneas menores que 3mm, estão relacionadas, habitualmente, com distúrbios das plaquetas, comuns de ocorrerem por conta de infecções virais como dengue e sarampo; a púrpura, que são pequenas hemorragias cutâneas entre 3mm e 10mm; as equimoses, uma hemorragia que forma uma mancha plana, maior do que a púrpura; o hemotórax e o hemopericárdio que são um tipo de hemorragia cavitária; epistaxe, sangramento nasal; hemoptise, sangramento proveniente das vias respiratórias inferiores; escarro hemoptoico, semelhante à hemoptise, porém mais leve; hematêmese, vomito com sangue oriundo do sistema digestivo; melena, sangue digerido eliminado na evacuação; hematúria, sangue na urina; metrorragia, perda do sangue vaginal proveniente do útero, mas que não é relacionado à menstruação; otorragia, sangue eliminado no conduto auditivo externo. Trombo: massa sólida de sangue formada no interior do sistema cardiovascular, processo que envolve as células endoteliais, plaquetas e o sistema de coagulação. Êmbolo: é uma massa intravascular sólida, líquida ou gasosa carregada no sangue do seu local de origem para outro ponto do sistema cardiovascular. Infarto hemorrágico: área localizada de necrose tecidual. Congestão ou hiperemia: acúmulo de sangue no intravascular. Pode ser considerada do tipo ativa, quando o aumento de sangue no leito capilar secundárioà vasodilatação arterial ou arteriolar, podendo ser fisiológica, em situações de exercícios ou digestão, como também podem ser patológicas, como em processo inflamatório. Um exemplo de congestão ativa é o caso de dermatite de contato (gerado por uma resposta inflamatória). Mas também pode ser passiva quando houver uma dificuldade no retorno venoso, alteração do órgão central da circulação (ICC – insuficiência cardíaca congestiva), uma causa extrínseca como trombose e varizes e compressões de veias geradas por tumores. A passiva pode ser dividida ainda em aguda, quando ocorrer uma compressão de uma veia, ou crônica, no caso de uma ICC que acomete pulmões e fígado ou cirrose que acometa o baço. Um exemplo de congestão passiva aguda é o caso da trombose venosa profunda da veia poplítea, que pode causar edema e leve hiperemia na panturrilha, já um exemplo da congestão passiva crônica temos a insuficiência cardíaca congestiva crônica grave com congestão do fígado (fígado em nós moscada), isso pode ocasionar uma fibrose com evolução para cirrose, essa congestão começa com uma estase do sangue na veia centro lobular que dependendo da gravidade da ICC se estende para os sinusóides e até as artérias veias portais. Edema: saída de líquido para o interstício ou cavidades do corpo. Pode gerar hidrotórax, hidropericárdio e hidroperitônio (ascite), a característica mais comum é a anasarca, inchaço distribuído por todo o corpo devido ao acúmulo desse líquido. O peso do nosso corpo consiste em 60% de água, sendo que 2/3 se encontram no espaço intracelular e 1/3 no espaço extracelular, onde possui uma regulagem dinâmica, na extremidade arterial, a pressão hidrostática força a saída do líquido do leito capilar sanguíneo para o interstício, já na extremidade venosa, a pressão coloidosmótica do plasma força a entrada do líquido vindo do interstício para o vaso sanguíneo. 13 Como características fisiopatológicas do edema temos o aumento da pressão hidrostática, em que ocorre o comprometimento do retorno venoso, seja por uma ICC, pericardite constritiva, ascite (cirrose hepática) ou por uma obstrução ou compressão venosa, em decorrência de uma trombose, compressão externa, inatividade do membro inferior com longos períodos numa posição pendente, e pode ser gerada também por uma dilatação arteriolar causada pelo calor ou por uma desregulação neuro-hormonal. Pressão Oncótica Plasmática Reduzida (hipoproteinemia): causada por glomérulopatias perdedoras de proteína (síndrome nefrótica), cirrose hepática (ascite), desnutrição, gastrenteropatia perdedora de proteínas. Obstrução linfática: pode acontecer após um processo inflamatório, neoplásico, pós-cirurgia e pós-irradiação. A principal doença caracterizada por isso é a elefantíase/filariose. Inflamação: pode ser do tipo aguda ou crônica, e apresenta fatores angiogênicos. As principais doenças são a Doença de Chagas aguda, Sinal de Romana, Inflamação aguda com edema bipalpebral. 14 Trombose O trombo é uma massa rica em fibrina que obstrui a luz de um vaso. A tríade de Virchow é uma alteração do sangue (hipercoagulabilidade sanguínea) associada com lesão endotelial e alteração do fluxo sanguíneo, em geral, na trombose temos pelo menos dois desses fatores. Hemostasia: parada de uma área de sangramento, após uma lesão vascular, esse processo envolve a ação das plaquetas, ativação do sistema de coagulação e a extensão da lesão da parede vascular. As plaquetas são necessárias pois vão servir para ocluir a área inicial do sangramento, para isso, precisamos ter da adesão plaquetária, dependendo da presença do colágeno e do Fator de von Willebrand, seguido pela presença do fibrinogênio, essa adesão ocorre a partir de proteínas expressas pelas plaquetas (Iia, gplb, IIIa etc). A partir do momento que temos a adesão, a plaqueta se ativa, e passa a secretar o Ca2+, permitindo que ocorra a agregação plaquetária, dependendo do ADP, tromboxano A2 e outras proteínas que favorecem a adesão. A partir do momento que sofremos um corte, temos uma vasoconstrição, impedindo o vazamento inicial, depois disso, começa a ocorrer a hemostasia primária (adesão e agregação plaquetária), formando o tampão hemostático primário, uma vez que esse processo termina temos a hemostasia secundária, com a ativação da cascata de circulação, formando uma rede de fibrinas, garantindo a consistência final desse tampão hemostático. Se não tivermos um controle dessa cascata, com a produção constante de fibrinas, perdemos o balanço desse mecanismo e começamos a formar o trombo. O fluxo sanguíneo é laminar, isso é, retilíneo, onde os leucócitos, plaquetas e hemácias, enquanto que o que circula na periferia é o plasma, isso é importante pois esse fluxo impede que as células entrem em contato com o endotélio vascular constantemente, lesando o endotélio. Além disso, esse fluxo gera uma força de raspagem do endotélio (força de cisalhamento), e isso permite que o endotélio se mantenha em alerta, secretando substâncias que não permite a adesão de nada nele e NO, o que permite o relaxamento muscular. A cascata de coagulação é importante tanto para hemostasia quanto da trombose, é formada por uma via intrínseca e extrínseca (lesão tecidual). Essas duas vias se convergem para uma via única, dependente do cálcio, sendo finalizada a partir da formação das fibrinas. Ao mesmo tempo que temos mecanismos que favorecem essa cascata, apresentamos mecanismos que a inibem, impedindo a trombose, para isso produzimos a heparina e anti-trombina, NO, prostaglandina, plasmina, que degrada a fibrina. A cascata apresenta um balanço entre a cascata e a fibrinólise. Alguns medicamentos anticoagulantes podem ser utilizados para o tratamento da trombose, por exemplo a varfarina (que é vitamina K dependente) e heparina. Além desses temos outros anticoagulantes mais modernos, de primeira e segunda geração, envolvendo a enoxaparina. A trombose leva a uma oclusão vascular, seja arterial ou venosa, o efeito vai depender do tipo de tecido, do tempo de evolução, se há presença de circulação colateral. As causas principais são a embolia, aterosclerose, compressão e espasmos. As tromboses podem ocorrer em artérias com aterosclerose, valvas cardíacas, aneurismas e cardíacos (pós infarto do miocárdio) ou em veias dos membros inferiores, veias pélvicas, veia cava inferior, veia renal, veias do sistema porta, do seio cavernoso, veia caba superior e veia axilar. Os trombos podem ser classificados em vermelhos, aqueles ricos hemácias, mais comuns no sistema venoso, enquanto que os brancos são ricos em fibrinas, comuns em artérias e câmaras cardíacas. O mural se aplica aos trombos do coração, enquanto que oclusivo se relaciona aos trombos de vasos. Para ocorrer uma trombose temos que ter a tríade de Virchow. Um desses fatores é a hipercoagulibidade, no qual ocorre o aumento da viscosidade sanguínea, seja por aumento de plaquetas, em decorrência de uma trombocitose ou modificações funcionais, seja por uma alteração de fatores pró e anticoagulantes, em decorrência de uma anomalia congênita (fator V de Leide) ou adquiridas (traumas severos, queimaduras, cirurgias, septicemia, levam a uma reposta inflamatória muito importante, que são fatores pró coagulantes além da liberação de fatores teciduais). Duas doenças relacionadas com isso são a neoplasias malignas (Síndrome de Trousseau) e a coagulação intravascular disseminada, onde ocorre pequenos fenômenos trombóticos, levando à adesão das plaquetas, diminuindo o número das plaquetas circulantes, pois ficam aderidas na parede, e isso estimula a produção de fibrinogênio em certos pontos, fazendo que falte o fibrinogênioem outros pontos do corpo, ocorrendo um sangramento constante. Um evento relacionado à septicemia é a meningoccemia, em que temos uma resposta inflamatória sistêmica, liberando PAMP e DAMP, 15 causando o choque séptico, púrpuras e petéquias, causando o CIVD. Na síndrome de Waterhouse-Friderichsen temos hemorragia das glândulas suprarrenais (por conta da CIDV), gerando hipotensão grave. Outros exemplos de hipercoagulabilidade adquirida são a perda da fração do plasma, anticoncepcionais orais (aumento protrombina, aumento de fibrinogênio), anticorpos anti fosfolipídios plaquetários, aumenta a anti-cardiolipina. Um segundo ponto de Virchow é a lesão endotelial, causada por diversos fatores como hiperlipidemia (aterosclerose), fumo, hipóxia (deixando de produzir anti-trombina, heparina, NO, levando a formação do trombo), hipertensão arterial, DM, causa imunológica, doenças infeciosas, toxinas (animais peçonhentos), radiação e trauma. O terceiro ponto de Virchow é a alteração do fluxo sanguíneo, começando pela turbulência (+arterial), causada por aneurismas, aterosclerose, valvulopatia e arritmia cardíacas, seguido pelas estases (mais comum no venoso), causado por tempo prolongado no leito, em viagens prolongadas, obesidade, insuficiência venoso crônica, insuficiência cardíaca, síndrome de Budd-Chiari (trombose que pode ocorrer entre as veias hepáticas e a cava inferior, entre o fígado e o átrio direito) e trombose da veia porta (em decorrência de cirrose, câncer do fígado/pâncreas/estômago). Como evolução, a trombose pode se resolver, sendo dissolvida, pode se organizar, se recanalizar e gerar êmbolos. Sinais da TVP: dor, edema, inflamação, empastamento da panturrilha, hiperemia da pele e calor local. Podemos analisar alguns sinais clínicos para avaliar a presença do TVP, temos o sinal de Homans, caracterizado por dor ou desconforto na panturrilha após dorsiflexão passiva do pé, o sinal da Bandeira, menor mobilidade da panturrilha quando comparada com outro membro e o sinal de Bancroft, em que temos dor à palpação da panturrilha contra estrutura óssea. 16 Embolia Embolias: é uma massa intravascular destacada, sólida, líquida ou gasosa levada pelo sangue para um local distante do seu ponto de origem. 99% das tromboembolias começam nas câmaras cardíacas, valvas cardíacas, aorta e veias profundas, originada justamente a partir dos trombos. Outras formas da embolia são a embolia gasosa, amniótica, infecciosa (séptica), decorrente de formação de placas de ateroma (ateroembolia), por fraturas ósseas secundárias à medula óssea, devido o tecido adiposo, neoplasias malignas, procedimentos endovasculares e embolização terapêuticas. Tipos de embolo: - em sela ou cavaleiro: é o tipo de embolo mais grave. Esse embolo se impacta na bifurcação da artéria pulmonar, na divisão entre direita e esquerda, portanto é um embolo grande, dessa maneira, teremos uma morte súbita, pois ocorre a interrupção do sangue que chega ao pulmão, não havendo mais troca gasosa, entrando em anóxia total e morte. - que obstruem ramos lobares, segmentares e subsegmentares da artéria pulmonar: dependendo da condição clínica do paciente como uma insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, a obstrução de apenas um lado pode provoca uma morte súbita. Mas no geral, esse paciente acusa uma sintomatologia previamente, como dispnéia súbita, após se movimentar, dor torácica, e caso ocorrer uma lesão, causar hemorragia, completando o quadro bem clássico, chamado de hemoptise. - em arteríolas terminais (infarto pulmonar): essas arteríolas não conseguem suprir muito a periferia, dessa maneira, quando elas são obstruídos ocorre esse infarto, muitas vezes sem repercussões clínicas, ocorrendo em pequenas áreas. - pequenos e em vasos terminais: são os mais comuns de ocorrerem, e sem muita repercussão clínica, causam pequenos infartos mas sem sintomatologia, mas que levam a necrose daquele tecido e um reparo formando fibrose no local. - pequenos e múltiplos: a TVP, caso seja fragmentada em pequenas êmbolos, causam a chamada embolia em chuveiro, caindo na artéria pulmonar e se distribuindo pelo pulmão, causando microinfartos múltiplos, levando a uma repercussão importante, como dispneia, dor torácica, e cor pulmonale agudo, quando se aumenta muito