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Unidade 1 Generalidades do direito internacional contemporâneo do século XXI Louise Amorim Beja Direito Internacional e Comércio Exterior Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor JOANA ÁUREA CORDEIRO BARBOSA Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS LOUISE AMORIM BEJA Olá. Meu nome é Louise Amorim Beja. Sou formada em Direito com uma experiência técnico-profissional na área de direito internacional, operações de paz e ações humanitárias, como também em educação não formal pela União Europeia, já há um ano. Atualmente estou fazendo mestrado em Direito Internacional Público e Europeu pela Universidade de Coimbra – Portugal, e sou pesquisadora pela Universidade de Salamanca - Espanha, duas das mais antigas e melhores universidade do Mundo. Sou também diretora de eventos da BRASA - Coimbra, que é uma associação de estudantes brasileiros espalhada por todo o mundo, empenhados em engajar jovens brasileiros a serem grandes líderes. Sou sócia ativa da Secção de Defesa dos Direitos Humanos da Associação Académica de Coimbra. Associada a organização não governamental AKTO Direitos Humanos e Democracia. Faço parte da equipe de professores conteudistas da Modular Acadêmico, produzindo muito conteúdo de qualidade para universidades, e sou CEO da ANEDD - Agência Nacional de Estudos sobre Direito ao Desenvolvimento - Brasil, como também estou engajada em outros projetos que visam a defesa dos Direitos Humanos. Sou uma entusiasta da vida e apaixonada pela pesquisa e o conhecimento, quero poder contribuir cada dia mais para um mundo melhor. Penso que a educação é um dos caminhos para isto. Sendo assim, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar e contribuir com você nesta fase de muito estudo e trabalho. Contem comigo! AS AUTORAS Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: ICONOGRÁFICOS INTRODUÇÃO: para o início do desen- volvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Compreendendo o direito no contexto da globalização econômica, sua importância e evolução histórica 10 A globalização no contexto de um direito internacional em metamorfose 10 As duas correntes do Direito Internacional: Público e Privado 15 Acessando de forma eficiente as fontes do direito internacional costumeiro 17 As fontes do Direito Internacional: características e princípios 18 Identificando os sujeitos e atores do direito internacional 24 A ONU – Organização das Nações Unidas 24 Organizações Universais em todo o mundo 26 Organizações com base na Europa 27 Aplicando o sistema Internacional de direitos humanos 31 Os Direitos Humanos no Direito Internacional 31 Direito Internacional e Comércio Exterior 7 UNIDADE 01 Direito Internacional e Comércio Exterior8 Você sabia que a área no estudo das ciências sociais aplicadas, está diretamente conectada ao direito como bloco de relações sociais historicamente? Pois é, o estudo do Direito Internacional acaba voltando as atenções todas para as relações sociais, só que em um nível maior, para além das fronteiras limitantes de um estado ou em uma determinada sociedade. Esse prisma da ciência está ligado diretamente as necessidades da sociedade e das pessoas que dela fazem parte, sejam estados, indivíduos, organizações ou outros sujeitos que interagem e acabam por influenciar mudanças na comunidade, transmutando-a. O domínio do Direito Internacional Contemporâneo não fica limitado ao conhecimento das suas instituições e seus conceitos, ele vai além, pois requerer um olhar mais atento, na observância de reconhecer e identificar todas as circunstâncias nas quais estão incluídas as condições da sociedade em questão. Devido a esses motivos, começaremos essa unidade convidando você a imergir conosco, nas noções de globalização econômica procurando discorrer sobre as mudanças que ocorreram e ocorrem na sociedade contemporânea, com a possibilidade de obter todos os conhecimentos exigidos em um direito internacional que se encontra em constante movimento, e como consequência uma comunidade internacional também em contínua mutação. INTRODUÇÃO Direito Internacional e Comércio Exterior 9 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade I - Generalidades do direito internacional contemporâneo do século XXI. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das competências profissionais a seguir, até o término desta etapa de estudos, com isso atingiremos os seguintes objetivos de aprendizagem: 1. Compreender o direito no contexto da globalização econômica, sua importância e evolução histórica; 2. Saber acessar de forma eficiente as fontes do direito interna- cional costumeiro; 3. Identificar os sujeitos e atores do direito internacional; 4. Aplicar o sistema Internacional de direitos humanos. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhe- cimento? Mãos à obra! Tenho certeza que você se apaixonará pelas infinitas possibilidades que o Direito Internacional trás, e um dia quem sabe poderá com isso contribuir para um mundo melhor e uma sociedade mais justa, não é mesmo? OBJETIVOS Direito Internacional e Comércio Exterior10 Compreendendo o direito no contexto da globalização econômica, sua importância e evolução histórica. INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como o mundo vem se transformando drasticamente nos últimos anos. Essa percepção é fundamental para compreender as mudanças positivas e negativas ao seu redor, e o impacto que isso tem na sua vida. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão, e para a construção do seu caráter, pois iremos observar a vida humana em seus múltiplos aspectos, seja ela no seu contexto social, econômico, moral, político, científico, etc. E aí? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A globalização no contexto de um direito internacional em metamorfose. O século XX em sua segunda metade, foi relevante devido ao seu alto crescimento da indústria, essa grande característica deu por surgimento de um mercado integrado, globalizado pelas big corporations, assim como permitiu que a tecnologia e ciência avançaram de modo nunca antes visto. De uma outra perspectiva essa segunda metade do século XX trouxe também um agravamento na escassez de recursos naturais não renováveis e um dano severo ao meio ambiente (SOUZA, 2017). A forma como a economia foi se desenvolvendo no âmbito global já vem de outros tempos. O que isso quer dizer? Bem, quando o mercado se expande para além dos limites transfronteiriços de um Estado, é possível enxergarmos os elementos que permitiram a mutação de uma economia mercantilista para uma economia de um capitalismomercantil, que acaba por se tornar um sistema auto regulável e global. Direito Internacional e Comércio Exterior 11 Ainda no aparato histórico, é importante ressaltar que a partir do século XVII e entre meados do século XVIII, as comercializações internacionais tiveram um crescimento de sete vezes mais que nos outros séculos, o que ocasionou uma expansão do mercado e teve como resultado uma quantidade elevada de capital que saía do monopólio do Estado e acabava por acumular no campo do setor privado. Esse acúmulo inicial oriundo essa época, foi uma das primeiras condições do sistema capitalista de produção, o que impulsionado pelo avanço da tecnologia e da ciência, gerou o termo conhecido como “globalização da economia”, ou “economia neoliberal”, ou também como “economia de mercado global”. Partindo como marco os séculos XX e XXI, podemos dizer que a globalização econômica é algo recente, quando comparado a economia em relação ao elevado número de fluxos internacionais de bens existentes, que nos quais, acabaram por mudar qualitativamente a origem da integração econômica (que na qual passou a ter uma base no mercado). É importante ressaltar que o mercado é composto por ações de agentes da economia, como por exemplo os investidores, os consumidores, as empresas, etc. Estes acabam por mover-se de maneira muito eficiente e veloz para além dos Estados, o que ocasiona que eles quem vão determinar o fluxo dos bens e serviços nas fronteiras nacionais, sendo dentro ou fora. Acaba que por isso, o mercado global fica marcado devido a sua extensão na integração de uma economia baseada no mercado que engloba todas as fronteiras locais, regionais e nacionais, com o dever de fornecer à sociedade todos os meios possíveis para o alcance do desenvolvimento e da prosperidade. Vejamos nas figuras a seguir exemplos clássicos que englobam esse desenvolvimento global: SAIBA MAIS: Os bancos surgiram para ultrapassar as dificuldades econômicas advindas do processo expansionista do capitalismo mercantil. Direito Internacional e Comércio Exterior12 Figura 1 – Exemplo de ação terrorista Fonte: freepik “O terrorismo, que resultou em uma série de ataques terroristas espalhados pelo mundo, sendo um grande impacto para toda a sociedade” (SOUZA, 2017, p.11). Figura 2 – Crise humanitária Fonte: freepik “A crise humanitária que hoje reúne mais de um milhão e duzentos refugiados em todo o mundo assim como também as crises em tempos de pandemia, como a do COVID-19” (SOUZA, 2017, p. 11). Direito Internacional e Comércio Exterior 13 “O aprofundamento das desigualdades. Tendo como partida, uma sociedade cada vez mais capitalista, é nítido ver o quanto as desiguales se aprofundaram” (SOUZA, 2017, p.10). Figura 3 – Mudanças climáticas no mundo Fonte: freepik “As mudanças climáticas, que tem como fruto um grande impacto na economia mundial, gerando desordem e instabilidade” (SOUZA, 2017, p.10). Tendo em vista todas mudanças no cenário mundial advindos desses processos de globalização elencados nas figuras acima, mais especificamente no que consiste a crescente separação das empresas Direito Internacional e Comércio Exterior14 transnacionais, isto jamais poderia ter sido efetivado, sem o devido crescimento tecnológico que permitiu a internacionalização da produção dos bens e dos serviços. Tal fluxo, não poderia ser contido, em virtude da enorme massa econômica que consolidava estas empresas. Diante da relevância da política contida nas empresas transnacionais que consequentemente crescem, tendo a autonomia dos estados diminuído, na oportunidade em que estes acabam por se submeter a estratégias que resultam na produção de riquezas e progresso da tecnologia. De acordo com SERNACLENS (2002, p.87) acerca da matéria que vimos até o presente momento é importante ressaltar que: O progresso científico e tecnológico em curso, associados a ̀ expansão planetária da economia de mercado, ao aumento continuo do comércio de bens e serviços, a ̀ de- pendência crescente das economias nacionais a vista de seu comércio, as mudanças nos modos de produção, no papel crescente dos serviços, dos fluxos de capital e das empresas transnacionais na economia capitalista, a ̀ conexão sempre mais forte das sociedades nacionais e a ̀ porosidade das fronteiras estatais, são algumas das manifestações das mudanças econômicas e sociais, cuja intensidade, rapidez e talvez novidade constituam bem uma das marcas distintivas da mundialização. Com os frutos advindos da economia de mercado global, podemos ver que as interconexões do mesmo produzem uma redução ao que tange o poder do estado em controlar as atividades produzidas em todo o contexto territorial, e para além disso, expandir as forças e as interações transnacionais que diminuem e limitam a influência e o peso que os governos acabam por ter nessas circunstâncias acerca da atividade dos seus cidadãos. Esse desenvolvimento acaba por resultar em uma importante conjunção de múltiplos fatores, pois transformou a imagem social e política do mundo, realocou o poder do estado que era central, para a economia, e partiu da área pública para a área privada, por isso essa mutação da estrutura teve como resultado um impacto elementar e ideal para o desenvolvimento, com ideais de progresso e prosperidade Direito Internacional e Comércio Exterior 15 como já antes mencionados, mas agora centralizado nos ideais da pessoa humana, e nas condições pertinentes a matérias da existência e do reconhecimento da cidadania. Essa globalização econômica que tanto falamos, e que é tão importante para o atual cenário mundial, também teve por consequências relevantes as relações privadas. O que significa isso? Significa a expansão do espaço privado, resultando novos bens, assim como novos serviços e produtos disponibilizados em uma aldeia global de produção e repartição. A evolução dos meios de transporte e o advento do acesso à internet, acarretou em um leque de infinitas possibilidades para as relações jurídicas que vinham surgindo com esse desenvolvimento