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Síndrome Coronariana Aguda 1 Síndrome Coronariana Aguda Fisiopatologia Aterosclerose: Resulta do acúmulo de colesterol LDL na camada íntima dos vasos, que atrai macrófagos e desencadeia inflamação As células espumosas (colesterol oxidado + macrófagos) formam o centro da placa, enquanto o células musculares lisas compõem seu revestimento As placas ateroscleróticas são classificadas de acordo com a probabilidade de ruptura: Placa estável: apresenta cápsula fibrosa espessa (menor risco de lesão), com centro lipídico menos denso Placa vulnerável: possui uma porção lipídica mais volumosa, com cápsula fina, o que favorece rupturas A maioria das placas nessa condição acaba se estabilizando com o tempo 📌 O grau de obstrução não tem relação direta com a gravidade do quadro Quando ocorre erosão da placa, um trombo lipídico é liberado, podendo resultar em eventos silenciosos ou isquemias A presença de material trombogênico induz ativação da cascata de coagulação Síndrome Coronariana Aguda 2 Outros mecanismos: Vasoespasmo coronariano (angina de Prinzmetal): marcado por contração vascular excessiva, impedindo o fluxo sanguíneo miocárdico Dissecção de coronárias: lesões intimais criam um lúmen falso, que desvia a circulação Embolia coronariana: há obstrução vascular por um êmbolo, observada na FA, sepse ou endocardite Desbalanço entre oferta e demanda tecidual Iatrogenia: após procedimentos como angioplastia ou cirurgias de revascularização miocárdica Padrão de isquemia miocárdica: Subendocárdico: há oclusão parcial do vaso, com necrose limitada ao endocárdio (SCASSST) Transmural: a obstrução é completa/prolongada, comprometendo toda a espessura do miocárdio (IAMCSST) O IAMCSST apresenta maior risco de lesões irreversíveis, especialmente após 6-12h do início do quadro Quadro Clínico Dor anginosa: Duração: normalmente persiste por 2 a 5 min Tipos de infarto classificados conforme a causa clínica mais provável Síndrome Coronariana Aguda 3 Tipo e localização: dor em aperto, precordial ou retroesternal O sinal de Levine (punho fechado sobre o peito) é um achado comum na dor torácica da SCA Fatores de piora/melhora: desencadeada por esforço físico ou estresse, regredindo com repouso ou nitratos Uma característica importante no IAMCSST é o início da dor em repouso, sem melhora com nitrato sublingual Irradiação: predominância para o pescoço, mandíbula e MSE Sintomas associados: há ativação simpática, com palidez, sudorese e náuseas/vômitos Equivalentes anginosos: Sintomas inespecíficos que podem sugerir SCA mesmo na ausência de dor, como: Sudorese Dispneia Palpitações Palidez Náuseas e vômitos São mais comuns entre idosos, mulheres e diabéticos Sinais de insuficiência cardíaca: Classificação de Killip: avaliação prognóstica de pacientes com IAM de acordo com a presença de achados sugestivos para insuficiência de VE Síndrome Coronariana Aguda 4 Escore HEART: Deve ser aplicado a todo paciente com dor torácica Determina o risco de eventos cardiovasculares maiores em 6 semanas após os sintomas iniciais Pacientes com pontuação ≤ 3 associada a troponina negativa, ECG sem sinais de isquemia e sem antecedentes de DAC podem receber alta Diagnóstico ECG: Quanto mais alto o Killip, maior a gravidade e pior é o prognóstico do quadro Síndrome Coronariana Aguda 5 Deve ser realizado e interpretado em até 10 minutos após a chegada ao serviço SCA/IAM com supra de ST (infarto transmural): Elevação do ponto J ≥ 1 mm em duas derivações contíguas (mesma parede) Em V2 e V3, esse aumento deve ser > 2,5 mm para homens < 40 anos, > 2 mm para homens > 40 anos, e > 1,5 mm em mulheres Presença de BRE novo ou presumivelmente novo A localização da parede/artéria acometida é feita por meio da identificação das derivações alteradas Padrões por evolução cronológica: Fase aguda (primeiras horas): onda T hiperaguda e simétrica em ao menos duas derivações contíguas, elevação de ST Os critérios de Sgarbossa