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#Carolina R. Dobrotinic APG 01 SOI V Diabetes mellitus Objetivos: 1. Revisar a homeostase da glicose 2. Entender a classificação de diabetes mellitus 3. Compreender a fisiopatologia, manifestações clínicas, etiologia, epidemiologia da diabetes mellitus tipo 1 4. Conhecer o tratamento da DM1 e o diagnostico das DM Revisão O pâncreas é composto por dois tipos principais de tecidos: (1) os ácinos, que secretam o suco digestivo no duodeno, e (2) as ilhotas pancreáticas (ilhotas de Langerhans), que secretam a insulina e o glucagon diretamente no sangue. As ilhotas contêm três tipos principais de células: células alfa, beta e delta, que são distintas entre si por suas características morfológicas e de coloração. As células beta, que constituem cerca de 60% de todas as células das ilhotas, situam-se principalmente no centro de cada ilhota e secretam insulina e amilina, um hormônio que muitas vezes é secretado com a insulina, embora sua função não seja bem compreendida. As células alfa, cerca de 25% do total, secretam glucagon, e as delta, cerca de 10% do total, somatostatina. Além disso, pelo menos um outro tipo de célula, a célula PP, está presente em pequena quantidade nas ilhotas e secreta um hormônio chamado de polipeptídio pancreático. Funções da insulina No caso do excesso de carboidratos, a insulina faz com que eles sejam armazenados sob a forma de glicogênio, principalmente no fígado e nos músculos. Além disso, todo o excesso de carboidratos que não pode ser armazenado na forma de glicogênio é convertido sob o estímulo da insulina em gorduras e armazenado no tecido adiposo. No caso das proteínas, a insulina exerce efeito direto na promoção da captação de aminoácidos pelas células e na sua conversão em proteínas. Além disso, inibe o catabolismo das proteínas que já se encontram nas células. Homeostase da glicose Após a refeição a concentração de glicose no sangue aumenta rapidamente As células beta pancreáticas têm um grande número de transportadores de glicose que permitem o influxo de glicose que é proporcional à concentração plasmática na faixa fisiológica. Uma vez nas células, a glicose é fosforilada pela glicoquinase em glicose-6-fosfato. Essa fosforilação parece ser a etapa limitante para o metabolismo da glicose nas células beta e é considerada como o principal mecanismo de detecção de glicose e de ajuste da quantidade de insulina secretada, em relação aos níveis de glicose plasmática. A glicose-6-fosfato é subsequentemente oxidada de modo a formar trifosfato de adenosina (ATP), que fecha canais de potássio inibidos por ATP da célula. O fechamento dos canais de potássio despolariza a membrana celular, abrindo, assim, os canais de cálcio controlados por voltagem, que são sensíveis às mudanças na voltagem da membrana. Esse efeito produz um influxo de cálcio, que estimula a fusão das vesículas contendo insulina com a membrana celular e a secreção da insulina no líquido extracelular por exocitose. Quando a insulina é secretada na corrente sanguínea, ela circula quase inteiramente em sua forma livre. A insulina, por sua vez, causa captação, armazenamento e utilização rápidos da glicose por quase todos os tecidos do organismo, mas, principalmente, pelos músculos, pelo tecido adiposo e pelo fígado Para iniciar seus efeitos nas células-alvo, a insulina, primeiramente, liga-se e ativa um receptor proteico de membrana. A insulina se liga às subunidades alfa do lado externo da célula; mas, por causa das ligações com as subunidades beta, as porções das subunidades beta que se projetam para o interior da célula se tornam auto fosforiladas. A auto fosforilação das subunidades beta do receptor ativa uma tirosina quinase local, que, por sua vez, causa a fosforilação de diversas outras enzimas intracelulares, inclusive do grupo chamado de substratos do receptor de insulina (IRS). Diferentes tipos de IRS (p. ex., IRS-1, IRS-2, e IRS-3) são expressos em diferentes tecidos. O efeito global é a ativação de algumas dessas enzimas e, ao mesmo tempo, a inativação de outras. Dessa forma, a insulina