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XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. Análise de demandas ergonômicas em um laboratório de ensino público universitário Allana Miguel Lehnhard (UFSM) allanalenhard@gmail.com Ana Laura Schmidt de Siqueira (UFSM) analauraschmidts@gmail.com Leticia Taina Marczewski (UFSM) marzewskileticia@gmail.com Angela Weber Righi (UFSM) angela.w.righi@ufsm.com Laboratórios com atividades relacionadas a processos químicos podem trazer uma série de riscos a saúde, sendo não somente riscos associados à exposição de substâncias químicas, mas também ergonômicos relacionados às condições de ambiente de trabalho as quais os indivíduos estão submetidos. Ciente do trabalho minucioso e preciso que laboratórios exigem e das contribuições que uma verificação de aspectos ergonômicos pode trazer aos mesmos, realizou-se um estudo dessa temática em um laboratório de ensino de uma universidade pública do Rio Grande do Sul, com o objetivo de identificar e analisar demandas ergonômicas. Para tal, foram utilizadas três ferramentas de avaliação ergonômica: i) RULA - Rapid Upper Limb Assessment para análise de posturas; ii) Diagrama de Corlett & Bishop para análise de desconforto; e, iii) CDM - Critical Decision para análise cognitiva. Mediante os resultados das ferramentas aplicadas, constatou-se que, em relação à postura, as tarefas realizadas necessitam de mudanças a curto e médio prazo. No que tange a análise de desconforto, verificou-se que os membros corporais que apresentam maior índice de desconforto são mão e braço direito. Na análise cognitiva obtiveram-se resultados positivos, indicando adequada carga mental apesar dos processos decisórios significativos pertinente a atividade analisada. Diante dos resultados encontrados foram apresentadas sugestões de melhorias tanto no que diz respeito a adaptação do layout do local e troca de equipamentos, como também referente da organização do trabalho. Palavras-chave: Ergonomia, laboratório de ensino, RULA, Corlett & Bishop, CDM. mailto:analauraschmidts@gmail.com mailto:email@exemplo.com XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 1 1. Introdução Laboratórios em que se realizam processos químicos trazem uma série de riscos à saúde do profissional, não somente riscos químicos associados à exposição a agentes ou substâncias, como também riscos ergonômicos, relacionados às condições de ambiente de trabalho as quais os pesquisadores estão submetidos. Ainda, é considerado um lugar de alto potencial de acidentes, devido a inúmeros fatores, tais como a natureza dos materiais manuseados, que podem ser letais, tóxicos, corrosivos, irritantes ou inflamáveis; aos equipamentos utilizados, que podem expor a temperaturas extremas e radiações; e ao contato com agentes patogênicos (CIENFUEGOS, 2001; OLIVEIRA, 1987). De acordo com Guérin et al (2001), existem muitas disfunções na produção de uma empresa ou serviço e, suas numerosas consequências para a saúde dos trabalhadores, tem origem no desconhecimento das atividades de trabalho dos mesmos. Assim, torna-se ainda mais importante uma correta orientação dos responsáveis ao operador, o direcionando a realizar seu trabalho de forma a alcançar os objetivos da empresa e, ao mesmo tempo, preservar seu estado físico, psíquico e sua vida social. A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), de acordo com Corrêa e Belloti (2015), é uma das formas de intervenção ergonômica no ambiente de trabalho e trata de aspectos físicos, psicológicos e fisiológicos que norteiam as atividades desempenhadas pelo trabalhador, buscando evitar ou sanar problemas que comprometam sua saúde. Nesse contexto, por meio da AET, identifica-se o trabalho, descrição da maneira de operar e seus agravantes, as aptidões exigidas pela função e as habilidades que os trabalhadores já possuem. Verifica-se também fatores como postura, esforço, tomada de decisão e comunicação. Dessa maneira, são compreendidas as condições determinantes relacionadas à organização, como projeto de posto de trabalho, prescrição do trabalho formal, restrição de tempo e aspectos relacionados ao operador, atributos antropométricos, experiências prévias, entre outros (SOUZA, 1994). Dentre os diferentes ambientes de trabalho, os laboratórios universitários são ambientes considerados complexos em função de seus objetivos, destinados ao ensino, pesquisa e extensão, com uma grande variabilidade de frequentadores e procedimentos realizados (HIRATA; MANCINI FILHO, 2002). Desse modo, questões relacionadas à segurança são tão importantes quanto em qualquer outro ambiente laboral. XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 2 Nessa perspectiva, o presente trabalho objetivou realizar uma análise das demandas ergonômicas em um laboratório do curso de Engenharia Química de uma universidade pública do Rio Grande do Sul, com enfoque nas questões biomecânicas e cognitivas. O resultado almejado foram melhorias do bem estar dos envolvidos nas atividades, bem como maior eficiência nos processos realizados. 