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MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 1 Síndrome Coronariana Aguda ``A MESMA HISTÓRIA” G.S.F, 66 anos, sexo masculino, motorista de caminhão, procura o serviço de emergência queixando-se de fortes dores precordiais em aperto, com irradiação para membro superior esquerdo e mandíbula, que se iniciou há 03 horas da admissão, associado a dispneia, sudorese, palidez cutânea, náuseas e vômitos, episódio de perda transitória da consciência. Diz estar bastante preocupado, pois o seu irmão de 52 anos, faleceu há 02 anos de infarto e os seus sintomas são parecidos. Quando interrogado sobre o histórico familiar, além do irmão, diz que sua mãe é portadora de HAS e teve AVC aos 75 anos. Adicionalmente, é tabagista ativo 30 maços/ano, sedentário, portador de Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus, em uso irregular de losartana e glifage. Ao exame físico, REG, eupneico, com palidez cutânea. PA 90x60mmHg FC 34bpm FR 16irpm SpO2 96%. AR: murmúrio vesicular presente, com estertores em bases. ACV: ritmo cardíaco regular, EJ +. Abd: Flácido. Indolor, RHA+, sem massas ou VMG. Ext: sem edema, TEC 4 s. Realizou ECG (vide abaixo). Solicitados exames laboratoriais, incluindo marcadores de necrose miocárdica. Iniciadas medidas para síndrome coronariana aguda, solicitado material para implante percutâneo de marcapasso provisório e acionado o serviço de hemodinâmica para realização de cineangiocoronariografia. ECG: Supradesnivelameto do segmento ST em DII, DIII e AvF. BAVT com escape juncional. 1. CONCEITO Isquemia significa “desequilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio”, devido à diminuição da oferta e/ou aumento do consumo. O resultado final da isquemia é a queda na produção celular de energia (ATP), o que leva à perda de função e, se a isquemia for grave e persistente, culmina em necrose da célula. A doença isquêmica do miocárdio é caracterizada pelo surgimento de isquemia em uma ou mais porções do músculo cardíaco. Sua principal etiologia é a aterosclerose das artérias coronárias, sendo as demais causas (ex.: embolia, vasculite, dissecção coronariana) bastante incomuns. A doença isquêmica do miocárdio secundária à aterosclerose coronariana pode ter MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 2 três apresentações clínicas distintas: (1) assintomática; (2) aguda; (3) crônica. Na forma assintomática (“isquemia silenciosa”), o paciente em geral é portador de fatores de risco para aterosclerose, porém os indícios de isquemia miocárdica só podem ser detectados através da realização de exames complementares Na forma aguda (SCA = Síndrome Coronariana Aguda), o paciente evolui em curto espaço de tempo com sinais e sintomas de isquemia progressiva, que acaba se manifestando em REPOUSO. A causa deste problema é a instabilidade da placa de ateroma, que sofre rupturas em sua superfície originando um trombo (constituído por plaquetas e fibrina). Existem três síndromes coronarianas agudas diferentes: 1. Angina Instável (AI); 2. IAM sem supradesnível do segmento ST (IAMSST); 3. IAM com supradesnível do segmento ST (IAMST). Na forma crônica (“angina estável”), o paciente refere sinais e sintomas de isquemia durante o esforço, mas em repouso essas manifestações desaparecem... Não há “instabilidade” da placa de ateroma, mas esta é grande o suficiente para obstruir a maior parte do lúmen coronariano (>50%), produzindo isquemia somente em face de um aumento na demanda miocárdica. 2. EPIDEMIOLOGIA • A doença isquêmica do miocárdio é a principal causa de óbito no Brasil e em diversos outros países. Acredita-se que a explicação para tamanho impacto seja o estilo de vida moderno. Dietas ricas em gorduras e calorias, aliadas ao sedentarismo e hábitos como o tabagismo, justificam a verdadeira pandemia de obesidade, resistência à insulina e DM tipo 2 que estamos testemunhando. O envelhecimento populacional também contribui em parte, permitindo que as pessoas vivam o bastante para desenvolver aterosclerose. • Entre 12-14% dos homens com idade entre 65-84 anos são portadores de angina estável, a forma crônica e sintomática da aterosclerose coronariana. Em relação às mulheres de mesma faixa etária o percentual é um pouco menor, entre 10-12%. A prevalência de doença coronariana assintomática gira em torno de 2-3% da população geral. • A incidência da doença coronariana aumenta conforme a idade do paciente, sendo que a ocorrência do evento é responsável por limitações na qualidade de vida do indivíduo ao restringir suas atividades em decorrência de incapacidade adquirida após o evento, a sua maioria decorrente de quadros de angina instável e déficits do ventrículo esquerdo. 3. FATORES DE RISCO FATORES DE RISCO NÃO MODIFICÁVEIS • Idade • Sexo masculino • História familiar prévia de doença arterial coronariana FATORES DE RISCO MODIFICÁVEIS INDEPENDENTES • Dislipidemia • Hipertensão • DiabetesMellitus • SíndromeMetabólica MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 3 • Tabagismo • Obesidade • Sedentarismo • Etilismo MARCADORES • Lipoproteínasséricaselevadas; • Hiperhomocisteinemia; • Proteína C-reativa de elevada sensibilidade aumentada • Calcificação de artérias coronárias detectadas por tomografia ST COM SUPRA E SEM SUPRA DE ST Nos casos em que o trombo promover uma obstrução parcial, com fluxo sanguíneo residual (seja pela porção ainda não ocluída ou por circulação colateral), ou com a ocorrência de uma oclusão transitória da luz vascular, temos dois quadros possíveis mais brandos da doença: o infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST) e a angina instável. O sem supra de ST resulta da oclusão subtotal do lúmen coronariano (ou oclusão total com boa perfusão colateral). Se houver elevação dos MNM o diagnóstico é IAMSST, caso contrário, angina instável... A principal etiologia é a aterotrombose, e a justificativa para a formação de um trombo de plaquetas e não de fibrina parece ser a ocorrência de lesões menos graves na placa de ateroma (ex.: apenas erosão/fissura superficial, sem muita exposição dos conteúdos fibrinogênicos intraplaca). Seis mecanismos fisiopatológicos independentes podem estar operantes numa SCA sem supra de ST, de maneira isolada ou em combinações variadas. É importante identificá- los corretamente, pois cada um merece tratamento específico: 1. Aterotrombose (principal): Lesão na placa de ateroma (erosão ou fissura não profunda), com formação de trombo suboclusivo de plaquetas (“trombo branco”); 2. Aterosclerose acelerada: Aumento rapidamente progressivo no volume da placa, sem ruptura; 3. Reestenose pós- angioplastia: Lesão da placa pelo procedimento, com estímulo pró- trombótico insatisfatória mente contrabalançado pelas medicações (antiplaquetários e anticoagulantes); 4. Obstrução dinâmica: Graus variáveis de espasmo, tanto em coronária epicárdica quanto em arteríolas musculares intramurais (vasos de resistência); Decorre de disfunção endotelial (perda de fatores vasodilatadores, como o óxido nítrico) e/ou ação de vasoconstritores (ex.: tromboxane A2, cocaína, estímulos adrenérgicos – frio, estresse etc.); 5. Inflamação: Edema na parede coronariana (vasculite), reduzindo o fluxo sanguíneo; 6. Angina “secundária”: Isquemia por aumento do MVO2 e/ou redução no aporte de O2, ex.: taquicardia, tireotoxicose, febre, anemia, hipotensão, hipóxia. 