global, estabelecendo entre as pessoas físicas e as jurídicas uma relação bem maior, e que ultrapassa limites estatais que por diversas vezes fogem do controle e da regulação. Exemplo: Se você for acessar a internet, no site do Mercado Livre e acaba por comprar um uma garrafa de vinho ou um som de um fornecedor indicado pelo Mercado Livre, a relação estabelecida de compra e venda não é tão simples quanto aparenta. Nesse exemplo, podemos observar relações jurídicas que estão conectadas, por três distintas regiões: a do seu estado (de quem está comprando), a do estado no qual está o vendedor, e também o “estado” virtual, que no caso seria o espaço territorial do Mercado Livre. Tendo o exemplo acima com o conteúdo que vimos até o presente momento é notável observar que há aí um conflito de leis no espaço, no objeto do Direito Internacional Privado especificadamente, tendo isto como um fenômeno normal, devido ao desenvolvimento da globalização econômica, porém, em um mundo no qual os ordenamentos jurídicos ainda são variados, da mesma maneira os sistemas jurídicos estatais são diversos. A globalização acabou por abrir precedentes para inúmeras variáveis de relações jurídicas, nas quais ultrapassam as fronteiras estatais, embora ainda que os sistemas jurídicos sejam demasiados diversos. As duas correntes do Direito Internacional: Público e Privado Quando iniciamos o estudo no Direito Internacional, é possível ver nas doutrinas que não é pacífico o entendimento que o Direito Direito Internacional e Comércio Exterior16 Internacional público e privado sejam duas ciências com objetivos distintos. Mas afinal, o que isso quer dizer? Isso implica que sejam ramos diferentes do direito. Se observamos os países como o nosso, de hábitos de linguagem neolatinos, essa divisãopode se dar entre o público e privado, no que diz respeito ao Direito Internacional devido ao Direito Internacional Público ser específico das relações entre os estados e os outros sujeitos. Porém se observarmos as pragmáticas do Direito Internacional Privado é possível ver que as relações se dão através de sujeitos de direito privado com uma ligação internacional, assim como nas conexões existentes entre indivíduos e o estado. Nessas questões de Direito Internacional citadas acima, é importante esclarecer que se aplicam as questões de nacionalidade e as condições do migrante. O que realmente deve ser observado nessa bipartição é que o limite entre o Direito Internacional Público e privado estão cada vez mais flexíveis e fluidos acerca dos novos primas e desafios que o mundo moderno nos coloca, destacando também a importância de reconhecer o valor moral da dignidade humana acerca da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que acabou por finalmente universalizar os Direitos Humanos. Proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução 217 A (III), na cidade de Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi a faísca para dar origem a uma série de sistemas que visam proteger os Direitos Humanos como por exemplo a: ONU, o sistema Europeu, Africano e o Interamericano. Esse marco na globalização é algo tão elementar que todos os dias 10 de dezembro é celebrado o dia internacional dos Direitos Humanos, como uma maneira de relembrar tantas conquistas para a pessoa humana. Adiante, ao longo desse aprendizado adentraremos mais profun- damente na matéria dos Direitos Humanos e as garantias fundamentais, mas conceituar o seu peso nesse momento é extremamente importante para que possamos entender essas generalidades do Direito Internacional contemporâneo. Direito Internacional e Comércio Exterior 17 Acessando de forma eficiente as fontes do direito internacional costumeiro. RESUMINDO: Aprendemos até agora como as transformações que aconteceram nos últimos cinquenta anos de fato mudaram as relações na ótica internacional, repaginando a sociedade internacional. Nessa nova roupagem o Estado teve o seu poder diminuído, e isso configurou na indispensabilidade de cooperação, transfigurando o Direito Internacional em um direito que visa a cooperação. Porém, muito embora tenha sido enfraquecido, o Estado tem que compartilhar algumas de suas metas e enfoques, portanto o Estado segue soberano. INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de saber acessar de forma eficiente as fontes do direito internacional costumeiro. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! As mudanças ao redor do mundo repaginaram o Direito Internacional contemporâneo, que vale salientar é diferente do Direito Internacional tido como clássico. Na figura adiante veremos um pouco essa distinção. Figura 4 – Direito Internacional Fonte: Adaptada de Souza (2017) É importante observar que no Direito Internacional Contemporâneo em virtude das premissas do conceito de interdependência existentes em uma economia global em desenvolvimento, acaba por tem como Direito Internacional e Comércio Exterior18 característica principal um sentido cooperativo. Enquanto que na ótica do Direito Internacional clássico a característica mais robusta é que as garantias se dão através da coexistência. O que isso significa para nós? Que esse contexto do Direito tem como resultado legitimar as rivalidades e os conflitos de poder (SOUZA). As fontes do Direito Internacional: características e princípios. A forma como o Direito internacional interage e se apresenta para o mundo, mostra que este ramo da ciência necessita da maneira de como a sociedade vive, dado ao seu ordenamento jurídico e ao momento da história da mesma. Devido a isso é elementar que agora possamos compreender o Direito Internacional e os seus institutos pela ótica de como antes a ele a sociedade internacional se apresenta, as pessoas que fazem parte dela, para só assim, desta maneira maturar as fontes originárias desta linda ciência, que são as modalidades pelas quais o Direito Internacional se aplica. Para Celso Mello (2002), é importante que possamos entender que a sociedade internacional vem antes mesmo do Estado, e das necessidades do mesmo. Ou seja, faz referência ao período remoto da antiguidade, que tem como conjectura uma conexão entre as coletividades. Por tanto, nesse raciocínio quando estamos lendo um jornal ou uma matéria de revista que tem uma manchete noticiando polêmicas de emblemáticas internacionais