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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AGRÍCOLA ELIVÂNIA MARIA SOUSA NASCIMENTO DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DO PROTÓTIPO DE SEMEADORA- ADUBADORA NO SISTEMA DE CAMALHÃO FORTALEZA 2019 ELIVÂNIA MARIA SOUSA NASCIMENTO DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DO PROTÓTIPO DE SEMEADORA- ADUBADORA NO SISTEMA DE CAMALHÃO Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Agrícola, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará como requisito para obtenção do título de Doutor em Engenharia Agrícola. Área de concentração: Engenharia de Sistemas Agrícolas. Orientador: Prof. Dr. Carlos Alessandro Chioderoli. Coorientador: Prof. Dr. Daniel Albiero. FORTALEZA 2019 ELIVÂNIA MARIA SOUSA NASCIMENTO DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DO PROTÓTIPO DE SEMEADORA- ADUBADORA NO SISTEMA DE CAMALHÃO Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Agrícola, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará como requisito para obtenção do título de Doutor em Engenharia Agrícola. Área de concentração: Engenharia de Sistemas Agrícolas. Aprovada em: _______ de _________________de 2019. BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Prof. Dr. Carlos Alessandro Chioderoli (Orientador) Universidade Federal do Ceará _______________________________________ Prof. Dr. Daniel Albiero (Coorientador) Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) ______________________________________ Carlos Alberto Viliotti Universidade Federal do Ceará (UFC) ______________________________________ Danilo Roberto Loureiro Universidade Federal do Ceará (UFC) ______________________________________ Cristiano Zerbato Universidade Estadual Paulista (UNESP) _____________________________________ Rouverson Pereira da Silva Universidade Estadual Paulista (UNESP) Ao meu esposo, Washington Nascimento e minha filha Bruna Alícia Nascimento. AGRADECIMENTOS A Deus por ser muito bondoso comigo. A Universidade Federal do Ceará (UFC) e ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola (PPGEA) pela oportunidade de realizar o curso de Doutorado. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de estudo, permitindo assim, dedicação integral à pesquisa de doutorado. A Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (ADECE) em parceria com a Fundação de Amparo a Pesquisa (ASTEF) pelo apoio financeiro. Ao Prof. Dr. Carlos Alessandro Chioderoli, meu orientador, pela confiança, amizade, orientação e apoio na realização deste trabalho. Aos Prof. Dr. Rodrigo Gregório da Silva e Roberto Nunes Maia do Instituto Federal de Educação, Ensino, Básico e Tecnológico (IFCE), Campus de Limoeiro do Norte por toda ajuda e disponibilidade de bolsistas e das dependências do IFCE para construção do protótipo. Aos Profs. da área de concentração em Engenharia de Sistemas Agrícolas (ESA) Drs. Leonardo de Almeida Monteiro, Daniel Albiero e Danilo Roberto Loureiro pelos conhecimentos transmitido nas aulas. Aos Profs. Drs. Carlos Alberto Viliotti, Cristiano Zerbato e Rouverson Pereira da Silva pela disponibilidade de participação da banca. Aos amigos do Núcleo Integrado de Mecanização e Projetos Agrícolas (NIMPA) Roberto Maia, Jean Oliveira, Marcelo Queiroz, Evanaldo Lopes, Natália de Oliveira, Paulo Santos, Valberto Feitosa, Vagner Monteiro e Neisvaldo. Aos amigos do Laboratório de Investigação em Máquinas e Acidentes Agrícolas (LIMA) Cássia Peres, Márcio Porfírio, Wilson Sousa, Luiz Gonzaga, Walisson Silveira, Mara Alice Santos, Diniz Vieira, Isabela Lima, Karla Araújo e Leonardo Brito. Ao LIMPA, grupo sólido, pelos momentos de convivência e cumplicidade. Aos operadores de máquinas De Leon Santiago, Sandoval Rodrigues, aos secretários da Graduação Regiane Lima, Lucas Queiroz, Maurício Rodrigues e da Pós- Graduação Manoel Jacó pela atenção e colaboração quando solicitados. Enfim, a todos que contribuíram diretamente e/ou indiretamente para a conclusão deste trabalho, meu muito obrigado. "O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.” RESUMO A necessidade do desenvolvimento de máquinas especificas que atendam ao pequeno produtor tem sido a forma de melhorar o nível tecnológico da mecanização em pequenas áreas, principalmente, no semiárido nordestino, onde a maioria desses produtores ainda utiliza o uso da tração animal para realização das operações agrícolas. Nesse enfoque, objetivou-se com este trabalho desenvolver e avaliar o protótipo de semeadora-adubadora no sistema de camalhão. A metodologia do projeto para o desenvolvimento do protótipo foi constituída de quatro fases: projeto informacional, conceitual, preliminar e detalhado. Para analisar as necessidades do desenvolvimento do novo produto foi utilizado como base o grau tecnológico dos agricultores de base familiar. Após a construção do protótipo, o mesmo foi ensaiado em campo para avaliar a qualidade do processo de formação do camalhão e qualidade do processo de semeadura por meio da estatística descritiva e controle estatístico do processo, com a finalidade de verificar as conformidades técnicas e propor melhorias que venha a atender as necessidades do pequeno produtor. A distribuição longitudinal de sementes para espaçamentos normais estiveram acima de 70% em todos os tratamentos. O processo para a qualidade do espaçamento entre sementes e profundidade de sementes manteve-se estáveis, desta forma, pode-se considerar que apenas causas naturais atuaram no decorrer do processo. O protótipo obteve resultado satisfatório no que se refere à distribuição longitudinal de sementes, porém é necessário realizar melhorias, para que o mesmo atinja a profundidade desejada para a formação do camalhão e abertura do sulco. A utilização da ferramenta FMEA foi eficiente para a identificação de indicadores críticos de qualidade e as respectivas causas. Palavras-chave: Agricultura familiar. Projetos de máquinas. Semeadura. ABSTRACT The need to create specific machines that serve the small producer has been the way to improve the technological level of mechanization in small areas, mainly in the Brazil, where most of these producers still use the use of animal traction for agricultural operations. In this approach, the objective of this work was to develop and evaluate a prototype of a planter in ridge system. The project methodology for the development of the project consisted of four phases: informational, conceptual, preliminary and detailed design. To analyze the development needs of the product new was used as the basis the technological level family farm in the northeastern semiarid region. After the construction of the planter prototype, it was field tested to evaluate the process of formation of the ridge and seeding process, by means of the statistical control of the process, in order to verify the technical conformities and propose improvements that will meet the needs of the small producer. The study of quality through the statistic descriptive and process statistical control was stable, but the process capability was decentralized, requiring adjustments to suit the quality standards. The longitudinal distribution of seeds for normal spacing is above 70% in all parameters. The process for the quality of seed spacingand seed depth kept stable can thus be considered as only natural causes that occur in the process. The prototype used as a satisfactory result does not refer to the longitudinal distribution of seeds, but it is necessary to make improvements so that it reaches the depth necessary for the formation of the ridges and the opening of the furrow. The use of the FMEA method was efficient to identify critical quality indicators and how to cause it. Keywords: Farming agricultural. Machinery project. Seeding. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Sulcador para micro camalhões..................................................................... 26 Figura 2 Sulcador semeador adubador......................................................................... 26 Figura 3 Dispositivo sulcador....................................................................................... 27 Figura 4 Implemento agrícola para conformação de camalhão.................................... 27 Figura 5 Implemento para preparo múltiplos de canteiros........................................... 28 Figura 6 Implemento agrícola para construção de sulco.............................................. 28 Figura 7 Plantadora adubadora camalhoeira................................................................. 29 Figura 8 Semeadora adubadora camalhoeira................................................................ 39 Figura 9 Ciclo de vida do produto................................................................................. 42 Figura 10 Classificação dos requisitos de projeto........................................................... 43 Figura 11 Diagrama de Mudge....................................................................................... 44 Figura 12 Matriz da casa de qualidade........................................................................... 44 Figura 13 Curvas características de operação................................................................ 47 Figura 14 Croqui da área experimental.......................................................................... 47 Figura 15 Área do canal ................................................................................................ 49 Figura 16 Identificação das necessidades dos clientes ao longo do ciclo de vida........ 51 Figura 17 Lista de verificação dos requisitos gerais do projeto..................................... 