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ANÁLISE DOS CADERNOS DO PROFESSOR E DO ALUNO DO SÃO PAULO FAZ ESCOLA DA DISCIPLINA DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: CONTRADIÇÕES E APONTAMENTOS. Vanessa Simões Ribeiro. Ciências Sociais – Unesp Campus de Marília. Núcleo de Ensino- PROGRAD/UNESP. Eixo temático: Ciências Sociais, Filosofia e Educação Escolar Resumo O presente texto discuti um conjunto de apontamentos da política pública educacional do Estado de São Paulo, analisando o material São Paulo Faz Escola. Este material mantem um conteúdo idêntico e a mesma forma de abordagem para todo o estado. Foi elaborado em resposta á má qualidade das escolas da rede estadual e aos índices de alunos evadidos e/ou analfabetos funcionais. Em tempos de neoliberalismo a educação é uma mercadoria e os alunos são os consumidores, mesmo que mascarado pela ideia da escola pública ser para todos nos preceitos da legislação educacional brasileira, pois é dentro deste ideário que devemos analisar o material elaborado pela Secretaria de Estado da Educação. Tendo, então, no modelo econômico de educação neoliberal que cria a disputa entre as escolas e a mercantilização dos seus “produtos”, objetiva-se discutir qual a função da escola no processo de ensino e aprendizagem na disciplina de Sociologia no Ensino Médio do Estado de São Paulo, utilizando um material didático voltado não somente para o rendimento escolar dos alunos, mas também para uma forma de apropriação do conhecimento, mas principalmente para que os alunos possam obter melhores resultados nos índices e rendimentos nas avaliações externas, como o SARESP. A partir desses apontamentos foi utilizado um levantamento bibliográfico de autores que abordam criticamente a temática de utilização desses materiais sob a perspectiva das políticas neoliberais, como também o levantamento documental da Proposta Curricular do Estado de São Paulo na disciplina de Sociologia no Ensino Médio. Também será utilizado o próprio material São Paulo Faz Escola para análise de seu conteúdo e finalidade na sala de aula. Infelizmente com o ensino de massa, o Estado somente dá importância ao seu projeto de educação, e mesmo assim, tem cobrado massivamente de todos os envolvidos na educação a cumprir com as ordens que lhe são impostas. A maior crise na escola é que por esta (des)importância do Estado determina- se uma desqualificação geral no setor educacional, tanto em relação aos professores, quanto à aprendizagem dos alunos. Palavras Chaves: ensino de sociologia, São Paulo Faz Escola e educação; Introdução O presente trabalho irá abordar uma análise do caderno do professor e do aluno do São Paulo Faz Escola referente á disciplina de Sociologia no Ensino Médio. Se faz importante, pois: A verdade é que investigar a Sociologia no ensino médio constitui uma tarefa bastante complicada, se considerarmos que sua história é marcada por uma grande intermitência nos currículos oficiais, tanto que o seu processo de amadurecimento e desenvolvimento, no que se refere a conteúdos, recursos e metodologias, pode ter sido historicamente atrapalhados pelos hiatos de sua presença nas grades curriculares. (FERREIRA, 2010, pág. 15). Os chamados “caderninhos do Estado” fazem parte de uma política pública educacional implantada nas escolas da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo, implantada em 2008, tratando-se de um material voltado aos alunos, professores e gestores como forma de concretizar a Proposta Curricular do Estado de São Paulo, como também baseando-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais e entre outros documentos educacionais, sendo assim um material de apoio ao currículo. Este material é disponível na forma de centralizar o mesmo conteúdo e a mesma forma de abordagem em todo o estado, em resposta á má qualidade das escolas da rede estadual e aos índices de alunos evadidos ou analfabetos funcionais. Por outro lado, estamos diante de uma relação conflituosa por natureza, pois é sabido que os estudantes, conforme relatado, se interessam pela Sociologia, mas concomitantemente demonstram uma grande dificuldade de absorvê-la. O problema é que não há, nos limites da escola, o incentivo à leitura e à produção artística. A curiosidade e o fazer diferente são vistos como problemáticos. (FERREIRA, 2010, p. 28). Ele também se torna, quase que centralizador, pois é a partir de seu conteúdo que as