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Planejamento Estratégico IESDE 2019 Ricardo Formanek Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel Curitiba PR 0800 708 88 88 www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ F82p Formanek, Ricardo Planejamento Estratégico / Ricardo Formanek. - 1. ed. - Curitiba: IESDE Brasil, 2019. 138 p. Inclui bibliograa ISBN 978-85-387-6489-2 1. Planejamento estratégico. 2. Administração de empresas. 3. Planejamento empresarial. I. Título. 19-57872 CDD: 658.4012 CDU: 005.51 © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: bluedog studio/Shutterstock Ricardo Formanek Especialista em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). MBA em Gestão Empresarial pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-SP). Graduado em Engenharia Elétrica pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT-SP). Possui experiência profissional superior a 25 anos em empresas como Nestlé, Banco Nacional, Grupo Abril, ABB e Habib’s. Atua como professor de cursos de capacitação nas áreas de planejamento estratégico e gestão empresarial. É sócio e consultor da Ellevare Consultoria, especializada em implementação de ISO 9001, gestão e compliance. Sumário Apresentação 7 1 O conceito de planejamento estratégico 9 1.1 Planejamento estratégico: deinição e objetivos 9 1.2 Os pilares de uma boa estratégia 12 1.3 Níveis de planejamento 17 1.4 As escolas de estratégia 21 2 Elaborando a estratégia 29 2.1 Deinição do negócio 29 2.2 Cadeia de valor 32 2.3 O modelo de negócios 34 2.4 Missão, visão e valores 38 3 O ambiente competitivo 43 3.1 O modelo de cinco orças 43 3.2 Ciclo de vida de produtos e matriz BCG 47 3.3 Deinição da estratégia genérica e atores críticos de sucesso 49 3.4 O macroambiente competitivo: a análise Pestel 54 4 Análise SWOT 59 4.1 O que é a matriz SWOT? 59 4.2 Fatores internos 60 4.3 Fatores externos 62 4.4 Planos de ação 63 5 Execução da estratégia 69 5.1 Os obstáculos à execução da estratégia 69 5.2 A importância das pessoas no processo estratégico 72 5.3 Apresentando o balanced scorecard (BSC) 77 6 O balanced scorecard (BSC) 83 6.1 As perspectivas do balanced scorecard (BSC) 83 6.2 Temas e objetivos estratégicos 87 6.3 Metas e planos de ação 90 6.4 Indicadores-chave de desempenho (KPIs) 92 7 Estratégia avançada 99 7.1 Gestão estratégica 99 7.2 A estratégia do oceano azul 102 7.3 Incertezas do uturo: um mundo em constante mudança 107 7.4 Governança e compliance 109 8 Novos negócios e empreendedorismo 115 8.1 Empreendedorismo: necessidade ou vocação? 115 8.2 Plano de negócios 118 8.3 Startups 128 Gabarito 133 Apresentação Vivemos em um mundo de mudanças rápidas e repentinas. A maneira como consumimos produtos e serviços vem se transformando ano após ano e o acesso à informação se torna imediato, ao clicar de um botão. Se, por um lado, nunca tivemos tantas alternativas, também se multiplicam as decisões que devemos tomar sobre o que queremos e do que precisamos. Para as empresas, não é diferente. Adaptar-se a mudanças de cenário, em um mundo cada vez mais integrado e competitivo, exige grande capacidade de se planejar e de construir os caminhos que levarão ao sucesso. Nesse sentido, o planejamento estratégico é uma forma de organizar os recursos da empresa para que, por meio de diretrizes estabelecidas, seja possível atingir os objetivos de longo prazo de modo sustentável e eficiente. Nesta obra, veremos como o planejamento estratégico serve de ferramenta para que as empresas busquem sobrevivência e adaptação em um ambiente de negócios cada vez mais difícil, em que decisões devem ser tomadas de maneira rápida e precisa. A obra apresenta a estrutura teórica que serve de sustentação para a compreensão dos diversos conceitos que fazem parte do planejamento estratégico, bem como sua aplicação. Ao final de cada capítulo, há indicações de material adicional e atividades propostas para consolidar o aprendizado. Iniciamos nossa caminhada destacando a importância de uma base conceitual bem fundamentada, com a definição dos objetivos de longo prazo e seu desdobramento para as atividades do dia a dia da organização. Veremos as diversas escolas de estratégia que se desenvolveram ao longo dos anos, suas características e diferenças conceituais. Destacamos a importância de se definir o negócio de maneira clara, por meio de um modelo de negócios em que sejam definidos o público-alvo, os produtos e serviços e a estrutura necessária para gerar valor aos consumidores. A necessidade de disciplina e de alinhamento entre todas as áreas, equipes e indivíduos da organização é reforçada ao longo de todo o estudo, pois, sem essa disciplina, corre-se o risco de não obtermos os resultados desejados. Veremos como a metodologia do balanced scorecard foi criada para permitir que a estratégia seja colocada em ação em cada processo da organização e para que possamos medir seus resultados de modo efetivo. Seremos capazes de entender como o planejamento estratégico faz parte de algo maior denominado gestão estratégica, que consolida todas as etapas, desde a intenção estratégica, passando por sua formulação e, finalmente, sua aplicação nas operações da empresa. É a construção dessa cultura de execução que levará a organização a obter vantagem competitiva e atingir a situação desejada no futuro. Planejamento Estratégico8 Mostramos ainda como a ética e a transparência são essenciais e ganham destaque no relacionamento entre todas as partes envolvidas com o negócio. Aspectos como governança corporativa e compliance buscam assegurar o cumprimento de normas legais e procedimentos estabelecidos dentro das organizações. Finalmente, abordamos o empreendedorismo, um dos principais motores de nosso desenvolvimento e avanço tecnológico. Veremos como ele ocorre e por que deve contar com um planejamento adequado para que grandes ideias possam gerar grandes negócios. Esperamos que esta obra sirva como um roteiro para a compreensão conceitual do planejamento estratégico e para sua aplicação no mundo dos negócios. Boa leitura! 1 O conceito de planejamento estratégico Planejar é uma atividade comum a todas as pessoas. Mesmo informalmente, todos nós planejamos nosso dia, nossas férias ou nossos estudos. Para elaborarmos um planejamento estratégico eficaz, neste primeiro capítulo, entenderemos algumas definições e objetivos e, assim, perceberemos que caminho devemos percorrer desde a situação atual até os resultados que queremos atingir. Na sequência, veremos os pilares de uma boa estratégia que também são fundamentais para conseguirmos fazer uma análise situacional, estabelecer uma diretriz comportamental e identificar ações racionais. Além dos pilares, conheceremos os níveis organizacionais de uma empresa e suas principais atribuições e, no final do capítulo, conheceremos as escolas de estratégia. Além disso, entenderemos as razões que levam empresas dos mais variados portes e setores de atuação a elaborarem o planejamento estratégico e como colocá-lo em prática de maneira efetiva a fim de obter os resultados desejados. 1.1 Planejamento estratégico: definição e objetivos Segundo o dicionário Michaelis, planejamento é “1) ato de organizar uma tarefa com a utilização de métodos apropriados; 2) a determinação de ações para atingir as metas estipuladas por uma empresa ou organização1” (PLANEJAMENTO, 2019). Com base nessas definições simples, podemos extrair uma série de informações que nos permitem compreender a importância e as aplicações do que se entende por planejamento. A primeira ideia que aparece na definição de planejamento, “ato de organizar”, já nos mostra a necessidade de ordenamento, ou seja, agir de forma coerentee com base em algum critério predefinido. Em seguida, prosseguindo com a leitura da definição, observamos o emprego das expressões métodos apropriados, determinação de ações e metas estipuladas. Todas essas expressões servem para mostrar que planejamento é um processo racional e que deve ser concebido de forma criteriosa. Quanto mais o planejamento for embasado em técnicas de qualidade comprovada, melhores deverão ser os resultados alcançados. Nesse contexto, podemos entender que estratégia é a maneira pela qual podemos atingir determinados objetivos. Logo, definir e seguir uma estratégia significa fazer escolhas, ou seja, determinar de que forma pretendemos atingir nossos objetivos. Que caminhos percorreremos e com que velocidade pretendemos caminhar? A determinação da melhor forma de se atingir um 1 Embora alguns autores dierenciem os conceitos de empresa e organização, para os fins desta obra, utilizaremos as duas palavras como sinônimos. Vídeo Planejamento Estratégico10 determinado objetivo, de se escolher a melhor estratégia, é algo de extrema importância, pois está diretamente relacionada aos recursos necessários para se atingir esse objetivo e o tempo que será gasto nessa jornada. Por exemplo: quando deseja adquirir um carro, você verifica suas necessidades em termos de conforto, desempenho ou espaço interno e quais os modelos que poderiam atendê-las, avalia o custo de aquisição e se esse custo cabe em seu orçamento, se vai pagá-lo à vista ou parcelado e assim por diante. Assim fazemos com nossas atividades diárias, desde as mais simples às mais complexas. Em muitos aspectos, o planejamento estratégico formal de uma empresa se assemelha ao planejamento pessoal que fazemos sem grandes procedimentos e quase inconscientemente. Mas, em se tratando de empresas, com diversos interesses em jogo, um processo mais estruturado e sistêmico2 se faz necessário. Por isso, é importante definir alguns conceitos que, embora usados de forma indistinta, possuem significados diferentes como é o caso dos termos objetivo e meta. Tanto no nosso dia a dia quanto nas empresas, é comum usarmos essas expressões como sinônimos e não há nada de errado nisso, pois, de modo geral, o contexto em que os usamos deixa claro o sentido que queremos dar. Tomemos um exemplo bem simples que ajudará você a memorizar facilmente a diferença entre eles. Digamos que você não esteja muito satisfeito com sua forma física, o excesso de peso pode estar comprometendo sua saúde ou simplesmente o deixando infeliz por razões estéticas. Você se propõe a perder peso e define esse objetivo para restaurar sua saúde ou elevar sua autoestima. Você define, então, que seu objetivo é emagrecer. Estabelecido o objetivo, o passo seguinte é quantificá-lo: quantos quilos você deseja perder? Em quanto tempo? Ao responder a essas questões, você está estabelecendo metas! Seguindo nosso exemplo, você poderia definir a meta de perder dez quilos em quatro meses. Então, de maneira simples, apresentamos os conceitos (KAPLAN; NORTON, 1997): • Objetivo: a formulação de um desejo, de uma vontade; • Meta: a quantificação de um desejo em termos numéricos, quantidade, tempo, intensidade etc. O conceito de meta é muito importante e será muito abordado ao longo de nosso estudo, especialmente quando tratarmos de planos de ação e indicadores de desempenho. Aproveitando o exemplo, podemos reforçar o conceito de estratégia, que definimos anteriormente como a maneira que escolhemos para atingir um determinado objetivo ou meta, da seguinte forma: para atingir a meta de perder 10 quilos em quatro meses, você limita sua ingestão de alimentos a 2.000 quilocalorias diárias e inicia uma atividade física, como a corrida, executando-a três vezes por semana. Veja que a estratégia pode ser diferente de pessoa para pessoa, uma delas pode escolher corrida, outra pessoa natação. De modo similar, as empresas buscarão desenvolver estratégias específicas para atingir seus objetivos, escolhendo as ferramentas que julgarem mais adequadas 2 O termo sistêmico se refere a um sistema ou a um conjunto de atividades que se relacionam entre si. O conceito de planejamento estratégico 11 e mais eficientes para o seu desenvolvimento. A Figura 1 ilustra os pontos de partida (A) e de chegada (B) e o caminho a ser construído (ESTRATÉGIA). Figura 1 – A estratégia como um caminho a ser percorrido B Meta (futuro) A Situação atual (presente) Estratégia Fonte: Elaborada pelo autor. O planejamento estratégico busca justamente definir o estado em que a empresa se encontra (o ponto A da Figura 1). A definição desse estado inicial ou situação atual deve considerar em que mercados a empresa atua, quem são seus clientes e competidores e as metas de longo prazo desejadas pela organização. Com base nisso é que se estabelece quais são as melhores estratégias para atingi-las e planejar as ações necessárias à execução dessas estratégias. Empresas e organizações estão em constante competição dentro do setor ou do mercado em que atuam. Uma empresa precisa obter lucro ao vender seus produtos e serviços para seus clientes e, dessa forma, poder arcar com seus custos e despesas e gerar riqueza para seus acionistas. Ninguém deveria abrir um negócio ou investir em uma empresa sem ter a certeza, ou ao menos contar com uma probabilidade grande, de obter resultados financeiros favoráveis. De modo geral, e a menos que exista uma situação de monopólio3, as empresas estão constantemente disputando a preferência de seus clientes e essa disputa é vencida por aqueles que conseguem satisfazer as necessidades desses clientes da melhor forma possível por meio de atributos que sejam mais valorizados pelos consumidores como menores preços, maior qualidade, melhor atendimento, entre outros. A esse conjunto de atributos, que são percebidos como vantajosos pelos clientes, damos o nome de valor. A proposta de valor é o motivo pelo qual os clientes escolhem uma empresa ou outra. Ela resolve um problema ou satisfaz uma necessidade do consumidor. Cada proposta de valor é um pacote específico que supre as exigências de um segmento de clientes específico. Nesse sentido, a proposta de valor é uma agregação ou conjunto de benefícios que uma empresa oferece aos clientes (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011, p. 22, grifo nosso). O que os clientes buscam ao adquirirem produtos ou serviços é exatamente isto: o valor. O objetivo primordial do planejamento estratégico é, portanto, garantir à empresa uma vantagem competitiva, um conjunto de procedimentos ou práticas que a diferencie de seus concorrentes e a faça ser reconhecida pelos clientes como um fornecedor de valor. Nesse ponto, é possível perceber alguns benefícios de forma clara (Quadro 1): 3 Situação em que uma empresa atua sem concorrentes em um determinado segmento de mercado. Planejamento Estratégico12 Quadro 1 – Benefícios do planejamento estratégico Denição clara do que se deseja alcançar, a visão estratégica da empresa. Determinação de objetivos e metas claros no curto, médio e longo prazo. Foco naquilo que realmente importa. Direcionamento de esforços e recursos conforme o planejado. Integração das equipes por meio de uma comunicação clara baseada no rumo denido pela direção. Agilidade na tomada de decisões. Capacidade de executar mudanças de rota quando necessário. Uma organização com maior capacidade de aprendizado e desenvolvimento. Fonte: Elaborado pelo autor. Os benefícios citados dependem, contudo, da capacidade da empresa e, sobretudo, de sua equipe de direção para elaborar o plano de forma estruturada, coerente e que faça sentido para todos dentro da organização. O engajamento de todos os departamentos, das equipes e dos funcionários é fundamental para que a estratégia definida seja, além de verossímil, executável. Segundo Kaplan e Norton (1997), o planejamento estratégico esteve durante muito tempo em descrédito no mundo empresarial, justamente por não conseguir colocar em práticao que havia sido desenhado no papel. O que se percebe é que tão importante quanto a elaboração de um bom plano é a capacidade que uma organização deve ter de fazer com que esse plano funcione em suas operações cotidianas. Nos próximos capítulos, veremos como isso é possível, com a utilização de métodos que incluem comunicação eficiente, lideranças motivadoras, indicadores de desempenho e gestão competente. 1.2 Os pilares de uma boa estratégia Antes de entrarmos no conceito daquilo que torna uma estratégia boa, é conveniente entendermos o que poderíamos chamar de estratégia ruim. Alguns poderiam afirmar que só é possível determinar se uma estratégia é boa ou ruim após certo tempo, quando se pudessem colher os frutos das decisões tomadas no início da jornada e analisar seus resultados. A realidade, entretanto, é um pouco mais complicada do que isso. Dado que a mobilização necessária para a formulação e a execução da estratégia pela empresa é algo desgastante, que exige esforço, dedicação e dinheiro, todos os passos devem ser cuidadosamente planejados. Mesmo com o melhor time de especialistas em estratégia, pode-se passar por alguns percalços para garantir o sucesso de sua implementação, pois obstáculos e situações adversas surgirão nas mais variadas formas, como: mudanças bruscas na economia, movimentos Vídeo O conceito de planejamento estratégico 13 inesperados dos concorrentes, perda de funcionários essenciais em alguma etapa, entre outros (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009). Gestores e estrategistas experientes sabem que imprevistos podem acontecer e buscam definir algumas alternativas que permitam trilhar o caminho escolhido da maneira mais segura possível. Por isso, é tão importante reconhecer uma estratégia ruim. Vamos usar como base a Figura 1, que traz a estratégia como um caminho a ser percorrido. Nela, temos o ponto de partida (A), o ponto de chegada (B) que definimos como estratégia, ou seja, a forma de sairmos de A para atingirmos B. Vejamos um exemplo de como essa estratégia se consolidaria. Imaginemos que os pontos A e B são duas cidades e que nosso objetivo é chegar à cidade B partindo da cidade A. Cidade A Cidade B Como você faria isso? Certamente uma pergunta que surge de imediato é: qual é a distância entre as cidades A e B? Prosseguindo: existe uma estrada em boas condições e segura entre essas cidades? Existem aeroportos nessas cidades, para o caso de se cogitar o uso de transporte aéreo? De quantos recursos financeiros dispomos? Em quanto tempo devemos chegar ao nosso destino? Muitas outras questões podem – e devem – ser formuladas nessa fase de elaboração do plano. O planejamento serve justamente para isto: analisar não apenas as melhores maneiras de atingir os nossos objetivos, mas as formas mais indicadas de contornar os obstáculos e evitar cair nas armadilhas. Temos agora as condições necessárias para perceber que uma estratégia ruim é aquela que não é capaz de identificar o cenário e posicionar a empresa no ambiente competitivo, não conhece plenamente as demandas e os desejos dos clientes, não consegue entender quais os fatores críticos de sucesso4 e, assim, não reúne as condições capazes de tornar a empresa competitiva no mercado. Nem sempre é fácil reconhecer uma estratégia ruim. Normalmente, vem “embrulhada” em um lindo pacote e pode parecer, à primeira vista, como um conjunto extraordinário de procedimentos 4 “Fatores críticos de sucesso são as competências essenciais que uma empresa deve possuir para que possa operar de forma lucrativa em seu ramo de atuação. Se imaginarmos uma empresa que atua no setor de tecnologia e no ramo de smartphones, a inovação, o desenvolvimento de aplicativos e o design são exemplos de fatores críticos de sucesso, pois são itens muito valorizados pelos consumidores” (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p. 176). Planejamento Estratégico14 e objetivos capazes de conferir à empresa uma enorme vantagem competitiva. Rumelt5 (2011, p. 31, grifo nosso) nos dá algumas dicas para reconhecer uma má estratégia: • Floreio: é uma forma de tagarelice disfarçada de conceitos estratégicos ou argumentos. Ele usa palavras “pomposas” (palavras infladas e desnecessariamente obscuras) e conceitos aparentemente esotéricos para criar a ilusão de uma reflexão de alto nível. • Não enfrentar o desafio: a estratégia ruim não reconhece ou define o desafio. Quando não pode definir o desafio, você não consegue avaliar uma estratégia ou melhorá-la. • Confundir metas com estratégia: muitas estratégias ruins são apenas afirmações de desejo, e não planos para superar obstáculos. • Objetivos estratégicos ruins: são estabelecidos por um líder como meio para atingir um fim. Os objetivos estratégicos são ruins quando deixam de abordar questões fundamentais ou quando se mostram impraticáveis. Não é incomum encontrar as características acima mencionadas em muitos documentos ou apresentações de diversas empresas e organizações. Em muitos planos estratégicos, o uso indiscriminado de clichês ou expressões da moda substitui um conteúdo que possa ser facilmente compreendido e absorvido por todos os níveis de uma empresa. Mais do que isso, muitas estratégias não colocam de maneira clara o que se pretende atingir, em que patamar a empresa deseja se colocar no futuro e quais os esforços que deverão ser empregados para atingir essa situação perseguida. Apenas listar metas arrojadas e ambiciosas, sem definir as formas e a metodologia a ser empregada para atingi-las, não servirá para muita coisa e fará com que o plano seja logo esquecido. Por fim, estabelecer objetivos que não façam sentido para a empresa ou que sejam inatingíveis revelará falta de capacidade de suas lideranças. Agora que aprendemos a identificar algumas características de uma estratégia ruim, nosso próximo passo é sermos capazes não apenas de reconhecer uma boa estratégia, como também nos capacitarmos para desenvolvê-la. De modo geral, uma boa estratégia conta com três pilares fundamentais (Figura 2). Figura 2 – Os pilares da boa estratégia Análise situacional (Diagnóstico) Posicionamento da empresa no mercado Diretriz comportamental Estabelecimento de formas e do método para executar a estratégia Estratégia Ações racionais Mobilização de recursos para a execução da estratégia Fonte: Elaborada pelo autor com base em Rumelt, 2011. 5 Richard Rumelt é um dos mais renomados proessores de negócios e estratégias corporativas, autor de diversos livros sobre o assunto. O conceito de planejamento estratégico 15 É importante destacar que existe uma ordem lógica a ser seguida. As diretrizes comportamentais serão formuladas com base no diagnóstico feito e deverão ser moldadas à realidade em que a organização está inserida. As ações racionais e os planos de ação elaborados virão das diretrizes, ou políticas, estabelecidas. Vejamos a seguir com mais detalhes cada um desses pilares. A análise situacional (diagnóstico) busca definir os diversos fatores que afetam ou podem afetar o desempenho de uma empresa. É por meio dessa análise que determinada empresa identifica seus pontos fortes e seus pontos fracos, avalia quais as perspectivas do mercado para o futuro, como as mudanças que são esperadas impactarão no modo como a empresa conduz suas operações, de que forma seus concorrentes têm agido e o que esperar deles. Essa análise situacional busca realizar uma leitura sincera da realidade da empresa e, dessa forma, dimensionar o tamanho do desafio que ela terá pela frente para alcançar seus objetivos de longo prazo. É nessa análise inicial que, muitas vezes, percebe-se que a empresa ficou parada no tempo e que o sucesso obtido no passado não se repetirá no futuro, a menos que medidas assertivas, e algumas vezes doloridas, sejam tomadas. Isso pode, a princípio, parecer um balde de água fria para muitos planejadores e administradores, mas, se esse processo for bem conduzido, permitirá à empresa dar um verdadeiro salto qualitativo em suagestão. A diretriz comportamental está relacionada à metodologia de trabalho que a empresa adotará em sua estratégia, especialmente na execução dessa estratégia. De certo modo, esse pilar toma os resultados do diagnóstico e elabora a melhor direção possível a ser seguida. Se a fase de análise situacional definiu o tamanho dos desafios, a diretriz comportamental servirá para estabelecer as formas de atacar e superar os obstáculos, à medida que eles forem surgindo. Isto é, está relacionada ao comportamento esperado de todas as áreas da empresa e deverá guiar a atuação, não só das equipes, como dos próprios indivíduos que as compõem. Esses comportamentos ou políticas corporativas estarão diretamente vinculados aos valores da organização. É importante notar que a cultura organizacional6, construída ao longo de anos e impregnada em todas as atividades da empresa, influencia enormemente os comportamentos e as formas de agir de todos aqueles que estão envolvidos em algum aspecto da vida da empresa. Dessa forma, não se deve desprezar essa cultura ao se estabelecerem as políticas e diretrizes que guiarão o processo de planejamento estratégico, sob pena de comprometer a qualidade dos resultados desejados. Ações racionais ou ações coerentes consistem naquilo que realmente fará a estratégia funcionar (RUMELT, 2011). Discursos vazios e desvinculados de um plano de ação efetivo são apenas palavras que acabam se perdendo com o tempo. Os planejadores e a alta direção das empresas precisam, enquanto elaboram as estratégias, enxergar, a todo momento, como sua execução se dará na prática. 6 Cultura organizacional é o conjunto de práticas, a maneira de agir de uma empresa. “Ela passa a ser a mente das organizações” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010, p. 253). A cultura organizacional está intimamente ligada ao ambiente externo em que está inserida, se baseia em um comportamento coletivo proveniente dos comportamentos de seus funcionários e torna cada empresa única no mercado. Planejamento Estratégico16 Tomemos o exemplo de uma rede de supermercados que pretenda expandir sua presença, atualmente restrita à capital de um estado, às principais cidades desse estado ou aos municípios mais populosos. Como se dará essa expansão? Como determinar a melhor forma para que essa rede passe a ter presença estadual? Observemos que, enquanto o objetivo desejado é ampliar a presença pelo estado, a estratégia a ser adotada poderia ser a de abrir lojas em outras cidades. Também seria possível pensar em se criar um canal de vendas eletrônico (e-commerce7) ou mesmo adotar ambas as soluções. As ações esperadas, e necessárias, para que essa estratégia seja posta em marcha passariam pela elaboração de metas, tais como: a definição de um cronograma de abertura das novas lojas ou da construção da plataforma de comércio eletrônico (caso essa opção tenha sido adotada); a previsão do orçamento necessário e como os recursos serão obtidos. Caso essa rede de supermercados não possua uma equipe de expansão, esta deverá ser formada e contar com pessoas capazes de conduzir esse projeto. É fácil observar que objetivos exigem estratégias e que as estratégias a serem formuladas determinarão a necessidade de uma série de ações racionais e coordenadas para que se atinja o sucesso desejado. Por que as ações precisam ser racionais ou, como definiu Rumelt (2011), coerentes? A resposta reside no fato de que qualquer ação ou conjunto de ações, no mundo dos negócios, exige a alocação de recursos, sejam estes financeiros ou humanos. Em geral, os planos de ação mais elaborados, que buscam atingir grandes objetivos, necessitam tanto de recursos financeiros quanto do envolvimento de uma série de profissionais. As ações racionais se referem à utilização mais eficiente possível dos recursos que a empresa possui ou que tenha condições de adquirir. Uma vez que recursos são escassos e, por isso mesmo, custam dinheiro, a utilização mais eficiente desses recursos constitui uma fonte de vantagem competitiva, caso os competidores não sejam capazes de proceder da mesma forma. Como vimos no exemplo da rede de supermercados que deseja expandir sua participação, as estratégias adotadas exigem a mobilização de várias áreas da empresa como a área financeira, o departamento de recursos humanos, a área de tecnologia da informação, de logística e o departamento de inteligência de mercado8 (BI), entre outros. As ações decorrentes das estratégias que foram definidas exigirão não apenas a atuação de diversas áreas e departamentos da empresa, como, em muitas ocasiões, a integração de suas equipes. Essa integração precisa ser coerente com os recursos disponíveis e as competências existentes na 7 E-commerce ou comércio eletrônico é a modalidade, ou o canal de vendas, que permite, por meio de uma plataforma eletrônica, efetuar compras e pagamentos utilizando a internet. 8 Inteligência de mercado ou BI (do inglês business intelligence) reere-se às práticas e metodologias de coleta de dados e sua transformação em informações que possam ser utilizadas na tomada de decisões. O conceito de planejamento estratégico 17 empresa e bem coordenadas entre si, tirando o máximo proveito do conhecimento acumulado por essas áreas e por seus profissionais ao longo do tempo. Além dos pilares de uma boa estratégia, conheceremos no próximo tópico os níveis organizacionais de uma empresa e suas principais atribuições. É importante ressaltar que será abordado com frequência neste livro o fato de que a essência do planejamento estratégico reside em sua execução. Tanto empresas quanto grupos diversos e pessoas em geral investem tempo planejando e estudando alternativas porque desejam ou são obrigadas a agir. 1.3 Níveis de planejamento Algo que devemos ter sempre em mente, e que é abordado frequentemente nesta obra, é o fato de que a essência do planejamento estratégico reside em sua execução. Tanto as empresas quanto os grupos diversos e pessoas em geral investem tempo planejando e estudando alternativas porque desejam ou são obrigadas a agirem. Como vimos anteriormente, todos nós planejamos nossas ações mesmo que de forma inconsciente ou simplificada. Organizações de médio ou grande porte, entretanto, possuem vários departamentos e, eventualmente, muitas linhas de negócios. Há um grande número de profissionais envolvidos e o planejamento estratégico se torna mais complexo à medida que muitas variáveis são colocadas sobre a mesa. Uma das maneiras mais eficazes de se lidar com um problema complexo é dividindo-o em partes cada vez menores de forma que cada uma se torne um problema menor e mais fácil de ser solucionado. Quando tratamos dos níveis de planejamento, buscamos enxergar esse processo de forma similar. A alta direção da empresa, ao definir seus objetivos de longo prazo, estabelece de forma imediata um problema: como atingiremos esses objetivos? Atingir os objetivos passa, então, a ser um problema de toda a organização e sua solução deverá ser perseguida por todos os colaboradores. Antes de prosseguirmos com nossa análise, é conveniente ilustrarmos de modo bastante simples como se estrutura uma empresa em termos de níveis organizacionais (ANDRADE, 2012). Acompanhe na Figura 3: Figura 3 – Os níveis organizacionais de uma empresa e suas atribuições Responsável pelas decisões que afetam a empresa como um todo. Responsável pelas decisões que afetam as áreas funcionais. Responsável pela programação e execução das tarefas. Nível institucional Nível intermediário Nível operacional Fonte: Elaborada pelo autor com base em Andrade, 2012, p. 13. Vídeo Planejamento Estratégico18 O nível institucional (ou corporativo) ocupa o topo da pirâmide organizacional. É nesse nível que se situam a alta direção da empresa, sua presidência, diretores e o conselho de administração9. Esse nível é responsável pelas maiores decisões estratégicas da empresa como em que setores atuará e que linhas de negócios serão desenvolvidas.Já o nível intermediário está subordinado hierarquicamente ao nível institucional. É responsável pelos departamentos e pelas divisões da empresa. É nesse nível que são tomadas as decisões relativas às estratégias funcionais. Em seguida, temos o nível operacional, na base da pirâmide e subordinado ao nível intermediário. Neste são tomadas as decisões relativas à execução das várias rotinas e tarefas, entre as quais o envio de produtos aos clientes e a manutenção de equipamentos. Podemos relacionar os níveis de planejamento aos níveis organizacionais descritos anteriormente e, dessa forma, entender melhor como a estratégia se desdobra pela organização desde o seu topo até sua base. Segundo Chiavenato e Sapiro (2009, p. 30, grifo nosso) há três níveis de planejamento: Planejamento estratégico: trata-se do planejamento mais abrangente, que envolve a organização como um todo e se preocupa em definir e atingir os objetivos de longo prazo. Seu conteúdo é genérico e não está relacionado aos detalhes específicos de um departamento ou unidade de negócios em particular. Planejamento tático: é o planejamento desenvolvido dentro dos departamentos, áreas ou unidades da organização. Seus objetivos são formulados a partir dos objetivos estratégicos que foram desenvolvidos pela corporação em seu nível mais elevado. Seu horizonte de tempo é o médio prazo, em geral, um ano e é mais detalhado do que o planejamento estratégico. Planejamento operacional: é o planejamento que se faz para as atividades do dia a dia, envolve cada tarefa de forma isolada e é bastante detalhado, devendo seguir normas e protocolos específicos. São essas atividades rotineiras da organização que irão construir e consolidar o planejamento tático dentro de cada departamento. O Quadro 2 mostra os três níveis de planejamento em uma organização. Quadro 2 – Os níveis de planejamento em uma organização Planejamento Horizonte Temporal Abrangência Conteúdo Estratégico Longo prazo Aborda a organização como um todo. Genérico Tático Médio prazo Contempla cada unidade da organização separadamente. Detalhado Operacional Curto prazo Micro-orientado. Aborda cada tarefa ou cada operação separadamente. Especíco Fonte: Elaborado pelo autor com base em Chiavenato e Sapiro, 2009, p. 31. 9 Conselho de administração ou conselho administrativo é um órgão colegiado presente em muitas empresas e que tem o objetivo de garantir o alinhamento das condutas de seus dirigentes ao direcionamento estratégico dos negócios (ENDEAVOR BRASIL, 2015). O conceito de planejamento estratégico 19 Quando nos referimos ao longo prazo, entendemos períodos de tempo acima de três anos. De modo geral, as organizações vislumbram seu planejamento estratégico para os próximos cinco ou dez anos. Dependendo do setor, esse horizonte de tempo pode chegar a vinte ou trinta anos, como no caso de empresas do ramo de mineração, concessionárias de rodovias ou de geração e distribuição de energia elétrica. Esses são casos de negócios de maturação lenta, investimentos elevados e que dependem, em grande parte, de regulação governamental. Já o médio prazo se refere ao planejamento anual de um determinado departamento e o curto prazo, relacionado às operações e às tarefas, pode ser reduzido a trimestres, meses e até mesmo semanas, dependendo do ramo de atuação. O importante, em qualquer um desses níveis, é realizar um acompanhamento periódico e com regras claras que permitam verificar se estão ocorrendo conforme o planejado e se eventuais correções são necessárias. A Figura 4 mostra como os três níveis de planejamento se relacionam entre si e apresenta como se dá o detalhamento desses níveis, partindo do nível mais genérico e abrangente, o nível estratégico, até o nível mais específico que engloba as operações da empresa. Figura 4 – Desdobramento dos níveis de planejamento Planejamento operacionalPlanejamento táticoPlanejamento estratégico Treinamento SeleçãoPlanejamento de RH Divulgação Plano de vendas Pesquisa de mercadoPlanejamento de marketing Orçamento InvestimentosPlanejamento nanceiroPlanejamento estratégico Fonte: Elaborada pelo autor com base em Andrade, 2012, p. 15. Podemos observar que o planejamento estratégico se desdobra no planejamento tático a ser elaborado e executado pelos vários departamentos da empresa, como financeiro, marketing e recursos humanos, indicados na Figura 4. Muitos outros departamentos poderiam ser citados como produção, tecnologia da informação, entre outros. Cada empresa possui uma arquitetura organizacional adequada à sua cultura e à sua maneira de conduzir seus negócios. Imaginemos, com base na Figura 4, que a alta direção de uma empresa que vende móveis residenciais definiu, como um de seus objetivos de longo prazo, tornar-se uma das líderes no Planejamento Estratégico20 mercado nacional. Considerando esse objetivo, também denominado como visão de longo prazo, é estabelecida uma estratégia a fim de tornar a empresa a de maior faturamento do mercado nesse ramo. Observemos que a palavra líder utilizada no início do parágrafo anterior pode ser entendida de diversas maneiras. A empresa pode ser líder por ser reconhecida como aquela que fornece os móveis de melhor qualidade; pela abrangência territorial; ou por apresentar o maior volume de vendas. Ao decidir pelo caminho de se tornar líder em faturamento10 no mercado nacional, a empresa está assumindo um norte, uma direção a ser seguida e deverá levar consigo todos os departamentos e equipes que dela fazem parte. Com base nessa estratégia corporativa, serão desenvolvidos os planejamentos de cada departamento, ou seja, seus planejamentos táticos. Por exemplo, dado que o objetivo primordial é o de se tornar líder em faturamento, o departamento de marketing deverá trabalhar de maneira intensa buscando obter o reconhecimento, por parte dos clientes, da marca de móveis comercializados pela empresa. Para isso, esse departamento proporá ações de divulgação da marca por meio de propagandas, anúncios em revistas especializadas etc. Poderá, ainda, estabelecer parcerias com imobiliárias e incorporadoras para divulgar seus produtos a pessoas que estão buscando comprar uma residência. Feiras e eventos desse setor também são ocasiões em que pode ser interessante apresentar a linha de produtos. Essas ações de marketing e vendas certamente custarão dinheiro e o departamento financeiro também deverá realizar seu planejamento de forma a viabilizar e controlar a obtenção e o uso desses recursos. A área ou departamento de recursos humanos, por sua vez, deverá analisar se a empresa conta com profissionais capacitados e em número suficiente para levar a cabo o planejamento originado no departamento de marketing. Caso seja detectada alguma deficiência na equipe de vendas, ações corretivas deverão ser tomadas, como promover cursos de atualização ou treinamentos em determinadas funções ou buscar profissionais de destaque no mercado. Note-se que, com base na estratégia definida pelo nível mais alto da organização, uma série de planos é estabelecida e cada plano origina uma grande quantidade de ações específicas que envolvem todos os profissionais da empresa. Como citamos anteriormente, é extremamente importante que essas ações sejam coerentes e bem coordenadas entre si (lembre-se de que ações racionais são um dos pilares de uma boa estratégia). Cabe às lideranças da empresa conduzir os diversos processos da maneira mais eficiente possível, utilizando os recursos de modo inteligente, estabelecendo as sinergias entre os diversos departamentos e verificando periodicamente os resultados parciais que forem sendo atingidos ao longo do caminho. 