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COMPREENDENDO O TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA (TPH)

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COMPREENDENDO O TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA
RODA DE CONVERSA
FACULDADE DA REGIÃO SISALEIRA – FARESI
DISCIPLINA: PSICOLOGIA ANALÍTICA
DANIELLA: Olá, boa noite! Vamos iniciar uma roda de conversa sobre o Transtorno da Personalidade Histriônica, tentando, ao máximo, correlacioná-lo com as ideias de Jung que estudamos até o momento. Esse transtorno é caracterizado por um padrão de emocionalidade e busca de atenção em excesso.
VITÓRIA: Exatamente. As pessoas que o apresentam costumam ser muito dramáticas, emotivas, impulsivas, sedutoras e manipuladoras, justamente por essa necessidade de atenção que apresentam. 
YASMIM: É possível observar que essa intensa busca por atenção se dá por um movimento da personalidade regressivo. Estudando o caso da Dee Dee, vimos que ela realizava esse movimento de fazer com que o mundo olhasse para ela. O que a Dee Dee tinha não é o transtorno da personalidade histriônica, mas uma pessoa com TPH também tem essa atitude regressiva. 
DANIELLA: Sim, existe uma necessidade imensa em sua mente de que todos ao seu redor lhe deem atenção para que ela não se sinta insignificante. 
VITÓRIA: Esse padrão de comportamento surge no início da vida adulta, de acordo com o DSM-V. Inclusive, o DSM traz oito critérios para que um diagnóstico de histriônica seja concluído, que são: 
· Indivíduos com o transtorno da personalidade histriônica sentem-se desconfortáveis ou não valorizados quando não estão no centro das atenções (Critério 1); 
· A aparência e o comportamento de indivíduos com esse transtorno são, em geral, sexualmente provocativos ou sedutores de forma inadequada (Critério 2); 
· A expressão emocional pode ser superficial e rapidamente mutável (Critério 3); 
· Os indivíduos com o transtorno usam reiteradamente a aparência física para atrair as atenções para si (Critério 4); 
· Esses indivíduos têm um estilo de discurso excessivamente impressionista e carente de detalhes (Critério 5); 
· Indivíduos com esse transtorno são caracterizados pela autodramatização, pela teatralidade e pela expressão exagerada das emoções (Critério 6); 
· Indivíduos com transtorno da personalidade histriônica são altamente sugestionáveis (Critério 7); 
· Costumam considerar as relações pessoais como mais íntimas do que realmente são, descrevendo quase todos os conhecidos como “meu queridíssimo amigo” (Critério 8). 
YASMIM: O Jung não gostava muito da dimensão da Psiquiatria Clássica, ele compreendia as etiologias das psicopatologias como psicogênicas, o que significa dizer que ele considerava a interferência da afetividade, das relações interpessoais, da história de vida e dos fatores inconscientes, ou seja, ele ia além das concepções organogênicas, características da Psiquiatria Clássica. 
DANIELLA: Exatamente, mas não podemos deixar de trazer os critérios do DSM-V para essa discussão. O critério número um diz, como já falamos anteriormente, que as pessoas com TPH sentem-se desconfortáveis ou desvalorizadas quando não são o centro das atenções, podendo até mesmo inventar histórias para que consigam essa atenção. 
VITÓRIA: Com essas atitudes podemos observar o complexo de inferioridade, já que esses sujeitos necessitam de uma reafirmação externa, o que demonstra que eles não se sentem autossuficientes. Devido a busca por atenção, esses podem ser confundidos com narcisistas, mas, enquanto este deseja ser visto como superior, o histriônico quer ser visto como frágil e dependente para obter essa atenção. 
YASMIM: Já o critério número dois diz que os indivíduos com TPH tendem a ser provocativos ou sedutores de forma inadequada com qualquer pessoa e em qualquer ambiente. É possível observar o mau desenvolvimento da persona nesse caso. A persona é uma parte da nossa personalidade que atende às exigências sociais. Ela faz com que tenhamos consciência de que não podemos, por exemplo, ir com roupas sedutoras para o trabalho.
DANIELLA: É, mas como a persona de alguém com TPH é mal desenvolvida, esse indivíduo acaba não se importando com as exigências sociais e tem esse comportamento de ser sedutor em qualquer ambiente, o que pode ser muito constrangedor para todos que estão ao seu redor, já que a persona é um arquétipo que está presente em todo mundo. 
