Buscar

Reforma Social ou Revolução? - Crítica de Rosa Luxemburgo ao Revisionismo Reformista

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
Reforma social ou revolução? – o alcance e os limites da democracia política burguesa em 
Rosa Luxemburgo1 
 Aislan Bertolucci2 
Resumo: O objetivo do presente artigo é apreender a crítica realizada por Rosa Luxemburgo ao 
revisionismo reformista de Eduard Bernstein em “Reforma Social ou Revolução?”, bem como 
aos limites da democracia sob a vertente liberal. Acreditamos que é nesse primoroso texto de 
1899, de combate ao revisionismo clássico, que surgem os primeiros contornos da crítica da 
autora sobre o alcance e, principalmente, os limites da democracia burguesa para a 
movimentação da classe proletária na fase imperialista do capitalismo. 
Palavras-chave: Reforma; Revolução; Democracia 
Abstract: The purpose of this article is to understand the criticism made by Rosa Luxemburgo 
to the reformist revisionism of Eduard Bernstein in “Social Reformation or Revolution?”, as 
well as the limits of liberal democracy. We believe that it is in this exquisite text of 1899, to 
combat classical revisionism, that arise the first contours of the criticism of the Marxist author 
on scope and, mainly, the limits of bourgeois democracy to the movement of the proletarian 
class in the imperialist phase of capitalism. 
Key-words: Reform; Revolution; Democracy 
Introdução 
Rosa Luxemburgo ao destacar os elementos que fundamentariam a sua concepção de 
socialismo – isto é, enquanto processo revolucionário de ruptura e superação da legalidade 
institucional burguesa –, acabaria também por destacar a importante distinção entre a forma e, 
sobretudo, o conteúdo da democracia sob a perspectiva socialista daquela da perspectiva liberal3. 
Tal distinção é importante, pois, caracteriza no pensamento da autora a relação entre democracia 
e socialismo. 
 
1 O presente artigo é parte integrante da discussão presente na dissertação de mestrado que estamos 
desenvolvendo sob a orientação do prof. Dr. Geraldo Magella Neres, intitulada: O conceito de democracia no 
pensamento de Rosa Luxemburgo. 
2 Mestrando do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. 
3 Rosa Luxemburgo nasceu em 1871 na cidade de Zamosc na Polônia que, na época, estava sob a dominação 
da Rússia tzarista. Para fugir das perseguições políticas devido sua ativa participação no movimento operário 
polonês, em 1888, Rosa é obrigada a refugiar-se na Suíça. Em 1893 colabora na fundação do partido social-
democrata polonês. Em Zurique frequenta a universidade defendendo, em 1897, sua tese de doutorado com o 
título “O desenvolvimento industrial na Polônia”. Em 1898 obtém a cidadania alemã por meio de um casamento 
de fachada com Gustav Lübeck, ingressando assim, no partido social-democrata alemão. (LOUREIRO, 2005). 
2 
 
Destarte, diferentemente da sociedade burguesa, na qual o espaço democrático e a 
movimentação das massas proletárias estão condicionadas à disciplina e determinações da 
relação antagônica entre capital e trabalho, no socialismo a concepção de democracia 
desenvolvida por Rosa Luxemburgo está condicionalmente atrelada à sua concepção de espaço 
público proletário, no qual se efetivaria – por meio da práxis política revolucionária – o 
exercício cotidiano de construção da autodeterminação de classe das massas subalternas na 
busca pela superação da sociabilidade capitalista e na criação de um renovado protagonismo 
proletário4. 
Dito isso, o objetivo do presente artigo é apreender um capítulo importante da história 
do marxismo no âmbito do processo de crítica e refundação do materialismo dialético de Marx 
e Engels (DEL ROIO, 2005) realizado por Rosa Luxemburgo. A marxista polonesa ao se dirigir 
criticamente ao revisionismo reformista de Eduard Bernstein e, consequentemente, aos próprios 
limites da democracia sob a vertente liberal, acabaria por resgatar categorias centrais do 
pensamento de Marx e Engels que, no intento revisionista de Bernstein, haviam sido 
descartados5. 
Portanto, para os objetivos do presente artigo, nos debruçaremos, principalmente, sobre 
o texto de 1899 da autora, qual seja Reforma social ou Revolução?, publicado pela primeira vez 
pelo órgão de imprensa social-democrata Leipziger Volkszeitung. É nesse primoroso texto de 
combate ao revisionismo clássico que, consequentemente, surgem os primeiros contornos da 
crítica da autora marxista ao alcance e, principalmente, aos limites da democracia burguesa 
conformados na crítica sobre a oposição entre reforma social e a revolução estabelecida por 
Eduard Bernstein no interior do movimento social-democrata alemão. 
Como veremos nas linhas que seguem, a marxista polonesa não só assinalaria os limites 
e constrangimentos da democracia sob as rédeas do liberalismo para o avanço do movimento 
socialista, como também (re)afirmaria as premissas revolucionárias do pensamento de Marx e 
Engels e, portanto, do próprio movimento proletário alemão e internacional diante do 
 
