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Medicina da Família e Comunidade Malu Lima – T24 Medicina Baseada em Evidências ASPECTOS-CHAVE MBE = melhor evidência atual + experiência clínica + valores das pessoas. Intuição, experiência clínica não sistemática e explicação fisiopatológica são bases insuficientes para a tomada de decisão MBE identifica que a evidência a partir da pesquisa não é o único fator determinante na tomada de decisão clínica. As evidências não devem ser consideradas de igual importância para uma tomada de decisão. Hierarquia de evidência utilizada em MBE evidência proporcionada por uma observação não sistemática de um médico, não deve ser considerada com a mesma robustez que uma evidência proporcionada por um ensaio clínico randomizado (ECR) e sistematizado. DEFINIÇÃO DE MBE É o uso consciente, explícito e judicioso das melhores evidências. É uma estratégia médica e, tem como meta, a busca da melhor conduta, assim como a avaliação do atendimento à pessoa. Devido ao grande volume de informações e variabilidade na qualidade, há necessidade da elaboração de sínteses que facilitem o acesso e possibilitem conclusões baseadas em diversas fontes de evidência. Nesse contexto, fontes primárias e secundárias de evidência são utilizadas. Revisões sistemáticas, fontes secundárias de evidência, têm um papel de destaque no desenvolvimento de diretrizes clínicas. MBE tem por objetivo a tomada de decisões médicas pela identificação criteriosa da avaliação e da aplicação das informações mais relevantes de uma forma sistemática. POR QUE O MÉDICO PRECISA DA MBE? O atendimento em APS caracteriza-se por enfatizar diagnósticos precoces, escolher estratégias efetivas para tomar decisões clínicas, trabalhar na prevenção do problema de saúde e, quando necessário, curá-lo. Valorizam-se os estudos que abordem desfechos como morte, morbidade e qualidade OBJETIVOS: reconhecimento do papel da evidência na tomada de decisão clínica efetiva. E, descrição de uma abordagem sistemática no processo de solução do problema clínico. PRINCÍPIOS: não existe um mesmo nível de evidência – há necessidade de identificar a hierarquia de evidências para a tomada de decisão. E, somente o nível de evidências nunca é suficiente – há necessidade de fazer um contrabalanço entre o risco e o benefício das estratégias alternativas no contexto dos valores e preferências das pessoas. Medicina da Família e Comunidade Malu Lima – T24 de vida. Esses desfechos são chamados de evidências orientadas para assuntos relevantes aos pacientes (POEM). Ao apresentar artigos nos quais o desfecho se caracteriza por níveis bioquímicos e funcionamento de órgãos, convencionou-se identificar como evidência orientada pela doença (DOE). O médico deve focar nas intervenções que propiciem longevidade e qualidade de vida (desfechos POEM). Uma revisão sistemática é um tipo de delineamento que coleta todas as evidências a partir de pesquisas originais, as quais são incluídas de acordo com um critério de elegibilidade e são selecionadas com o mínimo de viés, possibilitando assim achados mais confiáveis e a recomendação de decisões. A IMPORTÂNCIA DA PROBABILIDADE PRÉ-TESTE EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE A estimativa de probabilidade de uma condição é indispensável na descrição da plausibilidade de existir uma determinada doença em uma dada pessoa. A definição pelo médico da probabilidade de uma doença antes da solicitação de um exame diagnóstico (probabilidade pré-teste) auxiliará a fazer uma estimativa final da doença (probabilidade pós-teste). Os estudos de acurácia de teste diagnóstico possibilitam informar sobre a probabilidade pré- teste, que também é chamada de prevalência. O teste, para ser efetivo em detectar ou excluir uma doença específica, é influenciado pela probabilidade pré-teste de uma doença. Um teste em geral não é útil caso a probabilidade pré-teste seja muito baixa ou muito alta. Isso se deve a duas razões: Raramente será útil para modificar o manejo do doente e o risco de haver falso-positivo (quando tiver uma baixa frequência de doença) e falso-negativo (quando tiver uma alta frequência de doença). A probabilidade de que uma doença exista antes de o teste ser realizado é chamada de probabilidade pré-teste e é igual à prevalência da doença em uma população. Probabilidade pré-teste útil (probabilidade intermediária – entre 25 e 75%). Probabilidade pré-teste é pouco útil (probabilidade baixa – menor do que 25% - ou alta – maior que 75%). ETAPAS DA MBE Medicina da Família e