nos faz refletir. REFLITA: Afinal, a que conclusão podemos chegar da sociedade internacional? Que tipo de sociedade é essa? Vejamos o exemplo abaixo para que possamos fazer o exercício de refletir acerca desses questionamentos. Exemplo: Ao ler o jornal você se depara com as seguintes notícias: • Saída dos EUA do TPP fere México, mas pode ser positivo para o Mercosul. Direito Internacional e Comércio Exterior 19 • “O Brasil perde importância no Fórum de Davos”: O país ficou de fora das principais discussões globais e teve seu papel reduzido até mesmo nos debates sobre os emergentes. • Coreia do Norte propõe diálogo, e EUA exige fim de provocações. Analisando o exemplo supracitado acima, pergunto a você, só existem Estados? E essa “sociedade” ela é composta de outras pessoas internacionais? Ao adentrarmos na modernidade é possível ver que a sociedade internacional acabou seguindo o modelo europeu de Estado. Baseado nos pensamentos filosóficos de Montesquieu, Hobbes e Rousseau, dentre outros. Isso implica em ter o Estado nacional como uma unidade primitiva. Contemporaneamente essa sociedade internacional que tanto falamos aqui, tem reconhecido variadas formas e características frente às mudanças da economia, ciência e política como vimos (SOUZA, 2017). Diante disso, é nítido que o Estado passa a ter outro papel, não mais como o agente essencial e atenuante no âmbito global, mas sim como aquele que vai partilhar o seu espaço com outros atores, sendo estes estatais ou não. Em outras palavras, o que podemos entender disso, é que o Estado agora passa a ser um mero nó na grande aldeia global. EXPLICANDO MELHOR: Segundo Castells (1997, p. 303) é válido destacar que: [...] Na desigualdade social e econômica que a moderni- dade mercantilista era provocada por uma economia como monopólio do espaço público, passamos na contemporaneidade a um monopólio da economia pelo espaço privado que vem aprofundando e alastrando as desigualdades, principalmente pelo enfraquecimento do poder do estado que agora integra um sistema de poder caracterizado pela pluralidade de fontes de autoridade, sendo o estado apenas um deles. Para Mello (2002) são consideradas forças econômicas aquelas que tem por interesses: • A cultura; • A religião; • E a política. Direito Internacional e Comércio Exterior20 Esses pilares acabam por influenciar o funcionamento da sociedade por múltiplas maneiras, assumindo assim um papel ao longo dos séculos essencial. Não obstante, é válido observar que a cultura tem uma enorme força, e isso se apresenta de uma maneira na qual é possível realizar acordo culturais entre os estados, e isso resulta também de certa forma, na criação de organismos internacionais de desenvolvimento cultural como por exemplo a UNESCO. Na ótica da religião, essa poderosa força motriz (como por exemplo o islamismo, o catolicismo, protestantismo, budismo, etc) esteve desde sempre se fazendo presente na vida social, porém observando as últimas décadas vemos que novamente essa poderosa força vem massivamente contribuindo para um novo padrão da sociedade internacional. REFLITA: Mas afinal quais seriam as características do Direito Internacional? Vamos lá! As características do direito Internacional são bem parecidascom as dos demais ramos do direito. Só que quando tratamos do Direito Internacional, como já vimos anteriormente, estamos tratando de um conjunto jurídico que vem com poderes de sanção e obrigatoriedade. Existe uma divergência doutrinaria nessa matéria do Direito, uns acabam por criticar a ciência do Direito Internacional, por simplesmente considerarem como um conjunto de normas não obrigatórias (não rígidas – soft law) e sem efeitos. Mas na verdade não é bem assim, o Direito Internacional de fato é fluído, e bem mais complexo do que as outras áreas do Direito. Ele tem suas normas de obrigatoriedade as hards laws, e tem as de não obrigatoriedade as soft laws, que vai digamos da “consciência” de cada Estado admitir ou não, recepcionar ou não determinadas decisões tomadas em conjunto pela comunidade internacional. O que é válido dizer, é que a obrigações normativas do Direito Internacional tem em sua maioria interesses de múltiplos lados, e isso impacta a vida de milhões de pessoa, às vezes até bilhões ao redor do mundo. Obviamente, que há um conflito com a inefetividade de algumas legislações em sua grande maioria, do que quando tratamos do direito interno. Direito Internacional e Comércio Exterior 21 E como bem vimos ao longo desse estudo, os procedimentos de internacionalização da economia, de cultura e da política, acabou por transformar o Direito Internacional de maneira muito eficiente, elevando ainda mais o seu poder em sancionar nos casos de possíveis violações. É possível ver que a construção de uma rigidez nesse sentido nos seguintes exemplos: • Direito Humanitário; • E Direito Internacional Econômico. O primeiro exemplo, já teve por justificar a ingerência militar frente a vários Estados, que foram acusados de violar, tendo governantes presos, como é o caso de Congo, Ruanda, Iraque, etc. VOCÊ SABIA? Nas questões de conflito da antiga ex-Iuguslávia, o Estado se dissolveu, tendo as regiões em conflito se difundido, e a partir disso novos Estados foram nascendo? Pois é, até a própria constituição da Bósnia-Herzegóvina foi uma proposição da sociedade internacional. Já no segundo exemplo acima citado, quando observamos o Direito Internacional Econômico sobre o prisma da OMC – Organização Mundial de comércio, percebemos como ela exerce uma força política capaz de impor mudanças nas normas dentro de um Estado ou até mesmo em seu corpo legislativo (ex: a constituição pode ser alterada em virtude dessas necessidades), autorizando de fato severas retaliações econômicas caso o Estado descumpra algum acordo. Agora quero saber de você, mas afinal, qual ramo do direito interno você tem conhecimento que tem o poder de sancionar a deposição de um governo? Ou a mudança de uma constituição? Ou até mesmo a dissolução de um Estado? Pois é, depois de tudo que estudamos até agora, fica fácil responder. Nenhum. Isso só é mais um motivo para que a crítica do Direito Internacional não ter efetividade, seja, portanto, infundada. Então vamos a partir de agora, elencar algumas das particula- ridades mais fundamentais dessa importante