4 Os fundamentos do espaço público proletário também são desenvolvidos por Oskar Negt. Cf nossa 
bibliografia. 
5 A importância do texto inaugural de Rosa Luxemburgo no interior da social-democracia alemã, no que tange à sua 
incidência no debate sobre as diretrizes do movimento operário e socialista internacional, tomaria as proporções do 
movimento de refundação comunista do século XX conforme sugere Marcos Del Roio (2005, p.19). Segundo ainda 
o autor, Rosa Luxemburgo expressaria, juntamente com Lenin, a primeira fase de refundação comunista ao resgatar 
o materialismo dialético de Marx na crítica ao imperialismo e suas consequências para a luta socialista. Já a segunda 
fase da refundação comunista estaria presente em Gramsci e Lukács. 
3 
 
reformismo proposto pelo revisionismo do teórico e dirigente social-democrata alemão, Eduard 
Bernstein. 
1. Bernstein-debatte – a crítica ao revisionismo e a democracia liberal em Rosa 
Luxemburgo 
Já no primeiro momento de seu ingresso no partido social-democrata alemão (SPD), 
Rosa Luxemburgo se envolve num intenso e importante debate que traria importantes 
consequências teóricas e práticas para o movimento operário e socialista. 
Eduard Bernstein, um importante dirigente teórico da social-democracia alemã, 
publicara entre os anos de 1896-1898 uma coletânea de artigos na Die Neue Zeit (revista teórica 
do partido alemão) intitulados “Problemas do Socialismo” e, que mais tarde, seriam 
desenvolvidos e condensados em seu livro “As premissas do socialismo e as tarefas da social-
democracia”6. Amigo íntimo de Engels, Bernstein acabaria por propor – logo após a morte 
do primeiro – uma rígida revisão na teoria marxista, pois, acreditava que algumas das 
categorias conceituais da teoria dos fundadores do socialismo científico estavam em 
descompasso com a realidade social vivida. Com isso, o social-democrata esperava atualizar o 
pensamento de Marx e Engels, tese, como veremos, desacreditada por Rosa Luxemburgo7. 
Os resultados dessa empreitada revisionista, levada a termo por Bernstein, seria apontado 
por Rosa Luxemburgo como desastrosos e desviantes dos pressupostos básicos do socialismo 
científico, um projeto pequeno-burguês de esvaziamento dos objetivos e da lógica processual 
do movimento operário e socialista ligados à teoria de Marx e Engels e, tal como o 
anarquismo, deveria ser combatido. 
Bernstein, por outro lado, estava convencido em suas observações de que o avanço e o 
desenvolvimento da sociedade capitalista confirmariam sua tese na capacidade cada vez maior 
de regeneração e adaptação conjuntural do sistema do capital frente às suas próprias crises. 
(BERNSTEIN, 1997). Em uma palavra: Bernstein negaria o postulado do colapso do 
capitalismo, ou mesmo a necessidade deseu definhamento para a conformação de uma 
 
6 Este texto fora traduzido para o português com o título de Socialismo evolucionário. Cf. nossa bibliografia. 
7 Bernstein e a ala reformista do partido haviam realizado um exercício de leitura e edição fragmentária do 
“Prefácio” de 1895 de Engels ao texto de Marx, “As Lutas de classe na França de 1848 a 1850”. Tal leitura 
censurava Engels no que se referia à sua defesa da luta revolucionária, identificando apenas a sua abordagem 
sobre a importância, naquele momento, da luta parlamentar. O curioso fica por conta da insistência de Bernstein 
em apoiar sua tese revisionista sobre a leitura deturpada do texto de Engels, não obstante os protestos do próprio 
Engels com tal exposição fragmentária de seu texto de 1895. Posteriormente, o texto de Engels é publicado na 
íntegra por Kautsky. 
4 
 
sociedade humana emancipada, uma sociedade sem classes, livre das determinações das relações 
sociais de mercado. 
Tal assertiva, segundo Rosa Luxemburgo, traria consequências estranhas ao próprio 
movimento de construção do socialismo, visto que “sem a derrocada do capitalismo, a 
expropriação do capitalismo é impossível”, ou seja, as relações sociais de produção capitalista 
só serão superadas com o próprio desmoronamento do sistema capitalista8. (LUXEMBURGO, 
1986, p.111.) 
Entretanto, para o teórico social-democrata alemão, as crises cíclicas apontadas por Marx 
– e, endossadas por Rosa Luxemburgo – como premissas da deterioração sistêmica do capital 
seriam cada vez menos presentes na realidade social concreta. Portanto, Bernstein não acreditava 
na derrocada do sistema capitalista devido suas contradições internas, pelo contrário, sua aposta 
era na revitalização do mesmo, não vendo aí, nenhuma contradição para o avanço do 
socialismo9. 
Se, por um lado, em sua visão desenvolvimentista, Bernstein (1997), apostava na 
flexibilidade e poder de adaptação do capitalismo através, por exemplo, do sistema de crédito e 
fusão de empresas capitalistas como conditio sine qua non para a superação de possíveis crises 
que, segundo o autor, cada vez mais se tornariam minguadas, por outro lado, e, contrariando tal 
premissa bernsteiniana, Rosa Luxemburgo afirmaria que o sistema de crédito e a fusão de 
empresas capitalistas (monopólios) longe estariam de eliminar (mesmo que gradualmente) 
as contradições do sistema. Suas contradições anárquicas se aguçariam sendo refletidas nas 
 
