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Soi III 3° PERÍODO palestras TUMORES NEOPLASIAS • Multiplicação celular sem controle e irreversível • Células antes normais se transformam em neoplásicas; • Podem ser malignas ou benignas; • Células neoplásicas benignas se parecem com as células que deram origem a elas (não perdem a diferenciação); • Células neoplásicas malignas geralmente são diferentes das células que lhes deram origem (perdem a diferenciação); • As neoplasias malignas não conhecidas como câncer. Outros crescimentos celulares que não são neoplasias: 1. Hipertrofia: A hipertrofia é um aumento do tamanho das células que resulta em aumento do tamanho do órgão, ou seja, não existem células novas, apenas células maiores, contendo quantidade aumentada de proteínas estruturais e de organelas. Isso ocorre quando as células possuem capacidade limitada de se dividir. 2. Hiperplasia: A hiperplasia é caracterizada por aumento do número de células devido à proliferação de células diferenciadas e substituição por células-tronco do tecido, ou seja, é uma resposta adaptativa em células capazes de replicação. Ocorre simultaneamente com a hipertrofia e sempre em resposta ao mesmo estímulo. 3. Metaplasia: Metaplasia é uma alteração reversível na qual um tipo celular adulto, epitelial ou mesenquimal, é substituído por outro tipo celular adulto. Nesse tipo de adaptação celular, uma célula sensível a determinadoestresse é substituída por outro tipo celular mais capaz desuportar o ambiente hostil. Acredita-se que a metaplasia surjapor uma reprogramação de células-tronco que se diferenciam aolongo de outra via, em vez de uma alteração fenotípica de células já diferenciadas. NEOPLASIA BENIGNA Diz-se que um tumor é benigno quando suas características micro e macroscópicas inspiram menos preocupação e poder invasivo. Isso significa dizer que ele permanece localizado, não consegue se disseminar para outros sítios e geralmente pode ser removido por cirurgia local; o paciente normalmente sobrevive. A nomenclatura dos tumores benignos, de forma bem resumida, são designadas pela ligação do sufixo -oma à célula de origem. NEOPLASIA MALIGNA Os tumores malignos são referidos coletivamente como cânceres, um derivado da palavra latina caranguejo, pois se aderem a qualquer região em que estejam, de maneira obstinada. Dizer que um neoplasma é maligno, significa dizer que a lesão pode invadir e destruir as estruturas adjacentes e se disseminar para sítios distantes (metastatizar) e causar a morte. A nomenclatura desses tumores segue essencialmente o mesmo esquema usado para as neoplasias benignas, com adição de algumas expressões. Os tumores malignos que surgem do tecido mesenquimal geralmente são denominados de sarcomas. Já os que tem origem em células epiteliais são denominados carcinomas. SEMANA 12 CÂNCER DE PULMÃO Definição e Epidemiologia • O câncer de pulmão é considerado a neoplasia maligna mais comum, apresentando aumento progressivo de sua incidência mundial nos últimos anos. • Está associado ao tabagismo em 90% dos casos. Fatores De Risco • O tabagismo é, sem dúvida, o principal fator de risco associado ao desenvolvimento do câncer de pulmão. • Outros fatores de risco reconhecidos são agentes químicos, como arsênico, asbesto, berílio, cádmio, cloreto de vinil e cromo, baixa ingestão de frutas e verduras, doença pulmonar obstrutiva crônica, fatores genéticos e história familiar de câncer de pulmão. Sinais e Sintomas • Os sintomas variam conforme a localização do tumor. Os tumores centrais podem apresentar manifestações como tosse, sibilos, estridor, hemoptise e pneumonia. Já os tumores de l oca l i zação per i f é r i ca são ge ra lmente oligossintomáticos, causando dor somente quando invadem a parede torácica. • O tumor com apresentação no ápice pulmonar em geral compromete as raízes nervosas de C8- T1, causando a síndrome de Pancoast, que se caracteriza por dor no ombro com irradiação para o membro superior do mesmo lado. • Embora muitos pacientes apresentem sintomas secundários ao comprometimento local pelo tumor, a apresentação pode ocorrer por meio de s intomas denominados paraneoplásicos, gera lmente de natureza endócr ina ou neurológica. Tipos Carc i noma espi no ce lu lar/ epidermoide/ escamoso • É diagnosticado mais comumente nos homens e está relacionado com a história de tabagismo. • Esse tipo de carcinoma tende a originar-se dos brônquios centrais na forma de uma proliferação intra luminar e, des te modo, pode ser diagnosticado mais precocemente por exame citológico do escarro que os outros tipos de câncer do pulmão. • O carcinoma espinocelular busca disseminar-se centralmente aos brônquios primários e aos linfonodos hilares e, nos estágios mais avançados que com os outros cânceres broncogênicos, espalha-se para fora do tórax. • O carcinoma espinocelular está associado às s índromes paraneoplás icas que causam hipercalcemia. • Macroscopicamente, o carcinoma epidermoide apresenta-se como lesão que varia desde pequena tumoração endobrônquica obstrutiva até grandes massas que sofrem cavitação e hemorragia, por causa de necrose frequente. • A neoplasia tende a invadir a parede brônquica e o parênquima pulmonar adjacente. Adenocarcinoma • A associação desse tipo de câncer ao tabagismo é m e n o s ev i d e n t e q u e a d o c a rc i n o m a espinocelular. • O adenocarcinoma de pulmão é mais comum nas mulheres e nos indivíduos que não fumam. • Os adenocarcinomas podem originar-se dos tecidos bronquiolares ou alveolares do pulmão. • Esses tumores tendem a se localizar mais perifericamente nos pulmões, envolve muitas vezes a pleura visceral e, em muitos casos, associa-se a lesões destrutivas e cicatrizes no parênquima pulmonar (fibrose, espaços aéreos não funcionantes, infecções granulomatosas, etc.) ou a hiperplasia de pneumócitos, que são os locais de origem de focos adenomatosos. • A maioria dos adenocarcinomas origina-se nas vias respiratórias periféricas, a partir de células claviformes – club-cell (células epiteliais colunares não ciliadas) ou de pneumócitos do tipo II. • Em geral, os adenocarcinomas têm prognóstico ma i s de s f avoráve l que o s ca rc inomas espinocelulares nos estágios correspondentes. Carcinomas de grandes células • O tumor é indiferenciado e tem comportamento altamente agressivo, evoluindo rapidamente para óbito. • Os carcinomas de células grandes tendem a ocorrer na periferia dos pulmões e invadir brônquios segmentares e vias respiratórias mais calibrosas. • A lesão é predominantemente periférica, subpleural, não se associa a segmento brônquico e caracteriza-se pela tendência a formar grandes massas com áreas de necrose e hemorragia. • A OMS define o tumor como neoplasia maligna composta de grandes células contendo núcleos grandes e centrais, com forma que varia de oval a poligonal, nucléolo evidente, citoplasma abundante e membrana celular usualmente bem definida; a relação núcleo/citoplasma é a mais alta entre as neoplasias pulmonares. • Ao microscópio de luz, não apresenta arranjo característico, isto é, não há sinais de diferenciação escamosa nem formação de estruturas glandulares. • À microscopia eletrônica, no entanto, as células apresentam muitas vezes diferenciação escamosa ou glandular, podendo haver produção de muco. • Os tumores desse tipo têm prognóstico desfavorável, em razão de sua tendência a produzir focos metastásticos distantes em estágios iniciais de sua evolução. Carcinoma de pequenas células • Os CPPC caracterizam-se por um tipo celular distintivo, isto é, células redondas ou ovais pequenas que têm dimensões semelhantes ao tamanho de um linfócito, com núcleo denso, redondo ou oval, cromatina difusa, nucléolo inconspícuo e citoplasma escasso. • As células proliferam em grupos, que não demonstram organização glandular ou escamosa. •Exames de microscopia eletrônica revelam a existência de grânulos neurossecretórios em algumas células do tumor, que são semelhantes aos encontrados no epitélio brônquico do feto ou do recém-nascido. • Esses grânulos sugerem a possibilidade de que alguns desses tumores secretem hormônios polipeptídicos. • Marcadores neuroendócrinos, como enolase específica dos neurônios, peptídio semelhante ao paratormônio e outros produtos hormonais ativos, sugerem que esses tumores possam ter origem nas células neuroendócrinas do epitélio brônquico. • Esse tipo de célula está diretamente associado ao tabagismo e raramente é observado nos indivíduos que nunca fumaram. • Os CPPC são altamente malignos, tendem a causar infiltrados difusos, disseminam em estágios precoces de sua evolução e raramente são operáveis. • Ao diagnóstico, frequentemente já existem metástases linfonodais e na medula óssea. • O tumor pode produzir e secretar ACTH, serotonina, hormônio antidiurético, calcitonina, estrógenos e hormônio de crescimento, re su l tando em d iver sa s man i f e s taçõe s paraneoplásicas. • Esse tipo de câncer pulmonar está associado a várias síndromes paraneoplásicas, inclusive