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APG - SOI III Bianca Cardoso - Medicina 3 o Período AGENTE ETIOLÓGICO DA ENDOCARDITE INFECCIOSA • As infecções estafilocócicas tornaram-se a causa mais comum de EI, seguidas de estreptococos e enterococos • Staphylococcus aureus é o agente patogênico principal entre os usuários de substâncias intravenosas • A EI de valvas cardíacas artificiais tende a ser causada por estafi lococos coagulasepos i t ivos (p . ex . , Staphylococcus epidermidis) • O S. epidermidis foi associado às infecções de dispositivos implantáveis e às infecções adquiridas nos serviços de saúde INTRODUÇÃO • A endocardite infecciosa (IE) surge quando micro- organismos (bactérias ou fungos) invadem a corrente sanguínea e se instalam em áreas danificadas do endocardio, produzindo vegetação, o que, por sua vez, pode danificar diretamente o tecido e/ou as válvulas • Caracteriza-se por colonização ou invasão de um agente microbiano nas valvas cardíacas e no endocárdio mural, resultando na formação de vegetações volumosas e friáveis, assim como na destruição dos tecidos cardíacos subjacentes • Doença grave e potencialmente fatal Obs: O termo também pode incluir endocardite não infecciosa, que é a formação de trombos estéreis de fibrina e plaqueta nas valvas cardíacas e endocárdio adjacente. Às vezes, a endocardite não infecciosa conduz à endocardite infecciosa. Ambas podem provocar embol ias e comprometimento da função cardíaca Classificada em: • Tipo de valva acometida: - nativa ou protética (subdividida em precoce de até 1 ano ou tardia após 1 ano da colocação da prótese) • Evolução da doença a) Aguda - menos de 6 semanas de evolução - geralmente causada por organismos altamente virulentos que produzem lesões necróticas, ulcerativas e destrutivas (lesões difíceis de curar e normalmente precisam de cirurgia) - cardiopatia prévia presente ou não - fenômenos embólicos - início rápido - ocorre nos pacientes com valvas cardíacas normais - Staphylococus Aureus b) Subaguda-crônica - evoluem ao longo de meses, mais de 6 semanas - cardiopatia prévia geralmente presente - fenômenos imunes (dor articular, glomerulonefrite,..) - normalmente, os pacientes possuem valvas cardíacas anormais - Streptococcus viridans • Aquisição da infecção: - EI pode ser adquirida na comunidade, comunidade relacionada a procedimentos hospitalares ou nosocomial - para a EI ser encaixada nessa classificação é necessário que os sintomas tenham aparecido após pelo menos 48h após admissão hospitalar Fatores de Risco Estão associadas com alterações de fluxo sanguíneo pela valva, alterações valvares morfológicas, manipulação cirúrgica, uso de dispositivos invasivos e condições imunossupressoras - Valvopatias (doença reumática, alterações degenerativas, prolapso mitral com insuficiência valvar e espessamento significativo do folheto) - Prótese valvar - Shunts ou condutos sistêmico-pulmonares - Passado de endocardite - Cardiopatia congênita cianótica - Uso de drogas intravenosas - Uso de dispositivos implantados (marca-passo, cardiodesfibrilador, cateter venoso central) - Imunossupressão, diabetes mellitus EPIDEMIOLOGIA • Endocardite infecciosa pode ocorrer em qualquer idade • Os homens são afetados com uma frequência duas vezes maior do que as mulheres • Predomina em portadores de próteses valvares e dispositivos implantados (como marca-passo e cardiodesfibrilador), usuários de drogas intravenosas, imunossuprimidos e usuários de dispositivos invasivos • o patógeno mais prevalente é o Staphylococcus aureus, responsável por quadros graves e metastáticos. • Em países em desenvolvimento, como o Brasil, o maior fator de risco para endocardite é a febre reumática (Streptococcus) • Nos EUA, os maiores fatores de risco são presença de prótese valvar, presença de dispositivos intracardiacos, hemodiálise, acesso venoso central (staflococcus) • alta taxa de mortalidade (em torno de 25%), dependendo do agente etiológico ETIOLOGIA • Os principais micro-organismos causadores da EI são estafilococos (mais comuns em infecção hospitalar) e estreptococos (infecções comunitárias) - endocardite valvas naturais previamente anormais ou lesadas: streptococcus viridans - valvas saudáveis e deformadas: S. aureus (encontrados na pele) (principal agente infectante encontrado entre