8 A perspectiva do colapso do capitalismo em Rosa Luxemburgo, está presente tanto em seu texto “Reforma 
social ou Revolução?”, quanto em outros textos posteriores, tais como: “Acumulação do capital” de 1913. 
Entretanto, embora Rosa Luxemburgo apontasse no sentido da inevitabilidade histórica do socialismo, não 
militava na ala que ficou conhecida como economicismo vulgar marxista. Rosa aposta na relação dialética 
entre fatores objetivos e subjetivos na conformação da possibilidade revolucionária, e não em sua relação 
mecânica. Textos como “Greve de massas, partidos e sindicatos” (1906), sinalizariam para o aspecto subjetivo 
do processo revolucionário. Mesmo no texto “Reforma social ou Revolução?”, é possível evidenciar essa 
mesma relação dialética entre momento objetivo e subjetivo, como fica evidente na passagem sobre a 
importante tarefa teórica e prática da social-democracia: “É evidente que a tática social-democrata não consiste 
em esperar o ponto extremo das contradições capitalistas para que se produza uma mutação revolucionária da 
situação. Pelo contrário, a essência da tática revolucionaria consiste em reconhecer a tendência do desenvolvimento 
e daí transpor as suas consequências ultimas para a luta política.” (LUXEMBURGO, 1986, p. 67). Posteriormente, 
com a adesão da social-democracia e das massas populares aos imperativos da 1º guerra imperialista, Rosa 
expressaria na noção “socialismo ou barbárie” desenvolvida na brochura Junius de 1915, que o socialismo passa 
a ser uma possibilidade real e não um fatalismo histórico-linear. 
9 Segundo Loureiro (2005, p. 15) “O crescimento relativamente pacífico do capitalismo alemão e a conquista 
de maiores liberdades democráticas propiciaram um avanço eleitoral sem precedentes para a social-
democracia”. Esse crescimento destacado por Loureiro iria influenciar a fundamentação da perspectiva 
reformista de Bernstein. 
5 
 
crises de superprodução e todas as consequências daí advindas no que se refere a relação já 
antagônica entre capital e trabalho. (LUXEMBURGO, 1986) 
Dessa forma, Bernstein atribuía como tarefa da social-democracia, a implementação de 
políticas que consolidassem a adaptação e a democratização do sistema do capital num processo 
que elevaria, segundo em seu entendimento, a condição sócio-econômica do trabalhador 
comum. Com isso, Bernstein apontava para o processo decrescente de proletarização com 
consequências importantes, segundo ainda o autor, tanto na configuração social como no 
processo de luta de classes que, gradualmente, seria atenuada. 
Loureiro (2005, p. 15) exemplifica de forma clara as premissas revisionistas do teórico 
da social-democracia alemã: 
Bernstein apregoava que o desenvolvimento do capitalismo não levaria à 
monopolização crescente da economia, mas à sua democratização, com o aumento do 
número de proprietários via introdução das sociedades por ações. Essa tendência 
produziria um fortalecimento das classes médias, eliminando as previsões 
‘catastróficas’ de Marx sobre o choque inevitável entre burgueses e proletários. Por 
isso Bernstein decidiu ‘revisar’ as teorias de Marx. (Grifos do original) 
 
Numa palavra: a sentença de Bernstein não somente colocava em xeque a tese marxista 
do acirramento dos antagonismos de classe presente, por exemplo, no Manifesto do partido 
comunista de 1848 de Marx e Engels, como também fundamentava o caráter social-reformista 
e não revolucionário da prática sindical e social-democrata. 
É contra essa desvirtuação e esvaziamento da teoria e prática do socialismo científico, 
levada a termo por Bernstein e pelo campo majoritário do partido socail-democrata alemão, que 
contava com grande influência na Segunda Internacional Socialista, que insurge Rosa 
Luxemburgo10. 
 Demonstrando preocupação e urgência em combater tal desvio teórico pequeno-burguês 
no interior do movimento social-democrata, Rosa Luxemburgo, a 2 de julho de 1898, redige 
uma carta a Leo Jogiches11. O conteúdo da carta é expressivo de sua inquietação e da importância 
imensurável que atribuía a tal empreendimento, como fica evidenciado em seu plano de trabalho: 
Agora o mais importante – Bernstein. Consegui ter uma ideia boa a respeito do 
conjunto do artigo, porém nem por isso está melhor, porque vejo enormes dificuldades. 
Tenho já um plano excelente. Há dois problemas difíceis: 1) escrever sobre a crise; 2) 
demonstrar de modo inequívoco que o capitalismo fracassará. É indispensável prová-
 