direciona a maquinaria metabólica intracelular para produzir os efeitos desejados no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas A partir disso, glicose transportada nas células é imediatamente fosforilada e torna-se um substrato para todas as funções metabólicas usuais dos carboidratos Relação com o fígado O fígado remove a glicose do sangue (síntese de glicogênio) quando ela está presente em quantidade excessiva após uma refeição, e a devolve ao sangue (quebra do glicogênio) quando a concentração da glicose sanguínea diminui, no intervalo entre as refeições. Classificação da diabetes mellitus Ver tabela na última página O diabetes mellitus (DM) consiste em um distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia persistente, decorrente de deficiência na produção de insulina ou na sua ação, ou em ambos os mecanismos DM 1 O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune, poligênica, decorrente de destruição das células β pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulina Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou da ausência laboratorial de autoanticorpos circulantes, respectivamente Diabetes mellitus tipo 1A Forma mais frequente de DM1, confirmada pela positividade de um ou mais autoanticorpos Embora sua fisiopatologia não seja totalmente conhecida, envolve, além da predisposição genética, fatores ambientais que desencadeiam a resposta autoimune. Entre as principais exposições ambientais associadas ao DM1 estão infecções virais, componentes dietéticos e certas composições da microbiota intestinal. Diabetes mellitus tipo 1B A denominação 1B, ou idiopático, é atribuída aos casos de DM1 nos quais os autoanticorpos não são detectáveis na circulação. Diabetes mellitus tipo 2 O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) corresponde a 90 a 95% de todos os casos de DM. Possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo componentes genético e ambiental Diabetes mellitus gestacional A gestação consiste em condição diabetogênica, uma vez que a placenta produz hormônios hiperglicemiantes e enzimas placentárias que degradam a insulina, com consequente aumento compensatório na produção de insulina e na resistência à insulina, podendo evoluir com disfunção das células β O DMG trata-se de uma intolerância a carboidratos de gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual, sem ter previamente preenchido os critérios diagnósticos de DM. Outras formas de diabetes mellitus Defeitos genéticos na função da célula β MODY 1 a 6 Diabetes neonatal transitório e permanente DM mitocondrial Defeitos genéticos na ação da insulina Leprechaunismo Síndrome de Rabson-Mendenhall DM lipoatrófico Doenças do pâncreas exócrino Pancreatite Pancreatectomia ou trauma Neoplasia Endocrinopatias Acromegalia Síndrome de Cushing Glucagonoma Diabetes induzido por medicamentos ou agentes químicos Diazóxido Agonistas β adrenérgicos Tiazídicos Infecções Rubéola congênita Citomegalovírus Formas incomuns de DM autoimune Síndrome de Stiff-Man Anticorpos anti receptores de insulina Outras síndromes genéticas por vezes associadas ao DM Síndrome de Down Síndrome de Klinefelter Síndrome de Turner Fisiopatologia e etiologia DM 1 O diabetes do tipo 1 é uma doença autoimune em que a destruição das ilhotas é causada principalmente por células efetoras imunológicas que reagem contra antígenos endógenos das células β A etiologia envolve a interação de fatores genéticos e fatores ambientais. Fatores genéticos Atualmente, são conhecidos mais de trinta loci de suscetibilidade para o diabetes tipo 1. Destes, de longe o mais importante é o locus HLA no cromossomo 6p21, que, de acordo com algumas estimativas, contribui para até 50% da suscetibilidade genética do diabetestipo 1. Cerca de 90% a 95% dos caucasianos com essa doença têm tanto o haplotipo HLA-DR3 quanto o HLA-DR4. Além do mais, 40% a 50% dos pacientes com diabetes do tipo 1 são heterozigotos combinados de DR3/DR4 Os indivíduos que apresentam tanto o DR3 quanto o DR4 em concomitância com um haplotipo DQ8 (o qual corresponde aos alelos DQA1*0301-DQB1*0302) ostentam