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Projeto de Fábrica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Antônio Carlos F. Bragança Pinheiro Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco Planejamento industrial • Introdução • Objetivos do Projeto de Fábrica • Objetivos de Desempenho da Produção • Estratégias Competitivas • Customização em Massa • Estratégia de Operações • Produtividade em Fábricas · Conceituar e apresentar o campo de trabalho do projeto de fábrica. · Apresentar a importância da produção para as organizações, bem como o objetivo da produção. · Apresentar as estratégias competitivas empresariais e de fabricação. · Apresentar as estratégias de operações e tipos de processos de fabricação. · Conceituar e apresentar a avaliação da produtividade em fábricas. OBJETIVO DE APRENDIZADO Iniciaremos nossos estudos conceituando e apresentando o campo de trabalho do projeto de fábrica. A partir de então veremos a importância da produção para as organizações. Em seguida, veremos os objetivos da produção e as estratégias competitivas empresariais e de fabricação. Serão apresentadas as estratégias de operações e tipos de processos de fabricação. Aprenderemos também o conceito e a avaliação da produtividade em fábricas. É interessante que você reveja alguns conceitos de gestão, a fim de facilitar o seu entendimento dessas definições. Para ajudá-lo(a), realize a leitura dos textos indicados, acompanhe e refaça os exemplos resolvidos. Não deixe de assistir, também, à apresentação narrada do conteúdo e de alguns exercícios resolvidos. Finalmente – e o mais importante –, fique atento(a) às atividades avaliativas propostas e aos prazos de realização e envio. Bom estudo! ORIENTAÇÕES Planejamento industrial UNIDADE Planejamento industrial Contextualização É importante compreender as principais variáveis que influem no projeto de fábrica. Saber avaliar a importância da produção para as organizações, bem como o objetivo da produção é fundamental para determinar as estratégias de operações e escolha do tipo de processo de fabricação. A produtividade em fábrica depende de vários fatores. Para cada tipo de estratégia empresarial existem soluções que permitem sua competitividade comercial. Contudo, aliar os aspectos econômicos e a produtividade da fábrica ainda é uma tarefa árdua para o engenheiro de produção. Aspectos do dia a dia de nossa vida pessoal ocorrem também nas atividades profissionais. Exemplo disso é o nosso trabalho diário, no qual realizamos a escolha de elementos simples, como no caso da opção por uma ferramenta, como uma faca para cortar queijos. É possível perceber que para queijos mais duros torna-se necessário utilizar facas mais rígidas, enquanto que para queijos mais moles é possível utilizar facas mais maleáveis. Isso ocorre também nas fábricas, no processo de produção industrial. Em nossa vida pessoal e nas fábricas é necessário prever as atividades que serão realizadas, com o objetivo de atender à produção e garantir altos níveis de produtividade fabril. Assim é realizado o projeto de fábrica, para garantir os níveis de segurança e produtividade necessários para manter a competitividade das empresas dentro dos padrões aceitáveis de qualidade. Exemplificando com fatos do cotidiano, como podemos avaliar as cargas que são aplicadas em uma faca quando cortamos um pedaço de queijo? Qual a produtividade de uma pessoa no corte de um determinado tipo de queijo? Tendo essas informações, é possível determinar a faca de corte adequada à produtividade desejada. Podem surgir questões pontuais, como variações no formato dos cortes, como no caso das tábuas de queijos. Todas essas preocupações são similares quando comparadas às necessidades de uma grande estrutura, como em uma fábrica. O cálculo da produtividade de uma fábrica pode passar por situações mais complexas como, por exemplo, a variação dos esforços em função da ação de temperaturas como as que ocorrem devido a ação da temperatura ambiental. Mas, similarmente ao nosso cotidiano com o corte de uma fatia de queijo, a produtividade industrial precisa estimar as eventualidades inerentes a cada linha de produção. Para cada tipo de estrutura fabril existem questões estabelecidas e eventualidades que devem ser administradas na condução do projeto de fábricas. Nos projetos de fábrica, além da utilização das normas técnicas, a experiência acumulada das pessoas é ponto fundamental para a determinação das linhas de produção e da composição e distribuição dos diversos processos envolvidos. Nos métodos de avaliação da produtividade são realizados tratamentos matemáticos, com o objetivo de prever as solicitações futuras. Assim, com esse exemplo simples de nosso cotidiano, como a escolha de uma faca de corte, lembre-se que no projeto de fábrica podem haver situações muito mais complexas em seu dia a dia. Cabe ao engenheiro identificar as características do processo de fabricação, projetar e construir sistemas de produção capazes de atender às demandas das organizações para que possa atender aos níveis de segurança, qualidade e produtividade previstos. 