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Doença Renal Crônica Caso Clínico: Paulo, sexo masculino, 70 anos. Encaminhado pelo endocrinologista para avaliação e conduta nefrológica. Diabético tipo 2 há 30 anos, retinopatia diabética proliferativa já diagnosticada. Hipertenso há 25 anos, dislipidêmico, obeso (IMC 32), sedentário, IAM sem supra ST há 7 anos com, ATC + stent, tabagista – abstêmio há 7 anos. Medicações me uso: metformina 850 mg 3x/dia, dapagliflozina 10mg/dia, losartana 50mg/dia, atenolol 50mg/dia, ácido acetilsalicílico 100mg/dia, sinvastatina 20mg/dia, diclofenaco (esporadicamente, por dores nos joelhos). Ao exame físico: PA 160x95 mmHg, FC 70bpm, afebril, edema de MMII simetricamente +/4+, ausculta pulmonar limpa, ritmo cardíaco regular a 2 tempos, peso 92kg, altura 1,70 m, neurológico preservado. Exames laboratoriais: creatinina 2,1mg/dL; ureia 80 mg/dL; urina tipo I – PTU ++; sem hematúria ou demais alterações; microalbuminúria 450 mg/g; USG rins e vias urinárias – redução da diferenciação corticomedular bilateralmente sugerindo nefropatia parenquimatosa crônica. • O paciente tem diagnóstico de doença renal crônica? • Qual o estágio da DRC do paciente, levanto em consideração sua taxa de filtração glomerular e albuminúria? DEFINIÇÃO: • Redução progressiva e irreversível da taxa de filtração glomerular – persistência do exame alterado por ao menos 3 meses; • Marcadores de lesão real (um ou mais): o Albuminúria (relação albumina/creatinina 30mg/dL) o Distúrbios eletrolíticos e outros devidos às lesões tubulares o Anormalidades estruturais detectadas por exame de imagem o História de transplante renal o TFG diminuída (<60 mL/min/1,73m²) FISIOPATOLOGIA: • A função primária do rim é manter constante a composição do meio extracelular; • Existem dois mecanismos gerais comuns de lesão renal: o Mecanismos desencadeantes específicos da etiologia subjacente, por exemplo anormalidades do desenvolvimento ou da integridade renal determinadas geneticamente, deposição de imunocomplexos e inflamação em alguns tipos de glomerulonefrite, ou exposição a toxinas em algumas doenças dos túbulos e do interstício renais. o Um conjunto de mecanismos progressivos que envolvem hiperfiltração e hipertrofia dos néfrons viáveis remanescentes, que são consequências comuns da redução prolongada da massa renal, independentemente da etiologia primária. CÁLCULO DE TGF: • Cockcroft-Gault: o Superestima a função renal em pacientes obesos ou edemaciados o Superestima a função renal: secreção tubular de creatinina no clearance urinário • CKD-EPI: melhor cálculo da TGF • ClCr 24 horas – utilizar em dúvida diagnóstica, especialmente em extremos de massa muscular • Creatinina – avalia a função renal (estadiamento da DCR) • Albuminúria – avalia prognóstico em relação a progressão da disfunção renal, além de ser fato de risco independente para doenças cardiovasculares ESTADIAMENTO DA DRC: • Baseado na TGF e albuminúria • Solicitar exame de URINA isolada e albuminúria • Ajuda na indicação de diálise, transplante renal e orienta correção de dose de medicamentos DICA: valores de TFG (fora do círculo) – classificação dentro do círculo AVALIAÇÃO DO PACIENTE COM DCR: • Revisar história clinica o Questionar duração da doença renal – checar exames anteriores, TFG o Revisar antecedentes clínicos e cirúrgicos o Revisar medicamentos em uso • Identificar fatores de risco o Idosos o Hipertensos o Pacientes com DM o Vasculopatas o Pacientes com doenças glomerulares o Pacientes com doença policística o Pacientes com doenças urológicas o Uso de drogas nefrotóxicas (AINHs, contraste isolado) o História familiar de DRC (glomerulopatias o IRA prévio o Fumantes, obesos, Apneia Obstrutiva do Sono (AOS), síndrome metabólica • Exames complementares: o Creatinina o Ureia o Relação albumina/creatinina em amostra isolada o Urina tipo 1 o Potássio e sódio o Gasometria o Hemograma o Ferritina e saturação da transferrina o Paratormônio, fósforo, vit. D e fosfatase alcalina o Perfil lipídico o Glicemia em jejum e HbA1c o Controle pressórico o USG de vias urinárias ▪ Qual é o tamanho? ▪ Há diferenciação cortiço- medular? ▪ Há sinais de obstrução? ALBUMINÚRIA: identifica lesão renal, é marcador precoce de lesão glomerular, representa disfunção endotelial e risco cardiovascular AVALIAÇÃO DE COMPLICAÇÕES: Complicações mais comuns em cada estágio: • Hiperfosfatemia o Nas fases iniciais a excreção de fósforo ocorre pela menor reabsorção tubular proximal – efeito mediado pelo PTH o A perda progressiva de néfrons funcionantes prejudica a compensação, evoluindo com hiperfosfatemia o Normalmente TFGe < 20mL/min/1,73m² o Tratamento: restrição dietética e uso de quelantes para bloquear a absorção intestinal ▪ CARBONATO