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ANÁLISE DOS CADERNOS DO PROFESSOR E DO ALUNO DO SÃO PAULO 
FAZ ESCOLA DA DISCIPLINA DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: 
CONTRADIÇÕES E APONTAMENTOS. Vanessa Simões Ribeiro. Ciências Sociais 
– Unesp Campus de Marília. Núcleo de Ensino- PROGRAD/UNESP. 
Eixo temático: Ciências Sociais, Filosofia e Educação Escolar 
 
Resumo 
O presente texto discuti um conjunto de apontamentos da política pública educacional 
do Estado de São Paulo, analisando o material São Paulo Faz Escola. Este material 
mantem um conteúdo idêntico e a mesma forma de abordagem para todo o estado. Foi 
elaborado em resposta á má qualidade das escolas da rede estadual e aos índices de 
alunos evadidos e/ou analfabetos funcionais. Em tempos de neoliberalismo a educação é 
uma mercadoria e os alunos são os consumidores, mesmo que mascarado pela ideia da 
escola pública ser para todos nos preceitos da legislação educacional brasileira, pois é 
dentro deste ideário que devemos analisar o material elaborado pela Secretaria de 
Estado da Educação. Tendo, então, no modelo econômico de educação neoliberal que 
cria a disputa entre as escolas e a mercantilização dos seus “produtos”, objetiva-se 
discutir qual a função da escola no processo de ensino e aprendizagem na disciplina de 
Sociologia no Ensino Médio do Estado de São Paulo, utilizando um material didático 
voltado não somente para o rendimento escolar dos alunos, mas também para uma 
forma de apropriação do conhecimento, mas principalmente para que os alunos possam 
obter melhores resultados nos índices e rendimentos nas avaliações externas, como o 
SARESP. A partir desses apontamentos foi utilizado um levantamento bibliográfico de 
autores que abordam criticamente a temática de utilização desses materiais sob a 
perspectiva das políticas neoliberais, como também o levantamento documental da 
Proposta Curricular do Estado de São Paulo na disciplina de Sociologia no Ensino 
Médio. Também será utilizado o próprio material São Paulo Faz Escola para análise de 
seu conteúdo e finalidade na sala de aula. Infelizmente com o ensino de massa, o Estado 
somente dá importância ao seu projeto de educação, e mesmo assim, tem cobrado 
massivamente de todos os envolvidos na educação a cumprir com as ordens que lhe são 
impostas. A maior crise na escola é que por esta (des)importância do Estado determina-
se uma desqualificação geral no setor educacional, tanto em relação aos professores, 
quanto à aprendizagem dos alunos. 
 
Palavras Chaves: ensino de sociologia, São Paulo Faz Escola e educação; 
 
Introdução 
 
O presente trabalho irá abordar uma análise do caderno do professor e do aluno 
do São Paulo Faz Escola referente á disciplina de Sociologia no Ensino Médio. Se faz 
importante, pois: 
 
A verdade é que investigar a Sociologia no ensino médio constitui 
uma tarefa bastante complicada, se considerarmos que sua história é 
marcada por uma grande intermitência nos currículos oficiais, tanto 
que o seu processo de amadurecimento e desenvolvimento, no que se 
refere a conteúdos, recursos e metodologias, pode ter sido 
historicamente atrapalhados pelos hiatos de sua presença nas grades 
curriculares. (FERREIRA, 2010, pág. 15). 
 
Os chamados “caderninhos do Estado” fazem parte de uma política pública 
educacional implantada nas escolas da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo, 
implantada em 2008, tratando-se de um material voltado aos alunos, professores e 
gestores como forma de concretizar a Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 
como também baseando-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais e entre outros 
documentos educacionais, sendo assim um material de apoio ao currículo. Este material 
é disponível na forma de centralizar o mesmo conteúdo e a mesma forma de abordagem 
em todo o estado, em resposta á má qualidade das escolas da rede estadual e aos índices 
de alunos evadidos ou analfabetos funcionais. 
 