2. Método de estudo Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa aplicada voltada à aquisição de conhecimentos por meio de visitas a um local que apresenta uma situação específica. Por ter como objetivo uma coleta de dados, entrevistas e posterior análise das informações obtidas, o estudo pode ser definido como exploratório, com abordagem qualitativa. Foi realizado em um laboratório de tecnologia de materiais do curso de Engenharia Química de uma universidade pública do Rio Grande do Sul. Para o aprofundamento de uma situação, foi definido um único projeto entre os vários em andamento no laboratório, relacionado a uma parceria público-privada, com pesquisas voltadas a identificação de uma substância eficiente e economicamente viável para maior qualidade da água potável. Para a execução de tal pesquisa faz-se necessário o teste de diferentes materiais, realizando-se experimentos nos quais se destacam as etapas de pesagem e titulação devido à necessidade de repetição, com duração média de três horas, sempre pela mesma pesquisadora. Esses experimentos podem ser realizados mais de uma vez ao dia, demandando alto nível de concentração, além de constante postura em pé e presença de ruídos contínuos emitidos por equipamentos necessários ao processo. 2.1 Coleta de dados Com o objetivo de obter uma perspectiva do pesquisador e realizar uma análise mais assertiva a respeito das demandas ergonômicas do laboratório, elaborou-se um questionário focado nas condições ergonômicas de trabalho no ambiente laboratorial, tais como temperatura, iluminação, ambiente sonoro e convívio social entre colegas. O questionário é composto por seis perguntas, com respostas na escala Likert, que variam de “muito satisfeito” a “muito insatisfeito”. A partir do resultado deste questionário inicial, que verificou nível de insatisfação em aspectos como ambiente sonoro, equipamentos disponíveis e layout, aliado a observações não XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 3 participantes das atividades realizadas pela pesquisadora, foram selecionadas outras ferramentas para análise, focadas aspectos biomecânicos, a saber: a)Rapid Upper Limb Assessment (RULA) (MCATAMNEY e CORLETT, 1993) para avaliação de postura; e b) Diagrama de Corlett & Bishop (CORLETT e BISHOP, 1976) para avaliação de desconforto. Para aplicação do RULA, realizou-se um acompanhamento das principais posturas adotadas pela pesquisadora no decorrer de um período de trabalho, realizando registros audiovisuais para posterior análise. Já para o Diagrama de Corlett & Bishop, entregou-se à pesquisadora o questionário para preenchimento, antes e após o experimento realizado no período de trabalho. No que tange aos aspectos cognitivos, optou-se pelo Critical Decision Method (CDM) (KLEIN, CALDERWOOD e MACGREGOR, 1989). O CDM corresponde a uma técnica de coleta de dados para elicitação de conhecimentos em análise de tarefas cognitivas, baseado na realização de entrevistas episódicas relativas às situações críticas ocorridas no trabalho (HOFFMANN, 1998). O método foi aplicado em duas etapas: na primeira, realizou-se uma entrevista com a pesquisadora para identificar um incidente para discussão e construção de uma linha do tempo; e, na segunda realizou-se o aprofundamento do mesmo. Para análise da insatisfação quanto ao ambiente sonoro, optou-se por usar o aplicativo Decibel X - dBA Sonómetro, disponível para análises rápidas através de aplicativo de smartphone, buscando averiguar o nível de ruído produzido pelos equipamentos que emitem sons durante os experimentos. Compreende-se a limitação da avaliação por este meio, mas para uma avaliação mais superficial, com fins exploratórios e didáticos, o recurso disponível era somente através dessa ferramenta. 