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O ENSINO TÉCNICO-PROFISSIONALIZANTE NO PARANÁ NA DÉCADA DE 1980 Vanessa Melo do Nascimento Maria Elisabeth Blanck Miguel (orientadora) PUCPR A partir da prática pedagógica vivenciada no SENAI – CIETEP (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Centro de Tecnologia e Educação Profissional de Curitiba), paralelamente à realização do desenvolvimento do meu trabalho de conclusão de curso intitulado “A Formação Pedagógica do Professor do Ensino Técnico-Profissionalizante do SENAI-CIETEP”, senti-me instigada a analisar a trajetória do ensino técnico- profissionalizante no Paraná em uma perspectiva histórica. Durante a realização de ambos os trabalhos, detectei que esse objeto de estudo ainda é pouco valorizado na área educacional, pois raros são os pedagogos que pretendem aprofundar seus estudos nesse ramo de ensino. Realizando o levantamento do estado da arte, notei que a bibliografia existente, em sua maioria, aborda a educação profissional como um todo, como por exemplo, Bruno (1996) e Manfredi (2002) e Speyer (1983). Mas poucas são as bibliografias que efetuam, de maneira um pouco mais específica, uma retrospectiva histórica do ensino técnico-profissionalizante. Pode-se citar como algumas destas leituras, Cunha (1973), Ferreira (2005), Frigottto (2005) Kuenzer (1997), Meneses (1998) e Romanelli (1984). Faz-se também pertinente levar em consideração o fato do ensino técnico-profissionalizante de nível médio possuir uma dinâmica diferente de uma formação em nível superior, ou mesmo de um processo de treinamento ou qualificação1. Dessa maneira, pretendi estudar quais razões históricas 1 Entendo por treinamento, as ações nas quais os participantes adquirem, ampliam e atualizam conhecimentos para o desenvolvimento de competências básicas e de menor complexidade de uma atividade profissional, ou seja, os participantes já possuem algum conhecimento prévio sobre o assunto. E por qualificação, as ações voltadas para a preparação dos trabalhadores maiores de 16 anos, com escolaridade variável e determinada de acordo com as exigências das diferentes programações, visando ao atendimento das necessidades do mercado, ou seja, não são necessários conhecimentos prévios e específicos sobre o assunto a ser trabalhado. contribuíram e influenciaram a trajetória do ensino técnico-profissionalizante no Paraná, pois até o presente momento, não me deparei com leituras que abordem especificamente esse tema no Estado. Acredito ser importante para a História da Educação Paranaense tal estudo, pois para que os educadores possam entender a educação profissional de hoje, precisam conhecer a gênese desse processo de modo que compreendam quando e como surgiram os principais fatos que ajudaram a delinear a trajetória do ensino técnico- profissionalizante no Estado. A análise sobre a trajetória do ensino técnico-profissionalizante no Paraná é de grande importância para a área educacional, já que se faz necessário aos pedagogos que atuam nessa etapa de ensino, obter uma base teórica sobre o seu desenvolvimento, funcionamento e estrutura, para então desenvolverem um trabalho pedagógico significativo. Faz-se também pertinente realizar pesquisas na área de educação que procurem compreender melhor a relação entre educação e mercado de trabalho. No Brasil, analisando pela ótica da História da Educação, percebe-se que sempre esteve presente a dualidade pedagógica, na qual educar durante a formação básica para uma atividade específica é para os pobres e a escola que prepara o educando para estudos posteriores é a escola destinada aos mais abastados financeiramente. Sendo assim, fez-se necessário verificar se no Paraná o ensino técnico-profissionalizante também seguiu a mesma trajetória dessa etapa em nível nacional. Mediante tais constatações, pretende-se responder ao seguinte questionamento: Quais fatores econômicos, políticos e sócio-culturais conformaram o ensino técnico-profissionalizante no Paraná? Tendo como objetivo geral verificar quais as razões históricas que contribuíram e influenciaram a trajetória do ensino técnico- profissionalizante no Paraná e como objetivos específicos: apontar quais os acontecimentos históricos (políticos, econômicos e