matéria, são elas: Direito Internacional e Comércio Exterior22 • Ausência de atos jurídicos de forma unilaterais de obrigação, cabíveis a toda sociedade internacional. • A ausência de uma subordinação hierárquica, como de sujeitos de direito a um Estado. • E a ausência de uma constituinte que seja superior das demais legislações ou normas. EXPLICANDO MELHOR: Sobre essas particularidades é importante destacar que não há um poder soberano maior ou acima dos Estados, o que isso quer dizer? Que nenhum Estado é maior ou está acima dos demais. Tem então as Organizações Internacionais o mesmo peso dos Estados, e por isso acaba tendo competências de maiores restrições na atuação de áreas mais específicas. Até mesmo a ONU – Organização das Nações Unidas, ou a OMC – Organização Mundial de Comércio (como sendo Organizações Internacionais de nível Universal), ou até mesmo as integrações regionais como é o caso da União Europeia (tendo competências mais limitadas). Portanto o Direito Internacional entra em outro patamar e evolui através de um processo por meio da cooperação interestatal, em grande maioria de assuntos e, em outros temas específicos, pela direção de alguma das Organizações Internacionais ou de um Estado que tenha mais peso sobre o assunto em questão. Visto isso, elencaremos agora os princípios gerais mais relevantes que norteiam o Direito Internacional. Esses princípios fornecem lógica e organicidade ao ordenamento jurídico, são eles: • A igualdade de soberanias; • A cooperação (jurídico) internacional; • O respeito aos fundamentos dos Direitos Humanos; • A interdição na utilização do recurso de uso da força na solução pacífica de controvérsias; • E a autonomia, no que consiste a não ingerência em temas internos dos demais Estados. Direito Internacional e Comércio Exterior 23 Vejamos de uma forma mais profunda o que consiste em alguns desses princípios acima citados: Quadro 1 - Princípios norteadores do Direito Internacional. A igualdade de soberania pressupõe que todos os Estados têm os mesmos direitos. Ou seja, perante as leis, eles são iguais. A cooperação internacional quer dizer que os Estados têm que agir com o dever em conjunto, em outras palavras, eles têm que colaborar para achar um objetivo em comum. Respeitar os fundamentos dos Direitos Humanos se traduz em um dever no qual absolutamente TODOS os Estados tem que procurar proteger. Nos dias atuais isso é tido como um valor comum de todos os sistemas existentes de direito. O princípio da Interdição do recuso à força e da solução pacífica de controvérsias, que estão conectados, consistem que o sujeito de direito internacional tem que procurar a resolução de conflitos, através de instrumentos que visem a paz a segurança mundial. No princípio da autonomia o Estado pode governar livremente de acordo com os seus interesses, porém isso está diretamente ligado ao princípio da não ingerência em assuntos internos de demais Estados. Portanto, o Estado é livre para governar, desde que ele não atrapalhe ou interfira no governo de outros Estados. Fonte: Adaptado de Varella (2012) Viu só como o Direito internacional contemporâneo é importante? Ele é o norteador de todo o sistema jurídico internacional. E desempenha um papel muito importante para manutenção da segurança e paz mundial. Portanto, fica evidente que o direito contemporâneo passa por todo um processo de transição, que segue a globalização, não sendo possível a existência de uma norma fundamental internacional, está se equipara, logo a constituições que existem em cada Estado. É válido lembrar que o Direito Internacional é norteado por milhares de tratados, e cada um deles têm distintos graus de normatividade, por isso a conformidade de atribuição é dada pelos Estados. Ao analisar esses tratados internacionais vemos que alguns têm caráter mais obrigatório, Direito Internacional e Comércio Exterior24 impositivo, sendo considerado ius cogens, outros já não têm tanto vinculo obrigacional, considerados soft norms, porém não há uma norma comum, que guie o crescimento do Direito Internacional em todas as suas esferas. O Direito Internacional evoluiu em suas generalidades pelo aceite dos Estados. Eles concordam se submeter a regras gerais que são determinadas a eles, com a finalidade de bater as suas metas, e os seus interesses comuns em relação a todos os demais membros que estão incorporados na sociedade internacional. Identificando os sujeitos e atores do direito internacional. INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar os sujeitos e atores do Direito Internacional, o seu papel, e consequentemente o seu desempenho na sociedade mundializada (como chamam os autores franceses o processo de globalização) que vivemos. E então? Motivado para desenvolveresta competência? Então vamos lá. Avante! Mas então, você sabe quem são os sujeitos do Direito Internacional? São os sujeitos do Direito Internacional os Estados e as Organizações Internacionais que tanto falamos agora há pouco. E quem seriam esses Estados? TODOS os países do nosso globo terrestre que temos conhecimento. E as Organizações? Abaixo iremos elencar algumas das principais Organizações Internacionais existentes para que você possa visualizar melhor essa dinâmica do sistema internacional. Vamos dividir em três partes, porque parece fácil, mas é algo complexo, então será bem melhor fixar o conteúdo desta forma. A ONU – Organização das Nações Unidas: O sistema onusiano funciona a partir de várias divisões, tendo a seguinte organização: • Organização Internacional do Trabalho – OIT (Localizada em Genebra); http://www.ilo.org/global/lang--en/index.htm Direito Internacional e Comércio Exterior 25 • Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO (Localizada em Roma); • Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – a UNESCO (Localizada em Paris); • O Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF (Localizado em Paris); • A Organização Mundial da Saúde – OMS (Localizada em Genebra); • O Tribunal Internacional de Justiça - TIJ (Localizado em Haia); • A Organização Marítima Internacional – OMI (Localizada em Londres). Figura 5 - O sistema da Organização das Nações Unidas para manutenção da paz e segurança mudial. Fonte: pixabay Com o pós II guerra Mundial, foi crucial a criação de um sistema que visasse proteger a paz e a