3. Resultados 3.1 Resultados relacionados à análise de postura Para a aplicação do RULA foram escolhidas entre as posturas da pesquisadora durante a execução das tarefas as três mais recorrentes e de maior duração: pesagem, pipetagem e diluição. Levou-se em consideração na somatória do escore final que a pesquisadora não permanece por mais de 10 minutos na mesma posição e utiliza uma carga menor que 2 kg. Em relação a execução da tarefa de pesagem demonstrada na Figura 1, a pesquisadora encontra-se sentada com os braços apoiados, antebraços em um ângulo maior que 100º, punho esquerdo em desvio radial e em pronação, tronco levemente inclinado, pescoço posicionado entre 10º/20º e os membros inferiores apoiados na mesma posição, de forma equilibrada. Após XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 4 a aplicação da ferramenta tem-se o score final 3 para a posição descrita acima, considerado o nível 2 da tabela de recomendações, sugerindo a investigação da possibilidade de mudanças. É importante ressaltar que o processo analisado se trata de uma pesagem de precisão, que requer alto nível de concentração e exatidão nas medidas. Figura 1 - Execução da tarefa de pesagem Fonte: Autores (2019) A Figura 2 corresponde ao processo de pipetagem, no qual é necessário colocar na pipeta exatamente a quantia desejada da substância. A pesquisadora permanece em pé, posição adotada pela necessidade de manter a pipeta na altura dos olhos durante o processo, com os braços em posições distintas visto que a tarefa exige que a pesquisadora eleve um dos ombros enquanto seu braço contrário segura a pêra de sucção, os antebraços estão posicionados em um ângulo maior que 100º, sendo que o antebraço direito cruza a linha sagital, seu punho direito em desvio radial enquanto o esquerdo encontra-se em pronação, o tronco permanece ereto, pescoço posicionado entre 0º/10º e os membros inferiores encontram-se apoiados na mesma posição, de forma equilibrada. A ferramenta indicou para esta atividade um score final 5, nível 3 da tabela de recomendações, sugerindo investigar e realizar mudanças rapidamente. XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 5 Figura 2 - Execução do processo de pipetagem Fonte: Autores (2019) A Figura 3 representa a execução do processo de diluição, sendo necessário pôr no tubo exatamente a quantia desejada e, ainda, verificar por meio do menisco se o líquido está na quantia adequada. Para tanto, é necessário que o tubo esteja na linha dos olhos e, por esse motivo, a pesquisadora permanece abaixada. Em relação a execução do processo de diluição, a pesquisadora encontra-se na posição de cócoras para que consiga ter uma visão de maior precisão na quantidade inserida no tubo, seus braços estão posicionados em abdução, entre um ângulo de 45º/90º, e afastados do corpo, ombros elevados para que exista maior estabilidade para a diluição, os antebraços estão posicionados em um ângulo maior que 100º, seu punho esquerdo está em pronação enquanto o outro encontra-se em desvio radial, seu tronco permanece ereto, pescoço posicionado entre 0º/10º e os membros inferiores encontram-se apoiados na mesma posição, de forma equilibrada. A aplicação do RULA resultou em um score final 5, nível 3 da tabela de recomendações, sugerindo investigar a realizar mudanças rapidamente. XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 6 Figura 3 - Execução do processo de diluição Fonte: Autores (2019) 3.2 Resultados relacionados à análise de desconforto A aplicação do Diagrama de Corlett & Bishop foi realizada através de respostas subjetivas a respeito dos respectivos desconfortos sentidos nas regiões do corpo. Preencheu-se o material que estrutura a base da ferramenta, no qual marcou-se com um traço vertical sobre a linha de cada região do corpo a indicação subjetiva da ocorrência de desconforto, antes e após a realização do experimento, como indicado na Figura 4. Figura 4 - Resultado do preenchimento do diagrama Fonte: Autores (2019) XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 7 Os membros que tiveram pontuação em relação ao diagrama foram o braço, o punho e a mão direita, sendo o punho o de menor intensidade. A partir dos resultados obtidos, plotou-se com auxílio do software Microsoft Excel o diagrama de teia, que pode ser visto na Figura 5, indicando as áreas de maior desconforto, as quais foram a mão e o braço. Nota-se que tal informação é congruente com os resultados obtidos com a ferramenta RULA, nos quais esses também foram identificados como pontos de