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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO DISCIPLINA: ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS PROFESSORA: Dra. Regilda Saraiva dos Reis Moreira Araújo e Profa Dra: Clélia de Moura Fé Campos RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: TESTE DE ESCALA ESTRUTURADA Laura Beatriz Guimarães Sousa TERESINA, PI AGOSTO-2022 LAURA BEATRIZ GUIMARÃES SOUSA RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: TESTE DE ESCALA ESTRUTURADA ESTAGIÁRIAS DOCENTES: Anne Rafaele da Silva Marinho Dayane Daisy de Melo Costa TERESINA, PI AGOSTO-2022 1 INTRODUÇÃO Segundo Camocardi e Ferreira a “análise sensorial surgiu da necessidade da melhoria da qualidade dos alimentos para além de suas características físicas, químicas e microbiológicas” (p.1, 2020). E trata-se de uma ciência multidisciplinar, responsável por avaliar os atributos organolépticos de um produto, baseado nos sentidos. Possui um amplo campo de aplicação, que envolve desde as indústrias de alimentos e bebidas, a empresas no setor de cosméticos, produtos de limpeza, automobilística e farmacêutica (DO CARMO, 2018; VICARI et al., 2021). Uma vez que, a análise sensorial está diretamente relacionada às sensações olfativas, gustativas, táteis e visuais, sua interpretação requer conhecimento de outras áreas que englobam a estatística, a fisiologia, psicologia, química e psicofísica e partir daí estabelecer metodologias que possibilitem a realização de uma avaliação adequada e confiável dos produtos. Nesse sentido, foram desenvolvidos diversos métodos como: os métodos discriminativos que buscam avaliar as diferenças qualitativas entre as amostras tais como o teste de diferença e teste de sensibilidade, os métodos afetivos que avaliam a opinião pessoa do assessor e verificam sua aceitação e preferência, tais como comparação pareada, ordenação e escala de atitude e os métodos descritivos que objetivam descrever o produto (RABELO; BRAGA, 2017; DUTCOSKY, 2013). Os métodos analíticos ou descritivos referem-se a “testes que caracterizam e descrevem as propriedades sensoriais do produto, qualificando e quantificando os seus atributos” (PEREIRA, et al, 2021, p. 59). Dessa forma, os aspectos qualitativos englobam desde as características de aparência, de sabor, aroma e características de textura oral. Enquanto, os aspectos quantitativos são definidos por meio da identificação do grau de intensidade presente em cada atributo sensorial, e portanto dependem de assessores qualificados e treinados quanto ao uso de escalas. Dessa maneira, a análise descritiva tem sua importância estabelecida devido sua capacidade de possibilitar a correlação entre medidas sensoriais e a segmentação de consumidores segundo suas preferências devido a junção de testes afetivos e descritivos (DUTCOSKY, 2011; NORA, 2021). Para a realização de uma análise sensorial descritiva é recomendado a participação de painelistas treinados, geralmente em torno de doze. Os produtos devem ser avaliados no mínimo em duplicata para a obtenção de estimativas médias robustas. Visto isso, umas das principais desvantagens desta metodologia é o tempo necessário para sua implementação. Ademais, a análise descritiva exige controle criterioso dos possíveis fatores que podem afetar os resultados, tais como seleção de atributos, ambiente de teste e armazenamento das amostras (VIERA, 2019). Durante a análise descritiva, são geralmente utilizadas escalas que determinam a intensidade de cada atributo sensorial presente nos produtos alimentícios avaliados. Dessa forma, através dos testes de escalas é possível identificar o quanto as amostras diferem entre si e qual delas apresenta maior intensidade da característica sensorial medida. Elas ainda podem ser classificadas quanto à sua posição, sua estrutura, à sua polaridade; ao número de atributos analisados e ao tipo de avaliação. Embora, apresentam desvantagem devido a necessidade de um treinamento maior e a participação de julgadores habilidosos (DUTCOSKY, 2011). O uso de escalas sensoriais é um método bastante utilizado nas pesquisas científicas, sendo as mais comuns: as escalas de estimativa de magnitude, escala categórica e linear (ANDREANI, 2018). Para Macedo (2021), a escala ideal é utilizada a fim de identificar as amostras rotuladas de acordo com a intensidade de determinada característica sensorial. Dessa forma, o consumidor se expressa através de 3 a 5 graus avaliativos, no qual nos extremos da escala possui “muito forte” e “muito fraco” para determinada característica avaliada. Diante desse contexto, o presente trabalho teve como objetivo verificar a percepção sensorial dos discentes do curso de Nutrição da Universidade Federal do Piauí, por meio da aplicação do teste de escala estruturada. 