os indivíduos com EI que utilizam drogas ilícitas injetáveis) - a endocardite das próteses valvares é causada frequentemente pelos estafilococos coagulase negativos • A EI acomete mais comumente a valva mitral (40%) ou aórtica (34%), depois ambas as valvas - tricúspide e pulmonar mais comum em usuários de drogas endovenosas • A disseminação dos microrganismos na corrente sanguínea é o fator pr incipal que resulta no desenvolvimento da EI • A porta de acesso à corrente sanguínea pode ser: - infecção evidente - procedimento dentário ou cirúrgico que cause bacteriemia transitória - injeção de uma substância contaminada diretamente no sangue por usuários de substâncias intravenosas - fonte oculta na cavidade oral ou no intestino A doença se desenvolve em 3 fases: a) Bacteremia: microrganismos estão presentes no sangue b) Adesão: o microrganismo adere ao endotélio anormal ou danificado pelas adesinas de superfície APG - SOI III Bianca Cardoso - Medicina 3 o Período c) Colonização: proliferação do organismo junto com inflamação, levando a uma vegetação madura Obs: Muitos dos microrganismos colonizadores produzem biofilmes de polissacarídeos que os protegem das defesas imunitárias do hospedeiro e impedem a penetração de antibióticos. FISIOPATOLOGIA Formação de vegetação — O revestimento endotelial do coração e suas válvulas é normalmente resistente à infecção por bactérias e fungos. I. O passo inicial no estabelecimento de uma vegetação é a lesão endocárdica (valvar ou endotelial), seguida pela deposição local das plaquetas e fibrinas II. A plaquetária-fibrina nidus inicialmente estéril torna-se infectada por microrganismos que circulam no sangue III. O crescimento microbiano resulta em uma maior ativação do sistema de coagulação através da via de coagulação extrínseca, os monócitos aderentes liberam uma variedade de citocinas e as células endoteliais ativadas continuam a levar a uma maior deposição local de fibronectina. Esses processos culminam em vegetação IV. Todos esses acontecimentos podem promover a formação de um trombo de fibrinaplaquetas sobre o revestimento endotelial. O trombo está sujeito à implantação de bactérias, causando ativação dos monócitos, bem como formação de citocinas e fatores tissulares, resultando na proliferação progressiva das vegetações valvares infectadas - essa lesão característica da doença leva à destruição valvar, invasão local com formação de abscessos, aneurisma e embolias sépticas sistêmicas V. O crescimento bacteriano ocorre dentro das células e dentro da matriz de fibronectina dentro das vegetaçãos, dificultando as respostas imunes do hospedeiro para controlar ou erradicar a infecção em andamento Obs: Uma vegetação madura é uma coleção amorfa de fibrina, plaquetas, leucócitos, detritos de glóbulos vermelhos e aglomerados densos de bactérias. A superfície geralmente consiste em fibrina e números variados de leucócitos. Aglomerados de bactérias, histiócitos e monócitos são geralmente observados nas profundezas da vegetação; • Detecção de microrganismos no exame de histopatologia de uma válvula não implica falha no tratamento; a depuração de organismos mortos via lisia ou fagocitose podelevar meses. Da mesma forma, a detecção de DNA bacteriano via reação em cadeia da polimerase meses a anos após a conclusão da terapia apropriada provavelmente reflete a persistência de detritos bacterianos inviáveis dentro da vegetação • As vegetais tendem a se desenvolver em locais onde o sangue viaja de uma área de alta pressão através de um orifício estreito para uma área de menor pressão. • A fonte bacteriana de endocardite pode ser facilmente discernível (como um abscesso dentário, lesão cutânea infectada ou cateter vascular infectado) ou pode não haver história clara de infecção antecedente. Nesses casos, a fonte é frequentemente atribuída a um trauma menor da mucosa orofaríngea, gastrointestinal ou geniturinária Exame físico: - Presença de sopro cardíaco - Sinais de embolização - Desconforto abdominal - Histórico de febre - Embolização periférica (lesões mãos, pés) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Pode provocar febre, sopros cardíacos, petéquias, anemia, fenômenos embólicos, fenômenos imunes e vegetações endocárdicas. As vegetações podem levar a obstrução ou insuficiência valvar, abscesso