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Semiologia do sistema respiratório

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Semiologia do Sistema Respiratório
Definição
O sistema respiratório é
composto por estruturas que são
responsáveis pelo ar inspirado e
expirado. O processo respiratório é
dividido em duas fases:
Inspiratória
Fase de captação de oxigênio,
fase ativa e de menor duração.
Expiratória
Fase responsável pela liberação
ou expulsão do dióxido de carbono,
passiva, produtiva e de maior duração.
Função
A principal função do sistema
respiratório diz respeito a trocas
gasosas, chamada de hematose, que
consiste na captação de oxigênio. O
oxigênio que chega aos alvéolos,
estando os alvéolos próximos aos
capilares pulmonares, é levado para
todas as partes do corpo. A expulsão
do carbono ocorre no sentido
contrário.
O sistema respiratório também
é importante no equilíbrio ácido
básico. O excesso de carbono quando
causado por hipoventilação, promove
um quadro de acidose. Já o acúmulo
de carbono promovido por
hiperventilação leva a quadro de
alcalose.
Em processos febris, o ar por
meio da evaporação chega aos
pulmões, onde é aquecido e
umedecido, e liberado nas vias
respiratórias na tentativa de manter a
temperatura (termorregulação).
Estruturas
Superior: narinas, fossas nasais,
nasofaringe, orofaringe e laringe.
Inferior: traquéia, brônquios, ductos
alveolares e alvéolos.
Mediastino (estrutura que divide o
pulmão em direito e esquerdo):
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coração, traquéia, pulmões, esôfago e
grandes vasos.
Sintomas
● Intolerância ao exercício;
● Ruídos adventícios;
● Descargas nasais;
● Dispneias (D.P.O.C - doença
pulmonar obstrutiva crônica -
asma);
● Febre.
Identificação
Espécie
A grande maioria dos
problemas respiratórios em gatos
ocorre por envolvimento do trato
respiratório superior (complexo
respiratório felino - causado por
herpesvírus tipo 1 e cálice vírus).
Idade
Os processos infecciosos,
principalmente os que conduzem a
quadros de pneumonias ocorrem mais
em animais jovens, enquanto que as
tumorações ocorrem mais em
geriatras.
Asfixia neonatal
Algumas raças têm maior
propensão a desenvolver partos
distócicos, principalmente animais
primíparos, que não tem
desenvolvimento adequado para
finalizar uma gestação e, por isso, são
submetidos a cesarianas. É comum em
partos gemelares ou trigemelares,
prematuros ou aqueles em que a mãe
apresenta estreitamento da pelve ou
feto muito grande. Isso leva a uma
pressão sob o cordão umbilical,
levando a comprometimento do
fornecimento de oxigênio ao feto.
Além disso, existem condições em
que esses fetos não possuem
surfactante, o que não permite que
inflem seus alvéolos e realizem a
respiração de forma adequada.
Falha na ingestão de colostro
A placenta dos bovinos é
cotiledonária (existem 4 camadas
musculares), o que não permite a
transferência de Ac’s para o feto. Por
isso, o neonato depende da ingestão
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de colostro completamente para
construir imunidade.
Raça
O pastor alemão é muito mais
acometido por Ehrlichia canis,
conduzindo a casos de epistaxe. Em
equinos atletas, há maior
predisposição a hemiplegia, mais
comum na raça puro sangue inglês.
Sexo
As fêmeas são mais propensas a
terem neoplasias pulmonares,
principalmente por desenvolvimento
de adenocarcinoma mamário
(metástase
Procedência
“onde o animal reside?”
Buscar saber se há presença de
alérgenos, doenças infecciosas e
parasitárias no ambiente.
Anamnese
Quando começou? De que forma?
É preciso saber se o problema é
individual ou coletivo.
Apresenta corrimento?
De que tipo? Qual a coloração? Qual
a quantidade? É quando tosse ou
quando está descansando, sem
acompanhamento da tosse?
Onde é criado?
Foi medicado?
Com o que? (alguns casos de
infecciosas não se resolvem apenas
com uso de antibióticos em curto
período)
Foi vermifugado?
Intolerância a exercícios?*
*diferenciais: insuficiência cardíaca,
artrite, desidratação, doenças
metabólicas.
Exame Físico
Diferenciar se a alteração
respiratória é de origem primária ou
secundária.
Primária
Relacionadas diretamente ao
pulmão. Ex: pneumonia, atelectasia.
Secundária
Relacionadas indiretamente ao
pulmão. Ex: anemia, problemas
cardíacos.