53 Figura 18 Diagrama de Mudge empregado na valoração............................................... 54 Figura 19 Matriz casa da qualidade................................................................................ 55 Figura 20 Esquema montado para verificação do escopo do problema........................ 56 Figura 21 Matriz morfológica da semeadora-adubadora para o sistema de camalhão.. 57 Figura 22 Abridores de sulco.......................................................................................... 58 Figura 23 Linhas de semeadura com regulagem de profundidade............................... 59 Figura 24 Escala de tensão em 100% do limite do material.......................................... 60 Figura 25 Escala de tensão em 50% do limite do material............................................ 60 Figura 26 Escala de tensão em 20% do limite do material............................................ 60 Figura 27 Escala de tensão em 0,5% (A) e 0,1% do limite do material (B).................. 61 Figura 28 Construção e montagem do protótipo............................................................ 63 Figura 29 Construção e montagem dos discos abridores............................................... 64 Figura 30 Construção e montagem do amorteceor......................................................... 65 Figura 31 Sistema de distribuição de adubo e semente................................................ 65 Figura 32 Sistema de transmissão................................................................................ 66 Figura 33 Protótipo finalizado....................................................................................... 66 Figura 34 Momento da avaliação do protótipo.............................................................. 67 Figura 35 Carta de controle da média móvel exponencial ponderada para o espaçamento entre sementes nos tratamentos avaliados. (A) Semeadura no sulco, velocidade de 3,05 km h -1 , (B) Semeadura no sulco, velocidade de 4,24 km h -1 , (C) Semeadura no camalhão, velocidade de 3,05 km h -1 e (D) Semeadura no camalhão, velocidade de 4,24 km h -1 ............................. 70 Figura 36 Carta de controle da média móvel exponencial ponderada para a profundidade de semente nos tratamentos avaliados: (A) Semeadura no sulco, velocidade de 3,05 km h -1 , (B) Semeadura no sulco, velocidade de 4,24 km h -1 , (C) Semeadura no camalhão, velocidade de 3,05 km h -1 e (D) Semeadura no camalhão, velocidade de 4,24 km h -1 ............................. 72 Figura 37 Carta de controle de média móvel exponencial ponderada para a profundidade de adubo nos tratamentos avaliados: S1V1 - Semeadura no sulco, velocidade de 3,05 km h -1 , S1V2 - Semeadura no sulco, velocidade de 4,24 km h -1 , S2V1 - Semeadura no camalhão, velocidade de 3,05 km h -1 e S2V2 - Semeadura no camalhão, velocidade de 4,24 km h -1 .............. 74 Figura 38 Carta de valores individuais e amplitude móvel para a profundidade do sulco nos tratamentos avaliados: S1V1 – semeadura no sulco, velocidade de 3,05 km h -1 (A), S1V2 - Semeadura no sulco, velocidade de 4,24 km h -1 (B), S2V1 - Semeadura no camalhão, velocidade de 3,05 km h -1 (C) e 76 S2V2 - Semeadura no camalhão, velocidade de 4,24 km h -1 (D)................ Figura 39 Carta de valores individuais e amplitude móvel para altura do camalhão nos tratamentos avaliados: S1V1 – semeadura no sulco, velocidade de 3,05 km h -1 (A), S1V2 - Semeadura no sulco, velocidade de 4,24 km h -1 (B), S2V1 - Semeadura no camalhão, velocidade de 3,05 km h -1 (C) e S2V2 - Semeadura no camalhão, velocidade de 4,24 km h -1 (D)............... 78 Figura 40 Carta de valores individuais e amplitude móvel para a área do sulco nos tratamentos avaliados: S1V1 – semeadura no sulco, velocidade de 3,05 km h -1 (A), S1V2 - Semeadura no sulco, velocidade de 4,24 km h -1 (B), S2V1 - Semeadura no camalhão, velocidade de 3,05 km h -1 (C) e S2V2 - Semeadura no camalhão, velocidade de 4,24 km h -1 (D)............................. 80 Figura 41 Indicadores críticos de qualidade do produto.............................................. 82 Figura 42 Discos abridores utilizados (A) e discos abridores propostos (B e C)........ 83 LISTAS DE TABELAS Tabela 1 Equipe de projeto........................................................................................... 41 Tabela 2 Metodologia recomendada por Kurachi et al. (1989)................................... 48 Tabela 3 Formulário FMEA......................................................................................... 49 Tabela 4 Hierarquização dos requisitos dos clientes ................................................. 54 Tabela 5 Especificação do projeto sem o critério do telhado...................................... 56 Tabela 6 Regulagem de semente e adubo.................................................................... 61 Tabela 7 Detalhamento dos materiais e serviços......................................................... 62 Tabela 8 Processos de fabricação e equipamentos utilizados..................................... 63 Tabela 9 Estatística descritiva para a distribuição longitudinal de sementes................ 68 Tabela 10 Estatísticadescritiva para o espaçamento entre sementes............................. 69 Tabela 11 Estatística descritiva para a profundidade de semente nos tratamentos avaliados........................................................................................................ 71 Tabela 12 Estatística descritiva para a profundidade de adubo nos tratamentos avaliados...................................................................................................... 73 Tabela 13 Estatística descritiva para a profundidade do sulco nos tratamentos avaliados........................................................................................................ 75 Tabela 14 Estatística descritiva para a altura do camalhão nos tratamentos avaliados... 77 Tabela 15 Estatistica descritiva para a área do sulco nos tratamentos avaliados......... 80 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15 2 OBJETIVOS ..................................................................................................... 16 3 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................ 17 3.1 Agricultura familiar no Brasil e no Nordeste................................................. 17 3.2 Semiárido Brasileiro......................................................................................... 19 3.3 Semeadoras-adubadoras.................................................................................. 21 3.4 Preparo do solo.................................................................................................. 22 3.5 Sistema de camalhão......................................................................................... 24 3.6 Máquinas agrícolas para formação de camalhão........................................... 25 3.7 Metodologias de Projeto de Máquinas Agrícolas.......................................... 30 3.8 Inovação tecnológica em máquinas agrícolas.................................................. 33 3.9 Desempenho operacional em máquinas agrícolas.......................................... 34 3.10 Pesquisas realizadas com semeadoras-adubadoras no sistema de camalhão........................................................................................................ 35 3.11 Controle Estatístico do Processo...................................................................... 37 3.12 Análise de modo e efeito de falha (FMEA)..................................................... 38 3.13 Elementos finitos de máquinas....................................................................... 39 4 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................. 41 4.1 Desenvolvimento do Projeto............................................................................. 41 4.1.1 Projeto informacional...................................................................................... 41 4.1.2 Projeto conceitual.............................................................................................. 45 4.1.3 Projeto preliminar............................................................................................. 45 4.1.4 Projeto detalhado.............................................................................................. 45 4.2 Avaliação do protótipo..................................................................................... 46 4.2.1 Planejamento estatístico.................................................................................... 46 4.2.2 Delineamento experimental e análise estatística.............................................. 47 4.2.3 Qualidade do processo de semeadura............................................................... 48 4.2.4 Qualidade do processo de formação do camalhão e abertura do sulco............ 48 4.3 Análise de Efeitos e Modos de Falha (FMEA) ............................................... 49 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES..................................................................... 51 5.1 Projeto informacional....................................................................................... 51 5.2 Projeto conceitual.............................................................................................. 56 5.3 Projeto preliminar............................................................................................. 