a resistência do ventrículo direito, pois a artéria pulmonar tem um aumento da sua pressão, sendo necessário que o ventrículo bombeie com mais força, e assim, o pulmão direito entra em uma falência aguda. - paradoxal: acontece em comunicações congênitas átrio-ventrículares, dessa forma o embolo pode migrar para os dois lados. Um embolo originado a partir de uma TVP, ascende pelas veias cavas inferiores até o átrio direito, seguindo para o ventrículo direito, mas ao invés de ir para as artérias pulmonares, ele acaba entrando no ventrículo direito e cair na circulação sistêmica, indo para o cérebro, rins e baço. Tromboembolia: é a terceira causa de óbitos agudo nos EUA, apresentando cerca de 200 mil casos novos por ano, com uma taxa de óbito entre 10-15%, sendo que a maioria desses trombos se originam a partir de grandes veias profundas dos membros inferiores (TVP). A fisiologia vascular do pulmão tem um papel importante no mecanismo da embolia, pois é o órgão receptor do êmbolo provindo, principalmente, dos membros inferiores. Os vasos que chegam até o pulmão são a artéria pulmonar, rica em CO2, e a artéria brônquica que sai logo do início da aorta, se tornando extremamente oxigenado, e essa dupla circulação do pulmão. É importante, pois, evita que o paciente sofra de um infarto verdadeiro do pulmão, pois a artéria brônquica consegue manter o pulmão funcionando, mesmo com um embolo nele, mas, para isso é importante que o paciente apresente um coração bom e saudável, o ventrículo esquerdo tem que bombear um sangue adequado para a aorta. A TVP, por ser muito comum em pacientes idosos, acamados, com comorbidades, diabetes e insuficiência cardíaca, essa insuficiência leva a um estado de hipo-oxigenação do pulmão, então quando temos uma obstrução de uma artéria ou de um ramo pulmonar, as consequências serão muito mais graves, nessa situação, podendo levar a um infarto pulmonar. Dessa maneira, as consequências de um tromboembolismo serão dependentes da função cardíaca que esse indivíduo apresenta e quanto sangue ele consegue bombear para o pulmão. Pode ocorrer de um paciente que está acamado e apresentar TVP, mas que não foi identificado previamente, quando ela se levantar e começar a andar, esse trombo pode se desprender em decorrência da contração da musculatura da panturrilha, e o paciente acaba morrendo. Por isso, um paciente diagnosticado com TVP deve se manter no leito, sendo administrado anticoagulantes, dependendo das condições clínicas, evitando a movimentação do membro e devendo ser acompanhado de perto. Após a anticoagulação ter sido feita (7-10 dias), e a plasmina ter conseguido quebrar a fibrina (fibrinólise), o paciente fica autorizado de se levantar e caminhar, mas usando meias elásticas. Além disso, podem ser realizados no leito por fisioterapia. 17 Prognóstico do tromboembolismo pulmonar: O prognóstico do paciente vai depender do tamanho do embolo, o número de êmbolos formados e a saúde do sistema cardio-pulmonar. A evolução para a maioria dos êmbolos é sofrer uma fibrinólise fisiológica (70-80% dos casos), feito pela plasmina, mas que caso não ocorre, quando as complicações são mínimas, a área periférica que deixou de ser irrigada vai sofrer necrose e vai se tornar uma fibrose. Em 20% dos casos teremos uma dispnéia, dor torácica e hemoptise, pode haver a cor pulmonale agudo, e em 15% podemos ter um óbito. Quando o fluxo da artéria pulmonar estiver abaixo de 60%, teremos umamorte por colapso cardiovascular ou insuficiência ventricular direito. As pessoas que apresentam um êmbolo tem 30% de chance de apresentar um segundo êmbolo, com 20% de chance de ir à óbito. Muitas vezes esses pacientes são submetidos a uma cirurgia para colocar uma tela metálica inerte na VCI, retendo os trombos, havendo uma intervenção a cada mês para retirar e repor esses filtros. Tromboembolismo sistêmico: se originam a partir de trombos cardíacos, principalmente os localizados no ventrículo esquerdo (originando aneurismas pós-infarto, áreas de trombose pós infarto, aneurismas na doença de chagas, em geral êmbolos que seguem a circulação sistêmica), mas também carótidas (por conta de placas de aterosclerose que geram embolismo no cérebro), aortas e outras estruturas, como o átrio esquerdo, que causa uma embolia no sistema arterial, decorrentes de fibrilação atrial, as de origem nas valvas cardíacas (mitral e aórtica), originados por doenças reumáticas (endocardite infecciosa). As principais localizações desses êmbolos são os membros inferiores, cérebro (originados das câmaras cardíacas quanto aorta), sistemas viscerais (rim, baço e intestino) e membros superiores. Tromboembolismo séptico: decorrente de endocardites infecciosas (vegetações nas valvas cardíacas), causadas por bacteremias, que podem colonizar a valva, levando a formação de trombo e desprendimento dele, formando os êmbolos impregnados de colônias bacterianas, levando a infecção de outros órgãos. Pode decorrer também por cateterismo vasculares prolongados, que aumenta a chance de contaminação sanguínea, favorecendo a formação de êmbolos nesses cateterismo. Pode decorrer de uma colonização secundária, por exemplo, uma TVP que causou um tromboembolismo pulmonar, que pode ser infectado por uma bactéria. Por fim, pode ser causada por vasculites infecciosas, uma infecção formada nas paredes dos vasos que pode formar um êmbolo. Tromboembolismo ateromas: habitualmente, são microêmbolos que se desprendem das placas de aterosclerose, geralmente formadas na aorta abdominal, podendo seguir para a pele dos membros inferiores (petéquias, cianose, gangrena, para os rins (infarto renal), intestino (infarto intestinal), cérebro (o paciente apresenta ataque isquêmico transitório, cursando com confusão mental e delírio, eventualmente uma amaurose transitória) e olho (dor, turvação). Esses ateroêmbolos podem ocorrer quando temos uma manipulação desses vasos com gordura, como acontece em cateterismo arterial e angioplastia. Embolia gasosa: causada por uma síndrome de descompressão, causado principalmente em mergulhadores, que ficam submetidos por uma pressão atmosférica muito intensa, comprimindo os gases circulantes, quando eles retornam à superfície, e assim, o nitrogênio pode formar bolhas de ar, indo para a microcirculação. Essas bolhas favorecem uma lesão endotelial, levando a adesão plaquetária, podendo causar um trombo sobre essa bolha. Além da embolia gasosa, podemos ter uma trombose secundária. As causas para isso, além do mergulho, podem ser por acessos vasculares (cateter, cânula, que encaminha o ar para dentro), infusão automatizada de líquidos, pneumotórax, gerado por traumas e punções que podem desprender nas pleuras e parede torácica (enfisema cutâneo). No parto e aborto são situações que podem gerar a embolia gasosa. Traumas torácicos externos. Para ter um quadro de embolia gasosa importante, é estimado a presença de 100 ml de ar circulante para causar esses problemas. As repercussões são microêmbolos nos músculos, tendões, articulações, cérebro, pulmões e coração. O tratamento ideal seria as câmaras de compressão. Embolia gordurosa: causadas por fraturas ósseas, normalmente em fraturas múltiplas em ossos longos que apresentam muita gordura na medula óssea, podendo gerar fragmentos das células mieloides. 10-15% acabam morrendo. Uma outra causa muito comum é a injeção de substâncias oleosas e silicone nos procedimentos estéticos. Como consequências temos a insuficiência pulmonar, renal e lesão cerebral (24-72 horas após a fratura óssea e trauma de tecido adiposo). Esse quadro é bem grave pois a gordura circulante favorece a adesão plaquetária, além disso, esse próprio lipídio circulante favorece a lesão endotelial que libera fatores que favorecem ainda mais a adesão e agregação plaquetária. Esse paciente apresenta uma trombocitopenia e anemia, um quadro importante são as petéquias (20- 50%). 18 A patogenia da doença consiste em uma lesão mecânica por força de cisalhamento do endotélio pela gordura e também a parte bioquímica causada pela agregação das plaquetas. Em geral, esses microêmbolos causam uma obstrução, acarretando numa agregação de plaquetas e eritrócitos, liberando AG, lesando ainda mais o endotélio, ativando as plaquetas, aumentando o número de leucócitos, causando uma destruição vascular. Embolia de líquido amniótico: gerado por complicações de trabalho de parto e puerpério imediato, com uma mortalidade de 20-40%. Os pacientes normalmente cursam com dispneias, cianose periférica, choque e coma. Além disso, esse paciente passa a apresentar edema pulmonar, por fazer múltiplos microêmbolos de líquido amniótico no pulmão, gerando uma resposta inflamatória, aumentando a permeabilidade vascular, gerando coagulação intravascular disseminada (CID), agravando o processo. O líquido amniótico é rico em células, apresentando muitas escamas do tecido fetal, cabelo, gordura, mucinas que ativam a cascata de coagulação. Causado por lesões de membranas placentárias ou roturas de veias uterinas 19 Infarto Isquemia: indica uma restrição de sangue, podendo ser parcial (hipóxia) ou total (anóxia), são essas últimas que tendem a encaminhar para uma necrose e então infarto. Infarto: é uma área localizada de necrose isquêmica em um órgão ou tecido, resultante da oclusão de seu suprimento arterial (causa mais frequente) ou drenagem venosa (causa menos frequente). A principal causa é a formação de trombo ou tromboembolia. As causas secundárias de infarto arterial são os vasoespasmos, que é uma contração temporária, mas persistente, de artérias de pequeno calibre, diminuindo o fluxo momentâneo para aquela região, de forma parcial ou total, quando ocorre em uma placa de aterosclerose numa coronária, a obstrução está muito mais facilitada, essa paciente desenvolve uma hipóxia, sem gerar um infarto do miocárdio, gerando uma angina, mas quando esse vasoespasmo persiste, pode ocorrer uma isquemia local. Além disso, a dissecção arterial (em que temos um sangramento em alguma camada da artéria que acaba comprimindo a parede arterial), rotura de placa de ateroma e hemorragia intraplaca, compressão extrínseca por tumor, manipulações endoarteriais (que podem acarretar na formação de trombo), síndrome compartimental (em que temos um sangramento ou um edema na musculatura, por ser contida por uma fáscia, esses líquidos acabam comprimindo os vasos que passam por essa musculatura), o choque hipovolêmico causando uma diminuição do suprimento sanguíneo para diversos tecidos, gerando microinfartos, principalmente no cérebro, rim, baço e fígado, a microangiopatia diabética e tabagismo que resultam em pequenas alterações da parede arterial, diminuindo a oxigenação, levando a uma hipóxia, eventualmente uma anóxia, podendo gerar as gangrenas de extremidades (secas ou úmidas). As causas secundárias de infarto no sistema venoso envolvem a torção de vascular, principalmente em testículos, ovários e no vólvulo intestinal (torção intestinal, principalmente no cólon sigmoide, comum em pacientes com Chagas, na vista por RX observamoso formato do intestino em grãos de café), traumas vasculares e compressão. Tipos de infarto - Brancos: estão relacionados com a oclusão arterial, ocorrendo principalmente em órgãos com circulação terminal, como o rim, baço e coração. Esse infarto ocorre normalmente em tecidos sólidos (o cérebro, apesar de ter uma circulação terminal, não entra nessa classificação, por ser um tecido muito mole, se liquefazendo nessas condições). - Vermelhos: ocorre por oclusão venosa, em órgãos frouxos (pulmão e mesentério) de circulação dupla (o pulmão apresenta a artéria brônquica e a artéria pulmonar) e eventualmente em órgãos congestos, muito comum em indivíduos que apresentam insuficiência cardíaca congestiva direita, represando o sangue na VCI, represando o sangue das veias hepáticas, passando a apresentar uma tendência de acumular um fluxo sanguíneo ao redor da veia hepática, dessa maneira, na veia centro-lobular teremos uma parada do sangue, hipoxigenado, levando a um micro infarto. - Sépticos ou assépticos: quando houver uma bactéria associada ou não. Fatores condicionantes da gravidade de oclusão vascular - Estado geral: se o indivíduo apresentar anemias (já apresenta uma hipoxemia), cardiopatias (diminuindo o bombeamento e a oxigenação dos tecidos), pneumopatias (como bronquite crônica, pneumonia e asma acarretam numa hipoxemia sistêmica). Apresentando todas essas comorbidades, o indivíduo apresenta uma gravidade muito maior quando sofrer uma oclusão - Padrões anatômicos da rede arterial: órgãos que apresentam uma circulação dupla, como pulmões e fígado (artéria hepática e sistema porta), o impacto será bem menor num caso de isquemia ou hipóxia. Órgãos que tem irrigação paralela como o antebraço (artéria radial e ulnar) e o cérebro (polígono de Willis), podendo contribuir para um menor impacto no caso da obstrução de uma artéria. Órgãos com ricas redes de anastomose, como o intestino delgado, aumenta a proteção e diminui o impacto de uma obstrução. Órgãos que são pobres em anastomose como o rim, coração e baço apresentam um impacto maior. - Velocidade de desenvolvimento: quando a obstrução se dá agudamente, teremos o infarto, mas quando ocorre lentamente, poderemos ter desenvolvimento de circulação colateral. - Tempo e susceptibilidade dos tecidos: dependendo dos tecidos, o tempo para suporte da isquemia pode ser maior ou menor, os neurônios aguentam poucos minutos, o miocárdio resiste por até 30 minutos, já os fibroblastos podem durar por horas. No caso do miocárdio, quando uma coronariana sofre uma oclusão, nos primeiros momento, o infarto começa na região subendocárdica, mais distante dessa artéria, com o tempo, a área do infarto acaba se estendendo para toda a parede do endocárdio. 