Por outro lado, estamos diante de uma relação conflituosa por 
natureza, pois é sabido que os estudantes, conforme relatado, se 
interessam pela Sociologia, mas concomitantemente demonstram uma 
grande dificuldade de absorvê-la. O problema é que não há, nos 
limites da escola, o incentivo à leitura e à produção artística. A 
curiosidade e o fazer diferente são vistos como problemáticos. 
(FERREIRA, 2010, p. 28). 
 
Ele também se torna, quase que centralizador, pois é a partir de seu conteúdo 
que as articulações de outras medidas do governo estadual, como a de bonificação por 
resultados e provas internas e externas, faz com que o conteúdo apresentado seja 
imposto em todo o Estado, desconsiderando, desta maneira, a diferenciação de uma 
escola para outra, seu público presente e as desigualdades sociais. 
Um dos fatos determinantes para o estudo deste material é o fato que para o 
ensino médio existe uma escassez de materiais com produções científicas sobre esta 
etapa escolar, e também por ter recebido pouca atenção nas políticas públicas no 
contexto histórico da educação. Fica nítido que este material é diferente dos livros 
didáticos também utilizados em sala de aula. Este material traz consigo um projeto de 
educação já imposto no Estado de São Paulo, que muitas vezes mascara o trabalho do 
professor, trazendo orientações de como ser professor e de como organizar seu fazer 
pedagógico, retirando do professor sua autonomia enquanto um mediador do 
conhecimento, pressupondo que quem se utiliza desse material não tem uma posição 
pedagógica do ensino, ou o que ocorre hoje nas escolas públicas, serve-se de suporte 
para professores de caráter eventual ou substituto que não estão preparados para a 
disciplina. O foco do caderno é ainda as competências necessárias para o aluno resolver 
questões para exames como ENEM ou SARESP, não tendo o foco no real aprendizado 
do aluno. 
Um curso de Sociologia na escola secundária, deve apresentar um 
conteúdo programático muito bem estruturado. Cabe ao professor 
proceder a uma seleção criteriosa desses conteúdos, visando aos 
objetivos sociais e políticos que deseja atingir. (MEKSENAS, 1995, p. 
77). 
 
Na disciplina de sociologia, esse viés fica muito mais preocupante do ponto de 
vista pedagógico, na diferenciação entre conteúdo científico e o senso comum. Pois, o 
conteúdo da disciplina não pode ser confundido com conhecimento histórico e, tão 
pouco, com assuntos de atualidades. No entanto, com base em Karl Mannhein, o 
Currículo do Estado de São Paulo, que se explicita na Proposta Curricular, evidencia 
certo rebaixamento do conteúdo curricular. 
 
Além disso, tomamos desse documento a ideia de que a proposta 
curricular não pretende “formar sociólogos, mas sim contribuir, 
através da visão sociológica da realidade, para a formação de cidadãos 
dotados, no mínimo, de discernimento e de capacidade de perceber 
relações novas e não triviais entre os elementos das suas experiências 
de vida. Assim, o alvo do aprendizado não é a apreensão de conceitos, 
mas uma relação com a realidade social mais nuançada e diferenciada 
do que a do senso comum”. (SÃO PAULO, 2012, pág. 133) 
 
Assim, 
O fato é que, se não forem acoplados ao ensino de Sociologia no 
ensino médio objetivos muito bem definidos, corre-se o sério risco da 
Sociologia se tornar uma disciplina muito burocrática, perdendo o 
foco de seus princípios científicos investigativos norteadores. 
(FERREIRA, 2010, p. 33). 
 