sócio-culturais) foram determinantes para a conformação dessa etapa de ensino no Estado. A pesquisa foi fundamentada no levantamento de fontes primárias sobre a educação profissional, mais especificamente no Estado do Paraná, já que é nesse Estado que se encontrou a delimitação do universo de pesquisa. Saviani (2004, p. 04), ao comentar sobre os significados de se trabalhar com tais mananciais, aponta: Fonte é uma palavra que apresenta, via de regra, duas conotações. Por um lado, significa o ponto de origem, o lugar de onde brota algo que se projeta e se desenvolve indefinidamente e inesgotavelmente. Por outro lado, indica a base, o ponto de apoio, o repositório dos elementos que definem os fenômenos cujas características se busca compreender. Para ir ao encontro das fontes referentes à educação profissional, a investigação foi feita por meio de pesquisas em arquivos, bibliotecas, secretarias, páginas na rede mundial de computadores, entre outros, já que, para Nunes; Machado (1992, p. 11), principalmente nos arquivos é que se encontram: ... informações inestimáveis (muitas vezes inéditas!), necessárias ao cotejo e crítica de informações provenientes de outras fontes e da própria historiografia educacional já produzida. Sem a pesquisa arquivística, essa historiografia, no limite, inexiste. Sucumbe ao risco de girar ao redor de idéias mal esclarecidas e de estereótipos, que se produzem em artigos e livros. Conforme as colocações apresentadas por esses autores, pretendi não apenas fazer a leitura das bibliografias já produzidas, mas também compará-las às fontes originais. Ao final do levantamento de dados, pretendi não apenas fazer um panorama sobre a trajetória do ensino técnico-profissionalizante no Paraná, mas também explicar o contexto no qual essa trajetória se conformou. Segundo Miguel (2004, p. 112): A relação que se estabelece entre o pesquisador e o objeto da pesquisa é mediada pela atitude de busca, de desvendar o que não se sabe, de procurar explicações para o que ainda não está explicado, e neste processo, o contato com os dados e o modo como o pesquisador os indaga, bem como as indagações feitas, são fundamentais. Vale ressaltar que não consegui deixar de lado a minha própria visão sobre a educação profissional, pois atuo nessa etapa de ensino e possuo alguns conhecimentos no que se refere à dinâmica dela. Lombardi (2004) também aponta que nenhum conhecimento é neutro, pois este é fruto das relações sociais. Utilizando tais instrumentos de coleta de dados, comprometi-me a construir uma pesquisa séria e pertinente, de modo a esclarecer principalmente aos interessados pela história da educação no Estado do Paraná, quais os principais fatos que contribuíram para que a educação profissional no Estado esteja definida como hoje se encontra. Nesse momento será apresentado os resultados obtidos após a pesquisa sobre o Ensino Técnico – Profissionalizante no Paraná na década de 1980. O Ensino Técnico-Profissionalizante no Paraná na década de 1980 O relatório elaborado por Paraná (1980-1983, p. 09), ao abordar a estrutura econômica no estado paranaense no início da década de 1980, ressalta que: Caracteriza por uma substancial participação das atividades do setor primário. No decorrer dos diversos ciclos econômicos, a lavoura, a pecuária, e as atividades extrativas predominaram sobre as atividades industriais, embora estas venham crescendo gradativamente, em função de uma política de incentivo ao desenvolvimento do parque industrial. O setor terciário detém níveis sempre crescentesde participação destacando-se o crescimento no setor, do ramo do comércio. Nessa década, conforme dados constantes no Plano de Trabalho (1980/83), o principal objetivo da Secretaria de Estado de Educação era o de promover a melhoria do ensino de 2° Grau, propiciando condições satisfatórias de atendimento à clientela, com vistas a uma adequada preparação profissional. Já a partir do ano de 1975, houve maiores esforços para a construção e incremento dos prédios escolares, bem como melhor utilização das verbas disponíveis para a educação no Estado do Paraná, mas no que se refere ao ensino de 2º grau, ainda era no início da década de 1980, de acordo com o Planejamento, Desenvolvimento e Acompanhamento 