20 - Hipoxemia acentuada: quanto maior for a falta de oxigênio, maior será o impacto nos tecidos. Em relação ao coração, a principal característica do infarto isquêmico é que decorre a partir de uma aterosclerose. Os infartos do miocárdio podem ser classificado por transmural ou não transmural, o primeiro caso ocorre uma morte total do tecido, no segundo caso, ocorre uma morte principalmente da região subendocárdica. Para as causas temos a doença coronariana grave, diminuição da oxigenação (pneumonia, anemia e hipotensão), aumento da demanda (taquicardia e hipertensão), vasoespasmos (estresse, cocaína), vasculites (microêmbolos gerando microinfartos da parede ventricular). A partir do momento em que temos uma isquemia, nos primeiros segundos temos uma depleção de ATP, e com isso, temos o acúmulo de água na célula por falha da bomba de sódio/potássio, após 2 minutos temos a perda da contratilidade do miocárdio, em 10 minutos, a redução do ATP é muito grande e a célula começa a ter uma lesão irreversível, a partir dos 20 a 40 minutos, e em uma hora teremos uma lesão microvascular que vai progredindo. No caso de uma reperfusão, quando for feita nos primeiros 20 minutos, temos o favorecimento de salvar a área que seria afetada, apresentando poucos danos, quando ela ocorre entre 2-4 horas, o dano da área já é maior e apresenta uma área necrótica central, quando temos uma oclusão permanente, toda a área irrigada se torna necrosada, levando ao óbito 21 Inflamação aguda É uma resposta fisiológica do organismo a agressão que sofremos, importante para tentar conter, neutralizar, limitar e erradicar o agente agressor, podendo ser por microorganismos, por trauma, temperatura, agentes químicos e outros. A inflamação não é um doença, foi definida por John Hunter como sendo uma resposta tecidual a agressão sofrida, seguida do reparo tecidual. Sinais cardinais da inflamação: rubor, calor, “tumor” (edema) e dor. Mais recentemente, consideramos a perda de função como um sinal. Esses sinas estão relacionados com a microcirculação local (rubor, tumor e calor determinados pela vasodilatação e aumento de permeabilidade que gera o extravasamento de líquidos), mediadores celulares que determinam fagocitose de bactérias por leucócitos e com os mediadores químicos, como a histamina liberada pelos mastócitos. A dor é determinada por agentes químicos que atuam em plexos neurais locais. As células envolvidas no processo inflamatório são os neutrófilos, eosinófilos (respostas alérgicas), basófilos, linfócitos T e B e os monócitos/macrófagos. Além disso, temos também o papel de algumas células circulantes que atuam na inflamação como as células de Kupffer, macrófagos, megacariócitos (formam as plaquetas) e os hepatócitos. As células envolvidas se originam de células troncos presentes na medula óssea, que vão originar células de origem linfoide e mieloide. As de origem linfoide formam as células T e B, enquanto que as mieloides formam os eritrócitos, megacariócitos, monócitos/macrófagos, basófilos, eosinófilos e neutrófilos. Inflamação aguda: caracterizada por um processo de curta duração, variando de alguns minutos até poucos dias (20 dias) e que gera um exsudato rico em neutrófilos (dependendo da infecção bacteriana, uma infecção por vírus geraria mais linfócitos). Inflamação crônica: apresenta intervalos variáveis, variando de alguns dias, até meses ou anos, principalmente em doenças autoimunes (Retocolite Ulcerativa, Doença de Crohn, Artrite Reumatoide, Espondilite Anquilosante ou Doença de Sjogren). É caracterizado por um predomínio de linfócitos, plasmócitos, monócitos e macrófagos. Modificação nas inflamações agudas e crônicas: alguns fatores podem favorecer a duração da inflamação gerando um processo agudo ou crônico. O principal fator que determina o evento inflamatório é a causa da lesão, como por exemplo a infecção por M. tuberculosis, que vai gerar primeiramente uma resposta aguda, em que elas passam a ser fagocitados por macrófagos alveolares, liberando uma série de citocinas, começando essa resposta inata ao atrair os neutrófilos. Mas para essa bactéria, muitas vezes, apenas os neutrófilos não são suficientes para combater esse patógeno, e então temos a ativação da resposta crônica, formando os granulomas. Outros fatores também determinam no desenvolvimento dessa resposta, por exemplo o estado nutricional, o sistema imune (HIV), influenciado pela idade, diabetes descompensada, câncer, cardiopatas e outros. Além disso o uso de antibióticos, anti-inflamatórios (em doenças reumáticas) e processos de cirurgia também influenciam. Quando a resposta inflamatória é importante para a recuperação do tecido, mas uma resposta muito exacerbada ou prolongada acaba gerando efeitos problemáticos que agridem o próprio tecido. Inflamação aguda: apresenta uma tríade de sintoma. A alteração vascular decorrente de um estímulo irritativo, ou seja, alteração da microcirculação local, sendo uma das primeiras alterações observadas. A alteração vascularacarreta em edema, que é o excesso de fluído no espaço extravascular ou cavidades corporais, esse líquido podem ser um transudato, que é um líquido pobre em proteínas e de baixa densidade ou exsudato, que é um líquido rico em proteínas e de alta densidade, podendo se apresentar de forma fibrinosa (rica em fibrina), serosa, purulenta (rico em neutrófilos, comum em inflamações agudas por bactérias), fibrinopuruleta ou hemorrágica (comum na tuberculose em que ocorre o rompimento dos vasos). No sistema vascular, nas arteríolas terminais, apresentamos uma pressão hidrostática que empurra o fluído para fora do vaso, enquanto que nas vênulas apresentamos uma pressão hidrostática menor, que puxa o líquido de volta, havendo um equilíbrio entre o que sai do sistema arterial e o que entra no sistema venular. Quando ocorre uma congestão e aumento da pressão das arteríolas terminais, nós temos um aumento da pressão do vaso que tende a jogar mais líquido para fora, ao mesmo tempo que nas vênulas também ocorre esse extravasamento. Quando temos um aumento da permeabilidade vascular (eventos agudos de inflamação), as próprias proteínas são lançadas para fora do vaso, havendo uma perda delas no tecido, aumentando a pressão coloidosmótica no tecido, puxando ainda mais 22 água para esse meio. As inflamações agudas apresentam um aumento da pressão hidrostática e aumento da permeabilidade vascular, o que causa o aumento dos fluídos fora do vaso. A alteração vascular pode decorrer de uma resposta imediata transitória, resposta imediata persistente ou resposta retardada persistente. A picada de uma formiga/inseto é um exemplo resposta imediata transitória, onde ocorre uma vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular muito rápida, mediada pela histamina e bradicinina liberados pelos mastócitos, que favorecem a permeabilidade vascular, além disso, o próprio NO liberado pela parede vascular promove essa permeabilidade por gerar um relaxamento da musculatura lisa dos vasos. A resposta imediata persistente pode ser provocada por queimaduras, em que temos um edema e inchaço que permanecem por dias até ser resolvido, além de estarem envolvidos as histaminas e bradicininas pelos mastócitos, ao mesmo tempo é ativado uma cascata de inflamação que libera quimiocinas pró-inflamatórias que aumentam a congestão, vasodilatação, permeabilidade vascular, promovido pela destruição de tecido, sendo necessário a ativação do sistema de reparo. A resposta retardada persistente, ocorre nos casos por queimadura por sol, em que essa queimadura demora para aparecer, mas que quando aparece ela fica por um bom tempo, promovido pela destruição da pequena capilaridade, ocorrendo o extravasamento do plasma, edema, calor e rubor, não sendo mediado por citocinas, mas pela destruição direta do tecido. Além da alteração vascular, apresentamos também eventos celulares, que envolvem os linfócitos, monócitos, neutrófilos, basófilos e eosinófilos, além de uma série de fenômenos como a marginação, pavimentação, adesão, emigração, quimiotaxia a fagocitose e degranulação. O fluxo sanguíneo é laminar, dessa forma, o plasma circula na mais próximo da parede dos vasos enquanto as células se encontram no centro, quando ocorre uma vasodilatação gerando uma congestão, o que altera o fluxo do sangue, dessa maneira, as células (neutrófilos no caso de uma pneumonia bacteriana ou linfócitos no caso de uma pneumonia viral) passam a circular próximo da parede dos vasos, gerando a marginação. Uma vez que o neutrófilo ou linfócito está em contato com a parede do vaso essas células passam a realizar o rolamento para que os seus receptores como integrinas e selectinas se liguem com os receptores da parede do vaso, quando isso ocorre ele para de rolar e consegue passar do vaso para o tecido por entre as junções do endotélio, um processo chamado de diapedese/emigração. Uma vez que ele chega no tecido ele se move em direção ao agente causador do efeito inflamatório por meio da quimiotaxia, que atrai essas células por meio das quimiocinas, liberadas pelo endotélio, por bactérias, células inflamatórias ou fibroblastos. A partir do momento que a célula migrou por meio da quimiotaxia até o local lesionado, o macrófago ou neutrófilo vai ter que fagocitar o tecido ou patógeno para então mata-los. No fagossomo, essas células vão apresentar alguns mecanismos que induzem a morte celular, principalmente pelo sistema dependente de oxigênio, que produzem radicais livres (superóxido, oxigênio, radical hidroxila, peróxido de hidrogênio, ácido hipoclorito e NO). Além disso, essas células podem apresentar mecanismos independente de oxigênio como as lisozimas, lactoferrinas, proteína básica maior (MBP), proteína bactericidas e o pH. Lembrando que a opsonização pelo sistema complemento facilita a fagocitose de um patógeno pela célula. Uma vez fagocitado o agente vai ser englobado no fagossomo onde vão ser ativadas enzimas lisossômicas e produção de radicais livres que favorecem a destruição do agente. Uma vez que o mecanismo causador da inflamação tenha sido combatido, essas células vão entrar apoptose ou serão destruídas por outras células que induzem a apoptose. Mediadores inflamatórios derivados de células: os principais são aqueles derivados do ácido araquidônico e as citocinas (interleucinas, favor ativador de colônias, interferon, quimiocinas e o fator de crescimento como TGF, FGF, EGF e PDGF para garantir o reparo tecidual, além de estimular o crescimento de células endoteliais) liberadas por macrófagos, linfócitos, neutrófilos, monócitos, eosinófilos, células endoteliais e. fibroblastos. A ativação do metabolismo do ácido araquidônico é feito nas superfícies de fosfolipídios das membrana celulares. Ocorre por meio de estímulos como a detecção do sistema complemento, fator ativador plaquetário (PAF) e interleucinas que ativam fosfolipases que transformando os fosfolipídios em ácido araquidônico. Esse ácido pode apresentar dois caminhos, o ciclo oxigenase, em que ocorre a produção de prostaglandinas importantes para a vasodilatação, aumentando a pressão hidrostática do vaso, levando ao extravasamento do líquido gerando edema e também a produção de tromboxano que realiza a vasoconstrição do sistema arteriolar, compensando a vasodilatação, no entanto, o tromboxano também favorece a agregação plaquetária, gerando efeitos microtrombóticos ou podem eventualmente interagir com o endotélio estimulando a liberação de citocinas pró-inflamatórias, que favorecem a 23 vasodilatação. Para evitar a agregação plaquetária, a prostaglandina (I2) também promove a sua desagregação, mantendo esse equilíbrio. Além disso, a prostaglandina (E2 e I2) promove a dor. Já o ciclo lipo-oxigênase ocorre a produção de leucotrienos, que aumentam a permeabilidade vascular, levando a passagem de plasma e células para fora do vaso, favorecendo a migração celular. A aspirina é um anti-inflamatório que inibe a via ciclo oxigenase, enquanto que os corticosteroides inibem a formação do ácido araquidônico, bloqueando as duas vias. A produção da prostaglandina ocorre de forma natural na mucosa gástrica e na capilaridade renal, atuando como protetor da mucosa e do endotélio desses órgãos, quando um paciente faz uso de muito anti-inflamatório não hormonal (que não é corticoide) é comum apresentar insuficiência renal ou hemorragia gástrica. Um outro mediador inflamatório é o fator ativador de plaquetas (PAF) que atua na estimulação do metabolismo do ácido araquidônico nas células inflamatórias, nas plaquetas para produção de serotonina (eventos vasculares) e nos mastócitos e basófilos para produção de histamina. O PAF, portanto, é um potente ator na inflamação, induzindo a agregação plaquetária, na adesão de neutrófilos,aumentar