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ANÁLISE DE DEMANDA ERG LABORATÓRIO

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XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 
 “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” 
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 
 
 
 
 
Análise de demandas ergonômicas em um 
laboratório de ensino público universitário 
 
Allana Miguel Lehnhard (UFSM) 
allanalenhard@gmail.com 
Ana Laura Schmidt de Siqueira (UFSM) 
analauraschmidts@gmail.com 
 
Leticia Taina Marczewski (UFSM) 
marzewskileticia@gmail.com 
 
Angela Weber Righi (UFSM) 
angela.w.righi@ufsm.com 
 
 
Laboratórios com atividades relacionadas a processos químicos podem 
trazer uma série de riscos a saúde, sendo não somente riscos associados 
à exposição de substâncias químicas, mas também ergonômicos 
relacionados às condições de ambiente de trabalho as quais os 
indivíduos estão submetidos. Ciente do trabalho minucioso e preciso que 
laboratórios exigem e das contribuições que uma verificação de 
aspectos ergonômicos pode trazer aos mesmos, realizou-se um estudo 
dessa temática em um laboratório de ensino de uma universidade 
pública do Rio Grande do Sul, com o objetivo de identificar e analisar 
demandas ergonômicas. Para tal, foram utilizadas três ferramentas de 
avaliação ergonômica: i) RULA - Rapid Upper Limb Assessment para 
análise de posturas; ii) Diagrama de Corlett & Bishop para análise de 
desconforto; e, iii) CDM - Critical Decision para análise cognitiva. 
Mediante os resultados das ferramentas aplicadas, constatou-se que, em 
relação à postura, as tarefas realizadas necessitam de mudanças a curto 
e médio prazo. No que tange a análise de desconforto, verificou-se que 
os membros corporais que apresentam maior índice de desconforto são 
mão e braço direito. Na análise cognitiva obtiveram-se resultados 
positivos, indicando adequada carga mental apesar dos processos 
decisórios significativos pertinente a atividade analisada. Diante dos 
resultados encontrados foram apresentadas sugestões de melhorias 
tanto no que diz respeito a adaptação do layout do local e troca de 
equipamentos, como também referente da organização do trabalho. 
Palavras-chave: Ergonomia, laboratório de ensino, RULA, Corlett & 
Bishop, CDM. 
 
mailto:analauraschmidts@gmail.com
mailto:email@exemplo.com
 
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 
 “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” 
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 
 
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1. Introdução 
Laboratórios em que se realizam processos químicos trazem uma série de riscos à saúde do 
profissional, não somente riscos químicos associados à exposição a agentes ou substâncias, 
como também riscos ergonômicos, relacionados às condições de ambiente de trabalho as quais 
os pesquisadores estão submetidos. Ainda, é considerado um lugar de alto potencial de 
acidentes, devido a inúmeros fatores, tais como a natureza dos materiais manuseados, que 
podem ser letais, tóxicos, corrosivos, irritantes ou inflamáveis; aos equipamentos utilizados, 
que podem expor a temperaturas extremas e radiações; e ao contato com agentes patogênicos 
(CIENFUEGOS, 2001; OLIVEIRA, 1987). 
De acordo com Guérin et al (2001), existem muitas disfunções na produção de uma empresa 
ou serviço e, suas numerosas consequências para a saúde dos trabalhadores, tem origem no 
desconhecimento das atividades de trabalho dos mesmos. Assim, torna-se ainda mais 
importante uma correta orientação dos responsáveis ao operador, o direcionando a realizar seu 
trabalho de forma a alcançar os objetivos da empresa e, ao mesmo tempo, preservar seu estado 
físico, psíquico e sua vida social. 
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), de acordo com Corrêa e Belloti (2015), é uma das 
formas de intervenção ergonômica no ambiente de trabalho e trata de aspectos físicos, 
psicológicos e fisiológicos que norteiam as atividades desempenhadas pelo trabalhador, 
buscando evitar ou sanar problemas que comprometam sua saúde. 
Nesse contexto, por meio da AET, identifica-se o trabalho, descrição da maneira de operar e 
seus agravantes, as aptidões exigidas pela função e as habilidades que os trabalhadores já 
possuem. Verifica-se também fatores como postura, esforço, tomada de decisão e comunicação. 
Dessa maneira, são compreendidas as condições determinantes relacionadas à organização, 
como projeto de posto de trabalho, prescrição do trabalho formal, restrição de tempo e aspectos 
relacionados ao operador, atributos antropométricos, experiências prévias, entre outros 
(SOUZA, 1994). 
Dentre os diferentes ambientes de trabalho, os laboratórios universitários são ambientes 
considerados complexos em função de seus objetivos, destinados ao ensino, pesquisa e 
extensão, com uma grande variabilidade de frequentadores e procedimentos realizados 
(HIRATA; MANCINI FILHO, 2002). Desse modo, questões relacionadas à segurança são tão 
importantes quanto em qualquer outro ambiente laboral. 
 