6 7 Introdução Todas as empresas devem ter preocupação com sua produção. A produção industrial tem como objetivo atender às necessidades de consumo dos mercados onde atuam. Tudo o que uma empresa comercializa corresponde a produtos. Os produtos são subdivididos em bens – produtos que o consumidor tem propriedade – e serviços – produtos que o consumidor não tem propriedade. No caso de bens, esses são subdivididos em tangíveis, que são os bens que possuem matéria – como um veículo –, e intangíveis, que são as ideias – como um projeto, ou uma fórmula. Assim, o estudo do projeto de fábrica tem como objetivo a produção de bens. Objetivos do Projeto de Fábrica O objetivo do projeto de fábrica é atender às demandas do mercado consumidor através da compreensão da importância da produção para o planejamento estratégico das empresas, avaliando as variáveis intervenientes no processo de produção, a escolha dos locais de instalação de fábricas e o estudo de arranjos físicos. Importância da Produção para as Organizações A produção industrial de uma empresa pode ser própria ou realizada por terceiros. Essa definição de escolha de produção própria ou terceirizada depende da estratégia empresarial. A produção deve apoiar, colocar em prática e impulsionar a estratégia empresarial. A produção apoia a estratégia empresarial, por exemplo, no caso de ações no mercado. Supondo que uma empresa que tenha como estratégia de mercado ser a líder em segmento de produtos de alta tecnologia, sua produção deverá ser capaz de ter inovações contínuas. Para isso, deve ter a capacidade de ter processos de produção flexíveis para rapidamente se adaptar à produção de novos produtos, ou de novos processos de produção. Deve ter a flexibilidade de adaptação a novas matérias-primas, novos fornecedores, novas máquinas e capacidade de rápida capacitação da mão de obra. A produção coloca em prática a estratégia empresarial, por exemplo, quando realiza sua atividade produtiva. No caso de uma empresa cujo lema for elaborar produtos de alta qualidade, sua produção deve ser capaz de ter mão de obra altamente qualificada. Para isso, a produção deve investir em contínuo treinamento da mão de obra, preparando-a para utilizar as máquinas e os materiais de forma que o produto final tenha alta qualidade na percepção dos consumidores. 7 UNIDADE Planejamento industrial A produção impulsiona a estratégia empresarial, por exemplo, quando proporciona vantagem competitiva a longo prazo. Nesse caso, a produção precisa apresentar produtos bem feitos, entregas no prazo e custos compatíveis com o mercado. A contribuição da produção pode ser avaliada pelo modelo de quatro estágios de Hayes e Wheelwright (Figura 1). Nesse modelo é feita a avaliação do papel competitivo e os desejos da produção. Estágio 1 – é o nível mais fraco de contribuiçãoda produção para a estratégia empresarial. Nesse caso a produção pouco contribui para o sucesso competitivo. Nesse estágio, geralmente, a produção não atingiu os padrões mínimos da empresa, sendo criticada pelos demais setores da corporação e considerada como o fator dos insucessos dessa instituição no mercado. Assim, nesse nível o objetivo da produção é parar de cometer erros. Estágio 2 – neste nível a produção da empresa é comparada à produção de empresas similares. Ou seja, nesse estágio se faz a comparação entre o desempenho da produção da corporação com os desempenhos da produção de outras instituições. São adotadas as melhores práticas utilizadas pelos concorrentes. Nesse estágio a produção da empresa tem como objetivo estar entre as melhores. Estágio 3 – este nível ocorre quando a produção da empresa está entre as melhores de seu segmento de mercado. Nesse nível a produção procura compreender melhor a produção da concorrência e os objetivos