atenção. Figura 5 - Diagrama com indicação das áreas de maior desconforto Fonte: Autores (2019) Além da aplicação do Diagrama de Corlett & Bishop foi medido o desconforto em relação ao nível de ruído de dois equipamentos do laboratório. O primeiro foi a bomba, utilizada para realizar a separação de substâncias, a qual apresentou uma marca de 83 dB. O segundo, o banho ultrassônico, utilizado para limpeza baseada na transformação de energia elétrica em energia mecânica, o qual apresentou um nível de ruído correspondente a 100 dB. Este último apresenta valor acima do estabelecido na legislação brasileira, considerando uma exposição de 8h. Desse modo, é um fator no qual deve-se ter constante atenção no laboratório. 3.3 Resultados relacionados à análise cognitiva O uso do CDM como ferramenta de análise cognitiva foi realizado em duas etapas. Na primeira foi identificada uma situação com maior poder decisório, que envolve a escolha do material adsorvente para remoçãodo flúor da água. Na segunda etapa, foram recolhidas informações sobre a rotina de trabalho no laboratório, referentes à situação escolhida para análise. Como observa-se na Figura 6, uma linha do tempo foi construída indicando as etapas que constituem XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 8 essa situação decisória, mesmo aquelas que não são realizadas no próprio laboratório por falta de equipamentos especializados. Pode-se observar um ponto-chave indicado por uma seta em vermelho, que representa o momento de maior poder de decisão a respeito de continuidade do projeto. Este ponto é de grande importância para a pesquisa, pois caso os resultados da fase anterior sejam positivos, esse será o material utilizado até o final do projeto, constituindo como a definição sobre uso do tempo e recursos. Figura 6 - Linha do tempo Fonte: Autores (2019) XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 9 A terceira etapa caracterizou-se pelo aprofundamento das atividades e consequentes dificuldades que podem ser encontradas. A questão mais importante dentre as etapas descritas na linha do tempo é a escolha do material, justamente por tratar-se de uma decisão que envolve uma série de requisitos como, por exemplo, um material que esteja disponível no contexto do laboratório, e que também seja economicamente viável. Caso isso não ocorra, deve-se procurar por materiais novos ou similares. Esse processo envolve uma série de decisões, mas que não garantem que o material mais adequado seja encontrado. Além disso, existe uma grande responsabilidade em entregar o projeto piloto (resultado final da pesquisa) com o material ideal, visto que o mesmo pode apresentar um grande impacto para a universidade e sociedade como um todo. Na quarta fase hipóteses referentes às decisões tomadas durante as outras etapas foram apresentadas. Como objetivo de análise centrava na investigação da estratégia utilizada para seguir o processo de pesquisa ou não, bem como a identificação de elementos que pudessem impedir seu seguimento, hipóteses relacionadas a não obtenção do resultado desejado, ou a falta de recursos financeiros ou humanos para continuidade da pesquisa foram apresentadas. Considerou-se como positivos os resultados desses questionamentos já que, mesmo apresentando situações adversas, a pesquisadora manteve-se positiva e com soluções alternativas para as hipóteses apresentadas. 4. Propostas de melhoria As melhorias sugeridas consideram as análises decorrentes das ferramentas utilizadas e seus diferentes enfoques, contribuindo de modo abrangente para a melhorias da situação analisada. No que tange às questões biomecânicas e posturais, verificou-se que as posturas realizadas durante a execução das tarefas analisadas necessitam mudanças a curto e médio prazo, podendo ser utilizado como base para melhorias sugestões propostas no documento denominado Pontos de Verificação Ergonômica, elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2018). Em relação à execução da tarefa de pesagem, demonstrada na Figura 1, faz-se necessário ajustar a altura de operação para cada pesquisador, situando-a no nível dos cotovelos ou um pouco mais abaixo. Para tanto, sugere-se o fornecimento de cadeiras reguláveis e com espaldar aos XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 10 pesquisadores, para que se diminuam os riscos de tensão muscular, dor da região da lombar, fadiga excessiva, entre outros sintomas. Na execução do processo de