 
 Portanto, estas questões sobre a qualidade de ensino e aprendizagem em 
sala de aula, devem ser problematizadas na perspectiva de que uma aprendizagem ideal, 
que está longe de ser reconhecida, pois existem muitas instâncias que permeiam este 
processo. As capacidades desenvolvidas hoje têm somente o propósito da boa 
qualificação em empregos ou universidades e da memorização dos conteúdos. A 
aprendizagem não tem se dado de forma ampla, e sim de forma esquematizada. Então, 
como garantir uma boa formação e uma boa aprendizagem, se não se tem discussão da 
importância das mesmas? Todosfazem parte de discussões superficiais. Os educandos 
têm que ter uma educação ampliada, os professores uma formação qualificada e os 
sistemas burocráticos um repensar sobre que se compreende pelo papel e função da 
escola. Novamente, precisa-se reconsiderar métodos de aprendizagem dentro e fora da 
sala de aula, como também o conteúdo curricular que valorize o conhecimento 
científico e não somente aquele baseado no senso comum e superficiais aos alunos. 
 
Os cadernos do professor e do aluno: discutindo qualidade de conteúdo curricular 
e ensino. 
 
Na análise do caderno do professor, ele tem como ponto de partida uma carta de 
apresentação escrita pelo Secretário da Educação do Estado de São Paulo, 
parabenizando os professores, chamados de colaboradores, e assim os convoca para 
consolidarem a articulação do currículo proposto pelo Estado com as ações 
desenvolvidas em sala de aula, que são baseadas nos PCN’s. Enfim, esta carta faz uma 
alusão às orientações didático-pedagógicas, dizendo que o caderno tem a proposição de 
apoiar o professor no planejamento de suas aulas para que os alunos se apropriem das 
competências e habilidades necessárias para a construção do seu saber. Este material 
dentro da escola é imposto, principalmente pelo fato de ser parâmetro para a elaboração 
das avaliações externas, que consequentemente, tem nos seus resultados a base para o 
pagamento dos bônus para cada professor. Também não condiz com o argumento de 
que serve para a construção dos saberes e apropriação dos conteúdos das disciplinas, 
pois na própria Proposta Curricular do Estado de São Paulo argumenta-se que o ensino 
de sociologia não serve para formar sociólogos, não precisando se aprofundar nos 
conceitos, pois se almeja demonstrar, somente, uma realidade social diferenciada do 
senso comum. 
A seguir da carta, tem a apresentação da nova edição do material, que abrange o 
período de 2014 á 2017, situando o professor na nova reestruturação deste caderno, para 
melhor atender aos objetivos do currículo, denominando as seguintes finalidades do 
caderno: 
• Incorporar todas as atividades presentes nos Cadernos do Aluno, 
considerando também os textos e imagens, sempre que possível na mesma 
ordem; 
• Orientar possibilidades de extrapolação dos conteúdos oferecidos nos 
Cadernos do Aluno, inclusive com sugestão de novas atividades; 
• Apresentar as respostas ou expectativas de aprendizagem para cada 
atividade presente nos Cadernos do Aluno – gabarito que, nas demais 
edições, esteve disponível somente na internet. (SÃO PAULO, 2014, p. 
05) 
 
Na sequência, vem o sumário, contendo as informações do caderno, situações de 
aprendizagens, recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno, quadro de 
conteúdos do ensino médio e gabarito. Na página seguinte vem a orientação sobre os 
conteúdos do volume. Nessa etapa é composta do que será abordado em cada situação 
de aprendizagem. No exemplo a seguir, está sendo utilizado o caderno do professor 
referente ao segundo semestre do 2º ano do Ensino Médio. Neste livro as situações de 
aprendizagens se apresentam da seguinte maneira: 
• Situação de Aprendizagem 1 – O trabalho como mediação 
• Situação de Aprendizagem 2 – Divisão social do trabalho 
• Situação de Aprendizagem 3 – Transformações no mundo do trabalho: emprego 
e desemprego na atualidade 
• Situação de Aprendizagem 4 – O que é violência? 
• Situação de Aprendizagem 5 – Violência contra o jovem 
• Situação de Aprendizagem 6 – Violência contra a mulher 
• Situação de Aprendizagem 7 – Violência escolar 
 