síndrome de secreção inadequada de hormônio antidiurético (SSIADH), síndrome de Cushing associada à secreção ectópica de hormônio adrenocorticotrófico e síndrome de Eaton- Lambert (um distúrbio neuromuscular). CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS TUMORAIS 1. Perda da inibição por contato Perda da adesividade 2. Motilidade 3. Angiogênese 4. Metastatização DENGUE O QUE É DENGUE? • A dengue é a arbovirose urbana mais prevalente nas Américas, principalmente no Brasil. • O vírus dengue (DENV) é um arbovírus t ransmi t ido pe la p icada da fêmea do mosquito Aedes aegypti e possui quatro sorotipos diferentes (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Observação: Em termos de virulência, o 2 é o que mais se destaca, seguido pelo 3, depois o 4 e, por último, o sorotipo 1 (então para organizar isso: 2 > 3 > 4 > 1). • O período do ano com maior transmissão da doença ocorre nos meses mais chuvosos de cada região. • O Aedes é capaz de se multiplicar em vários ambientes, como caixas d’água, pneus, calhas de telhas etc. • Uma única fêmea do mosquito pode colocar até 150 ovos. Estes, por sua vez, podem resistir por mais de um ano sem umidade. • O período de incubação médio da doença é de quatro a sete dias, e a infecção pode apresentar‐ se, por exemplo, como assintomática, febre indiferenciada, síndrome da dengue e dengue hemorrágica. • O acúmulo de água parada contribui para a proliferação do mosquito e, consequentemente, maior disseminação da doença. MODO DE TRANSMISSÃO • O Aedes aegypti é um mosquito de hábito diurno, principalmente no início da manhã e no final da tarde; tem preferência por ambientes urbanos e intra-domiciliares; e alimenta-se principalmente de sangue humano. • A proliferação do mosquito é feita pela postura de ovos pela fêmea em coleções de água parada onde posteriormente eles eclodem originando as larvas. • O tempo decorrido entre a eclosão do ovo e o mosquito adulto é cerca de 10 dias, sendo influenciado por fatores como a temperatura, que acelera esse processo. • O ovo do mosquito sobrevive por até um ano fora da água, aguardando condições ambientais favoráveis para se desenvolver. • A transmissão se faz pela picada dos mosquitos A. aegypti, no ciclo ser humano – A. aegypti – ser humano. • Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem por intermédio de fontes de água ou alimento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • A infecção pode ser assintomática ou causar doença cujo espectro inclui desde formas oligossintomáticas até quadros graves com choque, com ou sem hemorragia, podendo evoluir para o óbito. As manifestações clínicas da Dengue, podem ser classificadas em três fases: Fase febril ou clássica • Tem duração de dois a sete dias. • Caracterizada por febre alta (39°C a 40°C) de início abrupto, associado a cefaleia, hiporexia, mialgia, artralgia, prostração, astenia, dor retro- orbital, exantema, prurido cutâneo, náuseas e vômitos. Podem ocorrer mani fes tações h e m o r r á g i c a s l e ve s , c o m o p e t é q u i a s , gengivorragia e epistaxe. • A diarreia está presente em percentual significativo dos casos, habitualmente não é volumosa, cursando apenas com fezes pastosas numa frequência de três a quatro evacuações por dia, o que facilita o diagnóstico diferencial com gastroenterites de outras causas. Fase crítica • A fase crítica tem início com o declínio da febre (período de defervescência), entre o 3° e o 7° dia do início de sintomas. 1- Dengue com sinal de alarme • Os sinais de alarme, quando presentes, ocorrem na fase crítica. • A maioria deles é resultante do aumento da permeabilidade capilar. • Essa condição marca o início da piora clínica do paciente e sua possível evolução para o choque, por extravasamento plasmático. Os sinais de alarme são: 1. Dor abdominal intensa; 2. Vômitos persistentes; 3. Acúmulo de líquidos; 4. Letargia/irritabilidade; 5. Hipotensão Postural; 6. Hepatomegalia > 2cm 7. Sangramento de mucosa; 8. Aumento do hematócrito. 2- Dengue grave • As formas graves da doença podem manifestar-se com extravasamento de plasma, levando ao SEMANA 13 choque ou acúmulo de líquidos com desconforto respiratório, sangramento grave ou sinais de disfunção orgânica como o coração, os pulmões, os rins, o fígado e o sistema nervoso central (SNC). • O quadro clínico é semelhante ao observado no comprometimento desses órgãos por outras causas. • Derrame pleural e ascite podem ser clinicamente detectáveis, em função da intensidade do extravasamento e da quantidade excessiva de fluidos infundidos. • O extravasamento plasmático também pode ser percebido pelo aumento do hematócrito, quanto maior sua elevação maior será a gravidade, pela redução dos níveis de albumina e por exames de imagem. 2.1- Choque • O choque ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido através do extravasamento, o que geralmente ocorre entre os dias quatro ou cinco (com intervalo entre três a sete dias) de doença, geralmente precedido por sinais de alarme. • O período de extravasamento plasmático e choque leva de 24 a 48 horas, devendo a equipe assistencial estar atenta à rápida mudança das alterações hemodinâmicas. • O choque na dengue é de rápida instalação e tem curta duração. • Podendo levar o paciente ao óbito em um intervalo de 12 a 24 horas ou a sua recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada. • O choque prolongado e a consequente h i p o p e r f u s ã o d e ó r g ã o s r e s u l t a n o comprometimento progressivo destes, bem como em acidose metabólica e coagulação intravascular disseminada. • Isso, por sua vez, pode levar a hemorragias graves, causando diminuição de hematócrito agravando ainda mais o choque. • Podem ocorrer alterações cardíacas graves ( i n s ufi c i ên c i a c a rd í ac a e m i o c a rd i t e ) , manifestando-se com redução de fração de ejeção e choque cardiogênico. • Síndrome da angústia respiratória, pneumonites e sobrecargas de volume podem ser a causa do desconforto respiratório. 2.2- Hemorragias grave • Em alguns casos pode ocorrer hemorragia massiva sem choque prolongado e este sangramento massivo é critério de dengue grave. • Este tipo de hemorragia, quando é do aparelho digestivo, é mais frequente em pacientes com histórico de úlcera péptica ou gastrites, assim como também pode ocorrer devido a ingestão de ácido acetil salicílico (AAS), anti-inflamatórios não esteroides (AINES) e anticoagulantes. • Estes casos não estão obrigatoriamente associados à trombocitopenia e hemoconcentração. 2 . 3 - D i s f u n ç õ e s g r a ve s d e ó r g ã o s (manifestações atípicas) • O grave comprometimentoorgânico, como hepatites, encefalites ou miorcardites pode ocorrer sem o concomitante extravasamento plasmático ou choque. • As miocardites por dengue são expressas principalmente por alterações do ritmo cardíaco (taquicardias e bradicardias), inversão da onda T e do segmento ST com disfunções ventriculares (diminuição da fração da ejeção do ventrículo esquerdo), podendo ter elevação das enzimas cardíacas. • Alguns pacientes com dengue podem ter manifestações menos usuais, como falência hepática, miocardiopatia, manifestações e síndromes neurológicas (delírio, depressão, sonolência, irritabilidade, coma, psicose, encefalite, convulsões, mononeuropatias, polineuropatias, Síndrome de Guillain-Barré - doença autoimune que ataca o cerebro - Síndrome de Reye - inflamação do cérebro e acúmulo de gordura no fígado -, mielite transversa). Fase de recuperação • Nos pacientes que passaram pela fase crítica haverá reabsorção gradual do conteúdo extravasado com progressiva melhora clínica. • É importante estar atento às possíveis complicações relacionadas à hiper-hidratação. • Nesta fase o débito urinário se normaliza ou aumenta, podem ocorrer ainda bradicardia e mudanças no eletrocardiograma. • Alguns pacientes podem apresentar um rash cutâneo acompanhado ou não de prurido generalizado. • Infecções bacterianas poderão ser percebidas nesta fase ou ainda no final do curso clínico. • Tais infecções em determinados pacientes podem ter um caráter grave, contribuindo para o óbito. PROVA DO LAÇO • Evidencia a fragilidade capilar. • Essa prova é realizada desenhando-se no antebraço do paciente um quadrado com 2,5cm de lado (ou uma área ao redor da falange distal do polegar). Em seguida deve-se verificar a pressão arterial do paciente (sentado ou de pé) e calcular o valor médio (PAS + PAD)/2. • Então, deve-se insuflar novamente o manguito até atingir o valor médio e manter por cinco minutos para adultos e três minutos para criança. • Depois é feita a contagem do número de petéquias que apareceram dentro do quadrado. • A prova é considerada positiva se houver 20 ou mais petéquias no adulto e 10 ou mais petéquias na criança. Observação: Deve-se ter em mente que essa prova também pode ser positiva em outras situações clínicas que cursem com fragilidade microvascular ou plaquetopenia. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Considerando-se que a dengue tem amplo espectro clínico, as principais doenças que fazem diagnóstico diferencial são: influenza, enteroviroses, doenças exantemáticas (sarampo, rubéola, parvovirose, eritema infeccioso, mononucleose infecciosa, exantema súbito, citomegalovirose e outras), hepatites virais, hantavirose, pneumonia, sepse, infecção urinária, meningococcemia, leptospirose, malária, febre amarela CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA Exames específicos: Pesquisa de anticorpos IgM por testes sorológicos (ELISA); pesquisa de vírus (tentativa de isolamento viral); pesquisa de genoma do vírus dengue (RT-PCR); pesquisa de antígeno NS1 (glicoproteína altamente conservada que está presente em altas concentrações no soro de pacientes infectados pela dengue); ou ainda estudo anatomopatológico seguido de pesquisa de antígenos virais por imunohistoquímica. Exames inespecíficos: Hematócrito, contagem de plaquetas e dosagem de albumina são os mais importantes para o diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com dengue, especialmente os que apresentarem sinais de alarme, sangramento, e para pacientes em situações especiais, como criança, gestante, idoso (>65 anos), portadores de hipertensão arterial, diabetes melitus, asma brônquica, alergias, doença hematológica ou renal crônicas, doença severa do sistema cardiovascular, doença ácido-péptica ou doença auto-imune. Observação: NS1, PCR e isolamento viral (até 5 dias). Sorologia depois de 5 dias. p Hemograma Eritrograma 1. N° de hemácias 2. Hemoglobina 3. Hematócrito - VCM - HCM /CHCM / RDW Leucograma 1. Contagem global 2. Contagem diferencial Plaquetograma 1. Contagem de plaquetas No que eu devo ficar atento no paciente com dengue? Hematócrito alto + plaquetas baixas: sinal de alarme. ESTADIAMENTO CLÍNICO DA DENGUE O atendimento inicial ao paciente com suspeita de dengue deve ser baseado na anamnese e história clínica. Deve-se classificar o paciente em 4 grupos para manejo adequado: 1. Grupo A: paciente com suspeita de dengue, sem s inais de a lar me ou comorbidades e condições especiais; 2. Grupo B: paciente com suspeita de dengue, sem sinais de alarme mas com condições especiais ou comorbidades; 3. Grupo C: paciente com diagnóstico de dengue e com sinais de alarme; 4. Grupo D: paciente com diagnóstico de dengue grave, apresentando choque, hemorragia ou disfunção orgânica. CONDUTAS E TRATAMENTOS ANEMIAS CARENCIAIS • Anemia é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais. • As anemias podem ser causadas por deficiência de vários nutrientes como ferro, zinco, vitamina B12 e proteínas. A N E M I A P O R D E F I C I Ê N C I A D E F E R R O (FERROPRIVA) • A deficiência de ferro é uma causa comum de anemia em todo o mundo, acometendo pessoas de todas as idades. • É associada à redução da capacidade de trabalho em adultos e ao retardo no desenvolvimento mental e motor da criança. • É a principal causa de anemia microcítica e hipocrômica. A anemia ferropriva pode ser consequência de: 1. Deficiência alimentar: Vegetarianos, crianças entre 6 meses e 2 anos, idosos. 2. Perda de ferro mediante sangramento: Perdas menstruais excessivas, doenças do trato gastrointestinal (varizes, úlcera péptica, doenças inflamatórias intestinais, etc); doadores habituais de sangue, distúrbios da hemostasia, hematúria, uso de AINEs e anticoagulantes. 3. Má absorção: Doença celíaca, gastrite atrófica, gastrectomia, cirurgias bariátricas. 4. Aumento na demanda. • Como o ferro é um componente do heme, a deficiência leva a uma diminuição da síntese de hemoglobina e, consequentemente, à redução no aporte de oxigênio aos tecidos. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE • O ferro no organismo é utilizado diariamente por vários mecanismos. • Quando as hemácias entram em processo de envelhecimento são degradadas, o ferro é liberado e reutilizado na produção de novas hemácias. • Não obstante, a eficiência desse processo, pequenas quantidades de ferro são perdidas nas fezes e precisam ser repostas por meio da dieta. • O equilíbrio do ferro é mantido pela ingestão de 1 a 2 mg/dia para substituir a perda de ferro nas fezes. • A maior parte do ferro é derivada da carne e, quando não existe disponibilidade desse alimento, como no caso de populações menos favorecidas, ou por não ser um componente alimentar, como para os vegetarianos, pode ocorrer uma deficiência de ferro. • A razão mais comum para deficiência de ferro em adultos no mundo ocidental é a perda crônica de sangue, porque o ferro não pode ser reciclado para retornar ao pool sanguíneo. • Em homens e mulheres na pós-menopausa, a perda de sangue pode ocorrer a partir de sangramento gastrintestinal resultante de úlcera péptica, lesões vasculares, pólipos intestinais, hemorroidas ou câncer. • Embora a interrupção da menstruação elimine uma grande fonte de perda de ferro na gestante, as necessidades de ferro aumentam durante a gestação e é comum a manifestação de deficiência. • As evidências demonstram que gestantes com anemia ferropriva submetidas à suplementação não sofrem maior perda fetal ou problemas fetais congênitos que mulheres com níveis adequados de ferro e sem suplementação durante a gestação. • No entanto, gestantes com anemia ferropriva sem s u p l e m e n t a ç ã o a p re s e n t a m u m a t a x a l ige i ramente maior de recém-nasc idos prematuros e taxas denatalidade mais baixas do que aquelas que recebem suplementação de ferro. • O processo de crescimento de uma criança impõe exigências adicionais sobre o organismo. • O volume de sangue aumenta, elevando as necessidades de ferro. • As necessidades de ferro são proporcionalmente mais altas na primeira infância (3 a 24 meses) do que em qualquer outra idade, embora também sejam maiores por toda a infância e adolescência. - Observação: Na infância, as duas principais causas de anemia ferropriva são baixos níveis de ferro ao nascimento devido a uma deficiência materna e uma dieta que consiste principalmente em leite de vaca, que é pobre em ferro absorvível. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS SEMANA 14 As manifestações de anemia ferropriva estão relacionadas com prejuízo no transporte de oxigênio e falta de hemoglobina. Dependendo da gravidade do quadro, podem se manifestar: 1. Fadiga; 2. Palpitações; 3. Dispneia; 4. Angina; 5. Taquicardia. 6. Complicação neurocomportamental curiosa -> pica (compulsão patológica por comer coisas não alimentares, como sujeira ou terra). É comum o desenvolvimento de atrofia epitelial, que resulta em: 1. Palidez cérea; 2. Cabelos e unhas quebradiços, algumas vezes com um tipo de deformidade chamada coiloníquia, que confere às unhas um aspecto de colher; 3. Língua lisa, com feridas nos cantos da boca e, 4. Disfagia e diminuição da secreção ácida (raramente). DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • São características da anemia ferropriva baixo nível de hemoglobina e hematócrito, diminuição das reservas de ferro e baixo teor de ferro sérico e ferritina (proteína que armazena ferro). • Existe uma quantidade menor de hemácias, e estas são microcíticas e hipocrômicas. • Também ocorrem poiquilocitose (formato irregular) e anisocitose (tamanho irregular). 1° estágio: depleção de reservas de ferro na medula/fígado: 1. Redução de ferritina 2. Redução da saturação de transferrina 3. Aumento da capacidade total de ligação do Ferro 4. Redução do ferro sérico 2° estágio: alterações hemograma 1. Hb/Ht diminuídos 2. VCM/HCM diminuídos 3. Redução do n° de reticulócitos 4. Leucopenia discreta 5. Trombocitose 6. Aumento do RDW (anisocitose) Testes laboratoriais • Os testes laboratoriais indicam menores valores de CHCM - Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média (serve para analisar a quantidade de hemoglobina presente nas hemácias) e VCM - Volume corpuscular médio - (indica o tamanho médio das hemácias). - Observação: Alterações na membrana podem predispor à hemólise, causando uma perda ainda maior de hemácias. Prevenção • A prevenção da deficiência de ferro é a principal preocupação em lactentes e crianças. • Recomenda-se evitar o uso de leite de vaca, a s u p l e m e n t a ç ã o d e f e r ro e m c r i a n ç a s amamentadas com leite materno com idades entre 4 e 6 meses e o uso de fórmulas e cereais enriquecidos com ferro para crianças com menos de 1 ano de vida. • Durante o segundo ano, uma dieta contendo alimentos ricos em ferro e o uso de vitaminas enriquecidas com ferro ajuda a evitar a deficiência desse nutriente. Tratamento • O tratamento da anemia ferropriva em crianças e adultos é direcionado ao controle de perda crônica de sangue, aumento na ingestão de ferro e administração de suplementos. • A suplementação com sulfato ferroso (120 a 180 mg de ferro elementar/dia), que é a terapia de reposição oral rotineiramente empregada, repõe as reservas de ferro em um intervalo de meses. ANEMIAS MEGALOBLÁSTICAS • Anemias megaloblásticas são causadas pelo comprometimento na síntese de DNA, que