segurança mundial, foi assim que surgiu o sistema Onusiano, que visa garantir a efetivação de muitos direitos fundamentais não só a pessoa humana, mas o exercício deles em sociedade. SAIBA MAIS: Quer beber diretamente da fonte do sistema onusiano? Acesse aqui o link da ONU Brasil, e descubra o que eles andam aprontando no nosso Estado. Disponível em: https:// nacoesunidas.org/ (Acesso em 15 de maio de 2020). http://www.fao.org/home/en/ http://www.fao.org/home/en/ https://en.unesco.org/ https://en.unesco.org/ https://www.unicef.org/ http://www.who.int/en/ http://www.icj-cij.org/en http://www.imo.org/en/Pages/Default.aspx Direito Internacional e Comércio Exterior26 Organizações Universais em todo o mundo: • O Banco Mundial (localizado em Washington); • O Fundo Monetário Internacional – FMI; • O Departamento de Estado dos EUA (Localizado em Washington); • A Organização dos Estados Americanos – OEA (Localizada em Washington); • A União Africana – UA (Localizada em Adis Abeba); • O Banco Africano de Desenvolvimento (Localizado em Abidjan) • A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral - SADC (Localizada em Gaborone); • A Cooperação Económica Ásia-Pacífico – APEC (Localizada em Singapura); • O Mercosul (Localizado em Montevideu). Figura 6 - O mundo e seu vasto universo das Organizações Universais Fonte: pixabay Essas outras organizações ao redor do mundo recorrem à interpretação de conferência, e tem um importante valor, que acaba por ser evidenciado em um dos princípios que é o de cooperação jurídico internacional. Mais uma vez fica evidente o quanto esse sistema tem eficácia e de fato funciona quando aplicado. Por fim, não podemos deixar de elencar algumas organizações específicas com sede na Europa, que são sujeitos e também atores muito importantes do Direito Internacional. Indo além da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu e do Tribunal de Justiça, as demais http://www.worldbank.org/ http://www.imf.org/external/index.htm https://www.state.gov/ http://www.oas.org/en/ https://au.int/ https://www.afdb.org/en/ http://www.sadc.int/ https://www.apec.org/ http://www.mercosur.int/ Direito Internacional e Comércio Exterior 27 organizações com sede na Europa têm vários intérpretes (organizações incorporadas no sistema da ONU baseadas no sistema jurídico do continente Europeu). O regime normativo e de expressão linguística tem variações de organização para organização. Vejamos: Organizações com base na Europa: • O Conselho da Europa – CE (Localizado em Estrasburgo); • A Organização do Tratado do Atlântico Norte – NATO (Localizada em Bruxelas); • A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico – OCDE (Localizada em Paris); • A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa – OSCE (Localizada em Viena); • O Instituto Europeu de Patentes – IEP (Localizado em Munique); • Eurocontrol (Localizado em Bruxelas); • Europol (Localizada em Haia); • A Organização Mundial do Comércio – OMC (Localizada em Genebra); • O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho - O Comité Internacional da Cruz Vermelha – CICV (Localizado em Genebra); • O Comité Olímpico Internacional – COI (Localizado em Lausana); • O Grupo dos Estados de África, das Caraíbas e do Pacífico – ACP (Localizado em Bruxelas). Figura 7 - O bloco integrativo da Europa. Fonte: pixabay https://www.coe.int/en/ https://www.nato.int/ http://www.oecd.org/about/ http://www.oecd.org/about/ https://www.osce.org/whatistheosce https://www.epo.org/service-support/contact-us/munich.html https://www.eurocontrol.int/articles/who-we-are https://www.europol.europa.eu/about-europol https://www.wto.org/ https://www.icrc.org/en https://www.icrc.org/en https://www.olympic.org/the-ioc http://acp.int/ Direito Internacional e Comércio Exterior28 É válido ressaltar que no continente Europeu temos um importante bloco integrativo, que é a União Europeia, e ela também faz parte do sistema do Direito Internacional, impactando diretamente a economia, cultura e sociedade do mundo. RESUMINDO: Os sujeitos de direito vão ser aqueles com a capacidade de ter e de dar direitos e obrigações. Por isso para o Direito Internacional, focando no Estado, é possível ver que apenas as Organizações Internacionais (aquelas referidas acima formadas pelos próprios Estados) e os Estados são capazes de fornecer essas garantias e obrigações. Porém há a possibilidade de atribuir alguns direitos a indivíduos, como é o caso da capacidade de postular que alguns tribunais internacionais têm, no intuito de garantir a defesa dos Direitos Humanos, ou mesmo a empresas, através de órgãos internacionais de solução de controvérsias acerca de investimentos, ou até mesmo as ONG’s – Organizações não Governamentais, em instâncias distintas. Nesse prisma, há uma divergência entre os doutrinadores. Uns argumentam que se trata de um direito no qual o Estado atribui, e por isso teriam novos titulares de direito. Outros defendem que o Estado tem o direito, ou seja, tal direito seria exercido na prática por terceiros e assim teria o Estado então o domínio único de titular. De toda maneira, pesa para o Direito Internacional Público um sentido restritivo, no qual somente identifica os Estados e as Organizações Internacionais como sujeitos de Direito Internacional. Por tanto, nesse caso, segundo Marcelo Varella (2013), é melhor não classificar os demais como sendo sujeitos, mas somente como atores internacionais. Diante de tudo que estamos aprendendo sobre o universo do Direito Internacional, alguns aspectos já ficam mais evites agora, por isso quero saber de você: • Afinal, quem são os atores internacionais? Se ainda não ficou claro para você, esse é o momento de entender melhor, pois os atores internacionais são todos aqueles que de alguma forma estão ligados, participando das relações políticas/jurídicas internacionais. Ainda está muito subjetivo? Vou te explicar melhor! Direito Internacional e Comércio Exterior 29 A expressão “atores internacionais” compreende as Organizações Internacionais e Estados também, porém agora temos um adicional das ONG’s – Organizações Não Governamentais, os indivíduos, as empresas, dentre outros. A expressão explicitada acima é, portanto, bem mais abrangentede quando falamos de “sujeitos internacionais”, e por isso ela acaba por ser mais conveniente em outras