58 5.4 Projeto detalhado.............................................................................................. 59 5.4.1 Tensão de Von Mises.......................................................................................... 59 5.4.2 Dimensionamento do sistema de transmissão................................................. 61 5.4.3 Construção do protótipo.................................................................................... 62 5.5 Avaliação do protótipo...................................................................................... 67 5.5.1 Qualidade do processo de semeadura............................................................. 67 5.5.1.1 Distribuição longitudinal de sementes............................................................... 67 5.5.1.2 Espaçamentos entre sementes............................................................................. 68 5.5.1.3 Profundidade de semente.................................................................................... 71 5.5.1.4 Profundidade de adubo....................................................................................... 73 5.5.2 Qualidade do processo de abertura do sulco e formação do camalhão........ 75 5.5.2.1 Profundidade do sulco......................................................................................... 75 5.5.2.2 Altura do camalhão............................................................................................. 77 5.5.2.3 Área do sulco....................................................................................................... 79 5.6 Análise de Efeito e Modo de Falhas - FMEA.................................................. 82 6 CONCLUSÃO............................................................. ...................................... 85 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 86 APÊNDICE A – ESPECIFICAÇÃO DO PROJETO COM O CRITÉRIO DO TELHADO........................................................................................ 99 APÊNDICE B - ANÁLISE DE EFEITOS E MODOS DE FALHAS (FMEA) DO PROTÓTIPO DA SEMEADORA-ADUBADORA.................. 100 APÊNDICE C - ESPECIFICAÇÃO DO CHASSI......................................... 102 APÊNDICE D - ESPECIFICAÇÃO DOS DISCOS ABRIDORES DE SULCO.............................................................................................................. 103 APÊNDICE E - ESPECIFICAÇÃO DOS REGULADORES DE LINHA... 104 APÊNDICE F - ESPECIFICAÇÃO GERAL DO PROTÓTIPO................. 105 ANEXO A – CRITÉRIOS DE SEVERIDADE, OCORRÊNCIA E DETECÇÃO.............................................................................................. 106 15 1 INTRODUÇÃO A agricultura praticada pela maioria dos pequenos agricultores da região semiárida nordestina tem como característica marcante baixo nível tecnológico, onde ainda predominam-se as práticas agrícolas tradicionais de preparo de solo. No semiárido, o preparo do solo é fator determinante para que o agricultor tenha bons resultados com o plantio de grãos, uma vez que, esse plantio é realizado no período das chuvas. No que se refere ao uso de máquinas agrícolas no semiárido sabe-se que os equipamentos tradicionais como trator, grade, arado, subsoladores e semeadoras são os mais utilizados durante as operações agrícolas. A semeadura pode ser realizadano plano, no sulco, em camalhões ou em covas, sendo que, a implantação das sementes está associada ao tipo de cultura, as condições de umidade. Diversos fatores podem contribuir para uma semeadura inadequada, a condição do solo no momento da semeadura, velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora e fatores ligados a máquina. Quando se trata de máquinas para construção do camalhão, citam- se profundidade do sulco, altura do camalhão e a área do sulco. A formação de camalhões pode ter objetivos diferentes dependendo da região ou local. Em regiões com escassez hídricas, como o semiárido, sua construção pode ser efetuada para captação de água e conservação do solo. Já em solos com problemas de drenagem e áreas de várzeas para escoamento da água e aeração do solo. Neste enfoque, devido à necessidade do desenvolvimento tecnológico de novas soluções em máquinas agrícolas para o semiárido, a inovação tecnológica é a principal linha a ser custeada. Considerando as especificidades da região é necessário o esforço para construir ou adaptar as máquinas adequando a utilização dos equipamentos atualmente em uso, nas pequenas propriedades em busca de explorar a máxima eficiência dos solos. Como existem poucos estudos voltados para a mecanização agrícola no semiárido é necessário à inclusão de tecnologias inovadoras que contribua com a elevação da qualidade do trabalho agrícola desenvolvidas pelo pequeno produtor. A necessidade de criação e/ou adaptação de máquinas específicas que atendam as necessidades dessa categoria tem sido a forma de contribuir para o aumento da produtividade das principais culturas, Dessa forma, pensando na problemática vivenciada pela agricultura familiar e nas condições climáticas do semiárido, verificou-se a importância que o protótipo de semeadora- adubadora no sistema de camalhão possui, em virtude da demanda de trabalho exigida pelas semeadoras manuais no plantio das principais culturas. 16 2 OBJETIVOS O objetivo geral foi o desenvolvimento, construção e avaliação do protótipo de semeadora-adubadora no sistema de camalhão de modo a atender as necessidades da agricultura familiar. Como objetivos específicos, tem-se: Elaborar o projeto informacional, conceitual, preliminar e detalhado do protótipo da semeadora-adubadora; Avaliar o processo de semeadura e de abertura de sulco e formação do camalhão por meio do controle estatístico do processo (CEP); e, Avaliar por meio da Análise de Modo e Efeito de Falhas (FMEA) do protótipo desenvolvido. 17 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Agricultura familiar no Brasil e no Nordeste A Agricultura Familiar é a unidade produtiva onde o trabalho é totalmente executado por membros da família, proprietária da terra e dos recursos para o trabalho, cuja renda seja, no mínimo, 80% oriunda da atividade agropecuária (MDA, 2010). Do ponto de vista legal (Lei n. 11.326 de 2006), agricultor familiar é aquele que pratica atividades no meio rural e que cumpre os seguintes quesitos: I - não deter área maior do que quatro módulos fiscais; II - utilizar predominantemente mão de obra da própria família nas atividades do seu estabelecimento ou empreendimento; III - a renda familiar ser predominantemente originada de atividades vinculadas ao próprio estabelecimento e IV - o estabelecimento ser dirigido pelo agricultor (a) com sua família (art.3). No Brasil, os estabelecimentos rurais com área menor que 10 hectares constituem 50,3% (1,8 milhões de unidades) dos estabelecimentos e ocupam 2,4% da área total (6,3 milhões de hectares) (IBGE, 2006). Entre os principais produtos produzidos nesses estabelecimentos, destaca-se o milho, cultivado em praticamente todas as propriedades, seguido pelo feijão, presente em grande número de estabelecimentos. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), relatam que a agricultura familiar tem como base: a gerência do trabalho no estabelecimento é do produtor direto, a maior parte do trabalho é realizada pela própria família, ocorrendo à contratação de trabalhadores apenas temporariamente e, a principal fonte de renda, cerca de 80%, deve ser originada da agricultura. Na região Nordeste, a agricultura familiar abrange quase metade dos estabelecimentos rurais no Brasil, correspondendo a 88,3% dos agricultores da região, os quais ocupam uma área de 43,5% da área total explorada pela agropecuária. Além disso, esses estabelecimentos detêm 82,9% da ocupação de mão de obra no campo e respondem por 43% do valor bruto da produção agropecuária nordestina (IBGE, 2010). É a região que apresenta a menor área média por estabelecimento na agricultura familiar (<de 20 ha). A agricultura praticada na região nordestina é muito diversificada seja com relação às culturas plantadas, seja com relação ao grau tecnológico empregado na produção 18 agrícola (IPEA, 2015). O milho e o feijão são culturas bem adaptadas às regiões tropicais e subtropicais com alta disponibilidade de água, nutrientes e radiação solar, onde produzem grande quantidade de biomassa (SOUZA et al., 2011), no entanto, no nordeste brasileiro essas culturas são cultivadas, principalmente, na época chuvosa. Diversas pesquisas e levantamentos têm sido realizados para identificar as características e necessidades dos agricultores de base familiar no Brasil e no Nordeste (CAVALCANTI; RESENDE, 2001; TEIXEIRA et al., 2009; MORAIS et al., 2009; ETENE, 2010; MDA, 2010; IPEA, 2015; VASCONCELOS; SILVA; MELO, 2013; GUANZIROLI; DI SABBATO; VIDAL, 2014). O que tem sido observado é que as características tecnológicas e associativas são muito distintas entre os agricultores familiares, com uma acentuada diferença entre os tipos e as regiões do país. As regiões Norte e Nordeste são as mais desfavorecidas em todos os aspectos de tecnologia e associativismo (CORCETTI; LORETO, 2017). Do ponto de vista tecnológico, no nordeste brasileiro é altíssimo o percentual de famílias que utilizam em seus estabelecimentos o uso de tração manual, isto é, foice e enxada. Este percentual, que era de 61,2% em 1996, caiu para 43,8% em 2006, mas ainda está longe do percentual nacional e muito aquém do que seria de esperar de uma agricultura mais desenvolvida e moderna (GUANZIROLI; BUAINAIN; DI SABBATO, 2012). Albiero et al. (2019) avaliaram o nível tecnológico