74/82 (1982, p. 15): A oferta de oportunidades educacionais em nível de 2º Grau da Rede Estadual é pouco expressiva e predominantemente noturna. Isto decorre de que o atendimento da demanda por escolarização em nível de 1º Grau é obrigatório e deve oferecer as facilidades necessárias, submetendo-se assim o Ensino de 2º Grau à disponibilidade noturna das salas de aula instaladas para aquele grau de ensino. O relatório Paraná (1987, p. 09) complementa: Os estudantes do 2º grau, por força das condições econômicas, passaram a procurar cursos noturnos. Esse turno absorve cerca de 59,0% dos alunos matriculados, caracterizados pela condição de estudante-trabalhador. Esse ensino é ao mesmo tempo profissionalizante e não profissionalizante, ou seja, o que se aprende nessa escola é necessário tanto para continuidade dos estudos quanto para o ingresso no mundo do trabalho. Ao contrário do apontado nos Relatórios anteriores, o Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 22), ao analisar a evolução da educação no estado paranaense, ressalta que no período: A educação no Estado do Paraná, representativa da realidade nacional, apresenta uma evolução rápida, tanto em termos numéricos, de matrículas e de estabelecimentos em funcionamento, como de diversidade de cursos e de habilitações profissionalizantes. Sobre a ampliação do parque escolar, informações contidas no Planejamento, Desenvolvimento e Acompanhamento 74/82 (1982, p. 77), expunham que estender o parque escolar visando atender a demanda pela educação era, no período, tarefa contínua do poder público. Caso isso não acontecesse, tal atitude seria um retrocesso para as conquistas alcançadas pela educação paranaense nos anos anteriores. O número total de matrículas no 2º grau do Estado do Paraná no início da década de 1980 foi, conforme o apontado pelo Plano de Trabalho (1980/83), de 11% do total da população e ainda não havia contemplado todos os municípios do Estado: A faixa etária dos 15/19 anos apresenta uma população escolarizada de 982.200, com matrícula inicial de 150.487 no Ensino de 2º Grau, o que corresponde a uma taxa de escolarização de 11% nesse grau de ensino, proporcionada a 245, dos 290 municípios do Estado. No início dos anos 80, o estado paranaense contava com o um projeto intitulado “Projeto de Centros de Excelência”, que de acordo com o Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2° Grau (1981, p. 07) visava à melhoria do ensino das escolas públicas e particulares: O Projeto de Centros de Excelência em Estabelecimentos de Ensino de 2º Grau, desenvolvido pela Secretaria da Educação a partir de 1980, procura, através do reconhecimento, da valorização e do apoio e estímulo às escolas paranaenses que ministram ensino de bom nível, ajudá-las a alcançar uma crescente qualidade da Educação propiciada aos seus educandos. Ele abrange, indiscriminadamente, escolas públicas e privadas, tendo como objetivo mais geral dotar o Estado, de Colégios que atendam aos anseios das famílias e das comunidades por uma excelente educação para seus filhos. A excelência citada no Projeto é aquela que diz respeito aos resultados finais da educação de 2º grau, ou seja, deveria haver a formação integral do educando, bem como sua qualificação para o trabalho e uma possibilidade para o prosseguimento dos estudos. No período, foram vislumbrados Centros de Excelência nas áreas do magistério, saúde, Comércio, prestação de serviços, química, construção civil e mecânica. A melhoria do rendimento escolar dos paranaenses, de acordo com o relatório Paraná (1980-1983, p. 15): ...está vinculada ao desenvolvimento da assistência ao estudante voltada à implantação de medidas que assegurem ao aluno melhores condições para facilitação do acesso à educação e de permanência no processo, obtendo um resultado escolar satisfatório. Embora se verifique um esforço de planejamento e controle no órgão responsável pela assistência ao educando da SEED, na situação atual essa assistência realizada nos campos alimentar, médico- odonto-sanitário e financeiro, tem se revelado fragmentada e desigual, atingindo mais sistematicamente a capital e apresentando precária intervenção na zona rural e periferia das cidades de médio e grande porte, onde as necessidades