VITÓRIA: Verdade. Inclusive, nesse mesmo comportamento sedutor de busca por atenção, podemos observar a demonstração do arquétipo da sombra, porque todas as pessoas são seres relacionais, o que faz com que todo mundo sinta uma necessidade de atenção, só que ninguém demonstra essa necessidade excessivamente, pelo contrário, acaba reprimindo e mandando para a sombra. 
YASMIM: Pois é, mas como para as pessoas com TPH funciona da forma “quanto mais atenção, melhor”, elas demonstram a sua sombra livremente. Além disso, nesse mesmo comportamento é possível observar o complexo da sexualidade, uma vez que, essas pessoas sentem a necessidade do constante erotismo em situações inapropriadas, fazendo-se entender que existe essa necessidade sexual para, mais uma vez, atrair a atenção para si. 
DANIELLA: Verdade! Além dos critérios já citados, há o de número quatro, que diz que as pessoas com TPH usam a aparência física para atrair a atenção para si, o que remete mais uma vez ao movimento da personalidade regressivo que foi citado no início dessa roda de conversa. Essa forma de se portar faz lembrar do complexo infantil, visto que, de acordo com Jung, todo adulto espreita uma criança eterna que necessita de cuidado e atenção. 
VITÓRIA: É interessante observar como um critério conversa com o outro dentro da psicologia Junguiana, mesmo que esses tenham sido retirados do DSM-V. Falando nisso, sobram mais dois critérios, e os dois são passíveis de serem correlacionados com o arquétipo do velho sábio. O critério cinco, por exemplo, diz que o discurso de um histriônico é extremamente impressionista. Suas opiniões são fortes, mas carentes de embasamento. 
YASMIM: Nossa, sim, isso é exatamente a representação do arquétipo do velho sábio, porque as pessoas com TPH podem facilmente fazer com que todos ao seu redor acreditem em seu discurso, já que todo mundo apresenta o mesmo arquétipo, no fim das contas. Assim, se elas falam parecendo que sabem muito sobre determinado assunto, acaba aparentando que têm prioridade para tratar dele. 
DANIELLA: Exatamente. E, como todo mundo tem esse arquétipo, é uma via de mão-dupla: pessoas histriônicas podem enganar, mas também podem ser facilmente enganadas, e é isso que diz o critério número sete. De acordo com o DSM-V, essas pessoas são facilmente sugestionáveis, podendo confiar demais em figuras de autoridade, o que faz confirmar a existência do arquétipo que Jung falou há tantos anos. A psicologia Junguiana é atual demais! 
VITÓRIA: Sim, com certeza. Outra coisa que o DSM traz, agora para além dos critérios, como características que apoiam o diagnóstico, é que as pessoas com TPH costumam começar um trabalho ou projeto com muito entusiasmo, mas o seu interesse pode acabar rapidamente. Assim como relacionamentos de longa data podem ser negligenciados para dar espaço à excitação de novos relacionamentos. Isso remete à exacerbação do eros, uma possibilidade do complexo materno. 
YASMIM: Isso faz muito sentido, porque na exacerbação do eros ocorre uma extinção completa do instinto materno, e o que gera é exatamente isso: as pessoas procuram relações novas, mas não têm interesse em manter por conta da falta desse instinto materno. No fim, fica nesse ciclo de iniciar novas relações e terminá-las, só pela excitação de estar em um novo relacionamento. 
DANIELLA: Observando todos esses comportamentos da pessoa histriônica, no processo psicoterapêutico, o profissional deve estar atento durante as entrevistas a vários aspectos do paciente, como sua postura corporal, suas vestimentas, seu porte, suas atitudes, seu olhar, pois isso pode ser de grande ajuda para que o terapeuta possa chegar a um diagnóstico.
VITÓRIA: Sim, geralmente os pacientes histriônicos tomam iniciativa, são enérgicos, sugestivos, e isso pode ser identificado através das primeirasavaliações, desde que o terapeuta esteja atento a tais características. 
YASMIM: Exatamente. Vamos apresentar o caso de Maria, de 33 anos, casada, mãe de dois filhos, que foi retirado do artigo “Transtorno de personalidade histriônica: diagnostico e terapeuta”, de MAIA; PEREIRA; ANJOS & GALDINO, para que vocês compreendam melhor o comportamento de uma pessoa histriônica. 