são usados para identificar infarto em pacientes com BRE Sempre que houver supra de ST em segmentos de parede inferior, é necessário investigar infarto de VD Síndrome Coronariana Aguda 6 Pode haver presença de imagem em espelho, com infra de ST em segmentos opostos ao supra Fase subaguda (> 12h): retorno do segmento ST à linha de base, redução de amplitude da onda R Na persistência de supra de ST por mais de 3 semanas, suspeitar de aneurisma ventricular Fase crônica (após semanas): inversão da onda T (reversível ou não), presença de onda Q patológica, com maior amplitude Síndrome Coronariana Aguda 7 📌 O supradesnivelamento de ST pode ser encontrado em outras patologias, como angina de Prinzmetal (transitório), pericardite aguda, TEP, hipercalemia e miocardite SCA sem supra de ST (infarto subendocárdico): Infradesnivelamento do ponto J ≥ 0,5 mm em duas derivações de mesma parede Inversão (ou elevação simétrica) de onda T 📌 A distinção entre angina instável (sem lesão miocárdica) e IAMSSST (agressão ao miocárdio) é realizada por meio da dosagem de marcadores de necrose miocárdica Marcadores de necrose miocárdica: Troponinas I e T: são exclusivas do miocárdio, o que aumenta sua sensibilidade e especificidade, porém podem se elevar na presença de qualquer injúria cardíaca É possível seriar a troponina em intervalos de 0-1-3 horas caso os primeiros resultados sejam negativos, mas a suspeita clínica se mantenha Síndrome Coronariana Aguda 8 📌 A troponina é o marcador de escolha para o diagnóstico de IAM e reinfarto (nova isquemia dentro de 28 dias do IAM original), identificados na presença de variação ≥ 20% em 2 dosagens seriadas CK-MB: é a fração coração-específica de uma enzima encontrada em todos os tecidos musculares, com pico em até 24h, e redução em 48h do infarto Mioglobina: marcador mais inespecífico, porém apresenta rápida elevação pós-IAM (1-2h) 📌 Outros mecanismos de detecção da isquemia miocárdica aguda são o ecocardiograma (capta alterações na atividade segmentar), cateterismo e a autópsia (identificam o trombo) Tratamento IAMCSST: Necessário interromper o uso de AINES/corticoides Medicações adjuvantes: Morfina (10 mg/1 ml AD): administrar 2-5 mg EV, repetindo a cada 5 min Contraindicada em infarto de parede inferior ou VD Oxigênio (catéter nasal, máscara ou VNI) Síndrome Coronariana Aguda 9 Utilizar apenas se SatO2 < 94% Mononitrato de isossorbida: administrar 5 mg SL, repetindo a dose a cada 5 min, conforme necessário São contraindicações hipotensão, bradicardia, taquicardia > 120 bpm, infarto de VD, uso de sildenafila/tadalafila nas últimas 12/24h AAS (100 mg/cp): 300 mg VO mastigados Manter dose de manutenção de 100 mg/dia VO, indefinidamente Metoprolol: 25-100 mg VO, 1x/dia O uso pode ser iniciado em até 24h do início dos sintomas, sendo mantido indefinidamente 📌 São contraindicações para o uso de betabloqueadores bradicardia, hipotensão, BAV de 2º/3º grau, asma/DPOC descompensada, Killip > 2 e risco de choque cardiogênico Captopril: 6,25-50 mg VO, de 8/8h Podem ser iniciados após 24h do início dos sintomas Clopidogrel (75 mg/cp): iniciar com dose de ataque de 300mg para fibrinólise ou 600 mg na angioplastia, mantendo dose de 75 mg a cada 24h por no mínimo 30 dias Em idosos > 75 anos, administrar apenas a dose de manutenção 📌 O prasugrel (ataque de 60 mg, manutenção de 5 mg) e o ticagrelor (ataque de 180 mg, manutenção de 90 mg) podem ser utilizados em pacientes submetidos a angioplastia primária Enoxaparina: administrar 30 mg em bolus EV + 1 mg/kg SC a cada 12h, mantendo por 8 dias ou até a angioplastia Ajustar a dose para 0,75 mg kg SC em idosos (sem bolus) e 1 mg/kg 1x/dia se ClCl < 30 ml/min Atorvastatina: 40-80 mg VO a cada 24h Síndrome Coronariana Aguda 10 Trombólise: Realizar em até 30 minutos após a entrada no serviço (tempo porta- agulha) Optar preferencialmente pela alteplase (15 mg EV + 0,75 mg/kg por 30 min + 0,5 mg/kg durante 60min) ou tenecteplase (se ambiente pré- hospitalar) A