10 Ao mencionarmos aturamento, estamos nos reerindo ao volume inanceiro das vendas e não à quantidade de itens vendidos. O conceito de planejamento estratégico 21 1.4 As escolas de estratégia Quando utilizamos o termo escola, estamos nos referindo a um conjunto de conceitos, doutrinas e práticasque caracterizam uma determinada linha de atuação ou de hipóteses. Dessa forma, é comum nos referirmos a escolas filosóficas, políticas ou científicas, entre outras. Cada uma delas reúne adeptos e possui determinadas formas de pensar sobre os mais variados assuntos. O mesmo ocorre no campo da estratégia. Há diversas tendências e maneiras de se encarar a estratégia, seja em sua concepção como também em sua execução. Como temos visto até aqui, o planejamento estratégico de uma empresa é um processo que pode se tornar complexo, pois precisa considerar uma série de fatores, tanto internos quanto externos, e um conjunto de variáveis que podem mudar rapidamente ao longo do tempo. Em geral, uma empresa formula sua estratégia de acordo com as vontades de seus dirigentes, e a decisão final quase sempre é tomada por seu executivo principal, o CEO11, que é o profissional no maior posto dentro da hierarquia operacional de uma organização. Mesmo assim, essa decisão final passa por uma série de considerações e pode envolver um grande número de profissionais. Embora o planejamento estratégico seja um processo predominantemente racional e metódico, o lado emocional e intuitivo não deve ser descartado. As contingências ambientais e sociais, bem como a cultura organizacional, influenciam fortemente as decisões do estrategista. Nesse sentido, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) chamam atenção para as estratégias emergentes, aquelas que acabam se realizando sem que fossem totalmente pretendidas. É natural que isso ocorra em um ambiente competitivo sujeito a mudanças constantes. Esperar que um cenário se realize exatamente conforme o planejado não costuma funcionar na maioria dos casos. Por que devemos conhecer as escolas de estratégia? Tão importante quanto conhecer é entender quais as características predominantes de cada uma dessas escolas e por que algumas empresas seguem determinada linha de atuação ao passo que outras seguem doutrinas completamente diferentes. Conhecer a escola de estratégia adotada por uma organização permite compreender suas motivações, seu modo de atuar, suas possíveis reações a determinados acontecimentos etc. Pode ser extremamente útil para que você compreenda como funciona a empresa em que atua, bem como para entender e, com um pouco de sorte, antever os movimentos de seus concorrentes. De modo geral, empresas acabam adotando conceitos e práticas de mais de uma escola e testam aquilo que funciona melhor tendo em vista o momento e o ambiente em que estão inseridas. 11 CEO: do inglês chief executive officer. Pode receber também o título de diretor executivo ou ser uma função exercida pelo presidente da empresa. Vídeo Planejamento Estratégico22 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) apresentam dez escolas de estratégia em que pode ser colocada a grande maioria dos pensamentos e suas características principais (Quadro 3). Quadro 3 – Escolas de estratégia Escolas prescritivas Preocupam-se com o modo como as estratégias serão formuladas, descrevem fórmulas gerais para a criação das estratégias empresariais. • Design (concepção). • Planejamento (formal). • Posicionamento (analítico). Escolas descritivas Direcionam sua análise para o modo como as estratégias são formuladas, centram suas observações e explicações nos diversos fenômenos que podem criar as estratégias empresariais. • Empreendedora (visionária). • Cognitiva (mental). • Aprendizado (emergente). • Poder (negociação). • Cultural (coletivo). • Ambiental (reativo). • Conguração. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, 2010. A seguir, veremos cada uma dessas dez escolas que reforçam uma maneira distinta de formular as estratégias de pensamentos. 1.4.1 Escola do Design Procura conceber a estratégia como um processo que adéqua os fatores internos de uma organização (seus pontos fortes e pontos fracos) aos fatores externos (oportunidades e ameaças). Essa escola destaca a importância de aprimorar seus pontos fortes e apontá-los no sentido das oportunidades que surgem no mercado, ao mesmo tempo que tenta corrigir seus pontos fracos12 e construir defesas ou planos de contingência que permitam se proteger das ameaças. Apesar de simples, essa escola é bastante específica quanto à elaboração de sua metodologia, ou seja, a análise dos fatores internos e externos é feita de forma criteriosa e busca consolidar a vantagem competitiva que a empresa já possui em sua área de atuação. Alguns críticos apontam o excessivo centralismo, por parte do CEO ou executivo estrategista, na elaboração da estratégia e de uma visão relativamente estreita quanto à sua implementação. De acordo com eles, essas características podem gerar falta de engajamento e baixo grau de comprometimento por parte dos profissionais envolvidos nos diversos níveis hierárquicos da empresa. 1.4.2 Escola de Planejamento Surgiu na mesma época da escola do design e bebeu da mesma fonte, analisando os fatores internos (pontos fortes e pontos fracos) e os fatores externos (oportunidades e ameaças). No entanto, impõe procedimentos e controles formais e introduz os conceitos de objetivos e metas quantitativos para verificar a efetividade da estratégia. Introduziu a construção de cenários, atividade que consiste em tentar prever e se preparar para aquilo que o futuro trará. A formalização 12 Esses pontos serão apresentados com maior proundidade no Capítulo 4, quando tratarmos da matriz SWOT. O conceito de planejamento estratégico 23 do processo de elaboração da estratégia é apontada como algo que gera muita burocracia e que engessa a criatividade em um momento em que a empresa deveria estar mais aberta à inovação. O centralismo exercido pelo CEO, como visto na escola do design, é complementado por “um quadro de planejadores altamente educados, uma parte de um departamento especializado de planejamento estratégico com acesso direto ao executivo principal” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010, p. 58). Esse modelo, extremamente rígido e formal, acaba desencorajando os gerentes, responsáveis pela operação e que preferem sistemas mais ágeis, que possam ser adaptados à “vida real” da empresa. 1.4.3 Escola de Posicionamento Se há um nome que se confunde com essa escola de estratégia é o de Michael Porter. Em 1980, com o lançamento de seu livro Estratégia Competitiva13, introduziu os elementos de uma análise profunda baseada tanto em princípios econômicos quanto naqueles advindos das estratégias militares. “A ideia fundamental é que o estrategista é basicamente um analista da situação ambiental e um construtor de hipóteses de ação a respeito dela” (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p. 41). A escola de posicionamento pega emprestados muitos dos conceitos das escolas anteriores, como o centralismo observado na figura de um estrategista principal e o formalismo, por vezes burocrático e fora do contexto real em que a organização está inserida. Mas, ao contrário das escolas anteriores, Porter (1996) limita ainda mais as opções de escolha das estratégias possíveis. Para o autor, a empresa deve escolher uma de três estratégias genéricas que se apresentam (Quadro 4): Quadro 4 – Estratégias genéricas Liderança em custos A empresa decide que sua vantagem competitiva virá de sua capacidade de fornecer produtos e serviços a custos menores que seus concorrentes. Dessa forma, praticando preços menores, será capaz de obter uma grande participação de mercado. Diferenciação Ao adotar essa estratégia genérica, a empresa busca se destacar no mercado ao oferecer características que sejam percebidas como únicas pelos consumidores, como novas tecnologias, atendimento personalizado etc. Nicho Também conhecido como estratégia de enoque, esse posicionamento busca atuar em um segmento bastante especíco, por meio da especialização. Com isso, a empresa pretende atuar com um nível baixo de concorrência e obter maiores lucros. Como exemplo, podemos citar uma empresa com atuação geográca emapenas uma região especíca, ou que atenda um público de aixa etária bem denida (apenas crianças ou pessoas idosas, por exemplo). Fonte: Elaborado pelo autor com base em Porter, 1996. Podemos dizer que a escola de posicionamento definiu a metodologia de planejamento estratégico a partir dos anos de 1980 e trouxe consigo toda uma nova indústria de serviços de consultoria. Empresas como Boston Consulting Group, McKinsey e Ernest Young, apenas para citar algumas, fortaleceram suas posições nessa época e têm presença global até hoje. As críticas a essa escola, além do centralismo excessivo também mencionado nas escolas do design e do planejamento, são no sentido de que ela se preocupa demasiadamente em 13 Título original: Competitive Strategy (FREE PRESS, 1980). Planejamento Estratégico24 buscar adequação ao ambiente competitivo externo em vez de valorizar as capacidades internas, tornando a empresa um competidor muito mais reativo do que buscando inovação e desenvolvimento estratégicos. O próprio Michael Porter já rebateu esse tipo de crítica ao afirmar que, apesar da importância de a empresa estar sempre atenta às mudanças no mercado, na sociedade e nas tecnologias, os fundamentos básicos de compreensão do ambiente externo e de busca por vantagem competitiva permanecem extremamente importantes. Ao longo dos nossos estudos nos aprofundaremos nas teorias e técnicas de Porter. Apesar de contestados por alguns, seus ensinamentos são largamente utilizados até hoje e mantêm uma reputação de destaque no mercado. É importante observamos que as três primeiras escolas, apresentadas até agora (ver Quadro 2), possuem caráter prescritivo, “mais preocupadas em como as estratégias devem ser formuladas do que em como elas necessariamente se formam” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010, p. 21). Assim, essas escolas apresentam normas rígidas para a formulação da estratégia e um roteiro padronizado que pode ser aplicado à grande maioria das organizações que atuam em ambientes competitivos. As escolas que veremos a seguir são denominadas descritivas, pois buscam explicar como as estratégias são, de fato, formuladas. Apresentam uma natureza mais criativa e entendem a cultura interna como um fator de alta relevância no processo de construção das estratégias. 1.4.4 Escola Empreendedora Apesar de esta escola não possuir o formalismo e o caráter normativo das escolas anteriores, ainda existe a natureza centralizadora na figura de seu principal executivo. Entretanto, o que se observa aqui é a formação de um verdadeiro culto em torno do líder da organização. De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010, p. 128), “a escola empreendedora [...] não só focalizou o processo de formulação de estratégia exclusivamente no líder único, mas também enfatizou o mais inato dos estados e processos – intuição, julgamento, sabedoria, experiência, critério”. Esse líder visionário não elabora a estratégia de forma organizada e sim como uma perspectiva baseada em sua intuição, sabedoria e experiência. A estratégia surge de maneira informal da cabeça do líder, vai permeando a organização e se adaptando aos acontecimentos externos. Podemos lembrar alguns exemplos bastante marcantes desses líderes empreendedores, eventualmente chamados de gênios, como Steve Jobs (Apple), Bill Gates (Microsoft) e, mais recentemente, Jeff Bezos (Amazon) e Mark Zuckerberg (Facebook). O conceito de planejamento estratégico 25 Esses líderes foram capazes de criar seus negócios e desenvolvê-los sem uma estratégia inicial completamente formada, mas que foi se criando e se modificando conforme as reações do mercado. 1.4.5 Escola Cognitiva Define a formulação da estratégia como um processo mental desenvolvido na cabeça do estrategista. A cognição é um processo psicológico que está relacionado à obtenção de conhecimento e também à interpretação do mundo por parte do indivíduo (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010). Podemos notar, então, que a organização fica extremamente dependente da capacidade de seu estrategista de interpretar o mundo ao seu redor e propor as maneiras mais adequadas de conduzir os negócios. 1.4.6 Escola de Aprendizado Apresenta duas características principais: a experimentação e o envolvimento e trata a estratégia como um processo emergente. Os indivíduos e as equipes buscam aprender ao longo do tempo, obter feedback do ambiente e aprimorar sua forma de agir. Aos gerentes cabe liderar e organizar esse processo de aprendizado. De modo geral, os responsáveis pela formulação da estratégia partem de hipóteses construídas com base no conhecimento passado e aplicam essas hipóteses em busca de resultados satisfatórios. O processo ocorre de forma cíclica (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010). Esse conceito é muito utilizado em startups14 e veremos em maiores detalhes no Capítulo 8. Um dos problemas apontados nesse tipo de formulação estratégica, baseado em tentativa e erro, é o custo decorrente dessas tentativas. Empresas grandes podem ter dificuldades em construir um ciclo de aprendizado de forma ágil. 1.4.7 Escola de Poder Para Chiavenato e Sapiro (2009), a escola de poder se caracteriza por um intenso processo de negociação sujeito a influências internas e externas e à defesa de determinados interesses. Se lembrarmos as três primeiras escolas apresentadas (design, planejamento e posicionamento), havia excessiva concentração de poder nas mãos do executivo principal; nesta escola, porém, diversos indivíduos e grupos brigam por fazer prevalecer sua visão de como a empresa deveria atuar no ambiente de negócios. Imaginemos uma empresa com várias divisões e atuando em diferentes setores. É natural esperar que gerentes e diretores pressionem a alta direção buscando favorecer suas áreas de poder. Mesmo em empresas pequenas, esse tipo de disputa pode aparecer e precisa ser gerenciado de forma produtiva, em nome do interesse corporativo. 14 Empresas nascentes, iniciantes. Para Ries (2012, p. 24), “uma startup é uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”. Planejamento Estratégico26 1.4.8 Escola Cultural Ao contrário da escola de poder, valoriza muito a identidade social da empresa e como ela se manifesta de forma coletiva. A formulação da estratégia é fortemente influenciada pelos valores construídos ao longo da história da organização e o poder é compartilhado em nome da empresa como um todo. Em geral, a empresa baseia sua atuação em alguma espécie de ideologia compartilhada e obtém daí sua vantagem competitiva (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010). 1.4.9 Escola Ambiental A escola ambiental “trata a estratégia como um processo reativo às circunstâncias externas” (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p. 44). Provém da teoria da contingência em que as organizações, de forma passiva, buscam responder às forças externas à medida que elas aparecem. Não se espera nessa escola um planejamento estratégico criterioso ou mesmo documentado visto que a dinâmica adotada pela empresa vai no sentido contrário. 1.4.10 Escola de Configuração Entende a estratégia como um processo de transformação que busca configurar a organiza- ção conforme as mudanças ocorridas no mercado. Ao contrário da escola ambiental, a organização não adota uma atitude passiva, mas busca participar ativamente do ambiente reconhecendo os períodos de estabilidade e também aqueles de mudanças rápidas (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010). As empresas adeptas dessa escola se caracterizam por não ter medo de romper com sua estrutura e seu planejamento vigente sempre que necessário. Com base nessas considerações, vimos que cada escola traz suas especificidades e muitas empresas, mesmo sem saber, utilizam determinadas referências dessas escolas na formulação de suas estratégias e testam aquilo que funciona melhor no momento e no ambiente em que estão inseridas. Considerações finais Neste primeiro capítulo, abordamos conceitos sobre o planejamento estratégicoe compreendemos que o ato de planejar faz parte do dia a dia de todas as pessoas. Quanto mais o planejamento for embasado em técnicas de qualidade comprovada, melhores deverão ser os resultados alcançados. Vimos também que a estratégia é a maneira pela qual podemos atingir determinados objetivos. Com base nisso, podemos perceber que as empresas vivem em um mundo competitivo, competem por recursos, por clientes, por reconhecimento. Mesmo as organizações sem fins lucrativos ou entidades governamentais cuja finalidade não é, devido à sua própria natureza, gerar lucro, devem conduzir, da forma mais eficiente possível, suas operações no sentido de atingir seus objetivos e metas. O conceito de planejamento estratégico 27 Os pilares para uma boa estratégia são processos de formulações que não se encerram e devem estar sujeitos à avaliação permanente conforme se perceba essa necessidade. A essência do planejamento estratégico está na sua execução: é preciso que saia do papel e seja colocado em prática no dia a dia da empresa. De modo geral, o que se pretende, por meio da estratégia, é definir qual a melhor forma, qual o melhor caminho para se atingir determinado objetivo. Não se trata apenas de escolher o melhor caminho, mas também de construí-lo. As diversas escolas de estratégia apresentadas são tentativas de buscá-lo. Veremos, nos próximos capítulos, muitas de suas ferramentas e metodologias. Ampliando seus conhecimentos • FOME DE PODER. Título original: The Founder. Produção: Don Handfield, Karen Lunder, Jeremy Renner e Aaron Ryder. Roteiro: Robert Siegel. Direção: John Lee Hancock. Estados Unidos: Diamond Films, 2016. 1DVD de vídeo (115 min.), DVD, son. color. O filme conta a história da rede de lanchonetes McDonald’s, desde seu início em uma pequena cidade na Califórnia, Estados Unidos, até se tornar um dos maiores símbolos do capitalismo e da globalização. É muito interessante ver como Ray Kroc, um vendedor de máquinas misturadoras de milk-shakes, conheceu os irmãos McDonald em 1954 e percebeu como o conceito de produtividade e agilidade no atendimento poderia ser expandido territorialmente e por meio de franquias. • PORTER, M. E. What is strategy? Harvard Business Review. Cambridge, MA, EUA, p. 4-21, nov-dez, 1996. Disponível em: http://www.syv.pt/login/upload/userfiles/image/ Reinventing%20Your%20business%20model%20HBR.pdf. Acesso em: 11 jun. 2019. No artigo adaptado “O que é estratégia?”, publicado na Harvard Business Review, em sua edição de novembro-dezembro de 1996, seu autor, Michael Porter, responde a muitos de seus críticos e diferencia estratégia de eficiência operacional. • TZU, Sun. A arte da guerra. Tradução de Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006. Muito do que vimos sobre estratégia vem de tratados militares antigos que buscavam definir as melhores formas de subjugar inimigos e conquistar territórios e riquezas. Um dos estrategistas, que viveu há cerca de 2.500 anos e recentemente voltou a ser reconhecido e admirado, foi Sun Tzu (2006), um general filósofo chinês que concentrou seus conhecimentos na obra A arte da guerra. No livro, Sun Tzu descreve planos de campanhas militares, gestão de tropas, estratégias de defesa e ataque e como se adequar às condições de terreno, clima, entre outros. Planejamento Estratégico28 Atividades 1. Dena os conceitos de objetivo e meta e dê um exemplo que permita identicar suas diferenças. 2. Quais são os três níveis de planejamento de uma organização e suas características principais? 3. Descreva, de maneira simples, as principais diferenças entre as escolas de estratégia prescritivas e as escolas de estratégia descritivas. Referências ANDRADE, A. R. de. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. São Paulo: Atlas, 2012. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. ENDEAVOR Brasil. Qual o papel de um conselho administrativo na minha empresa? 2015. Disponível em: https://endeavor.org.br/tomada-de-decisao/papel-conselho-administrativo-empresa/. Acesso em: 11 jun. 2019. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2010. OSTERWALDER, A.; PIGNEUR, Y. Business model generation – inovação em modelos de negócios: um manual para visionários, inovadores e revolucionários. Rio de Janeiro: Alta Books, 2011. PLANEJAMENTO. In: MICHAELIS: dicionário brasileiro da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2019. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/ planejamento/. Acesso em: 11 jun. 2019. PORTER, M. E. What is strategy? Harvard Business Review. Cambridge, MA, EUA, p. 4-21, nov-dez, 1996. Disponível em: http://www.syv.pt/login/upload/userfiles/image/Reinventing%20Your%20business%20 model%20HBR.pdf. Acesso em 17 jun. 2019. RIES, E. A startup enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extremamente bem-sucedidas. Rio de Janeiro: Leya, 2012. RUMELT, R. Estratégia boa, estratégia ruim: descubra suas diferenças e importância. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 2 Elaborando a estratégia No Capítulo 1 desta obra, vimos que a construção de uma estratégia eficaz depende de uma série de fatores e, para ilustrar essa afirmação, vimos o exemplo de uma viagem entre uma cidade A e uma cidade B. Em seguida, apresentamos uma série de questionamentos com o objetivo de nos ajudar na compreensão do desafio. Detalhes como a distância a ser percorrida, locais de parada e descanso, infraestrutura disponível e meios de transporte possíveis são alguns dos aspectos a serem considerados. Já neste segundo capítulo, veremos como elaborar o planejamento estratégico e compreenderemos que, quanto maior o nível de informação que tivermos, maior a nossa capacidade de planejamento e probabilidade de sucesso na jornada. Entretanto, convém considerar o imponderável: eventos imprevistos que, caso ocorram, podem causar grandes prejuízos ao empreendimento. Quando nos referimos a uma empresa, os detalhes e as características importantes a serem considerados passam pelo conhecimento do setor de atuação, o segmento, as peculiaridades desses mercados e, principalmente, aquilo que os clientes desejam. Esse conhecimento prévio serve como base para a elaboração da estratégia e permitirá planejar a necessidade e utilização dos recursos da melhor forma possível. Este capítulo trata justamente das maneiras de conhecer o caminho por meio da definição do negócio, os principais desafios dos dirigentes empresariais, as diferenças entre as visões míope e estratégica, o conceito da cadeia de valor, o modelo de negócios e a missão, a visão e os valores de uma empresa. Por meio desses conceitos, podemos elaborar uma espécie de mapa e uma forma de autoconhecimento empresarial. Quem somos? O que fazemos? Para quem fazemos? São algumas das perguntas cujas respostas buscaremos a seguir. 2.1 Definição do negócio A definição do negócio está relacionada, de forma ampla, ao mercado ou segmento em que a empresa atua e, de forma mais restrita, ao setor que ela atende. Quando nos referimos a um mercado ou um segmento da economia, estamos focando nossa atenção nos clientes, seus desejos e suas necessidades. Por outro lado, ao falarmos do setor de atuação, transferimos nossa atenção aos produtos e serviços que servirão para atender a determinados grupos de clientes (ANDRADE, 2012). Imaginemos, por exemplo, uma empresa fabricante de caminhões. De modo abrangente, podemos dizer que esse fabricante atua no mercado (ou segmento) de transporte de cargas. É importante ressaltar que o mercado de transporte de cargas pode ser bastante amplo e você já deve ter imaginado que os mais variados tipos de carga podem ser transportados não apenas porcaminhões como também por meio de aviões, navios etc. Vídeo Planejamento Estratégico30 No caso do nosso fabricante, ele atende ao mercado de transporte de cargas no setor específico de caminhões (transporte rodoviário). Mesmo após definirmos o setor de atuação, poderíamos ser mais específicos ao limitar os produtos de nosso fabricante de caminhões a veículos com capacidade de carga de até 10 toneladas ou destinados à circulação urbana, por exemplo. Nesse contexto, é extremamente importante que a alta direção da empresa e os responsáveis pela elaboração da estratégia saibam responder à seguinte pergunta: Qual é o nosso negócio? “O fato dessa pergunta ser feita tão raramente – ao menos de forma clara e direta – e de tão raramente receber a atenção adequada é, talvez, a principal causa de fracassos empresariais” (DRUCKER, 1981, p. 48). Partindo-se da premissa segundo a qual uma organização busca obter vantagem competitiva e se destacar de alguma forma no mercado, saber responder a essa pergunta é fundamental para auxiliar no processo de tomada de decisão. Estendendo o exemplo do fabricante de caminhões já mencionado para os mais variados segmentos, podemos destacar as necessidades dos dirigentes empresariais de desenvolver as seguintes posições (Quadro 1): Quadro 1 – Principais desafios dos dirigentes empresariais Identicar as oportunidades do mercado e estabelecer seus limites de atuação (oco). Perceber quais os benefícios esperados pelos clientes (valor). Reconhecer que tipo de produto/serviço a empresa deve ornecer para suprir as necessidades e os desejos dos clientes (setor). Estabelecer as características e as ormas como os produtos e os serviços serão ornecidos para atender e superar as expectativas dos clientes. Elaborar maneiras ecientes de comunicar e engajar toda a organização rumo aos objetivos e às metas estabelecidos. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Andrade, 2012. Para Chiavenato (2009, p. 86), é preciso estar atento às mudanças nas condições do mercado e se as premissas adotadas pela empresa continuam válidas ou se é necessário algum tipo de ajuste. “Na verdade deve-se questionar se ainda é válida a definição do negócio [...], quais são os clientes atendidos, quais são os públicos de interesse [...] e, principalmente, como deve ser o negócio?” (CHIAVENATO, 2009, p. 86). Por mais óbvio que a atenção às mudanças do mercado e às necessidades dos clientes deva ser constante, muitas empresas acabam por negligenciar certos aspectos do mundo dos negócios e comprometem seu sucesso e sua própria sobrevivência. Lembremos o caso da empresa Kodak, líder no setor de filmes fotográficos. A Kodak sofreu grandes perdas ao permanecer “presa” a esse setor quando uma grande parte de seus clientes migrava para a fotografia digital. Foi necessária uma redefinição em seus negócios para que a Elaborando a estratégia 31 Kodak pudesse sobreviver – ela chegou a pedir concordata1, em 2012, nos Estados Unidos – e atualmente fornece sistemas de solução de imagens para clientes empresariais e estúdios de cinema. Nessa perspectiva, Chiavenato (2009, p. 87) diz que um “negócio precisa ser visto como um processo de satisfação do cliente e não como um processo de produção de mercadorias”. A falta de uma visão abrangente do mercado ficou conhecida como miopia de marketing, termo cunhado por Levitt (1960) que descreve a forma estreita como algumas empresas enxergam seus negócios. Essa miopia impede que as organizações percebam certas oportunidades de negócios e passem a apresentar desempenho insatisfatório ou abaixo do mercado. Nem sempre o fato de atuar em uma porção restrita do mercado significa uma desvantagem ou a perda de oportunidades. Em muitas ocasiões, a empresa opta por atuar em um determinado nicho2 e se destacar ao atender um tipo específico de cliente. O que precisa ficar claro é que a empresa deve ter o pleno conhecimento do mercado e, com base nesse conhecimento, tomar suas próprias decisões estratégicas. O Quadro 2 mostra alguns exemplos de visão míope (restrita e limitante) e de visão estra- tégica (abrangente e com maiores oportunidades): Quadro 2 – Visão míope e estratégica de um negócio Empresa Negócio Visão míope (produtos e serviços) Visão estratégica (benefícios) Petrobras Petróleo e derivados Energia Abril Revistas Inormação e comunicação O Boticário Cosméticos Beleza e bem-estar Google Buscador Inormação e relacionamento Xerox Copiadoras Automação de escritórios Fonte: Elaborado pelo autor com base em Andrade, 2012, p. 25. As empresas mencionadas no quadro não necessariamente possuem a visão míope descrita, pelo contrário, muitas delas adotam a visão estratégica mais ampla e conseguem diversificar suas atividades, obtendo excelentes retornos financeiros. Alguns conceitos muito importantes que auxiliam na definição do negócio são a missão, a visão e os valores da organização. Veremos esses conceitos, com maior profundidade, ainda neste capítulo. 1 Concordata ou recuperação judicial são termos que indicam acordos elaborados entre uma empresa em dificuldades inanceiras e seus credores. Esses acordos são supervisionados por um juiz e compreendem a extensão de prazos de pagamento a ornecedores, órgãos governamentais etc. A ideia é dar condições à empresa de se recuperar e voltar a operar de forma adequada. 2 Segmento muito específico de clientes. Planejamento Estratégico32 2.2 Cadeia de valor A ideia ou conceito de cadeia de valor busca identificar as atividades internas de uma empresa e defini-las de forma a nos permitir entender o ciclo de transformação e de geração de valor para o consumidor. Utilizaremos, em nosso estudo, o modelo de cadeia de valor proposto por Porter (1989) que é composto de atividades primárias e atividades de apoio, desenhadas estrategicamente de forma a atender aos objetivos da organização. Esse modelo pode ser visto na Figura 1. Figura 1 – A cadeia de valor de Porter At iv id ad es d e s up or te Infraestrutura da empresa Desenvolvimento tecnológico Gestão de recursos humanos Gestão de compras Margem Margem Lo gí sti ca d e e nt ra da O pe ra çõ es Lo gí sti ca d e s aí da M ar ke tin g e v en da s Se rv iço s Atividades primárias Fonte: Elaborada pelo autor com base em Porter, 1989, p. 35. Na parte inferior da Figura 1, temos as atividades primárias da empresa, que fazem parte do processo geral, conforme passamos a descrever: • Logística de entrada: compreende o conjunto de atividades necessárias para trazer as matérias-primas, insumos e demais materiais para dentro da empresa. • Operações: conjunto de atividades de transformação das entradas (insumos e matérias- -primas) em produtos finais. • Logística de saída: são as atividades de expedição dos produtos finais, ou seja, envio aos clientes. Esses clientes podem ser consumidores finais ou intermediários como lojas, depósitos etc. • Marketing e vendas: são as atividades que compõem a comercialização dos produtos. • Serviços: atividades de pós-venda como assistência técnica, treinamentos, garantia etc. A estrutura apresentada pode variar de empresa para empresa e depende do setor de atuação, entretanto, de modo geral, o modelo é útil para analisarmos o fluxo das atividades de forma genérica. Um aspecto importante a ser destacado é o fato de que a empresa não é uma entidade isolada e, por essa razão, sofre constante influência de seu meio ou do mercado em que ela atua. Vídeo Elaborando a estratégia 33 Podemos dizer que uma empresa, representada por sua cadeia de valor, está inserida em um sistema de valor que é o conjunto de várias empresas dentro de um mercado. Estas podem ser concorrentes, fornecedores e parceiros de negócios. Passemos a analisar as atividades de suporte: • Gestão de compras: trata-se do conjunto de atividades responsáveis pela aquisição de insumos e matérias-primas para as operações de transformação que ocorrem dentro da empresa. Essasatividades incluem o desenvolvimento de fornecedores, controle de qualidade dos materiais recebidos, entre outras. • Desenvolvimento tecnológico: corresponde às ações de aprimoramento dos processos e das técnicas utilizadas por toda a empresa. Fornece suporte para áreas como engenharia, pesquisa, qualidade etc. É uma atividade extremamente importante na obtenção de vantagem competitiva e acompanhamento da evolução dos mercados. • Gestão de recursos humanos: aqui estão concentradas as atividades de recrutamento e seleção, desenvolvimento de funcionários, políticas de salários e benefícios etc. • Infraestrutura da empresa: compreende as atividades exercidas pela direção da empresa e dos departamentos como finanças, contabilidade, apoio jurídico, planejamento e governança corporativa. É essa estrutura que, normalmente, monitora e adéqua as demais áreas para que as operações possam fluir de maneira eficiente e integrada. Do lado direito da Figura 2 aparece a palavra margem, que é a diferença entre os custos de produção (atividades primárias e atividades de suporte) e os preços pagos pelos clientes. O grande objetivo da organização é, portanto, o de criar valor para os compradores de modo que os preços pagos sejam maiores do que os custos de fabricação dos produtos e serviços fornecidos pela organização (PORTER, 1989). A alta direção da empresa e seu corpo gerencial devem buscar constantemente oportunidades de diminuição de custos e otimização de recursos, o famoso “fazer mais com menos”. Custos e procedimentos devem ser comparados aos dos concorrentes como benchmark3, pois sua vantagem competitiva será obtida quando conseguir “desempenhar certas atividades melhor e mais barato do que seus concorrentes” (CHIAVENATO, 2009, p. 138). Porter (1989, p. 31) diz que uma “empresa ganha vantagem competitiva executando essas atividades (cadeia de valor) de uma forma mais barata ou melhor do que a concorrência”. Um dos grandes desafios de qualquer empresa é o de tornar cada uma de suas atividades o mais eficiente possível, mas o que talvez seja o grande fator de obtenção de vantagem competitiva é a capacidade de uma organização em atuar de forma coordenada e integrada na realização de todas as suas atividades. Isso pode parecer óbvio, mas é muito comum observar empresas que trabalham com verdadeiros “feudos de poder”, departamentos e setores isolados em que se busca maximizar resultados de curto prazo em nome de interesses próprios. 3 Benchmark são as empresas consideradas referência em seus setores ou mercados de atuação. O processo de benchmarking consiste em comparar as estratégias e operações de uma organização com outras de modo a identificar as melhores práticas e buscar adaptá-las à sua realidade de modo a melhorar seu desempenho (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p. 206). Planejamento Estratégico34 Imaginemos o exemplo de uma empresa que está para fechar uma grande venda de um equipamento e o seu departamento jurídico demora para elaborar ou aprovar o contrato. É claro que um contrato pode ser complexo e exigir atenção aos muitos detalhes que dele fizerem parte, mas uma demora excessiva acaba frustrando os vendedores e, eventualmente, os clientes. Mais uma vez, vale reforçar que a estrutura de uma empresa depende da estratégia a ser adotada – veremos mais detalhes no Capítulo 3, as estratégias genéricas adotadas por uma empresa – e também de outros fatores como sua cultura, seu porte e suas relações de poder interno e externo. 2.3 O modelo de negócios O modelo de negócios definido e adotado por uma empresa busca complementar as informações obtidas nas fases anteriores de definição do negócio e do desenho da cadeia de valor. Mas, além de complementar as etapas citadas, permite enxergar a empresa como uma máquina ou um sistema de geração e troca de valor. “Um modelo de negócios descreve a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização” (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011, p. 14). A Figura 2 representa alguns dos valores que podem ser trocados entre uma empresa e o mercado. Figura 2 – A troca de valor entre uma empresa e o mercado EMPRESA MERCADO VALOR FORNECIDO • Produtos • Serviços • Conveniência • Conforto VALOR RECEBIDO • Recursos nanceiros • Reputação • Participação de mercado Fonte: Elaborada pelo autor. Conforme apresentado na Figura 2, o relacionamento entre uma empresa e o mercado se dá pela troca de diversos elementos que podem ser agrupados sob a denominação de valor. O valor fornecido por uma empresa aos seus clientes se manifesta por meio de produtos e serviços que atendam a determinados desejos e necessidades. Por outro lado, o valor recebido pela empresa ocorre, de modo geral, pelo pagamento daquilo que foi fornecido aos clientes. A percepção, por parte do mercado, de que uma determinada empresa é capaz de fornecer aquilo que os clientes desejam permite a construção de uma marca valiosa e de uma imagem que pode se transformar em uma grande vantagem competitiva. Vídeo Elaborando a estratégia 35 Em 2010, os autores Alexander Osterwalder e Yves Pigneur publicaram o livro Business model generation4 e lançaram o conceito de Quadro de Modelo de Negócios ou Canvas5, como passou a ser conhecido do grande público (Figura 3). Figura 3 – O Canvas Parcerias principais Atividades- -chave Proposta de valor Relacionamento com clientes Segmento de clientes Recursos principais Canais Estrutura de custos Fontes de receita Fonte: Elaborada pelo autor com base em Osterwalder e Pigneur, 2011, p. 18-19. O Quadro do Modelo de Negócios ou, simplesmente, Canvas, mostra nove componentes (os blocos apresentados na figura) que, agrupados, permitem enxergar a estrutura de uma empresa. De forma similar ao que apresentamos com a cadeia de valor de Porter, o Canvas é uma representação gráfica que busca facilitar a compreensão da dinâmica de análise do mercado e seus diversos fatores, da elaboração de estratégias para atender esse mercado e da estrutura organizacional adequada para aplicar a estratégia no mundo real. A ideia por trás da elaboração do Canvas é permitir uma visualização rápida do que está acontecendo com os negócios da empresa e auxiliar a tomada de decisões relativas a cada um dos componentes descritos na Figura 3. Passaremos, agora, a descrever cada um dos componentes do Canvas. 2.3.1 Segmentos de clientes Segundo Osterwalder e Pigneur (2011), um segmento de clientes é composto de consumidores que possuem necessidades semelhantes e que podem ser atendidos de forma similar. Podemos citar alguns exemplos de segmentos de clientes: • Mercado de massa: grupo uniforme de clientes com necessidades e desejos semelhantes. • Mercado segmentado: dividido por algum tipo de critério como faixa etária, faixa de renda ou escolaridade. • Nicho de mercado: segmentos com necessidades ou desejos bastante específicos, por exemplo, segmento de alto luxo ou segmento de pessoas idosas que necessitam de determinados cuidados especializados. Não é por acaso que começamos a analisar o Canvas pelo quadro que representa os clientes, afinal, é por causa deles, para atender às suas necessidades e desejos que a empresa existe. 4 Título original: Business model generation: a handbook for visionaries, game changers, and challengers. Publicado nos Estados Unidos, em 2010, por John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. 5 O termo canvas se refere, originalmente, a um tecido grosso usado para fazer roupas e como tela para pintura. Planejamento Estratégico36 2.3.2 Proposta de valor De modo geral, enxergamos as entregas de uma empresa aos seus clientes sob a forma de produtos e serviços. Modernamente, utilizamos o conceito de valor para representar a forma como uma empresa satisfaz as necessidades e os desejos de seus clientes (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011). Ao nos referirmos à proposta de valor, estamos explicitando o conjunto ou pacote de benefícios oferecidos aos clientes. Entre as várias possibilidadesde valor oferecidas aos clientes, podemos citar: conveniência, preço, utilidade, praticidade, personalização, status, inovação e muitas outras propostas de valor. 2.3.3 Canais Quando nos referimos aos canais, estamos descrevendo os meios pelos quais a empresa e seus clientes se relacionam de modo a adquirir produtos e serviços, conhecer novos lançamentos e prestar suporte ao cliente sempre que necessário. Segundo Osterwalder e Pigneur (2011, p. 26), “o componente canais descreve como uma empresa se comunica e alcança seus segmentos de clientes para entregar uma proposta de valor”. Há diversos tipos de canais para atender aos mais variados segmentos de clientes: lojas físicas próprias ou revendedores, site na internet, catálogos impressos, vendedores que atendem por telefone, centrais de atendimento aos clientes e vários outros. 