Vê-se que a apresentação das situações de aprendizagem é de modo superficial, 
pois um tema como o trabalho, deveria ser mais abrangente do que somente em três 
situações de aprendizagem, não abordando maiores conteúdos, ficando somente na 
teoria do trabalho em Marx, por exemplo, e também não explicando em quantas aulas 
que cada situação de aprendizagem deve ser trabalhada. 
Nessa orientação, será dado ao professor o modo de como prosseguir nas aulas 
para cada situação de aprendizagem proposta. Um modo de direcionar o professor na 
utilização ideal do caderno afim do professor não ficar “perdido”. Também demonstra-
se a prioridade do conteúdo que o professor irá abordar em cada aula, uma forma de 
realmente direcionar todo o ensino e intervir na autonomia do professor, como também 
nas competências e habilidades abordadas, metodologia, estratégias e avaliação. Como 
no exemplo á seguir: 
Qual é a importância do trabalho na vida social brasileira? 
Para respondê-la, o aluno deverá refletir sobre o que é trabalho, 
qual é o seu papel na vida dos indivíduos, qual é a diferença 
entre trabalho e emprego, como a Sociologia tem observado e 
discutido esse fenômeno e, por fim, qual é a especificidade do 
trabalho na sociedade capitalista. (SÃO PAULO, 2014, p. 07) 
 
Será feita a análise de uma situação de aprendizagem do caderno do professor, 
para ter-se a ideia de como o material é superficial, e demonstra ao professor como se 
ele não tivesse a capacidade de montar uma aula, já que cada situação de aprendizagem, 
não somente desde caderno como todos os outros do SPFE, explicam passo a passo a 
aula, com textos rasos, algumas vezes de própria autoria do SPFE, perguntas diretas 
para fazerem aos alunos, sendo não um apoio, mas um direcionamento daquilo que o 
aluno deverá saber e com pouco aprofundamento nos conceitos. 
 
Nesse sentido, o educador/sociólogo, ao fazer parte da produção 
cultural e da reprodução de valores, padrões, conceitos e visões de 
mundo, tem por obrigação demonstrar as contradições dessa luta 
constante entre as forças sociais. Um professor de escola pública deve 
aprender a pensar em termos de luta de classes, mesmo que não seja 
marxista. (FERREIRA, 2010, p. 26). 
 
Na situação de aprendizagem 1 o objetivo é discutir o trabalho e a mediação do 
ser humano e natureza. A atividade inicia apresentando a palavra trabalho e a sua 
transformação no tempo, devido ás mudanças sociais, econômicas, politicas e culturais. 
Colocando também sua diferenciação entre trabalho humano e trabalho animal. 
Considerando que trabalho é um conceito dado ao ser humano na perspectiva 
sociológica para construir sua condição humana, a apostila propõe a leitura de Karl 
Marx, filosofo alemão, referência na categoria trabalho. 
A atividade segue com dois pequenos trechos de textos sem títulos, para 
trabalhar a categoria trabalho, um abordando a questão de trabalho e emprego por 
Outhwaite, e o outro de Marx e a relação da diferenciação do trabalho humano e animal, 
porém nenhuns dos textos são completos de forma a aprofundar as discussões, sendo 
tratando de forma superficial que vem seguida de questões que não vão aprofundar o 
debate de forma a enriquecer o arcabouço intelectual e a criticidade desses alunos. 
Para finalizar a situação de aprendizagem segue uma lição de casa, com um 
texto elaborado especialmente para o SPFE, sem autor, título e sequer qualquer 
contextualização de quem e como se produziu o mesmo. Nos outros textos há curtos 
parágrafos seguidos de questões que não aprofundam a discussão e a complexidade do 
conceito trabalho dentro do seu tempo e espaço, com raríssimas imagens o que não 
contribui para o enriquecimento do meio e abstração do conceito para o aluno. 
Ao final do caderno, tem a seção de “recursos para ampliar a perspectiva do 
professor e do aluno para a compreensão dos temas”, com indicações de livros com 
breves sínteses sobre o que tratam. Nesse aspecto vê-se que é importante ter essas 
indicações, mesmo que não estão sendo abordado dentro das situações, o professor pode 
ter uma base de sua leitura e indicação aos alunos, tendo autores como Karl Marx, 
Michael Foucalt e Hannah Arendt como indicações. Também se indica sites para 
pesquisas e filmes, que ajudam a apoiar a aula e trazer os alunos para uma realidade 
mais concreta. Após, tem o quadrode conteúdos do 2º ano do ensino médio e o gabarito 
dos exercícios do caderno do aluno com as devidas respostas. 
 Todos os cadernos do professor são elaborados da mesma forma, a partir de uma 
sequência: textos com pouco conteúdo teórico, de autoria do SPFE, portanto nem o 
professor, nem o aluno sabem ao certo quem os escreveu, também não contem títulos, 
delimitando-se em discussões de um conhecimento fragmentado, organizando, muitas 
vezes, textos e exercícios como se o aluno não tivesse conhecimento prévio; 
direcionamento de exercícios de interpretação e atividades de avaliação que não fazem 
os alunos se auto questionar sobre as temáticas, podendo assim não conseguir 
transformar a realidade em que vivem, tampouco transformar a si próprios. Nessa 
perspectiva, Nünez explica pela teoria da atividade de Leontiev: 
 