2 MATERIAIS E MÉTODOS A prática foi realizada no período de agosto de 2022, no Laboratório de Análise Sensorial de Alimentos do Departamento de Nutrição CCS/UFPI. O painel sensorial foi composto por 32 provadores não treinados, discentes do curso de Nutrição da Universidade Federal do Piauí. Para realização do teste utilizou-se a escala estruturada de intensidade que variava de 0 (nenhum) a 9 (muito forte). Dessa maneira, cada provador recebeu duas amostras de biscoito de polvilho tipo peta de marcas distintas, apresentadas em copinhos descartáveis codificados com número de três dígitos aleatórios. Em seguida, os participantes foram orientados a identificar na ficha a intensidade em relação ao sabor salgado e a crocância de cada amostra de acordo com a escala apresentada. Por fim, os resultados obtidos foram organizados e analisados em planilhas utilizando o software Excel. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO A princípio, destaca-se que biscoito de polvilho, também conhecido como “peta” ou “avoador”, é um alimento popular da cultura brasileira. Tem como matéria-prima base o polvilho azedo e/ou doce resultantes do processamento da mandioca. Sendo uma boa alternativa de lanche para pessoas que apresentam intolerância ao glúten ou a doença celíaca (ALVES et al., 2022). Durante o processo de fabricação do biscoito de polvilho, alguns parâmetros sensoriais são pŕe-definidos como: textura crocante, aerada, sabor característico de biscoito azedo, com significante acidez, cor médio, de tom bege amarelado e aroma característico do polvilho. Nesse sentido, nota-se que a realização da análise sensorial ao decorrer da sua produção é importante para garantir a adequação das propriedades do polvilho azedo (SILVA, 2021). Nesse sentido, foram avaliados 32 discentes no total, sendo 87,5% (n=28) do sexo feminino e 12,5% (n=4) do sexo masculino. E os resultados obtidos através do Teste de escala estruturada acerca da intensidade do sabor salgado das amostras de biscoito de polvilho, foram apresentadas abaixo. Figura 1 - Percepção da intensidade do sabor salgado entre duas amostras de biscoito de polvilho. Teresina-PI, 2022. Fonte: Dados da pesquisa, 2022. Constata-se, com base na Figura 1, que ambos os biscoitos de polvilho tipo peta apresentaram majoritariamente, intensidade moderada em relação ao sabor salgado segundo os avaliadores. Tabela 01 - Percepção do sabor salgado nas amostras de biscoito de polvilho, segundo assessores. Teresina-PI, 2022. Intensidade Amostra P1 Amostra P2 Fraco 12,5% (n=4) 21,88% (n=7) Moderado 56,25% (n=18) 46,87% (n=15) Forte 18,75% (n=6) 31,25% (n=10) Muito forte 12,5% (n=4) - Fonte: Dados da pesquisa, 2022. Ao avaliarem as amostras mais da metade dos julgadores (56,25%) identificaram a amostra P1 com intensidade de sabor salgado moderado. De forma similar, cerca de 46,87% também apontaram para amostra P2 com sabor moderado. Santana et al (2015), ao utilizar escala de intensidade de nove pontos para realizar o diagnóstico de atributos, no estudo de aceitação sensorial de snacks elaborados a partir de raízes de quatro clones de mandioca de polpa amarela, identificou maiores intensidades de sabor salgado nos snacks elaborados com a BRSJari e com o híbrido 411, embora todas as amostras foram consideradas “pouco salgado” segundo os consumidores. Os valores obtidos após a análise da intensidade da crocância entre os biscoitos de polvilho foram apresentados a seguir. Figura 2 - Percepção de intensidade da crocância entre duas amostras de biscoito de polvilho. Teresina-PI, 2022. Fonte: Dados da pesquisa, 2022. De acordo com a Figura 2 é possível verificar que a maioria dos participantes identificaram a amostra P1 com crocância moderada, diferentemente da amostra P2 que foi avaliada principalmente com uma forte crocância. Tabela 02 - Percepção de textura crocante das amostras de biscoito de polvilho, segundo assessores. Teresina-PI, 2022. Intensidade Amostra P1 Amostra P2 Fraco 9,38% (n=3) 3,13% (n=1) Moderado 34,37% (n=11) 25% (n=8) Forte 25% (n=8) 56,25% (n=18) Muito forte 31,25% (n=10) 15,62% (n=5) Fonte: Dados da pesquisa, 2022. Observa-se por meio da Tabela 2 que houve uma diferença pouco significativa ao avaliar a amostra P1, no qual, 34,37% dos assessores reconheceram intensidade de crocância “moderada”, enquanto 31,25% classificaram a amostra com crocância “muito forte”. Tal resultado, pode ser explicado devido a falta de treinamento dos participantes. Dado que, em análises com escalas de intensidade, é necessário que os julgadores estejam qualificados para reconhecer e avaliar a intensidade dos atributos sensoriais medidos. Além disso, sugere-se também a inferência de fatores de atitude. Visto que, as características individuais podem refletir no julgamento