a permeabilidade e a vasodilatação. As aminas vasoativas são produtos inflamatórios já presentes nas células, diferentemente do ácido araquidônico em que deve ocorrer a sua produção. Essas aminas são a histamina e serotonina presentes em mastócitos, basófilos e plaquetas que aumentam a vasodilatação e a permeabilidade vascular. Outros mediadores derivado de células são os grânulos específicos, que contém lactoferrina, lisozima, fosfatase alcalina, colagenase e moléculas de adesão de leucócitos, os grânulos azurófilos que contém mieloperoxidase (destruição de bactérias), lisozima, proteínas catiônicas, hidrolases ácidas e elastases e o óxido nítrico que vai atuar na vasodilatação e destruição de células pela produção de radicais livres. Todas essas enzimas atuam em conjunto para inflamação e destruição de um tecido ou agente. Pacientes com deficiência de alfa-1-anti-tripsina, produzida pelo fígado, uma enzima que atua em inibir a atividade enzimática da tripsina e quimiotripsinas, passam a desenvolver pneumopatias, por conta de macrófagos circulantes acabam liberando o seu conteúdo enzimático (grânulos) que acabam destruindo o septo alveolar pulmonar. No tabagismo, ocorre também uma baixa atuação dessa enzima, que acaba destruindo a matriz pulmonar, gerando enfisema pulmonar. Mediadores derivados do plasma: envolve o sistema de coagulação e fibrinolítico e o sistema do complemento, principalmente. São proteínas plasmáticas circulantes que ao serem estimuladas geram uma cascata na circulação local. A partir da ativação da via intrínseca e extrínseca na coagulação temos a formação da fibrina e os subprodutos da fibrinólise, que estimulam as células inflamatórias a produzirem os fatores inflamatórios. Além disso, a plasmina consegue ativar o sistema complemento. A bradicinina estimulada pelo fator XII tem uma potente atuação na permeabilidade vascular e na ativação do complemento. Já pelo sistema complemento, nós temos três vias diferentes, a clássica (imunocomplexos e proteases), da lectina (proteína ligante de manose presente em algumas bactérias) e a alternativa (endotoxinas, zimogênios, polissacarídeos, parasitas, vírus e fungos) que acabam convergindo para a formação uma proteína em comum. Como efeitos o sistema complemente desencadeia nas células inflamatórias o metabolismo do ácido araquidônico, nos mastócitos a produção de histamina, o C5 favorece a quimiotaxia de macrófagos, a lise pelo complexo MAC e o C3b favorecendo a fagocitose pelos macrófagos. Efeitos sistêmicos da inflamação aguda: diversos sintomas como febre, temor, taquicardia, queda da pressão arterial (decorrente da vasodilatação periférica), perda de apetite, fadiga e apatia. Todos esses efeitos são decorrentes das citocinas inflamatórias (prostaglandinas), produtos proteicos bacterianas e interleucinas que passam a circular ativando ou inibindo alguma via. Produtos da fase aguda da inflamação: ocorre a presença de pirógenos exógenos (produzidos por bactérias e vírus) e pirógenos endógenos (TNF, IL-1, noradrenalina, alga-interferon, PGE1 E PGE2) e proteína C reativa. Evolução da inflamação aguda: a maioria das inflamações seguem para resolução, no entanto algumas podem se prolongar e se organizar em uma inflamação sem resolução plena, pode ocorrer a cura com fibrose, pode se prolongar por um bom tempo gerando a inflamação crônica e em alguns casos a inflamação intercala entre aguda e crônica formando os abcessos, com um interior colonizado por bactérias e muito pus. 24 Inflamação crônica A partir do momento em que temos um estímulo lesivo, o nosso sistema imunológico desenvolve a inflamação aguda, com expectativa de que haja uma resolução, retornando o tecido a normalidade e as suas funções. Eventualmente essa inflamação aguda pode acarretar em destruição do tecido, formando os abcessos, que ao evoluir para a cura, gera uma cicatriz, correspondente a um tecido com fibrose, com perda de função. Quando a inflamação aguda não se resolve, seja pelo agente lesivo não ter sido removido, ou por estar associado a processos de autoimunidade, a inflamação progride para a cronicidade. Definição: é a soma das reações do organismo, como consequência da persistência do agente agressor, que não é eliminado pelos mecanismos da inflamação aguda (agentes biológicos), exposição prolongada a agentes tóxicos (tabagismo), doenças da autoimunidade (artrite reumatoide, lúpus eritematoso e outras) e neoplasias. Classificação: podem ser inespecíficas, quando ocorre a migração de linfócitos e monócitos sem haver a constituição de uma inflamação morfológica, ou específica, quando ocorre a formação de granulomas. Componentes: as células mononucleadas mais comuns são os macrófagos, linfócitos e ,eventualmente, plasmócitos. Ocorre a proliferação de fibroblastos (produção de colágeno) e de vasos (tecido de granulação) relacionados com a atividade regenerativa/reparativa. Tempo: enquanto que a inflamação aguda dura cerca de alguns dias até algumas semanas, a crônica pode se prolongar por semanas, meses e até anos. Modificações celulares: toda inflamação crônica começou inicialmente como um processo agudo e inato do organismo, havendo a necessidade, portanto, de ocorrer mudanças no padrão celular. Inicialmente, o exsudato celular é neutrofílico, mas que se modifica para linfócitos e monócitos por conta de citocinas mediadas pelos linfócitos que migraram para o local da lesão, como consequência, temos o aumento da sobrevida de leucócitos, impedindo que eles, após destruirem um agente agressor, sofram apoptose, aumentando a atividade inflamatória (CSF-GM ativam as vias anti-apoptóticas em macrófagos e neutrófilos, atraindo um outro perfil de citocinas que vão agir naquele tecido). A atividade linfocitária é fundamental para o desenvolvimento da cronicidade, uma vez que são os responsáveis pela modificação das características inflamatórias por meio de suas citocinas. Além disso, os macrófagos passam a ser mais ativados, o que chama mais linfócitos, entrando num ciclo que fica se estimulando. Sistema fagocítico-mononuclear: o macrófago pode ser formado pelas células mielóide da medula óssea, se tornando circulantes, ou podem estar residentes nos próprios tecidos como baço (polpa vermelha e zona periférica da polpa branca), fígado (células de Kupffer), alvéolos pulmonares, pele (Células de Langerhans, células dendríticas), linfonodos, serosas (os fagócitos presentes tem alta capacidade metabólica para produção de ácido araquidônico), sinovial, matriz óssea (osteoclastos) e sistema nervoso (micróglia). Ativação de macrófagos por citocinas pró-inflamatórias: para que essas células consigam exercer sua função fagocítica e destruir um agente, ele vai precisar ser ativado por meio de citocinas. Possuímos dois tipos de macrófagos, o M1, ativado por IFN-gama (produzido por linfócitos), como consequência, esses macrófagos aumentam de tamanho, desenvolvem maior capacidade de migrar no tecido, aumenta o poder de sua fagocitose e digestão, aumenta a capacidade de produção de radicais livres de oxigênio e aumenta secreção enzimática. De forma geral eles conseguem destruir microorganismos e células cancerosas, além de produzir mais citocinas inflamatórias. Já o M2 é ativados por uma série de citocinas (IL-10, IL-13, IL-21), corticosteróides, PGE2, lipoxinas (via do ácido araquidônico pelos leucotrienos) e resolvinas, moléculas relacionadas com atividade anti-inflamatória. Esse macrófago é responsável pelo reparo tecidual e formação de fibrose durante a inflamação crônica. Exemplos de doenças inflamatórias crônicas inespecíficas em que ocorre predomínio de linfócitos e plasmócitos: - Doença inflamatória crônica intestinal: os principais exemplos são a retocoliteulcerativa e a doença de Crohn, em que ocorre uma atividade inflamatória crônica que atinge desde a mucosa até a superfície serosa. Na doença de Crohn, por exemplo, a atividade inflamatória gera um exsudato de fibrina que acaba causando a aderência das altas intestinais, gerando uma aderência por peritonite crônica fibrinosa. Essas doenças geram úlceras na mucosa, além de ocorrer uma presença de muitos linfócitos e monócitos. 25 - Hepatite crônica por vírus B e C: a resposta inflamatória gerado pela presença do vírus acaba destruindo o próprio tecido hepático, havendo a ativação de macrófagos e monócitos que migram para além do espaço porta, além de haver linfócitos nesse local. Ao mesmo tempo que o tecido hepático é destruído ao longo do espaço porta, o tecido é reposto pela fibrogênese. - Gastrite crônica: se apresenta com uma mucosa avermelhada e irritada, com edema, pode haver a perda das pregas gástrica por atrofia delas conforme o avanço e duração da doença. Pode apresentar um aglomerado de linfócitos juntamente com monócitos e macrófagos, promovendo a agressão do epitélio. Essa doença também apresenta neutrófilos que promovem a destruição do tecido. - Úlceras: apesar de poder ocorrer na fase aguda, é mais comum de ocorrer nas inflamações crônicas. Estão relacionadas com a perda de tecido em superfície de pele e mucosas. Podem estar relacionadas a traumatismos, infecções, péptica (ocorre em situações de aumento da acidez gástrica, ocorrendo principalmente em decorrência do H. Pylori) e neoplasias. Inflamações granulomatosas: é um tipo específico de reações inflamatórias crônicas cuja célula predominante é o macrófago ativado. Essas células vão apresentar uma polaridade, podendo se transformar em células epitelióides ou células gigantes multinucleadas, que pode ser do tipo corpo estranho ou de Langerhans. Os granulomas são uma área focal de reação granulomatosas podem ser do tipo corpo estranho (não imunogênico) ou epitelióide (imunogênico) com formação de paliçadas. O granuloma se foram a partir de um linfócito ativado que secreta IFN que vai promover a diferenciação dos monócitos em macrófagos que começam a tentar englobar o antígeno, ficando no centro do granuloma, enquanto que os linfócitos vão ficar na periferia. Os macrófagos liberam IL-12 que estimula linfócitos, gerando um ciclo. Os macrófagos começam a se organizar em células epitelióides, apresentando baixa atividade fagocitária, funcionando apenas como uma barreira para evitar a saída do agente infeccioso. Os macrófagos também podem se fundir, mediado por citocinas, formando as células gigantes. Além disso, também temos as DCs. O granuloma pode se desenvolver a partir de processos infecciosos, de um corpo estranho ou por origem desconhecida. No caso dos processos infecciosos, o principal é decorrente de bactérias, como ocorre na tuberculose, hanseníase, sífilis e na arranhadura do gato, também pode ter origem verminiótica, como na esquistossomose e cisticercose, por fim, podem decorrer de micoses profundas como na paracoccidioidomicose, cromomicose, esporotricose e actinomicose. O corpo estranho pode ser diferentes agentes como o talco, amido, fios de sutura, tatuagem, ceratina, sílica, silicone, óleo mineral, fios de sutura, birílio e zircônio. As principais doenças envolvidas na origem desconhecida são a Doença de Crohn, Sarcoidose, Cirrose biliar primária e tireoidite granulomatosa. Os granulomas se dividem em dois grupos, aqueles mediados por uma resposta Th-1, que gera muito IFN-gama e IL- 12, como ocorre na tuberculose, perpetuando a característica linfo-macrofágica e os mediados por Th-2, ocorrendo a produção de IL-4, IL-10 e IL-13, como ocorre na esquistossomose. O modelo Th-2 está muito relacionado com a fibrose hepática promovida pela esquistossomose, que se inicia como Th-1, mas que depois muda para Th-2. O granuloma caseoso é mais comum de ocorrer nas doenças da tuberculose e esquistossomose, em que o combate ao processo infeccioso promovido pelo agente invasivo promove inflamação local e destruição do tecido (necrose). Sarcoidose: granulomas de origem desconhecida relacionados com o câncer, muito comum de ocorrer na pele, pulmões, olhos e linfonodos. Esses granulomas são chamados de epitelióides (sem ser caseoso/necrótico). Não apresentam muita atividade linfocitária, enquanto que apresentam muito macrófagos. Esquistossomose: quando a cercária penetra na pele, passando pelo pulmão, entrando na circulação sistêmica, chegando ao fígado e depois nas veias mesentéricas, o verme consegue se instalar no mesentério e depositar o seu ovo que segue para o fígado no espaço-porta, onde haverá a formação do granuloma. Em pacientes com hipertensão portal podem acabar tendo o ovo parando no pulmão. Granulomatose caseosa: extremamente comum na tuberculose pulmonar, havendo células epitelióides, células gigantes (Langerhans) e linfócitos. 26 Doença de Jorge Lobo/Lobomicose: doença muito comum em regiões da amazônia, causada por um fungo. Decorrente de uma resposta Th-1 não efetiva. Hanseníase: forma granulomas verdadeiros, relacionados com a destruição de nervos (destruição das células da bainha de Virchow). Ocorre uma resposta Th-1 não efetiva associada com uma resposta de Th-2, havendo fibrogênese e anticorpos. Sífilis secundária: a persistência do bacilo pode leva-lo a se implantar em diversos órgãos, havendo a formação de granulosas pouco definidos mas com a presença de células gigante. Leishmaniose tegumentar: forma granulomas verdadeiros durante um período e uma forma anérgica em outras, formando granulomas pouco definidos. A lesão da leishmaniose é indolor, ulcerada e com uma borda definida, endurada e elevada. Granulomas de corpo estranho: são mediadas por substâncias inertes, que não geram uma resposta imunogênica, não havendo uma apresentação de antígeno aos linfócitos. Essa resposta é muito mediada por macrófagos, formando o granuloma de corpo estranho. Alguns exemplos são o granuloma or metacrilato, mais comum em processos estéticos, granulomas por silicone, granulomas por decomposição de hematomas. 