4. FISIOPATOLOGIA MECANISMO DE FORMAÇÃO DA PLACA Interações celulares na aterosclerose, pensa-se que a hiperlipidemia e outros fatores de risco causem lesão endotelial, resultando em adesão de plaquetas e monócitos e liberação de fatores de crescimento, incluindo fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), que levam àmigração e proliferação de células MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 4 musculares lisas. As células espumosas das placas ateromatosas são derivadas de macrófagos e células musculares lisas – de macrófagos através do receptor de lipoproteína com densidade muito baixa (VLDL) e modificações da lipoproteína de baixa densidade (LDL) reconhecidas pelos receptores depuradores (p. ex., LDL oxidado) e de células musculares lisas por mecanismos menos certos. O lipídio extracelular é derivado da insudação da luz do vaso, particularmente na presença de hipercolesterolemia, e também de células espumosas em degeneração. O acúmulo de colesterol na placa reflete um desequilíbrio entre influxo e efluxo, e a lipoproteína de alta densidade (HDL) provavelmente ajuda a remover o colesterol desses acúmulos. As células musculares lisas migram para a íntima, proliferam e produzem matriz extracelular (MEC), incluindo colágeno e proteoglicanos. IL- 1, interleucina-1; MCP-1, proteína quimioatraente de monócitos-1. ISQUEMIA MIOCÁRDICA O tecido miocárdico possui uma peculiaridade fisiológica que facilita a ocorrência de isquemia na vigência de uma obstrução do lúmen coronariano: trata-se do tecido com a maior taxa de extração de O2 do organismo! Taxa de extração de O2 é a fração do conteúdo arterial de oxigênio captada pelos tecidos quando da passagem do sangue pela microcirculação. No miocárdio ela é relativamente FIXA e gira em torno de 75%, não havendo, por conseguinte, muita “margem” para aumentos. Se não há como aumentar a taxa de extração de O2, a única forma de aumentar o aporte de O2 ao tecido cardíaco é aumentando o FLUXO de sangue pelo leito coronário! Tal proeza consegue ser realizada graças à chamada Reserva Coronariana – as arteríolas pré- capilares do leito coronário são capazes de se dilatar de acordo com a necessidade de oxigênio. A magnitude dessa dilatação pode aumentar o fluxo de sangue até 6x em relação ao basal. A vasodilatação das arteríolas pré- capilares se dá em resposta à produção endotelial de óxido nítrico e outros fatores miorrelaxantes, o que, por sua vez, é estimulado pela maior secreção local de subprodutos do metabolismo celular (ex.: ADP, creatina, K+, H+, lactato). Quanto maior a taxa metabólica, maior a secreção destas substâncias, e maior, portanto, a vasodilatação arteriolar. Na medida em que surgirem oclusões hemodinamicamente significativas (>50% do lúmen) nas coronárias epicárdicas, a reserva coronariana será progressivamente requisitada, a fim de manter em equilíbrio a relação entre oferta e consumo de oxigênio... Isso acontece mesmo que não haja aumento na demanda por oxigênio (isto é, mesmo no estado de repouso), o que acaba “esgotando” a reserva coronariana e, desse modo, diminui a capacidade de aumentar o fluxo sanguíneo em resposta a um verdadeiro aumento da demanda. Se a obstrução for aguda e grave (acometendo > 80% do lúmen), mesmo com uma vasodilatação arteriolar máxima, o fluxo ficará tão baixo que não será suficiente para suprir a necessidade basal de oxigênio, sobrevindo isquemia miocárdica em repouso – e posteriormente infarto – caso não exista uma circulação colateral bem desenvolvida (ou caso a coronária não seja reperfundida a tempo). Isso é o que acontece nas síndromes coronarianas agudas. Se a obstrução for mais gradual e não tão grave (entre 50-80%), a reserva coronariana será MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 5 parcialmente utilizada no estado de repouso, sobrando uma capacidade variável de vasodilatação adicional. Se neste contexto houver qualquer aumento da demanda miocárdica (ex.: um esforço físico, uma emoção intensa), aquele “pouquinho” de reserva coronariana residual poderá não ser suficiente para suprir as necessidades de O2, justificando o surgimento de isquemia esforço-induzida. Isso é o acontece NA ANGINA ESTÁVEL. Os determinantes da demanda miocárdica de O 2 são: (1) frequência cardíaca; (2) contratilidade; (3) tensão na parede ventricular. Já os determinantes do aporte miocárdico de O2 são: (1) conteúdo arterial de O2; (2) fluxo coronariano. O conteúdo arterial de O 2 é uma variável que depende da fração de O2 no ar inspirado, da função pulmonar, e também da concentração e funcionalidade da hemoglobina circulante. A perfusão do leito coronariano ocorre predominantemente na diástole (período de relaxamento cardíaco). Na sístole, a microcirculação é comprimida, dificultando a entrada de sangue pelo lado arterial e acelerando sua saída pelo lado venoso. Tal fenômeno se dá de forma mais acentuada na região subendocárdica na prática, é comum que múltiplos geradores de isquemia coexistam no mesmo paciente. Por exemplo: pacientes reais, com frequência, combinam fatores que aumentam a demanda miocárdica de O 2 (taquiarritmias como a fibrilação atrial; hipertrofia do ventrículo esquerdo; HAS descontrolada) com fatores que limitam a oferta de O2 (doença pulmonar, anemia). A interação de tais fatores com a presença de doença coronariana subjacente (estável ou instável) resulta em limiares variáveis para o surgimento de isquemia miocárdica! Às vezes o paciente não possui obstrução coronariana hemodinamicamente significativa, porém mesmo assim desenvolve isquemia – que inclusive pode ser grave e sintomática. São os casos em que há um aumento absurdo na demanda miocárdica de O2, como na HVE extrema (ex.: estenose aórtica grave), ou que evoluem com diminuições vertiginosas no conteúdo arterial de O2, como na intoxicação por monóxido de carbono (carboxi- hemoglobinemia). Ambos os mecanismos também podem coexistir (diminuição da oferta + aumento do consumo), como na intoxicação pela cocaína (espasmo coronariano + aumento do tônus adrenérgico). CONSEQUÊNCIAS DA ISQUEMIA MIOCÁRDICA Os cardiomiócitos isquêmicos desenvolvem alterações bioquímicas (queda do ATP) que prejudicam suas funções mecânicas e elétricas. Como a aterosclerose coronariana é uma doença focal, essas alterações tendem a aparecer de forma “segmentar” na parede miocárdica. Em termos mecânicos, num primeiro momento a isquemia induz à perda do relaxamento muscular (disfunção diastólica), que logo evolui para perda da capacidade contrátil (disfunção sistólica), caso a isquemia não se resolva. Descrevem-se três