da amostra, como por exemplo, indivíduos cautelosos tendem a informar diferenças somente quando possuem certeza, já indivíduos ousados tendem a informar detalhes além do que realmente foi detectado e pessoas tímidas podem sentir dificuldade para usar os extremos da escala (MINIM, 2006). Por outro lado, verifica-se que 56,25% dos assessores constataram que a amostra P2 possui uma textura com “forte” crocância. Destaca-se que a crocância é um importante atributo sensorial que surge da reação dos sentidos a desintegração mecânica acompanhada de várias explosões sonoras. Essa característica está associada com contrastes texturais agradáveis de frescor e qualidade, de forma que sua perda é a grande causa da rejeição do consumidor (ANDREANI,2018; SOUSA; MENESES, 2006). Rebouças et al (2012), ao avaliar o quão ideal encontrava-se a crocância dos biscoitos desenvolvidos com adição de concentrado de peixe proteico constatou, através do uso do teste de Escala do Ideal estruturada mista de 9 pontos, que nenhuma das amostras atingiu o percentual mínimo de 70%, sendo um indicativo de otimização na formulação do produto em relação a esta característica sensorial. É válido ressaltar também que, em testes como o de escala estruturada, o provador determina a intensidade da sensação selecionando uma dada categoria equivalente a um valor numérico. Sendo tais categorias utilizadas no teste: 0 = nenhuma intensidade; 1, 2, e 3 = fraco; 4 e 5 = moderado; 6 e 7 = forte; 8 e 9 = muito forte. Logo, nota-se que todos participantes conseguiram identificar satisfatoriamente os atributos relacionados ao sabor e a textura das amostras exigidos, uma vez que não houve marcação no intervalo de “ 0 nenhum”. Ademais, é importante ressaltar que, a qualidade sensorial de um alimento é uma resposta individual e varia de pessoa para pessoa (MININ, 2008). 4 CONCLUSÃO Mediante o exposto, nota-se que os assessores tiveram diferentes impressões acerca da intensidade do sabor salgado e da textura crocante das amostras analisadas, corroborando para o fato de que a qualidade sensorial é o resultado da interação entre homem e alimento. Ademais, a prática realizada possibilitou uma melhor compreensão dos testes de escalas utilizados e sua aplicabilidade na análise sensorial. REFERÊNCIAS ANDREANI, Pamela et al. Medidas simultâneas mecânicas e acústicas e correlações sensoriais para alimentos crocantes. 2018.Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018. ALVES, Alfredo Augusto Cunha; DE OLIVEIRA, Luciana Alves; MOTTA, Joselito da Silva. Transferência de Tecnologia de Processamento de Mandioca do Brasil para a África. In: Inovações no Sistema Alimentar de Raiz, Tubérculo e Banana. Springer, Cham, 2022. p. 207-239 . CAMOCARDI, A. F.; FERREIRA, E. B. Perfil metodológico de experimentos sensoriais de alimentos de 2014 a 2019. Caderno de Ciências Agrárias, [S. l.], v. 12, p. 1–16, 2020. DO CARMO, Jéssica Lopes. Manual de boas práticas em análise sensorial. 2018. Tese de Doutorado - Instituto Politécnico de Viseu. Portugal, 2018. MINIM, V. P. R. Análise sensorial: estudos com consumidores. Viçosa: Editora UFV, 2006. 225p. MACEDO, Vitória PE et al. PRINCÍPIOS BÁSICOS DE ANÁLISE SENSORIAL EM ALIMENTOS-REVISÃO DE LITERATURA. Revista de Medicina Veterinária do UNIFESO, v. 1, n. 02, 2021. NORA, F.M.D. Análise Sensorial Clássica: fundamentos e métodos. Canoa- RS: Mérida Publishers, 2021. PEREIRA A.M.; ÁVILA B.P; SOUZA E.J.D. DE; GULARTE M.A. Sensorial aplicada: métodos clássicos. In: ____. Descomplicando a Análise Sensorial: Grãos e Derivados. Canoas: Mérida Publishers, 2021. RABELO, Silvia Cátia Vasconcelos;BRAGA, C. J. M. Análise sensorial de vinhos brasileiros da casta Marcelan por métodos científicos. Nutrivisa, v.4, n. 2, 2017. REBOUÇAS, Marina Cabral; RODRIGUES, M. C.; DE CASTRO, Ruann Janser Soares. BISCOITO SALGADO COM ADIÇÃO DE CONCENTRADO PROTÉICO DE PEIXE: DESENVOLVIMENTO E ASPECTOS SENSORIAIS. Alimentos e Nutrição Araraquara, v. 23, n. 1, p. 45-50, 2012. SANTANA, Hannah Miranda, et al. Avaliação sensorial de snacks elaborados com raízes de quatro clones de mandioca de polpa amarela. In: Congresso Brasileiro de Mandioca - Congresso Latino-americano e caribenho de mandioca (anais). Foz do Iguaçu. Integração: segurança alimentar e geração de renda. Foz do Iguaçu: SBM, 2015. SOUZA, M. L.; MENEZES, H.C. Avaliação sensorial de cereais matinais de castanha-do-brasil com mandioca extrusados. Cienc. Tecn. Aliment. Campinas, v.26, n.4, p.950-955. 2006. VICARI, Lucila; GULARTE, Márcia Arocha; SANTOS, Roberta Bascke. Princípios da Análise Sensorial. In: PEREIRA A.M.; ÁVILA B.P; SOUZA E.J.D. DE; GULARTE M.A (Orgs). Descomplicando a Análise Sensorial: Grãos e Derivados. Canoas: Mérida Publishers, 2021.
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