27 Cura e Reparo O objetivo final da resposta inflamatória é conseguir preparar o tecido para a cura e o reparo daquele local. Os fatores que determinam a capacidade de reparo de um tecido vai ser a localização da lesão, quando ela ocorre em regiões de grandes movimentações (ombro, pés, mãos), mais difícil será para que o reparo ocorra. Um outro fator vai ser a extensão da lesão, quanto maior for o tamanho, mais tempo levará para que haja o reparo. A borda da ferida também vai ser importante para determinar essa condição, quanto mais limpa, livre de infecção e bem oxigenada (bastante irrigação) for, mais fácil será para que tenhamos a reposição do tecido. Quanto mais limpa for a ferida, livre de tecido necrosado, melhor será a sua capacidade de regeneração. Em casos de uma lesão em que ocorreu a exposição do osso, o reparo vai se estender por muitos meses. A presença de corpo estranho (caco de vidro, fragmentos metálicos) na lesão vai dificultar o reparo, estimulando o desenvolvimento de granulomas. Alterações sistêmicas como ocorre em diabéticos, cardiopatas descompensado, pneumopatas, nefropatas, desnutrição e outros eventos crônicos e sistêmicos afetam a processo de cicatrização. Pacientes imunossuprimidos também dificultam no reparo. Em alguns casos pode haver ainda um processo de intensa cicatrização, havendo a formação de queloides. Cicatrização: para que esse processo ocorra precisamos inicialmente de uma inflamação para combate do agente agressor (em casos de tecido lesado, a inflamação vai ser importantepara limpar a região necrosada), regeneração, migração e proliferação celular, (neo)angiogênese, síntese de matriz extracelular, remodelação, colagenização e resistência. Esse evento só vai ser possível por meio de citocinas pró-reparo que vão mediar todo esse processo. A partir do momento em que ocorre uma ferida, ocorre a agregação plaquetária (tampão primário), ativação da cascata de coagulação, ocorrendo a produção de fibrina para gerar um tampão hemostático secundário. Nas primeiras horas ocorrerá a migração celular, que vão tentar reparar o tecido com a produção de colágeno e novos vasos, após alguns dias, se forma um tecido de granulação, um tecido com muita vascularidade, após alguns outros dias nós temos uma maior proliferação fibroblástica, garantindo a cicatrização. Todos esses processos vão ser mediados por citocinas inflamatórias. Tecido de granulação: é uma região de formação neoagniogênese. Se inicia entre o terceiro e o quinto dia da ferida. A cicatrização de primeira intenção é o evento que envolve os processos de coagulação, migração celular, (neutrófilos, macrófagos), produção de colágeno, neoangiogênese, proliferação epitelial, produção de colágeno, proliferação de fibroblastos e então reparo completo com remodelamento, havendo a criação de uma resistências. Essa situação é o processo mais clássico, havendo a aproximação das bordas da lesão. Em lesões maiores, em que a borda não consegue ser aproximada, devemos deixar que a cicatrização ocorra em segunda intenção, nesse caso temos uma extensa perda de células e tecido, um inflamação mais intensa, exuberante tecido de granulação e contração da ferida (miofibroblastos). Fatores que influenciam a cura e repara: tamanho da ferida, localização, qualidade da circulação local (arterial e venosa), neuropatias periféricas (hanseníase), infecção, tecido necrótico (desvitalizado), exposição óssea, corpo estranho, desnutrição e doenças sistêmicas (diabetes). Granuloma Telangiectásico: quando o tecido de granulação não regride após a cicatrização, é formado esse tipo de granuloma, muito estimulado por citocinas vasculares que persistem e garantem o estímulo para angiogênese, caracterizado por organização das estruturas vasculares formando lóbulos vasculares permeados por colágeno. Muito comum de aparecer nos cantos da unha. É considerado um tumor benigno originado nos vasos sanguíneos chamado de hemangioma capilar. Intervenção para favorecer a cicatrização: a aproximação de bordas é a melhor opção, sendo possível apenas nas menores lesões. Em casos mais graves e complicados é necessário observar se há áreas de necrose, cianose, como se encontram as bordas, secreção purulenta, exposição do osso, presença de fibrina, para o tratamento de quadros que apresentam todas essas características pode se tentar o amputamento da região, mas também observar se as condições sistêmicas do paciente permite o tratamento, caso contrário, deve ser tratado primeiro essas condições para garantir a melhor cicatrização. Uma vez que esses fatores forem tratados, a lesão deverá ser limpada e 28 revitalizada, tirando tudo que for morto e degenerado, promovendo um sangramento das bordas para promover a angiogênese, caso o osso estiver exposto, devemos debrida-lo e raspa-lo para evitar uma reação de corpo estranho. Cicatriz hipertrófica: costuma ocorrer em situações de grande perda de tecido, como ocorre em queimaduras. Nesses casos, ocorre a produção de muito colágeno. Quelóide: é um extremo da cicatrização colagenante. É mais comum na população negra. 29 Tuberculose É uma doença típica de países subdesenvolvidos e em pacientes com HIV/AIDS. A doença é causada pelo bacilo de Kock (BK), também chamado de bacilo álcool ácido resistente (BARR) (também pode se referir ao M. leprae e outras espécies) ou Mycobacterium tuberculosis. Essa bactéria é constituída por lipídios, que permite a ativação de monócitos e macrófagos (favorecendo a formação de granulomas), proteínas (tuberculoproteína), que aumenta a sensibilização ao bacilo (apresentação de antígeno) e carboidratos para reação neutrofílica. Como definição geral, a tuberculose é uma inflamação crônica granulomatosa com ou sem necrose caseosa (destruição de bacilos e tecido), sendo que, aqueles que tiverem uma resposta de hipersensibilidade terão a formação da necrose caseosa. A vacinação da BCG O Micobacterium é adquirido por meio da respiração de gotículas que contenham esse bacilo, seguindo para os alvéolos pulmonares onde vai se instalar, desde que ele tenha passado por todo o filtrado das vias aéreas. Normalmente ele se instala nas regiões apicares do pulmão, se alojando no ápice do lobo inferior e na base do lobo superior, na região da linha do hilo pulmonar. Uma vez alojado, o bacilo pode adquirir uma forma infectante ou latente. Essa infecção inicial é chamada de tuberculose primária, podendo evoluir para uma doença sistêmica (disseminação linfática ou hematogênica), crônica ou cura (mais comum). Formas clínico-patológico: - Tuberculose primária: não houve contato prévio com o BK, mais comum em crianças e em regiões mais pobres chamado de primoinfecção. Pode provocar primeiro uma reação exsudativa (macrófago fagocita o bacilo, libera citocinas, atraindo neutrófilos), seguida por uma reação produtiva/granulomatosa (quando ocorreu a apresentação do antígeno para o linfócito T, que vai liberar citocinas, ativando macrófagos, que vão fagocitar e destruir, liberando IL-12 e atraindo mais linfócito Th1) após uns dias, formando o granuloma clássico. Conforme esse processo for se intensificando, a resposta vai migrar para uma reação produtiva-caseosa, por fim, a resposta ao BK consegue ser bem sucedida, na maioria das vezes, gerando uma reação de cicatrização, com a deposição de cálcio e fibroblastos depositando colágeno, formando uma cicatriz para o resto da vida. Em alguns casos, nessa cicatrização ainda pode haver o BK latente, podendo ser reativado no adulta. A tuberculose primária acaba formando os Nódulos de Ghon (agregados de granulomas tuberculóides), principalmente no ápice do lobo inferior e base do superior. Em alguns casos, pode ocorrer a linfangite (inflamação da via linfática) e a linfadenite granulomatosa (nos linfonodos do hilo pulmonar). A presença desses três fatores são chamados de complexo primário ou complexo de Ghon, nem sempre esses três vão estar presentes. A evolução da tuberculose primária é a cura, na maioria dos casos, em outros pode ocorrer a latência da bactéria que se reativa no indivíduo dependendo de imunossupressão (HIV, câncer, drogas imunossupressoras, desnutrição, alcoolismo). Na minoria dos casos evolui para uma doença tuberculose franca, ainda na criança, desenvolvendo uma pneumonia caseosa (distribuição do BK para os alvéolos) ou tuberculose miliar (distribuição por via hematogênica para outras áreas do pulmão e para via sistêmica, comprometendo o SNC, rim, baço, fígado, intestino, órgãos genitais, ossos e outros. - Tuberculose secundária: mais comum em adulto, já ocorreu uma primoinfecção, ocorrendo a “cura”, mas que o BK ficou latente, que por alguma razão foi reativado, gerando uma reinfecção endógena, com o bacilo se alojando no ápice do lobo superior. Ainda pode ocorrer uma reinfecção exógena, menos comum. Pode se apresentar como uma tuberculose apical, mais comum, formada por lesões fibro-caseosa em decorrência de uma reativação. A tuberculose cavernosa é uma extensa necrose com drenagem para o brônquio, gerando hemoptise (sangramento do brônquio para as vias aéreas). A tuberculose ácido-nodosa decorre de uma disseminação via respiratória (brocopneumônico)causando pleurite com derrame pleural. A tuberculose miliar também pode ocorrer na tuberculose secundária, ao se espalhar pela via hematogênica. Identificação do BK: pode ser feito a coloração de Ziehl-Neelsen (marca o bacilo de vermelho/roxo e o tecido de azul) ou o faraco (menos comum) para a identificação da bactéria. Uma outra maneira é a coleta de biópsia do líquido pleural, peritoneal, pericárdio ou cerebroespinhal, sendo observado uma ADA (adenosina deaminase) elevada (maior 30 de 40 U/L), proteínas elevadas, glicose baixa e linfócitos e monócitos. O escarro também pode ser observado, sendo coletado o escarro matinal, por ser mais produtivo, sendo colocado Ziehl-Neelsen. Outra forma para orientar o diagnóstico pode ser feito uma reação intradermo, chamado teste de Mantoux ou tuberculíneo, em que é coletado um derivado proteico purificado (PPD), sendo injetado na derme, caso o paciente reaja, formando um caroço na pele, que dependendo do tamanho (acima de 5mm), isso indica que ele teve contato ao BK ou foi vacinado contra ela. Disseminação hematogênica: ocorre em imunocomprometidos, pode atingir qualquer órgão, indo desde o intestino, SNC, trato genital, ossos, rim, bexiga, fígado até osso. Além de que nessa tuberculose o BK pode se instalar em outras áreas da via aérea. Tuberculose óssea: mais comum em crianças, atingindo a vértebra (torácica e lombar) gerando deformidades da coluna, gerando cifose angular, compressão medular, acarretando até mesmo paraplegia. Chamadas de Mal de Pott, é mais comum em países muito pobres da África. Tuberculose SNC: mais comum em imunossuprimidos (HIV), gerando uma leptomeningite (meningite purulenta) ou tuberculoma (nódulo). 