estratégicos da empresa. Além de desenvolver recursos adequados, a produção procura colocar em prática a estratégia empresarial. Nesse estágio o objetivo da produção é ser a melhor entre as concorrentes. Estágio 4 – neste último nível a produção é a base para o futuro sucesso competitivo da empresa. A produção prevê antecipadamente as mudanças de mercado. Para se manter nesse nível, a produção deve ser criativa e inovadora, com alta capacidade de adaptação às exigências de mercado. É nesse estágio que a produção impulsiona a estratégia empresarial de longo prazo. Apoio Externo Apoio Interno Neutralidade Externa Neutralidade Interna Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4 Estágios Parar de Cometer Erros Estar entre as melhores Ser a melhor Desejos da Produção Manter a superioridade através da produção Figura 1 – Modelo de quatro estágios de Hayes e Wheelwright 8 9 Objetivos de Desempenho da Produção As empresas buscam obter vantagens competitivas de mercado baseadas na capacidade de desempenho de suas produções. Os objetivos de produção são: · Qualidade; · Rapidez; · Confiabilidade; · Flexibilidade; · Custo. Objetivo da qualidade – fazer as coisas certas conduz a vantagens em qualidade na estratégia empresarial. Nesse objetivo deseja-se atender às necessidades do consumidor, fornecendo produtos isentos de erros, com a qualidade adequada aos propósitos e desejos dos consumidores. A qualidade reduz os custos e aumenta a confiabilidade da produção. Objetivo da rapidez – fazer as coisas rapidamente conduz a vantagens em rapidez na estratégia empresarial. Nesse objetivo a intenção é reduzir o intervalo de tempo entre o pedido e a entrega do produto acabado. A rapidez reduz estoques e os riscos de perdas de vendas. Objetivo da confiabilidade – fazer as coisas em tempo conduz a vantagens em confiabilidade na estratégia empresarial. Nesse objetivo deseja-se manter o compromisso de entrega dos produtos no prazo contratado. A confiabilidade economiza tempo, dinheiro e fornece estabilidade à empresa. Objetivo da flexibilidade – mudar as coisas rapidamente conduz a vantagens em flexibilidade na estratégia empresarial. Nesse objetivo deve-se estar preparado(a) para rápidas mudanças, como alteração de pedidos quanto ao tipo de produtos, ou quanto à quantidade de produtos. A flexibilidade agiliza a resposta da empresa às mudanças de mercado, maximiza o tempo e mantém a confiabilidade de instituição. Objetivo de custo – fazer as coisas mais baratas conduz a vantagens em custo na estratégia empresarial. Nesse caso a intenção é a de que os produtos tenham preços compatíveis ao mercado. Essa vantagem de custos proporciona retorno financeiro à empresa e vantagens aos consumidores. O estudo dos custos envolve os custos de pessoal, de instalações físicas, de tecnologia, de insumos e de matéria-prima. Os objetivos estão resumidos na Figura 2: Qualidade Rapidez Con�abilidade Flexibilidade Custo Objetivos de Desempenho da Produção Figura 2 – Objetivos de desempenho da produção 9 UNIDADE Planejamento industrial Estratégias Competitivas O planejamento estratégico das empresas fixa diretrizes nas áreas de administração, financeira, marketing e manufatura. Essas diretrizes têm como objetivo proporcionar às empresas vantagens competitivas. Para a produção, as estratégias competitivas, por exemplo, podem ser de: Informatização de processos – aplicar a informática como ferramenta que permita informações precisas, com a agilidade compatível às tomadas de decisões empresariais. Melhoria da qualidade – investir em sistemas de produção e controle da qualidade, que melhorem os produtos organizacionais. Tecnologias inovadoras – aquisição de tecnologias inovadoras, que permitam melhorar a competitividade da produção. Bônus aos empregados – motivação aos empregados, com o objetivo de aumentar a produtividade da empresa. Projeção da demanda futura – utilização de técnicas de previsão de demandas futuras, com o objetivo de antecipar variações na demanda de produtos. Estratégias de Fabricação As estratégias de fabricação são relacionadas à habilidade das empresas com o uso de estoques. As estratégias relacionadas aos estoques podem ser classificadas em: · Produzir para estoque; · Montagem por encomenda; · Fabricar por encomenda. Produzir para estoque Neste grupo os produtos estão estocados para o atendimento imediato das necessidades do consumidor. Essa estratégia de fabricação diminui os prazos de