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Nessa perspectiva, o presente trabalho objetivou realizar uma análise das demandas 
ergonômicas em um laboratório do curso de Engenharia Química de uma universidade pública 
do Rio Grande do Sul, com enfoque nas questões biomecânicas e cognitivas. O resultado 
almejado foram melhorias do bem estar dos envolvidos nas atividades, bem como maior 
eficiência nos processos realizados. 
 
2. Método de estudo 
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa aplicada voltada à aquisição de conhecimentos 
por meio de visitas a um local que apresenta uma situação específica. Por ter como objetivo 
uma coleta de dados, entrevistas e posterior análise das informações obtidas, o estudo pode ser 
definido como exploratório, com abordagem qualitativa. 
Foi realizado em um laboratório de tecnologia de materiais do curso de Engenharia Química de 
uma universidade pública do Rio Grande do Sul. Para o aprofundamento de uma situação, foi 
definido um único projeto entre os vários em andamento no laboratório, relacionado a uma 
parceria público-privada, com pesquisas voltadas a identificação de uma substância eficiente e 
economicamente viável para maior qualidade da água potável. 
Para a execução de tal pesquisa faz-se necessário o teste de diferentes materiais, realizando-se 
experimentos nos quais se destacam as etapas de pesagem e titulação devido à necessidade de 
repetição, com duração média de três horas, sempre pela mesma pesquisadora. Esses 
experimentos podem ser realizados mais de uma vez ao dia, demandando alto nível de 
concentração, além de constante postura em pé e presença de ruídos contínuos emitidos por 
equipamentos necessários ao processo. 
 
2.1 Coleta de dados 
Com o objetivo de obter uma perspectiva do pesquisador e realizar uma análise mais assertiva 
a respeito das demandas ergonômicas do laboratório, elaborou-se um questionário focado nas 
condições ergonômicas de trabalho no ambiente laboratorial, tais como temperatura, 
iluminação, ambiente sonoro e convívio social entre colegas. O questionário é composto por 
seis perguntas, com respostas na escala Likert, que variam de “muito satisfeito” a “muito 
insatisfeito”. 
A partir do resultado deste questionário inicial, que verificou nível de insatisfação em aspectos 
como ambiente sonoro, equipamentos disponíveis e layout, aliado a observações não 
 