10 Era o partido social-democrata alemão quem na verdade ditava as políticas e ações da Segunda Internacional 
para seus associados devido ao seu prestígio e influência sobre a organização. Era o principal partido dirigente. 
11 Rosa Luxemburgo conhece Leo Jogiches em 1890 quando de sua estada na Suíça. Segundo Loureiro (2005) 
o revolucionário lituânio teve grande influência sobre o pensamento político de Luxemburgo. Além de 
parceiros de militância política, a afeição entre os dois militantes se dava também no âmbito privado, já que 
foram parceiros amorosos: Segundo Loureiro, “O relacionamento amoroso dura 15 anos, mas o relacionamento 
político vai até o fim da vida” (LOUREIRO, 2005, p.40) 
6 
 
lo, mas isto significa escrever concisamente um novo argumento para o socialismo 
cientifico. Ajuda-me pelo amor de Deus, ajuda-me. A rapidezé essencial porque 1) se 
alguém se adianta a nós, perde-se todo o trabalho; 2) porque o acabamento toma muito 
tempo. Começamos bem. As notas que escrevi em Zurique são a massa (contudo só 
meio assada) de que precisamos – se soubesse o que escrever, a forma aí então se 
delinearia, sinto-o em meus ossos. Acho-o tão importante, daria metade de minha vida 
por esse artigo (LUXEMBURGO, 1983, p.81) 
 
 Eduard Bernstein na sua pretensão de “revisar algumas” das teses de Marx e Engels que, 
como vimos linhas acima, o autor terminantemente julgava por demais abstratas e, em 
descompasso com a realidade social em profunda transformação, evolução e prosperidade, 
acabaria por endossar teoricamente a prática que há muito vinha dominando o partido social-
democrata alemão, ou seja, se no plano das intenções e do discurso o partido social-democrata 
alemão (SPD) se apresentava fiel à teoria do socialismo revolucionário, por outro lado, em 
sua prática cotidiana, cada vez mais se rendia à legalidade burguesa. (GERAS, 1978). Sobre 
tal aspecto a própria Rosa Luxemburgo é incisiva ao comentar que: 
se considerarmos algumas manifestações esporádicas que aparecem à luz do dia 
(...) as tendências oportunistas no interior do nosso movimento vêm de longe. Mas 
somente em 1890 se esboçou uma tendência declarada e única nessa via” 
(LUXEMBURGO, 1986, p. 117) 
 
Na acepção de Bernstein, para que a classe trabalhadora desfrutasse de melhores 
condições de vida advindas do desenvolvimento capitalista, isto é, de prosperidade social e 
econômica, os movimentos social-democrata e sindical, deveriam implementar planos de 
reformas graduais dentro da legalidade institucional burguesa com o objetivo de garantir não só 
as ações políticas e econômicas de assistência ao trabalhador, como também a democratização 
do próprio sistema capitalista12. 
Mas, se por um lado, Bernstein acabava por “privilegiar a luta parlamentar e sindical” 
que serviriam, em sua compreensão, de “instrumento privilegiado para conduzir a sociedade 
capitalista através de reformas econômicas [e políticas], ao socialismo” (LOUREIRO, 2005, 
p.15-16), por outro, Rosa Luxemburgo não deixava de extrair maiores consequências do 
argumento de Bernstein. Sobre o movimento sindical, por exemplo, embora a autora buscasse 
demarcar a importância potencial que o seu papel político-pedagógico poderia desenvolver junto 
a classe na perspectiva do avanço do processo socialista, reconhecia, por sua vez, a 
dificuldade de sua atuação no interior da ordem capitalista apontando com isso os limites 
 
12 Importante destacar que Bernstein via no movimento sindical e cooperativo a roda propulsora da passagem 
gradual do capitalismo para o socialismo. O autor acreditava que o controle social da classe trabalhadora se 
daria pelo movimento democratizante dos sindicatos e cooperativas. O papel da social-democracia seria de 
criar mecanismos para tal avanço. 
7 
 
precisos do regime democrático burguês. Neste sentido os sindicatos estariam reduzidos a mero 
mecanismos de regulação e extensão do programa reformista a serviço do capital. 
A atividade dos sindicatos reduz-se, essencialmente, à luta para o aumento dos salários 
e para a redução do tempo de trabalho, procura unicamente ter uma influência 
reguladora sobre a exploração capitalista, segundo as flutuações do mercado; toda a 
intervenção no processo de produção é-lhe, pela própria natureza das coisas, interdita. 
(LUXEMBURGO, 1986, p.48) 
 
Sobre o partido social-democrata, embora Luxemburgo não descartasse a sua 
participação na via parlamentar burguesa, de outra parte, demonstrava a preocupação em 
demarcar claramente o objetivo que nortearia a prática parlamentar do partido, sugerindo ainda, 
que a reforma social e a revolução se constituiriam como elementos “indissolúveis” na prática 
social-democrata e não como antagônicas como apostava Bernstein. Todavia, Rosa Luxemburgo 
afirma que haveria uma mediação importante, visto que: 
Para a social-democracia lutar dia a dia, no interior do próprio sistema existente, pelas 
reformas, pela melhoria da situação dos trabalhadores, pelas instituições democráticas, 
é o único processo de iniciar a luta da classe proletária e de se orientar para o seu 
objetivo final, quer dizer: trabalhar para conquistar o poder político e abolir o sistema 
salarial. Entre a reforma social e revolução, a social-democracia vê um elo 
indissolúvel: a luta pela reforma social é meio, a revolução social o fim. 
(LUXEMBURGO, 1986, p. 23) 
 