miocárdico ou aneurisma micótico Lesões de Janeway (embolização) Nódulos de Osler (imunológico) Manchas de Roth APG - SOI III Bianca Cardoso - Medicina 3 o Período COMPLICAÇÕES • Embolia - vegetações menores de 15mm - causadas por S.aureus - acomete valva mitral • Abcesso - 10-40% dos casos - acomete valvas ou próteses aórticas - S. aureus - devido à proximidade com o nó atrioventricular, pode haver evolução para bloqueio atrioventricular • Insuficiência cardíaca - associada à destruição valvar ou protética - considerada uma emergência cirúrgica • Agravamento de lesão valvar prévia DIAGNÓSTICO • O diagnóstico envolve critérios clínicos, laboratoriais e o ecocardiograma • Hemograma: ureia, creatina, glicose, eletrólitos, coagulograma, VHS, EAS, ECG, radiografia de tórax • Hemocultura: mínimo de três pares de culturas (duas amostras de sítios diferentes) e intervalo entre os pares de 30min - cada par consiste em um balão aeróbico e outro anaeróbico, com 10 mL de sangue venoso em cada - deve-se informar ao laboratório sobre a possibilidade de germe de crescimento lento Ecocardiograma: - sempre indicado em suspeita de endocardite • ecocardiograma transtorácico (ETT) - sensibilidade de 50% - diagnóstico e monitoramento dos pacientes - Achados diagnósticos: presença de vegetação, abscesso, fístula, pseudoaneurisma, deiscência nova em prótese, nova regurgitação valvar - Considerar em pacientes de risco com bacteremia por S. aureus • ecocardiograma transesofágico (ETE) - sensibilidade de 90% - se ETT normal com suspeita clínica - avaliação de complicações - ETE normal, suspeita clínica: repetir após 1 semana Obs: em pacientes com valva nativa, opta-se por ETT, reservando o ETE para casos de dúvidas diagnósticas, quadros graves com suspeita de complicações ou com piora clínica • Tomografia computador i zada : de tecção de complicações, como abscesso aórtico ou paravalvar e aneurisma micótico (angiotomografia) - pode ser utilizada também para detecção de compl icações emból icas quando estas são suspeitadas pela história clínica e exame físico CRITÉRIOS DE DUKE • Presença de 2 maiores, 1 maior e 3 menores, ou 5 menores. Critérios Maiores I. Hemocultura II. Ecocardiograma - Presença de vegetação, abscesso, deiscência parcial de prótese valvar ou nova regurgitação valvar compatíveis com EI (a presença de novo sopro ao exame também pode ser considerada, porém a piora de um sopro antigo não é suficiente). Critérios Menores I. Fator de alto risco - usuário de drogas EV e cardiopatia estrutural - febre maior ou igual a 38o C II. Fenômenos embólicos - embolia periférica ou pulmonar séptica; hemorragia intracraniana; hemorragias subconjuntivais; lesões de Janeway; e aneurismas micóticos III. Fenômenos imunológicos - poliartralgia; manchas de Roth; glomerulonefrite; baqueteamento digital; e nódulos de Osler Classificação • É possível classificar endocardites em valvas nativas segundo tempo de duração e evolução • Já as endocardites em valvas protéticas, são classificadas a partir do tempo de surgimento desde a colocação da prótese I. Valva nativa aguda: - Duração < 6 semanas - Apresenta-se desde o início com significativa toxicidade, evoluindo rapidamente para destruição valvar e infecção metastática - Principal agente etiológico: Staphylococcus aureus; II. Valva nativa subaguda: - Duração > 6 semanas - Evolui em semanas a meses, com discreta toxicidade e raras manifestações sistêmicas - Principais agentes etiológicos: Streptococcus viridans, enterococos, estafilococos coagulase-negativos e bacilos gram-negativos; III. Valva protética precoce: - Surge em menos de 2 meses do pós-operatório da cirurgia de troca valvar - Relacionada com o procedimento, com provável agente hospitalar IV. Valva protética intermediária: - Surge entre 2-12 meses do pós-operatório de cirurgia de troca valvar - Impossível determinar se agente hospitalar ou comunitário APG - SOI III Bianca Cardoso - Medicina 3 o Período V. Valva protética tardia: - Surge em mais de 12 meses do pós-operatório da cirurgia de troca valvar - Não relacionada com o procedimento, com provável agente comunitário Diagnóstico Diferencial - Acompanhamento • Internação hospitalar: Todos os pacientes com suspeita ou diagnóstico de endocardite devem ser internados para tratamento antibiótico parenteral e