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participantes das atividades realizadas pela pesquisadora, foram selecionadas outras 
ferramentas para análise, focadas aspectos biomecânicos, a saber: a)Rapid Upper Limb 
Assessment (RULA) (MCATAMNEY e CORLETT, 1993) para avaliação de postura; e b) 
Diagrama de Corlett & Bishop (CORLETT e BISHOP, 1976) para avaliação de desconforto. 
Para aplicação do RULA, realizou-se um acompanhamento das principais posturas adotadas 
pela pesquisadora no decorrer de um período de trabalho, realizando registros audiovisuais para 
posterior análise. Já para o Diagrama de Corlett & Bishop, entregou-se à pesquisadora o 
questionário para preenchimento, antes e após o experimento realizado no período de trabalho. 
No que tange aos aspectos cognitivos, optou-se pelo Critical Decision Method (CDM) (KLEIN, 
CALDERWOOD e MACGREGOR, 1989). O CDM corresponde a uma técnica de coleta de 
dados para elicitação de conhecimentos em análise de tarefas cognitivas, baseado na realização 
de entrevistas episódicas relativas às situações críticas ocorridas no trabalho (HOFFMANN, 
1998). O método foi aplicado em duas etapas: na primeira, realizou-se uma entrevista com a 
pesquisadora para identificar um incidente para discussão e construção de uma linha do tempo; 
e, na segunda realizou-se o aprofundamento do mesmo. 
Para análise da insatisfação quanto ao ambiente sonoro, optou-se por usar o aplicativo Decibel 
X - dBA Sonómetro, disponível para análises rápidas através de aplicativo de smartphone, 
buscando averiguar o nível de ruído produzido pelos equipamentos que emitem sons durante os 
experimentos. Compreende-se a limitação da avaliação por este meio, mas para uma avaliação 
mais superficial, com fins exploratórios e didáticos, o recurso disponível era somente através 
dessa ferramenta. 
 
3. Resultados 
3.1 Resultados relacionados à análise de postura 
Para a aplicação do RULA foram escolhidas entre as posturas da pesquisadora durante a 
execução das tarefas as três mais recorrentes e de maior duração: pesagem, pipetagem e 
diluição. Levou-se em consideração na somatória do escore final que a pesquisadora não 
permanece por mais de 10 minutos na mesma posição e utiliza uma carga menor que 2 kg. 
Em relação a execução da tarefa de pesagem demonstrada na Figura 1, a pesquisadora 
encontra-se sentada com os braços apoiados, antebraços em um ângulo maior que 100º, punho 
esquerdo em desvio radial e em pronação, tronco levemente inclinado, pescoço posicionado 
entre 10º/20º e os membros inferiores apoiados na mesma posição, de forma equilibrada. Após 
 
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a aplicação da ferramenta tem-se o score final 3 para a posição descrita acima, considerado o 
nível 2 da tabela de recomendações, sugerindo a investigação da possibilidade de mudanças. É 
importante ressaltar que o processo analisado se trata de uma pesagem de precisão, que requer 
alto nível de concentração e exatidão nas medidas. 
 
 Figura 1 - Execução da tarefa de pesagem 
 
Fonte: Autores (2019) 
 
A Figura 2 corresponde ao processo de pipetagem, no qual é necessário colocar na pipeta 
exatamente a quantia desejada da substância. A pesquisadora permanece em pé, posição 
adotada pela necessidade de manter a pipeta na altura dos olhos durante o processo, com os 
braços em posições distintas visto que a tarefa exige que a pesquisadora eleve um dos ombros 
enquanto seu braço contrário segura a pêra de sucção, os antebraços estão posicionados em um 
ângulo maior que 100º, sendo que o antebraço direito cruza a linha sagital, seu punho direito 
em desvio radial enquanto o esquerdo encontra-se em pronação, o tronco permanece ereto, 
pescoço posicionado entre 0º/10º e os membros inferiores encontram-se apoiados na mesma 
posição, de forma equilibrada. A ferramenta indicou para esta atividade um score final 5, nível 
3 da tabela de recomendações, sugerindo investigar e realizar mudanças rapidamente. 
 