estágios evolutivos, de gravidade crescente: • HIPOCINESIA – o segmento isquêmico se contrai, porém essa contração é “mais fraca” que a dos segmentos não isquêmicos. • ACINESIA – o segmento isquêmico não se contrai, ficando MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 6 “imóvel” em relação aos segmentos não isquêmicos. • DISCINESIA – o segmento isquêmico não se contrai, e apresenta um movimento paradoxal de “abaulamento” em relação aos segmentos não isquêmicos. Dependendo da extensão, localização e duração da isquemia, diferentes consequências clínicas podem advir, por exemplo: (1) se uma grande porção da massa ventricular se tornar isquêmica (> 40% do ventrículo esquerdo), a contratilidade global diminui e o paciente desenvolve insuficiência cardíaca aguda; (2) se os músculos papilares forem afetados, a valva mitral não se fecha adequadamente, e o paciente evolui com insuficiência mitral aguda. Isquemias graves e persistentes (> 20min nas oclusões totais) conduzem ao infarto do miocárdio. Em termos elétricos, os primeiros sinais de isquemia são as alterações na repolarização ventricular, como a onda T alta, pontiaguda e simétrica (isquemia subendocárdica) e a onda T invertida, pontiaguda e simétrica (isquemia subepicárdica). Quando a isquemia é grave e persistente, sobrevém o desnivelamento do segmento ST (“corrente de lesão”): o INFRAdesnivelamento indica lesão “não transmural”, predominantemente no subendocárdio, ao passo que o SUPRAdesnivelamentodenuncia lesão “transmural”, acometendo toda a espessura da parede cardíaca (do endocárdio ao epicárdio). OBS: O primeiro indício de isquemia miocárdica no ECG são as alterações da onda T e, posteriormente, o desnivelamento do segmento ST (“corrente de lesão”): o infradesnível significa lesão “não transmural”, de predomínio no subendocárdio, ao passo que o supradesnível significa lesão “transmural”, acometendo toda a espessura da parede (oclusão coronariana total). Na prática, num paciente com dor torácica anginosa, o supra de ST significa que a coronária está “fechada”. Outra consequência da isquemia é a instabilidade elétrica: a região isquêmica e suas adjacências manifestam propriedades eletrofisiológicas diferentes (ex.: excitabilidade variável, heterogeneidade dos períodos refratários). Estes são os pré-requisitos para a ocorrência do FENÔMENO DE REENTRADA, o principal substrato fisiopatogênico das taquiarritmias! Não por acaso, a primeira manifestação isquêmica de muitos pacientes é a morte súbita por fibrilação ou taquicardia ventricular sem pulso. MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 7 5. SINTOMATOLOGIA CLÍNICA Os sintomas decorrentes da síndrome coronariana aguda decorrem do desbalanço entre oferta e demanda de oxigênio quanto ao miocárdio, gerando um cenário propício para a isquemia, uma vez que diante da doença aterosclerótica, ocorre disfunção endotelial, reduzindo a vasodilatação que ocorreria para compensar o aumento da demando por oxigênio, dada a obstrução ocorrida. Diante disso, o sintoma preponderante desse quadro consiste na dor precordial, também chamada de angina, geralmente descrita como sensação em aperto no tórax, restroesternal, de início súbito, aos mínimos esforços ou em repouso, sem relação com esforço prévio, piorando em situações de exercício e estresse e melhorando um pouco ao repouso e, como veremos adiante, com a administração de nitrato. Pode ser descrita a irradiação dessa para o epigástrio, cérvice, mandíbula, dorso e membro superior esquerdo, sendo que é comum a sensação de parestesia nesse último. O paciente geralmente não associará a dor aos movimentos respiratórios e não indicará um ponto específico doloroso. Isso porque a dor isquêmica consiste em uma dor visceral, a qual não envia sinais neurológicos de dor localizada, mas sim de dor difusa. O paciente com esse quadro poderá se apresentar claramente ansioso e desconfortável, podendo também sofrer de taquicardia, dispneia, vômitos ou náuseas, bem como elevação da pressão arterial sistêmica. A ausculta cardíaca pode variar, podendo estar dentro dos índices de normalidade, ou ainda revelar a presença de B4, pela diminuição da complacência do ventrículo esquerdo, ou ainda B3, caso haja disfunção ventricular. Sopros serão auscultados somente nos casos em que a isquemia acometer os músculos papilares, que será evidenciado pela presença de sopro característico de insuficiência mitral. É muito importante que a história e o raciocínio clínico sejam feitos de maneira coerente (não só nesse caso, como na vida!), mas especifica-se isso no caso da SCA, pois, como é de conhecimento de todos, a dor torácica não é patognomônica de Síndrome Coronariana Aguda. Desse modo, deve-se rastrear achados e dados da anamnese e do exame físico que guiem o raciocínio clínico na direção certa. Isso porque, apesar de muitos acometimentos patológicos que causam dor torácica poderem ser benignos, existem doenças que se manifestam com quadros de dores no peito que podem culminar na morte do paciente, sendo que o tratamento de uma pode ser o inverso do utilizado em um diagnóstico diferencial. Um exemplo disso, é a dissecção aguda de aorta, que consiste em um dos diagnósticos diferenciais de dor torácica, sendo que, se o paciente for tratado para SCA, aumenta-se a possibilidade de óbito, dado que o risco de sangramento desse aumentará exponencialmente. Justamente por isso, a dor e a história clínica do paciente devem ser claramente analisadas. OBS: Pacientes mais velho e diabéticos podem não apresentar quadro típico da doença, sem a presença de desconforto torácico, uma vez que, principalmente nos diabéticos, ocorre um quadro de denervação, decorrente da neuropatia diabética. Tais pacientes apresentarão o chamado equivalente anginoso ou isquêmico, que consiste na apresentação de sintomas como sudorese, mal-estar súbito, dispneia, náusea etc (sintomas que podem estar presentes com a angina em outros pacientes com síndrome coronariana aguda), sendo mais comum em mulheres, idosos e diabéticos, como já mencionado. Desse modo, deve-se ter atenção redobrada caso esses pacientes se MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 8 apresentem na emergência com queixa de vertigem, dispneia, sudorese, náuseas, vômitos, arritmias ventriculares e até mesmo hipotensão. DOR ATÍPICA • Dor torácica “em queimação”, “em facada; • Dispepsia (epigastralgia + náuseas e vômitos); • Exaustão, lipotimia ou sincope – devido ao baixo DC; • Déficit neurológico ou focal (AVE ou AIT); • Choque cardiogênico indolor; • EAP – devido à IVE aguda; • Morte súbita – devido à fibrilação ventricular. Obs.: Geralmente ocorrem em idosos, mulheres, DM, ICC, marca-passo definitivo, transplante cardíaco. Obs.: 40-60% dos pacientes refere um fator desencadeante: estresse físico, estresse emocional, lauta refeição! Obs.: Geralmente o IAM ocorre entre 6h- 12h. Obs.: 1/3 dos casos são precedidos por pródromos – desconforto anginoso aos mínimos esforços ou em