Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Relatório Final AM091 Uma reflexão sobre o Teorema de Gauss-Bonnet Autor: Felipe Carvalho Silva; Professor Responsável: Prof. Dr. Ricardo Miranda Martins; Disciplina: AM091 - Atividades de Matemática I; Instituição: IMECC-Unicamp; Data: 15/01/2021. Sumário 1 Contextualização 2 2 Descrição do problema 3 3 Comentários e Aplicações 5 1 1 Contextualização Em resposta a falha de Edward Waring em prover uma demonstração para o teorema de Wilson 1, que segundo esse se dava a ausência de notações para expressar números primos, o grande matemático do século XIX, Johann Carl Friedrich Gauss, enfatizou a máxima: precisamos de noções, não notações; junta da demonstração do teorema. Dessa maneira, ainda que notações e śımbulos sejam necessários para criação de uma linguagem precisa e exata, o que defini a matemática em sua essência são seus conceitos e noções. Mais precisamente, matemática, do grego máthēma, ciência, estudo ou conhe- cimento, é a ciência responsável pelo estudo dos objetos abstratos, como números, funções, polinômios, espaços, conjuntos e operações. Dividida em diversos ramos, um que se destaca pela sua antiguidade e presença em diversas culturas históricas é a geometria, que busca estudar as figuras em suas formas e tamanhos. Desse modo, pretende-se estabelecer relações entre ângulos, comprimentos, e volumes. Por outro lado, a topolo- gia proporciona uma outra perspectiva para o estudo desses objetos. Sem distinguir os comprimentos e os ângulos, a topologia busca entender as figu- ras apartir de propriedades que não se modificam sobre certas deformações. Essas deformações são chamadas de homeomorfismos 2 e representam visu- almente distorções que não rasgam, nem colam objetos. Embora parecam, a primeira vista, áreas muito distintas, a junção das abordagem pode oferecer uma ferramenta de extremo valor para inúmeros 1Postulado por John Wilson, o teorema afirma que p ∈ Z é um número primo se, e somente se, (p − 1)! ≡ −1 (mod p). Isto é, p divide (p − 1).(p − 2). · · · .3.2.1 + 1 se, e somente se, é um número primo. 2Formalmente, um homeomorfismo é uma função entre espaços topológicos cont́ınua, invert́ıvel e com inversa cont́ınua. 2 problemas. Em vista disso, é indubitável a importância do teorema de Gauss- Bonnet para a matemática. Meio que estabelece uma relação entre uma pro- priedade geométrica local, a curvatura gaussiana, e um invariante topológico, a caracteŕıstica de Euler. 2 Descrição do problema Um dos primeiros resultados de geometria espacial estudado nos ńıveis básicos de ensino é a relação de Euler para poliedros convexos: o número de vértices (V ) subtráıdo do número de arestas (A) e acrescentado ao número de faces (F ) é igual a 2 para poliedros convexos. Efetivamente, essa relação se estente para alguns poliedros não-convexos e, no caso geral, dizemos que o número obtido através dessa relação é a caracteŕıstica de Euler do poliedro em questão, denotado por χ. Isto é, se P é um poliedro e V ,A e F são como definidos acima, então χ(P ) = V − A + F . Esse é um importante conceito matemático, pois superf́ıcies topologicamente equivalentes compartilham a mesma caracteŕıstica de Euler. Em outras palavras, a caracteŕıstica de Euler é um invariante topológico. Contudo, não é uma tarefa trivial determinar a caracteŕıstica de Eu- ler de uma esfera através de seu número de vértices, arestas e faces. Para isso, consideramos antes um processo que pode ser aplicado a qualquer su- perf́ıcie: a triangulação, que consiste em decompor a superf́ıcie em pequenos triângulos. Dessa forma, é posśıvel contar o total de vértices, arestas e faces de uma