Comunidade Malu Lima – T24 1º ETAPA: FORMULAR UMA QUESTÃO QUE POSSA SER RESPONDIDA Esclarecer os assuntos-chave do quadro clínico daquela pessoa e desenvolver uma questão clínica específica. Uma abordagem útil para formatar uma questão clínica envolve uma questão com vários elementos chave – devem-se incluir 4 componentes para cada questão, que são caracterizados como PICO. 2º ETAPA: BUSCAR A MELHOR EVIDÊNCIA CIENTÍFICA O 1º passo para a busca de evidências deve ser identificar os Descritores de Saúde. A Biblioteca Cochrane é uma das melhores e mais completas fontes de evidência disponíveis, pois, além das revisões da própria colaboração Cochrane, oferece o banco de dados DARE de revisões sistemáticas. 3º ETAPA: AVALIAR CRITICAMENTE A EVIDÊNCIA 4º ETAPA: APLICAR A EVIDÊNCIA É comum encontrar evidência indireta para a maioria das questões de pesquisa, uma vez que dificilmente se encontram estudos avaliando especificamente as alternativas de interesse em nossa população-alvo. O processo decisório atual, que leva em conta os princípios básicos da MBE, deve enfocar três aspectos: estudos com validade científica, experiência clínica individual e preferências da pessoa. ENFOQUE DIAGNÓSTICO NA ATENÇÃO PRMIMÁRIA Um teste diagnóstico deve ser capaz de discriminar os doentes dos não doentes, ajudando a confirmar ou refutar o diagnóstico. Quando o teste é positivo em indivíduos doentes, chama-se o teste de verdadeiro- positivo, e quando é negativo em indivíduos sem a doença, chama-se o teste de verdadeiro- negativo. A maioria dos testes está sujeita a erro, de modo que o seu resultado pode ser normal em um indivíduo doente (falso-negativo) e anormal em um indivíduo hígido (falso- positivo). Medicina da Família e Comunidade Malu Lima – T24 Testes diagnósticos não são necessários quando a doença é clinicamente evidente, assim como naquelas situações em que ela é muito pouco provável. SENSIBILIDADE É a proporção de indivíduos que têm teste positivo entre todos os doentes, ou seja, é a capacidade do teste de identificar os indivíduos doentes em uma população. Um teste sensível raramente deixa de diagnosticar a doença, sendo o teste de escolha quando o risco ocasionado por se deixar de diagnosticar a doença é alto. Torna-se mais útil quando seu resultado é negativo, pois fortalece a ideia de que o indivíduo realmente não tem essa doença. ESPECIFICIDADE É a proporção de indivíduos com teste negativo entre os indivíduos não doentes, ou seja, é a capacidade do teste de não classificar equivocadamente indivíduos sadios como doentes. Um teste com alta especificidade raramente classificará de forma errônea as pessoas como portadoras da doença quando elas não o são. VALOR PREDITIVO POSITIVO (VPP) É a probabilidade de o indivíduo ter a doença se o teste for positivo, ou seja, entre indivíduos com teste positivo, quantos realmente têm a doença. Esse é o dado mais relevante para a pessoa, considerando que informa qual é a probabilidade de ela apresentar o diagnóstico quando o resultado do teste foi positivo.VALOR PREDITIVO NEGATIVO (VPN) É a probabilidade de o indivíduo não ter a doença quando o seu teste é negativo, ou seja, entre indivíduos com teste negativo, quantos realmente não têm a doença. o Os valores preditivos (e, portanto, as probabilidades pós-teste) variam bastante com a prevalência da doença (probabilidade pré-teste). Logo, quase sempre será útil determinar um subgrupo de pessoas com menor chance de ter a doença, se se deseja aumentar o VPN do teste, ou com maior chance, quando se deseja melhorar o VPP. Isso tem enorme impacto na prática clínica. RAZÃO DE PROBABILIDADES OU DE VEROSSIMILHANÇA A expressão dos resultados apenas pela sensibilidade e especificidade fornece uma ideia muito restrita (teste positivo ou negativo). A razão de verossimilhança para um teste positivo (RVP) informa sobre a probabilidade de Medicina da Família e Comunidade Malu Lima – T24 o indivíduo ter a doença quando o teste é positivo. A razão de probabilidades para um teste positivo pode ser calculada da seguinte forma: A razão de verossimilhança para um teste negativo (RVN), a qual informa quantas vezes é mais provável o indivíduo ter a doença se o teste for negativo. INTEGRANDO AS INFORMAÇÕES Tendo-se a prevalências (probabilidade pré- teste) e a razão de possibilidades, pode-se estimar facilmente a probabilidade pós-teste da doença utilizando-se um nomograma. Para utilizar um nomograma, traça-se uma reta que parte da probabilidade pré-teste e cruza a razão de probabilidades. Estendendo essa reta até a