dos agricultores cearenses e observaram que 77,5% utilizam máquinas simples, 12,5% utilizam máquinas simples no preparo do solo, 10% utilizam máquinas simples para semeadura e utilizam máquinas simples para o cultivo. Apenas 20% dos agricultores familiares do Nordeste usam trator como fonte de potência, na maioria dos casos, recorrem a aluguel da máquina para realização de determinadas operações agrícolas ou a cooperativas existentes na região para atendê-los (IBGE, 2006). Além do trator, outros implementos são utilizados, entre eles, tem-se o uso de arados, grades e cultivadores para o preparo do solo, e o uso de semeadoras manuais, conhecidas como matracas para a semeadura do milho e feijão, suas principais culturas (IBGE, 2006; SIMÕES; SCHMITZ, 2000). A baixa utilização de semeadoras mecânicas e o uso elevado de semeadora manual podem está associado a falta deste tipo de equipamento adaptado às pequenas propriedades e ao elevado valor das semeadoras de tração mecânica, contribuindo para elevação nos custos de produção (STEFANELLO, 2013; VASCONCELOS, 2013; MELO, 2013). No semiárido nordestino o plantio é predominantemente convencional, em muitas 19 regiões, esse plantio está associado à formação de camalhão para captação de água da chuva ou sistema de irrigação. A agricultura familiar por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar(PRONAF) tem ampliado a mecanização no campo, por meio da compra de equipamentos destinados a agricultura familiar, no entanto, há uma carência de máquinas de baixa potência apropriados às condições desses agricultores (MACHADO; REIS; MACHADO, 2010). Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), o setor em questão registrou, apenas no último ano, um aumento em torno de 45% nas vendas de tratores, da linha destinada à agricultura familiar com tratores de 15 cv até 75cv. Já os implementos disponíveis para ser utilizados por esses tratores provêm de fabricantes de pequeno porte, o que gera insegurança sobre vários aspectos. O emprego de máquinas agrícolas inadequadas pode trazer prejuízos nos campos técnico, econômico e ambiental (BALSAN, 2006). Dentre os principais problemas destacam- se os relacionados aos custos, operação, manutenção, eficiência, durabilidade, além de compactação e erosão do solo e contaminação química do solo e da água (MACHADO; REIS; MACHADO, 2010). Para Albiero (2010), se a agricultura familiar tivesse acesso a um sistema mecanizado em que as operações fossem realizadas de forma adequada e com eficiência seria possível realizar o maior aproveitamento da terra, consequentemente, ocorreria o aumento da produção. No entanto, a agricultura familiar necessita de apoio na apropriação de tecnologia e informações, o que pode ser alcançado com investigação de suas principais necessidades e desenvolvimento de projetos de máquinas voltados para atendê-las (STEFANELLO, 2013). 3.2 Semiárido Brasileiro As regiões semiáridas do globo terrestre se caracterizam pelo déficit hídrico e por um elevado saldo positivo da energia solar, contribuído para altas taxas evaporativas dos corpos hídricos e superfícies úmidas (ANDRADE, 2017). O semiárido brasileiro abrange o norte do Estado de Minas Gerais, os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí (SANTOS; SANTOS; SANTOS, 2014). O semiárido brasileiro possui sua capacidade produtiva limitada, devido as suas características e qualidades intrínsecas em relação aos fatores naturais. Segundo Brito et al. (2012), em regiões semiáridas, a água é o principal fator limitante para o consumo humano, 20 animal e produção de alimentos, entretanto, a irregularidade pluvial torna a agricultura uma atividade de alto risco. A maior parte da água oriunda da chuva não é aproveitada em todo o seu potencial, e se perdem pelo escoamento superficial e pela enxurrada, causando problemas para as terras cultiváveis, com a perda de nutrientes do solo, limitando a agricultura de sequeiro (CAVALCANTI; RESENDE, 2001). No que se refere ao uso de máquinas agrícolas no semiárido sabe-se que os equipamentos tradicionais como trator, grade, arado, subsoladores e semeadoras são utilizados sem levar em conta as características do solo (SANTOS, 2010). Segundo o MDA (2010) o uso do trator deve ser incentivado com cautela, já que muitas áreas do semiárido nordestino não são passíveis de mecanização, pois os solos rasos apresentam alto risco de erosão, devendo ser revolvido o mínimo possível. O Nordeste abrange 18,27% do território brasileiro, possuindo uma área de 1.561.177,8 km²; destes 962.857,3 km² estão inseridos no denominado Polígono das Secas, delimitado em 1936 e revisado em 1951, dos quais 841.260,9 km² abrangiam o semiárido nordestino (ARAÚJO, 2011). Na região semiárida nordestina, a produtividade agrícola, em grande parte de subsistência, é afetada por diversos fatores entre eles, a maneira rudimentar de cultivo associada à falta de tecnologia adequada e o aumento das áreas de cultivo para regiões sem aptidão agrícola (TEIXEIRA, 2016). O Ceará ocupa o quarto lugar no ranking dos estados brasileiros com o maior número de estabelecimentos familiares com atividades diversificadas, com 341.510 propriedades desse tipo, o que corresponde a 90% das unidades rurais do estado (IBGE, 2006). Segundo o MDA (2010), as principais culturas cultivadas pelos agricultores familiares cearenses são o feijão, o milho grão, arroz de casca, mandioca e criação de suínos, respectivamente, 91, 89, 88, 82 e 81%. A agricultura praticada pela maioria dos pequenos agricultores dessa região apresenta baixo nível de adoção, onde as práticas agrícolas tradicionais são as predominantes nos sistemas de cultivos (MAIA; MIYAMOTO; SILVEIRA, 2016; CAVALCANTI; RESENDE, 2001). Os pequenos agricultores dessa região, embora, em alguns casos, tenham conhecimentos das praticas agrícolas inovadoras que foram desenvolvidas ou adaptadas para região, poucos utilizam as inovações tecnológicas que proporcionariam um aproveitamento mais racional dos recursos disponíveis em suas propriedades (SIMÕES; SCHITZ, 2000; PATERNIANI, 2001; BALSANI, 2001). 21 Em suma, diante das pesquisas encontradas, percebe-se a grande importância da adoção da tecnologia por meio da criação ou adaptação de máquinas e equipamentos nas atividades agrícolas do semiárido como forma de aumentar a produtividade nessa região. 3.3 Semeadoras-adubadoras O aumento da produtividade das culturas é uma meta buscada por produtores e pesquisadores (TOURINO et al., 2009). O processo de semeadura é uma das principais operações agrícolas mecanizadas no contexto de modernização da agricultura (PORTELA, 1999) pode ser realizado no plano, em sulco, em camalhões ou em covas, sendo que, a implantação das sementes está associada ao tipo de cultura, as condições de umidade e o combate à erosão (BALASTREIRE, 1990). Pela definição, semeadora é a máquina capaz de dosar e colocar no solo o órgão de propagação sexuada denominada semente (BALASTREIRE, 1990). Quando, além de dosar a semente, a máquina também é capaz de dosar e colocar no solo o fertilizante será denominado semeadora-adubadora (REIS; FORCELLINI, 2002). As principais funções desse equipamento são dosar as sementes, abrir o sulco de semeadura, depositar as sementes no fundo do sulco e cobri-las com uma camada de terra (REIS; MACHADO; BISOGNIN, 2007). De acordo Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1994), as máquinas que realizam a semeadura são classificadas como de precisão e de fluxo contínuo. As semeadoras de precisão distribuem as sementes no leito de semeadura, agrupadas uma a uma, em linhas e em intervalos regulares. Já as semeadoras de fluxo contínuo distribuem as sementes em linha de acordo com a recomendação em kg ha -1 . As semeadoras-adubadoras exercem papel fundamental na agricultura, com elas são criadas as condições para que a semeadura seja feita de maneira mais adequada, já que o sucesso da cultura está relacionado com sua correta implantação (SIQUEIRA et al., 2012). É importante para adequada deposição da semente ao solo de acordo com a profundidade requerida para cada espécie, uma correta regulagem, pois quando realizada de forma errada pode interferir diretamente no estande inicial da cultura resultando em redução de produtividade (SEKI; BENEZ; SILVA, 2012). A semeadora é considerada por muitos especialistas como um dos equipamentos mais importantes para agricultura, pois o sucesso do estabelecimento de uma cultura depende da mesma, já que se ocorrerem falhas durante o processo de semeadura a produção final das culturas serem á prejudicada (SILVEIRA, 2001). Mantovani, Cruz e Oliveira (2015) 22 avaliaram o desempenho de uma semeadora-adubadora para o estabelecimento da cultura do milho com alta densidade de semeadura e observaram que a velocidade de 9 km h--1 aumentou a porcentagem de duplos e falhas, independentemente do espaçamento e do tipo de dosador. O processo de semeadura busca a adequada distribuição longitudinal das sementes no solo, aliada à correta profundidade de deposição das mesmas para se obter estande correto e uniforme (ALMEIDA et al., 2010). É uma das etapasque exigem perfeição em sua execução, pois pode comprometer a rentabilidade da atividade agrícola (ROS et al., 2011). Para Melo et al. (2013) existem poucos estudos nos solos cearenses quanto à avaliação da distribuição de sementes por semeadoras-adubadoras. Segundo Mercante et al. (2005), a correta dosagem de semente e fertilizante pela semeadora é uma importante etapa no processo de semeadura em qualquer cultura, enquanto o processo eficiente de dosagem de sementes consiste na sua distribuição uniforme, de acordo com os padrões recomendados para a cultura. Para Kurachi et al. (1989), Albiero et al. (2012) e Bertelli et al. (2016) quando trata-se da distribuição longitudinal de sementes é importante avaliar a eficiência das semeadoras existentes no mercado brasileiro por meio da porcentagem de espaçamentos aceitáveis e coeficiente de variação geral da produção de espaçamentos, já que a uniformidade de distribuição de sementes durante o processo de semeadura é de extrema importância para a obtenção de estande adequado de plantas, consequentemente, melhoria da produtividade das culturas. 