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Observar o tipo respiratório
Os felinos apresentam
movimentações pouco visíveis por
conta dos pelos, não sendo possível
muitas vezes determinar o tipo
respiratório.
Tipos respiratórios
Costoabdominal→ normal
Tanto tórax como abdome
participam das duas fases
respiratórias, de forma equilibrada
Predominantemente Costal
Comum em casos de
sobrecarga, obstruções intestinais,
ascite, frenite.
Predominantemente Abdominal
Observada em processos
inflamatórios, dolorosos ou
traumáticos: pleurites, pericardites,
fratura de costela, miosite,
reticulopericardite.
Amplitude
É o grau de dilatação e retração
do tórax e do abdome. Se torna
alterada (aumento da frequência e
menos expansiva) em exercícios,
temperatura ambiente, febre e
pneumonia. O aumento da expansão
torácica é observado nas uremias e
quadros comatosos.
Características respiratórias
Dispneia
Inspiratória
Geralmente envolve o trato
respiratório superior: estenoses das
vias aéreas superiores, obstáculo ao
recuo do diafragma (extra torácicas).
Quando a fase inspiratória está
alterada fica mais longa e
predominantemente costal.
Expiratória
Geralmente envolve o trato
respiratório inferior: pneumonias,
perda da elasticidade de retorno
pulmonar, processos dolorosos em
cavidade abdominal. Fase expiratória
se torna predominantemente
abdominal. Em equinos, a fase
expiratória é passiva, mas produtiva
→ expiração mais forte.
Mista
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Ocorre nos casos de enfisema
pulmonar. Expiração e inspiração
ficam mais longas. Sinais clínicos
comuns são as mucosas nasais
dilatadas, em equinos, e boca aberta
em outros animais.
Dispneia de repouso
Podem ser causadas por
doenças do sistema respiratório (Ex.
vias aéreas obstruídas, atelectasia) ou
por outras causas, como doenças
cardíacas, alterações sanguíneas e
acidose.
Frequência respiratória
A inspeção pode ser realizada
por meio da observação dos
movimentos do ar com a palma das
mãos ou por meio da auscultação da
traqueia ou tórax (1 minuto). O
aumento chama-se taquipnéia e pode
ocorrer durante exercícios,
temperatura, febre (cão e gato),
pneumonias, cardiopatias graves,
obstruções, processos dolorosos e
anemias, enquanto que a diminuição
chama-se bradipneia e é causada por
coma, encefalites, uremia.
Animal Neonato Jovem Adulto
Equino 25 - 40 25 8 - 16
Caprino 40 - 65 48 20 - 30
Ovino 30 - 70 48 20 - 30
Bovino 30 - 60 36 10 - 30
Cão NE 30 18 - 36
Gatos NE NE 20 - 40
NE= Não especificado.
Exame das narinas
Primeiramente, deve-se
observar se há secreção nasal e se é
contínua ou intermitente. Muitas
vezes, para isso, se deve abaixar a
cabeça do animal a fim de fazer a
secreção escorrer. É comum em
sinusite e empiema de bolsa gutural.
Se não for acompanhada de
tosse, se trata de processos
envolvendo as vias aéreas superiores,
já se for acompanhada diz respeito a
estruturas da cavidade torácica.
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Bovinos têm o hábito de lamber
as narinas, o que dificulta a
visualização das secreções nasais, por
isso deve-se observar bebedouros e
comedouros.
A secreção também pode ser
bilateral (via aérea inferior ou
traqueia) ou unilateral (sinusite). A
secreção ressecada indica um
processo final (crônico).
Tipos de secreção
Fluida
Sem viscosidade, aquosa e
transparente. É normal quando
observada em bovinos.
Serosa
Mais densa, mais líquida e
menos transparente. Geralmente
indicativa de processos alérgicos ou
de origem viral.
Catarral
Viscosa, não transparente e
esbranquiçada. É observada no início
de processos infecciosos (fase aguda).
Purulenta
Bastante viscosa e não
transparente e é indicativa de necrose.
Por ser uma secreção rica em
neutrófilos e bactérias, a coloração
varia de amarelo a verde. Quanto mais
intensa a tonalidade mais severo é o
processo.
Sanguinolenta
Pode provir das vias aéreas
superiores,por conta de úlceras,
pólipos e tumorações, ou das vias
aéreas inferiores, por conta de
neoplasias.
Hemoptise X Epistaxe
A hemoptise é uma secreção
sanguinolenta, onde é possível
observar sangue oxigenado, deixando
um aspecto espumoso. É expelida pela
tosse. Ocorre envolvimento de
estruturas respiratórias localizadas em
tórax. Ex: tuberculose, neoplasias,
hemorragias pulmonares e distúrbios
de coagulação.