próxima coluna, tem-se a probabilidade pós-teste. o Devem-se identificar dois tipos de investigação diagnóstica – estratégia em série e em paralelo. A investigação com testes em série (solicitação de um novo teste, ao receber o resultado de um teste anteriormente solicitado) tem como virtude aumentar a especificidade da estratégia, e a estratégia em paralelo (solicitação de vários testes simultaneamente, como ocorre em um serviço de emergência) caracteriza-se por aumentar a sensibilidade. ENFOQUE TERAPÊUTICO NA ATENÇÃO PRMIMÁRIA NNT (Número Necessário para Tratar) informa quantas pessoas necessitam receber o tratamento para possibilitar um bom desfecho (ou evitar um mau desfecho). O NNT, ainda, é uma medida melhor do que a RRR para a tomada de decisões sobre o manejo dos doentes, uma vez que a RRR, que é calculada pela fórmula 1 – risco relativo (RR), não reflete a magnitude do risco atribuível. Em geral, efeitos relatados como RRR parecem maiores do que os mesmos efeitos expressos como RAR. O QUE É NÚMERO NECESSÁRIO PARA O DANO? Medicina da Família e Comunidade Malu Lima – T24 O NND pode ser calculado em estudos nos quais o tratamento experimental aumenta a probabilidade de um desfecho negativo. Da mesma maneira que o NNT corresponde ao inverso da RAR, o NND corresponde ao inverso do aumento absoluto do risco (AAR), que é a diferença absoluta entre a taxa de eventos no grupo tratado menos a taxa de eventos no grupo-controle. As evidências mais sólidas a respeito de tratamentos são obtidas a partir de grandes ensaios clínicos ou de revisões sistemáticas com ou sem metanálise. Desse modo, elas devem ser sempre as primeiras referências a serem buscadas. A IMPORTÂNCIA DAS DIRETRIZES CLÍNICAS NA TOMADA DE DECISÃO As diretrizes clínicas são um conjunto de “[...] afirmações desenvolvidas de forma sistematizada para apoiar as decisões do clínico e da pessoa acerca dos cuidados de saúde mais apropriados em circunstâncias clínicas específicas”. Há evidências de que a utilização de diretrizes clínicas resulta em redução da morbimortalidade e melhora na qualidade de vida; elas podem também melhorar a consistência do cuidado, padronizando as condutas diante de problemas clínicos idênticos, independentes de onde ou por quem sejam tratados. Além de subsidiarem as decisões dos profissionais de saúde, as diretrizes desempenham um papel importante na gestão e na regulação dos sistemas de saúde. O AGREE II é uma ferramenta que avalia o rigor metodológico e a transparência com que uma diretriz clínica é desenvolvida. A IMPORTÂNCIA NO NÍVEL DE EVIDÊNCIA - GRADE O processo de elaboração de definição do nível de evidências adquire uma maior complexidade com a utilização do GRADE. Possui adesão da OMS. COMO O MÉDICO PODE MANTER-SE ATUALIZADO A epidemiologia clínica introduz métodos para estabelecer diagnósticos, estimar prognósticos, reconhecer fatores de risco e decidir sobre a eficácia, a efetividade e a eficiência de intervenções terapêuticas e preventivas. Existem dois tipos de acesso à informação: A. Just in case: a partir da vasta quantidade de informação que passa pela mesa ou chega diariamente à caixa de correio das pessoas (push ou “empurrada”). B. Just in time: de maneira direcionada, procurando informações em resposta a uma questão específica (pull ou “puxada”). O primeiro passo para coletar informações deve ser identificar os fatores em estudo, os desfechos clínicos, o foco do estudo e o tipo de delineamento. Medicina da Família e Comunidade Malu Lima – T24 Em síntese, uma tarefa fundamental de todos os profissionais de saúde é identificar dúvidas ao atender um paciente e identificar as perguntas relevantes utilizando o formato PICO, fazer uma busca da literatura e desenvolver habilidades para avaliar criticamente os artigos relevantes para responder à pergunta identificada no início do processo. O grupo GRADE desenvolveu uma estrutura chamada GRADE de evidência para tomada de decisão (EtD), com o intuito de apoiar o processo a partir da evidência para a tomada de decisão, a fim de avaliar a força da recomendação. A meta da estrutura EtD é auxiliar os médicos e/ou gestores a identificarem a qualidade das evidências em relação a uma pergunta específica e com isso definir a melhor tomada de decisões. Um dos aspectos mais relevantes neste processo é facilitar a adaptação das recomendações ou decisões em um determinado contexto. É fundamental a reflexão na seguinte pergunta: “Como identificar se uma pesquisa é útil clinicamente? ”
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