repouso. CARACTERÍSTICAS DA DOR Sendo o diagnóstico eminentemente clínico, é necessário levar em consideração algumas variáveis clínicas da característica da dor como descritas a seguir. • DOR TORÁCICA DEFINITIVAMENTE ANGINOSA (TIPO A): Há características evidentes de angina de peito. A localização é retroesternal ou precordial, precipitada por estresse físico ou emocional, com irradiações possíveis para região cervical, mandíbula, ombro, face ulnar dos braços, região epigástrica e/ou região interescapular, com duração de alguns minutos e aliviada pelo repouso ou uso de nitrato em menos de 10 minutos. • DOR TORÁCICA PROVAVELMENTE ANGINOSA (TIPO B): Esse tipo não possui todas as características de uma angina clássica, mas a doença arterial coronariana continua sendo a sua principal hipótese diagnóstica. • DOR PROVAVELMENTE NÃO ANGINOSA (TIPO C): É uma dor atípica, isto é, a doença coronária não é a principal hipótese diagnóstica mas não é possível excluí-la totalmente sem a realização de exames complementares. • DOR TORÁCICA NÃO ANGINOSA (TIPO D): É um tipo de dor onde você pode excluir a hipótese de doença coronária como a causa dela. Apresenta características como pontada (o paciente atribui a uma polpa digital) da região médio ou inferior do abdome, incluindo membros inferiores, que se altera com a movimentação, com a palpação ou com movimentos respiratórios, dor com duração de segundos. Há também os casos nos quais a apresentação da síndrome coronária aguda não se dá pela presença de dor e sim pela presença de outro sintoma, como consequência de isquemia miocárdica. É o chamado equivalente anginoso como a dispneia ou confusão mental. Após a avaliação clínica fazem-se necessários os exames complementares para o diagnóstico diferencial de uma síndrome coronária aguda em Infarto Agudo do Miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST, Infarto Agudo do Miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST, angina instável e angina estável.vel. MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 9 6. SEGUIMENTO APÓS SINTOMATOLOGIA Uma vez iniciados os sintomas do paciente, o tempo entre a tomada de decisão de procurar o serviço de emergência e a chegada nesse ge- ralmente é demorado, especialmen- te no queconcerne pacientes idosos, do sexo feminino e de baixa condição socioeconômica. Havendo a possibi- lidade e a disponibilidade da realiza- ção de um eletrocardiograma (ECG) anteriormente à chegada ao serviço de emergência, esse deve ser feito de imediato, uma vez que a identifi- cação do supradesnivelamento do segmento ST poderá ser utilizado para encaminhar o paciente para o atendimento prioritário. Chegando ao serviço, todo paciente que levante suspeita para SCA deve realizar um ECG em até dez minu- tos desde a sua chegada. A realiza- ção desse é fundamental, pois, além de ser um divisor de águas quanto à classificação, revela a situação da perfusão cardíaca, bem como iden- tifica maior ou menor gravidade do quadro, podendo configurar situação de urgência. Ao realizar o exame, de- verá ser observado se existe supra de ST em alguma derivação e, na ausência desse, procura-se achados diferenciais como o infra do mesmo segmento eletrocardiográfico. Re- lembrando, o supra de ST é tão grave porque ele consiste no sinal elétrico de um coração cujo ramo coronário esteja obstruído por completo (ge- ralmente), configurando o chamado infarto com supra de ST. A ausên- cia desse, mesmo que a presença de infra de ST, quando compatível com a SCA, configura dois possíveis qua- dros: o infarto sem supra de ST e a angina instável. SE LIGA! Uma coisa muito importante quanto ao seguimento e ao tratamento da SCA é que podemos estar diante de uma artéria ocluída, a qual está geran- do necrose miocárdica. Sendo assim, o atendimento, bem como os exames essenciais devem ser feitos o quanto antes. Por isso, a frase mais importante que se deve ter quando se fala de SCA, é: TEMPO É MÚSCULO! Além do eletrocardiograma, deve-se realizar um acesso venoso calibro- so no paciente. Isso porque medica- ções necessitarão ser administradas e exames deverão ser colhidos. No momento de sua chegada, devem ser dosados os níveis séricos dos mar- cadores de necrose do miocárdio. O mais específico utilizado é a tro- ponina, que consiste em um marcador biológico de lesão e de necrose miocárdica, tendo os seus níveis san- guíneos aumentados quando de um acometimento ao músculo cardíaco. Essa substância possui uma cinéti- ca quanto à sua elevação, sendo que o início do aumento é percebido no sangue após 3 horas do início da dor anginosa, com um pico atingido entre 18 e 24 horas, podendo persistir por até 10 dias em níveis elevados na corrente sanguínea do paciente. No cenário de níveis de troponina du- vidosos, bem como nos quais o pa- ciente chega antes de três horas do início do quadro, pode-se realizar a dosagem seriada de troponina, ou simplesmente o que se chama de colher a troponina em tempo há- bil. O motivo do uso da expressão “tempo hábil” consiste no fato de que, como já vimos, a elevação da troponi- na não ocorre de imediato, podendo demorar até três horas após o início do quadro de isquemia para que isso ocorra. Diante disso, deve-se colher a dosagem de troponina do paciente a cada uma ou duas horas, observando a curva da concentração dessa prote- ína. A elevação da dosagem maior do que 20% do valor inicialmente colhido é altamente sugestiva de infarto, indi- cando o chamado valor em crescente, configurando quadro compatível com a síndrome coronariana aguda. MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 10 7. DIAGNÓSTICO A avaliação inicial e o exame físico são primordiais para a identificação da ocorrência do infarto. O paciente pode apresentar grande ansiedade e expressão de medo e angústia, de acordo com a apresentação clássica de Levine, na qual temos um paciente com fácies de dor e a mão em região precordial. Sinal de Levine: condição postural na qual o paciente está levemente curvado devido à dor anginosa e com a mão fechada colocada de maneira imprecisa sobre a região esternal (região do coração). Sugestivo de dor torácica de origem cardíaca. EXAME FÍSICO O exame físico é frequentemente normal nos pacientes com SCA, sendo mais importante para estabelecer gravidade e auxiliar em seu diagnóstico diferencial. Deve ser realizado simultaneamente com a adoção das primeiras medidas para tratamento das SCA. Provavelmente, o principal diagnóstico diferencial a ser realizado é a dissecção aguda de aorta, na qual o tratamento anticoagulante ou com múltiplos antiplaquetários pode ser bastante danoso. A pesquisa de diferença de pulsos radiais ou de membros inferiores em relação aos superiores é de fundamental importância para identificar essa condição em alguns casos, antes mesmo da realização de exames adicionais. Durante um episódio de dor anginosa podem ser flagrados: estertores pulmonares e terceira bulha; sinais de disfunção ventricular esquerda transitória; bem como sopro