Leontiev (1983) considera a atividade humana como o processo que 
media a relação entre o ser humano (sujeito) e a realidade a ser 
transformada por ele (objeto da atividade). Essa relação é dialética, 
uma vez que não é só o objeto que se transforma, mas, também, o 
sujeito, ocasião em que se produzem mudanças em sua psique e em 
sua personalidade. A atividade é o modo, especificamente humano, 
pelo qual o homem se relaciona com o mundo. (NÜNEZ, 2009, p. 64). 
 
 Também é importante expor que, 
Educação Desenvolvente ocorre quando o parceiro do professor não é 
um estudante [no sentido de um objeto do ensino], mas um auto-
professor, um professor de si mesmo. Não é o professor que ensina o 
aluno, mas o aluno que ensina a si mesmo. E o papel do professor é 
ajudar o estudante a ensinar-se a si mesmo. (REPKIN, 2003, p. 5). 
 
No caderno do aluno, não é muito diferente do professor, na verdade chega a ser 
mais preocupante, pois inicialmente o caderno não traz atrativo algum para o aluno, 
sendo em preto e branco, com algumas ilustrações, imagens ou figuras coloridas. O 
material deveria fazer com que o aluno quisesse trabalhar com ele, que tivesse 
conteúdos instigantes, criando motivos e necessidades para eles aprenderem. O que hoje 
é uma das maiores preocupações nos processos de ensino e aprendizagem. 
 Como ao do professor, o caderno também inicia com uma carta aos alunos, 
descrevendo os conteúdos que serão apresentando ao longo do caderno, anunciando que 
questionamentos os alunos poderão responder. Essa apresentação abrange uma página, 
não especificando que competências e habilidades querem desenvolver nos alunos, não 
tem objetivos claros, pois se explica que irá ser trabalhado nas mais diversas visões de 
um olhar sociológico, não explicando que visões mais específicas e que olhar 
sociológico é esse. É importante ressaltar que mesmo que na maioria das vezes essa 
parte do caderno não seja lida pelo professor, e também pelo aluno, é o momento mais 
importante na introdução do que deveria ser o material. Explicar para o aluno de modo a 
motivar, justificar, objetivar e onde querem chegar, criando sentido ao aluno do que ele 
espera não somente da disciplina em si, mas de como ela pode ajuda-lo á criar 
consciência do meio onde vive e apropriar-se de conhecimentos científicos. Como, por 
exemplo, apresenta-se na carta inicial do caderno do aluno: 
 
O nosso objetivo é fazer com que você observe o mundo do trabalho e 
a temática da violência em suas mais diversas visões, levando sempre 
em consideração a perspectiva de um olhar sociológico. Mais uma 
vez, o princípio do estranhamento da realidade em que você vive 
deverá nortear as aulas e a sua compreensão a respeito dos temas. 
(SÃO PAULO, 2014, s/p). 
 