um dos mais elevados riscos herdados para o diabetes tipo 1 Não se sabe ainda se as associações da doença-HLA refletem a habilidade de moléculas de HLA específicas apresentarem antígenos de ilhotas próprias ou se estão relacionadas com o papel das moléculas HLA na seleção e tolerância das células T. Diversos genes não HLA também conferem suscetibilidade ao diabetes tipo 1. O primeiro gene não MHC associado à doença a ser identificado foi o da insulina, com um número variável de repetições tandem (VNTRs) na região promotora associado à suscetibilidade da doença. O mecanismo subjacente a essa associação é desconhecido. É possível que esses polimorfismos influenciem o nível de expressão da insulina no timo, afetando, assim, a seleção negativa de células T reativas à insulina Fatores Ambientais A natureza dessas influências ambientais ainda é um enigma. Embora se tenha sugerido que infecções virais anteriores talvez tenham funcionado como gatilho para o desenvolvimento da doença, nem o tipo de vírus nem a forma como promove a autoimunidade específica da ilhota foram estabelecidos. Alguns estudos sugerem que os vírus podem partilhar antígenos com epitopos das ilhotas, e a resposta imunitária aos vírus resulta em reatividade cruzada e destruição dos tecidos das ilhotas, um fenômeno conhecido como mimetismo molecular. Resumo A anomalia imunológica fundamental no diabetes tipo 1 é uma falha da autotolerância em células T específicas para antígenos das ilhotas. Essa falha da tolerância pode resultar de algumas combinações de deleções clonais defeituosas das células T autorreativas no timo, assim como de defeitos nas funções das células T regulatórias ou resistência das células T efetoras à supressão pelas células regulatórias. Portanto, as células T autorreativas não somente sobrevivem, como também são estabilizadas para responder aos auto antígenos. A ativação inicial dessas células é conhecida por ocorrer nos linfonodos peripancreáticos, talvez em resposta aos antígenos que são liberados das ilhotas danificadas. As células T ativadas trafegam, então, até o pâncreas, onde causam lesão à célula β. Os autoantígenos das ilhotas que são alvos do ataque imunológico podem incluir insulina, a enzima descarboxilase do ácido glutâmico (GAB) das células β e o autoantígeno 512 das células da ilhota (ICA512). Manifestações clínicas DM 1 O aparecimento do diabetes tipo 1 é normalmente marcado pela tríade de poliúria, polidipsia (sede excessiva) e polifagia (fome excessiva), e, quando grave, também cetoacidose diabética, todas resultantes de desarranjos metabólicos. A hiperglicemia resultante excede o limiar renal para a reabsorção e segue-se a glicosúria. A glicosúria induz diurese osmótica e logo poliúria, causando profunda perda de água e eletrólitos A perda de água renal obrigatória, combinada com a hiperosmolaridade resultante dos níveis aumentados de glicose no sangue, tende a depletar a água intracelular, disparando os osmorreceptores dos centros de sede do cérebro. A proteólise se segue, liberando os aminoácidos gliconeogênicos que são removidos pelo fígado e usados como blocos de construção para a glicose. O catabolismo de proteínas e gorduras tende a induzir um balanço de energia negativo, o que, por sua vez, leva ao apetite aumentado (polifagia), logo completando a tríade clássica A despeito do apetite aumentado, os efeitos catabólicos prevalecem, resultando em perda de peso e fraqueza muscular. A combinação de polifagia e perda de peso é paradoxal e sempre deve levantar suspeita de diabetes. Epidemiologia DM 1 A incidência do diabetes tipo 1 mostra acentuada variação geográfica, apresentando taxas por 100 mil indivíduos com menos de 15 anos de idade, as quais variam, por exemplo, entre 38,4 na Finlândia, 7,6 no Brasil e 0,5 na Coreia. A incidência de diabetes tipo 1 está aumentando nas últimas décadas, particularmente entre crianças com menos de 5 anos de idade. Em 2017, o número mundial de pessoas com DM1, na faixa etária de 0 a 19 anos, foi aproximado em 1.104.500, com estimativa de surgimento de 132 mil casos novos por ano.1 A análise da