resulta em hemácias aumentadas de tamanho (VCM > 100 fl), devido à maturação e divisão deficientes. • A deficiência de vitamina B12 e ácido fólico são as condições mais comumente associadas a casos de anemia megaloblástica. • Como a anemia megaloblástica se desenvolve lentamente, muitas vezes poucos sintomas se manifestam até que a condição já esteja muito avançada. ANEMIA POR DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 (ANEMIA PERNICIOSA) • Esta vitamina, também conhecida como cobalamina, funciona como cofator para duas reações importantes no organismo de seres humanos. • É essencial para a síntese do DNA e para a maturação nuclear, que, por sua vez, conduz à maturação e divisão normal das hemácias. • A vitamina B12 também está envolvida com a reação que impede as moléculas anormais de ácidos graxos de serem incorporadas aos lipídios neuronais. • Essa anomalia pode predispor à decomposição da mielina e produzir algumas complicações neurológicas causadas por deficiência de vitamina B12. Observação: Nos dias de hoje, aproximadamente 5 a 20% dos idosos apresentam deficiência de vitamina B12 por problemas de má absorção, que pode ser afetada por diferentes fatores, como uso a longo prazo de inibidores da bomba de prótons e metformina ou submissão a uma cirurgia de desvio gástrico (bypass). No entanto, outras pessoas além dos idosos podem adquirir anemia megaloblástica. Por exemplo, uma criança com histórico de gastrosquise que tenha desenvolvido deficiência de vitamina B12. PRINCIPAIS CAUSAS 1. Deficiência nutricional : ocorre nos vegetarianos que não consomem produto de origem animal e populações com hábitos vegetarianos impostos pela pobreza. 2. Má absorção da vitamina B12 dos alimentos: ocorre em pacientes com cirurgia gástrica, uso de medicamentos supressores da secreção gástrica (omeprazol). 3. Ausência de secreção gástrica: deficiência da produção do fator intrínseco associada à produção deficiente de ácido clorídrico pode ser decorrente de gastrectomia, gastrite atrófica crônica secundária à destruição autoimune das células parietais da mucosa. 4. Má absorção induzida por drogas: biguanidas, cloreto de potássio, colchicina, neomicina. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE • A vitamina B12 é encontrada em todos os alimentos de origem animal. • A deficiência alimentar é rara e geralmente é encontrada apenas em vegetarianos estritos, que evitam todos os produtos lácteos, bem como carne e peixe. • As reservas orgânicas usuais de 1.000 a 5.000 microgramas (mg) supre as necessidades diárias de 1 mg por vários anos. • Portanto, a deficiência de vitamina B12 se desenvolve lentamente. • A vitamina B 12 é absorvida por um processo especial. Depois de liberada da proteína animal, ela se liga a um fator intrínseco, uma proteína secretada pelas células parietais gástricas. • O complexo fator intrínseco–vitamina B12 protege a molécula de vitamina contra a digestão por enzimas intestinais. • O complexo viaja até o íleo, onde se liga a receptores de membrana nas células epiteliais. • A vitamina B 12 então se separa do fator intrínseco e é transportada através da membrana para a circulação. • Na corrente sanguínea, ela se liga à proteína transportadora, a transcobalamina II, que transporta a vitamina B12 até os locais de armazenamento e os tecidos. • Qualquer defeito nessa via é capaz de causar uma deficiência. • Anemia perniciosa é uma forma específica de anemia megaloblástica causada por gastrite atrófica e incapacidade de produção de fator intrínseco, o que resulta na incapacidade de absorção de vitamina B12. • Acredita-se que a anemia perniciosa seja o resultado de uma destruição da mucosa gástrica mediada imunologicamente, possivelmente autoimune. O soro dos pacientes + afetados contém vários tipos de autoanticorpos que: 1. Anticorpo tipo 1: Bloqueiam a ligação da vitamina B12 ao fator intrínseco 2. Anticorpo tipo 2: Impedem a ligação do complexo fator intrínseco–vitamina B12 à cubilina (receptor íleal). • A gastrite atrófica crônica (causa mais comum) resultante se caracteriza por perda de células parietais e produção de anticorpos que interferem na ligação da vitamina B12 ao fator intrínseco. • Outras causas de anemia pela deficiência de vitamina B12 incluem gastrectomia,ressecção ileal, inflamação ou neoplasias no íleo terminal e síndromes de má absorção. • A principal característica da deficiência de vitamina B12 é a anemia megaloblástica. • Quando a quantidade de vitamina B12 não é suficiente, as hemácias produzidas são anormalmente grandes devido ao excesso de crescimento e citoplasmático e produção de proteínas estruturais. • As células têm núcleos imaturos e mostram sinais de destruição celular. • Elas apresentam membranas frágeis e formato oval, em vez de bicôncavo. Essas células de formato estranho têm um curto tempo de vida que pode ser medido em semanas, em vez de meses. • A deficiência de vitamina B12 está associada a outros distúrbios além da anemia perniciosa. • A maioria desses distúrbios prejudica a absorção da vitamina em uma das etapas anteriormente descritas. • Com a acloridria e a perda da secreção de pepsina (que ocorre em alguns indivíduos idosos), a vitamina B12 não é prontamente liberada das proteínas dos alimentos. • Com a gastrectomia, o fator intrínseco não está disponível para a captação no íleo. • Com a perda da função pancreática exócrina, a vitamina B12 não pode ser liberada dos complexos haptocorrina‐vitamina B12. • A ressecção ileal, ou doença ileal difusa, pode remover ou lesar o sítio de absorção do complexo fator intrínseco‐vitamina B12. Observação: É armazenada no fígado, que normalmente contém reservas suficientes p/ suportar as necessidades corporais de 5 a 20 anos. Devido a esses grandes estoques hepáticos, apresentações clínicas de deficiência de vitamina B12 normalmente ocorrem após anos de má absorção. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. A perda de hemácias resulta em um quadro entre moderado e grave de anemia e icterícia. 2. O VCM é elevado, uma vez que as células são maiores do que o normal, e o valor de CHCM é normal. 3. Palidez 4. Cansaço 5. Em casos graves, dispneia e até ICC. 6. As alterações neurológicas que acompanham a doença são causadas por desarranjos na metilação da proteína mielina. 7. A desmielinização das colunas dorsal e lateral da medula espinal causa parestesia simétrica dos pés e dedos, perda da sensação vibratória e de propriocepção, bem como eventual ataxia espástica. 8. Em casos mais avançados, a função cerebral pode ser alterada. 9. Em alguns casos, sintomas de confusão mental, demência e outras alterações neuropsiquiátricas podem preceder alterações hematológicas. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • O diagnóstico de deficiência de vitamina B12 é estabelecido quando se verifica um nível sérico anormalmente baixo de vitamina B12. Os achados que suportam o diagnóstico de deficiência de vitamina B12 incluem: 1. Baixos níveis séricos de vitamina B12 2. Níveis séricos de folato normais ou elevados 3. Anemia macrocítica moderada a grave 4. Leucopenia c/ granulócitos hipersegmentados 5. Acentuada resposta reticulocitária (dentro de 2 a 3 dias) à administração parenteral de vitamina B12 • No passado, utilizava-se o teste de Schilling, que mede o débito urinário de 24 h, com vitamina B12 radiomarcada administrada por via oral para documentar a redução na absorção de vitamina B12. • Atualmente, o diagnóstico da anemia perniciosa geralmente é estabelecido por meio da detecção de células parietais e anticorpos de fator intrínseco. • O tratamento é para toda a vida e consiste em injeções intramusculares ou doses orais elevadas de vitamina B12 para reverter o quadro anêmico e melhorar as alterações neurológicas. ANEMIA POR DEFICIÊNCIA DE ÁCIDO FÓLICO • O ácido fólico também é necessário para a síntese de DNA e a maturação das hemácias; sua deficiência produz o mesmo tipo de alterações megaloblásticas ocorridas na anemia por deficiência de vitamina B12 (p. ex., aumento de VCM e CHCM normal). - Observação: Os sintomas também são semelhantes, mas sem manifestações neurológicas. PRINCIPAIS CAUSAS 1. Aumento das necessidades nutricionais: gravidez e lactação 2. Doenças do intestino delgado: o espru tropical e doença celíaca podem ocorrer por deficiência de folatos decorrentes da má absorção causadas pelas anormalidades da mucosa intestinal 3. Abuso de álcool 4. Medicamentos: trimetoprina, pirimetamina, metotrexato, sulfassalazina, quimioterápicos, antirretrovirais. • O ácido fólico é facilmente absorvido pelo intestino. • Pode ser encontrado em vegetais (especialmente os tipos de folhas verdes), frutas, cereais e carnes. • Grande parte da vitamina, contudo, é perdida no cozimento. • As causas mais comuns de deficiência de ácido fólico são desnutrição ou falta de ácido fólico na dieta, especialmente em idosos ou em associação ao etilismo. • São necessários 50 mg diários na dieta. • A deficiência na dieta pode resultar