entrega dos produtos. Somente é viável quando os produtos são padronizados com grandes volumes e previsões de demanda precisas. Por exemplo, em uma linha de montagem de caminhonetes é possível que a produção conjunta possa ter itens que permitam uma estratégia de produzir para estoque da indústria (Figura 3). Montagem do Chassis Montagem da Carroceria Caminhonete Diesel Caminhonete Gasolina Motor Diesel Motor Gasolina Figura 3 – Linha de montagem de caminhonetes 10 11 No exemplo da Figura 3, embora o produto final sejam caminhonetes com motores diferentes – diesel e gasolina –, existem etapas que utilizam os mesmos componentes – chassis e carroceria. Nessa linha de produção, o modelo de movimentação para os dois produtos – caminhonete com motor a diesel e caminhonete com motor a gasolina – é direto, apresentando dois processos utilizados nos dois produtos. Essa estratégia de fabricação, também, pode ser utilizada quando existe a fabricação de produtos específicos para determinados clientes e a quantidade for suficientemente grande. As empresas que adotam essa estratégia de produção para estoques, têm sua produção classificada como produção em massa. As empresas que adotam essa estratégia atuam em ambientes de marketing estáveis e previsíveis. Geralmente, essas empresas são burocráticas – possuem excesso de procedimentos – e no processo de fabricação os operários executam tarefas bem definidas e repetitivas. Para as quais, geralmente, as prioridades competitivas são a consistência na qualidade e custos baixos. Montagem por encomenda Neste grupo a estratégia de fabricação é produzir produtos customizados – feitos de acordo com as especificações do comprador –, a partir de poucos conjuntos e componentes, baseados em pedidos específicos de clientes. Nesse caso, as prioridades competitivas dessas empresas são os produtos dedicados e prazos de entrega rápidos. Como nesses casos a previsão da demanda é muito difícil, não é realizado o estoque de produtos acabados. Por exemplo, na demanda de móveis de alto luxo, a empresa fabricante deve ser capaz de atender às escolhas dos clientes, sem executar dois móveis iguais. Para isso, o produto contratado pelo cliente deve ser fabricado a partir de componentes e conjuntos padronizados, tendo no processo produtivo etapas distintas para atender ao produto especificado. Nesse caso, os processos de produção devem ser eficientes para manter baixos os custos, sendo flexível o processo de montagem, a fim de produzir osdiferentes tipos de produtos solicitados pelos clientes (Figura 4). Fabricação Padronizada Demanda do Produto A Demanda do Produto B Montagem do Produto A Produto A Montagem do Produto B Produto B Figura 4 – Linha de montagem de produtos customizados 11 UNIDADE Planejamento industrial Fabricar por encomenda Neste grupo estão os produtos que são fabricados conforme as especificações dos clientes, cuja quantidade é pequena. Nesse caso, utiliza um conjunto de processos que são empregados de maneiras diferentes, conforme as necessidades de cada cliente. Essa estratégia de fabricação apresenta alto grau de customização – no atendimento das especificações dos clientes –, que é a prioridade competitiva de mercado desses fabricantes. Nesse modelo o processo de fabricação precisa ser muito flexível, com a intenção da rápida adaptação à grande variedade de diferentes produtos (Figura 5). Nesse grupo estão, por exemplo, as peças fundidas. Fabricação 1 Fabricação 1 Demanda do Produto A Demanda do Produto B Produto B Produto C Demanda do Produto C Fabricação 1 Demanda do Produto D Montagem do Produto A Produto A Montagem do Produto A Produto D Montagem dos Produtos B e C Figura 5 – Linha de montagem de produtos altamente customizados 12 13 Customização em Massa A estratégia de fabricação quando ocorrerem grandes volumes é denominada customização em massa. Nesse caso os processos de fabricação devem ser flexíveis e os preços, baixos. Geralmente, as empresas que adotam essa estratégia de fabricação atuam em mercados com elevados volumes de demanda dos produtos. Essas empresas procuram diferenciar seus produtos nas etapas finais do processo de fabricação. Tal procedimento permite a utilização de etapas padronizadas para vários produtos antes do momento de customização – diferenciação específica. Um exemplo é a montagem de equipamentos, onde os adaptadores de voltagem são colocados na última etapa do processo produtivo, em função da demanda de