APRESENTAÇÃO DO CASO
DANIELLA: Maria buscou tratamento terapêutico, pois sua queixa principal era de que tinha problemas psicológicos devido ao afastamento do trabalho, por conta de uma consequência de lesões nos tendões dos dois braços. Durante a segunda sessão, sua queixa mudou, e atribuiu seu desconforto e sofrimento emocional ao casamento, onde o esposo, segundo ela, ingeria bebidas alcóolicas em grande quantidade nos finais de semana, acabando em agressões verbais e acusações de traição por parte dele, chegando a ocorrer agressão física dela ao esposo, inclusive ameaçando-o com uma faca. Afirmava não sentir prazer em manter relações sexuais com o esposo, pois o mesmo cheirava muito mal. As queixas e lamentações de Maria incomodavam todos ao seu redor, inclusive seus filhos que se mostravam insatisfeitos com a situação, as lesões nos tendões dos braços, sua irritabilidade e desânimo, as agressões físicas ao marido, sua fragilidade e choro constante após os conflitos conjugais. Seu humor era oscilante de sessão para sessão, afirmando que não era acolhida ou gratificada em qualquer lugar. 
VITÓRIA: Seu discurso era dramatizado e teatralizado, e, por várias vezes, se mostrava confusa e sem coerência. Quando alguma intervenção na sessão era realizada, ela parecia não escutar e iniciava um outro relato completamente distinto do qual estava narrando até então, tentando assim desviar o foco, dando a perceber que continuamente escondia algo. Ela sempre estava relatando novos problemas e sintomas diferentes quando os antigos eram decifrados. Também demonstrava uma tentativa de manipulação do terapeuta. No decorrer das sessões, Maria trouxe a informação de estar vivenciando uma crise de ausência, pois disse que certo dia chegou à conclusão que queria e precisava ir embora de sua casa. Então dirigiu seu carro pela cidade, estacionou em frente à igreja e saiu andando sem rumo. Em um primeiro momento, disse não se recordar de nada sobre o incidente, já quando questionada uma segunda vez, disse lembrar-se de estacionar o carro, pensando em ir embora para bem longe enquanto caminhava. 
YASMIM: Ela trazia consigo sintomas depressivos, chegava aos atendimentos geralmente com expressão desanimada, porém apresentava-se sempre bem-vestida, com roupas e acessórios chamativos e sempre muito bem maquiada. Afirmava ver bichos, que sabia não ser reais, embora sempre se assustasse ao vê-los. No decorrer dos atendimentos, quando se sentia acolhida pelo psicoterapeuta, dizia que amigos do esposo davam em cima dela, relatando após ter tido dois romances extraconjugais, que não passaram de beijos, o que para ela não era considerado nem crime, nem traição. Posteriormente, já afirmava que nunca conseguiria trair o esposo, mesmo sendo incentivada pelas amigas e pelas acusações do marido. Quando questionada sobre a descrição das crenças distorcidas de injustiça pelo marido quando ela também o traía, ela parou de falar sobre seus casos e fantasias sexuais, e dizendo-se significativamente melhor com a psicoterapia. 
DANIELLA: Para concluir, nesse caso é possível observar comportamentos histriônicos quando o seu humor oscila demais entre sessões, característica correlacionada com o critério 03 do DSM, em seu discurso teatralizado, que diz respeito ao critério 06, e na forma chamativa de se vestir e se portar, que é destacada no critério 04. 
VITÓRIA: Assim, com a nossa apresentação, foi possível observar como identificar uma pessoa histriônica e as suas correlações com a psicologia Junguiana, que eram os nossos objetivos desde o início. Agradecemos a atenção! Boa noite! 
REFERÊNCIAS: 
AMERICAN PSYCHISTRIC ASSOCISTION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, Porto Alegre: ARTMED, 2014.
MAIA, Cláudio Silveira; PEREIRA, Francieli Aparecida; ANJOS, Carin Ávila Dos; GALDINO, Lidiane Cristina Da Silva. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE HISTRIÔNICA: DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA. EVENTOS AJES, 2018. Disponível em: https://eventos.ajes.edu.br/seminario-cientifico-e-cultural-da-ajes/uploads/arquivos/5e628e313a853_TRANSTORNO-DE-PERSONALIDADE-HISTRINICA.pdf. Acesso em: 16 fev. 2023.

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