estreptoquinase deve ser usada como última opção, pois é menos específica 📌 Os sinais de trombólise bem sucedida são melhora da dor, queda ≥ 50% do maior supra, ECG evidenciando RIVA e diminuição de MNM Angioplastia: Pode ser utilizada como estratégia primária caso o tempo porta-balão não exceda 90 min (120 min se necessitar de transferência) Em caso de trombólise, pode ser realizadas a angioplastia de resgate (até 180 min após falha ) e o cateterismo eletivo (sucesso terapêutico) Os stents utilizados podem ser farmacológicos (requerem manutenção de AAS + clopidogrel por 6-12 meses) ou não farmacológicos (manter por 30 dias) 📌 Não é necessário aguardar o resultado laboratorial para o diagnóstico/tratamento de IAMCSST identificado por clínica + ECG IAMSSST: Medicações adjuvantes: Morfina (10 mg/1 ml AD): administrar 2-5 mg EV, repetindo a cada 5 min Utilizar em quadros de dor refratária Oxigênio (catéter nasal, máscara ou VNI) Utilizar apenas se SatO2 < 90% Síndrome Coronariana Aguda 11 Mononitrato de isossorbida: administrar 5 mg SL, repetindo a dose a cada 5 min, conforme necessário Segue as mesmas contraindicações observadas no IAMCSST AAS (100 mg/cp): 300 mg VO mastigados Manter dose de manutenção de 100 mg/dia VO, indefinidamente Metoprolol: 25-100 mg VO, 1x/dia O uso pode ser iniciado em até 24h do início dos sintomas, sendo mantido indefinidamente (exceto se contraindicações) Captopril: 6,25-50 mg VO, de 8/8h Também pode ser iniciado após 24h Clopidogrel (75 mg/cp): iniciar com dose de ataque de 600 mg na angioplastia, mantendo dose de 75 mg a cada 24h por no mínimo 30 dias Em idosos > 75 anos, administrar apenas a dose de manutenção Enoxaparina: administrar 30 mg em bolus EV + 1 mg/kg SC a cada 12h, mantendo por 8 dias ou até a angioplastia Ajustar a dose para 0,75 mg kg SC em idosos (sem bolus) e 1 mg/kg 1x/dia se ClCl < 30 ml/min Atorvastatina: 40-80 mg VO a cada 24h Complicações Choque cardiogênico: Definido como hipotensão persistente (com necessidade de rogas vasoativas) + hipoperfusão Todas as possíveis causas reversíveis devem ser corrigidas enquanto são ofertadas medidas gerais de suporte O infarto de VD, que se manifesta com choque + turgência de jugular + pulmões limpos, deve ser tratado com reperfusão precoce, evitando redução da pre-carga Complicações arrítmicas: Resultam da instabilidade do miocárdio isquemiado Síndrome Coronariana Aguda 12 Fibrilação ventricular (FV): pode ocorrer com ou sem sinais de IC, sendo associada à necrose. O manejo é feito com desfibrilação imediata + RCP Taquicardia ventricular (TV): pode “anunciar” FV futura quando ocorre em 24-48h. Após 2 dias, é critério de mau prognóstico, descrevendo isquemia residual ou necrose. Quando instável, é tratada com cardioversão sincronizada, ao passo que quadros estáveis se beneficiam de amiodarona 📌 Só devem ser tratadas as arritmias sintomáticas Complicações mecânicas: São eventos de maior gravidade, que geralmente requerem intervenções cirúrgicas de urgência São diagnosticadas por meio do ecocardiograma Aneurisma ventricular: mais comum, ocorre em paredes finas e discinéticas, com quadro clínico de IC + supra de ST em V1/V2 Ruptura do músculo papilar: se desenvolve em até 7 dias do infarto, marcada por sinais de choque cardiogênico, EAP e sopro regurgitativo mitral Devido à instabilidade hemodinâmica, um balão intra-aórtico deve ser posicionado até a cirurgia Ruptura do septo interventricular: a comunicação entre os ventrículos desencadeia IC congestiva com sopro panfocal Nesses casos, a realização tardia da cirurgia favorece o sucesso do reparo Ruptura da parede do VE: é um evento catastrófico marcado por tamponamento cardíaco, com rápida evolução para PCR, especialmente em idosos e indivíduos que realizaram fibrinólise tardia Síndrome Coronariana Aguda 13 📌 O tamponamento cardíaco é caracterizado pela Tríade de Beck (bulhas hipofonéticas, estase jugular e choque)
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