customização em massa, proveniente da região onde o produto será entregue (Figura 6). Processo 1 Processo 1 Demanda do Produto A Demanda do Produto B Demanda do Produto C Demanda do Produto D Processo 1 Montagem do Produto A Produto A Montagem do Produto B Produto B Montagem do Produto C Produto C Montagem do Produto D Produto D Figura 6 – Linha de montagem de produtos de customização em massa O processo de produção para a customização em massa, com esta sendo feita nas últimas etapas do processo de fabricação permite a execução de produtos mais baratos. Assim, o processo de fabricação pode ser utilizado para uma grande quantidade de outros produtos. Como exemplo, tem-se uma indústria de confecções de malhas, a qual pode realizar todo o processo de fabricação de seus produtos sem previamente tingi-los. O tingimento das malhas ocorre somente após a demanda de quantidade de peças e suas respectivas cores, feita pelos clientes. Isso faz com que os estoques não se tornem obsoletos, em virtude das cores que saíram de moda. A flexibilidade e rapidez na resposta são muito valorizadas nos processos de customização em massa. 13 UNIDADE Planejamento industrial Estratégia de Operações Para elaborar as estratégias corporativas, as empresas realizam inicialmente a análise de mercado. Com essa análise, são escolhidas as prioridades competitivas e estratégias de operações, além das capacitações necessárias ao atendimento das estratégias corporativas (Figura 7). Estratégia de Operações Análise de Mercado Prioridades Competitivas de Mercado - Produzir para estoque - Montagem por Encomenda - Fabricar por Encomenda Capacitações Estratégia Empresarial Figura 7 – Fluxo da estratégia corporativa Assim, o projeto de fábrica tem como origem as estratégias das empresas. Tipos de Processos de Fabricação Os processos de fabricação utilizam recursos para a entrega dos produtos ao mercado consumidor. Os processos são a base de toda organização produtiva. A escolha de um processo de produção envolve: · Escolha do processo de fabricação; · Integração vertical da produção; · Flexibilidade dos recursos de produção; · Envolvimento do cliente; · Intensidade do capital para a produção; · Economias de escopo. 14 15 Escolha do processo de fabricação A escolha do processo de fabricação depende das prioridades competitivas relativas ao processo – qualidade, rapidez, confiabilidade, flexibilidade, custo. Existem cinco tipos de processos de fabricação, a saber: · Processos de projeto; · Processos por tarefas; · Processos por lotes; · Processos em linha; · Processos contínuos. Processos de projeto – têm como característica um alto grau de customização das tarefas, grande escopo de cada projeto e a liberação de grandes recursos ao término de cada projeto. Nesse caso, a sequência de operações e o processo envolvido em cada operação é único para cada projeto. Esses processos são avaliados na capacidade de realização de trabalhos específicos. Geralmente, esses projetos são complexos, com grande tempo de implantação. Os fluxos de trabalho desse tipo de processo são específicos para cada projeto e não são produzidos em quantidade. Nesse caso, por exemplo, está a localização de uma nova fábrica. Processos por tarefas – neste caso tem-se a flexibilidade para a produção de grande variedade de produtos e em grandes quantidades se comparados a processos de projeto. A equipe e os equipamentos da produção são flexíveis e responsáveis por diversas tarefas. Nesse tipo de processo, geralmente, os produtos são feitos por encomenda, ou seja, não são produzidos antecipadamente, uma vez que são desconhecidas as necessidades dos próximos clientes. Nesse caso, equipamentos e trabalhadores são colocados juntos para realizarem cada tarefa específica. Como a customização é elevada, a escolha desse processo conduz a fluxos desordenados ao longo das operações. Pode acontecer que alguns subprocessos sejam comuns para todas as tarefas ou clientes. Como exemplo, tem-se a fabricação e usinagem de materiais de precisão. Processos por lotes – neste caso, comparando-se com processos por tarefas, tem-se volumes maiores, dado que os produtos são fornecidos repetidamente. Existe uma limitação da variedade, que é obtida por meio da montagem por encomendas. Os lotes de produção também são processados em quantidades maiores que as produzidas pelo processo de tarefas. O padrão de fluxo é desordenado, sem sequência padrão em toda unidade produtiva. Como exemplo, tem-se a produção de acessórios que servem para várias linhas de produtos. 