 
 
 
 
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Figura 2 - Execução do processo de pipetagem 
 
Fonte: Autores (2019) 
 
A Figura 3 representa a execução do processo de diluição, sendo necessário pôr no tubo 
exatamente a quantia desejada e, ainda, verificar por meio do menisco se o líquido está na 
quantia adequada. Para tanto, é necessário que o tubo esteja na linha dos olhos e, por esse 
motivo, a pesquisadora permanece abaixada. 
Em relação a execução do processo de diluição, a pesquisadora encontra-se na posição de 
cócoras para que consiga ter uma visão de maior precisão na quantidade inserida no tubo, seus 
braços estão posicionados em abdução, entre um ângulo de 45º/90º, e afastados do corpo, 
ombros elevados para que exista maior estabilidade para a diluição, os antebraços estão 
posicionados em um ângulo maior que 100º, seu punho esquerdo está em pronação enquanto o 
outro encontra-se em desvio radial, seu tronco permanece ereto, pescoço posicionado entre 
0º/10º e os membros inferiores encontram-se apoiados na mesma posição, de forma equilibrada. 
A aplicação do RULA resultou em um score final 5, nível 3 da tabela de recomendações, 
sugerindo investigar a realizar mudanças rapidamente. 
 
 
 
 
 
 
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Figura 3 - Execução do processo de diluição 
 
Fonte: Autores (2019) 
 
3.2 Resultados relacionados à análise de desconforto 
A aplicação do Diagrama de Corlett & Bishop foi realizada através de respostas subjetivas a 
respeito dos respectivos desconfortos sentidos nas regiões do corpo. Preencheu-se o material 
que estrutura a base da ferramenta, no qual marcou-se com um traço vertical sobre a linha de 
cada região do corpo a indicação subjetiva da ocorrência de desconforto, antes e após a 
realização do experimento, como indicado na Figura 4. 
 
Figura 4 - Resultado do preenchimento do diagrama 
 
Fonte: Autores (2019) 
 
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Os membros que tiveram pontuação em relação ao diagrama foram o braço, o punho e a mão 
direita, sendo o punho o de menor intensidade. A partir dos resultados obtidos, plotou-se com 
auxílio do software Microsoft Excel o diagrama de teia, que pode ser visto na Figura 5, 
indicando as áreas de maior desconforto, as quais foram a mão e o braço. Nota-se que tal 
informação é congruente com os resultados obtidos com a ferramenta RULA, nos quais esses 
também foram identificados como pontos de atenção. 
 
Figura 5 - Diagrama com indicação das áreas de maior desconforto 
 
Fonte: Autores (2019) 
 
Além da aplicação do Diagrama de Corlett & Bishop foi medido o desconforto em relação ao 
nível de ruído de dois equipamentos do laboratório. O primeiro foi a bomba, utilizada para 
realizar a separação de substâncias, a qual apresentou uma marca de 83 dB. O segundo, o banho 
ultrassônico, utilizado para limpeza baseada na transformação de energia elétrica em energia 
mecânica, o qual apresentou um nível de ruído correspondente a 100 dB. Este último apresenta 
valor acima do estabelecido na legislação brasileira, considerando uma exposição de 8h. Desse 
modo, é um fator no qual deve-se ter constante atenção no laboratório. 
 
3.3 Resultados relacionados à análise cognitiva 
O uso do CDM como ferramenta de análise cognitiva foi realizado em duas etapas. Na primeira 
foi identificada uma situação com maior poder decisório, que envolve a escolha do material 
adsorvente para remoçãodo flúor da água. Na segunda etapa, foram recolhidas informações 
sobre a rotina de trabalho no laboratório, referentes à situação escolhida para análise. Como 
observa-se na Figura 6, uma linha do tempo foi construída indicando as etapas que constituem 
 
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essa situação decisória, mesmo aquelas que não são realizadas no próprio laboratório por falta 
de equipamentos especializados. Pode-se observar um ponto-chave indicado por uma seta em 
vermelho, que representa o momento de maior poder de decisão a respeito de continuidade do 
projeto. Este ponto é de grande importância para a pesquisa, pois caso os resultados da fase 
anterior sejam positivos, esse será o material utilizado até o final do projeto, constituindo como 
a definição sobre uso do tempo e recursos. 
 