articulações de outras medidas do governo estadual, como a de bonificação por resultados e provas internas e externas, faz com que o conteúdo apresentado seja imposto em todo o Estado, desconsiderando, desta maneira, a diferenciação de uma escola para outra, seu público presente e as desigualdades sociais. Um dos fatos determinantes para o estudo deste material é o fato que para o ensino médio existe uma escassez de materiais com produções científicas sobre esta etapa escolar, e também por ter recebido pouca atenção nas políticas públicas no contexto histórico da educação. Fica nítido que este material é diferente dos livros didáticos também utilizados em sala de aula. Este material traz consigo um projeto de educação já imposto no Estado de São Paulo, que muitas vezes mascara o trabalho do professor, trazendo orientações de como ser professor e de como organizar seu fazer pedagógico, retirando do professor sua autonomia enquanto um mediador do conhecimento, pressupondo que quem se utiliza desse material não tem uma posição pedagógica do ensino, ou o que ocorre hoje nas escolas públicas, serve-se de suporte para professores de caráter eventual ou substituto que não estão preparados para a disciplina. O foco do caderno é ainda as competências necessárias para o aluno resolver questões para exames como ENEM ou SARESP, não tendo o foco no real aprendizado do aluno. Um curso de Sociologia na escola secundária, deve apresentar um conteúdo programático muito bem estruturado. Cabe ao professor proceder a uma seleção criteriosa desses conteúdos, visando aos objetivos sociais e políticos que deseja atingir. (MEKSENAS, 1995, p. 77). Na disciplina de sociologia, esse viés fica muito mais preocupante do ponto de vista pedagógico, na diferenciação entre conteúdo científico e o senso comum. Pois, o conteúdo da disciplina não pode ser confundido com conhecimento histórico e, tão pouco, com assuntos de atualidades. No entanto, com base em Karl Mannhein, o Currículo do Estado de São Paulo, que se explicita na Proposta Curricular, evidencia certo rebaixamento do conteúdo curricular. Além disso, tomamos desse documento a ideia de que a proposta curricular não pretende “formar sociólogos, mas sim contribuir, através da visão sociológica da realidade, para a formação de cidadãos dotados, no mínimo, de discernimento e de capacidade de perceber relações novas e não triviais entre os elementos das suas experiências de vida. Assim, o alvo do aprendizado não é a apreensão de conceitos, mas uma relação com a realidade social mais nuançada e diferenciada do que a do senso comum”. (SÃO PAULO, 2012, pág. 133) Assim, O fato é que, se não forem acoplados ao ensino de Sociologia no ensino médio objetivos muito bem definidos, corre-se o sério risco da Sociologia se tornar uma disciplina muito burocrática, perdendo o foco de seus princípios científicos investigativos norteadores. (FERREIRA, 2010, p. 33). Portanto, estas questões sobre a qualidade de ensino e aprendizagem em sala de aula, devem ser problematizadas na perspectiva de que uma aprendizagem ideal, que está longe de ser reconhecida, pois existem muitas instâncias que permeiam este processo. As capacidades desenvolvidas hoje têm somente o propósito da boa qualificação em empregos ou universidades e da memorização dos conteúdos. A aprendizagem não tem se dado de forma ampla, e sim de forma esquematizada. Então, como garantir uma boa formação e uma boa aprendizagem, se não se tem discussão da importância das mesmas? Todosfazem parte de discussões superficiais. Os educandos têm que ter uma educação ampliada, os professores uma formação qualificada e os sistemas burocráticos um repensar sobre que se compreende pelo papel e função da escola. Novamente, precisa-se reconsiderar métodos de aprendizagem dentro e fora da sala de aula, como também o conteúdo curricular que valorize o conhecimento científico e não somente aquele baseado no senso comum e superficiais aos alunos. Os cadernos do professor e do aluno: discutindo qualidade de conteúdo curricular e ensino. Na análise do caderno do professor, ele tem como ponto de partida uma carta de apresentação escrita pelo Secretário da Educação do Estado de São Paulo, parabenizando os professores, chamados de colaboradores, e assim os convoca para consolidarem a articulação do currículo proposto pelo Estado com as ações desenvolvidas em sala de aula, que são baseadas nos PCN’s. Enfim, esta carta