pipetagem, demonstrado na Figura 2, e do processo de diluição, Figura 3, verificou-se a necessidade de correção rápida das posturas adotadas. Neste caso, como dois processos distintos ocorrem no mesmo posto de trabalho, sugere-se a substituição da mesa atual por uma mesa regulável com a possibilidade de ajuste da altura ideal para a execução de cada atividade. Considerando que ambas as atividades são realizadas em pé, é imprescindível a garantia de que o pesquisador possa permanecer apoiado sobre ambos os pés, realizando o trabalho próximo e diante do próprio corpo. Ainda, a atividade de pipetagem, com o uso da pêra de sucção, foi a atividade que apresentou maior índice de desconfortos verificados no Corlett & Bishop. Tal ferramenta é usada para auxiliar na sucção de líquidos, e demanda da pesquisadora que fique com o braço elevado por um tempo considerável enquanto a pressiona. Tal situação só acontece dado ao tempo praticamente ininterrupto de tensão muscular dedicado à atividade e às más condições de estado da pêra de sucção, a qual demandaria menor esforço da pesquisadora caso fosse substituída por uma nova. Dessa forma, segundo o ponto de verificação 29, presente nos Pontos de Verificação Ergonômica (OIT, 2018), que trata da inspeção e manutenção regular das ferramentas manuais, deve-se inspecionar periodicamente as ferramentas manuais utilizadas pelos pesquisadores, visto que, detectando seu mau estado por uma manutenção preventiva, pode-se substituir tal ferramenta antes que o pesquisador venha a fazer um esforço que o cause tensão muscular e possíveis prejuízos subsequentes. Ainda com base nos resultados obtidos com a aplicação do método de Corlett & Bishop, identificou-se que os locais onde existe maior desconforto durante a realização de uma das etapas das atividades são a mão e o braço direitos. Tais atividades, mesmo não demandando uma força considerável, podem ser tidas como riscos ergonômicos justamente pelo esforço repetitivo e longa duração que requerem ao serem executadas. Recomenda-se proporcionar pausas curtas e frequentes durante trabalhos de precisão contínua, o que se enquadraria, também, no uso da pêra de sucção, para que se reduza a fadiga muscular e se garanta o bem- estar do pesquisador. A respeito do ruído foram encontrados níveis altos de pressão sonora, 83 dB para a bomba e 100 dB para o banho ultrassônico. Conforme a NR 15 (Atividades e Operações Insalubres), Anexo I (BRASIL 2017), que especifica os limites de tolerância para ruído contínuo ou XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 11 intermitente, a máxima exposição diária permitida para um nível de 85 dB é oito horas e para 100 dB uma hora. No laboratório, o tempo de exposição ao ruído dos equipamentos varia de acordo com o tipo de experimento que é realizado, podendo variar entre uma hora e oito horas, sendo que, nos experimentos que demandam maior tempo as pesquisadoras não precisam permanecer no local. Dessa forma, sugere-se o uso de equipamentos de proteção individual para proteção auricular. Como trata-se de um trabalho que não é realizado diariamente, o protetor auricular do tipo plug se encaixa à demanda do laboratório, contudo, deve-se analisar as especificações do produto ao adquiri-lo e comparar aos níveis de ruído emitidos pelos equipamentos do laboratório. Como trata-se de um ambiente compartilhado, no qual vários pesquisadores podem fazer uso do local e de diferentes tipos de equipamentos simultaneamente, outra forma de amenizar os efeitos causados pelo ruído é construir barreiras que separem a fonte do ruído do ambiente que o rodeia, por exemplo, capelas em torno dos equipamentos, fazendo com que o local seja protegido de maneira coletiva.4.1 Aspectos de organização do trabalho Visto que o laboratório em que se aplicou o estudo faz parte das instalações de uma instituição pública, seria relevante adaptá-lo a receber, ocasionalmente, pesquisadores que possuam necessidades especiais, com o objetivo de transformar o local em um ambiente mais inclusivo. Dessa forma, sugere-se adequar o laboratório às normas presentes na NBR 9050 (BRASIL, 2015), as quais regulamentam as condições de acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Algumas das mudanças necessárias para adaptar o local a receber portadores de necessidades especiais seriam o redimensionamento das bancadas de trabalho, alterando sua altura e profundidade, de forma que seja possível a aproximação total do