em anemia em poucos meses. • É relevante saber que sua conversão dentro das células de di- hidrofolato p/ tetra-hidrofolato pela di-hidrofolato redutase é particularmente importante. • O tetra-hidrofolato age como receptor e doador de unidades de carbono em várias reações necessárias p/ a síntese de desoxitimidina monofosfato (dTMP). • Se o armazenamento intracelular de folato falhar, a dTMP é sintetizada em quantidade insuficiente e a replicação do DNA é bloqueada, levando à anemia megaloblástica. • Problemas relacionados com a má absorção de ácido fólico podem decorrer de síndromes como a doença celíaca ou outros distúrbios intestinais. • Certos medicamentos, particularmente o anticonvulsivante fenitoína e os contraceptivos orais, interferem na absorção. • Alguns medicamentos usados para tratar transtornos convulsivos (p. ex., primidona, fenitoína, fenobarbital) e triantereno, um diurético, interferem na absorção do ácido fólico. • É comum a observação de deficiência de ácido fólico em casos de doença neoplásica, nos quais células tumorais competem pelo folato. • O metotrexato, que é um análogo do ácido fólico utilizado no tratamento de câncer, também pode prejudicar a ação de ácido fólico, bloqueando a conversão para a forma ativa. • Como a gestação aumenta a necessidade de ácido fólico em 5 a 10 vezes, comumente se manifesta uma deficiência. • Maus hábitos alimentares, anorexia e náuseas são outras razões para a deficiência de ácido fólico durante esse período. • É sabido que existe uma associação entre a deficiência de folato e defeitos do tubo neural no feto em crescimento; por isso, todas as mulheres em idade fértil sexualmente ativas devem ser aconselhadas a avaliar se a ingestão de ácido fólico é alta o suficiente para evitar déficits do tubo neural em sua prole. Observação: Mesmo com uma ingestão normal de ácido fólico, é possível ocorrer deficiência relativa quando as necessidades aumentam. As condições em que se observa esse quadro incluem gravidez, lactentes, distúrbios hematológicos associados à hematopoiese hiperativa (anemias hemolíticas) e câncer disseminado. Em todas essas circunstâncias, as demandas por maior síntese de DNA tornam a ingestão normal inadequada. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os principais sintomas são: 1. Falta de apetite 2. Perda de peso 3. Atrofia das papilas linguais (glossite) 4. Aspecto envelhecido 5. Esplenomegalia (casos graves) TRATAMENTO Folatos: reposição com ácido fólico, 1mg, via oral, 1 x por dia. LEUCEMIAS RELEMBRANDO A HEMATOPOESE O QUE SÃO? • As leucemias são neoplasias malignas de células originalmente derivadas de células precursoras hematopoéticas. • As leucemias se caracterizam pela substituição difusa da medula óssea por células neoplásicas imaturas em proliferação desregulada. • Na maioria dos casos, as células leucêmicas entram na corrente sanguínea, onde podem ser observadas em grande número. • As células leucêmicas também podem se infiltrar no fígado, baço, linfonodos e outros tecidos por todo o organismo, causando a dilatação desses órgãos. • A leucemia é a causa mais comum de câncerem crianças e adolescentes. • É responsável por cerca de um em cada três tipos de câncer infantil. CLASSIFICAÇÃO • As leucemias são comumente classificadas de acordo com o tipo predominante de células (i. e., linfocítica ou mieloide) e se a condição é aguda ou crônica. • L e u c e m i a s b i f e n o t í p i c a s d e m o n s t r a m características tanto de linhagens linfoides quanto mieloides. Um sistema de classificação rudimentar, o chamado FAB divide a leucemia em quatro tipos: 1. Leucemia linfocítica (linfoblástica) aguda (LLA), 2. Leucemia linfocítica crônica (LLC) 3. Leucemia mieloide aguda (mieloblásticas) (LMA) 4. Leucemia mieloide crônica (LMC). - Leucemia linfocítica : As leucemias linfocíticas envolvem linfócitos imaturos e seus progenitores que se originam na medula óssea, mas se infiltram no baço, linfonodos, sistema nervoso central e outros tecidos. - Leucemia mieloide: As leucemias mieloides envolvem as células estaminais mieloides pluripotentes da medula óssea e interferem na maturação de todas as células sanguíneas, incluindo granulócitos, hemácias e trombócitos. FATORES DE RISCO 1. Tabagismo; 2. Alta exposição à radiação; 3. Alta exposição ao formol, usado nas indústrias químicas, têxtil, ambientes de saúde e salões de beleza; 4. Alta exposição ao benzeno, substância encontrada na gasolina; 5. Já possuir câncer previamente no qual surge a leucemia após uma quimioterapia agressiva de outros tipos de câncer, como linfoma de Hodgkin. 6. Síndrome de Down; 7. Infecção por hepatite B e C; 8. Histórico familiar da doença; 9. Idade avançada, com exceção da leucemia linfoide aguda, que é mais comum em crianças. ETIOLOGIA E BIOLOGIA MOLECULAR • A biologia molecular da leucemia aponta que o evento ou eventos causadores de distúrbios exercem seus efeitos por meio da desregulação dos genes que normalmente regulam o desenvolvimento e a homeostasia das células sanguíneas. • Estudos citogenéticos têm demonstrado que há alterações cromossômicas recorrentes em mais da metade de todos os casos de leucemia. • Mais comumente, são alterações estruturais classificadas como translocações, inversões, e deleções. • São os problemas ou a falta de regulação dos genes e produtos de genes específicos ocorridos nos sítios dessas aberrações cromossômicas que contribuem para o desenvolvimento de leucemia. • Assim, parece que a leucemia é o resultado, pelo menos parcialmente, de distúrbios na atividade de genes que nor malmente regulam o desenvolvimento de células sanguíneas. LEUCEMIAS AGUDAS • As leucemias agudas são cânceres de células progenitoras hematopoéticas. • Geralmente têm manifestação súbita, com sinais e sintomas relacionados com a função da medula óssea. Há dois tipos de leucemia aguda: 1. Leucemia linfocítica aguda (LLA); 2. Leucemia mieloide aguda (LMA). SEMANA 15 - Observação: A LLA acomete com mais frequência em crianças, sendo responsável por três de cada quatro casos de leucemia infantil. Porém pode acometer adultos, sendo responsável pela maior mortalidade pela doença (4/5 casos). - Observação: A LMA é principalmente uma doença de idosos, mas também pode se manifestar em crianças e jovens adultos. Leucemia linfocítica aguda • LLA engloba um grupo de neoplasias compostas de precursores de linfócitos B (preB́) ou T (preT́), denominados linfoblastos. • Aproximadamente, 90% das pessoas com LLA apresentam alterações numéricas e estruturais nos cromossomos de suas células leucêmicas. • Isto inclui hiperploidia (i. e., mais de 50 cromossomos), poliploidia (i. e., três ou mais conjuntos de cromossomos) e translocação e deleção cromossômica. • Muitas dessas aberrações cromossômicas acabam desregulando a expressão e a função de fatores de transcrição necessários para o desenvolvimento de células hematopoéticas normais. Leucemia mieloide aguda • As LMA são um grupo diverso de neoplasias que afetam as células precursoras mieloides na medula óssea. • A maioria está associada a alterações genéticas adquiridas que inibem a diferenciação mieloide terminal. • Como resultado, os elementos normais de medula são substituídos por uma acumulação de blastos, relativamente indiferenciados, com resultante supressão das células progenitoras restantes, o que conduz a um quadro de anemia, neutropenia e trombocitopenia. • Anormalidades cromossômicas específicas, incluindo translocações, podem ser observadas em um grande número de casos de LMA. • Um subtipo de LMA, a leucemia prómielocítica aguda , e s t á a s soc iada à t ran s locação cromossômica t(15;17). • Esta translocação produz um gene de fusão que codifica para uma porção do fator de transcrição, o ácido retinoico receptorA (RARa), fundida com uma porção de outra proteína, PML. • Esta alteração no receptor do ácido retinoico produz um bloco de diferenciação que pode ser superado com doses farmacológicas de ácido retinoico. Manifestações clínicas Embora LLA e LMA sejam doenças distintas, tipicamente se apresentam com características clínicas semelhantes. Ambas se caracterizam por manifestação abrupta de sintomas, incluindo: 1. Fadiga resultante de anemia; 2. Febre baixa; 3. Suores noturnos; 4. Perda de peso pela rápida proliferação e hipermetabolismo das células leucêmicas; 5. Sangramento devido à redução na contagem de plaquetas; 6. Dor e sensibilidade óssea causadas pela expansão da medula; 7. Processo infeccioso, resultante da neutropenia, com o risco de propagação abrupta da infecção à medida que a contagem de neutrófilos cai abaixo de 500/ml. 8. Linfadenopatia generalizada, esplenomegalia e hepatomegalia causada por infiltração de células leucêmicas em todos os casos de leucemia aguda, porém são mais comuns na LLA. 9. Infiltração de células malignas na pele, gengivas e outros tecidos moles (particularmente comum na forma monocítica de LMA). - Observação: As células leucêmicas também conseguem atravessar a barreira