faz uma alusão às orientações didático-pedagógicas, dizendo que o caderno tem a proposição de apoiar o professor no planejamento de suas aulas para que os alunos se apropriem das competências e habilidades necessárias para a construção do seu saber. Este material dentro da escola é imposto, principalmente pelo fato de ser parâmetro para a elaboração das avaliações externas, que consequentemente, tem nos seus resultados a base para o pagamento dos bônus para cada professor. Também não condiz com o argumento de que serve para a construção dos saberes e apropriação dos conteúdos das disciplinas, pois na própria Proposta Curricular do Estado de São Paulo argumenta-se que o ensino de sociologia não serve para formar sociólogos, não precisando se aprofundar nos conceitos, pois se almeja demonstrar, somente, uma realidade social diferenciada do senso comum. A seguir da carta, tem a apresentação da nova edição do material, que abrange o período de 2014 á 2017, situando o professor na nova reestruturação deste caderno, para melhor atender aos objetivos do currículo, denominando as seguintes finalidades do caderno: • Incorporar todas as atividades presentes nos Cadernos do Aluno, considerando também os textos e imagens, sempre que possível na mesma ordem; • Orientar possibilidades de extrapolação dos conteúdos oferecidos nos Cadernos do Aluno, inclusive com sugestão de novas atividades; • Apresentar as respostas ou expectativas de aprendizagem para cada atividade presente nos Cadernos do Aluno – gabarito que, nas demais edições, esteve disponível somente na internet. (SÃO PAULO, 2014, p. 05) Na sequência, vem o sumário, contendo as informações do caderno, situações de aprendizagens, recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno, quadro de conteúdos do ensino médio e gabarito. Na página seguinte vem a orientação sobre os conteúdos do volume. Nessa etapa é composta do que será abordado em cada situação de aprendizagem. No exemplo a seguir, está sendo utilizado o caderno do professor referente ao segundo semestre do 2º ano do Ensino Médio. Neste livro as situações de aprendizagens se apresentam da seguinte maneira: • Situação de Aprendizagem 1 – O trabalho como mediação • Situação de Aprendizagem 2 – Divisão social do trabalho • Situação de Aprendizagem 3 – Transformações no mundo do trabalho: emprego e desemprego na atualidade • Situação de Aprendizagem 4 – O que é violência? • Situação de Aprendizagem 5 – Violência contra o jovem • Situação de Aprendizagem 6 – Violência contra a mulher • Situação de Aprendizagem 7 – Violência escolar Vê-se que a apresentação das situações de aprendizagem é de modo superficial, pois um tema como o trabalho, deveria ser mais abrangente do que somente em três situações de aprendizagem, não abordando maiores conteúdos, ficando somente na teoria do trabalho em Marx, por exemplo, e também não explicando em quantas aulas que cada situação de aprendizagem deve ser trabalhada. Nessa orientação, será dado ao professor o modo de como prosseguir nas aulas para cada situação de aprendizagem proposta. Um modo de direcionar o professor na utilização ideal do caderno afim do professor não ficar “perdido”. Também demonstra- se a prioridade do conteúdo que o professor irá abordar em cada aula, uma forma de realmente direcionar todo o ensino e intervir na autonomia do professor, como também nas competências e habilidades abordadas, metodologia, estratégias e avaliação. Como no exemplo á seguir: Qual é a importância do trabalho na vida social brasileira? Para respondê-la, o aluno deverá refletir sobre o que é trabalho, qual é o seu papel na vida dos indivíduos, qual é a diferença entre trabalho e emprego, como a Sociologia tem observado e discutido esse fenômeno e, por fim, qual é a especificidade do trabalho na sociedade capitalista. (SÃO PAULO, 2014, p. 07) Será feita a análise de uma situação de aprendizagem do caderno do professor, para ter-se a ideia de como o material é superficial, e demonstra ao professor como se ele não tivesse a capacidade de montar uma aula, já que cada situação de aprendizagem, não somente desde caderno como todos os outros do SPFE, explicam passo a passo a aula, com textos rasos, algumas vezes de própria autoria do SPFE, perguntas diretas para fazerem aos alunos, sendo não um apoio, mas um direcionamento daquilo que o aluno deverá saber e com pouco aprofundamento nos conceitos. Nesse sentido, o