cadeirante para realizar as tarefas. Somado a isso, deve-se substituir a mesa central da sala por uma menor, de forma que libere-se o espaço necessário para a circulação em linha reta e rotação da cadeira de rodas, bem como realocar os materiais necessários para a execução dos experimentos, colocando-os junto à bancada de trabalho, de forma a respeitar as distâncias máximas ideais para o alcance do pesquisador. Ademais, o laboratório permite uma flexibilidade muito grande em relação à organização do tempo de trabalho. Sendo assim, sugere-se a construção de uma escala para uso do local entre XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 12 os pesquisadores, o que evitaria que dois tipos de equipamentos emitentes de ruídos sejam utilizados simultaneamente. Além disso, impediram-se inconvenientes, como, por exemplo, duas pessoas que necessitem utilizar o mesmo aparelho concomitantemente, propiciando, dessa forma, um ambiente mais confortável, por se tratar de um espaço pequeno. Outra maneira de melhorar a organização do trabalho é envolver todos os pesquisadores na busca pelo aprimoramento do laboratório, promovendo discussões a respeito dos problemas que enfrentam diariamente e como os mesmos podem ser solucionados. Isso faz com que soluções simples possam ser encontradas e aumenta a interação e o compartilhamento de ideias entres os pesquisadores, proporcionando um local de trabalho mais agradável. Por fim, dado que se trata de um laboratório em que são manuseadas diversas substâncias químicas, seria importante desenvolver um plano de emergências para assegurar operações de emergência corretas, no caso de qualquer tipo de acidente envolvendo substâncias químicas. Isso minimizaria as consequências de uma possível situação crítica e preveniria acidentes mais sérios. Para isso, deve-se mapear todos possíveis acidentes que possam ocorrer dentro do laboratório, elencar as prioridades de ações a serem tomadas em cada situação e realizar treinamentos prévios. A fim de auxiliar na elaboração do plano de emergências deve-se consultar a NR 15 (ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES) (BRASIL, 2018), Anexo XI, que trata de agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e inspeção do local de trabalho. 5. Considerações finais A partir da realização do presente estudo, conclui-se que os objetivos propostos de analisar as demandas ergonômicas em uma atividade de laboratório foi atendido. Aplicaram-se três ferramentas ergonômicas, referentes à postura, ao desconforto e a cognição, as quais obtiveram resultados imparciais que possibilitaram apresentar sugestões de melhorias em diferentes esferas. Por exemplo, para as demandas posturais e de desconforto sugerem alterações de curto e médio prazo, como a aquisição de mobiliário regulável, ferramentas auxiliares para a realização dos experimentos e equipamentos protetores para ruídos. Deve-se enfatizar as melhorias relativas à organização do trabalho, principalmente no que tange a acessibilidade do laboratório, organização de escalas e planos de emergências, visto que esses pontos são considerados críticos para o local, assegurando, assim, o bem estar dos pesquisadores (alunos e professores) e uma maior eficiência dos processos realizados. XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 13 Ressalta-se ainda a importância da aplicação das medidas propostas no estudo, visto que essas melhorias geram um impacto na qualidade das pesquisas científicas e projetos realizados no laboratório, que consequentemente refletem impactos na sociedade como um todo. Por fim, deixa-se como sugestão o desenvolvimento de mais pesquisas relacionadas a demandas ergonômicas não somente de laboratórios, como também em demais ambientes de universidades públicas, dada a importância que o ensino público apresenta no país. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 15. Atividades e operações insalubres. Brasília, 2017. CIENFUEGOS, F. Segurança no laboratório. Rio de Janeiro: Interciência, 2001. 269p., il. Inclui bibliografia. ISBN 8571930570 (broch.). CORLETT, E. N.; BISHOP, R. P. A Technique for assessing postural discomfort. Ergonomics, v. 19, n. 2, p. 175-182, 1976. CORRÊA, V.; BOLLETI, R. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2015. CRANDALL, B., KLEN, G., HOFFMAN, R. Working Minds: a Practioner’s Guide to Cognitive Task Analysis. The MIT Press, Cambrige. 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