Eis, portanto, as consequências que Rosa Luxemburgo destacaria já em suas primeiras 
linhas ao criticar o revisionismo bernsteiniano, a saber: ao atribuir como prioridade e objetivo 
final da social-democracia a prerrogativa da implantação de reformas graduais no interior da 
legalidade institucional burguesa, Bernstein, não só renunciaria ao processo da luta 
revolucionaria da classe proletária, como renunciaria a elevação da própria classe proletária ao 
poder político vias de fato, renunciando assim, ao próprio socialismo, visto que, o postulado das 
tais reformas bernsteinianas não ameaçariam as relações de produção capitalista 13. 
 A teoria de Bernstein ao se direcionar ao “abandono do objetivo último da social-
democracia, a revolução social e, inversamente, fazer da reforma social, simples meio de luta de 
classes, o seu fim ultimo” acabaria por eliminar o “ único elemento decisivo na distinção do 
movimento socialista da democracia burguesa e do radicalismo burguês.” (LUXEMBURGO, 
1986, p.23-24). 
 
13 Conforme Rosa, “Marx e Engels nunca puseram em dúvida a necessidade da conquista do poder político pelo 
proletariado. Estava reservado para Bernstein considerar o pântano do parlamentarismo burguês como o instrumento 
chamado a realizar a transformação social mais formidável da história, quer dizer, a transformação das estruturas 
capitalistas em estruturas socialistas. ” (LUXEMBURGO, 1986, p. 106) 
 
8 
 
Cabe destacar ainda, que em relação a antinomia apresentada por Bernstein entre a 
reforma legal e a revolução social, Rosa Luxemburgo (1986, p. 100) adverte que, longe de se 
apresentarem como “métodos diferentes do progresso histórico” a reforma social e a revolução 
são na verdade “fatores diferentes da evolução da sociedade classista, que se condicionam e 
completam reciprocamente, excluindo-se, como, por exemplo, o polo norte e o polo sul, a 
burguesia e o proletariado”. Na visão da autora, o que interessa ao proletário, é o aspecto 
qualitativo da transformação revolucionária da sociedade, e não sua reforma quantitativa 
circunscrita aos ditames do sistema vigente que o explora. 
Aos olhos críticos de Rosa Luxemburgo (1986), Bernstein, ao esvaziar a dialética 
enquanto método de abordagem social e, ao mesmo tempo, ao renunciar o objetivo 
revolucionário da transformação socialista em prol do reformismo pequeno-burguês, não estaria 
apenas revisando a teoria marxista, mas igualmente renunciando – no todo – aos princípios 
centrais do pensamento de Marx e Engels. 
Quando Bernstein descarta a dialética, a luta de classes e a revolução, acaba por se 
posicionar na contramão do movimento proletário, haja visto que o método do materialismo 
histórico dialético seria: 
o instrumento que deve ajudar o proletariado a sair das suas travas onde mergulha seu 
futuro histórico, a arma que permite ao proletariado, ainda sob o jugo material da 
burguesia, triunfar convencê-la de que está condenada a morrer. 
(LUXEMBURGO,1986, p.115) 
 
Segundo Lowy (1978, p. 95-96) “a complementariedade perfeita entre Comte e Kant 
aparece brilhantemente no pensamento de E. Bernstein [onde] a ciência deve ser empírica, 
neutra, fundamentada em ‘fatos’ bem delimitados, numa palavra ‘positiva’”, ou seja, 
diametralmente oposta à “unidade dialética que Marxforjou, unidade conceitualizada no termo 
socialismo científico”. Nas palavras de Rosa Luxemburgo (1986, p. 114): 
... Bernstein não quer ouvir falar numa ‘ciência de partido’, ou, mais precisamente, de 
uma ciência de classe, de um liberalismo de classe ou de uma moral de classe. Julga 
representar uma ciência abstrata, universal, humana, um liberalismo abstrato, uma 
moral abstrata. O que Bernstein julga ser a sua ciência, a sua democracia, a sua moral 
universal, tão impregnada de humanismo, é simplesmente a moral da classe 
dominante, quer dizer, a ciência, a democracia e a moral burguesas. 
 
O socialismo para Bernstein se configuraria, portanto, sob os princípios éticos ao espírito 
liberal kantiano, não passando de um “prolongamento do liberalismo” sem maiores rupturas. 
(GERAS,1978, p.180). 
O revisionismo bernsteiniano ao negar a luta de classes, o método dialético marxista, e 
a conquista do poder político pelo proletariado postulava que as contradições sociais deveriam 
9 
 
