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NEOPLASIAS DA INFÂNCIA O câncer infantojuvenil possui uma classificação própria, utilizada mundialmente. A Cici divide-se em 12 grupos com seus respectivos subgrupos: I) leucemias, doenças mieloproliferativas e doenças mielodisplásicas; II) linfomas e neoplasias reticuloendoteliais; III) tumores do SNC e miscelânea de neoplasias intracranianas e intraespinhais; IV) tumores do sistema nervoso simpático; V) retinoblastoma; VI) tumores renais; VII) tumores hepáticos; VIII) tumores ósseos malignos; IX) sarcomas de partes moles; X) neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e outras gonadais; XI) carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais; XII) outros tumores malignos não especificados. O tipo mais comum é a LEUCEMIA!! Crianças < 1 ano: No mundo, para essa faixa etária, o tumor mais frequente é o neuroblastoma, seguido das leucemias agudas, dos tumores de SNC e do retinoblastoma. LINFOMAS LINFOMA NÃO HODGKIN DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA · São alterações monoclonais com origem ao sistema imunológico → transformação de células linfoides progenitoras em diferentes momentos da maturação · 3% de todos os casos de crianças de 0 a 5 anos e 9% dos casos de 15 a 19 anos EPIDEMIOLOGIA · Fatores ambientais · Agentes infecciosos (H. pylori, HTLV-1, EBV, HHV-8, HCV · Imunossupressão CLASSIFICAÇÃO (OMS) · Linfomas de células B (Burkitt e difuso de grandes células) · Células linfoides monomórficas, de aspecto de “céu estrelado”. · Imunoglobulinas de superfície (IgM k ou l, de cadeias leves) e envolvem translocações específicas envolvendo o oncogene C-MYC · 80% dos casos, é a translocação t(8;14)(q24;q32). · Difuso de grandes células são oriundos de células B · Linfomas linfoblásticos T e pré-B · 80% são T e o resto pré-B · T: anormalidades citogenéticas que ativam fatores de transcrição, decorrentes de translocações específicas nos genes receptores de células · Linfomas de grandes células anaplásicos · Oriundos de células T ou nulas, são, na grande maioria das vezes, CD30+ e expressam a enzima anaplasicolinfomacinase (ALK) QUADRO CLÍNICO Varia de acordo com o tipo histológico e o local → lembrar: se originam dos tecidos linfoides periféricos (baço e linfonodos, p. ex) · Massas tumorais → linfoadenomegalias · > 2 semanas de evolução · > 2 - 3cm · Consistência dura ou pétrea · Aderido a planos profundos · Localização subclávia ou epitroclear · Sintomas constitucionais/sintomas B: perda ponderal de 10% nos últimos 6 meses, febre vespertina e sudorese noturna · L. de Burkitt: “dor de dente”, envolvimento orbital, paraplegia, massas abdominais, aumento do volume abdominal. · L. difuso de grandes células: comprometimento de linfonodos de múltiplas cadeias · L. de células T: massa mediastinal e/ou adenopatia cervical/supraclavicular; medula óssea infiltrada (< 25% de blastos) · L. anaplásicos de grandes células: envolvimento extranodal (60%), pele, osso e partes moles; febre prolongada, perda de peso e prurido DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO · Hemograma · VHS, desidrogenase lática (DHL) para ver prognóstico, ácido úrico, ureia e creatinina, TGO, TGP e gama-gt, eletrólitos (Na, K, Ca, P e Mg) · Mielograma de 3 pontos diferentes · Imunofenotipagem · Coleta de LCR · Biópsia excisional do linfonodo · PAAF em alguns casos Avaliação por imagem: · Raio-x de tórax: massa de mediastino, metástase e processos infecciosos · USG de abdome: fígado, baço, rins · USG de tórax: derrame pleural · Ecocardiograma: infiltração e derrame pericárdico · USG de testículo: aumento de testiculo · TC de tórax e abdome, RM de crânio e RM de coluna DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL · Linfadenopatias febris de origem infecciosa (toxoplasmose, mononucleose, citomegalovírus, tuberculose, doença da arranhadura de gato e outros). · Neoplasias: rabdomiossarcoma, neuroblastoma, linfo-histiocitose maligna Fatores de risco para diagnóstico