DE CÁLCIO – pode causar balanço positivo de cálcio e risco de calcificação vascular ▪ SEVELAMER – melhor opção ▪ HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO – pode ser usado por curto prazo na hiperfosfatemia grave associada a IRA • Hiperparatireoidismo secundário o Tratamento com calcitriol e análogos da vitamina D o Evitar se hiperfosfatemia e hipercalcemia • Anemia ANEMIA NA DRC: • Assintomática nas fases iniciais ou quando hemoglobina se encontra acima de 9,0-10,0 g/dL • Piora de status cardiológico • Etiologia multifatorial: o Estado inflamatório persistente/hepcidina – redução da absorção e da mobilização dos estoques de ferro corporais, bloqueio medular o Hiperparatireoidismo o Perdas sanguíneas o Deficiência de ferro o Deficiência de vit. B12 o Redução da meia-via das hemácias o Deficiência de EPO – quantitativa e/ou qualitativa o Doença de base • O que solicitar? o Hemograma o Reticulócitos o Perfil de ferro: ferro sérico, capacidade total de ligação de ferro (TIBC), saturação de transferrina, ferritina o Ácido fólico e B12 • Como diagnosticar deficiência de ferro: o Paciente em manejo conservador ou diálise peritoneal: IST < 20% + ferritina < 100 ng/mL o Paciente em hemodiálise: IST < 20% + ferritina < 200 ng/mL • Tratamento: o Níveis de hemoglobina entre 10,0 e 12,0 g/dL o Reposição dos estoques de ferro se: ▪ Saturação de transferrina < 20% (alvo 20 a 40%) ▪ Ferritina < 100 ng/mL o Ferro via oral é preferência em DRC não dialítico o Dose 100 a 300 mg de ferro elementar por dia o Se paciente mantiver Hb < 10,0 g/dL após reposição de ferro: o Uso de agentes estimuladores da eritropoiese o Eritropoetina 20 a 50 U.I./Kg (3x/semana) o Doses encontradas: 2.000, 4.000 e 10.000 U.I. o Correção de vitamina B12/ácido fólico somente, se necessário o Esse manejo é válido também para pacientes em diálise o Atenção: em casos selecionados podemos iniciar reposição de ferro e eritropoetina concomitantemente ACIDOSE METBÓLICA: • Fator de risco para progressão da DRC, doença mineral-óssea e sarcopenia • Tratamento ajuda na correção da hipercalcemia e retarda a progressão da DRC • Reduzir proteína animal na dieta, maior consumo de frutas e vegetais e reposição de bicarbonato o Quando: Bicarbonato sérico < 22 mEq/L o Alvo: 22-26 mEq/L o Cuidado: HIPERVOLEMIA DM e DRC: • Pacientes com DRC e DM em uso de medicamentos hipoglicemiantes: o Metformina 850mg – risco de acidose lática em estágios avançados da DRC ▪ Reduzir a dose em 50% se TFG < 45 mL/min/1,73m² ▪ Suspender se TFG < 30 mL/min/1,73m² o Dapaglifozina – iSGLT2 podem ser mantidos em pacientes com TFG > 20 mL/min/1,73m² • Paciente tem que melhorar o controle glicêmico (glicemia 180mg/dL; HbA1c 8,9%), opções seguras: o Insulinas de ação rápida basal o Agonista receptor GLP-1 o Inibidor DPP4 o Sulfonilureias – glicazidapode ser utilizada com TFG > 30 mL/min/1,73m² • UPDATE INIBIDORES DA SGLT2: estudos EMPA- REG // DAPA-CKD // DAPA-HF // CANVAS o Cotransportadores SGLT2 – túbulos proximais o Reabsorção de 90% da glicose tubular (com absorção de Na) o iSGLT2 – inibem absorção de Na e glicose no TCP – chega mais Na no TCD – sensibilização da mácula densa – vasoconstrição arteríola aferente – redução da pressão intraglomerular o Drogas – empagliflozina, canagliflozina, dapagliflozina o Redução de microalbuminúria o Redução da progressão da DRC o Redução da HbA1c em 0,5 a 1,0% o Perda de peso entre 2 a 3 Kg o Redução de 3 a 5% na PAs – redução de tônus simpático o Redução de microalbuminúria o Redução da progressão da DRC o Redução de eventos cardiovasculares, melhor evolução de pacientes com insuficiência cardíaca o Pode ser utilizado com TFG > 20 mL/minuto o Antes de utilizar iSGLT2, otimizar dose de iECA ou BRA Doenças Cardiovasculares e DRC: • Otimização de dose de IECA ou BRA – sempre manter na dose máxima tolerada pelo paciente antes de pensar em incluir outra classe • Losartana - efeito antiproteinúrico e nefroprotetor o Atenção com: ▪ hipercalemia ▪ pacientes com deterioração rápida da função renal ▪ aumento de creatinina em > 30% • Ácido acetilsalicílico 100 mg/dia – útil em pacientes com elevado risco cardiovascular Dislipidemias: • Sinvastatina 20 mg/dia – controle de lípides fora do alvo; opções: o Modificação de estilo de vida, perda de peso o Atividades aeróbica 150 minutos/semana o Associar ezetimiba 10 mg/dia o Fibratos para redução de triglicérides • Alvo: HDLc > 40 mg/dL; LDLc < 70 mg/dL; TG < 150 mg/dL DIÁLISE: • Não há TFGe estabelecido para início da diálise • As indicações são iguais para hemodiálise ou diálise peritoneal • Diálise NÃO deve ser guiada pela função renal, mas por sinais e sintomas: POTÁSSIO, HIPEROLEMIA, PERDA PONDERAL
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