ser atenuadas pelo acúmulo de reformas, buscando-se assim, a relação harmônica entre 
democracia e capitalismo, proletariado e burguesia, norteada pelo princípio da ética e justiça. 
Em outras palavras, Bernstein descartava o princípio da conquista política do Estado via 
revolução social proletária. Sua preocupação, era em propiciar fundamentos para a reforma 
democrática do Estado, e não em alimentar um processo que, em sua visão, era pernicioso, 
traumático e desnecessário. Bernstein via na revolução e na ditadura do proletariado a 
personificação da violência blanquista. (LUXEMBURGO, 1986). 
Deste modo, a justiça e a ética, sob os parâmetros legais burgueses, seriam o elo 
transformador do capitalismo em socialismo, o princípio da reforma e democratização do 
Estado. Com isso, o revisionismo apontava no sentido da própria descaracterização classista do 
Estado. 
Tal argumento não passaria despercebido por Rosa Luxemburgo. A revolucionária 
polonesa empreenderia – sob a perspectiva da mais rica tradição marxista – uma categórica 
abordagem sobre a natureza do Estado e suas instituições trazendo as claras os limites do Estado 
democrático de direito burguês. 
Vimos que Bernstein apostava todas as suas fichas no movimento sindical e parlamentar 
sob as determinações da institucionalidade legal burguesa como caminho de transformação 
gradual do capitalismo em socialismo pela via reformista. Para Bernstein era o princípio da 
justiça e da ética, conformadas nas reformas no interior da institucionalidade capitalista, que 
engendraria a transformação socialista. Na perspectiva de Bernstein o movimento era mais 
importante que o próprio objetivo. 
Neste sentido, Rosa Luxemburgo advertiria criticamente sobre os limites e as 
contradições estruturais das instituições do Estado democrático de direito burguês, refutando, 
portanto, os argumentos reformistas admitidos por Bernstein: 
É evidente que formalmente o parlamentarismo serve para exprimir na organização do 
Estado os interesses do conjunto da sociedade. Mas, por outro lado, o que o 
parlamentarismo representa aqui, é unicamente a sociedade capitalista, quer dizer, uma 
sociedade onde predominam os interesses capitalistas. Por consequência, nessa 
sociedade, as instituições formalmente democráticas reduzem-se, no seu conteúdo, a 
instrumentos dos interesses da classe dominante. Existem provas concretas: desde que 
a democracia tem a tendência para negar seu caráter de classe e para transformar-se 
num instrumento dos autênticos interesses do povo, as formas democráticas são 
sacrificadas pela burguesia e pela sua representação do Estado. Também a ideia da 
conquista por uma maioria parlamentar aparece como um cálculo errado: 
preocupando-se unicamente, à semelhança do liberalismo burguês, com o aspecto 
formal da democracia, descuida-se totalmente do outro aspecto, o do seu conteúdo real. 
E o parlamentarismo no seu todo não aparece de modo algum, como o acredita 
Bernstein, como um instrumento específico do estado da classe, um meio de fazer 
amadurecer e desenvolver as contradições capitalistas (LUXEMNURGO, 1986, p. 59-
60) 
10 
 
 
As conclusões que podemos extrair, é que a revolucionária socialista destaca de modo 
muito preciso a caracterização classista do Estado, do parlamento e do regime político sob a 
legalidade institucional capitalista ao afirmar que, embora o parlamento, os atos políticos 
institucionais e as reformas sociais se apresentem como representante dos anseios e interesses 
da sociedade em geral, na verdade seriam na essência, instrumentos da classe proprietária, haja 
visto que, a partir do momento em que a movimentação política das massas – ainda que 
respaldadas pelos direitos democrático/liberais – colocasse em perigo o status quo e o poder da 
classe proprietária, esta última não hesitaria em atropelar como um rolo compressor essas 
mesmas garantias democrático/liberais, isto é, utilizando o aparato repressor estatal contra a 
insurgência do proletariado. Ou seja, a partir do momento em que democracia propiciasse uma 
maior participação e controle popular, a burguesia resistiria de todas as formas para minar as 
pretensões da classe dos subalternos. 
Em outra passagem de seu clássico texto de 1899, mais uma vez a socialista polonesa é 
enfática ao realçar o caráter de classe burguês do Estado, ao mesmo tempo em que extrai as 
duras consequências que esses limites formais e as contradições inerentes à democracia política 
liberal exerceria sobre a relação capital-trabalho: 
O atual Estado não é uma ‘sociedade’ no sentido de ‘classe obreira ascendente’, mas 
o representante da sociedade capitalista, quer dizer, um Estado classista. Eis porque a 
reforma por ele proposta não constitui aplicação do ‘controle social’, isto é, do controle 
da sociedade de trabalhadores livres sobre o seu próprio processo de trabalho, mas um 
controle da organização da classe do capital sobre os processos de produção do capital. 
Aliás, as reformas chocam-se com os limites dos interesses do capital. 
(LUXEMBURGO, 1986, p.50) 
 
Ou seja, sob a regência do capitalismo as reformas na esfera política, tanto quanto na 
esfera econômica representam os anseios da classe proprietária dos meios de produção, da 
extração da mais-valia, não passando de mecanismos de controle sob o jugo desta classe, que 
exercem mudanças (sem grandes transformações na lógica de exploração e dominação) dentro 
dos limites estabelecidos e aceitos por esta classe dominante, isto é, sem que seus privilégios 
sejam tocados. 
Quando Loureiro (1997, p.52) argumenta, por exemplo, que a democracia substantiva 
pensada por Rosa Luxemburgo era incompatível com o capitalismo e, ao mesmo tempo, não se 
confundia com o parlamento burguês, seu argumento estaria assentado em intervenções de Rosa 
que, no mais, resgata a máxima do Manifesto do partido comunista de Marx e Engels, visto que: 
O Estado atual é antes de mais nada uma organização da classe capitalista dominante. 
Sem dúvida que assume funções de interesse geral no desenvolvimento do social; mas 
somente na medida em que o interesse geral e o desenvolvimento social coincidam 
11 
 
com os interesses da classe dominante. A legislação da proteção operária, por exemplo, 
serve igualmente o interesse imediato da classe capitalista e os das sociedades em geral 
(LUXEMBURGO, 1986, p.56) 
 