de neoplasias: · Linfadenopatia, com aumento de linfonodos com crescimento progressivo e que, na suspeita de uma infecção, não involuíram como o esperado · Febre por mais de 7 dias sem outro diagnóstico patente · Associação com hepato e/ou esplenomegalia · Perda de peso acentuada (> 10%) nos últimos 2 meses · Sudorese profusa e/ou prurido nos pacientes mais velhos – adolescentes ESTADIAMENTO · Estádio I: linfonodo ou massa tumoral completamente ressecado (raro) · Estádio II: tumor primário ressecado sem margens. Ausência de comprometimento em qualquer outra localização · Estádio III: tumores irressecáveis, todos os primários de mediastino e a grande maioria dos tumores abdominais, excetuando os invaginados ressecados e os raros primários de ovário totalmente ressecados. Todos os linfomas que tiverem comprometimento supra e infradiafragmático · Estádio IV: metástases hematogênicas (a distância), medula óssea e/ou SNC comprometidos. TRATAMENTO Sempre quimioterápico!! Intensidade do tratamento (doses e tempo) depende do subtipo histológico e do estadiamento DOENÇA/LINFOMA DE HODGKIN (LH) DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA · Se espalha de forma ordenada de um grupo de linfonodos para outro grupo → DISSEMINAÇÃO CONTÍGUA · Nem todas as células são malignas · Acomete principalmente adultos jovens (pico entre 15 e 34 anos e um segundo pico > 50/60 anos). · Imunossupressão HISTOPATOLOGIA Células de Reed-Sternberg (aparência de olhos de coruja) → compõem < 1% da massa tumoral → expressão CD30 e CD15 → são cercadas por infiltrado inflamatório reacional e núcleo bilobulado · OBS: NÃO É PATOGNOMÔNICO DE LH TIPOS: · Predomínio linfocitário (PL) · Celularidade mista (CM) · Depleção linfocitária → por HIV positivo · Esclerose nodular (+ comum) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS · Predominantemente linfonodal periférica · Cervical e supraclavicular · Linfonodos endurecidos, coalescente e aderidos a planos profundos, avermelhados e sensíveis a palpação · Comprometimento mediastinal exclusivo é raro, mas ⅔ aparece concomitante · Sinais e sintomas: além de linfonodomegalia, pode haver febre diária > 38ºC, anorexia, fadiga, prurido e perda de peso lenta e progressiva · Achado clássico: dor nodal após ingesta hídrica EXAMES E ACHADOS · Exame físico completo esp. linfonodos · Hemograma, VHS, função renal e hepática, fosfatase alcalina · Biópsia excisional de linfonodo com análise histopatológica!! · Raio-x de tórax · TC de pescoço e de tórax · TC ou RM de abdome e de pelve · ESTADIAMENTO: · Biópsia de medula óssea exceto para estádios IA/IIA · PET-SCAN OU PET-CT · Mapeamento ósseo · Hemograma: anemia - anemia hemolítica Coombs positivo; reticulose e hiperplasia normoblástica da medula óssea · Manifestações autoimunes · Síndrome nefrótica · VHS, cobre sérico e ferritina aumentados DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Doenças infectocontagiosas que cursam com linfadenopatias e febre, como tuberculose, mononucleose, toxoplasmose, citomegalovirose e doença da arranhadura do gato. ESTADIAMENTO CLASSIFICAÇÃO DE ANN ARBOR Estádio I: envolvimento de uma única cadeia de linfonodo (I) ou de um único local ou órgão extralinfático (IE) Estádio II: duas ou mais regiões linfonodais (II) ou órgãos do mesmo lado do diafragma (IIE) Estádio III: envolvimento acima e abaixo do diafragma (III). Se for extralinfático, IIIE; se ambos (IIIES) Estádio IV: comprometimento difuso ou sistêmico de um ou mais órgãos extralinfáticos ou tecidos com ou sem envolvimento de linfonodos OBS: a presença de febre, sudorese noturna e/ou perda de peso maior que 10% nos últimos 6 meses em qualquer estádio recebe o sufixo B. A ausência de qualquer desses sintomas recebe o sufixo A. Os sintomas B, grandes massas de mediastino, extensão extranodal da doença e estádios IIIB e IV são também fatores prognósticos relevantes. TRATAMENTO Quimioterapia sistêmica, às vezes associada com radioterapia Estádios iniciais: menos ciclos de quimioterapia