são maiores e os problemas se avolumam. Para Oliveira (2003, p. 51), a qualidade de ensino depende de que sejam disponibilizados recursos para a educação: “Os chefes de governo e os responsáveis pelas políticas educacionais parecem esquecer que a tão buscada qualidade da educação só pode ser alcançada pelo emprego de mais recursos para a educação, e não o contrário”. De acordo com dados apresentados no Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 07), os Centros de Excelência que ofertavam os cursos de Magistério contavam com 18% do número total de alunos matriculados no 2º Grau. Tais núcleos estavam distribuídos em diferentes regiões do Paraná no início da década de 1981: Colégio Município Col. Nilo Cairo Col. Emílio de Menezes Col. Cyríaco Russo Inst. Educação do Paraná Col. Lysimaco F. da Costa Col. Wilson Joffre Col. João de O. Gomes Col. De Cianorte Col. Cristo Rei Col. Francisco C. Martins Col. Rui Barbosa Instituto de Educação Instituto de Educação Col. de Paranavaí Inst. Edc. Dr. Caetano M. Rocha Col. José de Anchieta Apucarana Arapongas Bandeirantes Curitiba Curitiba Cascavel Campo Mourão Cianorte Cornélio Procópio Guarapuava Jacarezinho Londrina Maringá Paranavaí Paranaguá Pato Branco Col. Pedro II Col. Barão de Antonina Col. Silvio Tavares Col. Willy Barth Umuarama Rio Negro Cambará Toledo Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Informe de atividades do departamento de ensino do 2º grau. 1981 Os Centros de Excelência na área da saúde contavam com 10% do número total das matrículas no 2º grau das escolas estaduais no Paraná. Segundo o Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 08), apenas 06 escolas ofertavam cursos profissionalizantes na área da saúde no início dos anos 80, sendo duas em Londrina, duas em Ponta Grossa, uma em Curitiba e uma em União da Vitória: Colégio Município Colégio Estadual do Paraná Colégio José Aloísio de Aragão Colégio Profª Amazília Colégio Marcelino Champagnat Instituto de Educação Colégio Regente Feijó Curitiba Londrina U. da Vitória Londrina P. Grossa P. Grossa Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Informe de atividades do departamento de ensino do 2º grau. 1981 Em relação aos Centros de Excelência na área de comércio (Técnico e Auxiliar em Contabilidade), a participação era de 32% do total de matrículas no 2º grau e os cursos de Auxiliar de Escritório, Assistente de Administração e Secretariado, contavam com 18% do total das matrículas. O Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 08) expõe as escolas abaixo então ofertantes de cursos na área do comércio: Colégio Município Col. Moreira Salles Col. Marins Alves de Camargo Moreira Sales ParanavaíCol. Firmino Martins Col. Prof. José Guimarães Col. Isidoro Luis Cerávolo Inst. Caetano M. da Rocha Col. Barão de Antonina Col. General Carneiro Col. Dom Carlos Col. Meneleu Torres Col. Rio Branco Col. Juvenal Dias de Melo Col. Cyriaco Russo Instituto de Educação Colégio Costa Monteiro Colégio Guilherme de Almeida Colégio Anchieta Colégio de Cianorte Colégio Aloísio Schuck Colégio de F. Beltrão Colégio João de Oliveira Gomes Colégio José Guimarães Colégio de Clevelândia Instituto de Educação Colégio Meneleu Torres Colégio de Paranavaí Colégio Willy Barth Colégio Barão de Antonina Colégio Mario de Andrade Clevelândia Curitiba Apucarana Paranaguá Rio Negro Lapa Palmas Ponta Grossa S. Ant. da Platina Jandaia do sul Bandeirantes Maringá Nova Esperança Loanda Cruzeiro do Oeste Cianorte Laranjeiras do Sul Francisco Beltrão Campo Mourão Curitiba Clevelândia Paranaguá / Maringá Ponta Grossa Paranavaí Toledo Rio Negro Francisco Beltrão Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Informe de atividades do departamento de ensino do 2º grau. 1981 As matrículas nos Centros de Excelência na Área de Prestação de Serviços (Técnicos e Auxiliares em: Desenhista de Móveis e Decorações, Publicidade, Ornamentista de Interiores, Redator Auxiliar, Promotor de Vendas e Processamento de Dados) representavam 10% do número total de matrículas no 2º grau. Ainda segundo o Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 08), eram 08 escolas que ministravam esses cursos no Paraná, sendo a maioria delas localizadas na cidade de Curitiba: Colégio Município Colégio