Rosa Luxemburgo, contrariando o revisionista Bernstein, estava ciente de que as 
reformas sociais consubstanciadas sob as determinações do capital seriam por demais limitadas 
para alavancar coerentemente as transformações rumo ao socialismo. No mais, no que tange ao 
conteúdo dessas reformas sociais capitalistas, elas não passariam de paliativos ilusórios frente 
as contradições e antagonismo de classe. 
Em outras palavras, a grande questão abordada por Rosa Luxemburgo seria: se o Estado 
e o parlamento burguês são instrumentos de dominação burguesa,instrumentos de defesa dos 
interesses do capital – mesmo se apresentado na defesa do interesse geral da sociedade –, logo, 
as reformas e as políticas sociais adotadas sob as diretrizes do capitalismo apresentariam limites 
muito precisos para o avanço do movimento de ruptura socialista ou, de uma passagem gradual 
ao socialismo como apontava Bernstein. Portanto, as reformas sociais – mesmo as progressistas 
– por si só não conseguiriam criar mecanismos de expropriação do capital, mesmo porque a 
burguesia imporia resistência. Por isso a revolução proletária se torna necessária para a conquista 
do poder político contra a burguesia. 
Evidentemente, isso não quer dizer que Rosa Luxemburgo negasse totalmente os 
institutos da democracia política liberal, pelo contrário. Entretanto, apontava de forma muito 
precisa o seu alcance. Não obstante os esforços da classe dominante em se apresentar como 
defensora da democracia, Luxemburgo, enxergava os direitos e as garantias das liberdades 
democráticas como expressão da luta e pressão histórica do movimento proletário contra a classe 
burguesa. O processo histórico de democratização é fruto das investidas e pressões da classe 
proletária. Por outro lado, o esvaziamento do conteúdo democrático até o ponto dos limites 
formais/abstratos da democracia política moderna é fruto da reação burguesa, é imperativo 
burguês. 
Logo, Rosa Luxemburgo (1986, p.97) resumia numa expressão a questão: “não é sorte 
do movimento socialista que está ligada à democracia burguesa, mas pelo contrário, é a 
democracia que se encontra ligada ao movimento socialista”, ou seja, a verdadeira democracia 
substantiva, seu conteúdo emancipador não estaria no interior da legalidade jurídico-político do 
Estado democrático burguês, mas fora dele ou, para além dele. 
Para Rosa Luxemburgo era preciso quebrar a disciplina burguesa. Segundo Negt (1984, 
p. 31-32), a marxista empreende a distinção entre a disciplina em sua vertente burguesa – 
12 
 
reproduzida na família, no Estado, na fábrica etc. – e a necessidade de se desenvolver uma 
disciplina assentada em outras bases que não o da moral burguesa, ou seja, “Assim como o 
Estado burguês não pode ser simplesmente assumido pela classe operária, nem usado no seu 
interesse, do mesmo modo não é suficiente transformar em sentido socialista a disciplina 
imposta ao proletariado na sociedade burguesa”. 
Trata-se, portanto, de uma disciplina que não se forja nos limites da política 
reformista burguesa – mesmo a tendo como referência – , mas para além desses limites ou, 
como expresso pela própria Luxemburgo em seu texto de 1904, “Questões de organização 
da social-democracia russa”: é precisamente “pela quebra, pelo extirpamento desse espírito 
da disciplina servil [burguesa] que o proletariado pode ser educado para a nova disciplina, a 
autodisciplina voluntaria da social-democracia”14 (LUXEMBURGO, 2011a, p. 159-160). 
Considerações Finais 
Na contenda contra o revisionismo reformista pequeno-burguês de Bernstein e seus 
apologistas, insurgia, como vimos, a jovem militante e marxista polonesa Rosa Luxemburgo. 
Diferente de Bernstein, para Rosa Luxemburgo a democracia não era um valor universal. 
Cabe lembrar que, ao mesmo tempo em que aprovava as reformas sociais como 
instrumentos necessários para a melhoria das condições da classe proletária – desde que tais 
reformas estivessem sob a perspectiva do avanço socialista –, por outro lado, Rosa Luxemburgo, 
como vimos, apontava para o caráter limitado e esvaziado das reformas sociais implantadas sob 
o Estado capitalista: 
... as relações políticas constroem entre a sociedade capitalista e a sociedade socialista 
um muro cada vez mais alto. Nesse muro, nem as reformas sociais nem a democracia 
[burguesa] abrirão brechas, contribuirão, pelo contrário, para o segurar e consolidar 
[da ordem burguesa estabelecida]. (LUXEMNURGO, 1986, p. 61) 
 