Figura 6 - Linha do tempo 
 
Fonte: Autores (2019) 
 
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A terceira etapa caracterizou-se pelo aprofundamento das atividades e consequentes 
dificuldades que podem ser encontradas. A questão mais importante dentre as etapas descritas 
na linha do tempo é a escolha do material, justamente por tratar-se de uma decisão que envolve 
uma série de requisitos como, por exemplo, um material que esteja disponível no contexto do 
laboratório, e que também seja economicamente viável. Caso isso não ocorra, deve-se procurar 
por materiais novos ou similares. Esse processo envolve uma série de decisões, mas que não 
garantem que o material mais adequado seja encontrado. Além disso, existe uma grande 
responsabilidade em entregar o projeto piloto (resultado final da pesquisa) com o material ideal, 
visto que o mesmo pode apresentar um grande impacto para a universidade e sociedade como 
um todo. 
Na quarta fase hipóteses referentes às decisões tomadas durante as outras etapas foram 
apresentadas. Como objetivo de análise centrava na investigação da estratégia utilizada para 
seguir o processo de pesquisa ou não, bem como a identificação de elementos que pudessem 
impedir seu seguimento, hipóteses relacionadas a não obtenção do resultado desejado, ou a falta 
de recursos financeiros ou humanos para continuidade da pesquisa foram apresentadas. 
Considerou-se como positivos os resultados desses questionamentos já que, mesmo 
apresentando situações adversas, a pesquisadora manteve-se positiva e com soluções 
alternativas para as hipóteses apresentadas. 
 
4. Propostas de melhoria 
As melhorias sugeridas consideram as análises decorrentes das ferramentas utilizadas e seus 
diferentes enfoques, contribuindo de modo abrangente para a melhorias da situação analisada. 
No que tange às questões biomecânicas e posturais, verificou-se que as posturas realizadas 
durante a execução das tarefas analisadas necessitam mudanças a curto e médio prazo, podendo 
ser utilizado como base para melhorias sugestões propostas no documento denominado Pontos 
de Verificação Ergonômica, elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT, 
2018). 
Em relação à execução da tarefa de pesagem, demonstrada na Figura 1, faz-se necessário ajustar 
a altura de operação para cada pesquisador, situando-a no nível dos cotovelos ou um pouco 
mais abaixo. Para tanto, sugere-se o fornecimento de cadeiras reguláveis e com espaldar aos 
 
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pesquisadores, para que se diminuam os riscos de tensão muscular, dor da região da lombar, 
fadiga excessiva, entre outros sintomas. 
Na execução do processo de pipetagem, demonstrado na Figura 2, e do processo de diluição, 
Figura 3, verificou-se a necessidade de correção rápida das posturas adotadas. Neste caso, como 
dois processos distintos ocorrem no mesmo posto de trabalho, sugere-se a substituição da mesa 
atual por uma mesa regulável com a possibilidade de ajuste da altura ideal para a execução de 
cada atividade. Considerando que ambas as atividades são realizadas em pé, é imprescindível a 
garantia de que o pesquisador possa permanecer apoiado sobre ambos os pés, realizando o 
trabalho próximo e diante do próprio corpo. 
Ainda, a atividade de pipetagem, com o uso da pêra de sucção, foi a atividade que apresentou 
maior índice de desconfortos verificados no Corlett & Bishop. Tal ferramenta é usada para 
auxiliar na sucção de líquidos, e demanda da pesquisadora que fique com o braço elevado por 
um tempo considerável enquanto a pressiona. Tal situação só acontece dado ao tempo 
praticamente ininterrupto de tensão muscular dedicado à atividade e às más condições de estado 
da pêra de sucção, a qual demandaria menor esforço da pesquisadora caso fosse substituída por 
uma nova. Dessa forma, segundo o ponto de verificação 29, presente nos Pontos de Verificação 
Ergonômica (OIT, 2018), que trata da inspeção e manutenção regular das ferramentas manuais, 
deve-se inspecionar periodicamente as ferramentas manuais utilizadas pelos pesquisadores, 
visto que, detectando seu mau estado por uma manutenção preventiva, pode-se substituir tal 
ferramenta antes que o pesquisador venha a fazer um esforço que o cause tensão muscular e 
possíveis prejuízos subsequentes. 
Ainda com base nos resultados obtidos com a aplicação do método de Corlett & Bishop, 
identificou-se que os locais onde existe maior desconforto durante a realização de uma das 
etapas das atividades são a mão e o braço direitos. Tais atividades, mesmo não demandando 
uma força considerável, podem ser tidas como riscos ergonômicos justamente pelo esforço 
repetitivo e longa duração que requerem ao serem executadas. Recomenda-se proporcionar 
pausas curtas e frequentes durante trabalhos de precisão contínua, o que se enquadraria, 
também, no uso da pêra de sucção, para que se reduza a fadiga muscular e se garanta o bem-
estar do pesquisador. 
A respeito do ruído foram encontrados níveis altos de pressão sonora, 83 dB para a bomba e 
100 dB para o banho ultrassônico. Conforme a NR 15 (Atividades e Operações Insalubres), 
Anexo I (BRASIL 2017), que especifica os limites de tolerância para ruído contínuo ou 
 