2.3.4 Relacionamento com clientes Cada organização deve estabelecer a melhor forma de se relacionar com cada um de seus segmentos de clientes. O objetivo de se estabelecer um tipo de relacionamento específico com cada segmento busca conquistar e fidelizar clientes e aumentar as vendas. De modo geral, o relacionamento pode variar desde o atendimento pessoal até o atendimento automatizado (OSTERWALDER, 2011). O tipo de relacionamento com os clientes conecta-se aos canais, vistos no item anterior, mas não deve ser confundido. Por exemplo, se um dos canais for o de lojas físicas, podemos ter diferentes formas de relacionamento. Algo que observamos comumente em nosso dia a dia são agências bancárias exclusivas para o segmento de clientes com investimentos elevados. As denominações como Bradesco Prime, Itaú Personnalité ou Estilo (Banco do Brasil) denotam uma forma diferente de se relacionar com seus clientes, por meio de agências luxuosas e gerentes dedicados. 2.3.5 Fontes de receitas Compreendem as várias formas como o dinheiro, obtido pelo fornecimento de valor aos clientes, entra no caixa da empresa. Quanto maior e mais complexa for uma empresa, maiores poderão ser as fontes de receitas. Uma loja de roupas, por exemplo, obtém receita por meio da venda de seus produtos. Uma operadora de celular pode obter receitas por meio da comercialização Elaborando a estratégia 37 de aparelhos, venda de cartões pré-pagos e assinaturas de pacotes com cobrança mensal (como operadoras de TV a cabo e provedores de aluguel de filmes e música pela internet). Há também a modalidade de licenciamento em que uma empresa permite o uso de sua propriedade intelectual por meio de taxas. A Disney, por exemplo, o faz ao licenciar o uso de seus personagens em cadernos escolares ou alimentos infantis. 2.3.6 Recursos principais São os recursos necessários para que o negócio funcione. Cada setor, devido às suas características, exige recursos específicos em determinadas áreas. Uma empresa que atua no setor industrial necessita de fábricas, equipamentos, redes de distribuição etc. Empresas como a Nike ou a Microsoft dependem de capacidade intelectual para desenvolver sua marca e suas tecnologias. Hospitais e clínicas, além de sua estrutura física, dependem muito de pessoas competentes e equipes capacitadas. 2.3.7 Atividades-chave Cada empresa, em seu respectivo setor de atuação, deve realizar uma série de ações para que seu modelo de negócios funcione, ou seja, para que seus clientes sejam atendidos, para que seus produtos sejam fabricados etc. Em uma empresa fabricante de automóveis, as atividades- -chave desenvolvidas consistem na montagem de peças, pintura, testes, desenvolvimento de novos modelos, compra de matéria-prima etc. Já uma empresa de consultoria ou um hospital atuam no sentido de resolver problemas e, entre suas atividades, estão o atendimento a clientes/pacientes, a pesquisa, o treinamento e a gestão do conhecimento. 2.3.8 Parcerias principais Este componente contém fornecedores, aliados, joint ventures6 e até mesmo competidores. Estes podem, em determinadas situações, unir esforços para criar uma tecnologia que beneficiará ambas as partes ou buscar desenvolver um determinado mercado ou região geográfica. Empresas em diferentes segmentos de mercado podem firmar parceria em que se busque complementar o alcance de cada uma delas, como no caso dos sistemas operacionais para aparelhos celulares ou uma empresa fornecedora de seguros que se associa a um banco para expandir sua base de clientes. 2.3.9 Estrutura de custo Neste componente são colocados os principais recursos financeiros de que a organização necessita para realizar as demais atividades. Atenção especial deve ser dada à estrutura de custos e otimizá-los é uma tarefa das mais importantes. Dependendo do negócio em que a organização atua, manter os custos em um patamar o mais baixo possível significa a própria sobrevivência da empresa, como no caso de companhias 6 Acordo comercial em que duas ou mais empresas se associam com a inalidade de realizar um projeto especíico. Dessa forma, uma joint venture tem tarefas e duração limitadas. Planejamento Estratégico38 aéreas econômicas, que seguem modelos de negócios direcionados pelo custo (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011). Como vimos, o Canvas serve como uma poderosa ferramenta de análise, tomada de decisões e comunicação. Os criadores dessa ferramenta recomendam que os nove quadros componentes sejam preenchidos com a utilização de adesivos do tipo Post it®, de modo que possam ser modificados sempre que necessário, ou seja, quando houver mudanças nos segmentos de clientes atendidos, nas formas de relacionamento e em qualquer um dos componentes do modelo de negócios. 2.4 Missão, visão e valores Nosso aprendizado sobre a missão, a visão e os valores de uma organização certamente será facilitado pelo entendimento prévio dos conceitos de estratégia, cadeia de valor e da definição do modelo de negócios. Passemos, então, a apresentar cada um desses novos componentes. 2.4.1 Missão É a razão de ser da empresa ou o porquê de ela existir. Como vimos no Canvas, definir a missão de uma organização exige responder às seguintes perguntas: • Qual é o nosso negócio? • Para quem criamos valor? • Quais são as necessidades e os desejos que queremos (e podemos) satisfazer? • Quais são os negócios em que não temos interesse? Ao responder a essas questões, a alta administração da organização pretende provocar as seguintes reflexões (OLIVEIRA, 1995): • a definição das áreas em que devem ser destinados os recursos disponíveis; • as formas de criar e entregar valor aos consumidores; • o desenho da estrutura organizacional mais adequada para executar as tarefas prioritárias. De maneira prática, apresentamos, no Quadro 3, um exemplo para auxiliar na elaboração da missão empresarial: Quadro 3 – Definindo a missão de uma empresa Setor de atuação Têxtil. Qual é o nosso negócio? (benefício oferecido) Vestuário. Quem é o nosso cliente? Pessoas adultas, com renda elevada e que frequentam ambientes luxuosos. O que eles realmente querem quando nos procuram? Aparência elegante e sosticada. Qual é a missão da empresa? Vestir as pessoas de orma elegante e sosticada. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Andrade, 2012, p. 29. Vídeo Elaborando a estratégia 39 Conforme pode ser observado no Quadro 3, a definição da missão começa com a identi- ficação do setor, de modo abrangente, em que a empresa atua. Em seguida, refinamos um pouco mais o negócio ao estabelecer a área de atuação de modo mais específico; no caso apresentado, trata-se de vestuário. Prosseguimos indicando quais os clientes que desejamos atender e o que eles realmente desejam quando procuram nossos produtos. Ao percorrer esse caminho, conseguimos estabelecer a missão da empresa de forma compreensível a todos os envolvidos, tanto internamente quanto para o mercado. Isso passa uma mensagem clara e contribui para a construção de uma marca forte e valiosa. Vejamos alguns exemplos reais de missão de empresas: “Nossa missão é organizar as informações do mundopara que sejam universalmente acessíveis e úteis para todos” (GOOGLE, 2019). “Realizamos sonhos de liberdade pessoal” (HARLEY DAVIDSON, 2019). Conforme vimos, a missão de uma empresa, se bem elaborada, passa uma imagem inequí- voca daquilo que ela deseja representar para seus clientes, como ela deseja habitar a mente das pessoas e construir uma imagem forte que possa ser associada a uma marca valiosa e bem-sucedida. 2.4.2 Visão A visão estratégica ou simplesmente visão é a definição do futuro desejado pela empresa. “Como seremos percebidos pelo mercado daqui a 10 ou 20 anos?” é uma pergunta que deve ser elaborada sempre que os estrategistas de uma organização pensam em sua visão. A situação almejada deve ser ambiciosa e servir como guia para direcionar os esforços de toda a organização. Uma boa dica para se elaborar a visão de uma empresa é imaginar esse futuro desejado e verificar o que está sendo feito para que, a cada dia, esse futuro esteja mais próximo. A visão deve ser construída diariamente, um passo de cada vez, metas intermediárias devem ser estabelecidas para que se possa verificar se a organização está no caminho certo ou se ajustes são necessários. Segundo Chiavenato e Sapiro (2009, p. 88, grifo nosso), “a elaboração da visão é um processo carregado de emoção, pois o que se procura reconhecer é o propósito de ser da organização. A visão constitui um fator de agregação dos esforços quando envolve todos, ao proporcionar consistência e convergência de esforços”. A emoção que o estabelecimento da visão estratégica busca transmitir serve para atingir os corações dos colaboradores muito mais do que sua razão (que será objeto das estratégias operacionais adotadas). Veremos nos exemplos seguintes como a visão busca inflamar a vontade de vencer e construir algo significativo por parte de seus colaboradores. Planejamento Estratégico40 Observemos algumas visões empresariais: “Uma empresa integrada de energia que evolui com a sociedade, gera alto valor e tem capacidade técnica única” (PETROBRAS, 2019). “Ter excelência no desenvolvimento de pequenos negócios, contribuindo para a construção de um país mais justo, competitivo e sustentável” (SEBRAE, 2019). O fato de a visão usar a emoção para contagiar as pessoas não significa tratar os colaboradores de forma paternalista, mas sim buscar um sentido de motivação que possa extrair o máximo da competência de cada um. 2.4.3 Valores Quando nos referimos aos valores de uma organização, estamos descrevendo seus princípios, suas crenças e seus ideais. Se compararmos uma organização a uma pessoa, poderíamos dizer que os valores estão para uma empresa assim como o caráter está para uma pessoa. “Os valores organizacionais correspondem aos atributos e às virtudes prezados pela organização” (CHIAVENATO, 2009, p. 90). Por que é importante que uma organização elabore e divulgue seus valores? A declaração dos valores organizacionais funciona como um mecanismo de tomada de decisões, especificamente no que se refere ao comportamento esperado de todos os seus funcionários, fornecedores, clientes e demais pessoas ou entidades que se relacionam com a empresa. Além do aspecto disciplinar, o conjunto de valores de uma empresa serve, em muitos aspectos, como reforço de sua missão e de sua visão. Vejamos um exemplo real de valores organizacionais retirados do site da empresa: “Respeito à vida, às pessoas e ao meio ambiente; Ética e transparência; Orientação ao mercado; Superação e confiança; Resultados” (PETROBRAS, 2019). No momento em que a Petrobras, por exemplo, coloca em sua declaração de valores o respeito à vida, às pessoas e ao meio ambiente, ela está dizendo que situações que coloquem em risco vidas humanas, de animais ou que possam causar danos à natureza não serão toleradas. De forma similar, ao verificarmos a presença da ética na lista de valores, esperamos que atitudes consideradas antiéticas sejam devidamente punidas. Orientação ao mercado e resultados, outros itens que aparecem na lista de valores, indicam uma preocupação com um bom desempenho econômico e reforçam a visão quando ela faz referência a gerar alto valor. Elaborando a estratégia 41 A declaração de valores de uma organização, como no exemplo citado, é definida por sua alta direção e aprovada por seu conselho de administração, no caso de empresas de grande porte. De nada adiantam palavras como ética, respeito e confiança se os dirigentes da empresa são os primeiros a se corromper e prejudicar, não apenas a organização, como também boa parte da sociedade. Considerações finais À luz dessas considerações, elaborar uma boa estratégia depende de uma série de fatores. Profissionais competentes, infraestrutura adequada e atenção às demandas do mercado devem estar ao lado de uma capacidade permanente de adaptação e correção de rota. Somam-se a esses fatores a definição de onde a empresa se encontra, sua missão e aonde ela quer chegar, sua visão. Mirando o destino desejado, a estratégia deverá ser planejada e construída, mobilizando os recursos necessários e utilizando-os da forma mais eficiente possível, de modo a obter vantagem competitiva. Por mais que a elaboração da estratégia possa se desdobrar em diversos níveis organizacionais (institucional, divisional e operacional), conforme vimos nos níveis da organização, o foco deve estar sempre no cliente. Isso deve ser o exercício diário de uma organização e conseguir atendê- -los de forma eficiente é o que diferenciará uma empresa de sucesso de outra que poderá enfrentar dificuldades no futuro. Por fim, cabe reforçar a importância dos valores organizacionais, os princípios que guiam quais os comportamentos adequados e esperados de todos os funcionários da empresa e que podem ser estendidos a todos aqueles que se relacionam com ela. Missão, visão e valores devem ser colocados em prática, permear toda a organização e não apenas figurar em quadros pendurados na parede. Ampliando seus conhecimentos • HARLEY-DAVISDON. Nossa empresa. 2019. Disponível em: https://www.harley-davidson. com/br/pt/about-us/company.html. Acesso em: 12 jun. 2019. O site da Harley-Davidson, famosa empresa fabricante de motocicletas, possui uma descrição muito boa de alguns dos aspectos de sua estratégia. • FORMANEK, R. Missão e visão são para valer ou apenas uma placa na parede? Ellevare Consultoria, fev. 2018. Disponível em: https://www.ellevare.com.br/post/ miss%C3%A3o-e-vis%C3%A3o-s%C3%A3o-para-valer-ou-apenas-uma-placa-na- parede. Acesso em: 12 jun. 2019. No artigo indicado, questiona-se como a missão e a visão de uma empresa são, muitas vezes, relegadas a segundo plano e como é importante que sejam conhecidas por todos os funcionários de uma empresa. Planejamento Estratégico42 Atividades 1. Ao se denir o negócio de uma empresa, quais são as posições que sua alta administração deve buscar desenvolver? 2. O que você entende por miopia de marketing? Dê um exemplo. 3. Qual é a importância de uma organização denir sua missão, sua visão e seus valores? Referências ANDRADE, A. R. de. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. São Paulo: Atlas, 2012. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. DRUCKER, P. F. Prática da administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 1981. GOOGLE. Missão. 2019. Disponível em: https://about.google/. Acesso em: 12 jun. 2019. HARLEY DAVIDSON. Missão. 2019. Disponível em: https://www.harley-davidson.com/br/pt/about-us/ company.html. Acesso em: 12 jun. 2019. LEVITT, T. Marketing myopia. Harvard Business Review, jul/ago, 1960. Disponível em: http://www. producao.ufrgs.br/arquivos/disciplinas/403_marketingmyopia.pdf. Acesso em: 21 jun. 2019. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias, práticas. São Paulo: Atlas, 1995. OSTERWALDER, A.; PIGNEUR, Y. Business model generation – inovação em modelos de negócios: um manual para visionários,inovadores e revolucionários. Rio de Janeiro: Alta Books, 2011. PETROBRAS. Visão. 2019. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/plano-estrategico/. Acesso em: 12 jun. 2019. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. SEBRAE. Visão. 2019. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/canais_adicionais/ conheca_estrategia. Acesso em: 12 jun. 2019. 3 O ambiente competitivo No Capítulo 2, tivemos a oportunidade de conhecer algumas ferramentas que permitem a definição do negócio, como a cadeia de valor e o modelo de negócios Canvas. Também vimos os conceitos de missão, visão e valores organizacionais, muito importantes para que sejamos capazes de posicionar nossa empresa no momento presente e projetar o futuro desejado. Neste capítulo, conheceremos o modelo de cinco forças proposto por Michael Porter, que permite analisar o ambiente competitivo em que a empresa está inserida. Veremos também o ciclo de vida de produtos desde a sua introdução no mercado até a fase de declínio. Essa análise, associada à utilização da Matriz BCG, será uma grande aliada na tomada de decisões referentes a investimentos em produtos e serviços e posicionamento destes no mercado. Veremos como uma empresa deve escolher uma dentre as três estratégias genéricas propostas para que possa focar nos segmentos em que realmente consiga obter vantagem competitiva. No final deste capítulo, apresentaremos a análise Pestel, que busca analisar o cenário externo atual sob a ótica dos seus aspectos políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, ecológicos e legais e desenhar alguns cenários possíveis no futuro. Conforme abordamos anteriormente, atender o cliente, seus desejos e suas necessidades é algo que deve estar presente de maneira constante na mente de empresários e dirigentes. Mas o que fazer se os clientes mudam de ideia tão rápido? Entender o que se passa na mente deles é uma tarefa que mistura análises comportamentais, dados estatísticos e certa dose de futurologia. 3.1 O modelo de cinco forças Cair no gosto dos consumidores e figurar entre as marcas mais reconhecidas é o sonho de qualquer empresa. O jornal Folha de São Paulo (2018) promove o Top of Mind, uma pesquisa em nível nacional que premia as marcas que têm o maior reconhecimento por parte dos entrevistados em diversos setores como financeiro, higiene e beleza, turismo, entre vários outros. Entretanto, atrair clientes e ter sua marca reconhecida não basta para tornar uma empresa lucrativa. Saber se posicionar e formatar sua estrutura organizacional de maneira a obter vantagem competitiva faz parte da elaboração da estratégia. As cinco forças são parte de um modelo de análise competitiva apresentado por Michael Porter, no ano de 1979, na Harvard Business Review, que descreve as principais forças às quais uma empresa está sujeita no mercado em que atua. A menos que uma organização seja a única fornecedora do mercado, ela estará sujeita à concorrência. A concorrência, ou rivalidade entre empresas de uma mesma indústria1, é uma das forças apresentadas por Michael Porter (2004) 1 Denominamos, neste caso, como indústria o grupo de empresas fabricantes de produtos que podem ser substituídos uns pelos outros de orma bastante aproximada (PORTER, 2004, p. 4). Vídeo Planejamento Estratégico44 que caracteriza um determinado setor do mercado. As demais forças são: a ameaça de novos competidores, o poder de negociação dos fornecedores, o poder de negociação dos clientes e a ameaça de produtos substitutos (Figura 1). Figura 1 – O modelo de cinco forças competitivas Poder de negociação dos fornecedores Poder de negociação dos compradores Ameaça de novos entrantes Ameaça de produtos/ serviços substitutos Rivalidade entre os competidores existentes Fonte: Elaborada pelo autor com base em Porter, 2004, p. 4. A seguir, passaremos a analisar cada uma das cinco forças apresentadas. 3.1.1 Rivalidade entre os competidores existentes Se imaginarmos um mercado de livre concorrência, em que não há conluio de empresas para definir preços, será possível observar os vários competidores desse mercado disputando os clientes com todas as armas de que dispõem. Entre essas armas, as que observamos com mais frequência são a “guerra de preços”, propagandas intensivas, promoções do tipo “leve 3 e pague 2” e assim por diante. Quanto maior o número de empresas disputando uma mesma parcela de consumidores, mais provável será notar essa briga e menores deverão ser as margens de lucro de cada uma dessas empresas. Devemos observar que a intensidade da disputa depende também de outros fatores como o estágio de maturidade do mercado e se o produto ou serviço tem pouco grau de diferenciação. Se o consumidor não puder diferenciar o produto de um fabricante do produto fornecido por seu rival, é bem provável que sua escolha recairá no fator preço e a empresa que conseguir cobrar menos pelo seu produto poderá obter vantagem sobre seus concorrentes. Grandes e médias empresas, normalmente, contam com departamentos especializados em mapear o mercado e comparar seus produtos com os de seus principais concorrentes. Realizam periodicamente pesquisas com seu público-alvo para verificar se seus produtos estão adequados em termos de preço, qualidade etc., ou se estão perdendo espaço para algum competidor. 3.1.2 Ameaça de novos entrantes Os mercados em crescimento ou com boas perspectivas de lucro estão sempre na mira de outras empresas, sejam elas iniciantes ou experientes em algum outro mercado. É comum O ambiente competitivo 45 observarmos uma empresa que atua em determinado segmento querer expandir suas operações por meio da criação de uma nova linha de produtos ou pela aquisição de algum player2 que já atue em um mercado promissor. Por exemplo, podemos citar uma loja de eletrodomésticos que passa a oferecer aparelhos celulares ou um fabricante de cervejas que decide construir uma fábrica de refrigerantes. Segundo Porter (2004), a atratividade de um mercado depende, além da possibilidade de obtenção de lucro, da facilidade ou da dificuldade de se entrar nesse mercado. A isso se dá o nome de barreiras de entrada, ou seja, tudo aquilo que impõe um obstáculo ou aumenta o risco de fazer parte do mercado. As barreiras de entrada mais comuns são aquelas baseadas na economia de escala, obtidas ao se produzirem grandes quantidades de um mesmo tipo de produto (o que exige, em geral, grandes investimentos em linhas de produção), na exigência de investimentos elevados de capital, nas despesas de marketing para convencer os clientes a mudarem de fornecedor, no acesso aos canais de distribuição, na localização de lojas, patentes etc. Um exemplo prático de barreira de entrada que costumamos ver com alguma frequência é a exclusividade que certo fabricante de refrigerantes exige de bares e restaurantes de modo que só vendam os seus produtos. 3.1.3 Ameaça de produtos ou serviços substitutos Essa talvez seja uma das forças que mais tenhamos visto nos últimos tempos, pois o desenvolvimento e a popularização da internet têm diminuído o ciclo de vida de vários produtos e serviços. Logo, as mudanças que antes levavam décadas podem ocorrer em anos ou até meses. Uma forma bastante clara de identificar um produto substituto é relembrar a noção de valor, abordada anteriormente. O conceito de valor está ligado aos benefícios que um cliente espera obter ao adquirir um produto ou serviço. Esses benefícios ajudarão o cliente a satisfazer suas necessidades e seus desejos. “Quanto mais atrativa a alternativa de preço-desempenho oferecida pelos produtos substitutos, mais firme será a pressão sobre os lucros da indústria” (PORTER, 2004, p. 24). Se tomarmos como exemplo a indústria da música e, mais especificamente, o desejo que as pessoas têm por ouvir suas canções preferidas, perceberemos que o valor a ser entregue, aquilo que o consumidor busca, é a satisfaçãode ouvir música. Há alguns anos, para satisfazer esse desejo, o consumidor deveria se dirigir a uma loja de discos e adquirir fisicamente o produto desejado. A partir dos anos 2000, com a evolução da internet e das empresas que comercializam conteúdos de mídia, o consumo de música e vídeos se transformou radicalmente. Mesmo em nossos tempos de transformações profundas, as mudanças não ocorrem de forma abrupta. De modo geral, alguns avisos ocorrem, mesmo que de forma sutil, indicando que mudanças estão a caminho. 2 Empresa ou grupo empresarial que atua em determinado mercado. Planejamento Estratégico46 No caso do comércio de música, o aparecimento do Napster3, em 1999, já indicava a possibilidade de tráfego de arquivos de música e vídeo entre usuários da rede mundial de computadores. Após seu lançamento, esse serviço de streaming4 sofreu uma série de processos por infringir leis de direitos autorais uma vez que não havia pagamento aos autores das músicas. No entanto, o Napster e várias outras empresas como a Apple e o Spotify comercializam conteúdo de mídia respeitando a legislação, por meio de acordos e pagamentos de direitos autorais aos criadores dos diversos conteúdos. 3.1.4 Poder de negociação dos compradores Está relacionado ao grau de influência desses agentes nas condições comerciais dos fabricantes em determinada indústria. Para que um grupo comprador ou de clientes seja poderoso, Porter (2004, p. 26) estabeleceu as seguintes condições: • O comprador adquire grandes volumes em relação às vendas totais do vendedor. • O produto adquirido representa uma parte significativa dos custos do cliente5 (no caso de se tratar de um cliente que irá utilizar o produto original como matéria-prima para fabricar sua própria mercadoria, ou seja, uma relação B2B6). • O produto que o cliente compra é padronizado e pode ser obtido de outros fornecedores. • O comprador pode vir a se tornar um fabricante desse produto caso possa obter alguma economia e reúna as condições para isso. Em geral, quanto menor for a dependência de um cliente em relação a um fornecedor, maior será o seu poder de negociação. 3.1.5 Poder de negociação dos fornecedores Segundo Porter (2004), o poder de negociação dos fornecedores pode ser exercido sobre os participantes de uma indústria, quando esses fornecedores ameaçam elevar preços ou reduzir a qualidade dos produtos ou serviços fornecidos. Com isso, os custos dos competidores dessa indústria sobem e, consequentemente, suas margens diminuem. Um grupo de fornecedores tem muita força se estas características estiverem presentes: • O grupo é formado por poucas companhias; • Não há produtos substitutos capazes de ameaçar os fornecedores de imediato; • Os clientes em uma determinada indústria não têm importância para o grupo fornecedor; • O produto do fornecedor é um insumo estratégico para os negócios do cliente, ou seja, o cliente tem um grau elevado de dependência desse fornecedor; 3 Napster é um serviço de streaming de música pertencente à Rhapsody Internatonal Inc, contando com aproximadamente 40 milhões de aixas. 4 Streaming é uma tecnologia que envia informações multimídia, por meio da transferência de dados, utilizando redes de computadores, especialmente a internet, e foi criada para tornar as conexões mais rápidas. 5 Nessa situação, o cliente exercerá pressão para baixar os preços do ornecedor, pois seu próprio lucro dependerá disso (PORTER, 2004). 6 B2B é uma sigla em inglês que signiica business to business ou empresa para empresa, em tradução livre. Reere-se a uma empresa que vende produtos para outras e não diretamente ao consumidor final. O ambiente competitivo 47 • Existem custos muito elevados para o cliente mudar de fornecedor como, por exemplo, adequações na produção, aumento no frete, mudanças de características de um fornecedor para outro etc. (PORTER, 2004, p.28). Se essas características forem colocadas em prática, é possível que um grupo de fornecedores tenha força. Apesar de todos os clientes serem importantes, uma companhia pode ser fornecedora de várias indústrias diferentes e uma indústria com pequena participação nas vendas do grupo fornecedor pode não ser considerada prioritária e, dessa forma, menos importante do que as demais. 3.2 Ciclo de vida de produtos e matriz BCG Produtos e serviços, bem como negócios, têm seu ciclo de vida, ou seja, comportam-se de forma similar a um ser vivo: nascimento (ou introdução), crescimento, maturidade e, após certo tempo, declínio. O que caracteriza cada uma das etapas do ciclo de vida de um produto são seu volume de vendas e os lucros que se obtêm de sua comercialização. No caso de uma empresa que possui apenas uma linha de negócios, o ciclo de vida de seu produto ou de seus serviços se confunde com a própria existência da empresa. Vejamos o exemplo da Blockbuster, fornecedora do serviço de locação de filmes. O declínio da procura por esse tipo de serviço, com o advento de filmes disponíveis pela internet ou pelas operadoras de TV a cabo, significou também a “morte” da empresa. Na Figura 2, apresentamos o ciclo de vida de um produto ou de um negócio. Figura 2 – O ciclo de vida do produto Introdução Vendas e lucros Tempo Vendas Lucros Crescimento Maturidade Declínio Fonte: Elaborada pelo autor com base em Chiavenato e Sapiro, 2009, p. 236. A direção da empresa deve observar com atenção a curva formada pelo ciclo de vida de seus produtos, acompanhando o desempenho das vendas e controlando os custos e as despesas de forma a preservar a lucratividade. Passemos a descrever as características de cada etapa do ciclo de vida do produto (Quadro 1): Vídeo Planejamento Estratégico48 Quadro 1 – Ciclo de vida de um produto Introdução É a ase de lançamento de um produto ou serviço. Nessa ase, os gastos com marketing costu- mam ser bastante elevados, pois é necessário azer com que os clientes conheçam a novidade. É comum que a empresa não tenha lucro e incorra, até mesmo, em prejuízos iniciais. Muitos produtos não passam dessa fase, pois se percebe que não cairão no gosto dos consumidores de modo que não vale a pena prosseguir com o negócio. Crescimento Conorme aumenta a aceitação do produto, costuma-se observar elevação acelerada em suas vendas e em seus lucros. Os custos de marketing podem diminuir, mas os de distribuição (devido à ampliação do mercado) tendem a aumentar. A atratividade do mercado faz surgirem concorrentes, o que pode provocar diminuição dos lucros na ase nal dessa etapa do ciclo de vida. Maturidade Nessa fase, as vendas costumam se estabilizar devido ao aumento da concorrência. Obter maiores participações de mercado só é possível com a saída de competidores. E, para tentar manter o interesse dos clientes, versões novas ou melhoradas do produto são lançadas. Os ganhos de escala, caso sejam bem aproveitados, podem manter os lucros em um nível confortável. Declínio Nessa fase, o produto não atrai mais o interesse dos clientes e as vendas caem de forma signicativa. Isso ocorre devido ao ato de o produto se tornar obsoleto ou surgirem produtos substitutos (melhores e mais baratos). Como exemplo de produto obsoleto, podemos citar os aparelhos de ax, que permitiam a transmissão de documentos por meio da linha teleônica; a expansão da internet e o uso de e-mail tornaram os aparelhos de ax praticamente peças de museu. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Chiavenato e Sapiro, 2009. Cada fase do ciclo de vida de um produto exige estratégias específicas e uma observação atenta do mercado, especialmente na movimentação dos concorrentes e no comportamento dos consumidores. Uma ferramenta bastante útil e comumente usada em conjunto com o gráfico do ciclo de vida do produto é a Matriz BCG ou matriz de crescimento/participação, desenvolvida pelo Boston Consulting Group, uma empresa norte-americana de consultoria em estratégia e gestão, nos anos 1960 (Figura 3): Figura 3 – Matriz BCG DILEMA Baixaparticipação em um mercado em alto crescimento CÃO Baixa participação em um mercado com baixa taxa de crescimento ESTRELA Alta participação em um mercado em alto crescimento VACA LEITEIRA Grande participação em um mercado com baixo crescimento Cr es ci m en to d o m er ca do Participação relativa de mercado Fonte: Elaborada pelo autor com base em Evans, 2013, p. 142. O ambiente competitivo 49 A Matriz BCG serve para que a empresa posicione seus produtos ou linhas de produtos conforme os quadrantes mostrados na Figura 3. Cada quadrante tem uma característica e recebe um nome sugestivo para que seja fácil lembrá-los. • Estrelas: são os produtos com grande participação em um mercado com crescimento acelerado. Para se manter nessa categoria, são exigidos grandes investimentos em marketing e, em alguns casos, os custos superam os lucros. A empresa deve analisar se esses produtos poderão vir a se tornar “vacas leiteiras” no futuro. • Vacas leiteiras: são os produtos com os quais a empresa detém grande participação em um mercado de crescimento lento. Em geral, são lucrativos e não exigem mais grandes investimentos em marketing. • Dilemas: são os produtos com os quais a empresa possui baixa participação em um mercado com elevada taxa de crescimento. Para aumentar sua participação no mercado, grandes investimentos deverão ser feitos de modo que os produtos possam ter vendas elevadas e lucros atrativos. Este é o grande dilema: o investimento vale o risco? Se a administração entender que existe a possibilidade de ganhar participação de mercado e lucros atrativos, a resposta é sim. Caso o aumento de participação de mercado custe muito caro e não possa entregar o retorno desejado, a administração deve optar por retirar o produto do mercado. • Cães: são os produtos que detêm baixa participação em um mercado estagnado ou de baixo crescimento. Normalmente, são produtos que não geram grandes lucros e em cuja divulgação ou aprimoramento não vale a pena investir . Caso os lucros caiam com o tempo, a empresa deve decidir por encerrar sua comercialização. A denominação cão se deve ao fato de que, na época em que a matriz foi criada, nos Estados Unidos, o mercado de pet shops (lojas de artigos para animais de estimação) era caracterizado por apresentar baixo crescimento e ser muito pulverizado, ou seja, não havia ninguém com grande participação de mercado (EVANS, 2013). A análise conjunta do ciclo de vida do produto e de seu posicionamento na matriz BCG constitui uma ferramenta extremamente útil para que a direção da empresa tome decisões quanto aos investimentos, se certo produto deve passar por uma reformulação, se deve ser descontinuado ou se a situação em que se encontra deve ser mantida. Essas análises devem ser feitas de forma periódica e cuidadosa. Planejamento Estratégico50 3.3 Definição da estratégia genérica e fatores críticos de sucesso Na seção 3.1, pudemos analisar o modelo das cinco forças concebido por Michael Porter que, além da competição dos vários concorrentes, mostra outras forças pressionando uma empresa e afetando seus lucros (poder de negociação de fornecedores e de compradores, ameaças de produtos substitutos e de novos entrantes). Para se defender desses constantes ataques e conseguir prosperar no mercado, as empresas adotam, em um primeiro momento, uma das três estratégias genéricas propostas por Porter (2004). Apresentadas por esse autor na década de 1980, elas permanecem relevantes até os dias atuais. A seguir, apresentamos as estratégias genéricas e explicamos suas principais características. 3.3.1 Liderança em custo Para colocar em prática essa estratégia, a organização precisa focar na eficiência. Segundo Porter (2004, p. 36): “a liderança no custo exige a construção agressiva de instalações em escala eficiente, uma perseguição vigorosa de redução de custo pela experiência, um controle rígido do custo e das despesas gerais”. A vantagem competitiva que uma empresa espera obter ao adotar esse tipo de estratégia é a de permanecer obtendo lucros enquanto seus competidores se tornam incapazes de obter retornos no patamar de preços praticado. Essa posição constitui também uma barreira de defesa contra novos entrantes e produtos substitutos, pois o investimento para um novo competidor entrar nessa indústria se torna muito elevado se comparado aos lucros que ele poderá obter. Imaginemos uma empresa A, que vende um produto a R$ 100,00 e possui custos totais de R$ 90,00 obtendo, dessa forma, um lucro de R$ 10,00 (ou 10%). Agora consideremos uma empresa B, atuando na mesma indústria que a empresa A, mas que tenha custos totais de R$ 98,00 para produzir um produto exatamente igual ao da empresa A. Caso a empresa B deseje obter a mesma lucratividade que a empresa A, que é de 10%, deverá praticar o preço de, aproxima- damente, R$ 109,00. Será que o cliente aceitaria pagar mais caro por um produto exatamente igual? Uma alternativa para essa resposta seria a empresa B cobrar os mesmos R$ 100,00 pelo produto, afinal, ele é exatamente igual ao produto fornecido pela empresa A. Nesse caso, entretanto, o lucro da empresa B seria de apenas 2%. Será que essa margem de lucro é satisfatória para a empresa B? Vejamos, na Tabela 1, essas informações de maneira mais clara: Tabela 1 – Comparativo de preço x custo total Empresa Preço de venda Custos totais Lucro A R$ 100,00 R$ 90,00 10% B R$ 109,00 R$ 98,00 10% B R$ 100,00 R$ 98,00 2% Fonte: Elaborado pelo autor. Vídeo O ambiente competitivo 51 Adotar uma estratégia de baixo custo exige grande investimento em equipamentos e pessoas especializadas que possam executar todas as atividades com o menor custo possível. 3.3.2 Diferenciação A estratégia de diferenciação busca tornar únicos os produtos ou os serviços oferecidos pela empresa, ou seja, fazer com que eles apresentem características especiais que sejam valorizadas pelos consumidores e pelas quais eles estejam dispostos a pagar mais. A diferenciação de um produto ou serviço pode se dar de diversas formas, por exemplo, uma marca exclusiva, um desenho diferenciado, a utilização de materiais nobres, durabilidade elevada, uma rede de lojas com localização privilegiada etc. A ideia é conseguir a fidelidade dos clientes e que eles tenham uma menor preocupação com o preço. Mesmo adotando essa estratégia e conseguindo praticar preços um pouco mais elevados, a empresa não deve ignorar seus custos, apesar de estes não constituírem o alvo estratégico primário. 3.3.3 Enfoque ou nicho Nesta terceira estratégia genérica, a empresa busca focar um segmento específico do mercado, seja apontando para um determinado grupo de clientes seja oferecendo uma linha de produtos e serviços altamente especializados. A premissa dessa estratégia é atender um determinado público de forma mais efetiva do que os concorrentes. Ao focar sua atenção em um segmento mais estreito do mercado, a empresa abre mão de grandes escalas, mas, em geral, consegue obter retornos acima da média de sua indústria. No Quadro 2, apresentaremos algumas das características principais das três estratégias genéricas concebidas por Michael Porter: Quadro 2 – Características das estratégias genéricas Liderança em custo Diferenciação Enfoque • Economia de escala. • Processos enxutos7. • Desenho de produto que facilita a produção. • Mão de obra especializada. • Supervisão constante dos processos. • Logística de baixo custo. • Investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D). • Grande habilidade comercial. • Estabelecimento de reputação de qualidade. • Engenharia de produto eciente. • Logística integrada e eciente. • Engenharia de produto focada nas necessidades do grupo especíco. • Habilidades comerciais voltadas para o grupo de interesse. • Grande cuidado com a reputação da empresa. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Porter, 2004. Para que a escolha de uma das estratégias genéricas possa ter sucesso, são necessários“arranjos organizacionais diferentes, procedimentos de controle e sistemas criativos” (PORTER, 2004, p. 42). Uma recomendação que deve ser observada é sobre o perigo de tentar assumir uma 7 Processos enxutos são baseados na metodologia denominada Lean Manufacturing (Produção Enxuta), criada pela empresa japonesa Toyota, após a Segunda Guerra Mundial, em que se busca a eliminação total dos desperdícios, tanto de materiais como de mão de obra e do tempo de execução de cada tarea (RODRIGUES, 2016). Planejamento Estratégico52 posição em que a empresa tenta misturar as estratégias e que pode resultar em um desempenho insatisfatório e margens reduzidas. ”Uma empresa que fica no “meio-termo” está em uma situação estratégica extremamente pobre” (PORTER, 2004, p. 43). Para ilustrar as diferenças entre as três estratégias genéricas, tomemos o exemplo de três fabricantes de parafusos. • O primeiro fabricante produz parafusos de ferro utilizados em construção civil e na indústria automobilística em geral. Sua produção mensal é de cerca de 300 milhões de parafusos e ela detém 30% do mercado nacional desse segmento. • O segundo fabricante fornece parafusos feitos de aço inoxidável e seus clientes principais também são as indústrias de construção civil e automobilística, porém utilizados em aplicações específicas que exigem esse tipo de componente. Sua produção é de cerca de 50 milhões de parafusos mensais e sua participação no mercado de parafusos é de 7%. • Nosso terceiro competidor fabrica parafusos especiais com tratamento anticorrosivo indicados para a indústria naval. Seus principais clientes são estaleiros que constroem navios e plataformas de petróleo. Sua produção mensal é de 5 milhões de parafusos e ela participa com 2% do mercado nacional de parafusos. Nesse exemplo, ficam claros os posicionamentos adotados pelas empresas quanto à escolha da estratégia genérica mais adequada ao seu negócio. A primeira empresa busca a liderança em custo, com um produto de preço mais baixo em que a lucratividade é perseguida por meio de ganhos de escala e otimização dos processos. Já a segunda empresa apresenta ao mercado um produto diferenciado (parafusos de aço inoxidável) de que os clientes necessitam em determinadas situações. Essa diferenciação exige maior especialização técnica na produção, mas permite cobrar preços mais elevados do que os dos parafusos comuns fabricados pela primeira empresa. A terceira empresa decidiu atender um tipo específico de cliente, fabricantes de navios e plataformas que, por serem destinados ao uso em alto-mar, necessitam de parafusos mais resistentes em virtude das condições extremas a que serão submetidos. Essa é uma posição clara de enfoque, ao atender um grupo específico de clientes que exige produtos extremamente confiáveis, de alta qualidade e, por isso mesmo, estão dispostos a pagar um preço condizente com as características específicas dos produtos apresentados. Note que os exemplos apresentados são fictícios e não se baseiam na realidade das indústrias mencionadas. 3.3.4 Fatores críticos de sucesso (KSF) Um conceito muito importante que deve estar associado à formulação das estratégias de uma empresa é o conceito de fator crítico de sucesso (KSF), do inglês key success factors. Segundo O ambiente competitivo 53 Evans (2013, p. 92), os KSFs são os elementos essenciais que uma organização precisa dominar para atender às exigências e às expectativas de seus clientes. Nessa perspectiva, entendemos que o sucesso de uma empresa depende de suas vendas e de sua capacidade de conquistar a preferência dos consumidores. Então, antes de prosseguirmos na análise dos KSFs, convém entendermos o que são os chamados critérios de compra do cliente (CPCs), do inglês customer purchase criteria. Os CPCs são os fatores utilizados pelos clientes para tomar a decisão de adquirir certo produto ou serviço de determinada empresa. Como usar essa ferramenta na prática? “Comece se perguntando: Do que os clientes nos principais segmentos de seu negócio precisam de você e de seus concorrentes?” (EVANS, 2013, p. 88). De modo geral, segundo Evans (2013), os CPCs podem ser agrupados em seis categorias que refletem as necessidades dos clientes. • Eficácia do produto ou do serviço: traduz a vontade que o cliente tem de que o trabalho seja feito, isto é, que resolva o seu problema de forma integral. • Eficiência do produto: o conceito de eficiência adiciona o fator tempo ao critério anterior, a eficácia. O cliente deseja ter seu problema resolvido a tempo. Cada cliente tem uma necessidade particular no que se refere ao prazo, seja de entrega de um produto seja na execução de um serviço. • Variedade: é um fator que pode ter importância para alguns clientes e para outros não. • Relacionamento: como uma empresa se relaciona com os seus clientes? As tratativas se dão de forma cordial e prática? Os canais de venda são os mais adequados aos produtos e serviços ofertados? • Instalações: dependendo do tipo de produto ou serviço oferecido, um ambiente agradável atrai e retém clientes como, por exemplo, uma clínica estética, uma oficina mecânica, uma loja de shopping etc. Por outro lado, instalações precárias, mal iluminadas e desconfortáveis acabam por espantar as pessoas. • Preço: sempre um fator relevante, o preço deve ser estabelecido com extremo cuidado de modo a atrair clientes e sustentar a lucratividade do negócio. Cada uma das categorias citadas deve ser analisada de forma a se conhecer quais são as mais relevantes em cada um de seus negócios. Uma das melhores formas de compreender as prioridades de seus clientes, seus CPCs, em cada linha de produtos que sua empresa oferece, dá-se por meio de pesquisas e entrevistas. À luz dessas considerações a respeito dos critérios de compra dos clientes, precisamos formatar nossa empresa de modo a atendê-los da melhor maneira possível. Isso deve ser feito convertendo os CPCs em KSFs, como mostra a Figura 4. Planejamento Estratégico54 Figura 4 – Convertendo CPCs em KSFs Critérios de Compra do Cliente (CPCs) O que nosso cliente espera? Fatores Críticos de Sucesso (KSFs) O que fazer para atender o cliente? Fonte: Elaborada pelo autor com base em Evans, 2013. Quanto mais confiáveis forem os CPCs que obtivermos das pesquisas, maior será a qualidade dos KSFs e mais efetiva a elaboração da estratégia para atender os clientes selecionados. Na Figura 5, apresentamos um exemplo de conversão de CPCs em KSFs (não necessariamente para uma mesma empresa): Figura 5 – Exemplo de conversão de CPCs em KSFs KSFCPC Preço baixo Conveniência Exclusividade Entrega rápida Eciência em custos Lojas 24 horas Vendedores capacitados Logística ágil Fonte: Elaborada pelo autor com base em Evans, 2013, p. 93. Após a identificação dos KSFs, a empresa poderá atribuir pesos aos diversos critérios de modo que seja possível priorizar aqueles mais relevantes e de maior impacto na decisão de compra dos clientes. 3.4 O macroambiente competitivo: a análise Pestel Nenhuma empresa ou organização opera de forma isolada na sociedade. Por mais específico que um determinado mercado seja ou por mais concentrada a forma como uma indústria se relaciona com seus clientes e seus fornecedores, o ambiente externo influencia, em maior ou menor grau, todos os players existentes. A análise Pestel procura estruturar essa influência do macroambiente externo sob a ótica de seis aspectos cujas iniciais formam a palavra que dá nome a essa análise: políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, ecológicos e legais, de modo a facilitar a compreensão, por parte Vídeo O ambiente competitivo 55 da empresa, das variáveis envolvidas e a elaboração de seus mecanismos de defesa. A Figura 6 mostra o contexto em que uma organização está imersa no ambiente amplo. Figura 6 – O ambiente da organização Macroambiente Ambiente político Ambiente tecnológico Agências reguladoras ClientesFornecedores Concorrentes (Estratégia)Ambiente competitivo Organização Aspectos legais Ambiente econômico Ambiente socialFatores ecológicos e de meio ambiente Fonte: Elaborada pelo autor com base em Chiavenato e Sapiro, 2009, p. 99. A análise dos diversos componentes apresentados na Figura 6 servirá de apoio à análise SWOT, objeto de estudo de nosso próximo capítulo, e é de fundamental importância. Vejamos, no Quadro 3, alguns dos indicadores que podem ser associados a cada uma das dimensões (ou aspectos) apresentadas na análise Pestel: Quadro 3 – Aspectos macroambientais e indicadores Aspecto Indicadores Político • Grau de intervenção do governo. • Políticas de subsídios. • Barreira a produtos importados. • Regulamentação de determinados setores. • Políticas de privatizações. • Investimentos em inraestrutura. Econômico • Taxa de câmbio. • Taxa de juros. • Produto Interno Bruto (PIB)8. • Infação. • Taxa de crescimento da economia. • Nível de emprego. • Renda média da população. 8 O PIB, ou Produto Interno Bruto, de um país é a soma das riquezas produzidas dentro do país, incluindo nesse cálculo empresas nacionais e estrangeiras localizadas em território nacional. Planejamento Estratégico56 Social • Envelhecimento da população. • Distribuição geográca da população. • Taxa de natalidade. • Índice de homicídios. • Grau de escolaridade. • Composição étnica e religiosa. Tecnológico • Inraestrutura de telecomunicações. • Acesso à internet. • Produção cientíca pública e privada. • Número de patentes. • Intercâmbios com outros países. • Utilização de smartphones. • Compras on-line. Ecológico • Emissão de CO2. • Quantidade de queimadas. • Reservas forestais. • Aquecimento global. • Ocupação do solo. • Exploração mineral, vegetal e animal. Legal • Legislação tributária, scal e previdenciária. • Legislação trabalhista, comercial e penal. • Relações internacionais. • Estrutura e divisão dos poderes. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Evans, 2013, p. 106. É importante observar que a análise Pestel não deve apenas considerar o momento atual. Da mesma forma que o planejamento estratégico se baseia naquilo que a empresa busca alcançar no futuro (sua visão), daqui a cinco, dez ou vinte anos, a análise Pestel deve desenhar cenários possíveis no futuro para que a empresa identifique não apenas ameaças aos seus negócios, como também as oportunidades de se destacar em relação aos seus concorrentes. Considerações finais À luz dessas considerações, podemos perceber que o ambiente competitivo exerce grande pressão nas organizações. Além da concorrência, mudanças tecnológicas e no gosto dos consumidores são fatores extremamente relevantes e que podem ocorrer muito rapidamente. Conhecer os diversos fatores que podem influenciar a vida de uma empresa e seu sucesso no mundo dos negócios é parte integrante do processo de planejamento estratégico. Quanto mais rápidas e profundas forem as mudanças na indústria, mais ágil deve ser o processo de tomada de decisão por parte de seus dirigentes. Tomemos o exemplo das telecomunicações, uma indústria em constante evolução. A telefonia fixa, especialmente a doméstica, torna-se cada menos relevante devido à popularização dos aparelhos celulares. Nessa mesma indústria, a tendência de diminuição dos aparelhos celulares, observada no início dos anos 2000, deu lugar à utilização de smartphones com telas grandes que permitem ao usuário jogar e assistir a filmes. O ambiente competitivo 57 Logo, essas mudanças culturais precisam estar no radar de todas as empresas que buscam sua permanência no mercado. Ao elaborar suas estratégias, as organizações devem considerar o que esperar do futuro, como se adaptar e, se possível, de que maneira influenciar esse futuro para atender melhor seus clientes e deixar para trás seus competidores. Ampliando seus conhecimentos • ESTRATÉGIA. [S.l.: s.n.], 2011. 1 vídeo (6min.). Publicado pelo canal Cases de Sucesso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=os1n2Ea3wUs. Acesso em: 21 jun. 2019. Esse vídeo apresenta uma entrevista de Michael Porter que cita diversos assuntos abordados neste terceiro capítulo de forma bastante simples e direta, por exemplo, o que é estratégia e o que não é estratégia. • WELCH, J.; WELCH, S. Paixão por vencer: a bíblia do sucesso. Rio de Janeiro: Elsevier/ Campus, 2005. Nesse livro, que tem como título original Winning, Welch nos conta sobre sua rotina como CEO à frente de uma das maiores empresas do mundo, a General Electric (GE). Descreve os seus desafios como gestor e como líder e mostra como desenvolveu estratégias vencedoras nas diversas indústrias em que a GE atuava. A GE é uma empresa norte-americana fundada em 1890 por Thomas Edison que atua nos setores de energia, equipamentos médicos, transportes, automação e financeiro. Welch é considerado um dos mais importantes e influentes homens de negócios de todos os tempos. Atividades 1. Quais as forças a que uma empresa está submetida no ambiente competitivo de acordo com o modelo de Michael Porter (2004)? 2. Para Chiavenato e Sapiro (2009), durante o ciclo de vida de um produto, o que pode ser feito para tentar conter seu declínio? 3. Quais são as três estratégias genéricas descritas por Michael Porter (2004)? Referências CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. EVANS, V. Ferramentas estratégicas: guia essencial para construir estratégias relevantes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. FOLHA DE SÃO PAULO. Top of Mind 18. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/especial/2018/ top-of-mind/. Acesso em: 12 jun. 2019. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. RODRIGUES, M. V. Sistema de produção lean manufacturing: entendendo, aprendendo e desenvolvendo. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. 4 Análise SWOT No capítulo anterior, conhecemos o modelo de cinco forças de Porter que mostra as pressões exercidas sobre uma empresa e as estratégias genéricas que definem as linhas gerais de atuação no mercado como liderança em custo, diferenciação e enfoque. Vimos a importância de se conhecer os critérios que orientam os consumidores em suas decisões de compra e, por meio da análise Pestel, como o ambiente externo afeta os relacionamentos e a maneira de atuar de uma organização. Neste capítulo, estudaremos a análise SWOT, que permite listar uma série de fatores com a finalidade de que sejam elaborados planos de ação e, como diria o velho general chinês, garantir a vitória. É uma das ferramentas mais utilizadas no planejamento estratégico. Praticamente toda a literatura que trata sobre assuntos relacionados à estratégia ou gestão empresarial aborda, em maior ou menor grau, a matriz SWOT. Uma das características marcantes dessa análise e, em grande parte, responsável por seu sucesso é a facilidade de entender os pontos por ela abordados. Entretanto, para que a análise tenha valor e permita à organização extrair seus maiores benefícios, sua elaboração criteriosa é imprescindível, bem como as conclusões que dela se tiram. O famoso livro A Arte da Guerra, datado de mais de dois mil anos e cuja autoria é atribuída ao general chinês Sun Tzu (2006), menciona em diversas passagens a importância de conhecer e minimizar o efeito de suas próprias limitações, utilizar de forma intensa suas habilidades, aproveitar as oportunidades que surgem e estar atento às ameaças de situações adversas e de exércitos inimigos. Podemos dizer, então, que o conceito da matriz SWOT não é exatamente original, mas tampouco são originais várias ferramentas que o planejamento estratégico utiliza. No final das contas, o que importa realmente é a disciplina e a capacidade de se colocar em prática os conceitos e os métodos apresentadospor essas ferramentas. 4.1 O que é a matriz SWOT? É uma ferramenta gráfica simples composta de quatro quadrantes em que são dispostos os fatores internos e externos da organização, bem como os fatores positivos e negativos. Alguns autores costumam traduzir o termo em inglês SWOT por seu equivalente em português, FOFA. Esses quadrantes significam: Strengths (Forças); Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças). Com base nos significados, temos na Figura 1 uma representação gráfica da matriz SWOT que avalia a empresa observando seus pontos fortes e fracos e, ao mesmo tempo, leva em consideração a influência dos fatores internos e externos da empresa. Vídeo Planejamento Estratégico60 Figura 1 – A matriz SWOT Pontos fortes Strengths Pontos fracos Weaknesses Oportunidades Opportunities Ameaças reats Fatores positivos Fa to re s i nt er no s Fa to re s e xt er no s Fatores negativos Fonte: Elaborada pelo autor. A análise SWOT deve ser usada como ferramenta auxiliar e suas limitações precisam ser observadas, como o fato de nem sempre se conseguir medir com precisão os pontos fortes e fracos dos competidores. Da mesma forma, pode ser difícil avaliar ameaças e oportunidades do mercado, principalmente quando se atua em setores como o de tecnologia da informação (TI), em que mudanças podem ocorrer muito depressa. A construção dos quatro quadrantes da matriz SWOT é feita, de maneira geral, por meio de brainstorming1, com o objetivo de levantar o maior número de ideias possível, não deixar nada passar despercebido, ajudar a romper os bloqueios criativos, ou seja, auxiliar a pensar em novas soluções e enxergar o que vem além (SANTO, 2015). Algo que nos parece bastante recomendável é submeter os resultados da análise SWOT a alguém de fora da organização, um especialista ou um consultor que possa emitir uma opinião isenta e crítica às conclusões obtidas, conforme Chiavenato e Sapiro (2009). Passemos a analisar cada um dos quatro quadrantes, dividindo-os em fatores internos (os pontos fortes e os pontos fracos) e fatores externos (as oportunidades e as ameaças). 4.2 Fatores internos Os fatores internos de uma organização referem-se aos seus pontos fortes e fracos. No entanto, é muito importante considerar que estes só podem ser definidos quando comparamos a empresa às outras que competem em uma mesma indústria ou que podem ser consideradas como referência de mercado. Dessa forma, se possuir uma equipe numerosa de vendedores é algo comum a praticamente todas as empresas competidoras, então ter essa característica não constituirá uma vantagem ou um ponto forte. Podemos definir um ponto forte como aquilo que a empresa faz bem ou alguma característica que lhe proporcione vantagem competitiva, como uma habilidade valorizada pelos clientes, 1 Brainstorming é uma expressão em inglês que em tradução livre significa tempestade cerebral ou tempestade de ideias. É um método colaborativo em que se reúnem pessoas e se procura obter um grande número de ideias e iniciativas de orma propositadamente desorganizada e com a máxima liberdade possível (SANTO, 2015). Vídeo Análise SWOT 61 a patente de algum produto lucrativo, abrangência geográfica superior à dos concorrentes, resposta rápida a mudanças (cultura de inovação) etc. (ANDRADE, 2012). Do lado oposto, temos os pontos fracos, que são as deficiências ou as desvantagens que a empresa tem, quando comparada aos seus competidores, e que, possivelmente, a deixam em posição vulnerável no mercado. Como exemplos de pontos fracos, podemos citar a baixa capacidade de investimento, a falta de mão de obra capacitada em alguma área importante, a marca pouco reconhecida, a baixa qualidade etc. (ANDRADE, 2012). Andrade (2012) recomenda que a análise interna percorra o ambiente da organização nos seguintes aspectos: • Análise dos recursos: para que uma empresa coloque em prática suas estratégias, seus dirigentes precisam saber exatamente com quais recursos podem contar. Nesse caso, estamos falando tanto de recursos tangíveis, como fábricas, máquinas, equipamentos e pessoas, como de recursos intangíveis, tais como reputação, marcas e know-how2. • Análise das capacidades: refere-se às habilidades que uma organização reúne para extrair o máximo de seus recursos. Isso se dá por meio da utilização racional e coordenada das pessoas e dos processos desenvolvidos pela empresa. • Análise funcional: consiste no diagnóstico da organização no que se refere à sua estrutura funcional, como seus departamentos financeiros, de marketing, de produção, logística etc. Como esses departamentos ou funções estão desempenhando suas tarefas? Quais são seus pontos fortes e fracos? O que precisa ser reformulado? • Análise da cultura e do clima organizacional: a cultura de uma organização está ligada aos seus valores, sua maneira de agir e como as decisões são tomadas nas diferentes esferas de poder. A cultura organizacional pode ser detectada por meio do clima organizacional, de como o ambiente dentro da empresa se constrói, de como as pessoas se relacionam. O tipo de indústria em que uma empresa atua influencia muito sua cultura e seu clima organizacional. Percebemos que os fatores internos são importantes para que os dirigentes conheçam os pontos fortes e fracos de sua empresa, não só no que se refere à infraestrutura, como também nas pessoas que ali trabalham. Vimos, no Capítulo 1, que as ações coordenadas e o diagnóstico da organização constituem um dos pilares de uma boa estratégia e também fazem parte da análise SWOT. Quando entramos em um banco ou um escritório de advocacia, esperamos encontrar um ambiente formal, com homens engravatados e muitos níveis hierárquicos. Já em uma empresa de tecnologia, o que se espera é um ambiente informal em que as pessoas se vistam como se estivessem na faculdade e se tratem como amigos, mesmo entre chefes e subordinados. É claro que esses são estereótipos que nem sempre correspondem fielmente à realidade, mas, de certa forma, é assim que acontece. Somos muito afeitos à imagem e, por isso mesmo, 2 Know-how é uma expressão em inglês que significa “saber como”, ou seja, saber como fazer determinada coisa ou reunir o conhecimento necessário para realizar determinada tarea. Planejamento Estratégico62 ter a imagem certa para determinado tipo de negócio pode representar um ponto forte. De modo contrário, ao apresentar uma imagem que não inspire credibilidade aos clientes, uma empresa pode encontrar dificuldade em realizar negócios. No Quadro 1, listaremos alguns pontos fortes e fracos que podem surgir dessas análises. Quadro 1 – Exemplos de pontos ortes e racos de uma organização Pontos fortes Pontos fracos • Equipes capacitadas nas áreas-chave da empresa. • Marca orte e reconhecida pelo mercado. • Estrutura de custos enxuta. • Boa expertise de mercado. • Disponibilidade de recursos nanceiros. • Patentes de produtos. • Cultura de inovação. • Custos elevados. • Falta de funcionários capacitados. • Gestão de caixa ineciente. • Falta de planejamento estratégico. • Atraso tecnológico. • Baixa capacidade de comercialização. • Ausência de capacidade de tomada de decisões. • Marca e produtos obsoletos. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Andrade, 2012. Uma característica positiva que a análise dos fatores internos tem sobre os fatores externos é que, ao contrário destes, os fatores internos estão nas mãos da empresa, ou seja, dependem significativamente da capacidade de seus dirigentes em arquitetar as melhores formas de manter (e, se possível, aprimorar) seus pontos fortes e corrigir suas deficiências, eliminando grada- tivamente seus pontos fracos. 4.3 Fatores externos Os fatores externos de uma organização são as ameaças e as oportunidades, apontadas nos quadrantes da matriz SWOT. Conforme vimos no Capítulo 3 sobre a análise Pestel, diversos fatores (políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, ecológicose legais) podem impactar uma empresa. O mesmo cuidado dedicado à formulação e à análise dos pontos fortes e fracos de uma empresa precisa ser tomado ao levantarmos as oportunidades e as ameaças que surgem no mercado. Em muitos casos, não é fácil diferenciar uma ameaça de uma oportunidade. Tomemos o exemplo do envelhecimento gradual de nossa população. Nos últimos anos, o Brasil tem observado uma diminuição do nascimento de bebês e o aumento da expectativa de vida das pessoas (IBGE, 2019). Para um fabricante de brinquedos infantis, por exemplo, essa pode ser uma má notícia, já que seu público-alvo tende a diminuir com o tempo. A contração de sua base de clientes é uma clara ameaça aos seus negócios. Por outro lado, clínicas de saúde especializadas em atendimento a pessoas da terceira idade veem o crescimento da população idosa como uma oportunidade de atender a um mercado em expansão. O que é ameaça para uns pode se tornar uma oportunidade para outros. Podemos entender que para avaliarmos se determinado fato ou conjunto de acontecimentos constitui uma ameaça ou uma oportunidade, precisamos conhecer o mercado em que determinada Vídeo Análise SWOT 63 empresa atua e a capacidade que ela tem de tirar vantagem ou de ser afetada negativamente pelas mudanças que possam ocorrer. Para permitir uma análise mais efetiva dos fatores externos, podemos assumir definições um pouco mais práticas dos termos ameaça e oportunidade, da seguinte forma (ANDRADE, 2012): • Oportunidades: situações ou acontecimentos externos que podem ser aproveitados pela organização, desde que ela esteja preparada para obter vantagem competitiva. • Ameaças: fatores externos que devem ser eliminados ou minimizados para que não causem danos à organização. É essencial que a análise dos fatores externos seja considerada tanto no presente quanto no futuro, ou seja, de que forma as condições evoluem com o tempo. Rupturas radicais são acontecimentos raros no mercado, e um olhar atento permite antecipar determinadas tendências e se preparar de forma adequada. No Quadro 2, identificamos alguns pontos ou fatores externos que podem constituir oportunidades ou ameaças. Quadro 2 – Exemplos de oportunidades e ameaças a uma empresa Oportunidades Ameaças • Retirada de algum competidor. • Aumento da renda da população. • Surgimento de um novo grupo de clientes. • Nova tecnologia que diminua custos. • Crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). • Possibilidade de comprar um concorrente. • Abertura de mercado a produtos importados. • Baixa escolaridade de funcionários. • Chegada de novos concorrentes. • Recessão econômica. • Mudança no gosto dos consumidores. • Surgimento de produtos substitutos. • Retirada de um ornecedor importante. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Andrade, 2012. A análise dos fatores externos, por não estarem sujeitos ao controle da organização, reforça a necessidade de capacidade adaptativa e elaboração de planos de contingência por parte dos dirigentes empresariais. 4.4 Planos de ação O objetivo primordial das análises apresentadas, como o modelo de cinco forças, o Canvas, a análise Pestel e a análise SWOT, é o de mover a organização, ou seja, fazer com que ela seja estimulada a agir. De modo geral, o bom planejamento estratégico define os tipos de ação que devem ser executados para assegurar o bom desempenho de uma organização, de modo a garantir sua vantagem competitiva, seu crescimento sustentável, seu impacto positivo na sociedade, entre outros. Todas as ferramentas aqui apresentadas e as demais presentes nos próximos capítulos somente serão eficazes se colocadas em prática de forma inteligente, por meio de ações coorde- nadas e com indicadores que possam atestar sua efetividade. Conforme esclarece Campos (2004), um plano de ação começa com o estabelecimento de uma meta. Vídeo Planejamento Estratégico64 Mas de onde vêm as metas? No primeiro capítulo desta obra, definimos metas como a quantificação de uma situação desejada no futuro, ou seja, surge quando desejamos atingir um estágio em que ainda não estamos, obter algo que ainda não possuímos. A análise SWOT aponta uma série de situações desconfortáveis para a empresa, que são as ameaças impostas pelo ambiente externo e os pontos fracos ou limitações internas existentes. Um dos eventuais pontos fracos que pode existir dentro de uma empresa é uma equipe de vendas pouco qualificada. Essa situação causa desconforto e pode ser traduzida em vendas abaixo do esperado ou abaixo da média de mercado. É importante lembrar que os pontos fracos e fortes devem ser sempre comparados com os de seus competidores. Diante dessa situação, a empresa se vê obrigada a tomar uma decisão, a agir. Uma das possíveis medidas poderá ser a decisão de treinar e capacitar a força de vendas. Essa decisão gera um projeto ou um plano de ação. Neste ponto, é importante estabelecermos uma definição simples e prática de projeto que nos ajudará no entendimento do que vem pela frente. De modo simples, Chiavenato e Sapiro (2009) explicam que projeto é um empreendimento temporário com o objetivo de gerar um determinado resultado. Dessa definição, podemos extrair as seguintes características básicas: • um projeto é temporário, pois tem início, meio e fim; • um projeto gera um resultado único, seja ele produto, serviço ou situação desejada. Nessa perspectiva, podemos pensar que projeto se diferencia de processo, pois enquanto o primeiro tem duração definida e gera um resultado único, o segundo é repetitivo e se caracteriza pelo conjunto de atividades dependentes umas das outras (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009). Há outra ferramenta também interessante chamada 5W2H, que funciona muito bem para direcionar planos de ação e pequenos projetos. O nome dessa ferramenta reúne as iniciais das palavras, em inglês, a seguir: 5W What: o que deve ser feito? Why: qual é a justificativa? Where: onde será feito? When: qual é o prazo? Who: quem será responsável? 2H How: como será feito? (procedimento) How much: quanto vai custar? A ferramenta 5W2H é um checklist para organizarmos as atividades, os prazos e os compromissos que devem ser desenvolvidos com clareza e eficiência por todas as pessoas Análise SWOT 65 envolvidas no projeto. No exemplo da equipe de vendas com desempenho abaixo do desejado, podemos pensar um possível detalhamento dos planos de ação, conforme a metodologia 5W2H, como colocado no Quadro 3. Quadro 3 – Exemplo de plano de ação utilizando 5W2H O que fazer Justificativa Local Prazo Responsável Procedimento Custo What Why Where When Who How How much Capacitar equipe de vendas Desempenho abaixo do desejado Departamento comercial 31/10 Pedro – gerente comercial Será contratada empresa para treinar os vendedores em técnicas de vendas e, internamente, fornecer pleno conhecimento dos produtos. R$ 5.000,00 Fonte: Elaborado pelo autor com base em Campos, 2004, p. 47. Como metas a serem atingidas por meio do plano apresentado acima, podemos estabelecer, por exemplo, que 80% dos vendedores sejam capacitados nessa etapa e que as vendas cresçam 15% nos três meses posteriores ao treinamento. Ao final do prazo definido, e atingida a meta estabelecida, daremos o projeto por encerrado e teremos alcançado a situação desejada, que foi definida como capacitar a equipe de vendas e gerar maior volume de vendas. O procedimento 5W2H pode ser utilizado para todos os demais indicadores apresentados na matriz SWOT e em qualquer situação em que seja necessário planejar ações e gerar resultados desejados. Considerações finais A ideia por trás do planejamento estratégico é de tornar as empresas capazes de se prepararem para responder, de forma ágil, às ameaças e às oportunidades que aparecem a todo momento no mundo dos negócios. Neste ponto do nosso estudo, convém avaliarmos os assuntos que já abordamos e os conceitos aos quais fomos apresentados. De forma resumida, fomos apresentados aos conceitosde planejamento, de estratégia, de objetivos e de metas. Conhecemos os pilares de uma boa estratégia e a importância de avaliarmos a situação atual, estabelecermos comportamentos e métodos adequados para a execução da estratégia e mobilizarmos os recursos necessários para colocar a estratégia em prática. Vimos que as diversas escolas de estratégia são referências e como as organizações fazem suas escolhas em função de sua cultura organizacional e daquilo que enxergam como mais adequado. Definimos missão, visão e valores que guiam uma organização e estabelecem determinadas formas de agir. Planejamento Estratégico66 Conhecemos três importantes modelos elaborados por Michael Porter como a cadeia de valor, o modelo de cinco forças e as estratégias genéricas. Visualizamos o ciclo de vida de produtos e de negócios e estabelecemos alguns dos parâmetros pelos quais os consumidores fazem suas escolhas e quais os fatores críticos que uma empresa precisa dominar para atender seus clientes. Finalmente, fomos apresentados à análise Pestel e nos aprofundamos na análise SWOT, uma espécie de autoavaliação que permite à organização reconhecer suas limitações e se preparar para enfrentar as dificuldades e aproveitar as oportunidades que surgem a todo instante. Os próximos dois capítulos serão dedicados à execução da estratégia, como colocar as diversas ferramentas existentes para funcionar de fato. Ampliando seus conhecimentos • NAKAGAWA, M. Ferramenta: análise SWOT (Clássico). Sebrae. [2019]. Disponível em: https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/ME_Analise-Swot.PDF. Acesso em: 13 jun. 2019. O site do Sebrae possui uma série de ferramentas e publicações que auxiliam empresários e empreendedores em todo o Brasil. O artigo de Marcelo Nakagawa reforça os conceitos da análise SWOT e possui uma matriz que pode ser impressa e usada de imediato. • PMI - Project Management Institute. 2019. Disponível em: https://brasil.pmi.org/brazil/ home.aspx. Acesso em: 13 jun. 2019. Para aqueles que desejarem se aprofundar na gestão de projetos, recomendamos acessar o site do Project Management Institute (PMI), uma organização mundial que se dedica a desenvolver e formar profissionais com as mais avançadas técnicas de gerenciamento de projetos. A organização tem representação no Brasil. Atividades 1. Cite os fatores internos e externos denidos pela matriz SWOT. Por que são assim denominados? 2. Por que é importante, ao se estabelecerem os pontos fortes e os pontos fracos de sua organização, compará-la aos competidores? 3. Cite três indicadores que podem ser considerados como potenciais ameaças a um negócio e três que podem constituir eventuais oportunidades. Análise SWOT 67 Referências ANDRADE, A. R. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2012. CAMPOS, V. F. Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2004. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html. Acesso em: 21 jun. 2019. SANTO, R. Brainstorming: tempestade de ideias (BS - TI) ou como tirar seu time do cercadinho mental. Sebrae. 2015. Disponível em: https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds. nsf/741A876FE828908203256E7C00614A23/$File/NT00002206.pdf. Acesso em: 13 jun. 2019. TZU, S. A arte da guerra. Tradução de Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006. 5 Execução da estratégia No capítulo anterior, abordamos a matriz SWOT, que é uma das ferramentas mais utilizadas no planejamento estratégico. Vimos ainda que um bom planejamento estratégico nos auxilia a escolher os planos de ação a serem empregados para termos, por exemplo, vantagem competitiva. Mencionamos também a ferramenta 5W2H. Bastante usada no ambiente corporativo, mostra-se efetiva para direcionar os planos de ação e projetos pequenos. Como saber se um plano é bom? Como podemos afirmar que uma estratégia gerará os resultados esperados? Encontraremos a resposta neste capítulo, mas podemos adiantar que a melhor forma de responder a essas perguntas, e talvez a única, é verificando se as metas foram atingidas e se os objetivos em longo prazo foram alcançados. Infelizmente, uma organização inserida em um ambiente de grande competição não pode simplesmente aguardar resultados que, muitas vezes, demoram anos para chegar de modo que possamos avaliar se as definições elaboradas lá atrás foram as mais adequadas. Uma organização que pretende ter sucesso precisa contar com métodos adequados e pessoas preparadas para analisar o que está acontecendo e ser capaz de tomar decisões precisas em um mundo repleto de incertezas. É nesse contexto que dedicaremos boa parte deste capítulo a falar sobre pessoas. As estratégias são elaboradas por pessoas e a execução dessas estratégias são levadas adiante por elas também. Trataremos de equipes e liderança e sobre como ter as pessoas certas nos lugares certos. Deveremos ser capazes de compreender que mesmo a melhor das estratégias de nada servirá se for executada de forma pobre e sem buscar atingir as metas preestabelecidas. Por fim, apresentaremos o balanced scorecard (BSC), metodologia que busca colocar a estratégia para funcionar de forma efetiva por meio de ferramentas práticas e cujos resultados podem ser acompanhados constantemente e não apenas ao final de um ou mais anos. O BSC será objeto de um estudo mais aprofundado no próximo capítulo em que teremos a oportunidade de ver, na prática, como funciona essa importante metodologia que coloca a estratégia em ação. 5.1 Os obstáculos à execução da estratégia De modo geral, os maiores obstáculos à execução da estratégia estão dentro das organizações: políticas internas falhas, pouco comprometimento da alta direção e lideranças despreparadas, entre outros fatores. Segundo Bossidy (2005, p. 15), quando as empresas falham em cumprir suas promessas a explicação mais frequente é que a estratégia do CEO estava errada. Mas a estratégia por si só não é, em geral, a causa. As estratégias dão errado mais frequentemente porque não são bem executadas. As coisas que deviam acontecer não acontecem. Ou as organizações não são capazes de fazer com que elas aconteçam ou os líderes avaliam mal os desafios que as empresas enfrentam na conjuntura de negócios, ou ambos. Vídeo Planejamento Estratégico70 Para nos aprofundarmos nos problemas relativos à execução da estratégia, convém lembrar a importância de um planejamento adequado e que leve em consideração não apenas as metas desejadas pela organização, mas também sua capacidade de atingi-las. Falconi (2009) define problema como uma meta a ser alcançada de modo que quanto maior a distância entre nossa situação atual e a meta proposta, maior é o nosso problema. Entre as falhas à execução adequada das estratégias apresentadas pelo autor, podemos destacar: • falta de metas claras (os problemas não são definidos de forma correta); • planos de ação ruins (falta de métodos de análise e falta de conhecimento técnico); • os planos de ação não são executados completamente e dentro dos cronogramas estabelecidos. Especificamente com relação ao item planos de ação, devemos notar que muitas ações dependem umas das outras e uma ação mal executada, em que não se atingem os resultados adequados, acaba gerando uma sequência de falhas que certamente comprometerá toda a implementação daquilo que fora planejado inicialmente. Kaplan e Norton (1997), criadores da metodologia balanced scorecard (BSC), listam quatro barreiras ou obstáculos principais à execução eficaz da estratégia: 1) visão e estratégias não executáveis; 2) estratégias não associadas às metas; 3) estratégias não ligadas ao orçamento; 4) feedback tático,não estratégico. Passemos a analisar cada uma dessas barreiras. 5.1.1 Visão e estratégia não executáveis O primeiro passo para a elaboração de um planejamento estratégico adequado é a definição de onde estamos e aonde queremos chegar. Para isso, definimos anteriormente os conceitos de missão, que é a razão de ser da empresa; de visão, aquilo que a empresa quer ser no futuro; e modelo de negócios, que descreve a lógica de criação e troca de valor entre os componentes do mercado (OLIVEIRA, 1995; CHIAVENATO, SAPIRO, 2009; OSTERWALDER, A.; PIGNEUR, 2011). Associados a esses conceitos, temos a escolha da estratégia genérica, que traz os assuntos de liderança em custos, diferenciação e enfoque, e a elaboração da matriz SWOT, que tece um diagnóstico sobre os fatores internos e externos aos quais a empresa está submetida (PORTER, 2004). Esta primeira barreira é constituída quando a empresa não consegue traduzir de forma clara e transparente os conceitos listados nos parágrafos anteriores. Se os diversos departamentos da organização, suas principais lideranças, seus gerentes de nível médio e os colaboradores em geral não conseguirem entender o que deve ser feito, como esperar uma execução exitosa? O compartilhamento da visão deve permear toda a organização e precisa fazer sentido para os colaboradores, caso contrário será impossível obter o engajamento e o comprometimento necessário para a construção do futuro almejado. Execução da estratégia 71 5.1.2 Estratégia não associada a metas Vimos no Capítulo 1 que o planejamento estratégico de uma organização se dá nos níveis estratégico, tático e operacional. Ao elaborar sua visão de longo prazo, a alta direção de uma empresa estabelece objetivos (estados futuros desejados) e as metas correspondentes (tradução dos objetivos em medidas quantificáveis). Sob essa ótica, para que o planejamento estratégico de uma empresa funcione de maneira efetiva, é fundamental que as metas estratégicas, de longo prazo, sejam desdobradas em metas táticas (médio prazo) e, finalmente, nas metas operacionais, aquelas que devem ser atingidas no dia a dia (CAMPOS, 2004). No próximo capítulo, veremos com mais detalhes o balanced scorecard, descrito por Kaplan e Norton (1997), mas podemos adiantar que essa metodologia mostrará as relações de causa e efeito entre determinadas ações no curto e médio prazo e suas consequências em longo prazo. Isso significa que as metas de longo prazo, aquelas que efetivamente servirão para construir a visão da empresa, são estabelecidas de acordo com as metas intermediárias, isto é, resultados parciais que servirão para nos mostrar se estamos ou não no caminho correto. Com base nisso, é um erro comum de muitas organizações incentivar metas financeiras de curto prazo que não estão diretamente ligadas à estratégia ampla da empresa, ou seja, atingir essas metas não contribuirá para o futuro desejado pela alta administração. Outro erro que pode ser apontado com frequência em empresas dos mais variados portes e segmentos é o fato de o orçamento não estar alinhado ao planejamento estratégico. É o que veremos a seguir. 