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Brenda Alves | Passei Direto DIREITO DAS SUCESSÕES – Colação HISTÓRICO Na Roma antiga, os filhos que permaneciam sob o pátrio poder trabalhavam juntamente com o restante da família para aumentar o patrimônio familiar, gerido pelo pater familiae. Os filhos que eram emancipados, por outro lado, desvinculavam-se do pater familiae, indo construir o próprio patrimônio, muitas vezes a partir de doações do pater familiae. Num primeiro momento, o patrimônio da família não era partilhado entre os descendentes do pater familiae falecido. Um dos filhos era escolhido o novo pater familiae e o patrimônio permanecia intacto e vinculado a toda a família. Essa regra era aplicada independentemente de os filhos serem ou não emancipados. Posteriormente, estabeleceu-se a divisão da herança apenas entre os descendentes não emancipados. Os descendentes emancipados, por não mais fazerem parte da família, não eram beneficiados pela sucessão. Com a evolução do direito romano, a sucessão passou a beneficiar todos os filhos, emancipados ou não. A divisão da herança, em partes iguais, entre os filhos emancipados e não emancipados era injusta, pois os emancipados, muitas vezes, haviam recebido parte do patrimônio do pai em vida, sob a forma de doação. Para evitar a divisão da herança de maneira desigual entre filhos emancipados e não emancipados, criou-se a regra de que os emancipados deveriam trazer o patrimônio particular, construído a partir da doação do pai, para o acervo hereditário. A divisão entre os irmãos se daria, portanto, para todo o patrimônio do pai e dos descendentes, ainda que fosse um patrimônio particular destes últimos. Posteriormente, estabeleceu-se que o patrimônio que o irmão emancipado deveria devolver ao acervo era apenas aquele que foi objeto da doação. O patrimônio que ele formara por esforço próprio estaria liberado da obrigação de restituição. Quando as mulheres casadas passaram a ter direito na herança do pai, elas tiveram restituir o dote concedido em seu casamento. Estava configurado o instituto jurídico da colação. Brenda Alves | Passei Direto DEFINIÇÃO É o instituto por meio do qual herdeiros “devolvem” ao acervo hereditário os bens que receberam em vida, sob a forma de doação do falecido, para fins de igualar a participação deles na legítima. A colação, em regra, não trará o bem doado de volta para o espólio. Ela é, apenas, um procedimento de ajuste contábil. Chama-se colação o ato pelo qual o descendente, cônjuge ou companheiro beneficiado pela transferência gratuita feita pelo de cujus, em vida, promove o retorno da coisa, ou de seu valor, excepcionalmente, ao monte partível, para garantir a igualdade de quinhões entre herdeiros necessários (Farias e Rosenvald). SUJEITOS Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação. O art. 2.002 fala apenas em descendentes, sendo incompatível com o art. 544, que traz a indicação de descendentes e cônjuge. Apesar disso, está consolidada a interpretação de que a colação obriga os descendentes e o cônjuge/companheiro, mas apenas quando este concorre com descendentes (bens particulares). O termo descendente abrange liberalidades em prol daqueles que participem da herança por direito próprio ou por direito de representação. Por exemplo, se o neto que recebeu a doação não for herdeiro, nem por direito próprio nem por direito de representação, ele não se obriga à colação. FINALIDADE Art. 2.003. A colação tem por fim igualar, na proporção estabelecida neste Código, as legítimas dos descendentes e do cônjuge sobrevivente, obrigando também os donatários que, ao tempo do falecimento do doador, já não possuírem os bens doados. Mesmo que o donatário tenha se desfeito do bem, o seu valor será considerado para cálculo da legítima e repartição entre os demais herdeiros. Brenda Alves | Passei Direto CÁLCULO EXEMPLO 1: Pai doou R$ 150.000,00 a um filho. Quando morreu deixou mais R$ 600.000,00 e três filhos como herdeiros. A título de colação, o valor de R$ 150.000,00 terá que ser “devolvido” para fins contábeis. Patrimônio Total = R$ 600.000 + R$ 150.000 = R$ 750.000, que dividido por 3 = R$ 250.000 Cada filho tem direito a R$ 250.000,00. Mas o filho que já recebeu R$ 150.000,00 só vai receber a diferença de R$ 100.000,00. CÁLCULO DA LEGÍTIMA Como a colação tem por finalidade igualar os valores da legítima, o Código Civil estabeleceu a seguinte regra: Art. 2.002 [...] Parágrafo único. Para cálculo da legítima, o valor dos bens conferidos será computado na parte indisponível, sem aumentar a disponível. Regra geral, o valor da legítima é de 50% do patrimônio deixado pelo falecido. Quando houver necessidade de colação, deve-se acrescer aos 50% do patrimônio deixado pelo falecido o valor da liberalidade realizada em vida. EXEMPLO 2: Pai doou R$ 150.000,00 a um filho. Quando morreu deixou mais R$ 600.000,00 e três filhos como herdeiros. Há necessidadde de colação. Valor da legítima = R$ 300.000 + R$ 150.000 = R$ 450.000,00 Valor da parte disponível = R$ 300.000,00 DISPENSA DA COLAÇÃO Art. 2.005. São dispensadas da colação as doações que o doador determinar saiam da parte disponível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da doação. Brenda Alves | Passei Direto Art. 2.006. A dispensa da colação pode ser outorgada pelo doador em testamento, ou no próprio título de liberalidade. CÁLCULO COM DISPENSA EXEMPLO 3: Pai doou R$ 150.000,00 a um filho, dispensando-o da colação. Quando morreu deixou mais R$ 600.000,00 e três filhos como herdeiros. A doação deve sair da parte disponível, no limite de 50%. Não há necessidade de colação. Patrimônio Total = R$ 750.000,00. Legítima = Disponível = R$ 375.000,00. Como o valor deixado para o filho (R$ 150.000,00) é menor que o valor da parte disponível (R$ 375.000,00), não há excesso a devolver. O valor de R$ 600.000,00 será dividido em partes iguais entre os três filhos. O filho que recebeu a doação continuará com o valor de R$ 150.000,00. CÁLCULO COM DISPENSA E DOAÇÃO MAIOR QUE VALOR DISPONÍVEL EXEMPLO 4: Pai doou R$ 150.000,00 a um filho, dispensando-o da colação. Quando morreu deixou mais R$ 60.000,00 e três filhos como herdeiros. Patrimônio Total = R$ 210.000,00. Parte disponível = Legítima = R$ 105.000,00. Como a doação ultrapassa em R$ 45.000,00 o valor da parte disponível, a doação é parcialmente inoficiosa. Legítima = R$ 105.000,00 a ser dividido entre os três irmãos (cada um ficaria com R$ 35.000,00). Disponivel = R$ 105.000 apenas de um irmão. O irmão que já recebeu R$ 150.000,00 só poderá ficar com R$ 140.000,00 = R$ 35.000,00 (legítima) + R$ 105.000,00 (disponível). Ou seja, ele terá que pagar R$ 10.000,00 aos outros dois irmãos. CÁLCULO SEM DISPENSA E SEM POSSIBILIDADE DE IGUALAR AS LEGÍTIMAS EXEMPLO 5: Pai doou R$ 150.000,00 a um filho. Quando morreu deixou mais R$ 60.000,00 e três filhos como herdeiros. Não houve dispensa de colação. Patrimônio Total = R$ 210.000,00. Cada filho tem direito a R$ 70.000,00. Brenda Alves | Passei Direto O valor de R$ 60.000,00 será dividido entre os 2 irmãos não beneficiados na doação. Cada um ficará com R$ 30.000,00. O irmão que já recebeu R$ 150.000,00 terá que devolver R$ 80.000,00 aos outros dois. PARTILHA EM VIDA Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários. A partilha em vida, prevista no art. 2.018 do CC, não induz à necessidade de colaçãocaso os bens tenham sido partilhadas de forma desigual entre os descendentes, mas desde que não prejudique a legítima. É preciso concordância expressa de todos os herdeiros, que precisam ser capazes. Se foi omitido algum herdeiro necessário, a partilha em vida é nula. Se sobrevêm herdeiro necessário, a partilha em vida é ineficaz.
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