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intermitente, a máxima exposição diária permitida para um nível de 85 dB é oito horas e para 
100 dB uma hora. No laboratório, o tempo de exposição ao ruído dos equipamentos varia de 
acordo com o tipo de experimento que é realizado, podendo variar entre uma hora e oito horas, 
sendo que, nos experimentos que demandam maior tempo as pesquisadoras não precisam 
permanecer no local. 
Dessa forma, sugere-se o uso de equipamentos de proteção individual para proteção auricular. 
Como trata-se de um trabalho que não é realizado diariamente, o protetor auricular do tipo plug 
se encaixa à demanda do laboratório, contudo, deve-se analisar as especificações do produto ao 
adquiri-lo e comparar aos níveis de ruído emitidos pelos equipamentos do laboratório. Como 
trata-se de um ambiente compartilhado, no qual vários pesquisadores podem fazer uso do local 
e de diferentes tipos de equipamentos simultaneamente, outra forma de amenizar os efeitos 
causados pelo ruído é construir barreiras que separem a fonte do ruído do ambiente que o rodeia, 
por exemplo, capelas em torno dos equipamentos, fazendo com que o local seja protegido de 
maneira coletiva.4.1 Aspectos de organização do trabalho 
Visto que o laboratório em que se aplicou o estudo faz parte das instalações de uma instituição 
pública, seria relevante adaptá-lo a receber, ocasionalmente, pesquisadores que possuam 
necessidades especiais, com o objetivo de transformar o local em um ambiente mais inclusivo. 
Dessa forma, sugere-se adequar o laboratório às normas presentes na NBR 9050 (BRASIL, 
2015), as quais regulamentam as condições de acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços 
e equipamentos urbanos. 
Algumas das mudanças necessárias para adaptar o local a receber portadores de necessidades 
especiais seriam o redimensionamento das bancadas de trabalho, alterando sua altura e 
profundidade, de forma que seja possível a aproximação total do cadeirante para realizar as 
tarefas. Somado a isso, deve-se substituir a mesa central da sala por uma menor, de forma que 
libere-se o espaço necessário para a circulação em linha reta e rotação da cadeira de rodas, bem 
como realocar os materiais necessários para a execução dos experimentos, colocando-os junto 
à bancada de trabalho, de forma a respeitar as distâncias máximas ideais para o alcance do 
pesquisador. 
Ademais, o laboratório permite uma flexibilidade muito grande em relação à organização do 
tempo de trabalho. Sendo assim, sugere-se a construção de uma escala para uso do local entre 
 