hematencefálica e se abrigar no SNC. O envolvimento do SNC é mais comum em LLA do que em LMA, e é mais comum em crianças do que adultos. Sinais e sintomas de envolvimento do SNC incluem paralisia de nervos cranianos, cefaleia, náuseas, vômitos, papiledema e, ocasionalmente, convulsões e coma. Complicações • Leucostasia é uma condição em que a contagem de blastos (células jovens e imaturas) na circulação sanguínea é acentuadamente elevada (em geral 100.000/ml). • O elevado número de blastos leucêmicos circulantes aumenta a viscosidade do sangue e predispõe ao desenvolvimento de embolia leucoblástica, com obstrução de pequenos vasos sanguíneos na circulação pulmonar e cerebral. • A oclusão de vasos pulmonares conduz a ruptura do vaso e infiltração do tecido pulmonar, resultando em falta de ar súbita e dispneia progressiva. • A leucostase cerebral acarreta cefaleia difusa e letargia, que podem progredir para confusão mental e coma. Diagnóstico • O diagnóstico definitivo de leucemia aguda se baseia em estudos do sangue e da medula óssea. • É necessária a demonstração da existência de células leucêmicas no sangue periférico, medula óssea ou tecido extramedular. • Os achados laboratoriais revelam leucócitos imaturos (blastos) na circulação e na medula óssea, onde podem constituir de 60 a 100% das células. • À medida que estas células proliferam e começam a se acumular na medula óssea, dá-se a supressão do desenvolvimento de outras linhagens de células sanguíneas na medula óssea. • Consequentemente, existe uma perda de células mieloides maduras, como hemácias, leucócitos e plaquetas. • Um quadro anêmico quase sempre se manifesta, e a contagem de plaquetas é reduzida. • Deve ser realizada a imunofenotipagem para determinar o subtipo de linhagem da leucemia. • A biopsia de medula óssea pode ser usada para determinar as características moleculares daleucemia, o grau de envolvimento da medula óssea e a morfologia e histologia da doença. • Os estudos citogenéticos, usados para determinar anormalidades cromossômicas, são um dos mais poderosos indicadores de prognóstico em casos de leucemia aguda. • Determinadas anormalidades cromossômicas respondem mais favoravelmente a certos tipos de tratamento e têm um prognóstico melhor do que outras. • Nos casos de LLA, o estadiamento inclui uma punção lombar para avaliar o envolvimento do SNC. • Estudos por imagem que incluem , radiografia, ultrassonografia e TC do tórax, abdome e pelve também podem ser obtidos para identificar sítios adicionais de comprometimento e aumento de linfonodos. LEUCEMIAS CRÔNICAS Em contraste com as leucemias agudas, as leucemias crônicas são neoplasias malignas que envolvem a proliferação de células mieloides e linfoides com diferenciação mais completa. Tal como acontece com a leucemia aguda, existem dois tipos principais de leucemia crônica: 1. Leucemia linfocítica crônica (LLC); 2. Leucemia mieloide crônica (LMC). - Observação: A LLC é principalmente uma doença de idosos. A média de idade no momento do diagnóstico é de aproximadamente 72 anos. Quase não é observada em pessoas com menos de 40 anos de idade e é extremamente rara em crianças. - Observação: A LMC tal como acontece com a LLC, é predominantemente uma doença de idosos, com idade média de 67 anos no momento do diagnóstico. Leucemia linfocítica crônica • A LLC, uma malignidade clonal dos linfócitos B, é a forma mais comum de leucemia em adultos no mundo ocidental. • No passado, a LLC era vista como uma doença h o m o g ê n e a d e c é l u l a s B i m a t u r a s , i m u n o i n c o m p e t e n t e s e m i n i m a m e n t e autorrenováveis, que se acumulavam devido a falhas de mecanismos apoptóticos. • Algumas pessoas com leucemia linfocítica crônica sobrevivem por muitos anos sem tratamento e, por fim, sucumbem a doenças não relacionadas, enquanto outros têm uma doença rapidamente fatal, apesar da terapêutica agressiva. • Acredita-se que sua heterogeneidade reflita as diferenças de mutações do gene V de imunoglobulina, a expressão de marcadores de superfície celular CD (p. ex., CD38) e a proteína associada à zeta (ZAP70). • ZAP70 é uma proteína intracelular que promulga a ativação de sinais entregues às células T e às células NK por meio dos seus receptores de superfície para os antígenos. • Raramente está em células B normais, mas é encontrada em pessoas com LLC. • Pessoas com células leucêmicas que apresentam pouca ou nenhuma mutação do gene V, muitas células B CD38+ ou ZAP70+ frequentemente desenvolvem um curso agressivo da doença, enquanto aquelas com mutações do gene V, mas poucas cé lu las B CD38+ ou ZAP70+ normalmente apresentam um curso mais indolente. Manifestações clínicas • Os sinais e sintomas clínicos da LLC estão fortemente relacionados com a infiltração progressiva da medula óssea e dos tecidos linfoides por linfócitos neoplásicos e com defeitos imunológicos secundários. • Pessoas com a forma indolente de LLC são, com frequência, assintomáticas no momento do diagnóstico e a linfocitose é observada em um hemograma completo obtido por outra causa, não relacionada. • À medida que a doença progride, os linfonodos aumentam gradualmente de tamanho e novos linfonodos são envolvidos, por vezes, em áreas pouco usuais, como couro cabeludo, órbitas, faringe, pleura, sistema digestório, fígado, próstata e gônadas. • Pessoas com a forma agressiva de leucemia linfocítica crônica passam por uma sequência mais rápida de deterioração clínica, caracterizada p e l o a u m e n t o d a l i n f a d e n o p a t i a , hepatoesplenomegalia, febre, dor abdominal, perda de pe so, anemia prog re s s i va e trombocitopenia, com rápido aumento na contagem de linfócitos. • Hipogamaglobulinemia é comum em casos de LLC, especialmente em pessoas com doença avançada. • Um aumento da suscetibilidade à infecção reflete uma incapacidade para produzir anticorpos específicos e ativação anormal do complemento. • Os microrganismos infecciosos mais comuns são aqueles que requerem opsonização para alcançar a morte bacteriana, como Streptococcus pneumoniae, S taphy lococcus aureus e Haemophilus influenzae. Diagnóstico • A principal característica diagnóstica de LLC é a existência isolada de linfocitose. • A contagem geralmente é superior a 20.000/ml, e pode se elevar para várias centenas de milhares. Geralmente, 75 a 98% são linfócitos. • A contagem de hematócrito e plaquetas geralmente é normal na apresentação. • Os testes para determinar a existência de formas mutantes do gene da imunoglobulina (que atualmente só podem ser detectadas em laboratórios de pesquisa) e a expressão do antígeno de superfície das proteínas C38 e ZAP- 70 podem ser utilizados para determinar se a leucemia é do tipo indolente ou agressivo. • Estudos citogenéticos também têm condições de fornecer informação prognóstica. Leucemia mieloide crônica • É uma doença das células progenitoras hematopoéticas pluripotentes. • É caracterizada por proliferação excessiva de granulócitos, precursores hematoides e megacariócitos da medula óssea. • As células da leucemia mieloide crônica (LMC) abrigam uma anomalia citogenética específica, o cromossomo Philadelphia. • Geralmente se considera que a LMC se desenvolve quando uma única célula-tronco hematopoética pluripotente adquire um cromossomo Philadelphia. • A translocação do cromossomo Philadelphia, t(9; 22), representa uma translocação recíproca entre o braço longo do cromossomo 22 e o braço longo do cromossomo 9. • Durante a translocação, uma grande parte do 22q é translocada para 9q, e uma parte menor de 9q é deslocada para 22q. • A porção de 9q que é translocada contém ABL, um protooncogene. • O gene ABL é recebido em um sítio específico no 22q, chamado BCR. • O gene de fusão BCRABL resultante codifica uma nova proteína que difere daquela do gene ABL normal, na medida em que apresenta atividade de tirosinoquinase (uma atividade característica de genes transformantes). • A existência da tirosina quinase (envolvida c/ a regulação da proliferação celular) produzida pelo gene de fusão possibilita que células afetadas ignorem os sinais regulados que controlam o crescimento normal e a diferenciação celular e, em vez disso, sofrem uma transformação maligna para se tornarem células leucêmicas. • A translocação do cromossomo Philadelphia é encontrada em mais de 90% das pessoas com LMC e em algumas pessoas com leucemia aguda. • O d e s e nvo l v i m e n t o d e i n i b i d o re s d a tirosinoquinase tem contribuído para uma abordagem orientada para o tratamento de leucemias que exibem translocação do cromossomo Philadelphia. O curso clínico da LMC é comumente dividido em três fases: 1. Fase crônica da duração variável 2. Fase acelerada curta 3. Fase terminal de crise blástica. Fase crônica • O início da fase crônica é geralmente lento, com sintomas inespecíficos como fraqueza e perda de peso. • A descoberta laboratorial mais característica no momento da apresentação é leucocitose com tipos celulares de granulócitos imaturos no