3.4 Preparo do solo O preparo do solo é um processo mecânico no qual se procura alterar o estado físico, químico e biológico do solo, de forma a proporcionar melhores condições para o máximo desenvolvimento das culturas (FURLANI et al., 2013). Além de visar o rápido crescimento do sistema radicular, o sistema de preparo do solo facilita a absorção de água e de nutrientes, elimina plantas indesejáveis evitando a competição (GATTO et al., 2003). Os sistemas de preparo do solo devem propiciar boas condições físicas do solo, para que as plantas possam se desenvolver adequadamente (CORTEZ et al., 2011). Existem diversos sistemas de preparo do solo, os quais são enquadrados em categorias como: convencional, cultivo mínimo ou preparo conservacionista e a semeadura direta, em que o processo de preparo do solo é realizado somente no leito de semeadura (ASAE, 1996). 23 No sistema convencional, o preparo do solo consiste na mobilização dos resíduos superficiais, incorporando-os ao solo, provocando excessiva pulverização na camada superficial. O uso indiscriminado deste sistema de preparo de solo tem causado graves problemas (REICHERT et al., 2009), entre eles, o aumento da densidade do solo (SILVA et al., 2011). No caso do preparo de solo pelo sistema convencional, implementos comuns ao preparo do solo dos mais variados cultivos são necessários, tais como arado ou grade aradora, grade niveladora, sulcador ou encanteirador e possivelmente subsolador, devendo-se certamente considerar o uso de trator adequado aos implementos que serão utilizados, especialmente com relação à necessidade de potência exigida por estes. O preparo periódico é realizado, basicamente, com o uso de arado e grade, cujo arado efetua o corte, elevação e inversão da leiva, e a grade complementa esse trabalho, diminuindo o tamanho dos torrões na superfície e nivelando o terreno, sem rotação periódica com outros tipos de equipamentos, interferindo no meio ambiente e fatores socioeconômicos, tem levado muitos agricultores a procurarem alternativas sustentáveis e com menores impactos para o solo (SILVA et al., 2011). No semiárido o preparo do solo é fator determinante para que o agricultor tenha bons resultados com o plantio de grãos, uma vez que, esse plantio é realizado no período das chuvas, assim se o terreno não for arado ou gradeado, durante o período de chuvas podem ocorrer processos erosivos e perdas de solo e de água. Práticas tradicionais de preparo de solo, como a semeadura em covas, mostram-se pouco eficientes para conter a degradação física área (RIBEIRO NETO; BIROLO, 2013). O sistema conservacionista tem como princípio o mínimo ou o não revolvimento do solo, utilizam-se máquinas ou implementos que quebram superficialmente a estrutura do solo, sem revolvê-lo intensamente, procurando não destruir os agregados e deixando maior quantidade de resíduos na superfície da área (ORTIZ–CAÑAVATE; HERNANZ, 1989). O sistema de cultivo mínimo é fundamentado no uso de escarificadores e/ou subsoladores, o qual possibilita uma baixa movimentação do solo, permanência de 30% da superfície coberta por resíduos, aumento da infiltração de água no solo, não destrói os agregados e diminui os riscos de erosão (RIQUETTI, 2011). O sistema plantio direto é um manejo conservacionista de áreas agrícolas, ao qual veem reduzindo os impactos causados pela atividade agrícola, minimizando perdas de solo e conservando material vegetal na superfície (REIS et al., 2007). O acúmulo de material vegetal no solo é uma prática extremamente eficaz na conservação dos nutrientes, matéria orgânica e 24 água (OLIVEIRA et al., 2012), atribuído, principalmente, a grande quantidade de matéria orgânica, mínimo revolvimento do solo e rotação de cultura. 3.5 Sistema de camalhão O sistema de camalhão é uma técnica de preparo do solo muito antiga, mas que ainda é bastante utilizada. Em área com problema de drenagem facilita o escoamento da água favorecendo a aeração do solo, principalmente, quando o plantio da cultura é realizado em cima do camalhão. Em regiões com pouca chuva pode ser construído em curva de nível com o objetivo de proteger o solo e facilitar a infiltração da água aumentando sua disponibilidade, principalmente dentro do sulco (MARTINS; NOGUEIRA, 2015). O sistema de plantio no camalhão tem como objetivo proporcionar maior aeração para as raízes com a elevação da parte superior do solo e também melhorar a drenagem, fazendo com que a água seja escoada mais rapidamente, diminuindo o tempo de inundação sofrido pela cultura comparado com o sistema de plantio convencional (MILLAR, 1978). Na Europa é uma prática bastante difundida, principalmente, para o cultivo de pastagens (SEVENHUIJSEN, 1994). Este sistema adapta-se a áreas sistematizadas com ou sem declive, proporcionando garantia de boa drenagem para cultivos de sequeiro em área com problema de drenagem (SILVA; PARFITT, 2004). De acordo com Lara Junior (2013), a confecção de camalhão pode ser realizada utilizando sulcadores tipo pé de pato ou camalhoeiras de disco para camalhões estreitos (até 1,00 m de largura) e encanteiradoras equipadas com enxada rotativa ou com discos e formatador de canteiros, para camalhões até 1,80 m de largura. A largura dos camalhões está condicionada ao tipo de solo e às práticas de cultivo, em solos mais arenosos, o afastamento entre sulcos não deve ultrapassar a 0,70 m, e em solos argilosos, podem atingir 1,80 m (SILVA et al., 2007), no entanto, a largura dos camalhões está em função do espaçamento utilizado para as culturas, aliado à distribuição espacial de plantas que proporcione o melhor desempenho produtivo, e das operações mecanizadas realizadas na lavoura (SILVA; DUARTE, 2006). Outra aplicação muito comum do sistema de camalhão é sua utilização para captação da água da chuva, uma vez que, a formação do camalhão resulta ao mesmo tempo na formação de sulcos no solo. Este sistema consiste na modificação da superfície do terreno, de maneira a formar um plano inclinado entre dois sulcos sucessivos, em curva de nível, 25 denominados camalhões, que funciona como área de captação de água da chuva (MARTINS; NOGUEIRA, 2015). De acordo com Sousa et al. (2013) é comum a distribuição irregular das chuvas na zona semiárida, sendo importante o aumento do tempo e oportunidade da água de chuva na área de plantio. Segundo Oliveira et al. (2012), tal fato é um dos fatores mais limitantes à produtividade agrícola, comprometendo o rendimento das culturas nessas regiões. Devido à grande variação das chuvas registradas na região semiárida do nordeste brasileiro, é de fundamental importância o preparo do solo com técnicas de captação de água de chuva com semeadura no sistema de camalhão, visandoassegurar os cultivos implantados em regime de sequeiro, principalmente, para amenizar os efeitos do déficit hídrico ocorrido em anos de pouca precipitação pluviométrica (ALVINO et al., 2012). 3.6 Máquinas agrícolas para formação de camalhão A formação de camalhões em áreas agrícolas é muito comum, porém, sua formação pode ter objetivos diferentes dependendo da região ou local. Em regiões com escassez hídricas, como o nordeste brasileiro, sua construção pode ser efetuada para captação de água da chuva e conservação do solo. Já em solos com problemas de drenagem e áreas de várzeas para escoamento da água e aeração do solo. Várias patentes foram pesquisadas e estudadas para a elaboração do presente trabalho, no entanto, não existe uma máquina específica que realize a semeadura no sistema de camalhão e que atendam as necessidades do pequeno produtor. Aqui as mais relevantes foram discutidas de forma individual, as mesmas encontram-se descritas no documento de patente de invenção, número do registro BR1020160260230, intitulada “Semeadora- adubadora-camalhoeira para captação de água in situ e solos de várzeas". A PI11058102A2 trata-se de dispositivo sulcador para realização de elevações da superfície formando micro camalhão, preferencialmente em solos de várzeas para o plantio de milho e soja. Constitui-se de haste sulcadora, provida de ponteira de aço, chapas defletoras laterais com regulagem de abertura e sistema de deposição de adubo (Figura 1). 