 Não havendo sumário, o caderno já inicia na situação de aprendizagem 1, como 
se não fosse importante trazer um sumário com os títulos do cadernos e suas páginas 
para facilitar a procura dos conteúdos no caderno. Os exercícios dentro da situação de 
aprendizagem são muito simples e direto, por exemplo, “o que é trabalho?”, “o que é 
emprego”, e não há exercícios que façam os alunos refletirem sobre a temática, 
parecendo que o caderno não é para alunos de ensino médio, dos quais muitos já 
trabalham e tem uma perspectiva de qual é a realidade deles, sendo estão atividades 
mais infantilizadas. 
Vigotski (1996) afirma que o pensamento em conceitos é o meio mais 
adequado para se conhecer a realidade e, apenas por essa via, é 
possível apreender a essência interna (concreta) dos objetos, uma vez 
que esta não se revela de imediato, no contato direto com o fenômeno. 
(MARTINS, 2010, p. 52). 
 
 Em cada situação de aprendizagem há pequenas leituras e análises de textos, 
com poucos exercícios de interpretação dos textos. Tem a lição de casa que também 
aborda um pequeno texto em seguida de um exercício para interpretar. No Você 
aprendeu? É para o aluno fazer uma síntese em um texto que apresente argumentos 
sobre o conteúdo com algumas linhas para escrever. E no final tem o quadro 
“Aprendendo a aprender” que traz um questionamento a mais sobre o conteúdo para o 
aluno refletir sobre, ficando esta discussão sem continuidade para discussão seguinte. 
No final do caderno tem a parte “Para saber mais”. Diferentes do caderno do professor 
que traz inúmeras indicações, no caderno do aluno são poucas indicações de leituras, 
filmes e sites. Na verdade é indicado somente um livro para compreensão de todo o 
conteúdo de cada temática, por exemplo, neste caderno, que estamos analisando, é um 
livro para compreensão de trabalho e outro livro para compreensão de violência. O que 
tem maiores indicações são de filmes. Também é disposto a parte “O que eu aprendi”, 
possui apenas 6 linhas, para se o aluno quiser, escrever algo sobre o que aprendeu, seria 
melhor utilizar o caderno de classe, do que escrever neste material. Vê-se que se o aluno 
não tiver outro caderno para escrever, neste material ele fica preso em respostas prontas 
e rápidas, pois não se tem espaço disponível para textos ou reflexões mais elaboradas. 
 
Considerações Finais 
 
Portanto, a análise deste material serviu para a compreensão de como os 
Cadernos elaborados pelo governo do Estado de São Paulo estão fragmentados e 
superficiais em relação à aprendizagem, contrastando como as discussões apresentadas 
por Vygotsky. 
 
Trata-se de uma atividade de produção e reprodução do conhecimento 
mediante a qual a criança assimila os modos sociais de atividade e de 
interação, e mais tarde, na escola, os fundamentos do conhecimento 
científico, em condições de orientação e interação social. Dessa forma, 
a aprendizagem é concebida como uma atividade especificamente 
humana orientada para um objeto. (NÚÑEZ, 2009, p.25). 
 