15 UNIDADE Planejamento industrial Processos em linha – um fluxo em linha implica que as informações, materiais ou clientes são movidos linearmente entre as operações, conforme uma sequência fixa. Nesse caso, os volumes são elevados e os produtos padronizados. Os recursos de produção são organizados em torno de um produto. A produção não depende diretamente do pedido dos clientes. Geralmente, os fabricantes que adotam processos em linha seguem a estratégia de produzir para estoque. Esse tipo de produção é denominado produção em massa. São exemplos desse tipo de processo a produção de eletrodomésticos e a de automóveis. Processos contínuos – neste caso existe a produção em grande volume, com forte padronização e fluxo de linha rígido. Os materiais se movem pelo processo de forma contínua, isto é, sem interrupções. Esse processo opera continuamente sem paradas. As interrupções são muito onerosas. São exemplos desse processo a produção das refinarias de petróleo, das indústrias químicas e das siderúrgicas. Um resumo dos processos é apresentado na Figura 8: Processo por Lote Processo em Linha Processo em Linha Baixa Quantidade Alta Alta Baixa Customização Processo por Projeto Processo por Tarefa Figura 8 – Tipos processos de fabricação Integração vertical da produção: A integração vertical da produção indica como o sistema produtivo opera acadeia de suprimentos. Quanto mais os processos ocorrerem internamente, em vez de utilizar fornecedores, maior será a integração vertical. O nível de integração vertical da produção é determinado pela alta administração das empresas. A terceirização é uma das opções para atendimento de demandas pontuais. 16 17 A integração vertical da produção pode ocorrer em duas direções, as quais: · Integração para trás – é o movimento de uma empresa em direção às fontes de matérias-primas; · Integração para frente – é o movimento de uma empresa que adquire mais canais de distribuição, podendo até adquirir empresas que são suas clientes. A integração vertical é atrativa quando a quantidade de insumos é grande – grandes quantidades permitem especialização de tarefas – e possui qualificações adequadas. Nesse caso, é possível ter vantagens como melhoria: · Da participação de mercado; · Econômica se possuir as condições de produção – recursos – e qualidade; · Na pontualidade da entrega; · Na utilização de máquinas, recursos humanos e espaços ociosos da fábrica. A terceirização de tarefas – ação oposta à integração vertical – é atrativa quando são produzidos pequenos volumes. Pode proporcionar economia de custos e melhor qualidade aos produtos terceirizados. Com a tecnologia da informação é possível que os fornecedores possam ser empresas virtuais. Dessa maneira, surgem as empresas em rede, as quais são coordenadas pela empresa líder, que utiliza sistemas de informática para receber os pedidos dos clientes e coordenar a produção das empresas virtuais. Flexibilidade dos recursos de produção A flexibilidade dos recursos de produção – pessoas, instalações, equipamentos – é uma consequência das escolhas da alta administração das empresas. A flexibilidade de recursos de produção avalia a facilidade com que esses recursos podem lidar com a variedade de produtos, níveis de produção, funções e deveres exigidos pelas demandas dos clientes. As pessoas da linha de produção – equipe de trabalho – são flexíveis quando são capazes de realizar várias tarefas em seus postos de trabalho, ou quando são deslocados para outros postos de trabalho. Geralmente, a flexibilidade das pessoas da linha de produção exige que sejam profissionais com maiores aptidões laborais, mais treinamento e educação, gerando maiores custos. Como benefícios, tem-se a flexibilidade da equipe de trabalho, que pode reduzir os “gargalos” da produção em casos de demandas não previstas. Tal flexibilidade ajuda a absorver as oscilações da demanda da produção. Quando o fluxo de produção é contínuo e homogêneo, a equipe de trabalho deve ser permanente, com trabalho constante durante a jornada. Se ocorrer picos e variação sazonal da demanda, geralmente, utiliza-se pessoas em tempo parcial e pessoas temporárias terceirizadas. 