demandas e categorias. Figura 8 - Os atores da grande engrenagem que é O Direito Internacional Contemporâneo. Fonte: pixabay Os atores internacionais funcionam como uma grande engrenagem, tendo os demais (além de Estados e de Organizações Internacionais) poderes para concretizar atos mais especializados, como por exemplo a celebração de contratos entre grandes empresas, recorrer a determinados tribunais com o intuito de garantir a efetivação dos Direitos Humanos, entre outros. Essa conceituação traduz então que não somente os Estados poderão ter competências e capacidades internacionais, essas capacidades e competências aos demais atores apenas poderão ser exercidas com a finalidade de garantir os direitos que os próprios Estados concederam, e não de qualquer maneira. Direito Internacional e Comércio Exterior30 Entre os sujeitos que vimos, o Estado (e ele atua também como autor) é o único que tem capacitação jurídica, em outras palavras, tem plenos poderes de se munir de obrigações, direitos e outros. A concepção, mudança e o fim do Estado hoje, desde sempre, sofrem uma intervenção de elementos externos e internos (globais e regionais). Isso resulta de um processo histórico e muito dinâmico, como uma engrenagem. Figura 9 - A igualdade dos Direitos e Deveres dos Estados em todo o mundo. Fonte: pixabay A primeira vista, podemos concluir que os Estados são iguais entre si em direitos e obrigações, e isso independe das suas benfeitorias ou qualidades. Porém, numa ótica mais ampla e detalhada, a vida real nos mostra que apenas um número restrito de Estados com sistemas político-econômicos poderosos, acabam por ter maior autoridade, impacto e força na comunidade internacional. IMPORTANTE: Se você ainda não entendeu, agora ficará claro: O Estado é o principal sujeito do Direito Internacional Direito Internacional e Comércio Exterior 31 Aplicando o sistema Internacional de direitos humanos. INTRODUÇÃO: A partir de agora, veremos como os Direitos Humanos influenciam todo o ordenamento jurídico do Direito Internacional, e como ele trouxe benfeitorias para a sociedade a nível do indivíduo e suas garantias. O estudo dos Direitos Humanos na aplicação do sistema internacional tem duas vertentes, a do Direito Internacional Público, e a do Direito Internacional Privado, faremos um aprofundamento deste tema, baseado nos dois modelos, mostrando de forma abrangente como os direitos humanos são exercidos na vida real. E aí, animado (a)? Vamos juntos para mais um passo do nosso caminho rumo ao sucesso! Os Direitos Humanos no Direito Internacional A pessoa humana passou a ser reconhecida de maneira legal pela sociedade internacional após o advento da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi promulgada e adotada em 10 de dezembro de 1948, através da Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas. A partir deste marco os Direitos Humanos passou a ter um conjunto de regras que com a finalidade de certificar a proteção, o respeito e a concretização de direitos da pessoa humana. Esse longo processo, cresce, se desenvolve, e passa a ser um sistema jurídico complexo e de órgãos de monitoramento global e regional. Os Direitos Humanos vem com um sistema único que abarca regras peculiares de proteção dos direitos da pessoa humana, levando em consideração os conflitos armados, a regulação da proteção do refugiado, onde a de conflitos armados por exemplo, pode se dizer que seria do enfoque do direito humanitário, e a proteção do refugiado viria a ser o “Direito do Refugiado”. Direito Internacional e Comércio Exterior32 Figura 10 - O sistema único dos Direitos Humanos. Fonte: freepik Observe o seguinte artigo elencado na DUDH – Declaração Universal dos Direitos Humanos: Artigo 1: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade de direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” Esse é um dos principais pilares dos Direitos Humanos, mas porquê? Fica evidente que a dignidade tem de ser a base de todos os direitos humanos, por isso mesmo ela é citada no artigo antes de direitos. Todos os seres humanos têm direitos, e por isso devem ter a maior elevada proteção, sendo algo intrínseco no exercício da vida. É válido dizer que os Direitos Humanos de fato são direitos e também liberdades fundamentais que exercem impacto na: • Sobrevivência; • Liberdade; • Dignidade da pessoa. Todos esses direitos são devidamente legitimados pela comunidade mundial, e tem proteção de instrumentos jurídicos internacionais. Eles são tidos como inerentes aos seres humanos e que assim, toda mulher, todo homem e toda criança têm ao nascer, independentemente da jurisdição, do lugar em que habitam, ou da raça, tem essas garantias. Direito Internacional e Comércio Exterior 33 Figura 11 - As Diferenças entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. Fonte: Autora (2020). Os direitos humanos são diferentes dos Direitos elencados como fundamentais, eles têm a mesma natureza, porém os Direitos Humanos são postos pelos ordenamentos estatais, acabam por ser definidos legalmente em tratados internacionais (e por meio de outros instrumentos, como por exemplo em atos de organizações internacionais). Além do mais, os Direitos Humanos são obrigatórios dos Estados (SOUZA, 2017). ACESSE: O texto integral do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: https://bit.ly/2N229u8. (Acesso 29 de maio de 2020) A Declaração Universal de Direitos Humanos – DUDH, determina toda a fundamentação do sistema internacional dos Direitos Humanos e acaba por se tornar o “paradigma da contemporaneidade”. Essa Declaração abarca como principais direitos os: • Direitos civis; • Direitos econômicos; • Direitos sociais; • Direitos políticos. Foi por meio desta carta que mais de duzentos instrumentos de cunho jurídico foram recepcionados em escala regional e universal. É importante elencarmos aqui alguns documentos essenciais firmados após a Declaração Universal, vejamos: • A nível global: O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1948); e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). Direito Internacional e Comércio Exterior34 • A nível regional: A Convenção Americana de Direitos Humanos (1969); a Organização dos Estados Americanos; e o Protocolo de San Salvador (1988). Esses documentos acima mencionados vieram a estabelecer