sistólico transitório de regurgitação mitral, resultado da isquemia dos músculos papilares. Esses achados, quando positivos, indicam maior gravidade e pior prognóstico. O achado de quarta bulha, resultante de transitória disfunção diastólica, está presente em mais de 90% dos casos na vigência de isquemia aguda, embora não guarde relação com prognóstico. Muitos pacientes possuem exame físico alterado não pela doença coronariana em si, mas sim pelos seus fatores de risco. Por exemplo: HAS; obesidade centrípeta e acantose nigricans (resistência à insulina); diminuição e assimetria dos pulsos periféricos, sopro carotídeo e aneurisma de aorta abdominal (aterosclerose); xantomas e xantelasmas (hipercolesterolemia); alterações características no fundo de olho (HAS/DM); manchas nicotínicas nas pontas dos dedos. Obs.: O diagnóstico de doença coronariana pode ser estabelecido com razoável grau de certeza somente pela anamnese e exame físico. Não obstante, mesmo assim, diversos exames complementares são necessários, não apenas para confirmar a impressão clínica, mas também – e principalmente – para ESTRATIFICAR a gravidade e o prognóstico do quadro! EXAMES COMPLEMENTARES MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 11 EXAMES LABORATORIAIS GERAIS Todo paciente sob suspeita de doença coronariana deve realizar uma série de exames “de rotina” visando à identificação de fatores de risco cardiovascular. Hemograma, lipidograma, função renal, glicemia/hemoglobina glicada, pesquisa de microalbuminúria e, no contexto clínico apropriado, função tireoideana, são parâmetros que sempre devem ser analisados e monitorados nesses indivíduos! Outro marcador inespecífico que tem sido valorizado é a dosagem de proteína C reativa. Este reagente de fase aguda (mesmo quando discretamente aumentado) é considerado fator de risco independente para morbimortalidade cardiovascular em coronariopatas. Quanto mais “inflamado” estiver o paciente, maior o risco de “instabilidade” e rotura das placas de ateroma. ELETROCARDIOGRAMA Todo portador de cardiopatia, assim como todo indivíduo que está sendo investigado para tal, deve realizar um eletrocardiograma de doze derivações em repouso. Este exame, todavia, pode ser completamente normal na angina estável... Existem alterações no ECG de repouso que denotam maior probabilidade de doença coronariana subjacente, porém isoladamente não são capazes de confirmar este diagnóstico, por exemplo: hipertrofia do ventrículo esquerdo, arritmias (ex.: FA), distúrbios no sistema de condução (ex.: BRE completo)... Já a presença de indícios de infarto prévio (ex.: “onda Q patológica”, achado que mostra a existência de uma zona de miocárdio inativo) para todos os fins práticos tem poder suficiente para confirmar a presença de coronariopatia! O paciente com dor torácica deve realizar um ECG em, no máximo, 10 minutos a partir de seu contato com a equipe de saúde. É particularmente importante realizá- lo durante a presença de sintomas. O ECG é o exame central que dividirá a SCA em SCAcsST ouSCAssST. ALTERAÇÕES DO ELETROCARDIOGRAMA Dentre os exames complementares, é de extrema importância e urgência o eletrocardiograma (ECG), valioso método para a identificação e localização do IAM, e deve ser feito e interpretado em no máximo 10 minutos. Nele, buscam-se principalmente as seguintes alterações: • • Desvios significativos do segmento ST em relação ao espaço PR. • • Ondas T invertidas. • • Presença de ondas Q patológicas. Þ Infradesnivelamento do segmento ST: maior ou igual a 1 mm em V1 – V4 quando associado à supra de ST de parede inferior, indica infarto com supradesnivelamento do segmento ST de parede dorsal associado. Neste caso, devemos realizar, pois a sensibilidade aumenta, as derivações V7, V8 e V9. Þ Elevação do segmento ST em V3R e V4R: pois os pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio com supradesnivelamento do MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 12 segmento ST com acometimento proximal ou médio da artéria coronária direita podem evoluir com infarto do ventrículo direito. Þ Ondas T apiculadas e simétricas: podem indicar fases precoces de um IAM. TESTES PROVOCATIVOS Testes “provocativos” são exames onde o coração é forçado a aumentar sua demanda metabólica, permitindo-nos visualizar o surgimento de alterações dinâmicas indicativas de isquemia. O termo “alterações dinâmicas” quer dizer o seguinte: a alteração só aparece quando a demanda miocárdica aumenta, voltando ao normal em repouso... Os testes provocativos são divididos em dois grupos: (1) teste eletrocardiográfico e (2) testes de imagem. O primeiro é representado pelo famoso teste ergométrico (ECG de esforço). Os outros são: cintilografia de perfusão miocárdica, “eco- stress”, RNM cardíaca e PET-scan. MARCADORES DE NECROSE MIOCÁRDICA Estes marcadores distinguem AI de IAM e podem quantificar tecido miocárdico que sofreu necrose, além de estimar prognóstico. Existem dezenas de tipos e subtipos de marcadores de necrose miocárdica (MNM), sendo CK-MB e troponinas os mais importantes. É necessário interpretar os valores desses marcadores a partir do momento de início da dor. CK-MB A CK-MB é o marcador mais amplamente disponível. Eleva-se após 4 a 6 horas, atinge o pico em cerca de 12 a 24 horas e normaliza-se em 48 horas. Pode ser medida a atividade da CK- MB ou, com mais acurácia, a massa de CK-MB. Quando testada a atividade de CK- MB é necessário mensurar também a CPK total. A relação CK-MB atividade/CPK entre 4 e 25% sugere IAM. A CK-MB atividade é menos específica para necrose miocárdica que as troponinas, uma vez que pode estar discretamente elevada em alguns indivíduos sadios e pode se elevar em casos de lesões musculares esqueléticas, de útero, cérebro, entre outros. A CK-MB massa tem maior acurácia, assim como as troponinas. TROPONINAS As troponinas disponíveis para aplicação clínica são as troponinas I e T cardioespecíficas. Em geral, nenhuma delas é detectada em indivíduos sadios. O critério universal para definição de IAM é o padrão de elevação e/ou queda de concentração de troponina, com pelo menos um valor acima do percentil 99 de uma população de referência normal, na presença de características clínicas compatíveis com a SCA. As troponinas elevam-se a partir de 4 a 6 horas após IAM, com pico em torno de 14 a 24 horas e com normalização em 5 a 10 dias para troponina I e 10 a 14 dias para troponina T. O tratamento MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 13 de SCA não deve ser postergado em função da espera pela elevação dos MNM. Além disso, um supradesnivelamento do segmento ST mantido em paciente com achados clínicos compatíveis praticamente confirma tratar-se de IAMcsST. A troponina é o mais sensível marcador cardíaco, servindo principalmente para prognóstico em caso de valores aumentados em 72 horas nos pacientes com IAMcsST. Nos pacientes com IAMssST e angina instável, ela se torna muito importante tanto para o diagnóstico como para o