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UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
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s insetos-praga causam grandes 
prejuízos à agricultura, promo-
vendo estragos, transmitindo 
doenças e se alimentando dos 
tecidos de plantas e de grãos 
armazenados. Economicamente, as perdas 
antes da colheita, devido ao ataque desses in-
setos, foram estimadas em 15% da produção 
total em 2004, representando mundialmente 
gastos da ordem de US$ 100 bilhões, apesar 
do uso de inseticidas. 
No Brasil, essa perda é algo em torno de 
7%, mas oscila entre 2% e 30%. Estes dados 
representam cerca de US$ 2,2 bilhões ao 
ano, justificando medidas econômicas e de 
controle. O consumo mundial de pesticidas 
tem chegado a 2,6 milhões de toneladas anu-
almente. Assim, o país desponta-se como o 
sexto maior consumidor de agrotóxicos.
Um estudo de doutorado desenvolvido no 
Instituto de Biologia (IB) indicou que a pro-
teína CFPI (Inibidor de Proteinase de Clito-
ria fairchildiana) é uma promessa para atacar 
o problema, pois mostrou ser um bom alvo 
como inseticida natural para o controle das 
pragas da lavoura.
A autora do trabalho, Miriam Dantzger, 
constatou que essa proteína tem ação inse-
ticida e inibitória das enzimas digestivas de 
insetos lepidópteros. Ela impede a atividade 
enzimática das lagartas conhecidas como tra-
ça-da-farinha do arroz (Ephestia sp.) e traça do 
arroz (Corcyra cephalonica).
O inibidor age ligando-se às enzimas res-
ponsáveis pela digestão e retardando esse 
processo, o que resulta na morte dos insetos. 
Lepidópteros são pragas avassaladoras, 
uma ordem de insetos que passa por meta-
morfose e que inclui, além das mariposas, 
também as borboletas. As mariposas, foco 
do estudo, aparecem no Brasil o ano todo, ao 
longo do crescimento da planta e do armaze-
namento dos grãos.
PURIFICAÇÃO
Essa pesquisa, segundo a bióloga, ainda 
requer testes futuros com outras larvas na 
alimentação, mas desde já sugere que pode 
atuar complementando a ação inseticida so-
bretudo dos químicos. Isso porque a proteína 
purificada não traz danos ambientais e nem 
aos seres humanos.
Miriam, sob orientação da docente da 
Universidade Federal do Mato Grosso do 
Sul (UFMS) Maria Lígia Rodrigues Macedo, 
abordou em seu estudo basicamente proteí-
nas-inseticidas, que interferem no sistema 
digestório dos insetos. Essas proteínas preci-
sam ser ingeridas para que seus efeitos pos-
sam aparecer, uma vez que o exoesqueleto 
dos insetos oferece uma espécie de proteção 
contra elas.
As proteínas avaliadas são retiradas de 
sementes de leguminosas, especificamente 
da Clitoria fairchildiana, chamada popular-
mente de sombreiro, devido à sua copa den-
sa que produz sombra. É mais encontrada 
na região amazônica. 
A pesquisadora obteve grande quantidade 
de sementes de sombreiro no próprio cam-
pus da Unicamp. Foi assim que conseguiu 
isolar a proteína de interesse e testou a sua 
capacidade de inibir enzimas digestivas de 
insetos. Notou in vitro e in vivo que tal prote-
ína tinha potencial como proteína-inseticida. 
Na pesquisa prática, ela oferecia CFPI 
aos insetos misturada à refeição, durante o 
seu desenvolvimento, desde a larva neonata 
até o quarto instar, a penúltima fase larval 
na qual o inseto começa se preparar para ser 
pupa.
Após esse período, a doutoranda avaliou 
a mortalidade e o peso médio das larvas, e 
extraiu o intestino para avaliar a atividade 
das enzimas digestivas, proteínas presentes 
nesse órgão. Para comparação, havia um gru-
po-controle que somente se alimentava com 
refeição sem o inibidor.