31 Paracoccidioidomicose O agente etiológico é o Paracoccidioides brasilienses. Ele habita o solo, principalmente em áreas endêmicas, apesar de que pode ser encontrado em tatus no fígado e baço. É um fungo que tem preferência a um clima moderado, entre 17-24 graus, com clima úmido, vegetações e rios abundantes. Nas áreas endêmicas, 10% das pessoas são reativas para a paracoccidioidina. Ele causa uma doença de longo período de latência (reservárea), podendo ser encontrado em áreas urbanas por conta da migração de indivíduos. Sua distribuição geográfica vai desde o México até a Argentina. O fungo apresenta um dimorfismo térmico. Apresenta uma forma safrófita de micélios com hífas delgadas, o homem, quando contaminado, apresenta a forma de leveduras de forma arredondada com dupla parede com refringente com ou sem gemulação. Desenvolve uma exosporulação múltipla (roda de leme) com reprodução assexuada. Na fase micelial ele apresenta uma hexose alfa-1,3 glicana, enquanto que a fase leveduriforme apresenta uma hexose beta-1,3 glicana. Essa troca decorre da variação de ma temperatura que influencia um sistema enzimático. A virulência vai ser determinada pela hexose alfa-1,3 glicana na parede celular dele. A gp43 (protease) é um antígeno específico desse fungo, garantindo também a virulência, invasão, destruição e inibição de macrófagos. História natural: mais comum na população rural, a forma de contaminação se dá pela terra, água e vegetais, sendo e que a inalação é a mais frequente forma de contaminação, apesar de que pele e mucosas também podem sofrer uma inoculação direta. Está relacionada com atividade no campo nas primeiras décadas de vida, portanto, é importante o interrogatório durante a anamnese se o indivíduo morou no campo ou na cidade. O fungo sai do solo em forma de micélios e no homem se torna levedura, por conta da temperatura mais elevada do pulmão (37ºC). A doença do paracoco não se desenvolve muito nas mulheres, pois o paracoco apresenta receptores para estrógeno, que inibe a transformação do fungo em levedura. As idades mais incidentes está entre 20-40 anos. Complexo primário: forma uma resposta Th1 que forma o nódulo granulomatoso no pulmão, a partir disso ele migra para os linfonodos gerando uma linfangite e linfadenite no hilo pulmonar, muito semelhante à tuberculose. A maioria desses nódulos regridem deixando uma cicatriz, enquanto que há uma chance dele ficar latente (pode ficar de 3-60 anos latentes), pode também progredir para a doença clínica de paracoccidioidomicose. Doença: ocorre quando o complexo primário não sofre latência ou quando sofre reativação endógena ou quando sofre reinfecção exógena. Indivíduos mais resistentes ao paracoco não desenvolvem a doença por conta dos macrófagos que são ativados, além de formar granulomas mais compactos com menos fungos nas lesões. - Forma aguda: mais comum em jovens (antes dos 30 anos, por volta da puberdade). Não tem Não tem manifestações pulmonares ou tegumentar, o fungo é disseminado via linfo-hematogênica. É caracterizada por uma linfoadenomegalia localizada ou generalizada, hepatoesplenomegalia, acometimento de outros órgãos. Os sintomas são muito confundidos com linfoma ou leucemia, cursando com febre e emagrecimento. A resposta normalmente é humoral com Ig e baixa resposta celular. a manifestação pode ser de moderada a grave, podendo alcançar o óbito. Os granulomas são frouxos, com poucas células epitelióides, poucas células gigantes, presença de macrófagos, neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e macrófagos, além de uma grande quantidade de leveduras. - Forma crônica: mais comum em adultos e predominante em homens, pode apresentar uma forma crônica unifocal pulmonar ou multifocal (quando há disseminação brônquica, linfática e hematogênica), podendo ser do tipo linfático- pulmonar, tegumentar-pulmonar, tegumentar-adrenopulmonar. Ainda podemos ter ma forma unifocal tegumentar (cutâneo-mucosa isolada, sendo mais rara) e uma forma visceral extrapulmonares (ossos, aparelho digestivo, SNC e linfáticos). A doença cursa com sintomas de leve a grave, deixando sequelas, além de que pode se tornar latente e se reativar após o tratamento. Apresenta uma imunidade humoral baixa e celular alta Forma crônica unifocal pulmonar apresenta uma reação exsudativa e uma reação produtivo granulomatosa. Gera um padrão de broncopneumonia bilateral perihilar (asas de borboleta), nodular, miliar e cavitário. Deixando o ápice a base pulmonar se mantém preservadas. 32 A forma crônica unifocal tegumentar apresenta formação de pápulas, lesões verrucosas, ulcerativas e infecções secundárias com supuração. Na histologia podemos observar hiperplasias pseudoepiteliomatosa, inflamação inespecífica ou granulomatosa, microabcessos, quantidade variável de fungo. Diagnóstico pode ser feito com o teste da paracoccidioidina, detecção de anticorpos, esfregaço direto, cultura ou biópsia. O tratamento consiste no uso de sulfamídicos, cetoconazol, anfotericina B (formas graves e disseminadas), itraconazol. O critério para a cura consiste em uma sorologia negativa por mais de 2 anos. 33 Neoplasia: Conceito e nomenclatura Hipertrofia: é o aumento volumétrico das células (não há proliferação de células). Pode ser fisiológica, como ocorre no útero durante a gravidez, regredindo após o nascimento, ou patológica como ocorre na hipertrofia do miocárdio, hipertrofia da musculatura esquelética, hipertrofia da musculatura lisa da bexiga. É sempre um processo reversível, basta tirar o estímulo causador dela. Hipotrofia: é a diminuição do volume celular e do órgão. Pode ser fisiológica, como ocorre na senilidade, ou patológica, como ocorre na desnutrição, no desuso, em caso de obstrução vascular, deficiência hormonal (diminuição de hormônios tireoidianos por exemplo) ou inervação (pacientes com dano medular, levando aos membros a hipotrofiarem). Dependendo dos casos, elas podem ser reversíveis ou não. Hipoplasia:é a diminuição do número de células. Podem ser congênitas como ocorre na hipoplasia pulmonar e rena, fisiológicas como ocorre na involução do timo durante a adolescência, na redução do ovário e mama pós-menopausa ou patológica como ocorre na hipoplasia da medula óssea, em caso de intoxicações. Muitas dessas alterações são acompanhadas de hipotrofia. Hiperplasia: é o aumento do número de células. Caso o estímulo causador dela seja retirado, o número volta a normalidade, isso é o que vai diferenciar uma hiperplasia de uma neoplasia, pois esta última, mesmo sem o estímulo, ela não regride. A hiperplasia pode ser fisiológica, como ocorre no útero na gestação, e mamas na puberdade e na lactação. Também pode ocorrer de hepatectomias parciais (retirado de uma parte do fígado ainda permite que ele volte a crescer). A patológica ocorre em hiperplasias da tireoide por excesso de TSH, hiperplasia do endométrio e mamas por excesso de estrógeno, também pode ocorrer em processos fisiológicos, durante a cicatrização (fibroblastos). Algumas hiperplasias são consideradas como risco para neoplasias. Metaplasia: é uma substituição de um epitélio por outro tipo de epitélio, apesar de que também pode ocorrer em tecidos mesenquimais, apesar de mais raro. É também um processo reversível, apesar de apresentarem um risco para neoplasias. As mais comum são a metaplasia escamosa da endocérvice, que o epitélio colunar é substituído por um epitélio pavimentoso estratificado (escamoso). Outra comum é a metaplasia brônquica, em que o epitélio colunar ciliada é substituído por um escamoso estratificado, muito associado ao tabagismo, pode ser origem de um câncer (carcinoma de células escamosas). A metaplasia intestinal na mucosa gástrica e no esôfago são comum de ocorrer, também há um risco para desenvolvimento de um tumor. Esse processo é determinado por traumas, calor, química, inflamações e infecções crônicas. Displasias: é uma alteração adquirida caracterizada por aumento da proliferação celular e perda da diferenciação celular. É um processo que pode ficar estável, pode regredir ou pode progredir para neoplasias malignas, são consideradas lesões pré-neoplásicas. Alguns exemplos são a displasia do colo uterino induzido pelo HPV, a displasia da mucosa gástrica na gastrite pelo H. pylori, displasia do epitélio brônquico nos tabagistas e a displasia glandular da próstata. Neoplasias: é uma massa anormal de tecido, cujo crescimento excede e é incordenado com o tecido normal, além de que persiste da mesma maneira excessiva após a interrupção do estímulo que determinou a alteração. Na oncologia, essa nomenclatura é dada tanto para tumores benignos quanto malignas, o câncer é uma neoplasia maligna. A oncologia ou cancerologia é a especialidade médica que estuda as neoplasias. Oncogênico é qualquer tipo de substância ou exposição ambiental que é causador de uma neoplasia. Elas podem ser classificadas de acordo com o seu comportamento clínico (benigno ou maligno), histomorfológico, histogenético ou epônimos (Tumor de Wilms, Linfoma de Hodgkin). - Nomenclatura: as neoplasias malignas e benignas (quase) sempre terão o sufixo “oma”. Os carcinomas são empregados para as neoplasias malignas de origem epitelial. Os sarcomas são empregados para as neoplasias malignas de origem mesenquimal (musculatura lisa, esquelética, ósseo, vasos sanguíneos, linfáticos, cartilagem, fibroblastos e outros). Os blastomas são utilizados para neoplasias embrionárias (desenvolvimento de tumores infantis). Para o nome da neoplasia utiliza-se o nome das células do tecido acrescido do sufixo oma: ou carcinoma ou sarcoma. Por exemplo, um tumor mesenquimal originado em lipócitos/adipócito (gordura), caso seja benigno deve ser chamado de lipoma, caso seja maligno (pegando a região do tecido mesenquimal), passa a ser chamado de lipossarcoma. Outro 34 exemplo, quando for um tumor originado no epitélio escamoso da cavidade oral, se for benigno é chamado de papiloma, se for maligno é chamado de carcinoma de células escamosas. Exercícios de nomenclatura: - Tumores epiteliais: • Papiloma escamoso da cavidade oral – é uma lesão benigna de cavidade oral, que forma projeções papilíferas cujo revestimento epitelial é um epitélio escamoso. • Papiloma escamoso de esôfago – é uma lesão benigna do esôfago em forma de papila com revestimento de epitélio escamoso. • Carcinoma de células escamosas do pulmão – lesão maligna de origem epitelial no pulmão do paciente, lembrando que inicialmente o epitélio pulmonar é colunar ciliado, mas o uso do tabaco gera uma irritação do epitélio, promovendo uma metaplasia escamosa dessa região, com a persistência do agente lesivo, passa para uma displasia, que com o tempo se desenvolve em um carcinoma. • Carcinoma de células escamosas do colo uterino – é uma lesão maligna do colo uterino. • Carcinoma de células escamosas da língua – é uma lesão maligna das células da língua. • Carcinoma de células escamosas da pele – é uma lesão maligna das células da pele. Lembrando que na pele pode haver dois tipos de carcinomas, o basocelular, que é o tumor mais comum do ser humano, muito relacionada com a exposição ao Sol, o outro tipo de carcinoma é o de células escamosas, mais agressivo que o carcinoma basocelular, pois este tem mais chance de criar metástase. • Carcinoma basocelular da pele – apesar de também ser uma lesão maligna, apresenta um crescimento mais lento do que o carcinoma de células escamosas, sendo menos agressivo, apesar de que apresentam uma maior recidiva. • Carcinoma basocelular esclerodermiforme da pele – é mais agressivo que o anterior, com maior capacidade de infiltração pela pele, havendo uma necessidade de cirurgia com uma grande margem. • Carcinoma basocelular nodular da pele – forma uma massa grande de células tumorais, no entanto, o seu prognóstico é melhor que o anterior, pois apresenta uma margem clara e sem muita infiltração. • Carcinoma basocelular superficial da pele – é um tumor que, apesar de não estar muito infiltrado, ele apresenta recidivas ao redor do tumor. • Adenoma do cólon – são lesões benignas originados em epitélio glandular originados no cólon. • Adenocarcinoma do cólon – são lesões malignas originadas em epitélio glandular originados no cólon. • Adenocarcinoma de estômago – são lesões malignas originadas em epitélio glandular do estômago. • Adenocarcinoma gástrico tipo intestinal - são lesões malignas originadas em epitélio glandular comum em infecções por H. pylori. • Adenocarcinoma gástrico tipo difuso - são lesões malignas originadas em epitélio glandular, que não forma estruturas definidas. O seu prognóstico é muito pior. • Fibroadenoma da mama – é um tumor benigno da mama formado por tecido conjuntivo. • Carcinoma da mama – apesar de ser um tecido glandular, ele não recebe o nome de adenocarcinoma. • Carcinoma sem outras especificações (ductal) da mama – corresponde a 90% dos carcinomas de mama, caracterizado por tecido glandular difuso. • Carcinoma lobular da mama – apresenta células tumorais isoladas infiltrando o estroma. • Adenoma de tireóide – tumor benigno de células epiteliais glandulares da tireoide. • Carcinoma papilífero da tireoide – tumor maligno de células epiteliais da tireoide. Representa 85% dos carcinomas da tireoide. • Adenocarcinoma do pulmão – tumores malignos de epitélio glandular, normalmente se origina nas regiões periféricos. Representa 50% dos tumores do pulmão, a outra metade é formada pelo carcinoma de células escamosas de pulmão. • Adenocarcinoma acinar e micropapilar do pulmão – ambos são malignos, no entanto, o segundo tipo apresenta uma chance muito maior de gerar metástases e de apresentar recidiva. • Carcinoma renal – é um tumor maligno decélulas epiteliais do rim. • Carcinoma renal tipo células claras – é um tipo de tumor mais comum de rim. • Carcinoma urotelial papilífero do rim – originado no revestimento da pele da pelve renal, com epitélio pseudoestratificado. - Tumores mesenquimais: • Lipoma – são tumores benignos originados nos adipócitos. 35 • Lipossarcoma – são tumores malignos dos adipócitos, podendo ser classificado como bem diferenciado (mais fácil de ser tratado), pleomórfico e mixoide (mais agressivo, que gera muitas metástases). • Rabdomioma e rabdomiossarcoma – são tumores de origem na musculatura esquelética, o primeiro é um tumor bem raro. O segundo é um tumor infantil, maligno, com grande agressividade. • Leiomioma – é um tumor benigno de musculatura lisa, comum de ocorrer no útero. • Leiomiossarcoma – é um tumor maligno de musculatura lisa, mais comum de ocorrer no útero. • Osteoma e osteossarcoma – o primeiro é um tumor benigno de osso enquanto que o segundo é maligno. • Condroma e Condrossarcoma – tumores benignos e malignos, respectivamente, para a cartilagem. - Neoplasias hematopoiéticas: • Linfomas – é uma neoplasia maligna de células B ou T. • Leucemias – é uma neoplasia maligna de célula. - Particularidades de nomenclatura: • Nevo ou Nevus – é uma neoplasia benigna dos melanócitos. • Melanoma – é uma neoplasia maligna originada em melanócitos. • Mola hidatiforme – neoplasia benigna da placenta. • Coriocarcinoma – neoplasia maligna da placenta. - Epônimos: • Tumor de Wilms – é um nefroblastoma, mais comum em crianças. • Sarcoma de Kaposi – é um tumor vascular relacionado com o HHV8 • Sarcoma de Ewing – é um tumor ósseo ou extra-ósseo • Linfoma de Hodgkin – é um tumor de células do sangue. • Tumor de Frantz – é um tumor sólido pseudopapilar do pâncreas. - Neoplasias com nomenclaturas específicas: • Neoplasias cerebrais. • Tumores germinativos (gonadais: testículos e ovários) – o mais comum é o teratoma ovariano, originando diversos tecidos diferentes (cabelo, dente etc). • Neoplasias com potencial incerto de malignidade. • Neoplasias com classificação molecular. Procurar a tabela que está no fim da aula. Conclusão: reconhecer a nomenclatura e a diversidade de histogênese das neoplasias é muito importante para um diagnóstico específico, servindo para orientar testes moleculares e definir melhor a proposta terapêutica para o paciente, predizendo o prognóstico dele. Só lembrando que nem sempre a nomenclatura segue a regra. 