sangue periférico. • D e s e nv o l v e - s e a n e m i a e , p o r v e z e s , trombocitopenia. • A anemia causa fraqueza, cansaço e dispneia aos esforços. • Fr e q u e n t e m e n t e p o d e s e r o b s e r v a d a esplenomegalia no momento do diagnóstico; hepatomegalia é menos comum; e linfadenopatia é relativamente incomum. Fase acelerada • A fase acelerada de LMC é caracterizada pela dilatação do baço e sintomas progressivos. • A esplenomegalia muitas vezes provoca uma sensação de plenitude e desconforto abdominal. • Um aumento da contagem de basófilos e células mais imaturas no sangue ou na medula óssea confirma a transformaçãopara a fase acelerada. • Durante essa fase, desenvolvem-se sintomas constitucionais, como febre baixa, suores noturnos, dor óssea e perda de peso devido a rápida proliferação e hipermetabolismo das células leucêmicas. • Podem surgir sangramentos e contusões devido à falta de funcionalidade das plaquetas. • Geralmente, a fase de aceleração é de curta duração (6 a 12 meses). Fase terminal de crise blástica • A fase blástica terminal da LMC representa a evolução para leucemia aguda, e é caracterizada por um aumento na circulação sanguínea do número de precursores mieloides, especialmente blastos. • Os sintomas constitucionais se tornam mais visíveis durante este período, e a esplenomegalia pode se acentuar significativamente. • Infiltrados isolados de células leucêmicas podem envolver a pele, os linfonodos, os ossos e o sistema nervoso central. • Com contagem muito elevada de blastos (> 100.000/ml), podem se manifestar sintomas de leucostase. • Uma característica diagnóstica de LMC é a contagem elevada de leucócitos, com valores médios de 150.000/ml no momento do diagnóstico, embora em alguns casos apresente apenas um aumento modesto MIELOMA • Mieloma múltiplo é um tumor maligno de células B originário de plasmócitos totalmente diferenciados, responsáveis pela produção dos anticorpos. • O tumor se desenvolve com maior frequência em pessoas com mais de 60 anos de idade. • A causa do desenvolvimento do mieloma múltiplo é desconhecida. FATORES DE RISCO 1. Estimulação imunológica crônica; 2. Doença autoimune; 3. Exposição à radiação ionizante; 4. Exposição ocupacional a pesticidas ou herbicidas (p. ex., dioxinas). PATOGÊNESE • O mieloma múltiplo se caracteriza pela proliferação de plasmócitos malignos na medula óssea e lesões ósseas osteolíticas por todo o sistema esquelético. • O mieloma múltiplo é um tipo de câncer no sangue que afeta as células plasmáticas: células imunes que produzem proteínas especiais, como os anticorpos, para combater as doenças. • Pacientes com mieloma múltiplo possuem células plasmáticas anormais, que em vez de produzir anticorpos normais produzem muito de um determinado tipo de proteína. • Assim, seus níveis no sangue tornam-se mais altos que o normal, causando diversos tipos de complicações por todo o corpo, como: doença óssea, anemia, insuficiência renal, aumento do risco de infecções e alto nível de cálcio. • Tal como acontece com outras doenças malignas hematopoéticas, atualmente é reconhecido que o mieloma múltiplo está associado a anormalidades cromossômicas, incluindo deleções de 13q e translocações envolvendo o locus de IgG no cromossomo 14. • Um parceiro de fusão é um gene do receptor do fator de crescimento de fibroblastos no cromossomo 4, que é truncado para produzir um receptor constitutivamente ativo. • Também ocorrem alterações no microambiente da medula óssea, como a indução de angiogênese, a supressão da imunidade mediada por células e o desenvolvimento de circuitos de sinalização parácrinos envolvendo citocinas, como IL6 e fator de crescimento endotelial vascular. • Outros fatores de crescimento implicados no mieloma múltiplo incluem FEC de granulócitos, interferonaa e IL10. • Acredita-se que o desenvolvimento de lesões ósseas no mieloma múltiplo esteja relacionado com um aumento na expressão pelos osteoblastos do ligante do receptor ativador do fator nuclear kB (FNkB) (RANKL).32 • Um dos aspectos característicos resultantes da proliferação de osteoclastos no mieloma múltiplo é a produção desregulada de um anticorpo monoclonal chamado proteína M, pois é detectado como um pico M por eletroforese de proteínas. • Na maioria dos casos, a proteína M é IgG (60%) ou IgA (20 a 25%). • Nos restantes 15 a 20% dos casos, os plasmócitos produzem apenas proteínas anormais, chamadas proteínas de Bence Jones, que consistem em cadeias leves da molécula de imunoglobulina. • Devido ao seu baixo peso molecular, as proteínas de Bence Jones são facilmente excretadas pela urina. • Indivíduos com essa forma da doença (doença de cadeia leve) têm proteínas de Bence Jones em seu soro, mas falta o componente M. • No entanto, até 80% das células do mieloma produzem imunoglobulinas completas, bem como um excesso de cadeias leves. Portanto, há tanto as proteínas M quanto as proteínas de Bence Jones. • Muitas proteínas de cadeia leve são diretamente tóxicas para estruturas tubulares renais, podendo conduz i r a des t ru i ção tubu lar e, por consequência, a insuficiência renal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Os principais sítios de envolvimento do mieloma múltiplo são os ossos e a medula óssea. • Além da proliferação anormal de plasmócitos da medula, ocorrem a proliferação e a ativação de osteoclastos, o que resulta em reabsorção óssea e destruição. • Este aumento da reabsorção óssea predispõe a fraturas patológicas e hipercalcemia. • Paraproteínas secretadas pelas células do plasma podem causar hiperviscosidade nos líquidos corporais e se decompor em amiloide, uma substância proteica que se deposita entre as células, causando insuficiência cardíaca e nefropatia. • Embora o mieloma múltiplo se caracterize pela produção excess iva de imunog lobul ina monoclonal, geralmente ocorre depressão nos níveis de imunoglobulinas normais. • Isto contribui para a maior suscetibilidade a infecções bacterianas recorrentes. • Plasmócitos malignos também podem formar plasmocitomas (tumores plasmocitários) nos ossos e tecidos moles. • O sítio mais comum para o desenvolvimento de plasmocitomas dos tecidos moles é o sistema digestório. • O desenvolvimento de plasmocitomas no tecido ósseo está associado a destruição óssea e dor localizada. • Podem ser observadas lesões osteolíticas e fraturas por compressão no esqueleto axial e nos ossos longos proximais. • Ocasionalmente, as lesões comprometem a coluna vertebral, causando o colapso vertebral e a compressão da medula espinal. • Dor óssea é um dos primeiros sintomas a se manifestar. • A destruição óssea também compromete a produção de hemácias e leucócitos e predispõe o paciente a anemia e infecções recorrentes. • Muitas pessoas sofrem perda de peso e fraqueza. • D e s e nvo l ve - s e i n s u fi c i ê n c i a r e n a l e m aproximadamente metade das pessoas com mieloma múltiplo. • Também podem ocorrer manifes tações neurológicas causadas por neuropatia ou compressão da medula espinal. DIAGNÓSTICO • O diagnóst ico de mieloma múlt ip lo é estabelecido com base nas manifestações clínicas, exames de sangue e testes de medula óssea. A observação da tríade clássica é definitiva para o diagnóstico: 1. Plasmocitose de medula óssea (mais do que 10% dos plasmócitos); 2. Lesões ósseas líticas; 3. Existência sérica de pico de proteína M ou a existência de proteínas de Bence Jones na urina. • Radiografias dos ossos são importantes para estabelecer a existência de lesões. • Anemia é quase universal. • Outras características laboratoriais incluem h iperca l cemia , e l evada ve loc idade de hemossedimentação e sinais de insuficiência renal. INFECÇÕES FÚNGICAS MICOSES SUPERFICIAIS • Compreendem grupos de afecções causadas por fungos, limitadas às camadas queratinizadas ou semiqueratinizadas do tegumento ou localizadas na sua superfície, atingindo pele e mucosas. • O primeiro grupo constitui as dermatofitoses, afecções produzidas por vários gêneros de p a r a s i t a s , d e n o m i n a d o s e m c o n j u n t o (dermatófitos) que utilizam a queratina como fonte de subsistência e, por essa razão, parasitam as porções queratinizadas ou semiqueratinizadas da epiderme, dos pelos e das unhas. • No segundo grupo, incluem-se moléstias causadas por fungos sem afinidade micológica ou clínica. Como não possuem poder queratolítico, vivem sobre a pele, penetrando nos interstícios da camada córneaou ao redor dos pelos. • Utilizam, como fontes de manutenção, restos epiteliais ou produtos de excreção e, assim, não são considerados parasitas, mas comensais. • Compreendem a pitiríase versicolor, a tinha negra e as piedras. • Em pacientes imunocomprometidos, esses fungos podem determinar fungemia e acometimento de órgãos internos. • O t e r c e i ro g r u p o a b r a n g e i n f e c ç õ e s cutaneomucosas que podem atingir tanto a pele e seus apêndices como as mucosas. • São determinadas por leveduras do gênero Candida. • Há um quarto grupo constituído por fungos