Estadual do Paraná Colégio Guido Straube Colégio Nilson Ribas Colégio Hildebrando de Araújo Colégio Vicente Rijo Colégio de Paranavaí Colégio Cyríaco Russo Colégio Dom Carlos Curitiba Curitiba Curitiba Curitiba Londrina Paranavaí Bandeirantes Palmas Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Informe de atividades do departamento de ensino do 2º grau. 1981 Os Centros de Excelência na Área Química (Técnico em Química e Auxiliar de Análises Químicas) contavam com apenas 4% do total das matrículas do 2º grau. Para o Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 09), apenas 03 estabelecimentos de ensino ofertavam cursos profissionalizantes na área química, sendo 02 na cidade de Curitiba e 01 em Ponta Grossa: Colégio Município Instituto Politécnico Estadual Colégio Francisco Zardo Colégio João Ricardo B. Du Vernay Curitiba Curitiba Ponta Grossa Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Informe de atividades do departamento de ensino do 2º grau. 1981 Os Centros de Excelência da Área de Construção Civil e Mecânica (Técnico em Saneamento, Estradas, Edificações, Agrimensura, Desenhista de Arquitetura, Eletrônica, Eletrotécnica e Eletricidade) representavam 7% do total das matrículas no 2º grau que, para o Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2° Grau (1981, p. 09), estavam distribuídos em 06 diferentes municípios do Paraná: Colégio Município Instituto Politécnico Estadual Instituto Politécnico Colégio Rio Branco Colégio Estadual do Paraná Colégio Antonio de l. Braga Colégio Nilo Cairo Colégio Monsenhor Guilherme Colégio Emílio de Menezes Curitiba Londrina Curitiba Curitiba Goioerê Apucarana Foz do Iguaçu Arapongas Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Informe de atividades do departamento de ensino do 2º grau. 1981 O Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 22), ao apontar o número total de matriculados no ensino de 2º grau no estado do Paraná nos dois primeiros anos da década de 1980, assinala que as matrículas estavam, em sua maioria, distribuídas na rede estadual de ensino: Ano Estaduais Particulares Total 1980 1981 120.575 120.915 37.370 38.570 157.945 159.485 Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Informe de atividades do departamento de ensino do 2º grau. 1981 Vale ressaltar que essas matrículas representavam a formação geral acrescida de uma formação profissionalizante. Foram criados no ano de 1980, 32 novos estabelecimentos de ensino de 2º grau, sendo 09 no ano de 1981 e ainda estavam previstas a criação de 28 novas escolas que ofertassem essa etapa de ensino no ano de 1982. De acordo com o relatório Paraná (1980-1983, s/p.), o ensino de: ...2° grau conta com uma rede física de 607 estabelecimentos, sendo 593 em zona urbana e 14 em zona rural (distritos), reclamando, uma expansão racionalizada, que, numa visão global das carências, contemple a problemática regional. O Plano de Trabalho (1980/83, s/p.), ao abordar as especificidades dos cursos profissionalizantes paranaenses, apontava que: “... a grande concentração em cursos que exigem poucos investimentos em oficinas, salas especiais e outros, o que mostra que a maior parte das escolas de 2º grau, optou por este tipo de habilitação”. Segundo o Informe de Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 09), a formação do corpo docente, a existência de infraestrutura física e o material deveriam propiciar a melhora da qualidade do ensino ministrado pelas escolas públicas no Paraná; essa conscientização dos envolvidos com a educação deveria acontecer por meio de diferentes encontros: ..., de seminários, de contatos constantes com as escolas, numa supervisão atuante e contínua, e assistência técnica intensa e permanente, o Projeto está promovendo o aperfeiçoamento e atualização do corpo docente, distribuindo material para laboratórios, equipamentos para ambientes especiais e acervo bibliográfico, buscando meios para sanar deficiências dos recursos físicos, reforçando a infra-estrutura e, acima de tudo, estimulando a conscientização do corpo docente e discente sobre a opção da comunidade escolar por um nível de excelência do ensino na escola. Apesar desses esforços, a Prefeitura Municipal de Curitiba (1983-1986, p. 16) ressaltava a permanência