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1 Semiologia do Sistema Respiratório Definição O sistema respiratório é composto por estruturas que são responsáveis pelo ar inspirado e expirado. O processo respiratório é dividido em duas fases: Inspiratória Fase de captação de oxigênio, fase ativa e de menor duração. Expiratória Fase responsável pela liberação ou expulsão do dióxido de carbono, passiva, produtiva e de maior duração. Função A principal função do sistema respiratório diz respeito a trocas gasosas, chamada de hematose, que consiste na captação de oxigênio. O oxigênio que chega aos alvéolos, estando os alvéolos próximos aos capilares pulmonares, é levado para todas as partes do corpo. A expulsão do carbono ocorre no sentido contrário. O sistema respiratório também é importante no equilíbrio ácido básico. O excesso de carbono quando causado por hipoventilação, promove um quadro de acidose. Já o acúmulo de carbono promovido por hiperventilação leva a quadro de alcalose. Em processos febris, o ar por meio da evaporação chega aos pulmões, onde é aquecido e umedecido, e liberado nas vias respiratórias na tentativa de manter a temperatura (termorregulação). Estruturas Superior: narinas, fossas nasais, nasofaringe, orofaringe e laringe. Inferior: traquéia, brônquios, ductos alveolares e alvéolos. Mediastino (estrutura que divide o pulmão em direito e esquerdo): 2 coração, traquéia, pulmões, esôfago e grandes vasos. Sintomas ● Intolerância ao exercício; ● Ruídos adventícios; ● Descargas nasais; ● Dispneias (D.P.O.C - doença pulmonar obstrutiva crônica - asma); ● Febre. Identificação Espécie A grande maioria dos problemas respiratórios em gatos ocorre por envolvimento do trato respiratório superior (complexo respiratório felino - causado por herpesvírus tipo 1 e cálice vírus). Idade Os processos infecciosos, principalmente os que conduzem a quadros de pneumonias ocorrem mais em animais jovens, enquanto que as tumorações ocorrem mais em geriatras. Asfixia neonatal Algumas raças têm maior propensão a desenvolver partos distócicos, principalmente animais primíparos, que não tem desenvolvimento adequado para finalizar uma gestação e, por isso, são submetidos a cesarianas. É comum em partos gemelares ou trigemelares, prematuros ou aqueles em que a mãe apresenta estreitamento da pelve ou feto muito grande. Isso leva a uma pressão sob o cordão umbilical, levando a comprometimento do fornecimento de oxigênio ao feto. Além disso, existem condições em que esses fetos não possuem surfactante, o que não permite que inflem seus alvéolos e realizem a respiração de forma adequada. Falha na ingestão de colostro A placenta dos bovinos é cotiledonária (existem 4 camadas musculares), o que não permite a transferência de Ac’s para o feto. Por isso, o neonato depende da ingestão 3 de colostro completamente para construir imunidade. Raça O pastor alemão é muito mais acometido por Ehrlichia canis, conduzindo a casos de epistaxe. Em equinos atletas, há maior predisposição a hemiplegia, mais comum na raça puro sangue inglês. Sexo As fêmeas são mais propensas a terem neoplasias pulmonares, principalmente por desenvolvimento de adenocarcinoma mamário (metástase Procedência “onde o animal reside?” Buscar saber se há presença de alérgenos, doenças infecciosas e parasitárias no ambiente. Anamnese Quando começou? De que forma? É preciso saber se o problema é individual ou coletivo. Apresenta corrimento? De que tipo? Qual a coloração? Qual a quantidade? É quando tosse ou quando está descansando, sem acompanhamento da tosse? Onde é criado? Foi medicado? Com o que? (alguns casos de infecciosas não se resolvem apenas com uso de antibióticos em curto período) Foi vermifugado? Intolerância a exercícios?* *diferenciais: insuficiência cardíaca, artrite, desidratação, doenças metabólicas. Exame Físico Diferenciar se a alteração respiratória é de origem primária ou secundária. Primária Relacionadas diretamente ao pulmão. Ex: pneumonia, atelectasia. Secundária Relacionadas indiretamente ao pulmão. Ex: anemia, problemas cardíacos. 