filamentosos e leveduriformes, em geral geofílicos, que podem acometer pele, unhas e, menos frequentemente, os pelos, de modo similar aos dermatófitos. • As infeções desse grupo designam-se, atualmente, como dermatomicoses. DERMATOFITOSES • São produzidas por dermatófitos, fungos dos gêneros Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton; são exclusivos da espécie humana (antropofílicos), próprios de animais domésticos ou silvestres (zoofílicos) ou vivem no solo (geofílicos). • As lesões decorrem da presença do próprio fungo ou em virtude da reação de hipersensibilidade específica ao agente causal ou a seus produtos, as dermatofítides. • Com a progressão da infecção, desenvolve-se a imunidade celular evidenciada pela reação à tricofitina e pelo eventual aparecimento das dermatofítides. • Os imunocomprometidos tendem a desenvolver dermatofitoses extensas e recidivantes. • O quadro clínico das dermatofitoses varia de acordo com a região ou o anexo comprometido. Consoante à localização, compreendem tinha do couro cabeludo, da barba, do corpo (pele glabra), do pé e da mão, crural (inguinal), da orelha, imbricada e das unhas. Tinha do couro cabeludo (tinea capitis) • Causada por diversos dermatófitos, comum em crianças, rara no adulto. • Adquirida pelo contato com indivíduos infectados, animais doentes ou portadores, particularmente cães e gatos, ou com a própria terra. • Divide-se em tinha tonsurante (microspórica e tricofítica) e tinha favosa ou favo. Manifestações clínicas 1. T i n h a t o n s u r a n t e : A p r e s e n t a , fundamentalmente, placas de tonsura, caracterizadas por cotos pilosos e descamação, única ou múltipla, no couro cabeludo. O quadro é de evolução crônica. Há, entretanto, uma forma aguda, com intensa reação inflamatória, que se apresenta como placa elevada, geralmente única, bem delimitada, dolorosa, com pústulas e microabscessos que drenam pus à expressão. Nas t inhas tonsurantes, podem ocorrer pápulas foliculares na pele, particularmente no tronco, por hipersensibilidade (mícides). A confirmação diagnóstica é dada pelo achado do parasita no material retirado das placas em exame microscópico após clarificação pela potassa. Para complementar a diagnose, pode-se isolar o fungo por cultura em meio de Sabouraud. 2. Tinha favosa ou favo (tinea favosa): essencialmente crônica na sua evolução. Seu agente causal é o Tr i c h o p hy t o n s c h ö n l e i n i i e o c o r r e principalmente sob forma de microendemias em zonas rurais ou pequenas comunidades do interior. É a mais grave das tinhas do couro cabeludo porque o fungo, ata- cando o folículo piloso, pode determinar lesões cicatriciais do couro cabeludo, com eventual alopecia definitiva. Os casos típicos mostram lesões SEMANA 16 pequenas, crateriformes em torno do óstio folicular. Constituem o clássico godet ou escútula fávica. São patognomônicos do favo clássico. Há, não obstante, outras formas clínicas. Em uma delas, predomina o elemento descamativo (o favo pitiroide), em outra, o supurativo-crostoso (favo impetigoide). Na luz de Wood, a fluorescência é verde-palha. Contrariamente às outras tinhas do couro cabeludo, uma vez adquirida na infância, r a r a m e n t e a t i n h a f a v o s a s e c u r a espontaneamente na puberdade. Persiste pelos anos e decênios nos adultos, atuando como fonte de infecção para as crianças. Tinha da barba (tinea barbae) Manifestações clínicas A tinha da barba, rara no meio dermatológico, apresenta três quadros distintos: 1. Tipo inflamatório – lesões inflamatórias, exsudativas e supurativas, geralmente circunscritas, lembrando o quérion. 2. Tipo herpes circinado – lesões anulares, eritêmato-pápulo-vesicoescamosas nas bordas. À medida que a lesão cresce pela borda, há tendência à cura da parte central. 3. Tipo sicosiforme – clinicamente idêntico à foliculite bacteriana, apresenta pústulas foliculares às quais se associa, posteriormente, a formação de crostas. Tinha do corpo (tinea corporis) A tinha do corpo, glabrosa ou da pele glabra apre- senta-se sob aspectos morfológicos bastante diversos, desde formas vesiculosas, simulando herpes simples, até nodulares ou em placas. Os agentes mais frequentes, em nosso meio, são o Trichophyton rubrum, Microsporum canis e Trichophyton mentagrophytes. Manifestações clínicas 1. Forma vesiculosa: a lesão primária é a vesícula. Evoluindo, várias delas se fundem e, rompendo-se, deixam superfícies exulceradas sobre as quais podem-se formar crostas. Posteriormente, novas vesículas surgem na periferia, progredindo à lesão centrifuga- mente. Essa forma é bastante inflamatória e pode evoluir para cura espontânea. 2. For ma anular : i n i c i a - s e por l e são eritematopapulosa que cresce centrifugamente, com cura central à medida que há progressão pela periferia. As lesões podem ser múltiplas, ocorrendo frequentemente sua confluência. Essas manifestações são, na maioria das vezes, acompanhadas de prurido. 3. Forma em placas: nesse caso, inverso aos dos anteriores, não há tendência à cura espontânea do centro da lesão. As placas são essencialmente descamativas e eritematosas e aumentam tanto em tamanho que podem chegar a comprometer extensas áreas do tegumento, podendo simular quadros de dermatite seborreica ou de psoríase. PITIRÍASE VERSICOLOR (TINEA VERSICOLOR) • Afecção fúngica, determinada pela Malassezia furfur. • De ocorrência universal, tem maior prevalência em regiões de cl ima quente e úmido. Compromete adultos de ambos os sexos, sendo menos frequente em crianças e idosos. • Há predisposição constitucional para a afecção. Malnutrição, hiperidroses e imunodepressão são fatores predisponentes. • Quase sempre assintomática, é evidenciada geralmente após exposição solar, quando surgem manchas discrômicas na pele, derivando a denominação “versicolor”. Manifestações clínicas • Trata-se de máculas com descamação de cor variável, daí o nome “versicolor”. • Nos indivíduos de pele clara, as máculas são acastanhadas, cor de café com leite ou hipocrômicas; nos de pele escura ou negra, são hipocrômicas e, m e n o s f r e q u e n t e m e n t e , hipercrômicas. • Passando-se a unha sobre a mancha , s u r g e u m a d e s c a m a ç ã o furfurácea (sinal da unha), que pode ser o b s e r v a d a p e l o estiramento da pele (sinal de Zileri). • A s m á c u l a s s ã o m ú l t i p l a s , d e formatos variáveis, podendo confluir e atingir grandes áreas d a s u p e r f í c i e corporal. • As lesões situam-se, geralmente, no pescoço, no tórax e nas porções proximais dos membros superiores. • Há, contudo, casos com grande disseminação de manchas, que atingem desde a região mandibular da face e do pescoço, o tronco, os braços, os antebraços e as coxas. • Existe frequente comprometimento do couro cabeludo, onde as lesões podem passar despercebidas. • As regiões palmoplantares e as mucosas nunca são afetadas. • A diagnose confirma-se pelo exame em luz de Wood que revela fluorescência róseo-dourada característica, possibilitando, ainda, verificar a extensão da erupção. • O exame micológico de escamas de lesão, após clarificação pela potassa a 10%, permite sempre o encontro de esporos e pseudo-hifas. • A negatividade exclui a diagnose. • A diagnose diferencial,em geral, não apresenta dificuldade com lesões hipocrômicas residuais. A pitiríase alba localiza-se nas porções superiores do tórax e nos braços. • O vitiligo é de cor branca-nacarada e atinge outras áreas. • Em caso de dúvida, o exame na luz de Wood e o exame direto per mitem a confir mação diagnóstica de imediato. • Excepcionalmente, a M. furfur e outras espécies do gênero, como M. pachydermatis, podem se tornar patógenas oportunistas, causando fungemia, quando introduzidas no organismo, por exemplo por sonda, particularmente em neonatos prematuros ou imunodeprimidos. CANDIDÍASE • Candidose, candidíase ou monilíase designa infecção cutânea, cutâneo-sistêmica ou sistêmica, por leveduras do gênero Candida. • A mais frequente é a C. albicans, porém outras espécies podem ser também encontradas como C. tropicalis, C. parapsilosis e C. guilliermondii. As condições que facilitam a proliferação de levedu- ras do gênero Candida são: 1. Menor grau de defesa, como na criança e no idoso; 2. Gravidez (pelo aumento de glicídios na vagina) e anticoncepcionais; 3. Diabetes (a cândida conhece o diabético antes que a glicemia); 4. Terapia com antibióticos, corticoides e citostáticos; 5. Doenças gerais como linfomas; 6. Tumores malignos; 7. Aids; 8. Umidade e maceração cutânea, como ocorre na dermatite das fraldas, intertrigos dos obesos e ocupacionais; 9. Irritação mecânica na mucosa bucal por próteses; 10. Deficiências congênitas, de zinco, de ferro, da função neutrofílica ou endocrinopatias. • A infecção, na maioria das vezes, localiza-se somente na pele ou em mucosas (candidose mucocutânea). • Excepcionalmente, em imunodepressões, pode ocorrer fungemia, com comprometimento sistêmico e, inclusive, endocardite.
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