dos problemas educacionais no Estado do Paraná “A reflexão sobre os problemas educacionais evidencia a necessidade de uma reformulação da prática educativa, da clarificação do que se visa com essa prática, isto é, quais são os verdadeiros objetivos”. Esses dados vêm ao encontro das finalidades da qualificação profissional apresentadas por Trevisan (1982, p. 138): Uma das finalidades da qualificação profissional é a de tornar a força de trabalho mais eficiente e eficaz..., deve-se entender que não só se pretende aprender satisfaz, mas sim o que é preciso que se aprenda, para converter aptidões e talentos em capacidade produtiva. Pelas colocações de Trevisan, observa-se que o importante era transformar o saber em capacidade produtiva. Esse fato atende às especificidades dos cursos profissionalizantes ofertados pelas escolas, já que estes, segundo o Informe das Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 11), deveriam estar em consonância com o mercado de trabalho: Essa colaboração pode ser também no sentido de orientar as escolas na fixação do número de vagas, tendo em vista alcançar um relativo equilíbrio entre o número de técnicos formados e a demanda do mercado de trabalho existente para os mesmos. E, além disso, o relacionamento da escola com as empresas pode funcionar como um mecanismo de controle da qualidade dos programas de formação profissional. Para que houvesse uma melhor qualidade dos cursos profissionalizantes, segundo Trevisan (1982, p. 99), não se tratava de utilizar uma metodologia, mas várias metodologias, ou seja, aplicá-las em diferentes situações e/ou circunstâncias. A rede estadual de ensino ainda contava nesse período com matrículas no Ensino Técnico Agrícola, no campo agropecuário e florestal. Esses ramos de ensino, segundoo Informe das Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 13): “Atualmente a rede é constituída por estabelecimentos de ensino que funcionam no regime de escola-fazenda”. É ainda indicado nesse mesmo material, Informe das Atividades do Departamento de Ensino de 2º Grau (1981, p. 16), que esse ramo de ensino no Estado: Ressente-se que o ensino de 2º grau, no Estado do Paraná, não abrange todos os municípios, e, alguns que já ofertam este nível de ensino não atendem a necessidade do mercado de trabalho, quanto à mão de obra qualificada, ou quanto à clientela oriunda dos cursos de 1° grau... A grande meta é suprir a economia paranaense com todas as modalidades de mão-de-obra qualificada, necessárias ao desenvolvimento do Estado do Paraná. Para o ano de 1982, a meta educacional era a de suprir a economia paranaense para o desenvolvimento do Estado, com todas as modalidades de qualificação da mão-de-obra. No entanto, em relatório da década de 1980, a Prefeitura Municipal de Curitiba (1983-1986, p. 13), ao comentar sobre os impactos reais das legislações na educação, fez ressalvas sobre a aplicação da Lei 5.692/41, quanto à profissionalização no 2º grau: Os preceitos legais referentes à educação propõem o exercício de uma prática idealizada, contudo hoje se faz uma crítica da distância que há entre a promessa e a realidade. Os aspectos políticos e econômicos se projetam sobre a educação. O discurso corrente tem servido para ocultar a parcialidade dos interesses dominantes, o que faz com que a educação na realidade renegue o oficialmente propalado na lei e na teoria. Ainda foi ressaltada a necessidade de uma escola aberta, na qual a educação fosse fruto da prática social, que possibilitasse aos educandos conhecerem-se e interagirem com o meio e que assim construíssem uma visão crítica do mundo. Nessa educação deveria haver uma descentralização das decisões, um maior acesso para a população à educação, autodireção da comunidade escolar e autonomia. As dificuldades apresentadas no ensino de 2º grau noturno, conforme o relatório Paraná (1987, p. 19), já estavam sendo percebidas e havia propostas para o levantamento das necessidades educativas da população que freqüentava essa etapa de ensino: Ao pensar o ensino noturno no cenário de crescentes desigualdades, o Departamento de ensino de 2º grau buscará, junto aos organismos educacionais do Estado, alternativas para o atendimento das expectativas da população escolar que trabalha