triângulação e definir esse valor para superf́ıcie. De fato, numa mesma superf́ıcie, qualquer duas triangulações fornecerão a mesma caracteŕıtica de Euler. Do mesmo modo, o conceito de triângulo no plano precisa ser generalizado 3 para se adaptar a superf́ıcies. Como sabemos, triângulo é a figura geométrica formada por três pontos não colineares, chamados de vértices, unidos por segmentos de retas. Porém, retomando o mesmo exemplo, a noção de reta no plano não se encaixa com superf́ıcies como a esfera. Precisamos determinar o equivalente à reta em superf́ıcies mais gerais. Essa questão se resolve com uma curva excepcionalmente conhecida quando se trata da superf́ıcies do planeta, a curva geodésica, que representa fisi- camente a trajetória percorrido por um objeto que se move sem aceleração centŕıpeta ou sem fazer curvas além daquelas intŕınsecas à superf́ıcie. Do mesmo mode que um carro que se move para frente sobre uma lombada. Sendo assim, podemos definir um triângulo como a figura obtida pela ligação de três pontos por geodésicas. Formalmente, a curvatura que entendemos como intŕınseca a superf́ıcie é chamada de curvatura Gaussiana e é ob- tida, em cada ponto, pelo produto das curvaturas nas direções em que a superf́ıcie mais se desvia de um plano e menos se desvia. Isso posto, o teorema de Gauss-Bonnet enuncia, de forma simplificada, que a integral da curvatura Gaussiana numa superf́ıcie é igual a 2π vezes a caracteŕıstica de Euler da superf́ıcie. Isto é, se S é uma superf́ıcie, então:∫ S KdA = 2πχ(S), onde K é a curvatura Gaussiana da superf́ıcie e a integral de K sobre a superf́ıcie S, ∫ S KdA, pode ser entendida como o equivalente a K vezes a área da superf́ıcie. Esse, de fato, é o caso quando a curvatura Gaussiana é constante. Caso contrário, a integral representa uma soma infinitesimal de aproximações dessa forma. Outra forma de enunciar o teorema é: se T é um triângulo geodésico, com ângulos internos α, β e γ, e K é a curvatura gaussiana do interior do triângulo, então a soma dos ângulos internos desse triângulo esse π radianos 4 em exatamente ∫ T KdA. α + β + γ = π + ∫ T KdA. A versão anterior pode ser obtida aplicando essa forma em uma triangulação da superf́ıcie. Além disso, assim como sabemos, a soma dos ângulos internos de um triângulo no plano é π radianos. Por outro lado, numa esfera esse valor aumenta em proporção com a área do triângulo. 3 Comentários e Aplicações O estudo da geometria e topologia nos permite entender os fundamentos de inúmeros fenômenos espaciais que tangem nosso mundo. Por outro lado, a negação da ciência e a tentativa de descredibilização das instituições ci- ent́ıficas proveniente do conspiracionismo desafiam séculos de desenvolvi- mento humanista. O terraplanismo, crença de que o forma do planeta Terra é um disco em oposição a uma esfera, é um exemplo que ganhou destaque na atualidade. Uma das alegações comumente usadas pelos defensores dessa crença é a de que ao se alinhar uma régua com o horizonte é posśıvel consta- tar a ausência da curvatura do mesmo. Entretanto, podemos verificar que a curvatura de uma esfera de raio R é, em cada ponto, igual a 1 R2 e, por isso, observando de uma perspectiva próxima, a curvatura da Terra é quase nula. A diferença entre pequenas e grandse escalas podem ser notada na cons- trução de um triangulo na superf́ıcie do planeta. Como é visto na figura 1, na escala de uma cidade a soma dos ângulos internos de um triângulo é ex- tremamente próxima de 180o, mas, num contexto global, podemos construir facilmente um triângulo com soma de seus ângulos internos maior que 180o. 5 Figura 1: Triângulos na superf́ıcies do planeta. 6
Compartilhar