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os pesquisadores, o que evitaria que dois tipos de equipamentos emitentes de ruídos sejam 
utilizados simultaneamente. Além disso, impediram-se inconvenientes, como, por exemplo, 
duas pessoas que necessitem utilizar o mesmo aparelho concomitantemente, propiciando, dessa 
forma, um ambiente mais confortável, por se tratar de um espaço pequeno. 
Outra maneira de melhorar a organização do trabalho é envolver todos os pesquisadores na 
busca pelo aprimoramento do laboratório, promovendo discussões a respeito dos problemas que 
enfrentam diariamente e como os mesmos podem ser solucionados. Isso faz com que soluções 
simples possam ser encontradas e aumenta a interação e o compartilhamento de ideias entres 
os pesquisadores, proporcionando um local de trabalho mais agradável. 
Por fim, dado que se trata de um laboratório em que são manuseadas diversas substâncias 
químicas, seria importante desenvolver um plano de emergências para assegurar operações de 
emergência corretas, no caso de qualquer tipo de acidente envolvendo substâncias químicas. 
Isso minimizaria as consequências de uma possível situação crítica e preveniria acidentes mais 
sérios. Para isso, deve-se mapear todos possíveis acidentes que possam ocorrer dentro do 
laboratório, elencar as prioridades de ações a serem tomadas em cada situação e realizar 
treinamentos prévios. A fim de auxiliar na elaboração do plano de emergências deve-se 
consultar a NR 15 (ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES) (BRASIL, 2018), Anexo 
XI, que trata de agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e 
inspeção do local de trabalho. 
 
5. Considerações finais 
A partir da realização do presente estudo, conclui-se que os objetivos propostos de analisar as 
demandas ergonômicas em uma atividade de laboratório foi atendido. Aplicaram-se três 
ferramentas ergonômicas, referentes à postura, ao desconforto e a cognição, as quais obtiveram 
resultados imparciais que possibilitaram apresentar sugestões de melhorias em diferentes 
esferas. Por exemplo, para as demandas posturais e de desconforto sugerem alterações de curto 
e médio prazo, como a aquisição de mobiliário regulável, ferramentas auxiliares para a 
realização dos experimentos e equipamentos protetores para ruídos. 
Deve-se enfatizar as melhorias relativas à organização do trabalho, principalmente no que tange 
a acessibilidade do laboratório, organização de escalas e planos de emergências, visto que esses 
pontos são considerados críticos para o local, assegurando, assim, o bem estar dos 
pesquisadores (alunos e professores) e uma maior eficiência dos processos realizados. 
 
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Ressalta-se ainda a importância da aplicação das medidas propostas no estudo, visto que essas 
melhorias geram um impacto na qualidade das pesquisas científicas e projetos realizados no 
laboratório, que consequentemente refletem impactos na sociedade como um todo. 
Por fim, deixa-se como sugestão o desenvolvimento de mais pesquisas relacionadas a demandas 
ergonômicas não somente de laboratórios, como também em demais ambientes de 
universidades públicas, dada a importância que o ensino público apresenta no país. 
 
REFERÊNCIAS 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário, 
espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2015. 
 
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 15. Atividades e operações insalubres. Brasília, 2017. 
 
CIENFUEGOS, F. Segurança no laboratório. Rio de Janeiro: Interciência, 2001. 269p., il. Inclui bibliografia. 
ISBN 8571930570 (broch.). 
 
CORLETT, E. N.; BISHOP, R. P. A Technique for assessing postural discomfort. Ergonomics, v. 19, n. 2, p. 
175-182, 1976. 
 
CORRÊA, V.; BOLLETI, R. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2015. 
CRANDALL, B., KLEN, G., HOFFMAN, R. Working Minds: a Practioner’s Guide to Cognitive Task 
Analysis. The MIT Press, Cambrige. 
GUÉRIN, F.; KERGUELEN, A.; LAVILLE, A.; DANIELLOU, F.; DURAFFOURG, J. Compreender o 
Trabalho para Transformá-lo - A Prática da Ergonomia. São Paulo: Blucher, 2001. 
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