5.1.3 Estratégia não ligada ao orçamento Conforme já analisamos, elaborar uma estratégia é construir um caminho que nos leva da situação atual a uma situação desejada no futuro (KAPLAN; NORTON, 1997). Essa viagem consumirá recursos que devem ser muito bem dimensionados e utilizados de maneira inteligente. Por exemplo, recursos financeiros desperdiçados poderão fazer falta em algum ponto de nossa jornada e, quando forem mais necessários, para aproveitar uma oportunidade ou se defender de uma ameaça (lembre-se da análise SWOT), talvez não estejam disponíveis. É fundamental que os responsáveis pelas áreas de planejamento e de finanças trabalhem de forma integrada e reconhecendo a importância dessa integração na implementação das estratégias. 5.1.4 Feedback tático, não estratégico Feedback1 é uma expressão de origem inglesa que significa realimentar e, no mundo corporativo, é utilizada como uma ferramenta que diz a um funcionário ou a um departamento se suas ações e procedimentos estão gerando resultados positivos ou não. Novamente, a falha que costuma ocorrer é o foco apenas no curto prazo e em indicadores que não estão diretamente ligados à estratégia e à visão da empresa. 1 Você pode saber mais inormações sobre o termo em: https://administradores.com.br/artigos/o-que-e-eedback. Acesso em: 21 jun. 2019. Planejamento Estratégico72 Nunca é demais destacar a importância de revisões periódicas nas estratégias e no posicionamento da empresa em um determinado momento. Lembra-se da análise Pestel e dos critérios de compra dos clientes (CPCs) estudados nos capítulos anteriores? Qualquer mudança de cenário exige uma revisão nas estratégias e a confirmação de que as premissas adotadas inicialmente continuam válidas ou se ajustes são necessários. Feedback é algo que deve fazer parte da política de comunicação da empresa, é a forma como um indivíduo fica sabendo se o que ele está fazendo é aquilo que se espera dele. 5.2 A importância das pessoas no processo estratégico Todos nós conhecemos e temos contato com diversas empresas, dos mais variados tamanhos e áreas de atuação. O que elas têm em comum? Se você respondeu pessoas, acertou. É claro que existem inúmeras outras características que diferentes organizações possuem em comum, mas todas elas, por mais automatizadas que sejam, têm pessoas e dependem delas para a realização de suas tarefas. Por isso, para Kaplan e Norton (1997, p. 207), “a implementação da estratégia começa pela capacitação e envolvimento das pessoas que devem executá-la”. Antes mesmo da implementação da estratégia, durante o seu processo de formulação, é importante a atuação de pessoas capacitadas e, muitas vezes, especialistas contratados especificamente para esse fim. Conforme já mencionado, um projeto que começa errado tem grande chance de fracassar. Muitos estudos têm sido conduzidos ao longo do tempo com o objetivo de apontar o que, de fato, move as pessoas. O que faz com que elas saiam da cama pela manhã com o firme propósito de mudar o mundo? O que as diferencia daquelas que enxergam o novo dia como mais um conjunto de horas torturantes e sem sentido? Apesar do exagero, as empresas buscam pessoas com perfis mais próximos do primeiro tipo do que do segundo. Pessoas com atitude empreendedora tendem a ser mais resilientes e mais focadas em entregar aquilo que lhes foi pedido. Voltamos, então, à questão: O que move as pessoas? O que as motiva? Diversos autores, especializados em comportamento humano dentro de organizações, têm chegado à conclusão de que não é possível, de forma direta, motivar alguém. O que se pode fazer é criar as condições para que um determinado indivíduo motive a si mesmo. De certa forma, isso explica por que, em situações idênticas, algumas pessoas se sentirão motivadas e outras não (FERRAZ, 2018). Pessoas são diferentes umas das outras e reagem de formas diferentes também quando submetidas a estímulos semelhantes. O que parece, à primeira vista, algo negativo, na verdade constitui um dos maiores benefícios que uma empresa pode buscar: a diversidade e a complementariedade de competências, pensamentos e visões de negócios. Quando falamos em gestão de pessoas, é provável que nos venha à cabeça o departamento de recursos humanos (RH) de uma organização. Embora o setor de RH de uma empresa seja, efetivamente, o responsável pela organização dos aspectos relacionados à contratação, ao Vídeo Execução da estratégia 73 treinamento e ao desenvolvimento dos colaboradores, essas atividades não devem ficar restritas a esse departamento. Se são pessoas que elaboram e executam as estratégias, a gestão dessas pessoas deve permear toda a organização e ser tratada como prioritária por seus líderes. Passemos a analisar o processo de gestão de pessoas de forma mais prática. Esses aspectos estão representados na Figura 1. Figura1 – Fatores para a gestão de pessoas em uma organização Comunicação Competências Motivação Fonte: Elaborada pelo autor com base em Ferraz, 2018. Agora nos aprofundaremos nesses três importantes aspectos que, se bem trabalhados, poderão gerar resultados incríveis dentro de uma empresa. Passemos a entender como esses três fatores são desenvolvidos em uma organização. 5.2.1 Comunicação Expressar-se de forma clara e específica são características imprescindíveis para que a mensagem seja compreendida pelo receptor, que é quem a recebe. Neste caso, quem origina a mensagem é chamado de emissor. Todos nós sabemos da importância de uma comunicação eficiente e conhecemos exemplos do que acontece quando não conseguimos transmitir de forma precisa aquilo que desejamos: tarefas deixam de ser executadas, produtos incorretos são fornecidos etc. Dentro de uma empresa, a comunicação assume um caráter essencial à boa gestão e ao atingimento das metas. “O ideal seria que todos na empresa, do nível hierárquico mais elevado ao mais baixo, compreendessem a estratégia e como as suas ações individuais sustentam o quadro geral” (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 208). Em uma organização, a comunicação se dá de diversas maneiras, desde uma conversa entre colaboradores de mesmo nível hierárquico, uma instrução passada por um supervisor à sua equipe e até uma diretriz corporativa, por exemplo, um código de conduta ou um discurso de seu presidente em alguma ocasião especial. A comunicação também pode ser feita por meio de gráficos ou diagramas. No Gráfico 1, mostramos o exemplo de uma empresa que produz algum tipo de peça. Planejamento Estratégico74 Gráfico 1 – Exemplo de produção em uma indústria 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Meta de produção Peças produzidas Fonte: Elaborada pelo autor. O gráfico mostrado comunica a quem o analisa que, em alguns meses, a meta de produção estabelecida não foi atingida. O que se espera desse tipo de comunicação é que ela provoque alguma reação, um plano de ações corretivas, uma revisão na capacidade produtiva da empresa, entre outras possíveis iniciativas. Uma das formas mais efetivas de comunicação, especialmente no que se refere às estratégias, aos objetivos e às metas, é formada por um conjunto de indicadores (estratégicos e operacionais) que evidenciam, de forma contínua, como a empresa está em relação às suas metas, qual é a distância entre o que foi estabelecido e o que tem sido alcançado. 5.2.2 Competências Quando ouvimos alguém se referir a um determinado profissional como competente, é normal imaginarmos uma pessoa que faz as coisas de forma correta ou que sabe o que fazer ou ainda que entrega o que dela se espera. Seguindo a mesma linha de raciocínio, um indivíduo incompetente é aquele que não sabe executar determinada tarefa ou a executa de forma insatisfatória. De modo geral, o entendimento descrito anteriormente está correto, mas, quando nos referimos a uma estrutura organizacional, é necessária uma análise mais profunda, pois, além da necessidade de selecionar pessoas competentes, é preciso formar colaboradores competentes. Como isso pode ser feito? Primeiramente, vamos definir competência de forma mais adequada ao nosso propósito corporativo, como a junção de três fatores, a saber (PARRY, 1996): • Conhecimento: é o que uma pessoa sabe, sua formação acadêmica; • Habilidade: saber colocar em prática seus conhecimentos. Está relacionada à experiência profissional; • Atitude: é o querer fazer. Está relacionada aos valores pessoais e comportamentos. Já mencionamos que tanto a elaboração quanto a execução da estratégia são feitas por pessoas e, por isso, ter as pessoas certas nos lugares certos é o maior desafio que uma organização Execução da estratégia 75 pode enfrentar quando nos referimos à gestão de recursos humanos. Colocar as pessoas certas nos lugares certos significa, em primeiro lugar, estabelecer os parâmetros adequados para cada função desejada. • Que conhecimentos são necessários para que se execute determinada tarefa? • Queremos um profissional já capacitado ou o treinaremos? • Que tipo de experiência prévia esse funcionário deve ter? Além de saber responder de forma adequada a essas questões, o processo de seleção e gestão de pessoas deve ser capaz de identificar que tipo de perfil comportamental mais se adéqua à função que está sendo analisada. Tomemos como exemplo a função de vendedor em uma loja de departamentos. Será que alguém com perfil mais voltado para tarefas repetitivas, como organização de estoques, seria capaz de lidar bem com o público? Talvez sim, talvez não. Será que uma pessoa que prefere trabalhar individualmente se sentiria confortável em liderar uma equipe em que tenha de atuar de forma coletiva a maior parte do tempo? Muito se tem falado sobre a importância dos líderes dentro das organizações. Não é objeto desta obra nos aprofundarmos em questões relativas à seleção e formação de líderes, mas seu papel é fundamental tanto na geração de estratégia quanto em sua execução, de tal sorte que convém apresentarmos algumas características que devem compor o repertório comportamental de um bom líder. Mintzberg (2014, p. 330) afirma que “quando um especialista se torna gerente, a maior mudança dever ser de eu para nós”. A liderança não deve ocorrer pelo poder do cargo, mas sim pela capacidade de influenciar e energizar pessoas. Um líder deve ser capaz de formar equipes de alta performance, desenvolvendo indivíduos e sendo um facilitador. Um bom líder, antes de apontar pontos fracos e fortes dos membros de sua equipe, deve ser capaz de reconhecer suas próprias qualidades e limitações, compartilhar decisões e saber ouvir tanto quanto orientar. Um bom líder é aquele que consegue extrair o máximo de sua equipe na conquista das metas estabelecidas. Uma ferramenta bastante utilizada por empresas que buscam preencher suas posições organizacionais de modo efetivo é a matriz de competências (CODA, 2016). Existem diversos modelos de matriz de competências, das mais simples às mais complexas, mas o que todas elas buscam é definir os critérios para selecionar pessoas ou avaliar colaboradores que já desempenham determinada função dentro do grupo. De modo geral, essa ferramenta estabelece que competências são exigidas para o exercício de determinada função e quais as competências que o profissional apresenta. Com essas informações, é possível verificar se o candidato a certa vaga está apto a ocupá-la, no caso de uma contratação ou promoção interna. A matriz também pode ser utilizada para avaliar o desempenho de um funcionário, indicando eventuais pontos que necessitem ser trabalhados com treinamentos ou cursos. No Quadro 1, apresentamos um exemplo meramente didático de uma matriz de competências. Planejamento Estratégico76 Quadro 1 – Exemplo de matriz de competências Nome: Candidato 1 Avaliador: Antônio Observações: o candidato possui experiência direta de dois anos e quatro meses na unção, mas trabalhou por dois anos como montador elétrico. Data: 19/10/2019 Cargo: Gerente de produção Setor pretendido: Produção Resultado: aprovado Cargo/ Função Descrição Competências requeridas Competências apresentadas (indicar como SIM, NÃO, PARCIAL) Conhecimentos (formação acadêmica) Habilidades (experiência prossional) Atitudes (perl) Conhecimentos (formação acadêmica) Habilidades (experiência prossional) Atitude (perl) Operador de máquina Operação de prensa hidráulica de 10 toneladas. Abastecimento de matéria- -prima e controle da qualidade local. Segundo grau completo e formação técnica na área industrial. Experiência mínima de três anos em operação de máquinas eletro- mecânicas. Perl analítico e realizador (mão na massa). SIM PARCIAL SIM Fonte: Elaborado pelo autor com base em Coda, 2016. O modelo mostrado no Quadro 1 pode ser modificado da forma que a organizaçãojulgar necessária. Podem-se estabelecer, por exemplo, notas para as competências e pesos para cada uma delas. Dessa forma, para um cargo como gerente de vendas, a experiência profissional pode ter uma importância maior do que a formação acadêmica. 5.2.3 Motivação Já sabemos que as operações de uma empresa e a execução da estratégia dependem, sobretudo, de pessoas, sejam elas diretores, gerentes, operários ou estagiários. O desempenho de uma organização está diretamente ligado ao desempenho dos departamentos, das equipes e dos indivíduos. Como garantir que os colaboradores de uma empresa dediquem o máximo de suas capacidades à empresa? Para obter a resposta, precisamos entender um pouco mais sobre o que motiva as pessoas dentro de um ambiente corporativo. Segundo Ferraz (2018), pesquisas mostram que pessoas talentosas são atraídas para uma empresa de acordo com os seguintes fatores: líderes carismáticos; benefícios excelentes; perspectiva de crescimento; reputação da empresa. “Entretanto, o tempo que permanecerão na empresa, seu nível de comprometimento e sua produtividade têm a ver com a relação com seu chefe imediato” (FERRAZ, 2018, p. 148). Uma vez que atraímos pessoas talentosas para dentro de nossa empresa, o que devemos fazer para que elas desejem permanecer conosco? O Quadro 2 pode responder a essa pergunta. De modo geral, uma empresa possui cinco elementos que podem motivar seus colaboradores: Execução da estratégia 77 Quadro 2 – Cinco elementos que motivam os colaboradores Remuneração Este elemento reúne salário, érias, participação nos resultados, prêmios em dinheiro etc. Ambiente de trabalho Reere-se a segurança, relacionamento com colegas e líderes, regras claras e justas, entre outros fatores. Reconhecimento É a orma como o desempenho de um indivíduo é avaliado quando realiza suas tareas de orma adequada ou apresenta desempenho superior ao que dele se espera. Nem sempre o reconhecimento mais valorizado se dá sob a orma de dinheiro, muitas vezes um reconhecimento em público ou algum tipo de celebração surtem eeitos bastante positivos. Evolução Muitos indivíduos valorizam muito as oportunidades de aprendizado que obtêm em uma organização. Neste caso, estamos nos referindo tanto a cursos e treinamentos formais quanto à possibilidade de experiências práticas como viagens a unidades da empresa no exterior ou participação em equipes multidisciplinares em certos projetos. Autorrealização É a forma como o indivíduo enxerga seu papel na empresa, a maneira como ele dá sentido ao seu trabalho e concilia os aspectos prossionais aos pessoais. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Ferraz, 2018. O bom líder sabe reconhecer que os elementos descritos têm importância diferente para cada pessoa. Há quem valorize muito a remuneração e não se incomode com ambientes excessivamente competitivos e exigentes. Outros preferem exercer atividades mais alinhadas a seus valores pessoais. É importante observar que a importância dada a cada um dos elementos mostrados pode variar de acordo com o momento profissional e pessoal pelo qual um funcionário está passando. Uma gerente que acaba de se tornar mãe talvez valorize a possibilidade de, mesmo além do que determina a lei, viajar a trabalho com menos frequência. Um líder competente é capaz de reconhecer o que cada um de seus subordinados valoriza e em que momento de suas carreiras eles se encontram e, dessa forma, compreender quais os fatores que mais os motivam. 5.3 Apresentando o balanced scorecard (BSC) Um dos maiores desafios que os responsáveis pela administração de um grupo empresarial enfrenta, sejam eles diretores, presidentes ou gerentes de divisão, é como executar a estratégia. Como garantir que tudo aquilo que foi planejado durante meses saia, efetivamente, do papel, passe a fazer parte do dia a dia da organização e conduza aos resultados esperados? O balanced scorecard, também conhecido pela sigla BSC, foi criado pelos professores da Harvard Business School2 Robert Kaplan e David Norton, no ano de 1992. Em uma tradução livre, o termo balanced scorecard poderia significar algo como placar balanceado ou quadro balanceado de indicadores. Uma das principais motivações que levaram Kaplan e Norton (1997) a desenvolverem o BSC foi a observação de que a maioria das empresas dá atenção excessiva e até mesmo exclusiva aos 2 Universidade norte-americana reconhecida como uma das melhores escolas de negócios do mundo. Vídeo Planejamento Estratégico78 indicadores financeiros como o Roce, o ROI e o ROE3. Não é objetivo do nosso estudo analisar em detalhes esse tipo de indicador, mas, para facilitar nossa compreensão, podemos relacioná-los ao lucro obtido por uma empresa. Empresas são criadas para gerar lucro e retornos financeiros aos seus proprietários e acionistas. Entretanto, indicadores financeiros tais como o faturamento (vendas), os custos, as despesas administrativas e o próprio lucro são medidas de resultado, ou seja, são obtidas ao final de um determinado período que pode ser um mês, um trimestre ou um ano. Como garantir que esses indicadores financeiros apresentarão os resultados desejados? Como tais resultados financeiros são construídos? Ao longo do próximo capítulo, aprofundaremos nosso conhecimento sobre o BSC e veremos detalhadamente como essa ferramenta se baseia em uma relação de causa e efeito. Mas o que o BSC tem a ver com a estratégia? Já sabemos que estratégia é o caminho ou curso de ações planejadas que uma organização constrói para atingir seus objetivos de longo prazo, ou seja, a visão da empresa. O que o BSC faz é traduzir essa visão em metas e indicadores estratégicos que direcionam os esforços e os recursos da organização por meio de seus departamentos e de suas operações. Na Figura 3, ilustramos a relação de causa e efeito utilizada pelo BSC: Figura 3 – Exemplo de relação de causa e eeito Lucro DespesasVendas Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 3 mostra, de forma bastante simples, que a obtenção de lucro está relacionada ao volume de vendas (ou faturamento) de uma empresa e às despesas desta. Em termos matemáticos, temos o seguinte: lucro = vendas (–) despesas. Para que possamos obter um lucro maior, devemos aumentar as vendas ou diminuir as despesas. De preferência ambos. Dessa forma, podemos notar que o lucro é o efeito resultante das vendas e das despesas, que são as causas. De maneira similar, utilizando novamente o conceito de causa e efeito, podemos pensar no que é preciso fazer para diminuir as despesas de uma empresa e quais as ações que devem ser tomadas para aumentar as vendas. 3 Termos inanceiros muito utilizados na gestão de empresas: Roce (retorno sobre o capital empregado); ROI (retorno sobre o capital investido); ROE (retorno sobre o patrimônio líquido). Execução da estratégia 79 Essa relação de causa e efeito é o que permitirá colocar a estratégia em ação de forma clara e prática, executando aquilo que será importante para a construção da estratégia e deixando de lado atividades que não agregam valor e apenas consomem tempo e recursos. O BSC é uma ferramenta que ajuda na tomada de decisões. Não despreza a importância da dimensão financeira, mas vai além disso ao criar outras perspectivas que devem ser analisadas em conjunto com a contabilidade para que se possa enxergar a organização de maneira ampla. O BSC estabelece a existência de quatro perspectivas, conforme mostra o Quadro 3. Quadro 3 – As perspectivas do balanced scorecard Perspectiva Descrição Financeira Mostra se a estratégia adotada pela organização está surtindo os efeitos desejados em termos de lucratividade. Clientes Os resultados nanceiros são decorrentes do correto atendimento às necessidades dos clientes. Processos internos Atender os clientes com qualidade exige processos bem denidos e que garantam a sua satisação. Aprendizado e crescimento As pessoas responsáveis pelas tarefas e processos devem possuir as competências essenciaispara executá-los. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Kaplan; Norton, 1997. Estudaremos essas quatro perspectivas de forma mais aprofundada no próximo capítulo, mas já podemos perceber que a saúde financeira de uma empresa é construída por meio de uma base sólida que busca capacitar pessoas para executar processos de forma a gerar valor ao cliente, que recompensará a empresa com sua fidelidade e preferência. Considerações finais Neste capítulo, vimos a importância da execução da estratégia, pois planejar por planejar e não ser capaz de colocar a estratégia em prática é um contratempo muito comum no mundo dos negócios. Isso ocorre por diversos fatores como falta de comprometimento da alta direção, ausência de lideranças capazes e de colaboradores capacitados e motivados. Outra barreira bastante relevante reside na falta de uma comunicação efetiva que permita a compreensão de como a estratégia, elaborada pelos níveis hierárquicos mais elevados, deve estar presente em todos os setores da organização. A criação da metodologia conhecida por balanced scorecard busca eliminar essas barreiras e facilitar a construção de uma cultura de execução baseada na disseminação da estratégia por meio de vetores de crescimento e no alinhamento estratégico. A execução da estratégia, ou seja, colocar em prática aquilo que foi planejado é o que vai, efetivamente, mostrar se as decisões iniciais foram acertadas ou não. Mais importante, uma boa execução permitirá fazer os ajustes necessários e as eventuais correções de rota que podem ser Planejamento Estratégico80 fundamentais ao longo do tempo. Vivemos em um mundo em constante mudança e, cada vez mais, essas mudanças ocorrem de maneira mais rápida e radical. As relações de causa e efeito dentro das perspectivas do BSC permitem uma visualização clara do que precisa ser feito para que se atinjam os resultados desejados, bem como o papel que cada departamento, equipe e indivíduo deve exercer para levar a organização a um patamar de excelência que se reverta em vantagem competitiva e resultados sustentáveis no longo prazo. O próximo capítulo será dedicado ao BSC, sua construção a partir da visão da empresa e de como elaborar os planos de ação para colocar a estratégia em ação. Ampliando seus conhecimentos • BALANCED SCORECARD. [S.l.: s.n.], 2009. 1 vídeo (3 min.). Publicado pelo canal Managemen TV. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_A02vKgE4NQ&t=. Acesso em: 21 jun. 2019. Nesse vídeo, disponível no YouTube, o professor Kaplan apresenta brevemente o BSC, o que o levou a desenvolver essa ferramenta e os objetivos de sua utilização. Há farto material disponível sobre o BSC na internet e é muito interessante ver como a metodo- logia evoluiu e gerou uma série de abordagens e derivações. • KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Tradução de Luiz Euclides Trindade Frazão Filho. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. Para se aprofundar no tema, nada melhor do que ler o livro original sobre o BSC. Na obra, os autores realizam uma profunda análise sobre os fatores que levam uma empresa a atingir os resultados desejados por meio de relações de causa e efeito. Atividades 1. Cite três obstáculos ou falhas que atrapalham ou impedem a correta execução das estratégias de uma organização. 2. Por que as pessoas são importantes no processo estratégico de uma empresa? Quais são os principais fatores que devem ser considerados na gestão dos colaboradores dentro de uma organização? 3. O que você entende por balanced scorecard e como essa ferramenta pode auxiliar uma organização? Execução da estratégia 81 Referências BOSSIDY, L; CHARAN, R. Execução: a disciplina para atingir resultados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. CAMPOS, V. F. Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2004. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. CODA, R. Competências comportamentais: como mapear e desenvolver competências pessoais no trabalho. São Paulo: Atlas , 2016. FALCONI, V. O verdadeiro poder: práticas de gestão que conduzem a resultados revolucionários. 1.ed. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2009. FERRAZ, E. Gente de resultados: manual prático para formar e liderar equipes enxutas de alta performance. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018. Disponível em: http://www.gentederesultados.com/wp-content/ uploads/2018/02/GenteDeResultados_degusta%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 14 jun. 2019. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Tradução de Luiz Euclides Trindade Frazão Filho. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. MINTZBERG, H. Managing essencial: a essência do premiado managing, para gerentes com pouco tempo. Porto Alegre: Bookman, 2014. OLIVEIRA, D. de P. R. de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias, práticas. São Paulo: Atlas, 1995. OSTERWALDER, A.; PIGNEUR, Y. Business model generation – inovação em modelos de negócios: um manual para visionários, inovadores e revolucionários. Rio de Janeiro: Alta Books, 2011. PARRY, S. B. The quest for competencies – Training, jul. 1996, p. 48-54. 6 O balanced scorecard (BSC) Terminamos o capítulo anterior apresentando a metodologia denominada balanced scorecard ou simplesmente BSC, criada com base em uma série de estudos e observações práticas por parte de seus autores. Esses autores chegaram à conclusão de que a maioria das empresas não consegue colocar suas estratégias em funcionamento de modo a atingirem os objetivos definidos em seus planejamentos de longo prazo. Uma das principais causas desse insucesso é a atenção excessiva aos resultados, especialmente os financeiros, sem a devida dedicação aos fatores que geram esses resultados. O objetivo deste capítulo é mostrar como a concepção BSC auxilia na implementação da estratégia e, por meio de procedimentos estruturados, permite que a estratégia passe a fazer, de fato, parte das operações diárias das empresas. Tudo o que foi visto até agora, desde a definição de missão, visão e valores, a escolha da estratégia genérica e a observação do comportamento e das tendências do mercado e da sociedade em geral, faz parte da construção do BSC. Entenderemos como, com base na visão estabelecida pela alta direção da empresa, são definidos os temas estratégicos que podem ser entendidos como as áreas de excelência que devem ser perseguidas para que a organização possa se destacar no mercado competitivo. Perceberemos como são formados os objetivos estratégicos dentro das perspectivas do BSC e as relações de causa e efeito que constituem a maneira como se constroem os resultados desejados em longo prazo. Trataremos também da elaboração das metas, dos indicadores de desempenho e dos planos de ação, assuntos que abordamos de forma breve no Capítulo 4, na análise SWOT. Ao final deste capítulo, seremos capazes de perceber como o BSC transforma aquilo que foi planejado em realidade e como essa ferramenta auxilia empresas de todos os segmentos e tamanhos a definirem seus rumos e como fazer os ajustes necessários de forma eficaz e segura. 6.1 As perspectivas do balanced scorecard (BSC) O balanced scorecard (BSC) foi criado na década de 1990 por Robert Kaplan e David Norton. Esse método propõe outras perspectivas de análise além da financeira e isso se deve ao fato de que os indicadores financeiros são construídos por meio de uma combinação de fatores que, quando bem estabelecidos, proporcionam a lucratividade desejada. O BSC foi criado com base em uma série de estudos e observações práticas por parte de seus autores, que chegaram à decepcionante conclusão de que a maioria das empresas não consegue colocar suas estratégias em funcionamento de modo a atingirem os objetivos definidos em seus planejamentos em longo prazo. Uma das principais causas desse insucesso é a atenção excessiva Vídeo Planejamento Estratégico84aos resultados, especialmente os financeiros, sem a devida dedicação aos fatores que geram esses resultados. É importante ressaltar que não se trata de uma metodologia mágica, tampouco é fácil sua implementação. Um dos principais fatores responsáveis pelo sucesso ou fracasso da aplicação do BSC em uma organização é o comprometimento total de sua direção. Sem as lideranças adequadas e as atitudes motivadoras do topo hierárquico da empresa, a metodologia do BSC não tem como ser bem-sucedida da forma como se espera. A elaboração de um programa de BSC em uma empresa de médio ou grande porte pode levar de seis meses a um ano e a colocação em prática em sua administração só será efetiva após cerca de dois ou três anos. Esse prazo relativamente longo tem sido observado na prática e se deve, sobretudo, ao fato de que a implantação do BSC visa a uma mudança da cultura da empresa que passará a ser guiada por uma administração verdadeiramente estratégica. O BSC1 propõe analisar uma empresa sob o ponto de vista de quatro perspectivas, as quais estão apresentadas na Figura 1. Perceba a forma como se relacionam. Figura 1 – As relações entre as perspectivas do BSC Clientes Para alcançarmos nossa visão, como deveríamos ser vistos pelos nossos clientes? Aprendizado e crescimento Para alcançar nossa visão, como devemos nos capacitar e evoluir? Processos internos Para satisfazermos clientes e acionistas, em que processos de negócios devemos alcançar a excelência? Finanças Para sermos bem-sucedidos nanceiramente, como deveríamos ser vistos por nossos acionistas? Visão e Estratégia Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kaplan e Norton, 1997, p. 10. É importante notar que, no centro da Figura 1, estão destacadas a visão e a estratégia da empresa, pois é com base nelas que estabeleceremos indicadores estratégicos que guiarão as ações da organização como um todo desde aumentar sua lucratividade e a satisfação do cliente, até 1 O BSC originalmente propõe as quatro perspectivas apresentadas, contudo, cada organização tem liberdade para definir outras perspectivas que mais se adéquem aos seus negócios. O balanced scorecard (BSC) 85 capacitar os colaboradores e desenvolver novos produtos. Nos tópicos seguintes, falaremos de cada uma dessas perspectivas nas visões de Kaplan e Norton (1997). 6.1.1 Perspectiva financeira Quando alguém decide investir em uma empresa, seja se tornando sócio ou adquirindo ações por meio da bolsa de valores, por exemplo, a primeira análise costuma ser feita com base nos indicadores financeiros. Faturamento, lucratividade, nível de endividamento e distribuição de lucros são alguns dos números que passam pela primeira avaliação de investidores. Caso essa primeira avaliação seja positiva, é comum o investidor se questionar: como essa empresa chega a esses resultados financeiros? Os processos de negócios são sustentáveis em longo prazo? O scorecard deve contar a história da estratégia, começando pelos objetivos financeiros de longo prazo e relacionando-os depois à sequência de ações que precisam ser tomadas em relação aos processos internos e, por fim, aos funcionários e sistemas, a fim de que, a longo prazo, seja produzido o desempenho econômico desejado. (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 49) A análise financeira passará, obrigatoriamente, pelo estudo da estratégia e por itens como o mix de produtos2, formação de preços, inserção em novos mercados, política de investimentos etc. Ao final do processo de investigação, o investidor será capaz de julgar se a estratégia adotada pela empresa será capaz de gerar resultados financeiros atrativos em longo prazo. 6.1.2 Perspectiva de clientes Para Kaplan e Norton (1997), na perspectiva de clientes, o BSC busca avaliar de que modo a empresa consegue atender às necessidades e aos desejos de seus clientes. É comum, nessa perspectiva, serem adotados indicadores que permitam analisar como anda a satisfação dos clientes, sua fidelidade, seu volume de vendas por cliente (ticket médio3), a faixa etária dos clientes, entre outros. Em qualquer indústria e em qualquer segmento de negócios, são os clientes que geram as vendas e é dessas vendas que vem o faturamento da empresa. Logo, podemos dizer que um indicador como o índice de satisfação dos clientes constitui um vetor tanto para o faturamento quanto para a lucratividade de uma organização. 6.1.3 Perspectiva de processos internos Uma empresa pode ser entendida como um conjunto de processos. Se nos lembrarmos da cadeia de valor de Michael Porter, abordada no Capítulo 2, veremos que há processos como a compra de materiais, a transformação de insumos em produtos acabados, os processos de logística, de marketing, de seleção de pessoal e muitos outros. 2 Mix de produtos consiste no conjunto de produtos e serviços oferecidos por uma empresa a seus clientes. 3 O ticket médio é um indicador muito comum no comércio e se refere ao valor que cada cliente gasta em uma compra. O cálculo é eito dividindo-se as vendas em um período pelo número de clientes nesse mesmo período. Por exemplo: em um sábado, uma loja que vende R$ 5.000,00 para 100 clientes obteve um ticket médio de R$ 50,00 (R$ 5.000,00 / 100 = R$ 50,00 por cliente). Planejamento Estratégico86 A perspectiva de processos internos busca desenvolver o conjunto de atividades críticas que, alinhadas à estratégia, será capaz de melhor atender os clientes e gerar os resultados financeiros desejados. Algumas das formas de se avaliarem os processos internos de uma organização são baseadas em indicadores como o nível de desperdício de matéria-prima, o tempo que se leva para executar determinada atividade, a qualidade dos produtos, entre outros. 6.1.4 Perspectiva de aprendizado e crescimento Nesta perspectiva, estão colocados os fatores que sustentarão as três perspectivas já apresentadas (financeira, clientes e processos internos). Essa base é formada pela capacitação das pessoas e pela infraestrutura de que dispõe a organização para executar seus diversos processos. Essa perspectiva está muito focada naquilo que vimos no Capítulo 5 no que se refere à seleção de pessoas, desenvolvimento de competências, formação de líderes e motivação de indivíduos. O clima e a cultura da organização, bem como o alinhamento dos objetivos e das estratégias da empresa, também devem ser trabalhados nessa perspectiva. Kaplan e Norton (1997) chamam a atenção para o fato de que executivos com visão restrita ao resultado financeiro de curto prazo têm dificuldade de perceber a importância dos investimentos nessa área de desenvolvimento humano e de infraestrutura. Alguns dos indicadores aplicados a essa perspectiva incluem o número de colaboradores treinados, o grau de satisfação dos funcionários e o avanço de itens de tecnologia como sistemas de produção informatizados e acesso à informação. Na Figura 2, temos um exemplo de como determinados fatores estão conectados por meio de relações de causa e efeito que percorrem as quatro perspectivas do BSC. Figura 2 – As relações de causa e efeito nas perspectivas do BSC Lealdade dos clientes Lucratividade Capacidade dos funcionários Pontualidade das entregas Qualidade dos produtos Velocidade dos processos Perspectiva de clientes Perspectiva nanceira Perspectiva de aprendizado e crescimento Perspectiva de processos internos Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kaplan e Norton, 1997, p. 31. O balanced scorecard (BSC) 87 Segundo Kaplan e Norton (1997), a Figura 2 pode ser entendida como uma hipótese a ser lida da seguinte forma: se aprimorarmos o treinamento e a capacitação dos funcionários, eles serão capazes de executar os processos mais rapidamente e com maior qualidade. Com isso, poderemos encantar e fidelizar nossos clientes e aumentar nossas vendas e nossa lucratividade. Mais à frente, apresentaremos o conceito de mapa estratégico, uma representação gráfica em que serão colocados os objetivos estratégicos da visão e suasinter-relações. 6.2 Temas e objetivos estratégicos Conforme Person (2010), a chave para o sucesso da implementação da estratégia é o foco e ele é dado pela escolha dos temas estratégicos que correspondem a uma área em que a empresa escolheu atuar com excelência a fim de atingir sua visão. É de cada um dos temas escolhidos que serão criados os objetivos estratégicos com os quais será possível conduzir o processo estratégico por toda a organização. Person destaca ainda algumas dicas para a seleção dos temas estratégicos, conforme disposto no Quadro 1. Quadro 1 – Dicas para a seleção de temas estratégicos Selecione entre três e cinco temas estratégicos De modo geral, não há necessidade de que se estabeleçam mais do que cinco temas, sendo que três é um número que atende plenamente a maioria das organizações. Os temas devem ser complementares entre si e levar em consideração os recursos que a organização tem ao seu dispor. Dê a eles nomes motivadores e fáceis de lembrar Lembre-se de que a comunicação é importantíssima no processo de estratégia. Termos rebuscados e de difícil compreensão acabam atrapalhando. Evite temas que “pertençam” ao concorrente maior Copiar temas dos competidores, especialmente do líder, não trará o diferencial competitivo que se deseja. O ideal é elaborar temas originais que possam fortalecer a atuação da empresa no mercado. Selecione temas que criarão a ponte até seu destino Um tema adequado é aquele que guiará a organização rumo à sua visão. Ele ajudará na criação de objetivos estratégicos e metas que, à medida que forem sendo atingidas, deixarão a empresa mais perto de seus objetivos de longo prazo. Selecione temas que possam ser defendidos com uma boa execução O segredo aqui é um conjunto de ações coerentes, isto é, condutas que justiquem cada um dos temas estratégicos. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Person, 2010, p. 48. Os temas estratégicos serão os pilares que sustentarão o alinhamento e o foco estratégicos de toda a organização. De acordo com Rohm (2013), “uma forma de estabelecer um tema estratégico é se perguntar: ‘Se tivermos pleno sucesso em atingir nossa visão no futuro e pudermos olhar para o passado, quais foram as ações que nos levaram a esse sucesso?” (ROHM et al., 2013, p. 119, tradução nossa). Com base nessa reflexão sobre as ações que devemos fazer no presente para que possamos atingir nossos objetivos em longo prazo, são definidos os temas estratégicos. No Quadro 2, apresentamos alguns exemplos de temas estratégicos adotados por empresas conhecidas. Quadro 2 – Exemplos de temas estratégicos usados por organizações Vídeo Planejamento Estratégico88 Tema Empresa Excelência operacional Toyota A Toyota utiliza erramentas como o six sigma4 e o lean manufacturing5 para criar uma operação de alto desempenho, eliminando variação e perda, enquanto satisaz as necessidades mais importantes dos clientes. Solução completa IBM Competir com a IBM em vendas é diícil, porque ela ornece uma solução completa que envolve hardware, software, consultoria e suporte. Serviços/produtos de ponta Apple A Apple tem seguidores religiosos por causa de sua entrega de produtos e serviços (como o iTunes) que estão na vanguarda. Bloqueio de sistema Microsoft Depois que se começa a usar seus produtos, o custo da mudança ca alto demais para que se considere a concorrência. Qualidade Lexus Seus funcionários dizem “nós fazemos os carros que têm a produção de mais alta qualidade nos Estados Unidos”. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Person, 2010, p. 47. Considerando-se cada tema, são definidos objetivos estratégicos consistentes com a mensagem e a direção estabelecida individualmente por eles. Os objetivos estratégicos são dispostos, de acordo com sua característica, pelas quatro perspectivas do BSC e são interligados, conforme vimos anteriormente, por relações de causa e efeito. Podemos entender melhor esse arranjo observando a Figura 3. Figura 3 – Temas e objetivos estratégicos Aprendizado e crescimento Processos internos Clientes Finanças Tema 2Tema 1 Fonte: Elaborada pelo autor com base em Rohm, 2013, p. 154. 4 Conjunto de princípios e técnicas da qualidade desenvolvidas ao longo do tempo que busca implementar um sistema de processos livre de erros (PYSDEK; KELLER, 2014). 5 Processos enxutos são baseados na metodologia denominada lean manufacturing (produção enxuta) criada pela empresa japonesa Toyota, após a Segunda Guerra Mundial, em que se busca a eliminação total dos desperdícios, tanto de materiais como de mão de obra e do tempo de execução de cada tarea (RODRIGUES, 2016). O balanced scorecard (BSC) 89 Da observação da Figura 3, podemos entender que um determinado objetivo dentro da perspectiva de finanças será resultado de um objetivo alcançado na perspectiva de clientes. Da mesma forma, os objetivos relacionados aos clientes dependerão de a empresa ser bem- -sucedida nas tarefas que compõem seus processos internos. Na base da coluna ou de cada tema, estão as competências de cada colaborador e a infraestrutura que permitirá à organização construir sua estratégia. O passo seguinte, que servirá para a elaboração dos planos de ação, é a construção do mapa estratégico, uma representação gráfica que reúne os diversos objetivos estratégicos de acordo com os temas e dentro de cada uma das perspectivas do BSC. A Figura 4 mostra essa representação. Figura 4 – Exemplo de mapa estratégico Reduzir custos Satisfação do cliente Melhorar a produtividade Aumentar a capacitação dos funcionários Aumentar lucratividade Cumprir prazos Reduzir falhas Novos produtos e serviços Aumentar receitas Tema 1 Excelência operacional Objetivos estratégicos Tema 2 Encantamento do cliente Qualidade Diminuir ciclo de produção Planos de carreira Ap re nd iza do e c re sc im en to Pr oc es so s Cl ien te s Fi na nc eir a Fonte: Elaborada pelo autor com base em Rohm, 2013, p. 158. A Figura 4 coloca todos os objetivos estratégicos dentro das perspectivas do BSC e os relaciona por meio de setas que indicam as causas e os efeitos. Foram estabelecidos dois temas estratégicos: excelência operacional e encantamento do cliente. Os objetivos referentes a cada um dos temas estão designados de acordo com as cores. O mapa de estratégia é o fundamento para sua estratégia. Feito corretamente, é um resumo estratégico de uma página que comunica claramente a todos na organização como podem contribuir com o sucesso. Os objetivos e vínculos causais no mapa de estratégia tornam mais direta, embora ainda não fácil, a seleção das poucas métricas críticas para o balanced scorecard. (PERSON, 2010, p. 55) Planejamento Estratégico90 A experiência tem mostrado que não é desejável um mapa com mais de vinte e quatro objetivos estratégicos, pois corre-se o risco de duplicar medidas ou confundir indicadores operacionais com indicadores-chave6. 6.3 Metas e planos de ação A função primordial do BSC é possibilitar a execução da estratégia, uma tarefa extremamente complexa e trabalhosa. Aqueles que têm alguma familiaridade com gerenciamento de projetos sabem que a melhor forma de conduzir um projeto complicado é “quebrando-o” em partes menores e, de certa forma, mais fáceis de se lidar. Ao elaborarmos um mapa estratégico estamos, de maneira similar, dividindo a implementação daquilo que foi definido no planejamento estratégico em partes menores, que são os objetivos estratégicos. O passo seguinte é estabelecermos uma metodologia para alcançarmos esses diversos objetivos. Isso será feito por meio de metas e planos de ação. Neste momento, é importante relembrarmos os conceitos e as diferenças entre objetivos e metas. Enquanto os objetivos indicam intenções ou desejos futuros, as metas são específicas e servem para nos indicar em que momento os objetivos foram atingidos. No mapa estratégico da Figura 4, há um objetivo denominado satisfação do cliente, situadona perspectiva de clientes. Esse objetivo indica o desejo de atender bem nossos clientes, mas como saber se estamos próximos de atingi-lo? Para isso, precisamos definir uma meta. Digamos, por exemplo, que atualmente, o índice de satisfação de nossos clientes seja de 80%, ou seja, de cada 100 clientes atendidos temos 80 que consideram nosso atendimento adequado e estão satisfeitos com nossos produtos e serviços. Por outro lado, entre esses mesmos 100 clientes, 20 não tiveram suas necessidades plenamente satisfeitas. Se, no caso exibido na Figura 4, um dos nossos temas estratégicos é o encantamento dos clientes, parece natural que uma meta de 100% de clientes satisfeitos deva ser perseguida. Estabelecida a meta, passamos a pesquisar e analisar os motivos pelos quais nossos clientes não estão plenamente satisfeitos e estabelecemos ações para eliminar as causas das insatisfações. Essas ações ou iniciativas poderão originar projetos mais complexos, dependendo do tamanho do problema. De qualquer modo, a identificação do problema e de suas causas já constitui um grande passo para sua resolução. Retomando o conceito de causa e efeito proposto pelo BSC e indicado graficamente no mapa estratégico, somos capazes de identificar que fatores influenciam em um determinado objetivo. Continuando no nosso caso, se nos aprofundarmos nas causas da insatisfação dos 20% de nossos clientes, poderíamos chegar à conclusão de que elas estão relacionadas, por exemplo, à qualidade do produto. Imaginemos que nossa empresa seja uma fabricante e uma fornecedora de cadeiras para salas de jantar. Após uma pesquisa junto aos nossos clientes, descobrimos que as maiores reclamações 6 Apesar de importantes, pois ajudam no atingimento dos objetivos estratégicos, indicadores operacionais não são estratégicos e são utilizados no controle de determinadas atividades ou processos específicos. Vídeo O balanced scorecard (BSC) 91 se referem ao fato de que algumas cadeiras são ligeiramente bambas, o que causa desconforto para o usuário. Depois de um exame minucioso em todas as etapas do processo de fabricação, percebemos que algumas pontas plásticas dos pés das cadeiras se descolavam durante o transporte. A solução encontrada foi trocar o fornecedor do adesivo utilizado para fixar as pontas plásticas aos pés das cadeiras e, dessa forma, não foram mais relatados problemas desse tipo por parte dos clientes. Ou seja, nem sempre os problemas que são relatados têm apenas uma causa ou são de fácil solução, mesmo assim, o processo de identificação, análise e correção é similar (FALCONI, 2009). Na visão de Kaplan e Norton (1997, p. 235), o grande valor do BSC é o de impulsionar a mudança organizacional, pois, para “comunicar a necessidade de mudança, os executivos devem estabelecer metas para os indicadores três a cinco anos à frente, que, se alcançadas, transformarão a empresa”. As metas estratégicas devem ser ambiciosas e desafiadoras, pois são elas que garantirão a realização da visão de longo prazo e levarão a empresa a outro patamar. O acompanhamento das metas deve ser feito de forma contínua com reuniões de revisão estratégica e o estabelecimento de metas parciais, para que se possa aferir a efetividade das ações que estão sendo colocadas em prática. No Quadro 3, apresentamos um exemplo do que poderia ser o estabelecimento de metas e da revisão anual do andamento do projeto. Quadro 3 – Estabelecimento de meta inal e metas parciais Tema Perspectiva Objetivo estratégico Meta (ao final de 5 anos) Abrangência geográca Clientes Ampliar o número de lojas nas regiões Sul e Sudeste. Ter uma loja em cada capital de estado das regiões Sul e Sudeste. Ano 1 Cidade Meta Atingido Observações Porto Alegre Loja construída - Florianópolis Loja construída Parcial Atraso devido à greve dos caminhoneiros. Previsão: dois meses adicionais. Ano 2 Cidade Meta Atingido Observações Curitiba Loja construída - Belo Horizonte Loja construída - Ano 3 Cidade Meta Atingido Observações São Paulo Loja construída Parcial Mudança de projeto devido à ampliação da praça de alimentação. Tempo adicional estimado: três meses. Fonte: Elaborado pelo autor. Planejamento Estratégico92 No Quadro 3, vimos um exemplo do estabelecimento de metas de longo prazo e o acompanhamento de metas parciais em períodos menores, de um ano. Caso as metas parciais não sejam atingidas, devem-se elaborar ações específicas para corrigir essas lacunas de modo que a meta final não seja comprometida. É importante notar que o objetivo estratégico de abrir lojas nas regiões Sul e Sudeste está em conformidade com o tema estratégico, que é a abrangência geográfica. 6.4 Indicadores-chave de desempenho (KPIs) Ao longo de nosso estudo sobre planejamento estratégico, mencionamos os termos objetivo, meta e planos de ação inúmeras vezes. Já somos capazes de entender que planejar uma estratégia é construir as condições adequadas para nos levar de uma situação A para uma situação B, do estado em que estamos atualmente para uma posição desejada no futuro. Para Person (2010), um indicador é algo que nos mostra o estado de uma determinada situação. Um termômetro nos revela, por exemplo, a temperatura de uma pessoa e, caso a temperatura medida seja superior a um certo valor, concluímos que essa pessoa está com febre. A temperatura é o nosso indicador e o termômetro é o instrumento de medição ou a fonte da informação obtida. É importante perceber que um indicador pode ser utilizado como uma espécie de alarme, chamando a nossa atenção para o fato de que alguma ação precisa ser tomada. Em uma organização, podemos ter uma infinidade de indicadores nas mais diversas áreas. Se imaginarmos a portaria de uma empresa, podemos pensar em um indicador que nos revele o número de visitantes em um dia ou em um mês. Outro indicador possível seria a quantidade de água consumida nos bebedouros dessa empresa. Mas o que nos permite classificar um indicador como um indicador-chave de desempenho? Um indicador-chave de desempenho ou KPI7 está diretamente relacionado às metas e aos objetivos estratégicos da organização. Ele nos informa nossa situação diante de determinada meta ou a distância entre o ponto em que estamos e o ponto onde desejamos estar. Da mesma forma que o planejamento estratégico pode ser desdobrado em planejamento tático e este em planejamento operacional, os indicadores-chave de desempenho podem ser formados com base em outros indicadores. Na Figura 5, temos a relação entre os níveis de planejamento e os respectivos indicadores de desempenho. Figura 5 – Níveis de planejamento e seus indicadores Planejamento operacional Metas operacionais Indicadores operacionais Planejamento estratégico Metas corporativas Indicadores-chave (KPIs) Planejamento tático Indicadores funcionaisMetas funcionais Fonte: Elaborada pelo autor com base em Andrade, 2012. 7 Do inglês key performance indicator. Vídeo O balanced scorecard (BSC) 93 Há uma frase atribuída ao professor Deming, eminente estatístico e professor universitário norte-americano, que diz que: “Aquilo que não pode ser medido não pode ser gerenciado e, portanto, não pode ser melhorado”. Logo, o acompanhamento rigoroso do status da organização por meio de seus diversos indicadores é fundamental para a melhoria dos processos e a execução da estratégia. Agora que já compreendemos a importância dos indicadores de desempenho e, especialmente, dos KPIs, a pergunta que surge é: como escolher e quais as características de um bom KPI? Estas são algumas das características mais importantes (ROHM et al., 2013): • Os KPIs devem ser utilizados pela direção da empresa para administrar e tomar decisões, pois têm caráter estratégico. • Um KPI deve ter alto grau de aderência ao negócio da empresa, ou seja, se ele melhora, o desempenho geral da empresa também deve, consequentemente, melhorar. • Um KPI deve ter relevância em todos os níveis da empresa e traduzir e estratégia em açõespráticas do dia a dia. • Os KPIs devem ser baseados em dados confiáveis e mensuráveis. Um sistema próprio e uma equipe dedicada são recomendáveis para essa tarefa. • Todo KPI deve ser fácil de entender (ou pelo menos rápido de ser explicado). Isso auxilia na compreensão e no engajamento de todos os indivíduos em uma organização. • Todo KPI deve servir como elemento para uma ação ou um plano de ações. Cada um dos objetivos distribuídos no mapa estratégico, como aqueles mostrados anteriormente na Figura 4, gerará um ou mais KPIs que poderão ser dispostos conforme o Quadro 4. Quadro 4 – KPIs e planos de ação KPI Métrica Meta Frequência Origem Plano de ação EBITDA8 R$ ou % do faturamento Aumento de 12% em relação ao ano anterior. Mensal Demonstrativo de Resultados Financeiros (DRE) Reduzir custos de produção e eliminar produtos commargem menor do que 25%. Market share9 % do mercado Aumentar a participação de mercado de 15% para 28% em cinco anos. Trimestral Relatório da Associação Comercial Expandir o número de lojas e lançar nova linha de produtos. 8 Do inglês earnings before interest taxes depreciation and amortization é um termo contábil que, em português, é também chamado de Lajida ou lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. Reere-se ao resultado operacional de uma empresa ou ao lucro proveniente de suas operações. 9 Participação de mercado é a atia de mercado que uma empresa possui, normalmente expressa em porcentagem do aturamento total de determinada indústria. Pode-se dizer da seguinte orma: “O abricante X, de roupas inantis, tem um market share de 17% em uma indústria em que a empresa líder detém 28% do mercado”. (Continua) Planejamento Estratégico94 KPI Métrica Meta Frequência Origem Plano de ação Desenvolvimento de novos produtos Semanas Reduzir o tempo de oito para quatro semanas nos próximos dois anos. Bimestral Relatório de produção Simplicar as características e reduzir número de componentes das peças. Avaliação de funcionários % Número de funcionários avaliados em relação ao total Todos os funcionários avaliados ao nal dos próximos 12 meses. Mensal RH Elaborar sistema da avalição on-line. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Kaplan e Norton, 1997. No quadro anterior, temos um exemplo prático do que poderiam ser alguns dos KPIs selecionados pela direção de uma empresa. Observem que foi colocado um KPI de cada perspectiva do BSC, como segue: • EBITDA: indicador de lucro operacional situado na perspectiva financeira. • Market share: indicador de participação de mercado situado na perspectiva de clientes; • Desenvolvimento de novos produtos: indicador de tempo de lançamento de produtos novos pertencente à perspectiva de processos internos; • Avaliação de funcionários: indicador relativo à avaliação de competências dos colaboradores originada da perspectiva de aprendizado e crescimento. Diversos outros KPIs poderiam ser definidos com base nos objetivos estratégicos e nas características apresentadas previamente. Os planos de ação estipulados serão desenvolvidos com maior profundidade e nível de detalhamento ao serem desdobrados para os níveis tático e operacional da organização. É importante notar que a periodicidade ou frequência de análise das informações se refere às reuniões de revisão estratégica que serão conduzidas pela direção da empresa em conjunto com as áreas funcionais e o comitê do BSC10. Para finalizar nosso estudo sobre o BSC, apresentamos, na Figura 6, a estrutura básica de equipes responsáveis pela implementação do programa. Temos enfatizado inúmeras vezes a importância da disciplina na elaboração do planejamento estratégico e, principalmente, em sua execução. O BSC é uma ferramenta que proporciona um roteiro para essa execução, mas sua própria concepção depende da vontade e do comprometimento de toda a organização. 10 É extremamente recomendável que seja criado um comitê do BSC, responsável por construir o BSC e servir de suporte às áreas uncionais. Esse comitê poderá ser ormado por proissionais de diversas áreas dentro da empresa e por consultores ou especialistas externos. O balanced scorecard (BSC) 95 Figura 6 – Estrutura e equipes de implantação do balanced scorecard Equipe de temas estratégicos • Especialistas nos respectivos temas. • Especialistas em processos. • Representantes das áreas. Equipe de comunicação Responsável pela comunicação de todos os aspectos do BSC por meio da organização. Equipe de gestão estratégica • Alta direção. • Gerentes sênior. • Gerente de unidades de negócios. Equipe de donos de objetivos • Especialistas/analistas. • Funcionários experientes em cada área. • Outros colaboradores. Desenvolve os canais e formas de comunicação do processo de planejamento estratégico e todas as suas etapas. Esclarece o propósito, os benefícios e os desaos do novo sistema. Responsável pela formulação da missão, visão e valores, metas gerais de longo prazo, temas estratégicos etc. Aprova e direciona o trabalho das demais equipes por meio de reuniões periódicas. Liderada por executivos ou gerentes, tem a responsabilidade de desenvolver o mapa estratégico derivado de cada um dos temas escolhidos e denir os objetivos estratégicos. Responsável pelo renamento dos objetivos em indicadores e métricas, denição dos planos de ação, cronogramas, responsáveis e recursos necessários. Pa tr oc in ad or d o pr og ra m a d e B SC Fonte: Elaborada pelo autor com base em Rohm, 2013, p. 69. A Figura 6 mostra a composição de cada equipe e suas respectivas responsabilidades. Introduz, ainda, a figura do patrocinador do programa de BSC. Trata-se de um profissional com excelente trânsito pelos diversos níveis e unidades da organização, incluindo os especialistas em processos e outros envolvidos na implantação do BSC. Sua principal função é coordenar todos os aspectos do processo. Ele é a interface entre os funcionários da organização e os consultores externos, caso existam. Após a implantação do sistema, ele será o responsável por sua manutenção e sustentabilidade no futuro que pode se dar pela criação de um escritório de administração estratégica ou algo equivalente. Considerações finais Este capítulo, dedicado ao balanced scorecard é, de certa forma, a conclusão do capítulo anterior em que falamos sobre a execução da estratégia e das dificuldades que as empresas enfrentam para que a visão de longo prazo possa ser implantada e de formar lideranças e engajar pessoas por meio de aspectos motivacionais e de alinhamento estratégico. Nessa concepção, podemos entender que o BSC foi criado justamente com o objetivo de operacionalizar o planejamento estratégico e permitir que ele seja transportado para as operações diárias da organização, quebrando barreiras e direcionando esforços de cada uma de suas áreas e departamentos. Planejamento Estratégico96 Podemos dizer que cada uma das atividades diárias em uma organização constitui os tijolos de construção da estratégia ou a estrada que nos levará à situação desejada no futuro. Essa situação desejada, representada pela visão, fornecerá as condições para que se obtenha vantagem competitiva e a evolução da empresa. Todas essas atividades cotidianas devem estar alinhadas à estratégia e à criação de valor, não havendo lugar para desperdício em um mundo cada vez mais competitivo. A utilidade do BSC não acaba com a sua implementação. Na verdade, o BSC passará a ser a base do que se denomina gestão estratégica, que é a consolidação das boas práticas desenvolvidas e a criação de valor de modo contínuo e natural dentro de uma organização moderna. Ampliando seus conhecimentos • O BALANCED. [S.l.: s.n.], 2009. 1 vídeo (7 min.). Publicado pelo canal Master Qual. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=n9emLlNCfNc&list=PLgMGwbe DMBH06oqrUg8D4F0Jupo7St_QI&index=6&t=0s. Acesso em: 21 jun. 2019. No vídeo indicado, temos uma breve apresentação do BSCe seus principais aspectos abordados por uma empresa que atua no ramo de consultoria. • KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. Mapas estratégicos – balanced scorecard: convertendo ativos intangíveis em resultados tangíveis. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. Os próprios autores da metodologia do balanced scorecard, os professores Kaplan e Norton, escreveram um livro dedicado à construção dos mapas estratégicos. O objetivo é se aprofundar na elaboração de sistemas capazes de potencializar aspectos como a capacitação de pessoal e o aprimoramento de processos de modo a impulsionar a estratégia empresarial. Atividades 1. Por que os criadores do balanced scorecard decidiram criar outras perspectivas de análise além da nanceira, comumente utilizada pela maioria das empresas? 2. O que é um tema estratégico? 3. O que é e para que serve um KPI? Referências ANDRADE, A. R. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. São Paulo: Atlas, 2012. FALCONI, V. O verdadeiro poder: práticas de gestão que conduzem a resultados revolucionários. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2009. O balanced scorecard (BSC) 97 KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Tradução de Luiz Euclides Trindade Frazão Filho. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. PERSON, R. Balanced scorecards e painéis operacionais com Microsoft® Excel®. Rio de Janeiro: Alta Books, 2010. PYSDEK, T.; KELLER, P. The six sigma handbook: a complete guide for green-belts, black-belts and managers at all levels. 4. ed. United States of America: McGraw-Hill Education, 2014. RODRIGUES, M. V. Sistema de produção lean manufacturing: entendendo, aprendendo e desenvolvendo. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. ROHM, H.; WISLEY, D.; PERRY, G. S.; MONTGOMERY, D. The Institute Way: simplify strategic planning and management with the balanced scorecard. Cary, NC: The Institute Press, 2013. Disponível em: https:// www.balancedscorecard.org/. Acesso em: 21 jun. 2019. 7 Estratégia avançada No Capítulo 6, tivemos a oportunidade de conhecer e nos aprofundar no balanced scorecard (BSC), um sistema concebido para ser uma ferramenta de implantação da estratégia. Ainda vimos que no dia a dia das organizações é importante aplicarmos os conceitos de missão, visão e fatores críticos de sucesso. Compreendemos que formar líderes e desenvolver as capacidades dos colaboradores não são tarefas fáceis. Ter uma ferramenta que nos permita enxergar um caminho, ainda que trabalhoso, é algo positivo. Bossidy e Charan (2005) chamam a atenção para a importância de as organizações adotarem uma cultura de execução. É a execução da estratégia que trará os resultados desejados. Mesmo a melhor das estratégias, elaborada pelos maiores especialistas, não nos levará muito longe se não desenvolvermos um método adequado de colocá-la em prática e tivermos a disciplina de executá-la. Neste capítulo, falaremos sobre gestão estratégica, que é a forma de tratar a organização como um conjunto de processos alinhados à estratégia corporativa e que, por meio de metas, indicadores e ações coordenadas, permite caminhar em direção à visão de longo prazo da empresa. Veremos também o conceito de estratégia do oceano azul, uma forma inovadora de conceber os negócios que se tornou conhecida do público por meio do livro de mesmo nome. Essa estratégia busca a descoberta de novos mercados em que a concorrência é menos feroz e as margens de lucro tendem a ser maiores. Em seguida, conheceremos o conceito VUCA, que se refere a um mundo onde, cada vez mais, reinam a incerteza e os riscos. Como lidar com mudanças extremamente rápidas e situações complexas? Terminaremos apresentando os conceitos de governança corporativa e compliance, termos muito presentes atualmente e que se referem a programas que visam garantir a observância aos aspectos legais dos negócios por meio de políticas baseadas na ética, na transparência e na integridade das atividades empresariais. Ao final deveremos ter a clara compreensão de que estratégia não é algo que se pega em uma prateleira nem vem pronta. É preciso construí-la e aperfeiçoá-la a cada dia, fazendo os ajustes necessários e garantindo sua execução. 7.1 Gestão estratégica Alguns de nós devem ter percebido que o BSC é mais do que um conjunto de indicadores. Ao estabelecer as perspectivas dentro de uma organização, construir os objetivos estratégicos, as suas relações de causa e efeito e definir as metas, o BSC passa a constituir um verdadeiro instrumento de gestão (KAPLAN; NORTON, 1997). Podemos definir gestão estratégica como a tarefa de administrar os recursos de uma organização de modo a atingir os resultados de longo prazo desejados. Dessa forma, Vídeo Planejamento Estratégico100 o planejamento estratégico está contido na gestão estratégica, ou seja, a fase de planejamento estabelece os objetivos, o posicionamento da empresa no mercado e determina como os processos organizacionais deverão ser conduzidos. Os autores Chiavenato e Sapiro (2009) enunciam seis aspectos fundamentais para a execução e gestão estratégica (Quadro 1): Quadro 1 – Aspectos fundamentais da gestão estratégica Liderança estratégica A alta direção da empresa e, em particular, seu presidente devem ser os condutores de todo o processo estratégico e seus principais estimuladores. Comunicação e orientação Todas as etapas da formulação da estratégia e, especialmente, sua execução, devem ser comunicadas de maneira intensa a toda a organização. Todos os colaboradores devem ser capacitados para entender cada aspecto do processo. Adaptação da estrutura organizacional A conormação da estrutura organizacional deve servir à estratégia de modo a facilitar sua implementação e garantir agilidade na tomada de decisões. Menos barreiras hierárquicas e burocracia devem ser buscadas. Cultura organizacional adequada A cultura a ser implantada é a da execução. Tanto colaboradores antigos quanto as novas contratações devem estar ajustados a essa cultura. Estilo de gestão envolvente e participativo Gerentes autocráticos devem ceder lugar a um estilo mais democrático e a metodologias modernas como o coaching e o mentoring1, princípios alinhados ao desenvolvimento pleno das competências individuais e de atuação em equipes. Motivação e engajamento de pessoas Desenvolver o desejo das pessoas em participar e contribuir para o atingimento das metas de curto, médio e longo prazo. A criação de um ambiente colaborativo e inovador é uma premissa para desenvolver um clima avorável à conquista dos resultados. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Chiavenato e Sapiro, 2009. Devemos ter em mente esses aspectos durante todas as fases da gestão estratégica, incluindo a fase de planejamento e, principalmente, as seguintes: a execução e a manutenção. Na Figura 1, ilustramos os aspectos do planejamento estratégico vistos até aqui. Esse diagrama permite uma visão geral do processo e facilita o entendimento da construção da estratégia e dos planos de ação que vêm a seguir. 1 Coaching e mentoring são metodologias que buscam o crescimento pessoal e profissional de um indivíduo (MARQUES, 2016). Estratégia avançada 101 Figura 1 – Diagrama geral do planejamento estratégico Avaliação e posicionamento no ambiente competitivo Análise Pestel / 5 Forças de Porter Denição do negócio Missão – Visão – Valores Modelo de negócio (Canvas) Denição da estratégia genérica Liderança em custos Diferenciação Enfoque Denição dos temas estratégicos (áreas de excelência) Análise SWOT Fatores internos Pontos fortes / Pontos fracos Análise SWOT Fatores externos Oportunidades / Ameaças Perspectiva nanceira Perspectiva de clientes Perspectiva de processos internos Perspectiva de aprendizado e crescimento Balanced Scorecard (BSC) Mapa estratégico Indicadores Metas Ações Prazo Responsável Recursos Planos de ação (aspectos tático e operacional) Fonte: Elaborada pelo autor com base em Andrade,2012, p. 20. A Figura 1 mostra uma espécie de roteiro do planejamento estratégico e como ele se desdobra com base na definição do negócio proposta pela alta direção da empresa. A meta do BSC não é desenvolver um novo conjunto de medidas. Os indicadores – a maneira como descrevemos resultados e metas – são, de fato, uma poderosa ferramenta de motivação e avaliação. Mas a estrutura de indicadores no balanced scorecard deve ser implantada visando a desenvolver um novo sistema gerencial.” (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 283) Como vimos, ao apresentar o BSC, a ideia não é diminuir a importância das medidas financeiras, mas integrar esses indicadores a outras famílias de indicadores que são as demais perspectivas do BSC. Dessa forma, conseguiremos construir um sistema gerencial equilibrado que vincula o desempenho operacional de curto prazo a objetivos estratégicos de longo prazo. Para que tenhamos uma gestão estratégica que funcione de forma eficiente, trazendo as metas estratégicas para o dia a dia da organização, é importante estabelecer um método. De acordo com Falconi (2009), gerenciar é solucionar problemas e um problema é a distância que separa Planejamento Estratégico102 o resultado obtido da meta previamente definida. O método a ser adotado é o PDCA2, base do sistema de produção criado pela empresa japonesa Toyota. Entender o método PDCA é bastante simples, mas sua correta implementação exige bastante dedicação e disciplina. De modo geral, podemos entender o PDCA como um método que visa à melhoria contínua de processos, produtos e elementos de gestão de maneira ampla. Na Figura 2, descrevemos o método em detalhes. Figura 2 – O método PDCA DO Fazer CHECK Vericar ACT Agir PLAN Planejar • Vericar eventuais desvios. • Corrigir as falhas. • Padronizar o que deu certo. • Acompanhar os indicadores. • Vericar o atingimento de metas. • Executar o plano. • Envolver as pessoas e as equipes. • Identicar um problema. • Estabelecer um plano de ação ou projeto. • Denir metas, prazos, responsáveis e recursos necessários. Fonte: Elaborada pelo autor com base em Falconi, 2009, p. 24. A Figura 2, não por acaso, mostra o método PDCA como um ciclo, porque significa que a busca por melhorias nunca termina e é sempre possível executar determinado processo de maneira mais eficiente. Nunca é demais lembrar que os processos devem estar alinhados à estratégia e às mudanças no ambiente de negócios, observadas ao longo do tempo, e devem ocasionar revisões nos processos e nas metas previamente estipuladas (FALCONI, 2009). Pudemos ver a simplicidade do método PDCA e como ele se configura em uma ferramenta de solução de problemas (atingimento de metas) bastante eficaz. Além da dedicação e disciplina já mencionadas, é importante lembrar das barreiras à execução da estratégia que vimos no Capítulo 5, como metas não associadas à estratégia, falta de feedback, falta de lideranças competentes, metas incompatíveis com os recursos disponíveis, entre outras. Esses obstáculos não desaparecem da noite para o dia e, à medida que a gestão estratégica se desenrola, devem ser atacados e minimizados. 7.2 A estratégia do oceano azul Temos visto, ao longo de nosso estudo, que o planejamento estratégico busca estabelecer os objetivos de longo prazo e as metas que devem ser desdobradas por todos os setores de uma organização de modo a fazer parte de suas operações diárias. Elaborar um bom planejamento e executá-lo por meio de uma gestão estratégica 2 Sigla em inglês para: plan, do, check, act. Em português, poderíamos deinir como: planejar, azer, veriicar, agir Vídeo Estratégia avançada 103 adequada tem a finalidade de garantir uma posição vantajosa em um mundo de competição acirrada e onde os resultados de ontem não garantem o sucesso amanhã. O que dizer então de uma proposta que permita a uma organização não ter mais que se preocupar com a concorrência? A estratégia do oceano azul foi concebida pelos professores Chan Kim e Renée Mauborgne, da Escola de Negócios Insead (Institut Européen d’Administration des Affaires), na França, e propõe a criação de novos mercados em que a concorrência não exista ou seja irrelevante. A ideia proposta é que, em oposição ao oceano azul, a realidade do mundo dos negócios se baseia na existência de oceanos vermelhos em que há muitos concorrentes e muita competição. O resultado é a necessidade, cada vez maior, de aumentar o valor fornecido ao cliente e reduzir os preços praticados, o que leva a margens de lucro cada vez menores. A estratégia do oceano azul propõe um olhar mais abrangente ao buscar espaços de mercado inexplorados e clientes novos ou compradores que ainda não sejam plenamente atendidos pelo cenário vigente. Na perspectiva de Kim e Mauborgne (2005, p. 4), “a única maneira de superar os concorrentes é não mais tentar superar os concorrentes”. A Figura 3 mostra as principais características e diferenças entre os oceanos vermelhos e os oceanos azuis. Figura 3 – Características dos oceanos vermelhos e dos oceanos azuis • Competição em mercados existentes. • Vencer os concorrentes. • Aproveitar a demanda existente. • Conviver com o conito entre valor e custo. • Escolher entre as estratégias de liderança em custos e diferenciação. • Criar espaços de mercado inexplorados. • Tornar a concorrência irrelevante. • Criar e capturar nova demanda. • Romper o conito entre valor e custo. • Buscar a diferenciação e o baixo custo. Estratégia do oceano vermelho Estratégia do oceano azul Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kim e Mauborgne, 2005, p. 17. Ao analisarmos a Figura 3 ao lado esquerdo (oceano vermelho), podemos observar as características marcantes de um mercado em competição feroz em que é muito difícil conquistar a liderança sem escolher entre as estratégias genéricas de liderança em custo e diferenciação. Já ao lado direito (oceano azul), o que se propõe é um tipo de diferenciação que leva a criar novos espaços e atender uma classe de consumidores que ainda não tinha suas necessidades satisfeitas de forma adequada pelo modelo vigente. Essa diferenciação deve ser acompanhada por uma redução de custos que os autores Kim e Mauborgne (2005) denominam inovação de valor. É uma nova maneira de raciocinar sobre a execução da estratégia, que resulta na criação de um novo espaço de mercado e no rompimento com a concorrência. Muito importante, a inovação de valor desafia um dos dogmas mais comuns da estratégia baseada na concorrência – o trade-off3 valor-custo (KIM; MAUBORGNE, 2005, p. 13). 3 Trade-off é um termo em inglês que traduz o conlito entre escolher alguma coisa e abrir mão de outra Planejamento Estratégico104 A Figura 4 mostra aquilo que caracteriza a inovação de valor: aumentar o valor para o cliente ao mesmo tempo em que se busca reduzir os custos da empresa. Figura 4 – Representação gráica da inovação de valor Inovação de valor Valor para o comprador Custos Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kim e Mauborgne, 2005, p. 16. O que o conceito de inovação de valor sugere pode parecer contraditório em uma primeira análise. Como aumentar o valor para o cliente sem que isso provoque um aumento dos custos? Nessa perspectiva, podemos entender que as análises tradicionais, envolvendo estudos de mercado e elaboração de estratégias, normalmente, indicam que, a fim de fornecer produtos de maior qualidade, uma empresa necessariamente gastará mais para produzir e comercializar tais produtos. Seguindo o mesmo raciocínio, aquela que deseja reduzir seus custos de produção deverá fornecer aos seus clientes produtos mais simples e menor possibilidade de escolha. Esse é o já mencionado trade-off valor-custo, um dilema aparentemente insolúvel. A solução proposta pela estratégia do oceano azul que possibilita conseguir aumentar o valor para os compradores sem originar elevação nos custos é captar a situação existente no mercado. Com base nisso, pode-se identificar em quais atributos os concorrentesestão investindo mais fortemente. Assim, é possível mapear os atributos que são realmente relevantes em termos de produtos, serviços e entrega e compreender o que é, de fato, valorizado pelos clientes (KIM; MAUBORGNE, 2005). Vimos algo semelhante quando tratamos dos fatores críticos de sucesso no Capítulo 3. Para tanto, Kim e Mauborgne (2005), os criadores do conceito de estratégia do oceano azul, elaboraram uma ferramenta de análise denominada modelo das quatro ações, que pode ser visto na Figura 5. Segundo esse modelo, a análise criteriosa dos atributos existentes (e a serem criados) será capaz de fornecer uma nova curva de valor4, o conjunto de atributos que realmente farão a diferença para que uma organização se destaque e seja capaz de explorar novos espaços de mercado. 4 Uma curva de valor é uma representação gráfica em que se relacionam determinados atributos de um produto ou serviço com a intensidade com que esses produtos são praticados no mercado (KIM; MAUGBORNE, 2005). Estratégia avançada 105 Figura 5 – O modelo das quatro ações Nova curva de valor Reduzir Criar Elevar Eliminar Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kim e Mauborgne, 2005, p. 29. A Figura 5 descreve as ações que devem ser tomadas com base nos atributos de valor que são considerados pelo mercado. Vamos analisá-los detalhadamente (KIM; MAUBORGNE, 2005): • Reduzir: quais são os atributos que devem ser reduzidos abaixo dos padrões estabelecidos pelo setor? Será que aquilo que os competidores vêm agregando aos seus produtos e serviços é realmente valorizado pelos clientes? • Criar: identificar os atributos que nunca foram oferecidos pelo setor e que podem interessar clientes já identificados ou novos espaços no mercado. • Elevar: que atributos devem ser elevados acima do que o setor vem praticando? Em que aspectos os clientes não estão tendo suas necessidades plenamente satisfeitas? • Eliminar: que atributos considerados essenciais pelo setor devem ser eliminados? Há características que simplesmente não são valorizadas pelos clientes? Essas ações descritas por Kim e Mauborgne (2005) visam estabelecer uma nova forma de se enxergar o negócio. Eis aí a inovação proposta. No tópico a seguir, veremos um dos exemplos mais emblemáticos utilizados pelos criadores da estratégia do oceano azul que é o Cirque du Soleil. 