e estuda. Portanto, neste ano, pretende discutir e elaborar, com os professores, a partir do levantamento das necessidades da comunidade escolar, uma proposta pedagógica e administrativa para os diferentes cursos noturnos de 2º grau da rede estadual de ensino. Conforme o relatório Paraná (1980-1983, p. 16), o desenvolvimento do ensino paranaense na década de 1980 estava nas mãos de professores e especialistas em educação, em consonância com o previsto e implantado pela Lei 5.540/68 (Reforma Universitária): O compromisso de desenvolvimento do Ensino está entregue a professores e especialistas que se constituem no principal fator de produção do processo de ensino nos diferentes níveis. O apoio à atuação e à valorização desses professores e especialistas tem se concretizado na medida em que se estrutura a carreira com a implantação gradativa do estatuto do Magistério no Paraná. Propõe- se também, a expansão da assistência técnica e pedagógica ao professor e ao especialista e incentivo ao seu desempenho como profissional. Por outro lado, o relatório Paraná (1983, p. 19) ressalta que: Pelo último censo brasileiro, percebe-se que o maior número de empregados são egressos das primeiras séries do 1° Grau. Sabe-se que o administrador de hoje, prefere mandar realizar treinamento em suas fábricas a pedir à escola tal ou qual habilitação. A procura pela mão-de-obra qualificada na área industrial tem decaído, ao mesmo tempo em que aumentaram os treinamentos em serviço para os não qualificados já empregados. O desemprego vem se acelerando independentemente da formação do trabalhador, mas dependentemente do salário pago a esses trabalhadores. Pelas colocações apresentadas no relatório Paraná (1983), havia o não-interesse das empresas pela formação profissional ofertada pelas escolas de educação básica, mas que era mais interessante para o setor produtivo formar sua própria mão -de- obra. Na década de 1980, as seguintes legislações que abordavam a educação profissional foram promulgadas no Paraná: • Deliberação n° 011/80, de 11 de junho de 1980. Fixou, para o sistema estadual de ensino, normas gerais para a implantação das habilitações parciais; • Deliberação n° 012/80, de 13 de junho de 1980. Estabeleceu normas transitórias para a implantação das habilitações básicas, no sistema estadual de ensino. • Parecer n° 326/84, de 07 de novembro de 1984. Apresentava o projeto de implantação do ensino de 2º grau. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Após o levantamento e análise das fontes detectei que no período houve a predominância das atividades primárias na economia paranaense, apesar de já estar ocorrendo um crescimento no setor terciário, os cursos eram predominantemente noturnos, com uma maior concentração de cursos que exigiam poucos investimentos em oficinas. Houve também maior valorização da transformação do saber em capacidade produtiva, bem como o ensino técnico-profissionalizante ainda não abrangia todos os municípios paranaenses. A educação profissionalizante no Paraná na década de 1980 seguiu o andamento da própria sociedade, ou seja, seu desenvolvimento foi lento, pois assim estava o aprimoramento da sociedade paranaense em termos profissionalizantes. Como educadora e apaixonada pela educação profissional penso que é de suma importância conhecer a trajetória da educação profissional no Brasil e Paraná, para que olhando o ontem, possamos entender o seu real estado hoje, para que a partir deste processo dialético possamos buscar uma educação profissional de qualidade. Sou apaixonada pela educação profissionalizante e pretendo entender melhor como esta se conformou no estado do Paraná, bem como as influências em seu desenvolvimento, de modo a proporcionar reflexões para aqueles que atuam direta ou indiretamente com esta etapa de ensino, pois tenho como objetivo buscar a melhoria do ensino dos alunos-trabalhadores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRUNO, Lúcia. Educação, qualificação e desenvolvimento econômico. In: BRUNO, Lúcia (Org.). Educação e trabalho no capitalismo contemporâneo. São Paulo: Atlas, 1996. CUNHA, Luiz Antonio. Política educacional no Brasil: a profissionalização no ensino médio. 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