Essa proteína-inseticida não foi purifica-
da pelas técnicas usuais, por se tratar de um 
inibidor que aparece em pequena quantidade 
na planta. A autora desenvolveu um método 
de purificação novo que separou a proteína 
por diferença de peso molecular e interação 
hidrofóbica (que não se dilui em água).
A autora prossegue estudando outras fun-
ções para essa proteína, tida como multifun-
cional, uma vez que possui atividade contra 
insetos e também atividade anticoagulante e 
inibidora de tumores. O processo de purifi-
cação, juntamente com as diversas aplicações 
desta proteína, estão sendo patenteados pela 
Unicamp e pela UFMS.
Além de o inibidor CFPI poder ser trans-
formado em inseticida natural, essa substân-
cia pode ser agregada a árvores, espalhada 
nas folhas ou até mesmo ser aproveitada na 
área de engenharia genética, modificando-a 
para ser expressa nas plantas alvejadas pelas 
pragas.
A doutoranda conta que os inibidores de 
enzimas digestivas podem ser encontrados 
em diversas partes das plantas, mas os ór-
gãos de reserva – sementes e tubérculos – são 
as principais fontes dessas proteínas.
Estudos recentes têm inclusive sugerido 
que a presença dos inibidores de enzimas di-
gestivas nas plantas aumenta sua resistência 
ao ataque das pragas. Ocorre que nem sem-
pre os inibidores estão em plantas de interes-
se comercial ou, quando estão, não aparecem 
em níveis suficientes para combater as pragas.
“Os insetos que não conseguem digerir o 
alimento morrem por privação dele. Os seres 
humanos também têm as chamadas enzimas 
digestivas. Suas proteínas podem teorica-
mente inibi-las, porém é preciso um estudo 
detalhado para saber o quanto se deve comer 
de proteína para que isso ocorra. Há estudos 
com ratos que se alimentaram de inibidores 
de enzimas digestivas e desenvolveram pan-
creatite”, explica.
Em geral, proteínas de leguminosas pas-
sam por cocção (cozimento) no seu preparo, 
perdendo atividade e se degradando. As legu-
Proteína tem 
ação inseticida
Miriam Dantzger,
autora da investigação,
no laboratório (ao lado)
e sob o sombreiro do
qual retirou as sementes:
desenvolvendo um novo
método de purifi cação
Inibidor impede a atividade enzimática de lagartas que infestam lavouras 
Publicação
Tese: “Inibidor de proteinase do tipo 
Bowman-Birk isolado de sementes 
de Clitoria fairchildiana (Fabaceae): 
caracterização e atividade biológica 
sobre Anagasta kuehniella e Corcyra 
cephalonica”
Autora: Miriam Dantzger
Orientadora: Maria Lígia Rodrigues 
Macedo
Coorientador: Sérgio Marangoni
Unidade: Instituto de Biologia (IB)
Financiamento: CNPq
ISABEL GARDENAL
bel@unicamp.br
Fotos: Antonio Scarpinetti
minosas possuem essa proteína de forma na-
tural. O feijão e a ervilha são exemplos disso. 
“Não somos alvos deles porque são cozidos. 
Ninguém come ervilha e feijão crus”, expõe. 
“É o caso da proteína avaliada. Se fosse pen-
sar em plantas que passam por cozimento, 
elas deixariam de ter essa atividade.”
A importância deste estudo é que essa 
é uma proteína nova. Ninguém a isolou no 
mundo. “Possuiótima atividade anticoagu-
lante e tem papel coadvujante no tratamen-
to do câncer. São, porém, estudos iniciais”, 
afirma.
Miriam pertence à linha de pesquisa de 
proteínas-inseticidas extraídas de plantas, 
para o controle natural de insetos, coordena-
da por sua orientadora. O estudo foi financia-
do pelo CNPq e teve apoio do Laboratório de 
Química de Proteínas (Laquip), dirigido pelo 
professor do IB Sérgio Marangoni.
Campinas, 10 a 16 de novembro de 2014Campinas, 10 a 16 de novembro de 20142

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