17 UNIDADE Planejamento industrial Quando os produtos possuem um ciclo de vida curto, com alto grau de customização e pequenos volumes, devido aos custos envolvidos, os equipamentos da linha de produção devem ser do tipo universal, isto é, devem servir a vários propósitos. Os equipamentos dedicados têm custos fixos maiores que os universais e somente são competitivos se a produção estiver acima de um valor mínimo, se comparado aos equipamentos universais (Figura 9). Equipamento Dedicado Custo Fixo do Equipamento Universal Custo Fixo do Equipamento Dedicado Equipamento Universal Quantidade de Equilíbrio Quantidade Custo Total Figura 9 – Comparação de custos de equipamentos dedicados e universais Envolvimento do cliente O envolvimento do cliente é definido como este faz parte do processo de produção e qual o grau de sua participação. Tal envolvimento pode variar em aspectos como: · Autosserviço – ocorre quando o preço é uma prioridade competitiva de mercado. Nesse caso, os clientes executam parte do processo e produção. Assim, essa economia na produção é repassada aos clientes na forma de preços mais baixos nos produtos. Como exemplos, tem-se a montagem de móveis e a montagem de bicicletas. Nesses casos, a montagem final ocorre às custas do cliente; · Customização do produto – ocorre quando os clientes especificam os produtos que comprarão. Por exemplo, quando o cliente escolhe os componentes que farão parte de um computador. 18 19 ntensidade de capital para a produção A intensidade de capital para a produção é o conjunto dos equipamentos de produção e a habilidade da equipe envolvida em um determinado processo. A automação é um sistema, processo ou parte de equipamento que trabalha de forma independente e se autorregula. Uma das vantagens da automação é agregar intensidade de capital à produção, aumentando significativamente a produtividade e a qualidade dos produtos. Uma das desvantagens é o alto custo dos investimentos para operações com pequenos volumes. A automação pode ser: · Fixa – neste tipo, o produto é constituído em sequência fixa de operações simples. Essa opção de automação ocorre quando os volumes da demanda são altos, os projetos de produtos são constantes e o ciclo de vida dos produtos é longo. Nesse processo produtivo, o custo do investimento inicial é elevado, sendo o processo inflexível. Como a automação fixa é projetada para um produto específico, a mudança do equipamento para a produção de novos produtos é muito difícil e cara. A automação fixa maximiza a eficiência da produção, conduzindo a um menor custo variável por peça se os volumes forem grandes; · Flexível ou programável – esse tipo de automação pode ser alterado facilmente para a fabricação de novos produtos. Essa facilidade de programação das máquinas possibilita sua utilização em processos de baixa e alta customização. Economias de escopo A intensidade de capital para a produção e a flexibilidade de recursos para a produção são fatores que variam inversamente. As economias de escopo apresentam a capacidade para produzir vários produtos a custos menores em combinação, do que separadamente. Aproveitar adequadamente a economia de escopo necessita que uma família de produtos, ou de componentes, tenha um volume coletivo suficiente para utilizar plenamente os equipamentos. Acrescentar um novo produto tem como consequência custos de programação. 19 UNIDADE Planejamento industrial Produtividade em Fábricas Produção é definida como qualquer processo de obtenção de produto. Para haver a produção são necessários recursos de produção – capital, máquinas, equipamentos, materiais, mão de obra e insumos. Produtividade é a capacidade de produzir. É avaliada pela relação entre os resultados da produção e os recursos utilizados (Expressão 1): ProdutosProdutividade ...(1) Recursos Operação é o trabalho do operário, ou da máquina. O Quadro 1 apresenta três exemplos de produção e as respectivas produtividades: Quadro 1 – Exemplos de produção e produtividade. Situação Produção Produtividade Um trabalhador, operando uma máquina, produz, em uma hora, trinta peças 30 peças/hora 30 peças/homem-hora30 peças/hora-máquina d Dois trabalhadores, operando duas máquinas, produzem, em uma hora, sessenta peças dd 60 peças/hora 30 peças/homem-hora30 peças/hora-máquina Um trabalhador, operando duas máquinas, produz, em uma hora, sessenta peças 60 peças/hora 60 peças/homem-hora30 peças/hora-máquina Analisando o Quadro 1, é possível concluir que: · A produção aumenta com o incremento dos recursos de produção – comparação entre a primeira e a segunda situação; · A produtividade aumenta com o aperfeiçoamento do método de trabalho, permitindo que o mesmo trabalhador opere simultaneamente duas máquinas – terceira situação. Produtividade de fábrica é a relação entre a produção e o total de cada recurso produtivo aplicado. A produtividade é avaliada para cada recurso isoladamente. Como as máquinas são diversas, geralmente, não são utilizadas como medida de produtividade. Podem ser utilizados como medidas de produtividade o aproveitamento de materiais– retrabalho, sucata etc. –, os estoques – matéria- prima, componentes, produtos etc. –, a movimentação de materiais – material transportado etc. –, entre outros fatores. 