direitos políticos e civis, assim como direitos culturais, sociais e econômicos. Cançado Trindade (2002) sustenta que a universalidade dos Direitos humanos, que tem como referência caracterizada nos preâmbulos dos instrumentos princípios iguais, o que isso não resulta em plena uniformidade, porém pelo respeito às particularidades e às divergências. O sistema de proteção dos Direitos Humanos é constituído por uma vasta rede de tratados, instituições e declarações, esse sistema se divide em dois, sendo o sistema global e o regional como vimos anteriormente. O sistema global consiste no sistema onusiano, e os sistemas regionais no interamericano, no europeu e o africano. IMPORTANTE: É notório frisar que se tratando de sistemas regionais a Ásia e a Oceania não têm um sistema próprio. O Direito Humanitário: Dentro do contexto do Direito Internacional Público, o Direito Humanitário vem por abarcar uma série de normas internacionais visando diminuir as consequências e impactos de conflitos armados. A base legislativa para este Direito, são as Convenções de Genebra e os demais protocolos adicionais oriundos dela. Mas afinal, qual é o objetivo principal do Direito humanitário? O DIH visa proteger mais especificamente aquelas pessoas que se encontram no meio de um conflito(e não participam dele), como por exemplo os profissionais da saúde e de ajuda humanitária e os civis, como também protegem aqueles que não mais participam do terreno hostil, como soldados feridos, pessoas doentes, prisioneiros de guerra e naufragados. Para Hugo Grococius, esse viés do Direito Internacional se objetiva na ideologia de “guerra justa” e tem dois focos, o de restringir as formas e maneiras de combate, e garantir a proteção de pessoas que não participam ou que já deixaram de participar de determinado conflito. Direito Internacional e Comércio Exterior 35 Nesse sentido de proteção, o Direito Humanitário exige que as partes em conflito exerçam providências no cumprimento de precauções para em qualquer ataque ter o mínimo possível de pessoas mortas ou feridas (civis) tem efeito a proibição de: a. Tomada de reféns; b. Tratamento e recolha de doentes e feridos; c. Tratamentos humilhantes/degradantes que ofendam a dignidade da pessoa humana; d. Tratamentos cruéis como tortura e suplícios, mutilações ou qualquer forma que ofenda a integridade física, mais especificamente homicídios em todas as suas maneiras; e. A execução de condenações proferidas sem julgamento prévio (devendo ser realizadas por uma corte regularmente constituída de garantias fundamentais, e possa oferecer os meios jurídicos). Figura 12 - Os refugiados são um problema do Direito Humanitário? Fonte: wikimedia commons Uma das figuras mais em alta do Direito Humanitário hoje em dia, são os refugiados, que já ultrapassa milhões de pessoas à mercê de ajuda humanitária. Um dos maiores desafios para o Direito Humanitário é defender esses valores de proteção, o que não se deve à falta de Direito Internacional e Comércio Exterior36 legislação, porque tratados temos mais de centenas, mas sim a falta de cumprimento por parte dos Estados em desrespeitar acordos e regras ius cogen. REFLITA: Você sabia que o Direito Humanitário enfrenta uma série de desafios a serem resolvidos pela comunidade internacional? São dos mais diversos, vejamos: Terrorismo; Pandemias (como exemplo o COVID-19); Detenções; A condução de hostilidades; Ocupações; Sanções. Ao adentramos nessa temática é fundamental falarmos do Direito do Refugiado e do Asilado. Esses instrumentos advindos desse direito em questão, tem ampla proteção no que diz respeito a indivíduos que sofrem perseguição e por esse motivo tem recebido um tratamento uniforme do Direito Internacional, embora em alguns casos são regulados por tratados mais especializados. A previsão legal do refugiado se encontra prevista no Estatuto do Refugiado de 1951, dando uma série de garantias e a participação de iniciativas privadas. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR, organismo da ONU para essas questões, reconhece que preservar o asilo vai além, e requer a capacidade de encontrar as pessoas que têm necessidade de serem protegidas, em meio a tantos fluxos migratórios que estão acontecendo. No Brasil temos a Lei 9474/97, que vem nesse sentido, e é intitulada como “Estatuto do Refugiado”, esta lei regula a situação de refugiados que vão para o país. Ainda sobre o Direito Humanitário é válido dizer que temos outros importantes órgãos que ao aprofundarmos o Direito Internacional Público teremos a oportunidade de ver todos eles, mas nesse sentido friso um em especial, que é a Cruz Vermelha, sendo uma organização independente, esta desenvolve trabalhos ao redor de todo o mundo, Direito Internacional e Comércio Exterior 37 com a finalidade de levar assistência humanitária às pessoas afetadas por conflitos, ou mesmo pela violência em virtude de armamentos. A Cruz Vermelha promove também a garantia de normas que protegem as vítimas das guerras. RESUMINDO: É notória a importância dos Direitos Humanos na incorporação do Direito Internacional na sociedade, e como já vimos antes, é de fato uma grande engrenagem, que precisa da atuação de vários sujeitos e atores trabalhando em conjunto, vivendo de fato o espírito da cooperação jurídico internacional. De certo vemos o quanto a teoria dos princípios que regem os Direitos Humanos é linda, porém a prática vai mais além, e em muitos lugares ela não acontece, cabe a cada um de nós ter a consciência, fazer a sua parte e tentar de alguma maneira contribuir na construção de mundo melhor. Direito Internacional e Comércio Exterior38 BIBLIOGRAFIA ACCIOLY, H. do Nascimento Silva, G. E. CASELA. P. B. Manual de Direito Internacional Público. Saraiva. 2009. ALMEIDA, Francisco António de Macedo. Direito Internacional Público. Coimbra: Coimbra Editora, 2003. CANÇADO, A. A. Trindade. 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As fontes do Direito Internacional: características e princípios. Identificando os sujeitos e atores do direito internacional. A ONU – Organização das Nações Unidas: Organizações Universais em todo o mundo: Organizações com base na Europa: Aplicando o sistema Internacional de direitos humanos. Os Direitos Humanos no Direito Internacional
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