7.2.1 O caso do Cirque du Soleil O Cirque du Soleil (em português, Circo do Sol) foi criado na década de 1980 pelo artista circense Gilles Ste-Croix e buscou romper com os padrões até então vigentes de espetáculos de circo. Enquanto os circos tradicionais tinham no adestramento de animais grande parte de seu valor, o Cirque du Soleil eliminou completamente a participação de animais em seus espetáculos (KIM; MAUBORGNE, 2005). Outro paradigma comum na indústria circense era a contratação de grandes artistas como mágicos e palhaços famosos que exigiam altíssimos cachês e elevavam os custos de produção. O Cirque du Soleil, por sua vez, apostou em artistas desconhecidos e ex-ginastas olímpicos para elaborar seus espetáculos. Planejamento Estratégico106 O diferencial do Cirque du Soleil foi a aposta da direção em temas específicos e na narração de histórias que não exigiam mais do que um palco para sua execução. Nos circos tradicionais, era comum acontecerem várias atrações simultâneas, o que exigia a construção de palcos específicos e caros (KIM; MAUBORGNE, 2005). O que o Cirque du Soleil trouxe adicionalmente foi o conceito de espetáculo de entretenimento em que se juntam aspectos circenses propriamente ditos e características teatrais e de musicais da Broadway5. Com isso, foi capaz de atrair um novo público e expandir as fronteiras que existiam anteriormente. Ilustramos, a seguir, a matriz de avaliação de valor do Cirque du Soleil em comparação com os demais grandes circos tradicionais. Nessa matriz, podemos observar os atributos de valor como o preço, os espetáculos com animais e outros que fazem parte do conjunto de características normalmente associadas a esse setor. Ao analisar a Figura 6, podemos entender quais os atributos que o Cirque du Soleil considerou menos relevantes e eliminou ou reduziu, como a contratação de astros e a utilização de animais. Vejamos: Figura 6 – Matriz de avaliação de valor Baixo Preço Astros circenses Uso de animais Descontos para grupos Vários picadeiros Diversão e humor Vibração e perigo Picadeiro único Tema Ambiente renado Várias produções Músicas e danças artísticas Alto Curva de valor dos circos tradicionais Curva de valor do Cirque du Soleil Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kim e Mauborgne, 2005, p. 40. 5 Região da cidade de Nova York, nos Estados Unidos da América, caracterizada pela concentração de teatros especializados em espetáculos musicais. Estratégia avançada 107 Por outro lado, a Figura 6 mostra que o atributo preço foi aumentado e outros atributos foram criados, como um ambiente de maior conforto para os espectadores e os diferentes temas e produções. Esse último aspecto é muito interessante, pois, ao criá-los, o circo está sempre se renovando, de forma que quem já assistiu a um show pode se interessar por uma produção com conteúdo diferente. Vale ressaltar que o público que frequenta os espetáculos do Cirque du Soleil se ampliou entre aquelas pessoas que não se interessavam pelos circos tradicionais e, dessa forma, um novo segmento de mercado surgiu. É claro que o modelo criado pelo Cirque du Soleil pode ser copiado ou mesmo aperfeiçoado por outros grupos e isso indica que ficar parado não é uma boa opção. A inovação de valor proposta pelos criadores da estratégia do oceano azul deve estar em constante monitoramento. 7.3 Incertezas do futuro: um mundo em constante mudança Há uma frase, atribuída a um pensador romano da época do Império, que diz: “A única certeza é que não há certezas”. Normalmente, não gostamos de mudanças, pois elas atrapalham nossa rotina e nos causam certo desconforto. Entretanto, gostemos ou não, mudanças ocorrem constantemente. Podem ser suaves, como nos processos evolutivos que ocorrem na natureza, ou drásticas, como frequentemente se observa na sociedade e no mundo dos negócios. Há muito tempo o homem aprendeu a observar sinais indicativos de que uma mudança está a caminho. Na agricultura, por exemplo, a sabedoria popular mostra que o comportamento dos animais indica mudança nas condições climáticas e, ao estar atento a esses sinais, o homem seria capaz de tomar medidas para proteger a si mesmo e as suas plantações. No Capítulo 3, vimos que a análise Pestel tem a finalidade de compreender os fatores externos e buscar a melhor forma de se preparar para eventuais mudanças. Nessa análise são considerados os aspectos relacionados às esferas política, econômica, social, tecnológica, ecológica e legal e uma empresa deve, não apenas assimilar como esses fatores externos a influenciam, mas ser capaz de assimilar e se preparar para mudanças que, cedo ou tarde, acabam ocorrendo. A Figura 7 mostra como se devem analisar as mudanças possíveis sob a ótica da análise Pestel. Figura 7 – As mudanças conforme a análise Pestel • Política • Economia • Social • Tecnologia • Ecologia • Legal • Política • Economia • Social • Tecnologia • Ecologia • Legal • Como e em que medida as eventuais mudanças nas variáveis relacionadas na análise Pestel afetarão nossos negócios? • Como podemos nos preparar para diminuir os efeitos negativos e obter os maiores benefícios possíveis das mudanças que estão a caminho? • Como minimizar os riscos? Tempo Fonte: Elaborada pelo autor com base em Evans, 2013. A análise Pestel deve ser feita considerando-se o impacto de suas variáveis nas diversas áreas da organização como vendas, finanças, logística, clientes, fornecedores etc. Quando falamos em Vídeo Planejamento Estratégico108 mudanças, é normal a imediata associação a riscos. O que é um risco? Para a ISO 31.0006, é o efeito da incerteza em um determinadoobjetivo. De modo geral, analisamos um risco em duas dimensões: probabilidade e impacto (ABNT, 2009). Tomemos como exemplo a seguinte situação: Uma empresa vende no Brasil um produto que é importado da China. Essa empresa paga seu fornecedor chinês em dólares e vende aos consumidores brasileiros em reais. Caso a taxa de câmbio mude e o dólar se valorize frente ao real, isso automaticamente fará o custo do produto subir, pois serão necessários mais reais para comprar os dólares necessários ao pagamento do fornecedor chinês. Se a empresa brasileira não repassar esse aumento de custo para os clientes, seu lucro diminuirá. Por outro lado, se o preço para o cliente aumentar, corre-se o risco de o cliente não comprar o produto ou comprar menos. As questões que devem ser feitas com base no exemplo anterior são: qual a probabilidade de o dólar se valorizar nos próximos meses ou anos? Qual o impacto que isso trará aos nossos custos e às nossas vendas? Há quatro maneiras de se lidar com os riscos (COSO, 2007): • Evitar o risco: simplesmente deixar de exercer determinada atividade. No exemplo anterior, a empresa deixaria de comercializar o produto importado caso optasse por essa resposta ao risco; • Mitigar o risco: ou reduzir o risco significa encontrar maneiras de reduzir a probabilidade e o impacto dos riscos em suas atividades. No exemplo, adquirir um grande estoque de produtos chineses quando o dólar estiver baixo seria uma forma de diminuir o impacto de um eventual aumento na cotação da moeda; • Transferir o risco: passar a responsabilidade em assumir o risco a um terceiro. No exemplo, seria como fixar a taxa do dólar no futuro com alguma instituição financeira. Dessa forma, mesmo na ocorrência de aumento da taxa de câmbio, a empresa poderá comprar os dólares necessários na cotação previamente negociada e o risco passa a ser da instituição financeira contratada; • Aceitar o risco: normalmente, uma organização aceita correr determinado risco quando o custo de enfrentá-lo se torna mais caro do que as eventuais consequências caso o risco se torne realidade. 6 A sigla ISO em inglês se refere à International Organization for Standardization, organismo multinacional não governamental que reúne cerca de 164 países e estabelece diversas normas para produtos, processos e serviços que visam garantir determinados padrões de qualidade. A ISO 31.000 define aspectos relacionados à gestão de riscos (ABNT, 2009). Estratégia avançada 109 Nem sempre a análise e a gestão de riscos são fáceis. De modo geral, o que fazemos ao nos planejarmos é identificar os riscos e pensar nas melhores formas de evitá-los e responder a eles caso ocorram. Na década de 1990, segundo Elias (2009), o exército americano cunhou a sigla VUCA para definir o alto grau de incerteza em que nos encontramos nos últimos tempos. Essa sigla é formada pelas palavras que listamos no Quadro 2: Quadro 2 – O mundo VUCA Volatility (volatilidade) Reere-se à velocidade com que ocorrem as mudanças. Essa volatilidade torna o mundo dos negócios extremamente desaador, uma vez que é necessário lidar com novas tecnologias, preferências e comportamentos de consumidores. Uncertainty (incerteza) Trata-se da diculdade em traçar cenários uturos baseando-se no que aconteceu no passado. Muitas vezes ocorrem rupturas drásticas em determinadas tendências. Complexity (complexidade) Baseia-se no ato de que as relações entre as diversas variáveis de mercado são cada vez mais diíceis de serem completamente compreendidas. Em vez de uma resposta correta, o que temos são inúmeras possibilidades. Ambiguity (ambiguidade) É aquilo que temos diculdade em denir ou em enxergar sentido. No mundo empresarial, podemos entender como a diculdade em perceber se determinado ato é bom ou ruim para os negócios Fonte: Elaborado pelo autor com base em Elias, 2019. Organizações que desejam se destacar e obter vantagem competitiva devem estar atentas aos conceitos apresentados no Quadro 2. Uma das formas é prestar muita atenção no desenvolvimento de lideranças e competências dos colaboradores, conforme examinamos no Capítulo 5 ao destacarmos a importância das pessoas no processo estratégico. Na perspectiva de Kaplan e Norton (1997), a estruturação do balanced scorecard (BSC) reforça esse sentimento ao colocar em sua base o aprendizado e o crescimento em que a capacitação permanente deve ser perseguida pela organização. 7.4 Governança e compliance O planejamento estratégico adequado, com metas bem definidas e processos bem estruturados, tem como objetivo assegurar à organização uma vantagem competitiva sustentável ao longo do tempo. Falamos muito sobre a importância de que toda a organização esteja unida nesse propósito, pois é somente dessa forma que realmente atingiremos um patamar de destaque, uma posição de excelência. Essa posição elevada não estará completa sem que a empresa possua uma adequada governança corporativa (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009). O termo governança corporativa, ou simplesmente governança, refere-se ao relacionamento que a organização mantém com seus stakeholders7, ou seja, as pessoas ou entidades que se relacionam de alguma forma com essa organização e são, em maior ou menor grau, afetadas por suas ações. 7 Stakeholders são pessoas que têm interesse na gestão de empresas ou na gestão de projetos, tendo ou não feito investimentos neles (CAMARGO, 2018). Vídeo Planejamento Estratégico110 De modo um pouco mais específico, a governança corporativa estabelece regras sobre como a empresa deve ser administrada e controlada e determina o papel dos donos das empresas (acionistas e investidores) e de seus dirigentes (executivos da alta administração) de modo a evitar atritos e conflitos de interesse. As regras e o relacionamento entre as partes envolvidas, abordados pela definição de governança, remetem-nos ao conceito de ética, um termo bastante conhecido, mas de difícil definição. Muitas vezes nos parece mais fácil identificar situações em que houve falta de ética, como em casos de suborno de autoridades e desvios de recursos de alguma empresa seja ela estatal ou privada. Ética é um conceito que evolui e se modifica com o tempo, tem como base os costumes próprios de um grupo e pode variar de sociedade para sociedade. Isso significa que determinados procedimentos podem ser considerados éticos em uma certa sociedade ou nação e antiéticos em outra. De modo bastante amplo, Assi (2013, p. 38) define ética como “tudo aquilo que é visto como correto pela sociedade como um todo”. Devido ao caráter abrangente que a definição de ética pode assumir, as sociedades e seus diversos componentes buscam tornar sua aplicação mais específica e prática por meio do estabelecimento de leis, códigos, normas e regulamentos. No caso de empresas, o que costumamos encontrar são códigos de ética ou manuais internos de conduta que buscam englobar, entre outras, as seguintes situações (ASSI, 2013): • Pagamento ou recebimento de propinas. • Disseminação de informações privilegiadas. • Assédio sexual ou moral. • Discriminação de qualquer natureza. • Uso indevido de propriedade material ou intelectual da organização. • Recebimento de presentes ou doações. • Atividades políticas. • Relação com a comunidade ou grupos específicos. • Consumo de drogas. • Segurança no trabalho. Quando ouvimos que determinada empresa segue ou possui um conjunto de boas práticas de governança corporativa, podemos entender que ela busca atingir uma situação destacada no mundo dos negócios por meio da aplicação prática e do respeito à ética. Segundo Assi (2013), outro conceito que vem se destacando cada vez mais no ambiente corporativo é o compliance, que deriva da expressão inglesa to comply, entendida como estar em conformidade com algo. Mas o que é esse algo? Quando utilizamos a palavra compliance, estamos nos referindo a um sistema de compliance ou a um programa de compliance ou, como preferem alguns, um programa deintegridade. Estratégia avançada 111 Na prática, estar em conformidade com algo significa seguir regras e obedecer a certas legislações, normas e regulamentos internos e externos à organização. Um programa de compliance é um componente da governança corporativa e está associado à definição de procedimentos e à transparência das relações que fazem parte de um ambiente organizacional. O interesse por programas de compliance, no Brasil, intensificou-se com a Lei n. 12.846/13, publicada em 1º de agosto de 2013. Também conhecida como Lei Anticorrupção ou Lei da Empresa Limpa, estabelece as punições para empresas que cometam atos lesivos contra a administração pública, nacional ou estrangeira (BRASIL, 2013). Essa lei, além de definir as responsabilizações a que empresas que cometem crimes contra a administração pública estão sujeitas, define certos atenuantes para organizações que possuem um sistema de compliance ou programa de integridade plenamente funcional. O Decreto que a regulamenta é o de n. 8.420, publicado em 18 de março de 2015, que define os padrões de um sistema de integridade da seguinte forma: programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira (BRASIL, 2015). Um programa efetivo de compliance deve ser estruturado em cinco pilares, conforme ilustra a Figura 8, de forma a garantir o respeito às disposições legais, especialmente no que se refere ao combate à corrupção. Figura 8 – Os pilares de um programa de compliance Co m pr om et im en to e ap oi o da al ta d ire çã o Co m itê d e c om pl ia nc e G es tã o de ri sc os Re gr as e pr oc ed im en to s M on ito ra m en to co nt ín uo 5 pilares do programa de compliance 1° 2° 3° 4° 5° Fonte: Elaborada pelo autor com base em CGU, 2015. Não há uma determinação explícita de como os pilares mostrados na Figura 8 devem ser estruturados em uma organização; assim, cada uma é livre para implementar o programa da forma que melhor se adéque ao seu tamanho e estrutura organizacional. O importante é que o programa de compliance atenda aos objetivos propostos. Passemos a analisar cada um dos pilares descritos nessa figura (CGU, 2015): Planejamento Estratégico112 • 1º Comprometimento e apoio da alta direção: passar a mensagem de que todos na organização estão comprometidos e sujeitos ao seu cumprimento. O engajamento de cada colaborador dependerá das ações dos níveis hierárquicos mais elevados e do suporte que será dado à manutenção e ao funcionamento do programa. • 2º Comitê de compliance: assegurar de forma correta o estabelecimento de uma instância responsável por sua operação com papel bem definido e autonomia para se reportar ao nível mais alto da organização. Esse comitê será responsável por definir as regras e os parâmetros do programa e revisá-lo sempre que necessário. • 3º Gestão de riscos: os riscos são elementos que podem afetar os objetivos de uma organização. O programa de compliance deve possuir uma estrutura capaz de identificar esses riscos e tomar as ações necessárias para eliminar ou minimizar seus efeitos de modo a evitar que a organização cometa crimes, viole normas ou incorra em qualquer ato que possa gerar perda de valor para seus donos. • 4º Regras e procedimentos: as políticas de compliance devem estar claras e devem ser comunicadas a todos os membros da organização. É importante que haja um documento formal estabelecendo todos os procedimentos que devem guiar a vida da organização bem como as penalidades ao seu não cumprimento. Esse documento deve conter aspectos relativos à conduta dos funcionários, código de ética, canais de denúncia8, contratação de terceiros, relacionamento com órgãos públicos, entre outros. • 5º Monitoramento contínuo: a efetividade do programa de compliance deve ser sempre avaliada e aprimorada. Treinamentos constantes e atualizações conforme mudanças em normas e legislações devem fazer parte da rotina de um compliance adequado. Um programa de compliance ou de integridade se baseia no acompanhamento criterioso das atividades de uma organização. Isso se dá por meio de auditorias internas e externas, programas de qualidade, cadastro de clientes e fornecedores, levantamento de informações de colaboradores e o monitoramento de suas atividades (CGU, 2015). É comum que os profissionais responsáveis pelo compliance sejam vistos como excessivamente detalhistas ou agentes a serviço da burocracia, mas é fácil perceber sua importância quando nos deparamos com os enormes prejuízos financeiros e de reputação de suas marcas quando empresas se envolvem em esquemas de corrupção ou quando fornecem produtos defeituosos que possam causar danos à saúde da população ou ainda quando, por negligência ou imperícia, suas ações ocasionam danos ao meio ambiente. Considerações finais Neste capítulo, dedicamos nossa atenção à gestão estratégica, a forma como uma organização deve trazer aquilo que foi planejado para o dia a dia de suas operações. O comprometimento de 8 Um canal de denúncia é uma forma de levar ao conhecimento do comitê de compliance qualquer ato ou suspeita de comportamento que afronte os regulamentos internos da empresa ou a legislação vigente. De modo geral, um canal de denúncias deve preservar o anonimato da fonte e conduzir as investigações de forma sigilosa até que se apurem todos os fatos (ASSI, 2013). Estratégia avançada 113 todos os indivíduos e de suas lideranças é fundamental para que uma cultura de execução possa ser incorporada às mentes das pessoas. Vimos também o método PDCA que, por meio de um ciclo de aprimoramento contínuo, permite colocar em prática aquilo que foi planejado e corrigir o que não está saindo conforme as metas estabelecidas previamente. Cada organização deve construir seus caminhos e suas estratégias e aprimorá-las por meio da observação atenta e permanente do que acontece ao seu redor. Buscar obter vantagem competitiva e se diferenciar no meio de um grande número de competidores deve estar sempre no radar dos estrategistas. A estratégia do oceano azul propõe deslocar o foco que aprisiona a maioria das empresas em ambientes de negócios extremamente competitivos para novos mercados inexplorados, com novos clientes e novas demandas. A inovação de valor se traduz no conceito de fazer mais com menos ao oferecer novas opções aos clientes, com maior valor agregado e sem que isso provoque aumento dos custos. Inovar nos processos e na capacitação das pessoas é o que permitirá ter sucesso em um mundo VUCA, em que mudanças podem ocorrer de forma inesperada e causar grandes impactos na sociedade. Tornar as empresas ágeis e preparadas permitirá identificar os diversos riscos que povoam o mercado e estabelecer as melhores formas de se lidar com esses riscos. Por fim, tivemos a oportunidade de conhecer os conceitos de governança corporativa e compliance, ferramentas cada vez mais necessárias em sociedades cada vez menos dispostas a aceitar descumprimento de leis e atitudes antiéticas. Ampliando seus conhecimentos • TALEB, N. A lógica do cisne negro: o impacto do altamente improvável. Rio de Janeiro: Best Seller, 2015. Essa obra nos apresenta o impacto que determinados eventos completamente inesperados podem causar em nossas vidas. Conforme o autor, um cisne negro é um evento com três características marcantes: é imprevisível, gera resultados impactantes e, após sua ocorrência, busca-se alguma explicação plausível que o torne menos inexplicável. • FNQ – Fundação Nacional da Qualidade. 2019. Disponível em: http://fnq.org.br/. Acesso em: 16 jun. 2019. A Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)desenvolveu uma metodologia denominada Modelo de Excelência em Gestão® (MEG) que promove a adoção das melhores práticas relacionadas ao gerenciamento de empresas. Há diversos materiais gratuitos que podem ser obtidos por meio do site. Planejamento Estratégico114 Atividades 1. O que é o método PDCA? 2. Quais as principais características da estratégia do oceano azul que a diferenciam das estratégias tradicionais? 3. O que é um programa de compliance? Referências ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ISO 31000. 2009. Disponível em: https:// gestravp.files.wordpress.com/2013/06/iso31000-gestc3a3o-de-riscos.pdf. Acesso em: 16 jun. 2019. ANDRADE, A. R. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. São Paulo: Atlas, 2012. ASSI, M. Gestão de compliance e seus desafios: como implementar controles internos, superar dificuldades e manter a eficiência dos negócios. São Paulo: Saint Paul, 2013. BOSSIDY, L.; CHARAN, R. Execução: a disciplina para atingir resultados. 10.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. BRASIL. Lei n. 12.846, de 1º de agosto de 2013. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 2 ago. 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. BRASIL. Lei n. 8.420, de 18 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 19 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8420.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. CAMARGO, R. O que são stakeholders? Saiba tudo sobre eles e sua importância. Robson Camargo Projetos e Negócios. 2019. Disponível em: https://robsoncamargo.com.br/blog/O-que-sao-stakeholders-Saiba-tudo -sobre-eles-e-sua-importancia. Acesso em: 16 jun. 2019. CGU – Controladoria-Geral da União. Programa de integridade: diretrizes para empresas privadas. 2015. Disponível em: https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/programa-de-integridade -diretrizes-para-empresas-privadas.pdf. Acesso em: 16 jun. 2019. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. COSO - Gerenciamento de riscos corporativos. Estrutura Integrada, 2007. Disponível em: https://www.coso. org/Documents/COSO-ERM-Executive-Summary-Portuguese.pdf. Acesso em: 21 jun. 2019. ELIAS, M. O que é o mundo VUCA? Administradores.com. 2019. Disponível em: https://administradores. com.br/artigos/o-que-e-o-mundo-vuca. Acesso em: 16 jun. 2019. FALCONI, V. O verdadeiro poder: práticas de gestão que conduzem a resultados revolucionários. 2. ed. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2009. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. 4. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. KIM, W. C.; MAUBORGNE, R. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. MARQUES, J. R. O que é coaching e mentoring? Portal IBC. 2016. Disponível em: https://www.ibccoaching. com.br/portal/coaching/o-que-e-coaching-e-mentoring/. Acesso em: 16 jun. 2019. 8 Novos negócios e empreendedorismo Neste capítulo, dedicaremos nossa atenção aos assuntos relacionados ao empreendedorismo e à criação de novos negócios. Atualmente, e desde o início da década de 1990, o empreendedorismo tem se destacado nos mais variados mercados. Ao passo que muitos países, especialmente, os Estados Unidos da América, são mostrados como o berço do empreendedorismo, uma enorme quantidade de nações surge como novos polos de inovação e intensificação das atividades empreendedoras. Em uma pesquisa de 2015, o Brasil aparece na terceira colocação entre as nações mais empreendedoras do mundo, atrás de Uganda (África) e Tailândia (Ásia)1. Nessa mesma lista, encontram-se vários outros países classificados como nações em desenvolvimento, em que a atividade econômica formal tem apresentado crescimento, à medida que seus governos criam programas de apoio e incentivo à criação de novos negócios. A evolução da espécie humana é baseada, em grande parte, na atividade de experimentação e criação de coisas novas, como a utilização do fogo, a domesticação de animais e a agricultura. Na época das grandes navegações, por volta dos séculos XV e XVI, os navios eram lançados ao mar com a missão de descobrir novos territórios e encontrar riquezas mundo afora. As viagens marítimas estavam sujeitas a grandes riscos como condições climáticas imprevisíveis, duração maior do que o esperado (com a consequente falta de alimentos), ataques de piratas etc. Podemos encontrar uma série de similaridades entre as grandes navegações e a atividade empreendedora moderna, especialmente quando nos referimos aos riscos e às incertezas de sucesso. Veremos também algumas das principais características dos empreendedores e se tais atributos são inatos ou podem ser adquiridos por meio de capacitação e estudo. Entenderemos o que é um plano de negócios e como essa ferramenta pode ser decisiva para o sucesso de um empreendimento. Concluiremos nossos estudos apresentando o conceito de startups, empresas que são criadas com o objetivo de inovar o ambiente de negócios em condições de extrema incerteza. 8.1 Empreendedorismo: necessidade ou vocação? De modo geral, toda empresa surge de uma ideia nova ou da percepção de uma necessidade não satisfeita ou que não seja plenamente satisfeita. Outra característica marcante é que mesmo organizações poderosas e multimilionárias já foram pequenas algum dia. Empresas como o Facebook, o Google e a Microsoft foram criadas em garagens ou dormitórios de universidades. A Ford, empresa fabricante de automóveis presente em todo o mundo, foi aberta por Henry Ford, um dos empreendedores pioneiros na industrialização e na criação de linhas de montagem presentes até hoje em nossas indústrias2. 1 Você pode ler a pesquisa na íntegra em: https://revistapegn.globo.com/Dia-a-dia/noticia/2015/06/os-15-paises -mais-empreendedores-brasil-aparece-na-lista.html. Acesso em: 18 jun. 2019. 2 Você pode encontrar o artigo em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-oi-inventado-o-automovel/. Acesso em: 24 jun. 2019. Vídeo Planejamento Estratégico116 Quando falamos em empreendedorismo, é praticamente imediata a associação ao termo inovação, principalmente inovação tecnológica, como no caso de computadores e aparelhos de telefonia móvel cada vez mais sofisticados, os chamados smartphones. Entretanto, inovar não se restringe à criação de produtos novos. Muitas vezes, está ligado à busca de novas formas de atender a necessidades já existentes. Vejamos o caso do serviço de entrega de comida, o famoso delivery: todos nós temos a necessidade de nos alimentar e, muitas vezes, não temos tempo ou vontade de ir a um restaurante. Dessa forma, os serviços de entrega de comida permitem satisfazer duas necessidades básicas dos indivíduos. Conforme vimos na introdução deste capítulo, o Brasil é um dos países com o maior número de empreendedores no mundo. Esse índice, que deve ser comemorado, exige uma análise um pouco mais profunda sobre os tipos de empreendedores que encontramos por aqui. Especificamente no Brasil, há dois tipos de empreendedores: por oportunidade e por necessidade (LEMES JÚNIOR; PISA, 2010). Comecemos analisando este último. O empreendedorismo por necessidade ocorre quando as pessoas não conseguem obter outras formas de renda, por exemplo, ao perderem seus empregos e não vislumbrarem chances de recolocação no mercado em determinado período de tempo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em pesquisa realizada no início de 2019, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,6% ao final do ano anterior3. Isso significa que há cerca de doze milhões de brasileiros em condições de trabalhar, mas que estão desempregados. Ainda segundo essa pesquisa, houve redução no índice de desemprego observado em levantamento anterior e isso é atribuído ao crescimento do trabalhoinformal e do trabalho por conta própria. Essa é uma situação preocupante pois, ao não enxergar perspectivas de conseguir um novo emprego, as pessoas passam a exercer atividades não regulamentadas ou iniciar negócios próprios com estruturas mínimas e sem a capacitação adequada. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)4, cerca de um terço das empresas abertas no Brasil fecham as portas antes de completar dois anos de atividade. É claro que as dificuldades econômicas observadas em nosso país contribuem para esse resultado, mas esse índice tem sido constatado ao longo do tempo, independentemente da existência dos obstáculos econômicos. Por que isso acontece? Ainda de acordo com o Sebrae, cerca de 31% dos empreendedores iniciam seus negócios por falta de alternativa de geração de renda. Normalmente, a falta de opção faz com que esses novos empreendedores não se preparem de forma adequada com estudos de mercado, avaliação de riscos e sua própria capacitação para gerenciar seu negócio. Nessas condições, apesar de eventuais casos de sucesso, o que mais se observa é o encerramento precoce de atividades empresariais, muitas vezes, acompanhada de dívidas e piora da situação inicial de quem empreendeu. 3 A íntegra da pesquisa está disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/31/desemprego-ica -em-116-em-dezembro-diz-ibge.ghtml. Acesso em: 18 jun. 2019. 4 Sebraeéumaentidadeprivadaquepromoveacompetitividadeeodesenvolvimentosustentáveldosempreendimentos de micro e pequeno porte. Novos negócios e empreendedorismo 117 Por outro lado, o empreendedorismo por vocação, aquele em que o empreendedor busca desenvolver um novo negócio com base em estudos de mercado e planejamento adequado, também tem crescido. Esse tipo de empreendedorismo é o que tem maior capacidade de sucesso e de geração de riqueza. Vejamos no Quadro 1 algumas das características mais marcantes de empreendedores de sucesso. Quadro 1 – Características de empreendedores de sucesso São visionários Têm a capacidade de antever o uturo de seus negócios e a habilidade de implementar seus sonhos. Sabem tomar decisões Sentem-se seguros para tomar decisões de orma rápida, muitas vezes com poucas informações disponíveis. Aproveitam as oportunidades Normalmente, conseguem identicar aplicações práticas para solucionar aquilo que os demais enxergam apenas como problemas. São determinados e dedicados Dedicam as 24 horas do dia ao seu negócio com oco e comprometimento total. São apaixonados pelo que fazem Usam essa paixão para superar obstáculos e convencer os outros sobre as vantagens de seus produtos e serviços. São líderes e formadores de equipes Em alguma etapa, o empreendimento precisará ganhar escala e com isso será necessário delegar responsabilidades a outras pessoas. São bem relacionados Não basta uma boa ideia, é preciso levar isso ao conhecimento do maior número de pessoas possível. Planejam Todos os passos de um novo negócio precisam ser calculados, testados e aprimorados. Possuem conhecimento Buscam conhecimento constantemente. Estudam e aprendem com seus erros e com os erros dos outros. Assumem riscos A atividade empreendedora pressupõe assumir diversos riscos, mas devem ser calculados e minimizados sempre que possível. São otimistas Ouvem as pessoas, mas não se deixam contaminar pelo seu conformismo. Fonte: Adaptado de Dornelas, 2001, p. 31. Conforme o Quadro 1, grande parte das atribuições do empreendedor consiste em se preparar para o mercado por meio de estudos e capacitação. Imaginar que vontade e garra bastam para a conquista do sucesso é um erro que pode causar a falência de um negócio com grande potencial. Além desse erro, podemos apontar outros a serem evitados por aqueles que sonham em transformar suas ideias em negócios sustentáveis e lucrativos, conforme ilustra o Quadro 2: Planejamento Estratégico118 Quadro 2 – Principais erros a serem evitados pelo empreendedor • Desconhecimento total do negócio, ou seja, acreditar que uma ideia pode se transormar em um negócio lucrativo apenas por ter ouvido alar ou ter visto de orma supercial. • Desconhecer o tamanho do mercado de atuação, o que signica enxergar segmentos muito restritos, inviabilizando produtos ou serviços. • Não saber denir o local adequado para o negócio nem os canais de venda mais indicados, pois muitos empreendedores abrem lojas em locais próximos às suas residências buscando seu conorto pessoal e se esquecem de pensar na conveniência de seus clientes. • Escolha de sócios inadequados. Como todo relacionamento, essa questão deve ser tratada de orma aberta e transparente, buscando estabelecer previamente como eventuais confitos serão tratados. • Não possuir uma boa rede de relacionamentos, pois muitas vezes surgirão questões a serem analisadas por especialistas como advogados, contadores, fornecedores, consultores etc. Ter acesso a esse tipo de ajuda, antes de abrir o negócio, poderá ser de grande utilidade. • Conusão patrimonial, ou seja, misturar as nanças pessoais e de amiliares com as da empresa. • Não atentar para as questões legais relacionadas à atividade escolhida, o que pode ocasionar multas, processos e até mesmo o echamento do negócio. • Não se atualizar com relação aos atores externos que infuenciam suas atividades, como a situação econômica do país e de seus consumidores, a chegada de concorrentes, mudanças tecnológicas etc. Fonte: Adaptado de Lemes Júnior e Pisa, 2010, p. 16. Uma das grandes questões que surgem quando o assunto é empreendedorismo é se essa atividade pode ser aprendida ou se o indivíduo já nasce com as características necessárias para se tornar um empreendedor. Ao analisarmos as características de um empreendedor como aquelas apresentadas no Quadro 1, observamos que uma grande parte é um conjunto de habilidades adquiridas com a vivência tanto pessoal como profissional de um indivíduo. Vejamos o caso de uma boa rede de relacionamentos: um recém-nascido possui, quando muito, um relacionamento com sua mãe e com seu pai podendo se estender aos avós e aos irmãos. Pouquíssimo para se iniciar um negócio. É claro que a brincadeira mencionada no parágrafo anterior ilustra que muito do espírito empreendedor vem com o tempo e com as experiências que se somam ao longo da vida de uma pessoa, entretanto, fatores comportamentais como facilidade de relacionamento, habilidade em se comunicar e atitude positiva frente a dificuldades ajudam a enfrentar os desafios na vida de um empreendedor. Podemos observar que a atividade empreendedora apresenta uma série de oportunidades a quem possui as características exigidas para se aventurar na criação de novos negócios. Por outro lado, os riscos existem e devem ser analisados com atenção. Na próxima seção, veremos uma das mais importantes ferramentas para auxiliar empreendedores em sua jornada: o plano de negócios. 8.2 Plano de negócios Muitos de nós já tiveram uma grande ideia ou pelo menos acharam que sim, certo? Mas a grande questão que se coloca é: minha ideia pode virar um negócio? Se a resposta for sim, então a próxima pergunta do futuro empreendedor é: o que devo fazer para que minha ideia se transforme em um negócio de sucesso? A resposta a Vídeo Novos negócios e empreendedorismo 119 essa pergunta passa pelo processo de conhecimento e análise de todos os aspectos envolvidos na criação de um negócio. A Figura 1 mostra os diversos componentes que devem ser considerados para que uma ideia possa gerar um negócio. Figura 1 – Um negócio a partir de uma ideia Negócio Ideia Oportunidade Inovação Visão Missão Estratégia Gestão Fornecedores Vendas Clientes Pessoas Finanças Serviços Produto Processos Relacionamento Fonte: Elaborada pelo autor. Cada componente mostrado na Figura 1 deve ser estudado e aplicado à ideia para que ela possa, efetivamente, transformar-se em um negócio. Podemos observar que o caminho é longo e envolve muitas questões,mas, ao contrário do que possa parecer, planejar as etapas e se preparar da melhor forma possível é o meio mais apropriado para diminuir os riscos e aumentar as chances de sucesso. Segundo Dornelas (2001), o plano de negócios é uma ferramenta que ajuda o empreendedor a trilhar o caminho entre a ideia e o negócio propriamente dito e permite uma análise racional da viabilidade do empreendimento. Ou seja, se aquela ideia é realmente boa e se ela pode se transformar em um negócio de sucesso ao atender desejos e necessidades de clientes. Podemos entender o plano de negócios como um instrumento de convencimento, tanto para o empreendedor quanto para futuros sócios ou investidores que possam vir a se juntar a ele. É importante notar que um plano de negócios não é um documento estático. Pode e deve ser revisado e alterado quantas vezes forem necessárias para garantir a correta aplicação de recursos e avaliar os retornos financeiros esperados. Em muitos aspectos, um plano de negócios se assemelha ao planejamento estratégico de uma empresa já existente. Planejamento Estratégico120 “Por isso, o plano de negócios é considerado uma ferramenta de gestão do empreendedor, já que o auxilia a tomar decisões” (DORNELAS, 2017, p. 20). Como já mencionado, um plano de negócios é um instrumento de convencimento: deve ser capaz de “vender” uma ideia e mostrar ao empreendedor ou aos seus investidores que o negócio tem potencial para se tornar rentável. Um plano de negócios é composto de várias partes, como apresentado a seguir: • Sumário executivo; • Conceito do negócio; • Ambiente de negócios (mercado e competidores); • Equipe de gestão; • Produtos e serviços; • Plano de operações; • Marketing e vendas; • Estratégia de crescimento; • Análise financeira; • Anexos. Passemos a analisar cada um desses componentes. 8.2.1 Sumário executivo Apesar de ser a parte inicial do plano de negócios, é o último segmento a ser redigido, isso porque é uma síntese de todas as outras partes. É uma espécie de resumo, ou miniplano de negócios, que tem por objetivo despertar o interesse do leitor em se aprofundar no que está sendo apresentado. De forma breve, o sumário executivo deve buscar responder às seguintes perguntas (DORNELAS, 2017): • Quem está envolvido? – Quem são as pessoas que estão à frente do projeto e quais habilidades as tornam capacitadas para isso? • Qual é a visão e a estratégia? – Aonde você quer chegar e quais as formas de desenvolver o negócio? • Qual o seu mercado? – Quais as oportunidades identificadas? Quem são os clientes? • Quanto vai custar? – Qual é o investimento necessário e como ele será aplicado? • Quais são suas vantagens competitivas? – Quais os diferenciais da sua empresa? Como sustentar essa vantagem? Dornelas (2017) aponta que o sumário executivo deve ser apresentado de forma sucinta em uma ou duas páginas em que são citadas as informações mais relevantes do negócio proposto. Novos negócios e empreendedorismo 121 8.2.2 Conceito do negócio Nesta etapa do plano de negócios, o empreendedor deve esclarecer qual é o seu modelo de negócios, que pode ser baseado no modelo Canvas, visto no Capítulo 2, mostrando de forma sintética qual é o valor a ser gerado, quem são os clientes e de que forma os produtos e serviços serão entregues. Além disso, nessa etapa, são colocados os diferenciais competitivos, quais as oportunidades que o mercado-alvo apresenta, as parcerias que podem ser aproveitadas e aspectos como missão, visão e valores organizacionais. 