36 Características morfológicas das neoplasias Tumor x câncer x neoplasia: relembrando que os sinais cardinais da inflamação consideravam o tumor como uma das suas características, mas se referindo aos edemas. Um cisto fisiológico também pode ser referido como sendo um tumor, apesar de não ser o mais adequado. Da mesma maneira, os aneurismas também podem ser chamados de tumor. Portanto, devemos evitar nos referir às neoplasias como sendo um tumor. Assim como os tumores, o uso do sufixo “-plasias” também é feito para se referir a diversos crescimentos celulares, mas que não necessariamente é um câncer ou tumor maligno, por exemplo, a leucoplasia é uma lesão branca da cavidade oral, não necessariamente neoplásica, mas causada por algum tipo de trauma. As hiperplasias se referem ao crescimento/proliferação de um tecido, sem que ele se torne atípico. Eritroplasia se refere a uma lesão de cavidade oral vermelha, com potencial displásico ou carcinoma. Uma vez que o estímulo é retirado, essas plasias regridem. As displasias é também um distúrbio de crescimento, sendo precursora de uma neoplasia maligna, nesse caso, ocorre uma perda de maturação das células epiteliais, gerando um tecido atípico. O câncer é um termo em latim que se imagina como algo que “agarra-se de uma maneira obstinada a qualquer parte de que se apodera, como o carangueijo”. Um neoplasma é uma massa anormal de tecido, cujo crescimento ultrapassa e não é coordenado com o dos tecidos normais e persiste na mesma maneira excessiva depois da interrupção dos estímulos que deram origem à mudança. As alterações celulares são transmitidas às linhagens seguintes, as células são clones umas das outras, mas que com o tempo essas linhagens vão ganhando alterações, se tornando policlonal. Neoplasias paradigmas: certas ideias sobre as neoplasias persistem no médico formado, ficando com u pensamento parecido ao de uma pessoa leiga. Dessa maneira, é importante quebrar certos paradigmas sobre as neoplasias. Por exemplo, os tecidos normais em algumas situações tem crescimento maior do que tumores equivalentes, como o útero gestacional. Não necessariamente uma massa tecidual é um tumor. As características do crescimento celular ocorrem em muitas outras desordens proliferativas (hiperplasia da glândula mamária na puberdade), podendo inclusive ser infiltrativo, mas não sendo caracterizado como neoplasia. Pode haver uma regressão espontânea de neoplasias, por exemplo o melanoma, as vezes, pode ocorrer o estabelecimento das neoplasias num tamanho específico, sem crescer muito ou inclusive nada. As neoplasias apresentam uma mudança do padrão histológico conforme ela cresce. Muitas neoplasias apresentam dependência hormonal, como os carcinomas de mama e o adenocarcinoma de próstata. Alguns agentes infecciosos podem resultar numa estimulação do tecido, por exemplo, os linfomas do MALT, como a gastrite causada pelo H. Pylori, que pode ser controlada apenas pela erradicação de agentes infecciosos. Algumas neoplasias benignas e bordelines podem ser metastatizantes. Características das neoplasias benigna e maligna: - Morfologia macroscópica: esse exame é feito durante o procedimento cirúrgico, sendo definido que tipo de tumor é e suas dimensões. É observado o tamanho do tumor, peso, limites (se está infiltrando ou não), se apresenta cápsula (tumores benigno apresenta), se encontra sólido, cístico, o conteúdo, se tem ulcerações (tumores malignos apresenta, acontece em tecidos epiteliais), necrose ou hemorragia, esses últimos dois se relacionam as neoplasias malignas de crescimento rápido. - Morfologia microscópica: nos permite determinar o grau de diferenciação da neoplasia, em relação ao tecido normal. Podemos ter o Grau 1 (bem diferenciado), Grau 2 (Moderadamente diferenciado), Grau 3 (Pouco diferenciado) e Grau 4 (indiferenciado). Quando maior o grau, mais diferente é o tumor em relação ao tecido normal. Essa avaliação é feita levando em consideração os padrões histológicos, de infiltração, a celularidade, se tem atipia celular (anaplasia), relação núcleo-citoplasma, nucléolo, hipercromasia celular, mitose (típica e atípica), necrose, invasão vascular, sanguínea e linfática e invasão perineural. Essas características nos permite fornecer a nomenclatura adequada, como nas neoplasias do epitélio escamoso, diferenciarmos o que é um papiloma de um carcinoma escamoso, numa neoplasia do epitélio glandular conseguirmos diferenciar um adenoma de um adenocarcinoma, nos adipócitos mesenquimais diferenciar um lipoma de um lipossarcoma, da rede vascular, diferenciar um hemangioma de um angiossarcoma. 37 Pontuação para graduação da neoplasia: classificação de Nottighan (Carcinoma Mamário), grau histológico, índice mitótico, grau nuclear, classificação de Gleason (Carcinoma de próstata), somatória dos principais graus histológicos (3 + 4 = 7) e classificação de Weiss (Tumores de supra-renal). Tumores de potencial incerto para malignidade: são tumores em que o comportamento dele não é bem conhecido, ele pode gerar metástase ou não, vai depender do indivíduo. Características de uma neoplasia maligna: a melhor maneia para determinar se o tumor é maligno ou não é o fato dele ter resultado em metástases38 Métodos para Diagnóstico das Neoplasias Avaliação do paciente oncológico: muito importante buscar a história, os sintomas, sinais e alguns métodos complementares para ajudar no diagnóstico. O cuidado ao paciente necessita de uma integração da humanização, da estrutura assistencial, das habilidades e do conhecimento. Métodos básicos de diagnóstico: história clínica e exame físico, marcadores séricos, imagem, endoscopias e videoscopias, histopatologia/citopatologia, imunoistoquímica, testes moleculares e estadiamento. - História clínica: a idade é muito usada para determinar o tipo de câncer mais provável que o indivíduo pode apresentar, na infância, por exemplo, nós temos as leucemias, linfomas, sarcomas, neoplasias embrionárias/germinativas, neoplasias de SNC, enquanto que em adultos é mais comum os carcinomas, além das anteriores. Da mesma maneira, o sexo também vai ser importante na determinação do predomínio (mama, mais comum em mulher, e de cavidade oral é mais comum em homem). Os hábitos do paciente que envolvam atividades carcinogênicas como tabagismo e alcoolismo são aspectos importantes a serem levantados. Da mesma maneira, as atividades ocupacionais (amianto/asbesto), infecções prévias (hepatite B e C), antecedentes familiares (parentes com neoplasias), antecedentes pessoais de neoplasias, tratamento prévios (quimioterapia, radioterapia, imunossupressores, hormonais) e o estado de imunossupressão (HIV, transplantados, neoplasias), tudo isso pode ajudar no desenvolvimento do câncer. Por exemplo, um paciente de 35 anos que se queixa de um nódulo na porção lateral do pescoço com aparecimento há três meses, emagrecimento e febre devem alertar para algumas possibilidades diagnósticas como infecção crônica (tuberculose, PCM) e linfoma. Isto tem importância na condução do diagnóstico complementar (sorologias, exames de imagem, punção aspirativa ou biópsia do nódulo). A partir de hipóteses diagnósticas, bem estabelecidas, solicitaremos corretamente os exames complementares, diminuindo o tempo para a realização e os custos para a investigação, com aumento das chances de um diagnóstico ágil e correto. Nos antecedentes pessoais deve-se interrogar o histórico de doenças gerais como cardiopatias, pneumopatias, endocrinopatias, nefropatias, doença da autoimunidade e outras. Pacientes com câncer serão submetidos a diversos métodos de investigação e terapêuticos, e necessitarão de uma adequada condição clínica. Dentro das endocrinopatias e autoimunidade, como exemplo, portadores de nódulos tireoidianos podem apresentar uma tireoidite de Hashimoto com sinais de hipotireoidismo. A tireoidite de Hashimoto é um fator de risco para carcinoma de tireoide. Estes pacientes são candidatos à punção aspirativa por agulha fina (PAAF) da tireoide para diagnóstico do nódulo ou dos nódulos. O histórico de doenças oncológicas sempre deve ser abordado. Frequentemente, os pacientes já tiveram uma neoplasia benigna ou maligna em outras topografias. Na investigação de um nódulo pulmonar, os homens podem relatar histórico de câncer de próstata e mulheres câncer de mama, ou qualquer outra neoplasia maligna. Nestes casos, devemos considerar duas possibilidades: neoplasia primária o pulmão ou uma metástase. A data do diagnóstico da primeira neoplasia tem importância, bem como o estadiamento e o tipo histológico. Os adenocarcinomas precoces de cólon raramente vão resultar em metástases, diferentemente dos avançados que disseminam para os pulmões e fígado. As metástases de carcinomas renal variantes células, algumas vezes, aparecem após uma década do diagnóstico inicial e, muitas vezes, este antecedente não é referido pelo paciente. Pacientes que tiveram múltiplos adenomas no cólon, diagnosticados pela colonoscopia e pelo exame anatomopatológico, são susceptíveis para desenvolverem um câncer colônico. O carcinoma de células escamosas do pulmão tem uma estreita relação com o tabagismo crônico, assim como o carcinoma de bexiga e do estômago. O que pode contribuir para neoplasias metacrônicas no grupo de tabagistas. A gastrite atrófica induzida pelo Helicobacter pylori ou pela autoimunidade é um fator de risco para adenocarcinoma gástrico. Muitas neoplasias estão relacionadas à hereditariedade ou à herança familial. O interrogatório do histórico familiar para neoplasias identifica possíveis casos que se enquadram neste perfil. Algumas famílias com mulheres portadoras de câncer de mama, parentes de 1º grau (mãe, irmã, tia materna), tem a mutação dos genes BRAC 1 e 2, relacionados 39 com uma herança familial. Assim como, a associação de câncer de ovário e mama em algumas famílias. Adenocarcinomas do cólon podem estar associados à Síndrome de Lynch/HNPCC e Polipose Adenomatosa Familiar (FAP). A primeira associada com mutações nos genes de reparo do DNA e a segunda com mutações o gene APC. Na síndrome de Lynch pode ter outras neoplasias, como câncer de endométrio, câncer de rim, adenomas e carcinomas sebáceo de pele. Hoje conhecemos uma via supressora de tumor mediada pelo gene BAP1 (BRCA1 associated protein 1) em que a mutação germinativa aumenta o risco para o desenvolvimento de mesoteliomas, melanoma uveal, melanoma cutâneo e meningeomas, agrupados em uma classe de tumores chamados de “bapomas”. - Exame físico: a avaliação inicial como coloração da pele (descorda, cianótica, amarelada), condições tróficas (perda do panículo adiposo, atrofia muscular), grau de hidratação, capacidade de deambulação, grau de consciência, desorientação e outros são sinais que devem ser registrados no prontuário. Estes dados são indicativos do grau de metabolismo e catabolismo induzidos pelo câncer. Um sinal de icterícia pode estar relacionado ao hepatocarcinoma ou por obstrução do colédoco devido ao carcinoma de cabeça de pâncreas. A pressão arterial elevada e taquicardia estão presentes nos tumores produtores de catecolaminas como os feocromocitomas da medula da glândula suprarrenal. Massas ou nódulos, superficiais ou profundos, podem ser palpados nas neoplasias benignas e malignas de mama, das glândulas salivares (parótida e submandibular) e das partes moles. As cadeias ganglionares merecem uma atenção especial durante o exame físico. Sendo sítio de disseminação regional das neoplasias malignas, muitas vezes detectamos linfonodos. Característica clássica de comprometimento neoplásico são os linfonodos endurecidos e aderidos ao tecido adjacente. As cadeias linfonodais do pescoço são importantes para a disseminação dos carcinomas de cavidade oral, orofaringe, laringe e nasofaringe. Os linfonodos axilares estão relacionados com os cânceres de mama. Podemos identificar comprometimento linfonodal a distância do sítio da doença. É o caso de linfonodos supra claviculares nos carcinomas de pulmão e do adenocarcinoma gástrico (Sinal de Troisier). O melanoma de pele dissemina regionalmente para as cadeias linfonodais que drenam a rede linfática da topografia da lesão. Portanto, na suspeita dermatológica e dermatoscópica de melanoma é mandatória a palpação dos linfonodos regionais. No caso de lesão visível, como as pigmentadas da pele, devemos avaliar todos os critérios que possam favorecer uma maior agressividade São os critérios ABCDE (assimetria, bordas, cor, dimensão, evolução) aplicados pelos dermatologistas, com ajuda da dermatoscopia, para reconhecerem se a lesão pigmentada é benigna (nevo) ou maligna (melanoma). Os carcinomas de células escamosas e os carcinomas basocelulares da pele apresentam um curso indolente, entretanto, em indivíduos com poucos cuidados e resistentes ao tratamento, idosos com comorbidades e imunossuprimidos podemter crescimento desastroso. Ulcerações, bordas infiltrativas, destruição de cartilagens, deformidades, infecções secundárias e milíase representam o desequilíbrio do microambiente tumoral e da taxa de crescimento. Sinais de vasculites, tromboflebites e trombose venosa profunda podem ser um indicativo de um estado de hipercogulabilidade relacionada com neoplasias malignas (Sinal de Trousseau de malignidade). Na palpação do abdômen a identificação de ascite pode estar correlacionada com carcinomatose peritoneal (disseminação de adenocarcinoma gástrico ou colônico, carcinoma do ovário),ao hepatocarcinoma associado à cirrose por perda na produção de albumina e à compressão da veia porta por outras massas tumorais abdominais. Grandes massas pélvicas são palpadas no exame físico, como os miomas uterinos e os tumores císticos e sólidos dos ovários. - Marcadores séricos: na avaliação laboratorial procuramos identificar marcadores sorológicos que representam proteínas secretadas pelas neoplasias. Esta avaliação tem uma importância no diagnóstico e no acompanhamento pós-tratamento de alguns tumores. Os principais são os antígenos carcinoembrionário, alfa fetoproteina, CA 125, CA 19.9, gonadodrofina coriônica (HVG), inibina, PSA e outros. 