26 Figura 1 - Sulcador para micro camalhões Fonte: http://www.inpi.gov.br. A PI8803385A trata-se de módulo sulcador semeador adubador que possibilita a mecanização das culturas irrigadas por sulcos que adotam a prática do plantio na lateral do sulco (Figura 2). Consiste na adaptação do sulcador e conjunto semeador-adubador, ao suporte modulado em forma de V, preso ao sulcador com a finalidade de fazer a abertura dos sulcos para irrigação. Figura 2 - Sulcador semeador adubador Fonte: http://www.inpi.gov.br. A patente de invenção BR 202013 015483-6 propõe uma solução para atender às necessidades do plantio de culturas em solos compactados (Figura 3). Constituído de dispositivo sulcador dotado de dois discos, os quais são acionados para a formação do micro- camalhão, ainda possui uma estrutura dotada de haste sulcadora fixada a um suporte e uma 27 mola de compressão caracterizada por um conjunto de dois discos sulcadores côncavos e recortados. Figura 3 - Dispositivo sulcador Fonte: http://www.inpi.gov.br. A patente de invenção BR 102013 027417-8 A2 descreve um implemento agrícola para conformação de camalhões para solucionar aspectos de drenagem (Figura 4). O implemento é composto de duas lâminas articuladas por suas extremidades proximais e dotadas de sistema de controle angular para permitir variações na largura dos camalhões a serem conformados por meio do aumento ou redução do ângulo, o mesmo é dotado de sulcadores nas extremidades, destinado à construção dos drenos adjacentes ao camalhão e de roda imediatamente posterior para prover estabilidade à operação e auxiliar na conformação dos drenas. Figura 4 - Implemento agrícola para conformação de camalhão Fonte: http://www.inpi.gov.br. 28 O documento de patente de invenção US 3557883 apresenta um implemento para o preparo de múltiplos canteiros através de uma lâmina dentada (Figura 5). Além da geometria de conformação trapezoidal do camalhão, as estruturas elevadas de solo conformadas pelo implemento, se caracterizam por serem somente de base estreita, cuja conformação apresenta menor complexidade, sem regulagens adicionais e destinada apenas para formação de camalhões, sem funções adicionais de semeadura ou adubação. Figura 5 - Implemento para preparo múltiplos de canteiros Fonte: http://www.inpi.gov.br. A patente de invenção US 6199639, consiste de implemento agrícola com arranjo de placas em forma de asas articuláveis acopladas a uma estrutura dotado de ferramenta sulcadora (Figura 6). O solo é erguido pela ferramenta sulcadora para a construção do sulco ou dreno, enquanto que o conjunto de asas localizado imediatamente posterior ao sulcador move o solo erguido, tombando-o para ambas as laterais. Figura 6 - Implemento agrícola para construção de sulco Fonte: http://www.inpi.gov.br. No mercado brasileiro, existe a plantadora adubadora hyper camalhoeira KF64, assim denominada, com sistema inovador que possibilita a semeadura da cultura da soja em solos de várzeas (Figura 7). Para formação do camalhão é utilizadas em sua estrutura pás 29 dimensionadas e com regulagem permitindo a formação do camalhão e sulco, consequentemente, seu plantio na borda do camalhão. Todo esse processo é executado em uma única operação da máquina sobre o solo. O sulco destina-se ao escoamento de água em excesso hídrico, e na falta de chuva permite a irrigação da planta pelas suas extremidades com água dimensionada entre os sulcos. Cada camalhão comporta o cultivo de duas linhas posicionadas em uma borda, numa distância de 50 cm entre linhas. Figura 7 - Plantadora adubadora camalhoeira Fonte: www.industrialkf.com.br/produtos/ver/6/HYPER+PLUS+CAMALHONEIRA. A patente de invenção BR 1020160260230 trata-se de uma semeadora-adubadora- camalhoeira para captação de água in situ e solo de várzeas com formação de camalhões para facilitar drenagem e aeração do solo ou áreas irrigadas com semeadura na lateral do camalhão (Figura 8). A mesma irá realizar o processo de abertura do sulco, formação do camalhão, deposição de fertilizantes e sementes em uma operação única, reduzindo o numero de operações mecanizadas. Essa máquina irá realizar a abertura do sulco e a formação do camalhão por meio de um inovador sistema abridor de sulco e formador de camalhão composto de dois discos côncavos. Figura 8 - Semeadora-adubadora-camalhoeira Fonte: http://www.inpi.gov.br. 30 3.7 Metodologias de Projeto de Máquinas Agrícolas Tratando-se de semeadoras-adubadoras, existem no mercado diferentes modelos, porém, geralmente são equipamentos de grande porte com necessidade de elevada potência de acionamento, que não favorecem o pequeno agricultor (SILVA; DANIEL; PECHE FILHO, 2007; TEIXEIRA, 2008; STEFANELLO, 2013). Existe uma lacuna no desenvolvimento de máquinas agrícolas para os pequenos agricultores, principalmente, em relação à adequação as suas necessidades específicas e ao custo de aquisição (ROMEIRO FILHO, 2012; NIEMCZEWSKI, 2012) fazendo com que os mesmos desenvolvam equipamentos que atendam as suas necessidades, com limitações tecnológicas e sem uma base metodológica de projeto adequada (IPEA, 2015). O projeto de um produto pode ser considerado como uma atividade planejada, um conjunto de atividades correlacionadas e coordenadas, com a finalidade de alcançar objetivos específicos dentro de certos limites financeiros e tempos (ANDRADE; PEREIRA; DANTAS, 2010). Para Freire (2011), pode-se projetar, construir, adaptar ou modificar um equipamento de acordo com o interesse da indústria e exigência do mercado consumidor. Para isso devem ser analisados os custos, tempo de realização do projeto, qualidade e eficiência do equipamento que está sendo desenvolvido, fazendo desta etapa uma das mais importantes. De acordo com Back e Forcellini (2002), até a execução de um projeto, o mesmo passa por um conjunto de processo sistemático e necessário que pode ser dividido em quatro fases distintas a serem executadas tendo assim: a definição da tarefa, projeto conceitual, projeto preliminar e projeto detalhado. De acordo com Albiero, Maciel e Gamero (2011), o grande obstáculo por parte dos pesquisadores é relacionado à adequação das metodologias de engenharia com as necessidades e particularidades das metodologias participativas necessáriasa regiões como o semiárido. O desenvolvimento de um determinado produto, até chegar à produção em escala comercial, envolve toda uma serie de atividades: projeto preliminar, detalhamento, análise, planejamento da produção, produção, controle de qualidade e assistência ao usuário (FORCELLINI, 2002; BACK; OGLIARI; DIAS, 2008). Como alternativa ao método empírico propõe-se o modelo de fases de Pahl et al. (2005) que divide o processo de desenvolvimento de produto em quatro fases: planejamento e esclarecimento da tarefa, projeto conceitual, projeto preliminar e projeto detalhado. 31 O projeto informacional consiste na análise detalhada do problema de projeto, buscando-se todas as informações necessárias ao pleno entendimento do problema (REIS; FORCELLINI, 2002). Para Reis e Forcellini (2006) e Teixeira (2008) o ponto de partida do projeto informacional é identificar o problema que deu origem à necessidade de desenvolvimento de um novo produto. Já, Rozenfeld et al. (2006) ressalta que o objetivo do projeto informacional é desenvolver um conjunto de informações, o mais completo possível, a partir de informações levantadas no planejamento e em outras fontes, chamado de especificações meta do produto. Na fase do projeto informacional ficam definidos as fases do ciclo de vida do produto e seus clientes (externos, internos e intermediários), assim como suas necessidades, a estas são conferidos atributos, submetidas à checklists e hierarquizadas, dando origem às especificações de projeto, que vem a serem características do produto, com seu valor meta, sua forma de avaliação e seus aspectos indesejados (FONSECA, 2000; REIS, 2003; MENEGATTI, 2004; BACK; OGLIARI; DIAS, 2008). O ciclo de vida pode ser efetuado por meio de levantamentos bibliográficos e brainstorming que permitem colher as necessidades do mercado consumidor, da capabilidade de projeto, da fabricação, da montagem, da embalagem, da armazenagem, do transporte, da compra, vendam e marketing, do uso, da função, da manutenção, da reciclagem e do descarte (ZARDO; BARBISAN; BERTICELLI, 2016). Após o levantamento das necessidades dos clientes, essas informações são convertidas para requisitos dos clientes, numa linguagem mais apropriada (FONSECA, 2000), aplicando no método da casa da qualidade (QFD) cujo objetivo é garantir a qualidade dos produtos e serviços de acordo com os desejos dos clientes, classificando os requisitos de projeto, obtendo um conjunto de especificações de projeto, ordenadas quanto a sua importância e quantificadas (SLANK et al., 2009). A fase de projeto conceitual é onde ocorre a concepção do produto, por meio da busca, criação, representação e seleção de soluções (ROZENFELD et al., 2006). Esta é a fase com maior potencial de otimização de retorno do investimento, representando baixo custo e alto benefício (BAXTER, 2000). Compreendido o escopo faz-se necessário o estabelecimento da função global. A função global é aquela corresponde à função mais ampla que o produto deve desempenhar, indicando entradas e saídas de energia, material e sinal em relação a um sistema periférico que serve de limite entre a máquina e suas interfaces (PAHL; BEITZ, 1996; BACK; OGLIARI; DIAS, 2008). 