prognóstico. A recomendação de tempo de coleta da amostra de sangue, de realização do exame em laboratório central e de recebimento do resultado não deve ultrapassar mais que 60 minutos, caso contrário a indicação deve ser a utilização de aparelhos portáteis de avaliação tipo point of care na beira leito. A troponina T ultrassensível já disponível é capaz de encurtar o tempo de detecção para menos de 3 horas do início dos sintomas, facilitando o diagnóstico do IAMssST e da angina instável. CINEANGIOCORONARIOGRAFIA A cinecoronariografia representa elemento central na avaliação e tomada de decisão terapêutica em pacientes com IAMCST. Este exame deve ser realizado não somente visando instituir um procedimento de revascularização, mas determinar o grau de comprometimento das artérias coronárias e estabelecer a presença e extensão do dano miocárdico. O número de vasos e a extensão do acometimento aterosclerótico podem ajudar na classificação de risco e na tomada de decisão sobre a melhor estratégia de tratamento desses pacientes. A coronariografia (“CATE”) é o método padrão- -ouro para diagnóstico de doença coronariana! Ao contrário do que muitos pensam, trata-se de um exame com baixo risco de complicações (3% apenas), até mesmo em pacientes idosos. Ela identifica, com grande precisão anatômica, obstruções coronarianas secundárias à aterosclerose, assim como outras formas de lesão desses vasos, incluindo espasmo coronariano, anomalias anatômicas, vasculite (ex.: doença de Kawasaki) e dissecção arterial primária. Contudo, é importante compreender que nem todos os portadores de angina estável efetivamente se beneficiam da realização de um CATE! Na maioria das vezes, aliás, tal exame NÃO está indicado, devendo o diagnóstico e a estratificação prognóstica ser realizados apenas com os testes não invasivos anteriormente descritos. No entanto, a cinecoronariografia no IAMCST possui algumas peculiaridades que precisam ser observadas, visando à manutenção dos possíveis benefícios que dela possam advir. Nesse cenário, muitas vezes indica- se esse método diagnóstico para pacientes dos quais se dispõe de limitada informação sobre antecedentes pessoais e presença de comorbidades. Atenção especial deve ser dispensada a pacientes idosos, diabéticos, com sabida disfunção miocárdica/renal prévia, pacientes já revascularizados e de baixo ou muito elevado peso corpóreo − caracteristicamente a população que costuma ter pior evolução. Outras questões relevantes a serem avaliadas antes da realização deste exame referem-se à via de acesso para sua realização, ao tipo de contraste a ser utilizado e à terapêutica farmacológica adjuvante em uso. RADIOGRAFIA DE TÓRAX A radiografia de tórax é útil para identificar possíveis diagnósticos diferenciais da SCA, como dissecção aguda de aorta, MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 14 pneumotórax espontâneo, tromboembolia pulmonar e pneumonia. Um achado anormal de alargamento de mediastino sugerindo um aneurisma de aorta que se rompeu deve levar à preferência pela reperfusão mecânica em vez de fibrinólise química. A radiografia de tórax, no entanto, não deve retardar a fibrinólise em pacientes com IAMcsST e dor torácica típica, sem irradiação da dor para as costas e sem importante elevação pressórica. ECOCARDIOGRAMA Pela disponibilidade e facilidade da utilização de equipamentos portáteis de ecocardiografia, esse exame tem sido cada vez mais utilizado para auxiliar o diagnóstico de IAM quando existem dúvidas. Alterações de contratilidade regional aparecem rapidamente após a oclusão coronariana, bem antes da necrose miocárdica. A ausência desses achados exclui infartos significativos, porém a presença deles carece de especificidade, já que podem ser encontrados em outras circunstâncias, como áreas de infartoantigo. Nos pacientes em que o diagnóstico diferencial entre IAM e dissecção de aorta não estiver claro, o ecotransesofágico é de grande valia. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO IAMCSST Embora existam diversos escores de estratificação de risco para pacientes com IAMcsST, essa estratificação, nesse grupo em particular, é de pouca aplicabilidade na emergência, uma vez que o tratamento desses pacientes é quase sempre inicialmente agressivo. A classificação de Killip, embora antiga diferenciação dos dois tipos de SCA, ou mesmo das estratégias de reperfusão coronariana) é a mais simples e mais utilizada. Já o escore TIMI para IAMcsST, é menos antigo e consiste em uma soma ponderada de vários critérios. CLASSIFICAÇÃO DE KILLIP SCASSST Existem várias classificações e escores para estratificar o risco de eventos em pacientes com SCAssST. Os mais usados são: critérios de Braunwald, escore TIMI para SCAssST e escore GRACE. Desses, o escore GRACE parece ser o melhor em estratificar riscos, porém não é tão prático quanto os dois primeiros. Entre os critérios de Braunwald, a presença de um único fator de alto risco caracteriza o paciente nesse grupo, mesmo que vários outros fatores característicos de risco intermediário estejam presentes. O paciente só é considerado de risco intermediário na ausência de qualquer das características de alto risco e na presença de pelo menos uma característica de risco intermediário. MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 15 ESTRATIFICAÇÃO DE BRAUNWALD 8. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Os pacientes com doença aterosclerótica coronariana devem tomar várias medidas quanto ao seu estilo de vida, visando reduzir a progressão da aterosclerose: • Parar de fumar; • Fazer dieta; • Emagrecer; • Exercício físico regular – aumenta o HDL – colesterol e a reserva coronariana; • Controlar a pressão arterial; • Controlar os níveis de LDL- colesterol (< 70 mg/dl para pacientes de alto risco, e < 100 mg/ dl para pacientes de risco intermediário); e de HDL-C (manter acima de 50 mg/dl); • Controlar o diabetes mellitus; • Reduzir a obesidade; • Vacinação contra influenza. Recomenda-se o uso de múltiplas frentes terapêuticas, ou seja, não basta apenas dizer ao paciente que ele precisa parar. Temos que fazer isso sim, mas ao mesmo tempo em que lhe fornecemos encaminhamento (caso ele deseje) a programas especializados (ex.: ambulatório de tabagismo), devemos prescrever drogas (reposição de nicotina e bupropiona) para ajudar no combate aos sintomas de abstinência. Todos os coronariopatas devem seguir um plano dietético básico! As gorduras saturadas não devem representar mais do que 7% do total de calorias, bem como a ingestão diária de colesterol não deve ultrapassar 200 mg... O uso de suplementos de ácido ômega-3 não é recomendado pelas diretrizes brasileiras de DAC crônica estável, pois não mostrou reduzir a ocorrência de eventos cardiovasculares. MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 16 Os pacientes também devem receber recomendações claras com relação às atividades físicas permitidas. Estas devem ser analisadas caso a caso, e o teste ergométrico pode ser útil