Desta forma entende-se a falta dessa aprendizagem nas escolas, pois se a 
atividade não faz sentido para o aluno ou que ele não precisa fazer esta atividade, não 
irá ser do mesmo modo, ela não fará da mesma forma e não terá apreensão do 
conhecimento, pois o nível de apreensão do conteúdo depende da mediação do 
professor. Assim o material tem que servir de apoio ao professor, mas que garanta as 
condições objetivas e subjetivas do processo de ensino-aprendizagem e apreensão da 
realidade social do aluno, sabendo-se que as condições objetivas estão ligadas ao 
conteúdo, à objetividade das relações sociais, e as condições subjetivas estão ligadas aos 
elementos que compõe junto com a objetivação. O objetivo de desnaturalização dos 
fenômenos/relações com diversos olhares, incluindo nos métodos, instrumentos 
teóricos, entre outros, é o que deve orientar a ação do professor em sala de aula. 
Analisa-se que o material é o próprio centro da proposta curricular, que assim 
segue as políticas constituídas pelo Estado, sabendo-se que a intenção não é criar uma 
nova consciência de classe e de mundo aos alunos e sim, transmitir conteúdo pelo 
conteúdo na forma de carregar para si objetivos específicos à escola, como em mérito, 
avaliações internas e externas e que de certa forma culpabilizará ao professor sobredeficiências no âmbito de aprendizagem dos alunos. 
Conclui-se com Tacca (2006), que sintetiza o que é ensinar com a motivação e 
aprender o conteúdo aos alunos: 
O processo de aprendizagem só pode então ser analisado, interpretado 
e compreendido acontecendo na integração do individual com o 
social, assumindo relevância o sentido subjetivo que o sujeito produz 
frente ao objeto de conhecimento. (p. 61) 
 
Portanto, 
Ensinar, nesta proposição, significa mais do que se preocupar com 
estratégias e métodos de ensino em si, mas implica, sobretudo, 
reconhecer a importância de conhecer o fio da história constitutiva da 
configuração subjetiva dos sujeitos da aprendizagem, procurando 
compreender a forma como se imbricam nela o afeto e a cognição. 
(p.61) 
 
Referências Bibliográficas 
 
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, 2000. 
 
FERREIRA, Eduardo Carvalho. Relação escola e universidade: a Sociologia no 
ensino médio em perspectiva. IN: A sociologia no ensino médio / César Augusto de 
Carvalho (org.) – Londrina, PR: EDUEL, 2010. p. 15-35. 
 
MARTINS, Lígia Márcia. Implicações pedagógicas da escola de Vigotski: algumas 
considerações. IN: Vigotski e a escola atual: fundamentos e implicações pedagógicas / 
Sueli Guadelupe de Lima Mendonça; Stela Miller (orgs.) – 2.ed. revisada – Araraquara, 
SP : Junqueira&Marin; Marília, SP: Cultura Acadêmica, 2010. p. 48-61. 
 
MEKZENAS, Paulo. O ensino de Sociologia na Escola Secundária. IN: UDESC. 
Grupo de Pesquisa em Sociologia da Educação. Leituras & Imagens. Florianópolis: 
UDESC, 1995. p. 67-79. 
 
NÚÑEZ, Isauro Beltrán. A formação de conceitos na perspectiva teoria de L. S. 
Vygotsky: aprendizagem e desenvolvimento. IN: Vygotsky, Leontiev, Galperin: 
Formação de conceitos e princípios didáticos. Brasília: Liber Livro, 2009. p. 25-89. 
 
REPKIN, V. V. Ensino desenvolvente e atividade de estudo. Journal of Russian and 
East European Psychology, vol. 41, nº 4, July – August 2003, pp. xx-xx. Tradução do 
inglês para uso em sala de aula pelo corpo de tradutoras do grupo de pesquisa 
Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural/UNESP/Marília (Maria Farias, 
Stela Miller, Suely Mello). 
 
SEE/SP. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Caderno do professor. 
(Sociologia). São Paulo: IMESP, 2014. 
 
_______. Caderno do aluno, (sociologia). São Paulo: IMESP, 2014. 
 
_______. São Paulo Faz Escola. IN: www.educacao.sp.gov.br 
 
_______. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Sociologia. 2008. 
 
_______. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências Humanas e suas Tecnologias. 
Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; coordenação de área, Paulo 
Miceli. – 1. Ed. Atual. – São Paulo: SE, 2012. 152p. 
 
TACCA, Maria Carmen V. R. Relações sociais na escola e desenvolvimento da 
subjetividade. IN: Aprendizagem: tramas do conhecimento, do saber e da 
subjetividade/ Maria Irene Maluf (coord.) – Petrópolis, RJ: Vozes: São Paulo: ABPp – 
Associação Brasileira de Psicopedagogia, 2006. p. 60-85.

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