4 Observar o tipo respiratório Os felinos apresentam movimentações pouco visíveis por conta dos pelos, não sendo possível muitas vezes determinar o tipo respiratório. Tipos respiratórios Costoabdominal→ normal Tanto tórax como abdome participam das duas fases respiratórias, de forma equilibrada Predominantemente Costal Comum em casos de sobrecarga, obstruções intestinais, ascite, frenite. Predominantemente Abdominal Observada em processos inflamatórios, dolorosos ou traumáticos: pleurites, pericardites, fratura de costela, miosite, reticulopericardite. Amplitude É o grau de dilatação e retração do tórax e do abdome. Se torna alterada (aumento da frequência e menos expansiva) em exercícios, temperatura ambiente, febre e pneumonia. O aumento da expansão torácica é observado nas uremias e quadros comatosos. Características respiratórias Dispneia Inspiratória Geralmente envolve o trato respiratório superior: estenoses das vias aéreas superiores, obstáculo ao recuo do diafragma (extra torácicas). Quando a fase inspiratória está alterada fica mais longa e predominantemente costal. Expiratória Geralmente envolve o trato respiratório inferior: pneumonias, perda da elasticidade de retorno pulmonar, processos dolorosos em cavidade abdominal. Fase expiratória se torna predominantemente abdominal. Em equinos, a fase expiratória é passiva, mas produtiva → expiração mais forte. Mista 5 Ocorre nos casos de enfisema pulmonar. Expiração e inspiração ficam mais longas. Sinais clínicos comuns são as mucosas nasais dilatadas, em equinos, e boca aberta em outros animais. Dispneia de repouso Podem ser causadas por doenças do sistema respiratório (Ex. vias aéreas obstruídas, atelectasia) ou por outras causas, como doenças cardíacas, alterações sanguíneas e acidose. Frequência respiratória A inspeção pode ser realizada por meio da observação dos movimentos do ar com a palma das mãos ou por meio da auscultação da traqueia ou tórax (1 minuto). O aumento chama-se taquipnéia e pode ocorrer durante exercícios, temperatura, febre (cão e gato), pneumonias, cardiopatias graves, obstruções, processos dolorosos e anemias, enquanto que a diminuição chama-se bradipneia e é causada por coma, encefalites, uremia. Animal Neonato Jovem Adulto Equino 25 - 40 25 8 - 16 Caprino 40 - 65 48 20 - 30 Ovino 30 - 70 48 20 - 30 Bovino 30 - 60 36 10 - 30 Cão NE 30 18 - 36 Gatos NE NE 20 - 40 NE= Não especificado. Exame das narinas Primeiramente, deve-se observar se há secreção nasal e se é contínua ou intermitente. Muitas vezes, para isso, se deve abaixar a cabeça do animal a fim de fazer a secreção escorrer. É comum em sinusite e empiema de bolsa gutural. Se não for acompanhada de tosse, se trata de processos envolvendo as vias aéreas superiores, já se for acompanhada diz respeito a estruturas da cavidade torácica. 6 Bovinos têm o hábito de lamber as narinas, o que dificulta a visualização das secreções nasais, por isso deve-se observar bebedouros e comedouros. A secreção também pode ser bilateral (via aérea inferior ou traqueia) ou unilateral (sinusite). A secreção ressecada indica um processo final (crônico). Tipos de secreção Fluida Sem viscosidade, aquosa e transparente. É normal quando observada em bovinos. Serosa Mais densa, mais líquida e menos transparente. Geralmente indicativa de processos alérgicos ou de origem viral. Catarral Viscosa, não transparente e esbranquiçada. É observada no início de processos infecciosos (fase aguda). Purulenta Bastante viscosa e não transparente e é indicativa de necrose. Por ser uma secreção rica em neutrófilos e bactérias, a coloração varia de amarelo a verde. Quanto mais intensa a tonalidade mais severo é o processo. Sanguinolenta Pode provir das vias aéreas superiores,por conta de úlceras, pólipos e tumorações, ou das vias aéreas inferiores, por conta de neoplasias. Hemoptise X Epistaxe A hemoptise é uma secreção sanguinolenta, onde é possível observar sangue oxigenado, deixando um aspecto espumoso. É expelida pela tosse. Ocorre envolvimento de estruturas respiratórias localizadas em tórax. Ex: tuberculose, neoplasias, hemorragias pulmonares e distúrbios de coagulação. A epistaxe é a eliminação de sangue por uma ou ambas as narinas, causada por trato respiratório superior, 7 com tipo de eliminação de sangue mais escuro do observado na hemoptise. Pode ocorrer por micose das bolsas guturais, parasitas (O. ovis) e dicumarínicos. Hemoptise X Hematêmese A hemoptise provém de tosse e tem coloração vermelho-vivo, com aspecto espumoso. Pode haver pus na secreção. Geralmente relacionada a história de doença pulmonar e quadros de dispnéia. A hematêmese provém de vômitos e tem coloração vermelho-escuro, com aspecto não espumoso. Pode haver alimentos na secreção. Geralmente relacionada a histórica de doença gastrointestinal. Exame das Narinas Temperatura, força de expulsão e odor Avaliação do ar expirado Colocar o dorso das mãos na frente das narinas para avaliar a temperatura. O aumento da temperatura é comum em exercícios, ambiente, febre e PI, enquanto que a diminuição da temperatura ocorre em quadros de coma. Se for cão, colocar lâmina ou espelho para avaliar força de expulsão. Durante a avaliação da força de expulsão pode-se observar distribuição desigual de saída de ar, que pode ocorrer devido a obstrução. Para isso, deve-se fechar a narina boa e verificar se o animal apresenta dispneia. Além disso, também se deve avaliar o odor, o ar expirado normal deve ser agradável, ficando desagradável em alterações com ou sem envolvimento de outros sistemas. Exame dos seios paranasais Os seios frontais rostrais, ficam entre as órbitas, e os caudais, ficam atrás das órbitas. Já os seios maxilares ficam na porção ventral acima da arcada dentária, próximos aos ossos lacrimais e zigomáticos e fazem delimitação com forame infraorbitário. Inspeção 8 É necessário observar se existe alteração de simetria, que ocorre na maior parte dos casos por acúmulo excessivo de secreção, geralmente purulenta. A inspeção deve ser feita em busca de deformações, ferimentos, fístulas (a secreção pode ser tão grande que consegue perfurar o osso, pele e sair pela face). Palpação Deve-se observar consistência (animal com sinusite a consistência é dura), mobilidade e sensibilidade. Percussão A abertura da boca facilita para ter uma resposta sonora mais intensa. ● Som claro: normal; ● Som submaciço: conteúdo purulento. A osteodistrofia fibrosa (cara inchada) ocorre quando a alimentação do animal tem desequilíbrio de concentração de fósforo e de cálcio. Acomete ruminantes e equinos que se alimentam de milho. Começa a sair fósforo das fossas nasais que se acumulam em outras partes do corpo. É solucionada com uma alimentação com cálcio. Bolsas guturais São divertículos da tuba auditiva, que se comunicam com a faringe através do orifício gutural faríngeo. Se localizam ventralmente ao atlas e dorsalmente a faringe. Tem função de diminuir a temperatura sanguínea por meio da artéria carótida antes do sangue chegar ao cérebro, porque o centro termorregulador do equinos é pouco desenvolvido. Os elefantes utilizam as bolsas guturais para emitir sons e ruídos, sendo um mecanismo de comunicação. As bolsas guturais aumentam por acúmulo de secreção ou acúmulo de ar. O aumento de volume da bolsa pode ser unilateral ou bilateral. O meteorismo ocorre muito por defeitos congênitos nas bolsas e resultam em aumento de volume, 9 consistência tendendo a mole (devido ao acúmulo de secreção) e sensibilidade. Às vezes devido a grande acúmulo de secreção pode formar fístula (adenite). Exame de laringe Inspeção Externa Pode-se observar edema, abscessos, neoplasias (+ utilizada em pequenos animais). Interna Realizada com o animal com a boca aberta e pode-se observar congestão, secreções, neoplasias e laringite. Palpação Observa-se alteração na forma, sensibilidade dolorosa e tosse. Exame da traqueia Inspeção Geralmente não se consegue observar quase nada, sendo possível identificar apenas cicatrizes e alterações na forma. Palpação Pode-se observar sensibilidade (traqueíte), tumefações, deformidades e malformações (estenoses - cães da raça toy). Exame do tórax Inspeção É possível observar lesões, alteração na forma (enfisema, obstrução do brônquios, animais raquíticos). observado lesões. Nos casos de obstrução do brônquio direito ocorre alteração simétrica contralateral, na qual o lado não afetado aumenta de tamanho para compensar o afetado. Em casos de fratura da costela ocorre aumento do mesmo lado da lesão e em quadros de pneumotórax existe o aumento bilateral. A temperatura patológica pode indicar pleurite, febre ou formação de abscessos intratorácicos. Enquanto que o aumento de sensibilidade pode ser devido a fraturas ou miosites. 