causa de óbito, por tempo de início e duração do diabetes, mostra que o coma cetoacidótico é uma importante causa de óbito para os indivíduos com diagnóstico recente de diabetes tipo 1, assim como a nefropatia diabética, para os indivíduos com longa duração da doença Estima-se que mais de 88 mil brasileiros tenham DM1 e que o Brasil ocupe o terceiro lugar em prevalência de DM1 no mundo, segundo a International Diabetes Federation. Embora a prevalência de DM1 esteja aumentando, corresponde a apenas 5 a 10% de todos os casos de DM. É mais frequentemente diagnosticado em crianças, adolescentes e, em alguns casos, em adultos jovens, afetando igualmente homens e mulheres. Tratamento DM 1 A terapêutica do DM1, historicamente, segue a tríade composta por insulina, alimentação e atividade física, porém deveria mudar para insulina, monitorização e educação, incluindo-se nesta última a alimentação, a atividade física e a orientação para os pacientes e suas famílias. Insulinoterapia Os esquemas de insulinoterapia para pessoas com DM1 devem mimetizar a secreção fisiológica de insulina que ocorre em indivíduos sem diabetes. A estratégia de eleição é a terapia basal-bolus, que deve ser instituída precocemente, com múltiplas aplicações diárias de insulina (múltiplas doses de insulina – MDI) ou com a bomba de infusão de insulina (sistema de infusão contínua de insulina – SICI). No uso de bombas de infusão de insulina, a única insulina utilizada é a ultrarrápida (lispro, asparte ou glulisina). Constitui-se no mais fisiológico meio de administração de insulina no sistema basal-bolus e que mais proximamente simula o padrão de secreção de insulina pela ilhota pancreática, além de possibilitar maior flexibilidade na administração de insulina e reduzir a variabilidade glicêmica quando corretamente utilizada. Tem se mostrado eficiente em crianças pré-escolares, escolares e adolescentes; em crianças de 1 a 6 anos, melhorou a qualidade de vida e mostrou-se factível e segura, levando os autores a considerarem essa modalidade terapêutica opcional para esse grupo de pacientes Já em pacientes de mais idade, incluindo-se os adolescentes, o uso de sistema de infusão contínua de insulina (SICI) fez melhorarem os controles glicêmicos, reduziu a frequência de hipoglicemias e aumentou a qualidade de vida Atividade física e exercícios Orientação alimentar Diagnóstico de DM A condição na qual os valores glicêmicos estão acima dos valores de referência, mas ainda abaixo dos valores diagnósticos de DM, denomina-se pré-diabetes Ver tabela na última página As categorias de tolerância à glicose são definidas com base nos seguintes exames: ➔ Glicemia em jejum: coletada em sangue periférico após jejum calórico de no mínimo 8 horas; ➔ TOTG: previamente à ingestão de 75 g de glicose dissolvida em água, coleta-se uma amostra de sangue em jejum para determinação da glicemia; coleta-se outra, então, após 2 horas da sobrecarga oral. Importante reforçar que a dieta deve ser a habitual e sem restrição de carboidratos pelo menos nos 3 dias anteriores à realização do teste. ➔ Hemoglobina glicada (HbA1c): oferece vantagens ao refletir níveis glicêmicos dos últimos 3 a 4 meses e ao sofrer menor variabilidade dia a dia e independer do estado de jejum para sua determinação. A confirmação do diagnóstico de DM requer repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame alteradoem segunda amostra de sangue, na ausência de sintomas inequívocos de hiperglicemia Pacientes com sintomas clássicos de hiperglicemia, tais como poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento, devem ser submetidos à dosagem de glicemia ao acaso e independente do jejum, não havendo necessidade de confirmação por meio de segunda dosagem caso se verifique glicemia aleatória ≥ 200 mg/dL DM gestacional Vale ressaltar que o valor de corte da glicemia em jejum durante a gestação difere do considerado normal para não gestantes, sendo < 92 mg/dL em qualquer fase da gestação. Valores entre 92 e 126 mg/dL são diagnósticos de DMG em qualquer fase da gestação.
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