40 Por exemplo, na tireoide temos um tipo de neoplasia originadas nas células C (produtoras de calcitonina) com diferenciação neuroendócrina, chamado de carcinoma medular da tireoide. Este tumor secreta o peptídeo calcitonina medular da tireoide. Este tumor secreta o peptídeo calcitonina em quantidade elevada e que pode ser detectado na corrente sanguínea durante a investigação. Após o tratamento cirúrgico por tireoidectomia total, qualquer elevação dos níveis de calcitonina no sangue periférico representa a possibilidade de recidiva loco regional ou metástases à distância. Seguindo a linha dos carcinomas tireoidianos, no acompanhamento pós cirúrgico dos carcinomas de origem folicular (papilífero e folicular) realiza-se dosagens séricas de tireoglobulina para determinar a presença de recidiva. Os tumores germinativos originados das gônadas (testículos e ovários) secretam peptídeos que são utilizados na avaliação diagnóstica e podem ser indicativos do tipo de neoplasia. Na mulher jovem, segunda e terceira década de vida, qualquer massa ovariana detectada por imagem, sempre se deve realizar a dosagem sérica de beta-HCG (disgerminomas e coriocarcinomas) e alfa-fetoproteína (tumor do seio endodérmico). A inibina nos tumores de células da granulosa do ovário. Os tumores mistos germinativos podem apresentar a elevação de ambos. Também, estes marcadores podem ser indicativos de recidiva tumoral no seguimento após tratamento. Os carcinomas ovarianos (origem epitelial) têm como marcador sérico CA-125, e este associado ao ultrassom pélvico e transvaginal conferem uma boa especificidade. O antígeno carcinoma embrionário (CEA) está correlacionado com o diagnóstico dos adenocarcinomas colo-retais e a sua quantificação na circulação infere baixo ou alto risco para agressividade biológica. Outra marcador que auxilia no diagnóstico e preditor de agressividade biológicas é o CA 19.9 nos adenocarcinomas pancreáticos. O antígeno prostático específico (PSA), em conjunto com o toque retal, auxilia no diagnóstico do câncer prostático e no seguimento pós-traumático. Lembrando que, nos adenocarcinomas de alto grau da próstata a dosagem de PSA pode ser normal. A avaliação das leucemias e dos linfomas envolve um amplo espectro de exames laboratoriais: hemograma, DHL, mielograma, citogenética e imunofentotipagem. Mais recentemente, a detecção de células tumorais circulantes e, principalmente, DNA tumoral circulante contribuem para a predição de resposta terapêutica e recidiva tumoral sorológica. - Imagem: radiografia, ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, PT-CT, medicina nuclear (radioisótopos) outras. As ultrassonografia (US), tomografia computadorizada (CT), ressonância magnética (RN) e o PT-CT são ferramentas que auxiliam o diagnóstico, o estadiamento, o tratamento e o seguimento nos diversos tipos e topografias das neoplasias. A ultrassonografia auxilia na identificação de massas pélvicas e ginecológicas, hepáticas, renais, aumento do baço, avaliação de cadeias linfonodais e nódulos mamários. As neoplasias das cavidades torácicas e abdominais, da cabeça e pescoço (cavidade oral, orofaringe, laringe, fossa e seios paranasais), base de crânio, cérebro, tecidos ósseos e partes moles são melhores avaliadas pela CT e RN. Essas metodologias contribuem para determinar as dimensões, os limites e as relações das neoplasias com estruturas adjacentes. Ambas, ultrassonografia e tomografia computadorizada são utilizadas para guiarem biópsias por agulha fina e agulha grossa. As PAAF de nódulos da glândula tireoide são guiadas pelas US. Os nódulos pulmonares, distantes das vias aéreas principais, são biopsiados por agulha grossa transtorácica dirigida pela TC. O PT-CT (tomografia computadorizada por emissão de pósitrons) avalia o metabolismo da neoplasia a partir ad injeção de um radio fármaco ou radiotraçador, a base de glicose (FDG) na circulação. As neoplasias malignas tendem a concentrar a glicose, pois apresentam alto metabolismo. Este método é utilizado para o diagnóstico e pesquisa de metástases, em colaboração com a medicina nuclear. Os métodos de imagem estão inseridos na radiologia intervencionista com uma extensa aplicação: embolizações arteriais e/ou venosas para o tratamento de paragangliomas e angiofibromas, quimioembolizações nos carcinomas hepatocelulares e metástases hepáticas e tratamento per-cutâneo para desobstrução das vias biliares. 41 - Endoscopias e videoscopias: endoscopia digestiva alta, colonoscopia, cistoscopia, broncoscopia, laparoscopia, toracoscopia, mediastinoscopia, nasofaringolaringoscopia, outras. - Citopatologia: a citologia cérvico-vaginal (exame Papanicolau) é um método esfoliativo, onde amostras do raspado da mucosa do colo uterino (cérvice e endocérvice) permitem a identificação de lesões atípicas precursoras e do Câncer do colo uterino. A pesquisa de células neoplásicas presentes nos líquidos de ascite, derrame pleural e tumores císticos é avaliada pelo exame citopatológico. A PAAF de glândulas salivares e da tireoide, guiadas por ultrassonografia, é um método citopatológico valioso nos diagnósticos de lesões suspeitas. - Biópsia: na prevenção do câncer colon-retal (esporádico ou hereditário) o diagnóstico começa pela colonoscopia. Este. Método permite a identificação de lesões suspeitas ao longo do cólon. São realizadas biópsias das lesões e encaminhadas ao laboratório de patologia. Os principais diagnósticos histológicos são pólipos hiperplásicos, adenomas e adenocarcinomas. Os homens que apresentam PSA elevado e toque retal suspeito são submetidos a biópsias dirigidas por ultrassonografia transretal. As biópsias são realizados em vários polos dos lobos prostáticos permitindo que o patologista avalie a localização e a extensão do adenocarcinoma. Os nódulos mamários suspeitos à mamografia ou ao ultrassom podem ser biopsiados por agulha fina (punção aspirativa por agulha fina) com uma avaliação citopatológica ou por agulha grossa que permitirá, além da análise histológica, a complementação com teste de imunoistoquímica (pesquisa de receptores hormonais) e moleculares (amplificação ou mutação do Her-2). Nas endoscopias do trato digestivo superior como prevenção do câncer de esôfago e gástrico, em pacientes individualizados, são realizados biópsias para avaliar gastrites crônicas associadas ao H. pylori que induzem à atrofia, metaplasia intestinale displasia da mucosa, fatores de risco para o câncer gástrico. No esôfago são realizadas biópsias em áreas suspeitas para esôfago de Barrett com análise do grau de displasia. Os tumores de pele (carcinomas basocelulares, carcinomas de células escamosas, melanomas e outros) podem ser submetidos tanto às biópsias incisivas (diagnóstico) quanto às excisionais (diagnóstico e tratamento). - Imuno-histoquímica: determinar a expressão de biomarcadores (antígenos) no tecido, através da utilização de anticorpos. Aplicações: neoplasias indiferenciadas, identificar qual o tipo de carcinoma, classificação dos linfomas, diagnóstico diferencial e classificação de neoplasias e outras doenças não neoplásicas, diagnósticos de agentes infecciosos, expressão de marcadores prognósticos e/ou preditivos que auxiliam no tratamento oncológico. Para termos uma excelente reação imunoistoquímica, o material retirado na biópsia precisa ser muito bem fixada em material formol tamponada a 10%, pois influencia absurdamente nos resultados da imunoistoquímica. Tipos de marcações ou expressões: podemos marcar o núcleo, como fazemos nos receptores de estrógeno em carcinoma mamário, marcar o citoplasma, como fazemos com a citoceratina AE1-AE3 em carcinoma e no BRAF-V600E no melanoma metastático e marcar a membrana celular, como fazermos no Her-2 em carcinoma mamário. Como avaliar: observamos a porcentagem ou número absoluto de células coradas, a intensidade da reação, o sistema escore e quais áreas devem ser consideradas. A avaliação pode ser qualitativa, quantitativa (Ki-67, um índice de proliferação celular). Patologia molecular: pesquisa de marcadores moleculares presentes no genoma, exoma, proteoma, etc. Serve para diagnóstico, prognóstico, preditivo e de predisposição. Alguns métodos são a hibridização in situ (FISH ou CIHS) se usando de sondas que podem ser gene-específica (Break-apart ou Double-fusion), telomérica, centromérica ou cromossômica., também podemos fazer o NGS. Translocação em neoplasias: sarcomas, linfomas, poucos carcinomas (tireóide, Ca folicular, PPAR gama Pax8). Estadiamento das neoplasias malignas: se baseia no tamanho do tumor (TNM - tamanho do tumor, nodo, metástase), além de um estadiamento clínico. Para cada tipo de tumor e órgão afetado, temos um TNM diferente Tamanho e extensão do tumor (em relação a tireoide): tumor primário (pT) para carcinomas papilares, foliculares, poucos diferenciados, de células de Hürthle e anaplásicos da tireoide. O T0 é aquele. Que não apresenta evidência de tumor primário. O T1 é um tumor menor que 2 cm na maior dimensão limitada à tireoide, sendo dividido em T1a, com menor de 1 cm ou T1 com maior de 1 cm mas menor que 2, com sua dimensão limitada à tireóide. O T2 é um tumor 42 maior que 2 cm mas menor que 4. O T3 é um tumor maior que 4 cm limitado à tireoide ou extensão extratireoidiana macroscópica invadindo apenas os músculos do cinto. O T3a é aquele tumor maior que 4 cm mas limitado a tireoide, o T3b apresenta extensão extratireoidiana macroscópica invadindo apenas os músculos da cinta (músculo esterno- hiodeo, esternotireoideo, tireo-hioideo ou omo-hioidep) de um tumor de qualquer tamanho. O T4 é aquele com extensão extratireoidiana grosseira nas principais estruturas do corpo. O T4a apresenta extensão extratireoidiana macroscópica invadindo tecidos moles subcutâneos, laringe, traqueia, esôfago ou nervo laríngeo recorrente de um tumor de qualquer tamanho. T4b apresenta uma extensão extratireoidiana macroscópica invadindo a fáscia pré- vertebral ou envolvendo a artéria carótida ou vasos mediastinais de um tumor de qualquer tamanho. Metástase em linfonodo e à distância (em relação a tireoide): o linfonodo regional (pN):NX envolve os linfonodos regionais que não podem ser avaliados. O N0 não apresenta evidência de metástase de linfonodo regional. O N0* envolve um ou mais linfonodos benignos confirmados citologicamente ou histologicamente. N0b não apresenta nenhuma evidência radiológica ou clínica de metástase de linfonodo locorregional. N1* metástase para nós regionais. N1a* envolve as metástases para linfonodos de nível VI ou VII (pré-traqueal, paratraqueal, pré-laríngeo/délfico ou mediastinal superior), isso pode ser doença unilateral ou bilateral. N1b* metástase para linfonodos cervicais laterais unilaterais, bilaterais ou contralaterais (níveis I, II, III, IV ou V) ou linfonodos retrofaríngeos. Estadiamento clínico: agrupa o TNM em categorias. Em relação ao carcinoma da tireoide (papilífero e folicular) ele apresenta dois agrupamentos. Para pessoas de idade menor que 55 anos apresentam um estágio I quando apresentar qualquer T, qualquer N e M0. O estágio II ocorre quando a pessoa apresentar qualquer T, qualquer N e M1. Para indivíduos acima de 55 anos, o estágio I é para aqueles que apresentarem T1N0/NXM0 ou T2/N0NX/M0. O estágio II envolve aqueles com T1N1M0, T2N1M0, T3a/T3b qualquer N e M0. Estágio III envolve T4a com qualquer N e M0. O estágio IVA envolve T4b, qualquer N e M0, o estágio IVB envolve qualquer T, qualquer N e M1.