associados a doses mais baixas e campos menores de radioterapia (3 ciclos de ABVD + radioterapia de campo envolvido) Estádio III: esquema “sanduíche” → quimioterapia (3 ciclos de ABVD) intercalada com radioterapia nos camposenvolvidos ao diagnóstico, seguidos de mais 3 ciclos de ABVD. Estádio IV: há divergências na literatura: · Alguns autores preconizam quimioterapia mais intensiva, com número maior de ciclos e a adição de novas drogas sem radioterapia, reservando-a para as situações de recidiva. · Outros preconizam a radioterapia no primeiro tratamento nos locais de envolvimento inicial com campos ma is estendidos Esquemas quimioterápicos: OPPA – vincristina, procarbazina, prednisona e doxorrubicina – intercalados com ABVD – doxorrubicina, bleomicina, vimblastina e dacarbazina EFEITOS ADVERSOS DO TRATAMENTO IDENTIFICAÇÃO DE CA INFANTIL A obtenção de uma história detalhada é o primeiro passo na avaliação da criança com suspeita de câncer. A ênfase deve ser colocada na queixa principal. Os primeiros sinais de alerta de câncer infantil incluem: · Palidez inexplicável e perda de energia · Nódulo, massa ou inchaço incomum · Perda de peso repentina e inexplicável · Febre inexplicável ou doença que não desaparece · Fácil hematomas ou sangramento · Dor prolongada ou contínua em uma ou mais áreas do corpo · Marcha “manca” · Dores de cabeça frequentes, principalmente se ocorrerem pela manhã e associadas a vômitos · Mudanças repentinas nos olhos ou na visão Sintomas constitucionais: FEBRE: A suspeita de causas não infecciosas deve ser levantada quando a doença febril não segue o curso normal ou não responde à terapia aparentemente apropriada. No entanto, mesmo quando a febre é prolongada, a infecção continua a ser a causa mais comum. · Na ausência de infecção, a febre não resolvida ou recorrente pode refletir uma neoplasia oculta, como linfoma; raramente, pode ser secundária à necrose relacionada ao tumor, como neuroblastoma ou tumor de Wilms. · A febre persistente também pode ser a única queixa em crianças com leucemia, sarcoma de Ewing e histiocitose de células de Langerhans. · Mais da metade das crianças com leucemia tem febre no momento da apresentação · O diferencial de glóbulos brancos e o exame do esfregaço de sangue periférico podem ajudar a distinguir a causa subjacente da febre. PERDA DE PESO: A maioria das crianças que apresenta perda de peso isolada tem etiologias não malignas (por exemplo, desidratação, infecção, desnutrição). · No entanto, pacientes com perda de peso contínua e não intencional no contexto de anemia, palidez, hematomas, dores no corpo, linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, febres inexplicáveis ou fadiga podem ter uma malignidade subjacente. FADIGA E PALIDEZ: A palidez é mais frequentemente devido à anemia, mas também pode ocorrer em condições não hematológicas, como infecção crônica, distúrbios reumatológicos, insuficiência cardíaca, arritmia ou distúrbios metabólicos. · Fadiga e palidez são mais comumente devidas a causas não malignas; no entanto, a preocupação com malignidade pode ser levantada se houver outros achados preocupantes (petéquias, hematomas, linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, dor óssea). · Os exames laboratoriais iniciais em crianças com palidez geralmente incluem um hemograma completo com contagem diferencial e de reticulócitos. Isso pode ajudar a identificar se há outros achados hematológicos preocupantes (por exemplo, outras linhagens celulares afetadas, blastos periféricos), o que deve levar à consideração de encaminhamento e exame da medula óssea. OUTROS: dor de cabeça contínua, que evolui com aumento da dor; linfadenomegalia, esplenomegalia, hepatomegalia, dor óssea e articular, massas abdominais, hemorragias. O QUE FAZER? Exame físico completo + anamnese detalhada Exames iniciais: hemograma completo, esfregaço sanguíneo, raio-x, USG de abdome, função hepática, função renal, eletrólitos. Específicos, como: mielograma e TC após os iniciais.