acompanhamento Abordagem terapêutica • EI aguda: Deve ser tratada como infecção grave, exigindo doses elevadas de antibióticos parenterais sempre em associação, visando às causas prováveis na terapia empírica e optando-se pelo tratamento específico após resultado de culturas e antibiograma. - Coletar culturas e iniciar antibioticoterapia sempre que possível - caso paciente esteja instável devido à endocardite, inicia-se o antibiótico pelo menos após a coleta do segundo set de hemocultura • Endocardite infecciosa subaguda: Coletar culturas e aguardar o resultado destas para iniciar antibioticoterapia específica Princípios da terapia antibiótica: • A monoterapia não é desejável para atender aos fatores bactericidas e bacteriostáticos • A antibioticoterapia para endocardite deve ser guiada pelas hemoculturas, que são positivas em mais de 90% dos casos • A antibioticoterapia empírica deve ser individualizada, como em casos de instabilidade hemodinâmica ou endocardite aguda (febre, mal-estar, prostração, embolia) • O tempo de tratamento deve contar a partir da negativação das hemoculturas • Pacientes submetidos à cirurgia de troca ou reparo valvar não devem ter sua contagem reiniciada a partir da cirurgia, a menos que se identifique um germe na valva retirada. O tratamento deve, então, seguir o perfil de sensibilidade do referido germe • O tempo de tratamento gira em torno de 4-6 semanas, e as causas para extensão do tratamento são a presença de vegetações, microrganismos resistentes, e o uso de drogas bactericidas de ação lenta, como a Vancomicina Indicações de Tratamento Cirúrgico • Depende do quadro clínico do paciente afetado e de sua resposta ao tratamento antibiótico • Antes de proceder uma cirurgia cardíaca, o paciente deve ser avaliado quanto a complicações como aneurisma micótico e embolia séptica para outros órgãos Principais indicações • Lesão valvar culminando em sobrecarga de câmaras e insuficiência cardíaca; • Pacientes com lesões complexas, como perfuração e destruição de válvula, abscesso, fístulas, disfunção ou deiscênciade prótese valvar e bloqueio atrioventricular total; • Pacientes com endocardite com patógenos de difícil tratamento (fungos, microrganismos multirresistentes); • Pacientes com infecção persistente a despeito de terapia antibiótica adequada e exclusão de infecção em outros sítios; • Prevenção de embolia em pacientes com grandes vegetações (> 10 mm) e eventos embólicos em outros sítios (indicação controversa). • Após a cirurgia, o curso de antibiótico deve ser reiniciado TRATAMENTO • Baseado na antibioticoterapia • Os antibióticos devem ser administrados via intra- venosa, com agentes bactericidas e uti l izando combinações sinérgicas • O tratamento depende: - tipo de valva acometida (nativa ou protética) - agente etiológico envolvido - evolução (aguda ou subaguda) • O tratamento cirúrgico é indicado em diversas condições e é cogitado em EI graves, prolongadas ou com lesões irreversíveis impactantes - bacteremia persistente: hemoculturas positivas após sete dias de antibioticoterapia - insuficiência cardíaca por regurgitação valvar aguda grave - infecção não controlada localmente, presença de complicações - vegetações > 20 mm em valva tricúspide REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE DA ZONA RURAL • O acesso a saúde é menor nas áreas rurais devido a vulnerabilidade social da população e da dificuldade de acesso • A maior dificuldade para acessar os serviços nas áreas rurais é associada à menor disponibilidade de serviços de acompanhamento de internações e acidentes. Esses serviços se encontram “longe”, necessitando que o indivíduo se desloque sem contar com estrutura adequada. • A saúde da população rural é mais precária, com baixa cobertura de saneamento básico (32,8%) e maior parte da população (67,2%) captando água sem tratamento ou com condições insalubres, inflienciando no número de doenças de veiculação hídrica, parasitoses intestinais e diarreias • Além disso, há pouco acesso em ações simples que auxiliam no diagnóstico, como aferir a PA e realizar a glicemia capilar • O déficit de cobertura na saúde rural é cerca de 2,5% maior do que na urbana REFERÊNCIAS: • PORTH, C.M.; MATFIN,G. Fisiopatologia. 8a ed. Guanabara Koogan, 2010.
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