para estimar a capacidade de realizar tais atividades, mas não é considerado obrigatório (a estimativa da capacidade funcional pela anamnese é muito mais importante que os exames complementares). Em geral, os esportes competitivos ou extenuantes devem ser proibidos. A atividade sexual equivale a subir um lance de escadas em passo normal ou 7 METs (um esforço que costuma elevar a FC a 120 bpm), e nem todos os pacientes estarão aptos a realizá-la. A frequência ideal para a prática de exercícios aeróbicos é de sete vezes por semana (no mínimo cinco)! A duração desses exercícios deve ser de no mínimo meia hora. Modificações na rotina diária que obriguem o paciente a fazer esforços físicos (ex.: subir escadas em vez de elevador) também são úteis e recomendáveis. Um importante estudo comparou pacientes que faziam exercícios diariamente versus pacientes que foram submetidos à angioplastia com stent para doença univascular. De forma surpreendente, o grupo exercício mostrou mais benefício em um ano (em termos de eventos adversos e capacidade de exercício) do que o grupo angioplastia com stent. O uso do nitrato sublingual profilático tem uma ótima eficácia para prevenir angina por atividade física (ex.: sexual) quando dado 15- 30min antes do esforço. Além disso, os pacientes anginosos devem andar com nitrato sublingual no bolso para usar em caso de angina. ABORDAGEM TERAPÊUTICA - MEDIDAS GERAIS A primeira abordagem terapêutica ao paciente com suspeita de SCA deve ser, além de mantê-lo em repouso – se possível, em decúbito horizontal – realizar monitoração de ECG, pressão arterial não invasiva e oximetria. Deve- se, também, oferecer oxigênio e obter um acesso venoso antecubital, além de continuar colhendo, de forma dirigida, detalhes da história e do exame físico. PRIMEIRA ABORDAGEM AO PACIENTE GRAVE: MOVE TRATAMENTO COMUM DAS SCA Quanto ao tratamento medicamentoso comum a SCAcsST ou SCAssST, pode ser útil a lembrança do acrônimo MONABCH. Muitos novos antiagregantes e antitrombóticos estão em estudo para aplicação aos tratamentos das SCA, alguns já com fase III concluída. As recomendações presentes restringem-se às medicações disponíveis no Brasil. É recomendada a sedação leve para pacientes com SCA que estejam tensos ou inquietos, se não houver contraindicações, preferencialmente com benzodiazepínicos em MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 17 dose baixa (p. ex., diazepam, 5 mg, a cada 8 horas). OXIGÊNIO Todos os pacientes sintomáticos devem receber oxigênio durante a fase inicial do tratamento, para se obter a saturação arterial acima de 90%. Questiona-se o uso de oxigênio suplementar entre os pacientes normoxêmicos; porém, as diferentes diretrizes sugerem uso de oxigênio por cateter nasal em fluxo baixo nesses casos durante as primeiras horas. Nos casos de edema agudo de pulmão, deve ser feita breve tentativa de ventilação não invasiva com pressão positiva. Se houver comprometimento respiratório importante mantido ou colapso hemodinâmico, deve- se optar por ventilação mecânica invasiva por meio de tubo orotraqueal. NITRATOS A utilização de nitratos permite a redução da pré-carga, da tensão na parede do ventrículo esquerdo e, consequentemente, do consumo miocárdico de oxigênio. Além disso, promove discreta vasodilatação coronariana. Quando a SCA é decorrente de vasoespasmo (como na angina de Prinzmetal), a dor e a alteração eletrocardiográfica podem resolver-se rapidamente. Não há demonstração de redução de mortalidade com o uso de nitratos; no entanto, eles são altamente eficazes e constituem o grupo de escolha para o controle inicial da dor isquêmica, hipertensão e congestão pulmonar. São ainda úteis para identificação de alterações eletrocardiográficas dinâmicas. Dinitrato de isossorbida pode ser administrado inicialmente por via sublingual, em doses de 5 mg. Assim que um acesso venoso for obtido, se persistir dor ou hipertensão, nitroglicerina pode ser iniciada em lenta vazão (5 a 10 mcg/minuto com incrementos de 5 a 10 mcg, a cada 5 minutos, até alívio da dor, pressão sistólica menor do que 100 mmHg ou diminuição de 30% na pressão sistólica inicial em hipertensos, ou 10% em normotensos). Após 24 a 48 horas, o tratamento endovenoso (EV) pode ser convertido para fármacos orais, com administração assimétrica ao longo do dia, no sentido de evitar tolerância (p. ex., às 8, 14 e 20 horas). Nitratos podem causar cefaleia e hipotensão. Obs.: É importante destacar que nitratos não devem ser indicados a pacientes que utilizaram inibidores da fosfodiesterase (sildenafil,tadalafil ou vardenafil) para tratamento de disfunção erétil nas últimas 24 a 48 horas, já que essa associação pode levar à hipotensão prolongada e grave, com risco de hipofluxo coronariano, piora da angina e infarto. MORFINA Trata-se de um potente analgésico, com potencial ação vasodilatadora, sobretudo no leito venoso. Ainda que exista análise de registro sugerindo que o uso da morfina possa aumentar a mortalidade, essa análise é sujeita a importantes vieses, de modo que sua utilização é recomendada quando há persistência de dor após o uso de nitrato sublingual. O fármaco MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 18 promove redução de pressão arterial, da pré- carga, do consumo miocárdico de oxigênio e dos sintomas congestivos, sendo, portanto, de grande valor nos casos de congestão pulmonar associada. Há ainda o desejado efeito ansiolítico, fundamental no cenário das SCA. Doses de 2 a 4 mg podem ser administradas e repetidas conforme necessário. Não deve ser utilizada em pacientes hipotensos ou bradicárdicos. Os principais efeitos colaterais são depressão respiratória, rebaixamento do nível de consciência, hipotensão e bradicardia. Seu antagonista é o naloxone. No caso de pacientes que utilizam qualquer anti- inflamatório não esteroidal, seu uso deve ser interrompido imediatamente. BETABLOQUEADORES A perfusão coronariana ocorre especialmente durante a diástole, já que durante a sístole a vigorosa contração miocárdica impede o adequado fluxo sanguíneo por esses vasos. Os betabloqueadores aumentam o período diastólico e, consequentemente, a perfusão coronariana, diminuem o consumo miocárdico e os sintomas isquêmicos, além de facilitar o controle da hipertensão e das taquiarritmias associadas à isquemia aguda do miocárdio. Os betabloqueadores podem ser administrados por via oral (VO) ou venosa. Com os resultados do estudo COMMIT, tem sido adotada maior cautela em não reduzir muito rapidamente a frequência cardíaca e evitá-los em pacientes com congestão pulmonar ou sinais de insuficiência cardíaca (IC). Assim, restringe-se o uso dos betabloqueadores venosos a pacientes com sintomas isquêmicos persistentes após uso de nitrato e morfina, importante elevação pressórica ou arritmias ventriculares recorrentes. Prefere-se que o tratamento seja EV, com fármacos de curta duração (por exemplo, esmolol EV contínuo, na dose de 50 a 300 mcg/kg/minuto, ou metoprolol em bolo de 5 mg, seguido