educador/sociólogo, ao fazer parte da produção cultural e da reprodução de valores, padrões, conceitos e visões de mundo, tem por obrigação demonstrar as contradições dessa luta constante entre as forças sociais. Um professor de escola pública deve aprender a pensar em termos de luta de classes, mesmo que não seja marxista. (FERREIRA, 2010, p. 26). Na situação de aprendizagem 1 o objetivo é discutir o trabalho e a mediação do ser humano e natureza. A atividade inicia apresentando a palavra trabalho e a sua transformação no tempo, devido ás mudanças sociais, econômicas, politicas e culturais. Colocando também sua diferenciação entre trabalho humano e trabalho animal. Considerando que trabalho é um conceito dado ao ser humano na perspectiva sociológica para construir sua condição humana, a apostila propõe a leitura de Karl Marx, filosofo alemão, referência na categoria trabalho. A atividade segue com dois pequenos trechos de textos sem títulos, para trabalhar a categoria trabalho, um abordando a questão de trabalho e emprego por Outhwaite, e o outro de Marx e a relação da diferenciação do trabalho humano e animal, porém nenhuns dos textos são completos de forma a aprofundar as discussões, sendo tratando de forma superficial que vem seguida de questões que não vão aprofundar o debate de forma a enriquecer o arcabouço intelectual e a criticidade desses alunos. Para finalizar a situação de aprendizagem segue uma lição de casa, com um texto elaborado especialmente para o SPFE, sem autor, título e sequer qualquer contextualização de quem e como se produziu o mesmo. Nos outros textos há curtos parágrafos seguidos de questões que não aprofundam a discussão e a complexidade do conceito trabalho dentro do seu tempo e espaço, com raríssimas imagens o que não contribui para o enriquecimento do meio e abstração do conceito para o aluno. Ao final do caderno, tem a seção de “recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão dos temas”, com indicações de livros com breves sínteses sobre o que tratam. Nesse aspecto vê-se que é importante ter essas indicações, mesmo que não estão sendo abordado dentro das situações, o professor pode ter uma base de sua leitura e indicação aos alunos, tendo autores como Karl Marx, Michael Foucalt e Hannah Arendt como indicações. Também se indica sites para pesquisas e filmes, que ajudam a apoiar a aula e trazer os alunos para uma realidade mais concreta. Após, tem o quadrode conteúdos do 2º ano do ensino médio e o gabarito dos exercícios do caderno do aluno com as devidas respostas. Todos os cadernos do professor são elaborados da mesma forma, a partir de uma sequência: textos com pouco conteúdo teórico, de autoria do SPFE, portanto nem o professor, nem o aluno sabem ao certo quem os escreveu, também não contem títulos, delimitando-se em discussões de um conhecimento fragmentado, organizando, muitas vezes, textos e exercícios como se o aluno não tivesse conhecimento prévio; direcionamento de exercícios de interpretação e atividades de avaliação que não fazem os alunos se auto questionar sobre as temáticas, podendo assim não conseguir transformar a realidade em que vivem, tampouco transformar a si próprios. Nessa perspectiva, Nünez explica pela teoria da atividade de Leontiev: Leontiev (1983) considera a atividade humana como o processo que media a relação entre o ser humano (sujeito) e a realidade a ser transformada por ele (objeto da atividade). Essa relação é dialética, uma vez que não é só o objeto que se transforma, mas, também, o sujeito, ocasião em que se produzem mudanças em sua psique e em sua personalidade. A atividade é o modo, especificamente humano, pelo qual o homem se relaciona com o mundo. (NÜNEZ, 2009, p. 64). Também é importante expor que, Educação Desenvolvente ocorre quando o parceiro do professor não é um estudante [no sentido de um objeto do ensino], mas um auto- professor, um professor de si mesmo. Não é o professor que ensina o aluno, mas o aluno que ensina a si mesmo. E o papel do professor é ajudar o estudante a ensinar-se a si mesmo. (REPKIN, 2003, p. 5). No caderno do aluno, não é muito diferente do professor, na verdade chega a ser mais preocupante, pois inicialmente o caderno não traz atrativo algum para o aluno, sendo em preto e branco, com algumas ilustrações, imagens ou figuras coloridas. O material deveria fazer com que o aluno quisesse trabalhar com ele, que tivesse conteúdos instigantes, criando motivos