A epistaxe é a eliminação de
sangue por uma ou ambas as narinas,
causada por trato respiratório superior,
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com tipo de eliminação de sangue
mais escuro do observado na
hemoptise. Pode ocorrer por micose
das bolsas guturais, parasitas (O. ovis)
e dicumarínicos.
Hemoptise X Hematêmese
A hemoptise provém de tosse e
tem coloração vermelho-vivo, com
aspecto espumoso. Pode haver pus na
secreção. Geralmente relacionada a
história de doença pulmonar e
quadros de dispnéia.
A hematêmese provém de
vômitos e tem coloração
vermelho-escuro, com aspecto não
espumoso. Pode haver alimentos na
secreção. Geralmente relacionada a
histórica de doença gastrointestinal.
Exame das Narinas
Temperatura, força de expulsão e odor
Avaliação do ar expirado
Colocar o dorso das mãos na
frente das narinas para avaliar a
temperatura. O aumento da
temperatura é comum em exercícios,
ambiente, febre e PI, enquanto que a
diminuição da temperatura ocorre em
quadros de coma.
Se for cão, colocar lâmina ou
espelho para avaliar força de
expulsão. Durante a avaliação da força
de expulsão pode-se observar
distribuição desigual de saída de ar,
que pode ocorrer devido a obstrução.
Para isso, deve-se fechar a narina boa
e verificar se o animal apresenta
dispneia.
Além disso, também se deve
avaliar o odor, o ar expirado normal
deve ser agradável, ficando
desagradável em alterações com ou
sem envolvimento de outros sistemas.
Exame dos seios paranasais
Os seios frontais rostrais, ficam
entre as órbitas, e os caudais, ficam
atrás das órbitas. Já os seios maxilares
ficam na porção ventral acima da
arcada dentária, próximos aos ossos
lacrimais e zigomáticos e fazem
delimitação com forame
infraorbitário.
Inspeção
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É necessário observar se existe
alteração de simetria, que ocorre na
maior parte dos casos por acúmulo
excessivo de secreção, geralmente
purulenta. A inspeção deve ser feita
em busca de deformações, ferimentos,
fístulas (a secreção pode ser tão
grande que consegue perfurar o osso,
pele e sair pela face).
Palpação
Deve-se observar consistência
(animal com sinusite a consistência é
dura), mobilidade e sensibilidade.
Percussão
A abertura da boca facilita para
ter uma resposta sonora mais intensa.
● Som claro: normal;
● Som submaciço: conteúdo
purulento.
A osteodistrofia fibrosa (cara
inchada) ocorre quando a alimentação
do animal tem desequilíbrio de
concentração de fósforo e de cálcio.
Acomete ruminantes e equinos que se
alimentam de milho. Começa a sair
fósforo das fossas nasais que se
acumulam em outras partes do corpo.
É solucionada com uma alimentação
com cálcio.
Bolsas guturais
São divertículos da tuba
auditiva, que se comunicam com a
faringe através do orifício gutural
faríngeo. Se localizam ventralmente
ao atlas e dorsalmente a faringe.
Tem função de diminuir a
temperatura sanguínea por meio da
artéria carótida antes do sangue
chegar ao cérebro, porque o centro
termorregulador do equinos é pouco
desenvolvido.
Os elefantes utilizam as bolsas
guturais para emitir sons e ruídos,
sendo um mecanismo de
comunicação.
As bolsas guturais aumentam
por acúmulo de secreção ou acúmulo
de ar. O aumento de volume da bolsa
pode ser unilateral ou bilateral.
O meteorismo ocorre muito por
defeitos congênitos nas bolsas e
resultam em aumento de volume,
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consistência tendendo a mole (devido
ao acúmulo de secreção) e
sensibilidade. Às vezes devido a
grande acúmulo de secreção pode
formar fístula (adenite).
Exame de laringe
Inspeção
Externa
Pode-se observar edema,
abscessos, neoplasias (+ utilizada em
pequenos animais).
Interna
Realizada com o animal com a
boca aberta e pode-se observar
congestão, secreções, neoplasias e
laringite.
Palpação
Observa-se alteração na forma,
sensibilidade dolorosa e tosse.
Exame da traqueia
Inspeção
Geralmente não se consegue
observar quase nada, sendo possível
identificar apenas cicatrizes e
alterações na forma.
Palpação
Pode-se observar sensibilidade
(traqueíte), tumefações, deformidades
e malformações (estenoses - cães da
raça toy).