8.2.3 Ambiente de negócios: mercado e competidores Aqui o que se busca é identificar o potencial de sucesso do novo negócio. Se na etapa anterior identificamos os diferenciais da nova empresa, nesta seção, precisamos apontar como esses diferenciais trarão vantagem competitiva. Para que isso possa acontecer, é importante conhecer a fundo o comportamento e as características tanto de clientes quanto de concorrentes. Muitas dessas informações podem ser obtidas pela internet, o que se denomina pesquisa secundária, e também por meio de uma pesquisa encomendada especificamente para o empreendimento, chamada de pesquisa primária. O objetivo dessas pesquisas é levantar o máximo de informação possível que permita ajustar o negócio para melhor atender os clientes e deixar para trás os concorrentes. Conforme Dornelas (2017), a informação mais relevante que o empreendedor deve extrair dessas pesquisas se refere à perspectiva de crescimento do mercado nos próximos anos. A análise deve incluir o tamanho do mercado em termos financeiros e a participação (market share) de cada competidor. 8.2.4 Equipe de gestão Ao longo de nosso estudo, destacamos várias vezes a importância das pessoas no processo de gestão estratégica. Ao elaborarmos o plano de negócios, deveremos deixar claro que as pessoas que estarão à frente do empreendimento são plenamente capacitadas e motivadas para atingir os objetivos de curto, médio e longo prazo. Nessa etapa, devemos, portanto, apresentar cada um dos principais envolvidos, sua experiência profissional, casos de sucesso e outras características que servirão para dar credibilidade no que se refere ao comando da empresa. É muito comum que empresas iniciantes busquem auxílio externo para formatar seu negócio seja por meio de consultores ou empresários de sucesso que possam servir como conselheiros. Caso seja possível, convém citar essas pessoas como um fator adicional de capacidade de gestão e credibilidade junto ao mercado. Planejamento Estratégico122 8.2.5 Produtos e serviços Nesta etapa, são apresentados os produtos e/ou os serviços que a empresa pretende disponibilizar ao mercado. Não é necessário detalhar aspectos técnicos, isso pode ser feito na etapa de anexos, mas sim destacar os atributos principais e os benefícios gerados aos clientes. Entre as características que convém citar estão aquelas relacionadas aos diferenciais em relação aos produtos/serviços existentes, como uma maior conveniência ou facilidade de uso, qualidade e durabilidade, inovação tecnológica etc. Um aspecto importante a se considerar, especialmente quando nos referimos a produtos, está relacionado ao seu ciclo de vida. O Gráfico 1 ilustra as etapas de um produto no mercado: Gráfico 1 – Ciclo de vida de um produto Lançamento Vo lu m e d e v en da s TempoCrescimento Maturidade Declínio Fonte: Adaptado de Dornelas, 2001, p. 133. De acordo com o Gráfico 1, é importante avaliar que um produto inovador exigirá grandes investimentos em marketing para que o mercado tenha conhecimento de sua existência e suas vantagens. Por outro lado, um produto que já esteja consolidado no mercado enfrentará maior concorrência de produtos similares ou substitutos. 8.2.6 Plano de operações Nesta etapa, deve ser proposta uma visão macro das operações da nova empresa e não um detalhamento minucioso de todos os processos operacionais. O fundamental é demonstrar que o empreendimento terá condições de fornecer os produtos e os serviços propostos, na quantidade e na qualidade pretendida, para gerar as receitas previstas e ganhar o mercado almejado. Nesse sentido, é muito importante que as operações da empresa estejam em harmonia com as propostas apresentadas nas demais partes do plano de negócios. Neste item, convém descrever a infraestrutura necessária, os principais processos empresariais, os departamentos da empresa, as parcerias estratégicas com fornecedores e distribuidores, os programas de qualidade e a conformidade e outros processos que sejam críticos para o funcionamento adequado da organização e o atendimento aos consumidores. Novos negócios e empreendedorismo 123 8.2.7 Marketing e vendas Esta talvez seja a etapa mais importante do plano de negócios, pois é ela que demonstrará se os produtos e os serviços propostos pelo empreendedor têm chances reais de gerar riqueza e garantir o sucesso no longo prazo. Nesta etapa, deverão ser descritas as formas de comercialização, os preçosa serem praticados e, principalmente, a projeção de vendas. As informações obtidas nas pesquisas primária e secundária serão fundamentais bem como a análise dos concorrentes e do mercado consumidor. De modo geral, os investimentos elevados em marketing, como campanhas publicitárias e grande exposição na mídia, tendem a gerar maior volume de vendas, especialmente na fase de introdução dos produtos e dos serviços a serem comercializados. Por outro lado, essas ações podem gerar custos elevados e inviabilizar os retornos financeiros desejados. É importante uma verificação criteriosa do custo-benefício desse tipo de iniciativa. Caso não tenha sido um tema abordado na etapa dedicada às operações, aqui deverão ser colocados os canais de vendas previstos, como as lojas próprias, os revendedores, o comércio eletrônico, entre outros. Devemos entender que as projeções de vendas devem ser baseadas em dados levantados nas pesquisas, conforme mencionado anteriormente. Acrescente-se a isso a importância de testar as estratégias adotadas e efetuar as correções necessárias. Muitas vezes uma maneira de comercializar um produto se mostra melhor na prática do que na previsão inicial e, de forma contrária, um tipo de promoção acaba não surtindo o efeito desejado. O empreendedor deve estar preparado para testar diversas hipóteses e colher os resultados a fim de aprimorar continuamente sua atuação no mercado. 8.2.8 Estratégia de crescimento Aqui buscamos descrever as ações necessárias para que se atinjam metas previamente estabelecidas. Essa etapa é uma continuidade natural da anterior e poderia estar inclusa em marketing e vendas, segundo Dornelas (2017). Conforme vimos em capítulos anteriores, estratégia é o caminho construído para se atingir uma meta. Vimos também que esta deve ser claramente definida e atingível em um certo prazo. Nesta etapa devem ser colocadas as metas desejadas e os planos de ação que permitirão alcançá- -las, por exemplo, conquistar 20% do mercado, ser reconhecido como o melhor fornecedor de determinado produto etc. Da mesma forma que campanhas de marketing, a estratégia de crescimento exige investimento e estrutura compatível com os objetivos que se esperam alcançar e os custos das ações deverão ser monitorados de forma cuidadosa. Uma ferramenta que já vimos e que poderá ser bastante útil nesta etapa do plano de negócios é a análise SWOT. Deveremos ser capazes de apontar as dificuldades e os pontos fortes, bem como identificar as oportunidades e as ameaças aos planos de crescimento do novo negócio. Planejamento Estratégico124 8.2.9 Análise financeira Busca traduzir todos os aspectos abordados nas demais etapas em termos financeiros e, dessa forma, mostrar se o negócio é viável ou não. De modo geral, o horizonte de tempo a ser estudado é de cinco anos. É dentro desse período que se espera obter o retorno do investimento inicial e observar o desempenho econômico do negócio. As principais informações que devem fazer parte desta etapa são apresentadas no Quadro 3: Quadro 3 – Inormações para análise inanceira de plano de negócios Investimentos Quantidade de dinheiro necessária para iniciar as atividades da empresa e, eventualmente, em outros momentos. Quais as origens e como serão aplicados esses recursos. Custos e despesas Inormar quais os custos de comercialização e as despesas operacionais da empresa. Mostrar quais impostos incidem sobre as atividades da empresa. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) São os resultados operacionais da empresa, decorrentes de suas atividades normais. Pode ser apresentada de forma mensal no primeiro ano e anual nos anos seguintes até o quinto ano ou prazo superior dependendo do tipo de negócio. Demonstrativo de fluxo de caixa Indica as entradas e as saídas eetivas de recursos nanceiros e pode seguir a mesma periodicidade da DRE. Indicadores financeiros de rentabilidade e viabilidade Os indicadores nanceiros mais utilizados para se avaliar um novo negócio são: a taxa interna de retorno, o valor presente líquido, o ponto de equilíbrio e o prazo de retorno do investimento. Fonte: Elaborado pelo autor. Passemos a analisar um exemplo simples de análise financeira para uma pequena loja de roupas. Os valores não são reais e servem apenas como exemplo. As tabelas a seguir mostram, respectivamente, os investimentos iniciais necessários, a projeção de vendas anuais para os primeiros cinco anos e as despesas mensais previstas para a operação da loja. Tabela 1 – Investimento inicial Adequação e decoração da loja R$ 70.000,00 Móveis e equipamentos R$ 30.000,00 Estoque inicial R$ 10.000,00 Capital de giro inicial5 R$ 15.000,00 Marketing (divulgação) R$ 9.000,00 Despesas legais para abertura da empresa R$ 2.000,00 Total R$ 136.000,00 Fonte: Elaborada pelo autor. 5 O capital de giro é omontante necessário para azer rente às despesas operacionais da empresa como ornecedores, contas a pagar etc. No caso de uma empresa nova, funciona como uma espécie de reserva até que o negócio gere receitas de orma regular (LEMES JÚNIOR; PISA, 2010). Novos negócios e empreendedorismo 125 O investimento inicial apresentado na Tabela 1 refere-se às principais necessidades do negócio para começar suas atividades. Já a Tabela 2 mostra o quanto a empresa espera faturar nos anos seguintes. Essa projeção deve ser feita levando-se em conta “uma boa análise de mercado e a realização de pesquisas primárias” (DORNELAS, 2017, p. 30). Tabela 2 – Projeção de vendas Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 R$ 400.000,00 R$ 440.000,00 R$ 484.000,00 R$ 532.400,00 R$ 585.640,00 Fonte: Elaborada pelo autor. As estimativas de vendas da Tabela 2 apresentam um crescimento anual de 10% em relação ao ano anterior. Nem sempre a projeção de vendas seguirá uma taxa constante, devendo ser ajustada com base em pesquisas que mostram o comportamento do mercado (DORNELAS, 2017). Na Tabela 3, apresentamos, de forma simples, as despesas mensais previstas para o funcionamento da loja utilizada como exemplo. Tabela 3 – Custos e despesas mensais Aluguel do imóvel R$ 2.000,00 Impostos e taxas R$ 500,00 Folha de pagamento R$ 6.000,00 Contas (energia elétrica, água, telefone, internet etc.) R$ 700,00 Serviços diversos (contabilidade, marketing etc.) R$ 450,00 Outros R$ 200,00 Total R$ 9.850,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Na Tabela 3, estão descritos os custos e as despesas mensais. Nem sempre essas despesas serão as mesmas de um mês para o outro, de modo que os valores apresentados são valores médios considerados razoáveis pelo empreendedor. Na sequência, na Tabela 4, apresentaremos a Demonstração do Resultado do Exercício para os primeiros cinco anos do negócio. É importante observar que, em nosso exemplo, houve prejuízo no primeiro ano em decorrência dos investimentos iniciais mostrados na Tabela 1, o que é bastante comum ao se iniciar uma nova empresa. Nos demais anos, os investimentos podem ocorrer, mas de modo geral os valores são menores do que os observados na criação do novo empreendimento. Planejamento Estratégico126 Tabela 4 – Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 R$ R$ R$ R$ R$ Receita Total de Vendas 400.000,00 440.000,00 484.000,00 532.400,00 585.640,00 Custos Variáveis Custo de mercadoria vendida –120.000,00 –132.000,00 –145.200,00 –159.720,00 –175.692,00 Impostos sobre Vendas –48.000,00 –52.800,00 –58.080,00 –63.888,00 –70.277,00 Despesas com Vendas –8.000,00 –8.800,00 –9.680,00 –10.648,00 –11.713,00 –176.000,00 –193.600,00 –212.960,00 –234.256,00 –257.682,00 Margem Bruta 224.000,00 246.400,00 271.040,00 298.144,00 327.958,00 Despesas Aluguel do imóvel –24.000,00 –25.200,00 –26.460,00 –27.783,00 –29.172,00 Impostos e taxas –6.000,00 –6.300,00 –6.615,00 –6.946,00 –7.293,00 Folha de pagamento –72.000,00 –79.200,00 –87.120,00 –95.832,00 –105.415,00 Contas –8.400,00 –8.820,00 –9.261,00 –9.724,00 –10.210,00 Serviços diversos –5.400,00 –5.670,00 –5.954,00 –6.251,00–6.564,00 Investimentos –136.000,00 –10.000,00 –3.500,00 –5.200,00 –4.800,00 Outras despesas –2.400,00 –2.520,00 –2.646,00 –2.778,00 –2.917,00 –254.200,00 –137.710,00 –141.556,00 –154.514,00 –166.372,00 Lucro antes do IR e CSLL –30.200,00 108.690,00 129.485,00 143.630,00 161.587,00 IR e CSLL 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Lucro Líquido –30.200,00 108.690,00 129.485,00 143.630,00 161.587,00 Fonte: Elaborada pelo autor. No exemplo utilizado, consideramos a empresa como optante do Simples Nacional6, uma categoria tributária que simplifica o recolhimento de impostos por meio de uma alíquota única calculada sobre o faturamento das empresas. Dessa forma, não incidem o Imposto de Renda (IR) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O Gráfico 2 mostra a exposição do caixa, ou seja, o fluxo de recursos financeiros que serão investidos e os resultados ao longo do tempo. 6 Mais inormaçõespodemserobtidasnositedaReceitaFederal:http://www8.receita.azenda.gov.br/SimplesNacional/ Documentos/Pagina.aspx?id=3. Acesso em: 17 jun. 2019. Novos negócios e empreendedorismo 127 Gráfico 2 – Fluxo de Caixa acumulado ao longo de cinco anos 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 R$ meses 1 3 5 7 9 11 13 15 17 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 –100.000 – –200.000 Fonte: Elaborado pelo autor. O Gráfico 2 de Fluxo de Caixa nos mostra que, a partir do 12º mês, o caixa da empresa começa a se tornar positivo e, por volta do 29º mês, o investimento é recuperado (ponto onde a curva cruza o eixo horizontal). Esse ponto é o que determina o período de payback, que é o prazo de retorno do investimento. No exemplo utilizado, o retorno do investimento se dá no mês 29, ou um pouco após o segundo ano de operação da empresa. Depois desse período, o caixa acumulado passa a apresentar valores positivos e crescentes ao longo do tempo. Isso mostra que o negócio é viável sob esse critério. Outro indicador muito importante utilizado para avaliar um investimento é o Valor Presente Líquido (VPL). O VPL traz para o momento inicial de análise financeira os valores futuros de caixa sob determinada taxa de desconto. Essa taxa de desconto, também chamada de Taxa Mínima de Atratividade (TMA), corresponde à taxa mínima que o investidor deseja obter para investir seu dinheiro em um negócio, em vez de aplicá-lo em um banco. Essa taxa já considera o risco a que um novo negócio está exposto e, dessa forma, a TMA é maior do que a taxa de um investimento financeiro de baixo risco, por exemplo, uma aplicação em caderneta de poupança. Voltando ao nosso exemplo, o VPL, considerando o período de análise de cinco anos e aplicando uma taxa de 20% (TMA), resulta em um valor aproximado de R$ 197.320,00. Como interpretar esse resultado? O VPL calculado indica que, se trouxermos os resultados financeiros da operação da loja ao longo de cinco anos para o momento presente, o investimento inicial, que foi de R$ 136.000,00, proporcionará um retorno de R$ 197.320,00. Como o resultado obtido é positivo (VPL>0), o investimento é viável sob o ponto de vista dessa análise. Caso o VPL fosse negativo (VPL<0), o investimento seria inviável, pois o retorno financeiro seria menor do que o investimento inicial e isso indicaria que, nesse caso, o melhor a fazer seria aplicar o dinheiro em um banco ou buscar uma nova oportunidade de negócios. O último indicador que analisaremos em nosso exemplo é a Taxa Interna de Retorno (TIR). Esse indicador mostra a taxa de retorno que torna o VPL igual a zero (limiar de viabilidade financeira). Se a TIR calculada for maior do que a taxa mínima de atratividade, no nosso caso, estipulada em 20%, o negócio é viável; caso a TIR seja inferior ao mínimo desejado, o negócio se Planejamento Estratégico128 torna inviável por esse critério. No nosso exemplo, a TIR calculada foi de 80%, maior, portanto, do que os 20% mínimos exigidos, o que indica a viabilidade do negócio. Apesar de serem conceitos que exigem estudos mais aprofundados, tanto o VPL quanto a TIR podem ser calculados de forma simples, utilizando calculadoras financeiras ou planilhas eletrônicas. O que os indicadores obtidos por meio da análise financeira procuram mostrar são os resultados potenciais tendo em vista as premissas adotadas. O fato de algum indicador financeiro mostrar o empreendimento como inviável não significa abandonar a ideia por completo, mas sim que ajustes precisam ser feitos, por exemplo, diminuir o investimento inicial ou buscar novas fontes de receitas. Devemos lembrar que, da mesma forma que recomendamos no caso do planejamento estratégico, o plano de negócios deve ser revisto continuamente. 8.2.10 Anexos Os anexos de um plano de negócios reúnem qualquer tipo de material ou informação adicional que sirva de suporte ao que foi apresentado nas etapas anteriores. Esse material pode ser constituído por dados setoriais relevantes como o crescimento de um determinado segmento de mercado, a evolução do PIB, as tabelas ou os gráficos contendo os dados econômicos, as notícias recentes que possam impactar o negócio. Apesar de não ser indispensável, uma boa etapa de anexos acrescenta credibilidade ao plano de negócios ao embasar as hipóteses e as projeções apresentadas. 8.3 Startups Ao falarmos de empreendedorismo e criação de novos negócios, é impossível não abordarmos as startups. O avanço tecnológico e a queda de obstáculos como fronteiras geográficas permitiu a criação de uma infinidade de novos negócios como os aplicativos de entrega de comida, de locação de imóveis e de serviços de transporte. Quando imaginamos uma startup de sucesso, é comum nos lembrarmos de histórias de garotos geniais que criaram algo fantástico e se tornaram milionários da noite para o dia. Será que isso realmente acontece? Mas, afinal de contas, o que é uma startup? Uma startup não deixa de ser uma empresa ou, pelo menos, um projeto que tenha o potencial para se tornar uma empresa. Ao contrário de organizações ditas tradicionais, uma startup possui certas características capazes de torná-la única. Segundo Ries (2012, p. 24), “uma startup é uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza.” Essa definição nos permite buscar algumas conclusões a respeito das startups, por exemplo, o fato de ser ou de se tornar, em algum momento, uma instituição que se caracteriza por um conjunto de aspectos organizacionais ou processos que exigem certo grau de disciplina. Assim, a imagem de jovens trabalhando de forma completamente desorganizada em busca de ideias geniais não está muito próxima da realidade. Vídeo Novos negócios e empreendedorismo 129 Ao mencionar a criação de novos produtos e serviços, a definição de startup citada anteriormente destaca o aspecto inovador da nova empresa. Não devemos, no entanto, restringir o termo inovação ao aspecto meramente tecnológico do novo negócio. Inovação é tudo aquilo que oferece novas formas de atender aos desejos e necessidades dos clientes, ou seja, gerar valor de uma maneira diferente. Finalmente, ao conceituarmos uma startup, talvez o que melhor a defina seja o fato de que sua proposta de inovação ocorra em um ambiente de grande incerteza e volatilidade. De modo geral, uma startup não conta com a facilidade de se basear em um negócio já existente. Na análise financeira do plano de negócios visto anteriormente, utilizamos uma loja de roupas, um tipo de negócio que já existe há décadas, assim como restaurantes, oficinas mecânicas e outros negócios tradicionais. Elaborar um plano de negócios para empresas em setores tradicionais e já consolidados do mercado facilita a obtenção de dados históricos e permite entender melhor o comportamento dos consumidores e competidores. No caso de uma startup, a modelagem do negócio é mais intuitiva e as análises de viabilidade devem ser feitas com base naexperimentação. Apesar de contar com menor previsibilidade do que um negócio tradicional, o processo de validação das premissas adotadas por uma startup deve ocorrer de forma planejada e controlada, de modo a obter respostas rápidas para as hipóteses levantadas. 8.3.1 Ciclo de aprimoramento do produto O desenvolvimento de uma startup ocorre por ciclos de aprimoramento de seus produtos, nos quais determinadas hipóteses são levantadas e testadas na prática, buscando o feedback dos clientes. A Figura 2 mostra o ciclo de aprimoramento do produto ou ciclo de feedback, que se constitui como um método para desenvolver produtos e serviços cada vez mais alinhados ao que o mercado deseja. A própria aplicação desse método está sujeita à verificação permanente, uma vez que, quanto mais efetivo e ágil for o processo de coleta de informações, mais próximo estaremos dos resultados desejados. Figura 2 – Ciclo de feedback Ideias Produto Construir Medir Dados Aprender Fonte: Adaptado de Ries, 2012, p. 69. Planejamento Estratégico130 Conforme pode ser observado na Figura 2, o funcionamento do ciclo de aprimoramento do produto parte de uma ideia que deve gerar um produto a ser testado no mercado. Com base nesses testes, são analisados os resultados como a aplicabilidade e o nível de satisfação dos consumidores. De acordo com os resultados obtidos, o produto volta para o setor de desenvolvimento, no qual os ajustes necessários são feitos para que se dê início a um novo ciclo de aprimoramento do produto. 8.3.2 Produto Mínimo Viável (MVP) O produto desenvolvido no ciclo de aprimoramento não costuma contar com todas as características que farão dele um produto comercializável no futuro. A ideia por trás da criação de um MVP7 é o de submetê-lo a testes, tanto funcionais, como qualidade e confiabilidade, quanto de usabilidade por parte dos clientes, como praticidade e valor gerado. O MVP pode ser introduzido de forma gratuita em determinados segmentos de mercado, bem como comercializado, testando, dessa forma, os aspectos econômicos relacionados às fontes de receita. A utilização de MVPs segue o conceito de prototipagem, uma ferramenta muito empregada na indústria tradicional que teve sua aplicação expandida na criação de modelos de negócios. Um protótipo é uma espécie de “rascunho”, algo a ser testado e que possa servir de base para o aperfeiçoamento de um modelo (RIES, 2012). 8.3.3 O pivô Pivô ou pivotagem8 se refere à decisão de alterar os rumos inicialmente adotados de forma a testar uma nova hipótese estratégica (RIES, 2012). Dependendo dos resultados obtidos com a introdução do MVP no mercado, um reposicionamento estratégico pode ser necessário. Devemos ter em mente que o ciclo de aprimoramento do produto serve não apenas para testar características funcionais, mas também para verificar o melhor posicionamento do produto no mercado. Isso inclui experimentar diferentes formas de comercialização, parcela de consumidores interessada e preços a serem praticados. Descobrir o momento certo de pivotar é, sem dúvida, uma das maiores dificuldades que os empreendedores deverão encarar em algum momento do desenvolvimento de seu negócio. Se a mudança for feita de forma precipitada, corre-se o risco de não se obter a aprendizagem adequada e, de forma oposta, demorar muito pode gerar custos e desperdiçar oportunidades. Considerações finais Neste capítulo, tivemos a oportunidade de observar que a criação de novos negócios exige planejamento e disciplina. Empreender significa adentrar terrenos muitas vezes desconhecidos e, como já vimos ao estudar o planejamento estratégico, a qualidade da organização e a adoção de 7 Minimum viable product, do original, em inglês. 8 Termo derivado do inglês to pivot, que significa girar ou, no caso de negócios, mudar o rumo adotado. Novos negócios e empreendedorismo 131 métodos apropriados serão extremamente úteis para que se possam minimizar os riscos e aumentar as chances de sucesso. Uma das ferramentas mais adotadas por empreendedores conscientes e preparados para os desafios de criar uma nova empresa é o plano de negócios. Infelizmente, não é incomum ouvirmos falar de amigos ou conhecidos que se aventuraram na selva dos negócios sem estar devidamente preparados e, por esse motivo, não alcançaram os resultados desejados. Não importa o tamanho do negócio ou o setor de atuação, planejar é essencial. Terminamos nosso estudo tratando das startups, empresas que buscam inovação em um mundo repleto de incertezas. Também nesse caso, não há espaço para desorganização e falta de metas específicas. Para cada empresa de sucesso gerada por uma startup, muitas outras ficaram pelo caminho ou sobreviveram por curtos períodos. Isso faz parte da dinâmica do mercado e não há nada de errado nisso, mas, se pudermos optar, sem dúvida, escolheríamos o grupo de empresas de sucesso. Já que não há certezas no mundo dos negócios, que pelo menos nos preparemos da melhor forma possível. As ferramentas existem e cabe a nós escolhê-las e usá-las com sabedoria. Ampliando seus conhecimentos • ENDEAVOR BRASIL. 2019. Disponível em: https://endeavor.org.br. Acesso em: 19 jun. 2019. A Endeavor Brasil é uma organização privada que promove o empreendedorismo. Em seu site, podemos encontrar diversos conteúdos extremamente úteis nas áreas de planejamento, gestão e inovação por meio de exemplos práticos de quem atingiu sucesso no mundo dos negócios. • SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. 2019. Disponível em: www.sebrae.com.br. Acesso em: 19 jun. 2019. O Sebrae, entidade privada sem fins lucrativos, promove o desenvolvimento de pequenas e médias empresas. Seu site disponibiliza um vasto material relativo aos assuntos vistos neste capítulo. Atividades 1. Cite uma diferença signicativa entre o empreendedorismo por vocação e o empreen- dedorismo por necessidade. 2. O que é um plano de negócios? Para que serve? 3. O que é uma startup? Planejamento Estratégico132 Referências DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2001. DORNELAS, J. C. A. Plano de negócios com o modelo Canvas: guia prático de avaliação de ideias de negócio a partir de exemplos. Rio de Janeiro: LTC, 2017. LEMES JÚNIOR, A. B.; PISA, B. J. Administrando micro e pequenas empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. RIES, E. A startup enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extremamente bem-sucedidas. Rio de Janeiro: Leya, 2012. SEBRAE/SP – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empesas de São Paulo. Causa mortis: o sucesso e o fracasso das empresas nos primeiros cinco anos de vida. São Paulo, 2014. Disponível em: https://bibliotecas.sebrae. com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/333000e30d218194165cd787496e57f9/$File/5712. pdf. Acesso em: 19 jun. 2019. Gabarito 1 O conceito de planejamento estratégico 1. Objetivo é uma determinada situação futura desejada, uma vontade, uma direção a ser seguida. Meta é a quanticação de um objetivo, ou seja, estabelece formas mensuráveis para que se verique se um determinado estado desejado foi atingido. Como exemplo, podemos colocar o seguinte objetivo: “No ano que vem quero estudar mais”. Observemos que o objetivo dene uma vontade, mas não fornece maiores detalhes como em que área se pretende estudar, que curso e qual a sua duração. Ao aplicarmos o conceito de meta nesse mesmo exemplo, teríamos algo como: “Em fevereiro do ano que vem vou me matricular em um curso de pós-graduação em administração de empresas que dure dois anos”. Como podemos notar, com base nas informações fornecidas, será possível vericar se a meta foi alcançada após os vinte e quatro meses de curso. 2. Os três níveis de planejamento são: o planejamento estratégico elaborado pela alta administração e que abrange a organização como um todo. Não possui grande detalhamento e tem horizonte temporal de longo prazo; o planejamentotático desenvolvido com base no planejamento estratégico e que detalha os objetivos corporativos estabelecendo metas anuais no nível dos departamentos ou áreas funcionais da empresa; o planejamento operacional que é aquele que ocorre nas atividades do dia a dia da empresa e segue um nível de detalhamento maior. 3. De modo geral, pode-se dizer que as escolas prescritivas apresentam um roteiro formal para serem formuladas e impõem certos parâmetros ou procedimentos de certa forma rígidos em sua elaboração e aplicação. Já as escolas classicadas como descritivas entendem que a estratégia é construída de forma mais orgânica, ou seja, levando-se em conta a cultura da empresa e baseando muitas de suas decisões em percepções por vezes subjetivas e intuitivas do ambiente competitivo. 2 Elaborando a estratégia 1. Denir o negócio de uma empresa signica fazer escolhas e tomar as seguintes posições: identicar as oportunidades que o mercado oferece; perceber quais os benefícios esperados pelos clientes; denir quais produtos e serviços vão satisfazer os desejos e as necessidades dos clientes; decidir de que forma esses produtos e serviços serão fornecidos; estabelecer maneiras ecientes de unir todos os esforços da organização de modo a atingir seus objetivos e metas. 134 Planejamento Estratégico 2. Miopia de marketing é uma expressão atribuída a uma forma limitante de enxergar um determinado negócio. Essa visão estreita pode ocasionar perda de oportunidades e de vantagem competitiva. Podemos tomar como exemplo um restaurante cujo dono, de forma estreita, entenda que o foco de seu negócio seja fornecer refeições. Se, em vez de adotar essa visão restritiva, esse dono descrever seu negócio como capaz de “fornecer momentos de lazer e aproximar as pessoas”, ele poderá descobrir oportunidades de atrair famílias, grupos de amigos, realizar eventos e confraternizações. 3. Antes de iniciar a construção de sua estratégia e selecionar as ferramentas mais adequadas para sua execução, é fundamental que uma organização dena sua missão e sua visão. A missão indica a razão de ser da empresa, que valor ela fornece aos clientes e de que forma isso ocorre. Por sua vez, a visão representa o objetivo de longo prazo, aquilo que a organização espera atingir e como ela será percebida pelo mercado. Ao deixar claros os seus valores, a empresa comunica seus princípios e aquilo que julga importante em termos de comportamentos e atitudes. 3 O ambiente competitivo 1. Segundo Porter (2004), uma empresa está submetida a cinco forças dentro de seu ambiente competitivo: 1) a rivalidade entre os diversos competidores; 2) o poder de negociação de seus fornecedores; 3) o poder de negociação de seus compradores (clientes); 4) a ameaça de novos entrantes (empresas que podem querer participar da indústria); 5) ameaça de produtos substitutos (produtos ou serviços que podem suprir as exigências dos clientes de forma mais eciente, mais barata ou ambas). 2. Para Chiavenato e Sapiro (2009), uma maneira de adiar a fase de declínio de um produto é pelo incremento de algumas características pontuais que possam agradar o cliente, como oferecer uma versão “plus” com design mais moderno ou algum novo atributo. Em geral são pequenas remodelagens que não chegam a alterar o conceito do produto. Mesmo assim, a empresa deve avaliar se o investimento vale a pena em termos de imagem e retorno nanceiro. 3. As estratégias genéricas propostas por Porter (2004) são: liderança em custo, em que se buscam obter ganhos de escala por meio de grande participação de mercado e otimização de processos de forma a reduzir os custos de todas as atividades envolvidas. A vantagem competitiva é obtida ao se conseguir lucros satisfatórios oferecendo aos clientes preços menores do que os concorrentes. Diferenciação: estratégia que busca oferecer produtos que sejam percebidos como únicos pelos consumidores e, dessa forma, tirar o foco principal do fator preço. Enfoque: atender a um segmento de mercado bastante especíco com demandas particulares de forma mais eciente do que os concorrentes. Gabarito 135 4 Análise SWOT 1. Como fatores internos, temos os pontos fortes e os pontos fracos de uma organização. Esses são denidos como fatores internos, pois são pouco ou nada dependentes das condições externas à empresa, ou seja, aprimorar os pontos fortes e corrigir os pontos fracos está nas mãos da empresa. Já os fatores externos são as oportunidades e as ameaças que se apresentam e são denominados assim devido ao fato de que ocorrem independentemente da vontade da empresa, cabendo a ela se adequar e aproveitar as oportunidades e se defender das ameaças. 2. Só podemos garantir que uma determinada característica de nossa empresa seja um ponto forte se ela puder ser vista como uma vantagem competitiva, ou seja, algo que nos coloca em posição superior aos nossos competidores e que seja valorizado pelo mercado. Da mesma forma, devemos estabelecer nossos pontos fracos como aquelas características que são valorizadas pelos consumidores e que nossos competidores possuem, ao passo que nossa organização ainda é deciente nesses quesitos. 3. Como ameaças a um negócio ou a uma empresa, podemos citar: baixo crescimento da economia, pouca oferta de mão de obra qualificada em um determinado local e a queda de uma tarifa de importação, que inviabilizava a vinda de um produto estrangeiro ao nosso mercado local. Como exemplos de oportunidades, podemos mencionar a retirada de um competidor importante do mercado, a descoberta de um insumo mais barato que pode substituir alguma matéria-prima mais cara que usamos atualmente em nossa produção e a queda de barreiras tarifárias em um país vizinho e que permita exportar de forma competitiva. 5 Execução da estratégia 1. Entre as diversas falhas ou obstáculos à execução adequada das estratégias corporativas, podemos citar a falta de metas claras (que impede saber se a empresa está no rumo correto para atingir sua visão de longo prazo), a ausência de metodologia adequada para colocar em prática os planos de ação (que acaba dicultando o atingimento das metas) e a falta de feedback estratégico (ausência de acompanhamento periódico para que os departamentos, equipes e indivíduos saibam se estão no caminho correto para atingir as metas e se algum tipo de correção precisa ser feito). 2. A importância das pessoas no processo estratégico de uma empresa se deve ao fato de que são elas que elaboram e executam as estratégias. Não é possível imaginar que o planejamento estratégico de uma organização possa ser bem-sucedido sem que pessoas capacitadas e motivadas estejam à frente de sua implementação. Entre os principais fatores que uma organização precisa considerar quanto à gestão de seu pessoal, podemos citar a comunicação correta e efetiva (para que todos percebam o sentido e o impacto de suas ações dentro do processo de execução da estratégia), as competências necessárias (que se referem ao fato de que as pessoas responsáveis pela elaboração e execução da estratégia precisam 136 Planejamento Estratégico possuir o conhecimento e as habilidades essenciais ao desempenho de suas atividades) e a motivação (que se refere ao engajamento e às atitudes do indivíduo perante os desaos que são colocados no dia a dia). 3. O balanced scorecard é uma ferramenta que foi desenvolvida com o objetivo de facilitar a execução da estratégia. É uma metodologia prática que busca transportar a estratégia de uma empresa a todos os processos organizacionais de modo que todas as ações auxiliem no atingimento das metas estabelecidas para, assim, alcançar a visão de longo prazo da empresa. O BSC estabelece quatro perspectivas (nanceira, de clientes, de processos internos e de aprendizado e crescimento) que, por meio de relações de causa e efeito, buscam executar as estratégias da forma desejada. 6 O balanced scorecard (BSC) 1. Os professores Kaplan e Norton, criadores do BSC no início dadécada de 1990, perceberam que a grande maioria das empresas utilizava apenas indicadores nanceiros para orientar suas decisões estratégicas. Apesar de importantes, os indicadores nanceiros são números que se referem ao passado e não mostram, isoladamente, o que foi feito para atingir os resultados. Foram criadas, então, mais três perspectivas: de clientes, de processos internos e de aprendizado e crescimento com a nalidade de fornecer outros indicadores e entender como o sucesso nanceiro de uma empresa é construído e de que forma a estratégia pode ser colocada em prática por toda a organização. 2. Um tema estratégico é uma área de excelência escolhida pela direção da empresa para atingir sua visão de longo prazo. Os temas escolhidos servem para inspirar e guiar as ações da organização. 3. Um KPI ou indicador-chave de desempenho é uma métrica associada a determinada meta estratégica de uma organização. A função dos KPIs é indicar o status relativo ao cumprimento das metas derivadas dos objetivos estratégicos. 7 Estratégia avançada 1. O método PDCA, baseado no sistema Toyota de produção, estabelece quatro atividades essenciais para a implementação e a manutenção da estratégia por todas as partes componentes de uma empresa. Essas atividades correspondem às letras que dão nome ao método: plan (planejar), do (agir), check (checar) e act (agir). É por meio da aplicação desse método de melhoria contínua que podemos aprimorar os processos e implementar a estratégia na gestão da empresa. 2. A estratégia do oceano azul estabelece alguns princípios para que as empresas saiam dos oceanos vermelhos de competição acirrada e se estabeleçam em ambientes mais favoráveis. Entre as características que diferenciam um oceano azul de um oceano vermelho, podemos Gabarito 137 citar: a criação de espaços de mercado inexplorados; a criação de novas demandas; tornar a concorrência irrelevante e buscar a diferenciação e o baixo custo simultaneamente (inovação de valor). 3. Um programa de compliance ou de integridade consiste em um conjunto de normas e procedimentos que permita assegurar que as atividades de uma organização ocorram em observância às leis, normas e melhores práticas de governança corporativa. O compliance estabelece regras que devem fazer parte do dia a dia da organização e às quais todos estão sujeitos, devendo ser comunicada de forma efetiva e constante. 8 Novos negócios e empreendedorismo 1. O empreendedorismo por vocação é caracterizado por uma vontade visionária do empreendedor em criar um novo negócio. De modo geral, nessa modalidade de empreendedorismo, há uma preparação formal e baseada no uso de ferramentas adequadas. No caso do empreendedorismo por necessidade, o que se costuma observar é a busca por fontes alternativas de renda em virtude de perda de emprego ou outras situações similares. Nessa modalidade, é comum a falta de uma preparação adequada por parte do empreendedor, o que diminui suas chances de sucesso. 2. Um plano de negócios é uma ferramenta que permite descrever a forma como uma ideia será estruturada a m de viabilizar a criação de uma empresa ou negócio. Serve para convencer os interessados, o empreendedor ou investidores, de que vale a pena seguir com o projeto. 3. Uma startup é uma empresa criada para gerar produtos e serviços inovadores em um ambiente de extrema incerteza.