e necessidades para eles aprenderem. O que hoje é uma das maiores preocupações nos processos de ensino e aprendizagem. Como ao do professor, o caderno também inicia com uma carta aos alunos, descrevendo os conteúdos que serão apresentando ao longo do caderno, anunciando que questionamentos os alunos poderão responder. Essa apresentação abrange uma página, não especificando que competências e habilidades querem desenvolver nos alunos, não tem objetivos claros, pois se explica que irá ser trabalhado nas mais diversas visões de um olhar sociológico, não explicando que visões mais específicas e que olhar sociológico é esse. É importante ressaltar que mesmo que na maioria das vezes essa parte do caderno não seja lida pelo professor, e também pelo aluno, é o momento mais importante na introdução do que deveria ser o material. Explicar para o aluno de modo a motivar, justificar, objetivar e onde querem chegar, criando sentido ao aluno do que ele espera não somente da disciplina em si, mas de como ela pode ajuda-lo á criar consciência do meio onde vive e apropriar-se de conhecimentos científicos. Como, por exemplo, apresenta-se na carta inicial do caderno do aluno: O nosso objetivo é fazer com que você observe o mundo do trabalho e a temática da violência em suas mais diversas visões, levando sempre em consideração a perspectiva de um olhar sociológico. Mais uma vez, o princípio do estranhamento da realidade em que você vive deverá nortear as aulas e a sua compreensão a respeito dos temas. (SÃO PAULO, 2014, s/p). Não havendo sumário, o caderno já inicia na situação de aprendizagem 1, como se não fosse importante trazer um sumário com os títulos do cadernos e suas páginas para facilitar a procura dos conteúdos no caderno. Os exercícios dentro da situação de aprendizagem são muito simples e direto, por exemplo, “o que é trabalho?”, “o que é emprego”, e não há exercícios que façam os alunos refletirem sobre a temática, parecendo que o caderno não é para alunos de ensino médio, dos quais muitos já trabalham e tem uma perspectiva de qual é a realidade deles, sendo estão atividades mais infantilizadas. Vigotski (1996) afirma que o pensamento em conceitos é o meio mais adequado para se conhecer a realidade e, apenas por essa via, é possível apreender a essência interna (concreta) dos objetos, uma vez que esta não se revela de imediato, no contato direto com o fenômeno. (MARTINS, 2010, p. 52). Em cada situação de aprendizagem há pequenas leituras e análises de textos, com poucos exercícios de interpretação dos textos. Tem a lição de casa que também aborda um pequeno texto em seguida de um exercício para interpretar. No Você aprendeu? É para o aluno fazer uma síntese em um texto que apresente argumentos sobre o conteúdo com algumas linhas para escrever. E no final tem o quadro “Aprendendo a aprender” que traz um questionamento a mais sobre o conteúdo para o aluno refletir sobre, ficando esta discussão sem continuidade para discussão seguinte. No final do caderno tem a parte “Para saber mais”. Diferentes do caderno do professor que traz inúmeras indicações, no caderno do aluno são poucas indicações de leituras, filmes e sites. Na verdade é indicado somente um livro para compreensão de todo o conteúdo de cada temática, por exemplo, neste caderno, que estamos analisando, é um livro para compreensão de trabalho e outro livro para compreensão de violência. O que tem maiores indicações são de filmes. Também é disposto a parte “O que eu aprendi”, possui apenas 6 linhas, para se o aluno quiser, escrever algo sobre o que aprendeu, seria melhor utilizar o caderno de classe, do que escrever neste material. Vê-se que se o aluno não tiver outro caderno para escrever, neste material ele fica preso em respostas prontas e rápidas, pois não se tem espaço disponível para textos ou reflexões mais elaboradas. Considerações Finais Portanto, a análise deste material serviu para a compreensão de como os Cadernos elaborados pelo governo do Estado de São Paulo estão fragmentados e superficiais em relação à aprendizagem, contrastando como as discussões apresentadas por Vygotsky. Trata-se de uma atividade de produção e reprodução do conhecimento mediante a qual a criança assimila os modos sociais de atividade e de interação, e mais tarde, na escola, os fundamentos do conhecimento científico, em condições de orientação e interação social. Dessa forma, a aprendizagem é concebida como uma