20 21 O aumento da produtividade pode ser obtido por meio de capital ou do trabalho. Através do capital é possível adquirir máquinas e equipamentos mais produtivos para os processos existentes na fábrica. Por meio do trabalho é possível – através de técnicas de estudos de métodos de trabalho – que o esforço dos trabalhadores no processo produtivo seja diminuído. Ademais, o estudo de métodos de trabalho visa: · Eliminar as atividades desnecessárias ao processo produtivo; · Aumentar a eficiência no trabalho; · Eliminar o retrabalho; · Simplificar o trabalho; · Reduzir as paralizações de trabalho; · Diminuir os riscos de acidentes de trabalho; · Reduzir a fadiga dos trabalhadores; · Eliminar desperdícios de recursos. Esforço produtivo é a quantidade de recursos necessários para a constituição de uma unidade de produção industrial. É avaliado pela relação entre os recursos produtivos e os resultados da produção – horas-máquina/peça; homens-hora/peso de material produzido etc. O esforço produtivo é importante para determinar: · A carga de trabalho necessária para uma produção; · O custo de produção. O Quadro 2 apresenta um exemplo, onde são necessárias quatro operações, cada uma executada com máquinas e ferramentas distintas e por um único trabalhador: Quadro 2 – Exemplo de cálculo de esforço produtivo. Operação Tempo unitário (min./peça) Produção (peças/hora) Produtividade (peças/homem-hora) Esforço produtivo (homens-min./peça) 1 2 30 30 2 2 1 60 60 1 3 3 20 20 3 4 6 10 10 6 Com o Quadro 2 é possível concluir que: · A produção e a produtividade não são somáveis; · O tempo unitário e o esforço produtivo são somáveis, desde que os recursos utilizados sejam equivalentes. 21 UNIDADE Planejamento industrial As quatro operações em uma única peça são realizadas em 12 minutos, consumindo 12 homens-minuto/peça. Nesse caso, se fosse necessário produzir 30.000 peças, o esforço produtivo seria 30.000 x 12 = 360.000 homens-minuto, ou 6.000 homens-hora. O aumento da produtividade reduz o custo do produto. Assim, a relação entre os custos é inversamente proporcional à relação entre as produtividades. Supondo que um trabalhador custe R$ 16/hora e que houve um aumento de 20% na sua produtividade, passando de 8 peças/homem-hora para 9,6 peças/ homem-hora, teríamos: Custo Anterior de produção da peça → CAN Custo Atual de produção da peça → CAT Custo Horário do trabalhador → CH = R$ 16/hora Produtividade Anterior → PAN = 8 peças/homem-hora Produtividade Atual → PAT = 9,6 peças/homem-hora CAN CH PAN = = = 16 8 R$ 2/peça CAN CH PAT = = = 16 9 6, R$ 1,67/peça Variação do custo %= − = − = − = −CAT CAN CAN 1 67 2 2 0 165 16 5 , , , Assim, um aumento de 20% na produtividade reduziria o custo em 16,5%. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Administração de produção e operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica CORREA, H. L. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. O trabalho: mais resultado com menos esforço, custo: passos para a produtividade FULLMANN, C. São Paulo: Educador Contemporâneo, 2009. A meta: um processo de melhoria contínua GOLDRATT, E. M. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2005. Administração da produção MARTINS, P. G. LAUGENI, F. P. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. Leitura Integração de ferramentas computacionais aplicadas ao projeto e desenvolvimento TORRES, I. São Carlos, SP, v. 1, n. 1, 2001. Disponível em: http://goo.gl/pMd82W 23 Referências GROOVER, M. P. Automação industrial e sistemas de manufatura. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. RITZMAN, L. P.; MALHOTRA, M. K.; KRAJEWSKI, L. J. Administração de produção e operações. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. SLACK, N. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 2011. 24
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