de doses suplementares a cada 5 minutos, até o máximo de 15 mg, se necessário). Nos demais pacientes, a medicação pode ser administrada VO (p. ex., propranolol, VO, na dose de 20 a 80 mg, a cada 6 a 8 horas). TRATAMENTO ANTIPLAQUETÁRIO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO O ácido acetilsalicílico exerce ação antiagregante plaquetária pela inibição irreversível da ciclo- oxigenase-1, reduzindo a síntese de tromboxano A2. A ação do ácido acetilsalicílico, tanto nas SCAssST quanto nas SCAcsST, é amplamente estudada e considerada a terapia mais importante na redução de morbidade e mortalidade dessas condições. Deve ser administrado imediatamente, tão logo haja suspeita de SCA, mesmo antes do diagnóstico (dose inicial de ataque de 200 a 325 mg, mastigados, para absorção mais rápida, seguido de manutenção diária de 75 a 100 mg, VO, em dose única, mantido indefinidamente). Sua única contraindicação absoluta é o antecedente de alergia aos salicilatos. Úlcera gastrointestinal com ou sem hemorragia ou outros sangramentos ativos são contraindicações relativas, que devem ser pesadas na vigência de quadro agudo de SCA. OUTROS ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS O clopidogrel e o prasugrel são tienopiridínicos oferecidos como pró-drogas que, após ativação pelo citocromo P450 no MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 19 fígado, inibem irreversivelmente o receptor P2Y12. O prasugrel tem ação mais rápida e mais potente que o clopidogrel. Já o ticagrelor, uma ciclopentiltriazolpirimidina que inibe reversivelmente esse mesmo receptor, também de modo potente, tem meia-vida mais curta e exige utilização em duas tomadas diárias. CLOPIDOGREL O clopidogrel é uma medicação segura e apresenta atualmente fortes evidências para seu uso em associação ao ácido acetilsalicílico, tanto nas SCAssST quanto nas SCAcsST, mesmo as tratadas com fibrinolíticos ou com angioplastia. Clopidogrel é administrado com ataque de 300 mg, VO, e manutenção subsequente com 75 mg ao dia, por um tempo a ser definido conforme o tipo de tratamento empregado. Novo ataque de 300 mg pode ser oferecido se o paciente realizar o cateterismo e for identificada necessidade de angioplastia de urgência. Alguns pacientes, em frequência bastante variável na literatura, podem apresentar resposta reduzida ao clopidogrel, mas até o momento não existe um teste simples e confiável que possa ser incorporado à prática clínica para identificar esses indivíduos. O fármaco deve ser interrompido cinco dias antes de procedimentos cirúrgicos de grande porte, como cirurgia de revascularização miocárdica. TICAGRELOR O ticagrelor apresenta a vantagem de ter meia-vida mais curta, o que pode ser útil em casos de sangramento, e de ser mais potente que o clopidogrel. Foi testado principalmente no estudo PLATO e tem como efeitos colaterais mais importantes: maior chance de pausas ventriculares, especialmente na fase aguda da SCA, e dispneia sem associação com disfunção ventricular. Sua dose de ataque é de 180 mg, seguido de 90 mg a cada 12 horas. Seu uso em concomitância com fibrinólise química não foi adequadamente testado. PRASUGREL O prasugrel, em face à metodologia desenvolvida no estudo TRITON-TIMI 38, tem indicação muito particular a pacientes com anatomia coronariana conhecida, que serão submetidos imediatamente à reperfusão coronariana percutânea. Deve ser administrado na dose de 60 mg de ataque e 10 mg de manutenção. Não deve ser usado em pacientes idosos ou com passado de acidente vascular encefálico (AVE), e a dose deve ser corrigida em pacientes de baixo peso (< 60 kg). Seu uso em pacientes submetidos à trombólise química não é aconselhável por não ter sido testado nessa condição. TRATAMENTO ANTICOAGULANTE HEPARINA NÃO FRACIONADA A heparina não fracionada (HNF) age ativando a antitrombina circulante, uma enzima proteolítica que inativa os fatores IIa (trombina), IXa e Xa. Sua ação principal é a de evitar a propagação do trombo, porém, não é capaz de dissolver trombos pré-formados. Para garantir a efetividade da HNF, é fundamental a monitorar periodicamente o tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) e ajustar a dose de acordo com a relação dos tempos. A administração de HNF deve iniciar-se com bolo de 60 U/kg/hora (máximo de 4.000 UI) seguido de 12 U/kg/hora (máximo 1.000 U/hora), titulada para alcançar a relação de TTPa entre 1,5 e 2,5 (ou 50 a 70 segundos). O TTPa deve ser monitorado a cada 6 horas após o início da infusão. Deve-se manter a heparinização por pelo menos dois dias, ou até MÓD II: DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA 20 o momento da revascularização (percutânea ou cirúrgica). Sulfato de protamina, na dose de 1 mg para cada 100 U de HNF, é o antídoto específico. Durante o tratamento com HNF, a contagem de plaquetas deve ser monitorada. Plaquetopenia discreta pode ocorrer precocemente em 10 a 20% dos pacientes. Apenas 1 a 2% dos pacientes apresenta quadros graves, geralmente em 4 a 14 dias após o início do tratamento. FONDAPARINUX O fondaparinux é um inibidor direto do fator Xa. Sua dose em IAMcsST, quando a opção for por trombólise, é de 2,5 mg, EV, seguida da mesma dose, SC, ao dia durante a hospitalização – a dose terapêutica é a mesma dose profilática de trombose venosa profunda. Em SCAssST não é necessária a administração EV. Aparenta ser uma droga seguraquanto à redução de sangramentos maiores. No entanto, apresenta risco de trombose de cateter quando realizada intervenção percutânea e, por isso, deve receber reforço com HNF (50 a 60 U/kg, em bolo) antes desse procedimento. Não deve ser usado na angioplastia primária. TERAPIA DE REPERFUSÃO (EXCLUSIVO PARA IAMCSST) Quanto mais precocemente for restaurado o fluxo sanguíneo coronariano no IAMcsST, menor será o grau de disfunção ventricular e instabilidade elétrica, minimizando o desenvolvimento de IC e o risco de morte. O limite de 12 horas após o início dos sintomas é clássico e bastante conhecido para indicação de reperfusão. Esse limite, porém, deve ser usado com cautela, já que por vezes o paciente pode apresentar ciclos repetidos de reperfusão espontânea e reoclusão, manifestados clinicamente como dor precordial reentrante, além de ser possível indicação de reperfusão (especialmente mecânica) em pacientes com sintomas mantidos entre 12 e 24 horas após o início de sintomas. Ainda existem controvérsias quanto à escolha da melhor estratégia de reperfusão nos pacientes com IAMcsST, o que reflete os avanços contínuos das terapêuticas. Para pacientes que apresentam tempo de sintomas menor do que três horas, e não havendo atraso para qualquer das estratégias, não existe evidência de superioridade em mortalidade de estratégia específica; porém, a estratégia invasiva mostra-se superior à farmacológica em apresentações mais tardias, provavelmente por conta da menor eficácia da fibrinólise em trombos coronarianos mais maduros.
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