atividade especificamente humana orientada para um objeto. (NÚÑEZ, 2009, p.25). Desta forma entende-se a falta dessa aprendizagem nas escolas, pois se a atividade não faz sentido para o aluno ou que ele não precisa fazer esta atividade, não irá ser do mesmo modo, ela não fará da mesma forma e não terá apreensão do conhecimento, pois o nível de apreensão do conteúdo depende da mediação do professor. Assim o material tem que servir de apoio ao professor, mas que garanta as condições objetivas e subjetivas do processo de ensino-aprendizagem e apreensão da realidade social do aluno, sabendo-se que as condições objetivas estão ligadas ao conteúdo, à objetividade das relações sociais, e as condições subjetivas estão ligadas aos elementos que compõe junto com a objetivação. O objetivo de desnaturalização dos fenômenos/relações com diversos olhares, incluindo nos métodos, instrumentos teóricos, entre outros, é o que deve orientar a ação do professor em sala de aula. Analisa-se que o material é o próprio centro da proposta curricular, que assim segue as políticas constituídas pelo Estado, sabendo-se que a intenção não é criar uma nova consciência de classe e de mundo aos alunos e sim, transmitir conteúdo pelo conteúdo na forma de carregar para si objetivos específicos à escola, como em mérito, avaliações internas e externas e que de certa forma culpabilizará ao professor sobredeficiências no âmbito de aprendizagem dos alunos. Conclui-se com Tacca (2006), que sintetiza o que é ensinar com a motivação e aprender o conteúdo aos alunos: O processo de aprendizagem só pode então ser analisado, interpretado e compreendido acontecendo na integração do individual com o social, assumindo relevância o sentido subjetivo que o sujeito produz frente ao objeto de conhecimento. (p. 61) Portanto, Ensinar, nesta proposição, significa mais do que se preocupar com estratégias e métodos de ensino em si, mas implica, sobretudo, reconhecer a importância de conhecer o fio da história constitutiva da configuração subjetiva dos sujeitos da aprendizagem, procurando compreender a forma como se imbricam nela o afeto e a cognição. (p.61) Referências Bibliográficas BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, 2000. FERREIRA, Eduardo Carvalho. Relação escola e universidade: a Sociologia no ensino médio em perspectiva. IN: A sociologia no ensino médio / César Augusto de Carvalho (org.) – Londrina, PR: EDUEL, 2010. p. 15-35. MARTINS, Lígia Márcia. Implicações pedagógicas da escola de Vigotski: algumas considerações. IN: Vigotski e a escola atual: fundamentos e implicações pedagógicas / Sueli Guadelupe de Lima Mendonça; Stela Miller (orgs.) – 2.ed. revisada – Araraquara, SP : Junqueira&Marin; Marília, SP: Cultura Acadêmica, 2010. p. 48-61. MEKZENAS, Paulo. O ensino de Sociologia na Escola Secundária. IN: UDESC. Grupo de Pesquisa em Sociologia da Educação. Leituras & Imagens. Florianópolis: UDESC, 1995. p. 67-79. NÚÑEZ, Isauro Beltrán. A formação de conceitos na perspectiva teoria de L. S. Vygotsky: aprendizagem e desenvolvimento. IN: Vygotsky, Leontiev, Galperin: Formação de conceitos e princípios didáticos. Brasília: Liber Livro, 2009. p. 25-89. REPKIN, V. V. Ensino desenvolvente e atividade de estudo. Journal of Russian and East European Psychology, vol. 41, nº 4, July – August 2003, pp. xx-xx. Tradução do inglês para uso em sala de aula pelo corpo de tradutoras do grupo de pesquisa Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural/UNESP/Marília (Maria Farias, Stela Miller, Suely Mello). SEE/SP. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Caderno do professor. (Sociologia). São Paulo: IMESP, 2014. _______. Caderno do aluno, (sociologia). São Paulo: IMESP, 2014. _______. São Paulo Faz Escola. IN: www.educacao.sp.gov.br _______. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Sociologia. 2008. _______. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências Humanas e suas Tecnologias. Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; coordenação de área, Paulo Miceli. – 1. Ed. Atual. – São Paulo: SE, 2012. 152p. TACCA, Maria Carmen V. R. Relações sociais na escola e desenvolvimento da subjetividade. IN: Aprendizagem: tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade/ Maria Irene Maluf (coord.) – Petrópolis, RJ: Vozes: São Paulo: ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia, 2006. p. 60-85.
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