32 Reis (2003) descreve resumidamente essa etapa, em três tarefas, tais como: Estabelecer a função global com base no fluxo de material, energia e sinal através do emprego de um diagrama de bloco, expressando a relações entre as entradas e saídas do sistema independente de uma solução; Estabelecer estruturas funcionais alternativas, ou seja, a subdivisão da função global visando facilitar a busca por princípios de solução; Selecionar a estrutura funcional adequada ao projeto partindo das diversas estruturas funcionais geradas. Na fase de concepção de um novo produto, diversas metodologias podem ser utilizadas para gerar ideias, entre elas podemos citar: brainstorming, analogia direta, método da instigação de questões, análise de sistemas técnicos conhecidos, matriz morfológica, método de Deplhi, método sintético, método da listagem de atributos entre outros (BAXTER, 2000; ROZENFELD et al., 2006; BACK; OGLIARI; DIAS, 2008). Uma das metodologias mais utilizadas para organização e seleção de hipóteses de projeto é a matriz morfológica que consiste de uma tabela onde são listadas as funções necessárias no produto a ser projetado e ao lado dessas funções são citadas em forma de esboço as soluções possíveis para que seja suprida aquela função (PAHL et al., 2005). O método da matriz morfológica visa estruturar e sistematizar a apresentação dos princípios de solução encontrados e a geração das concepções alternativas, este é apresentado em maiores detalhes em Back e Forcellini (2002), Pahl e Beitz (1996) e Back (1983). De acordo com Back, Ogliari e Dias (2008) é difícil eleger o melhor método, sendo importante que o profissional conheça os principais e na concepção de um novo produto, experimente qual dará os melhores resultados ou adote diferentes metodologias para gerar soluções alternativas para solucionar o mesmo problema. Na fase do projeto preliminar o modelo do produto evolui da concepção ao leiaute definitivo (PAHL; BEITZ, 1996). Nessa etapa há o emprego de listas de verificação que estabelecem os princípios a serem observados e métodos de projeto para atender necessidades específicas (BACK; OGLIARI; DIAS, 2008). O projeto detalhado tem como objetivo a aprovação do protótipo, finalização das especificações dos seus componentes e o detalhamento do plano de manufatura, dentre outros (OGLIARI et al., 2013). Nesta fase, o protótipo é construído e testado, dando início à especificação e certificação dos componentes e fixação das especificações técnicas. Da mesma forma, a especificação dos materiais e a viabilidade técnica e econômica devem ser reavaliadas (BACK; OGLIARI; DIAS, 2008). 33 De acordo com Rozenfeld et al. (2006), o projeto detalhado, muitas vezes, está bastante integrado ao conceito do produto, pois os sistemas, subsistemas e componentes gerados no projeto conceitual são avaliados separadamente e depois o todo, ou seja, o conjunto é analisado para chegar à definição de um produto que seja viável para produção. 3.8 Inovação tecnológica em máquinas agrícolas A inovação ocorre quando se confere uma aplicação prática para uma descoberta ou invenção (FINEP, 2006). O fenômeno da inovação tecnológica é complexo e se manifesta a partir de diversos níveis, em processos multicausais e retroalimentados e com a atuação mais ou menos determinante de diversos profissionais (ZACKIEWICZ et al., 2005). As etapas de invenção e inovação são interativas, e isso é percebido pelo crescente aumento das atividades de pesquisa e desenvolvimento nas empresas responsáveis pela comercialização das inovações (SANTOS; TOLEDO; LOTUFO, 2009). É preciso entender que o sucesso do desenvolvimento desta região depende da exploração correta e do uso eficiente de seu capital natural (ANDRADE; PEREIRA; DANTAS, 2010). Albiero (2006) descreve que as máquinas agrícolas podem estar classificadas em quatro níveis de grau tecnológico: mecanização humana, mecanização à tração animal, mecanização a motocultor e mecanização a trator, sendo que esta classificação se baseia na fonte de potência para as operações agrícolas. Segundo Mello (2007) a mecanização com uso da potência humana tem se tornado cada vez mais rara, embora exista ainda em regiões muito remotas e pobres, mas em geral, a agricultura familiar se vale da tração animal como principal fonte de potência. Albiero (2006) complementa afirmando que o grau tecnológico a motocultor é uma opção interessante para a agricultura familiar, pois aumenta muito a capacidade de trabalho sem produzir impactos indesejáveis tanto em termos ambientais como sociais. A introdução tecnológica tem sido a alternativa encontradapelos agricultores como forma de aumentar a produtividade sem aumentar os custos na produção (VIEIRA FILHO; SILVEIRA, 2012). A utilização da mecanização nos estabelecimentos rurais nordestinos ainda é uma realidade pouco disseminada, pois, em sua maioria, ainda utilizam práticas rudimentares em sua produção, fator este que afeta a produtividade de grande parte das áreas dessa região (ETENE, 2010). O foco dos problemas do atraso agrícola nordestino pode ser distinguido não apenas pela pouca demanda por máquinas e equipamentos que atendam as necessidades dos 34 agricultores, mas pela necessidade de desenvolvimento com a adoção de novas técnicas de produção (VASCONCELOS; SILVA; MELO, 2013). Os pequenos produtores rurais apostam na mecanização como forma de melhorar o desempenho. As novas tecnologias auxiliam na redução do tempo de trabalho e garantem aumento da produtividade, mas para isso, esses agricultores necessitam de máquinas com baixo valor de aquisição, seguras ao operador, quem tenha facilidade de regulagem e baixo custo de manutenção (REICHERT; REIS; DEMENECH, 2015). Na área de mecanização agrícola com foco na convivência com o semiárido a ação tem se restringido ao fornecimento de equipamentos tradicionais, tais como tratores, arados, semeadoras (SDA, 2012), notadamente de uso genérico em todo o espectro brasileiro, portanto sem especificidades para a adequação com o semiárido, muito menos considerações relativa a manejo adequado (SANTOS; TOLEDO; LOTUFO, 2009). Como há à necessidade do desenvolvimento tecnológico de novas soluções em máquinas agrícolas para o semiárido, a inovação tecnológica é a principal linha a ser custeada considerando as especificidades do semiárido e adequando a utilização dos equipamentos atualmente em uso. 3.9 Desempenho operacional em máquinas agrícolas A máquina agrícola é aquela em que os elementos e subsistemas acoplados concorrem para operacionalizar a função de realizar tarefas agrícolas (ALBIERO, 2010). O trator agrícola é uma máquina de tração que disponibiliza potência aos implementos agrícolas, sendo um conjunto de elementos, os responsáveis por garantir a transmissão da energia mecânica do motor para os diferentes sistemas (MÁRQUEZ, 2004). A vantagem de se conhecer o desempenho operacional de máquinas agrícolas consiste em poder racionalizar as operações agrícolas na execução das operações exigidas pela produção agrícola (MIALHE, 1996). Toda e qualquer operação com máquinas agrícolas deve levar em consideração a velocidade de deslocamento do conjunto mecanizado (SILVEIRA, 2008). A semeadura de uma cultura é considerada uma das etapas mais importantes (ALMEIDA; SILVA; SILVA, 2010) quando bem realizada pode propiciar uma boa geminação, emergência e desenvolvimento das plântulas. Está relacionada com vários fatores, podendo ser destacado a máquina que irá distribuir as sementes e executa a operação (FURLANI et al., 2013). 35 O desempenho operacional do conjunto trator-semeadora pode sofrer interferência de diversos fatores, influenciando em seu desempenho operacional e qualidade da distribuição das sementes ao longo do leito de semeadura, entre estes fatores, podemos citar: a velocidade de deslocamento e o tipo de preparo do solo (GABRIEL FILHO et al., 2010; FURLANI et al., 2013). Furlani, Lopes e Silva (2005), utilizando semeadora-adubadora, com diferentes velocidades, durante a operação de semeadura, verificaram que velocidade de 7 km h -1 , contribuiu com o aumento da capacidade operacional. Furlani et al. (2008), verificaram que o aumento da velocidade de deslocamento na operação de semeadura pode interferir no desempenho da máquina. Queiroz et al. (2017) avaliaram o desempenho operacional do conjunto mecanizado trator-semeadora com diferentes cargas no depósito de adubo e regime de marcha do trator e verificaram que Uma maior velocidade associada á maior carga no depósito de adubo proporcionou melhor desempenho operacional do conjunto trator-semeadora. Para Mello et al. (2004), a uniformidade de distribuição de sementes dentro do leito de semeadura, através da regulagem adequada da semeadora-adubadora e correta adequação do trator utilizado, tem sido observada como uma das formas de aumento da produtividade dentro da lavoura. Copetti (2012) afirma que, as semeadoras representam importante papel dentro do processo produtivo, pois a produtividade de uma cultura pode ser afetada pela variação da uniformidade de distribuição de sementes no sulco de semeadura, reduzindo os lucros dos produtores quando a regulagem do conjunto é feita de forma inadequada. 3.10 Pesquisas realizadas com semeadoras-adubadoras no sistema de camalhão As pesquisas que vem sendo desenvolvidas, embora não seja muito difundida, estão voltadas para o sistema de preparo do solo com foco na captação de água da chuva in situ, e para o processo de semeadura realizado por semeadoras-adubadoras adaptadas no sistema de sulco-camalhão, em solos de várzeas. Anjos e Brito (2000) desenvolveram um equipamento para ser utilizado em sistema de cultivo em camalhões com sulcos barrados. O sistema de sulco barrado é uma técnica de captação de água de chuva in situ, o mesmo equipamento desenvolvido é utilizado em cultivos de sequeiro e consiste no barramento com o objetivo de retardar o escoamento superficial da água de chuva, muito utilizado no semiárido. 