10 Percussão Para ser realizada deve ser feita a delimitação do campo pulmonar por meio da utilização das costelas e dos EIC como referência. O lobo pulmonar direito é maior que o esquerdo em ruminantes. Nas outras espécies não há diferença, então são os mesmos espaços intercostais. Isso ocorre devido ao compartimento ruminal que o comprime. Não deve ser feita percussão e auscultação com o animal em decúbito, pois os sons estarão comprometidos. Alterações da localização caudal indicam enfisema, pneumotórax, enquanto que na cranial indicam sobrecarga, timpanismo, hemopatias ou gestação. A percussão deve ser clara, mas pode ser hipersonoro quando há muito acúmulo de ar, em animais magros, em enfisema, em gatos (tórax delgado) e em hérnias diafragmáticas. O som submaciço é observado em pneumonias, abscessos e hidrotórax. A percussão dolorosa indica fratura de costela ou processos inflamatórios. A região cranial do pulmão é caudal a musculatura da escápula e porção dorsal está na crista ilíaca. No equino há 17 espaços intercostais e o pulmão vai até o 16° espaço intercostal (porção caudal), e inicial no 11° espaço intercostal. A porção medial leva em consideração a articulação escápulo umeral, enquanto que a porção ventral leva em consideração o 6° espaço intercostal acima do olécrano. Auscultação Quanto aos ruídos respiratórios na fase inspiratória o ruído é mais intenso que na fase expiratória, sendo que deve-se acompanhar de 3 a 4 movimentos com o animal em repouso e depois com o animal em exercício para observar a alteração. 11 Auscultação deve seguir o padrão dorso ventral e crânio caudal. Ruídos anormais Normais Inspiração e expiração suaves Anormais Ouvidos sem aparelho de auscultação e normalmente são causados pelo comprometimento das vias respiratórias superiores. Tosse Causada por irritação ou inflamação laringotraqueal. Se seca ou forte está relacionada com faringe e laringe (trato respiratório superior) e quando há tosse infrequente deve-se induzi-la. Em ruminantes pode-se induzir tampando as narinas do animal com a mão. Roncos Podem ser por hipertrofia de linfonodos, abscessos, faringites, laringites e hemiplegia. Crepitação grossa Causada principalmente por aumento de líquidos ainda fluídos nos brônquios, como em broncopneumonias e edema. Crepitação fina A obstrução ocorre em bronquíolos e se assemelha a um estourar de bolhas ou esfregar de cabelos, como em enfisemas e bronquites. Sibilos Os ruídos em sibilos são semelhantes a um assobio e ocorre pelo estreitamento por secreção viscosa. Ocorre na expiração e inspiração, mas mais frequente na expiração pois vai ter mais força na musculatura abdominal. ● Início da inspiração: estenose da laringe e traqueia ● Final da inspiração: bronquite Roce pleural É quando existeum processo inflamatório da pleura em uma fase inicial antes do acúmulo de secreção. Exames complementares 12 No hemograma em casos de doenças respiratórias pode haver leucocitose com neutrofilia ou leucopenia em casos virais. A toracocentese deve ser realizada em suspeitas de hidrotórax, pneumotórax e é feita pela drenagem de líquido com a agulha entre costelas. ● Equinos: 7 e 8 EIC ● Cães e gatos: 8 e 9 EIC ● Ruminantes: 5 e 6 EIC O exame de fezes serve para saber se a alteração pulmonar se deve a parasitos. ● Cães e gatos: Oslerus osleri ● Bovinos: D. viviparus ● Equinos: D. arnfield, Parascaris equorum ● Caprinos: Muellerius sp, Dictyocaulus sp. ● Suínos: Metastrongylus sp.
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