Exame do tórax
Inspeção
É possível observar lesões,
alteração na forma (enfisema,
obstrução do brônquios, animais
raquíticos). observado lesões.
Nos casos de obstrução do
brônquio direito ocorre alteração
simétrica contralateral, na qual o lado
não afetado aumenta de tamanho para
compensar o afetado.
Em casos de fratura da costela
ocorre aumento do mesmo lado da
lesão e em quadros de pneumotórax
existe o aumento bilateral.
A temperatura patológica pode
indicar pleurite, febre ou formação de
abscessos intratorácicos. Enquanto
que o aumento de sensibilidade pode
ser devido a fraturas ou miosites.
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Percussão
Para ser realizada deve ser feita
a delimitação do campo pulmonar por
meio da utilização das costelas e dos
EIC como referência.
O lobo pulmonar direito é
maior que o esquerdo em ruminantes.
Nas outras espécies não há diferença,
então são os mesmos espaços
intercostais. Isso ocorre devido ao
compartimento ruminal que o
comprime.
Não deve ser feita percussão e
auscultação com o animal em
decúbito, pois os sons estarão
comprometidos.
Alterações da localização
caudal indicam enfisema,
pneumotórax, enquanto que na cranial
indicam sobrecarga, timpanismo,
hemopatias ou gestação.
A percussão deve ser clara, mas
pode ser hipersonoro quando há muito
acúmulo de ar, em animais magros,
em enfisema, em gatos (tórax
delgado) e em hérnias diafragmáticas.
O som submaciço é observado em
pneumonias, abscessos e hidrotórax.
A percussão dolorosa indica
fratura de costela ou processos
inflamatórios.
A região cranial do pulmão é
caudal a musculatura da escápula e
porção dorsal está na crista ilíaca.
No equino há 17 espaços
intercostais e o pulmão vai até o 16°
espaço intercostal (porção caudal), e
inicial no 11° espaço intercostal.
A porção medial leva em
consideração a articulação escápulo
umeral, enquanto que a porção ventral
leva em consideração o 6° espaço
intercostal acima do olécrano.
Auscultação
Quanto aos ruídos respiratórios
na fase inspiratória o ruído é mais
intenso que na fase expiratória, sendo
que deve-se acompanhar de 3 a 4
movimentos com o animal em
repouso e depois com o animal em
exercício para observar a alteração.
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Auscultação deve seguir o
padrão dorso ventral e crânio caudal.
Ruídos anormais
Normais
Inspiração e expiração suaves
Anormais
Ouvidos sem aparelho de
auscultação e normalmente são
causados pelo comprometimento das
vias respiratórias superiores.
Tosse
Causada por irritação ou
inflamação laringotraqueal. Se seca ou
forte está relacionada com faringe e
laringe (trato respiratório superior) e
quando há tosse infrequente deve-se
induzi-la. Em ruminantes pode-se
induzir tampando as narinas do
animal com a mão.
Roncos
Podem ser por hipertrofia de
linfonodos, abscessos, faringites,
laringites e hemiplegia.
Crepitação grossa
Causada principalmente por
aumento de líquidos ainda fluídos nos
brônquios, como em
broncopneumonias e edema.
Crepitação fina
A obstrução ocorre em
bronquíolos e se assemelha a um
estourar de bolhas ou esfregar de
cabelos, como em enfisemas e
bronquites.
Sibilos
Os ruídos em sibilos são
semelhantes a um assobio e ocorre
pelo estreitamento por secreção
viscosa. Ocorre na expiração e
inspiração, mas mais frequente na
expiração pois vai ter mais força na
musculatura abdominal.
● Início da inspiração: estenose
da laringe e traqueia
● Final da inspiração: bronquite
Roce pleural
É quando existeum processo
inflamatório da pleura em uma fase
inicial antes do acúmulo de secreção.
Exames complementares
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No hemograma em casos de
doenças respiratórias pode haver
leucocitose com neutrofilia ou
leucopenia em casos virais.
A toracocentese deve ser
realizada em suspeitas de hidrotórax,
pneumotórax e é feita pela drenagem
de líquido com a agulha entre
costelas.
● Equinos: 7 e 8 EIC
● Cães e gatos: 8 e 9 EIC
● Ruminantes: 5 e 6 EIC
O exame de fezes serve para
saber se a alteração pulmonar se deve
a parasitos.
● Cães e gatos: Oslerus osleri
● Bovinos: D. viviparus
● Equinos: D. arnfield,
Parascaris equorum
● Caprinos: Muellerius sp,
Dictyocaulus sp.
● Suínos: Metastrongylus sp.

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