36 Brito et al. (2008) avaliando perdas de solo e de água em diferentes sistemas de captação in situ no semiárido brasileiro, verificou que, o sistema de preparo do solo com sulcos barrados, para o cultivo do milho, apresentou os menores valores de perdas de água e de solo, enquanto os maiores valores foram obtidos nos tratamentos Guimarães Duque e no sistema tradicional. Sousa et al. (2013) avaliando o cultivo de girassol sob técnicas de captação de água da chuva in situ no semiárido da Paraíba pode concluir que a técnica proporcionou um maior rendimento da cultura, afirmando que uso de técnicas de captação de água in situ pode ajuda as plantas de girassol a tolerar um período de veranico de aproximadamente 15 dias. Laime et al. (2014) avaliando o sistema de captação de água no crescimento de pinhão manso, verificaram ao longo do ciclo que o crescimento foi beneficiado pela forma de preparo. Wanderley et al. (2014) avaliando o crescimento do girassol sob sistema de captação de água e adubação orgânica, observaram que ao longo do ciclo o girassol teve o crescimento diferenciado com uso de técnicas para favorecer a captação de água. Amorim (2017) avaliou o desempenho energético e operacional de um conjunto trator-semeadora equipadas com mecanismo sulcadores, a qualidade de semeadura, qualidade da abertura do sulco e formação do camalhão, desempenho da cultura milho e atributos físicos do solo, verificou que, a semeadura dentro do sulco apresentou melhor desempenho energético e operacional, sendo que, a maior produtividade do milho foi observada para semeadura em cima do camalhão. Silva et al. (2007) realizaram um trabalho no sistema sulco-camalhão para culturas em rotação do arroz em áreas de várzeas do Rio Grande do Sul. Para isso avaliaram o processo de semeadura de milho e da soja no sistema sulco-camalhão com o uso de camalhoeira/semeadora equipada com sulcadores pés de pato, no espaçamento de 0,80 m e com discos duplos no espaçamento de 1,60 m, os autores ainda avaliaram a confecção de sulco-camalhão de 1,80 m de largura utilizando rotoencanteirador. Silva et al. (2007) avaliaram o rendimento de grãos de soja e milho obtidos em diferentes sistemas sulco/camalhão em relação à irrigação e drenagem em áreas de várzeas sistematizadas. Diversas pesquisas também foram realizadas no mesmo trabalho para comparar diferentes tipos de camalhões entre si, e em relação ao cultivo em solo com preparo convencional. Nesseenfoque, observa-se que, existem pesquisas voltadas para a captação de água in situ e em solos de várzeas, mas de forma separada para cada processo, assim, a tese traz a criação de um novo conceito de máquinas para realizar o processo de preparo do solo e 37 semeadura de forma simultânea, além de ser utilizadas independentes da cultura, características da região, tipo de solo e manejo. 3.11 Controle Estatístico do Processo Do ponto de vista agronômico, qualidade é a realização das operações agrícolas ou a obtenção de produtos que estejam adequados às especificações ou a padrões agronômicos recomendados (SILVA et al., 2008). As operações agrícolas são de fundamental importância para a melhoria de todo o processo produtivo, normalmente realizado sem que haja um controle efetivo para que as variabilidades fiquem dentro de padrões aceitáveis (FERNANDES; MILAN; PECHE FILHO, 2000). O uso de técnicas estatísticas no controle das operações agrícolas mecanizadas é uma realidade, pois a qualidade das operações representa um declínio na variabilidade, obtendo-se resultados mais próximos aos limites especificados (MILAN; FERNANDES, 2002), para isso, faz-se necessário um acompanhamento do processo, a fim de detectar alterações. O Controle Estatístico de Processo (CEP) é uma prática que permite verificar o comprometimento do processo quanto há limites superiores e inferiores, detectando comportamentos tendenciosos das variáveis do processo, segundo, Alencar Lopes e Souza Júnior (2007), o CEP detecta rapidamente alterações dos parâmetros de determinados processos, para que os problemas possam ser corrigidos antes que muitos itens não conformes sejam produzidos (MINGNOTI; FIDELIS, 2001). Bonilla (1995) e Montgomery (2004) ressaltam que o CEP é um conjunto de ferramentas úteis para a resolução de problemas para o alcance da estabilidade do processo e aumento da capacidade através da redução da variabilidade. De acordo com Paulini, Milan e Salvi (2009) é muito complicado determinar todos os fatores que influem nas operações agrícolas, necessitando de buscar fatores que melhorem a eficiência e eficácia dessas operações. A variabilidade em processos agrícolas mecanizados tem sido investigada por meio de ferramentas de qualidade do processo (NORONHA et al., 2011; ALBIEIRO et al., 2012; MELO et al., 2013; VOLTARELLI et al., 2015). Originalmente empregadas em processos industriais, atualmente têm auxiliado o gerenciamento das operações agrícolas, permitindo à identificação de causas naturais e/ou especiais, monitoramento e eliminação das causas de variabilidade do processo (ARCOVERDE; CORTEZ; SOUZA, 2017). 38 Fernandes, Costa e Souza (2010) comentam que o CEP auxilia no controle da qualidade nas etapas do processo, principalmente nos processos repetitivos, pois visa garantir a estabilidade e a melhoria contínua do processo. Neste sentido, o controle estatístico do processo tem se mostrado uma boa alternativa para avaliação de processos envolvendo operações agrícolas mecanizadas (ORMOND, 2017). Alguns autores têm feito uso do controle estatístico de processo em operações agrícolas mecanizadas, utilizando as variáveis avaliadas como indicadores de qualidade (REIS et al., 2010; CHIODEROLI et al., 2012; COMPAGNON et al., 2013; TOLEDO; SILVA; FURLANI, 2013; CASSIA et al., 2013; VOLTARELLI et al. 2015; VOLTARELLI et al. 2017). O CEP permite reduzir a variabilidade das variáveis controladas permitindo utilizar condições operacionais que aproximem as variáveis de interesse dos seus limites de controle (ALENCAR; LOPES; SOUZA JÚNIOR, 2007). Porém, Montgomery (2004) comenta que o CEP é uma ferramenta que só pode ser utilizada quando os dados apresentarem normalidade. Neste enfoque, Albiero et al. (2012) verificaram em seus testes que os dados obtidos não apresentavam distribuição normal o que inviabilizou a análise dos gráficos de controle convencionais, indicando a necessidade de utilização da metodologia da MMEP. 3.12 Análise de modo e efeito de falha (FMEA) A Análise dos Modos e Efeitos de Falhas, do original em inglês Failure Mode and Effects Analysis (FMEA) é uma metodologia sistemática que permite identificar potenciais falhas de um sistema, projeto e/ou processo, com o objetivo de eliminar ou minimizar os riscos associados, antes que tais falhas aconteçam (YANG et al., 2006). No processo de desenvolvimento de produtos (PDP) devem ser consideradas duas características essenciais para atender o mercado: a qualidade e a confiabilidade do produto (FRANK et al., 2013). A avaliação da qualidade e confiabilidade do produto é tradicionalmente feita nos estágios avançados de seu desenvolvimento, por meio de inúmeros testes, aplicação de técnicas estatísticas e teoria probabilística (LEVIN; KALAL, 2003; YANG, 2007; BERTSCHE, 2008). O FMEA é um método analítico, padronizado utilizado com o objetivo de determinar o efeito da ocorrência de falha em sistemas e em equipamentos (MAOS; MILAN, 2009). Conforme Puente et al. (2002), o método FMEA é útil para identificar as falhas atuais 39 e potenciais e seus efeitos em sistemas e processos para definir ações que visem reduzir ou eliminar o risco associado a cada falha. O FMEA avalia a severidade de cada falha relativamente ao impacto causado aos clientes, sua probabilidade de ocorrência e de detecção antes de chegarem às mãos dos clientes. Com base nestes três elementos, severidade, ocorrência e detecção, o método FMEA leva à priorização de quais modos de falha acarretam os maiores riscos ao cliente e que, portanto, merecem atenção (FERNANDES; REBELATO, 2006). O formulário FMEA pode ser apresentado em diferentes formatos, porém seus elementos básicos são sempre os mesmos: cabeçalho, funções, modos de falha, efeitos, causas, severidade, ocorrência, formas de controle, detecção e ações recomendadas (RAMOS, 2006, ALBIERO, 2010). Os dados levantados para a aplicação do FMEA devem ser todos considerados para uma tomada de decisão envolvendo risco (GARCIA, 2013). 3.13 Elementos finitos de máquinas O método dos elementos finitos (MEF) foi criado para resolver problemas estruturais no âmbito da engenharia no qual avaliava o grau de deformação e tensão que um sólido sofria quando determinadas cargas eram impostas sobre ele (BRITO et al., 2017). O MEF é uma forma de análise matemática, fundamentado na divisão de um domínio em pequenas áreas, denominado de elementos finitos, a essa divisão dá-se o nome de "malha", a malha é composta por arestas (faces) e nós (pontos de intersecção das arestas) (TRENTO et al., 2016). O método FEM substitui um problema complexo por um conjunto de problemas simples. Divide o modelo em muitas peças pequenas (por exemplo, tetraedros) de formas simples, chamadas elementos. Quando um elemento de estudo é selecionado as tensões desejadas são aplicadas sobre ele, o seu comportamento é descrito por funções algébricas, em que os achados representarão a distribuição das tensões e deformações do modelo experimental (LOTTI et al., 2006). Atualmente, o uso de técnicas de Métodos Elementos Finitos (MEF) para dimensionamento de estruturas é amplamente utilizado para resolver problemas estruturais, térmicos e de vibração, e é possível analisar qualquer forma (NIEMCZEWSKI et al., 2014). O MEF é baseado na suposição de que o deslocamento de cada um dos elementos pode variar dentro de uma estrutura analisada (MAGALHAES et al., 2012). 40 O uso de computadores tem proporcionado o desenvolvimento de "protótipos virtuais", em que determinada máquina ou sistema é modelado mediante um programa computacional, no qual o seu comportamento é simulado sob diferentes condições de funcionamento, antes de entrar para em linha de produção (MAGALHÃES et al., 2006). Diversos são os trabalhos encontrados na literatura utilizando o MEF. Niemczewski et al.
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