As reformas (a aplicação de políticas sociais de cunho burguês) e o modo como está 
estruturado o Estado democrático/liberal representativo acaba por afastar as massas do controle 
do poder político decisório, além de “acalmar” (muitas vezes pela força repressora) as possíveis 
revoltas da classe dos subalternos, haja visto que estas colocariam em risco a dominação 
burguesa. 
Suas críticas contundentes sobre a tentativa de confundirem o movimento revolucionário 
socialista como simples expressão de reformas sociais no interior da institucionalidade burguesa, 
 
14 Nota-se que Rosa Luxemburgo, ainda neste momento, acreditava no perfil revolucionário da sócia-
democracia. Tal perfil seria, a partir, principalmente, da eclosão da 1º guerra imperialista descartado por Rosa 
quando, em 1915, redige o texto A Crise da Social-Democracia. 
13 
 
a levaram a resgatar de forma crítica e original, o que se apresentava de mais precioso e 
revolucionário no pensamento de Marx e Engels, ou seja, o método dialético, o conceito de luta 
de classes e de revolução socialista. 
De forma rigorosa e, sob a perspectiva do método dialético marxiano, Rosa Luxemburgo 
conseguiu apreender o espaço reservado à democracia no regime burguês, bem como apontar 
para a caracterização do espaço democrático proletário como condição essencial de sua auto-
emancipação. 
Se, por um lado, a institucionalidade jurídico-político burguesa oferecia ainda uma certa 
possibilidade de movimentação política às massas subalternas por conta das garantias 
democrático/liberais, essas mesmas garantias, conforme apontou, poderiam ser anuladas pela 
classe proprietária capitalista devido ao caráter do conteúdo da democracia liberal, tal como 
demonstramos nas linhas acima: seu conteúdo formal/abstrato, esvaziado sob o ponto de vista 
da classe trabalhadora explorada. 
Rosa Luxemburgo ao empreender a crítica ao revisionismo de Bernstein, acabaria por 
empreender, do mesmo modo, a crítica ao alcance e aos precisos limites da democracia burguesa, 
visto que, o postulado bernsteiniano não só legitimava o regime capitalista como também 
anulava qualquer possibilidade de sua superação substantiva. 
Em nenhum momento de sua vida, Rosa Luxemburgo, titubeou sobre o objetivo 
socialista: a superação da sociabilidade capitalista. As reformas seriam apenas meios, a 
revolução o fim, tendo em vista que “apenas um golpe revolucionário, isto é, a conquista do 
poder político pelo proletariado” poderia salvá-lo dos constrangimentos do capital. Esse seria o 
processo que elevaria o proletariado à emancipação. 
Este foi o filão da refundação comunista do início do século XX no pensamento de Rosa 
Luxemburgo e, acreditamos, que também o é (ou deveria ser!) deste início de século XXI, isto 
é, resgatarmos de forma crítica e criativa o pensamento de Marx e Engels, desmistificarmos 
junto a classe trabalhadora a essência da democracia representativa liberal apontando seus 
limites e a necessidade de sua superação por um novo protagonismo revolucionário da classe. 
Eis a atualidade do pensamento desta criativa e arguta revolucionaria marxista, Rosa 
Luxemburgo. 
Referências bibliográficas 
BERNSTEIN, Eduard. Socialismo evolucionário. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 
14 
 
DEL ROIO, Marcos. Os primas de Gramsci: a fórmula política da frente única (1919-1926). 
São Paulo: Xamã, 2005. 
GERAS, Norman. A actualidade de Rosa Luxemburgo. Lisboa: Edições Antídoto, 1978. 
LUXEMBURGO, Rosa. Reforma Social ou Revolução?. São Paulo: Global editora, 1986. 
___________. Camarada e amante: cartas de Rosa Luxemburgo a Leo Jogiches. Rio de Janeiro: 
Paz e Terra, 1983. 
__________. Questões de organização da social-democracia russa. In: LOUREIRO, Isabel 
M. (org.) Rosa Luxemburgo: textos escolhidos. São Paulo: ed. Expressão Popular, 2011. v.1. 
LOUREIRO, Isabel M. Rosa Luxemburgo: vida e obra. São Paulo: Expressão popular, 2005. 
__________. Democracia e Socialismo em RosaLuxemburgo. Crítica Marxista, São Paulo, 
Xamã, v.1, n.4, p. 45-57, 1997. Disponível em: 
https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo23Artigo2.pdf Acesso 
em: 20 de julho de 2017. 
LOWY. Michael. Método dialético e teoria política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. 
NEGT, Oskar. Formas de decadência da esfera pública burguesa e o problema de uma esfera 
pública proletária. In: Dialética e história: crise e renovação do marxismo. Trad. Ernildo Stein. 
Porto Alegre: Ed. Movimento, 1984. 
__________. Rosa Luxemburgo e a renovação do marxismo. In: HOBSBAWM, Eric.J. 
História do marxismo: o marxismo na época da segunda internacional. Rio de Janeiro: Ed. Paz 
e Terra, 1984, v.3. 
 
https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo23Artigo2.pdf

Outros materiais