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Objetivos de aprendizagem - Conhecer a definição, quadro clínico (história, exame físico e exames), fisiopatologia e fatores de risco envolvidos na endocardite infecciosa. - Identificar as possíveis portas de entrada para a infecção cardíaca e os principais agentes envolvidos, considerando as diferentes populações e vias de contaminação. Explicar as variações no gráfico (ex. pico de incidência vs idade, agente infeccioso vs idade). - Discriminar o processo de investigação laboratorial, hemoculturas e exames de imagem no diagnóstico da endocardite infecciosa. Discutir critérios de Duke modificados. - Descrever o tratamento antimicrobiano na endocardite guiado por fatores de risco e agentes etiológicos. - Descrever os aminoglicosídeos, mecanismo de ação e efeitos adversos principais (hipersensibilidade, oto e nefrotoxicidade): conhecer amicacina e gentamicina. - Conhecer as indicações e drogas de escolha na profilaxia: guideline europeu de endocardite. Definição A endocardite infecciosa (EI) é uma doença grave, caracterizada pela invasão de microorganismos patogênicos (bactérias ou fungos) nas superfícies endocárdicas ou no material protético intracardíaco. Isso resulta em inflamação e lesão local, sendo as valvas cardíacas as mais comumente envolvidas. Cursa com formação de vegetações, únicas ou múltiplas, que são estruturas compostas por plaquetas, fibrina e microorganismos infecciosos. Classificação A endocardite, como quase tudo que envolve a cardiologia, possui diversas classificações de acordo com diferentes critérios, como tipo de valva acometida, evolução da doença e o local de aquisição da infecção. Tipo de valva acometida: Pode ser nativa ou protética, que ainda é subdividida em precoce de até 1 ano ou tardia após 1 ano da colocação da prótese. Evolução da doença: A endocardite infecciosa pode ser aguda, quando tem menos de 6 semanas. Geralmente é causada por organismos altamente virulentos que produzem lesões necróticas, ulcerativas e destrutivas. São lesões difíceis de curar e normalmente precisam de cirurgia. Quando possui mais que 6 semanas, é chamada de subaguda, podendo persistir por um curso de meses e a cura frequentemente é obtida com antibióticos. Aquisição da infecção: A EI por ser adquitida na comunidade, comunidade relacionada a procedimentos hospitalares ou nosocomial. Semelhante à pneumonia nosocomial, para possuir a EI ser encaixada nessa classificação é necessário que os sintomas tenham aparecido após pelo menos 48h após admissão hospitalar. Fatores de risco Os principais fatores que interferem e aumentam a chance do surgimento da EI estão associadas com alterações de fluxo sanguíneo pela valva, alterações valvares morfológicas, manipulação cirúrgica, uso de dispositivos invasivos (tais como cateteres, pressão arterial invasiva) e condições imunossupressoras. Principais fatores de risco: - Valvopatias (doença reumática, alterações degenerativas, prolapso mitral com insuficiência valvar e espessamento significativo do folheto). - Prótese valvar. - Shunts ou condutos sistêmico-pulmonares. - Passado de endocardite. - Cardiopatia congênita cianótica. - Uso de drogas intravenosas. - Uso de dispositivos implantados (marcapasso, cardiodesfibrilador, cateter venoso central). - Imunossupressão, diabetes mellitus. Etiologia Os principais microorganismos causadores da EI são estafilococos e estreptococos, sendo os primeiros mais comuns em casos de infecção hospitalar e os segundos em infecções comunitárias. A endocardite que acomete as valvas naturais, porém previamente anormais ou lesadas, é mais comumente causada (50% a 60% dos casos) pelo Streptococcus viridans, que é parte normal da flora da cavidade oral. Por outro lado, os organismos S. aureus mais virulentos são comumente encontrados na pele e podem infectar valvas saudáveis e deformadas, e são responsáveis por 10% a 20%. de todos os casos; S. aureus é o principal agente infectante encontrado entre os indivíduos com EI que utilizam drogas ilícitas injetáveis. A endocardite das próteses valvares é causada com mais frequência pelos estafilococos coagulase negativos. A endocardite infecciosa acomete mais comumente a valva mitral (40%) ou aórtica (34%), seguida pelo acometimento de ambas as valvas. O acometimento das valvas tricúspide e/ ou pulmonar ocorre mais comumente em usuário de drogas endovenosas e em persistência de cateter de demora em veia profunda. A endocardite fúngica é mais difícil de ser diagnosticada, sendo mais comumente encontrada em pacientes com histórico de uso de drogas injetáveis, cirurgia cardíaca recente ou uso prolongado de cateteres vasculares de longa permanência, especialmente aqueles usados para nutrição parenteral. Os fungos mais comuns encontrados na EI são espécies de Aspergillus e Candida. Patogênese O coração é revestido pelo pericárdio, que é uma membrana formada pelo pericárdio superficial e pelo pericárdio seroso, sendo esta última formada por uma camada parietal e outra visceral (epicárdio), que está direta- mente em contato com o coração. O miocárdio é a camada cardíaca média e mais espessa, formada por músculo estriado. O endocárdio é a camada mais interna do coração e também reveste as valvas e é contínuo com o revestimento dos vasos sanguíneos que entram e saem do coração. O desenvolvimento da EI, geralmente, segue uma sequência previsível: A vegetação é formada a partir de lesão valvar, ou endotelial, que predispõe a deposição local de fibrinas e plaquetas. Com isso, há a formação de vegetação trombótica não bacteriana no local da lesão. Se houver bacteremia transitória, há colonização e aderência de bactérias circulantes na vegetação trombótica, com consequente multiplicação e formação da vegetação bacteriana (séptica). Essa lesão característica da doença leva à destruição valvar, invasão local com formação de abscessos, aneurisma e embolias sépticas sistêmicas. A bacteremia persistente predispõe à formação de imunocomplexos e vasculite sistêmica, resultando em fenômenos imunológicos e vasculares. Alguns distúrbios favorecem a endocardite infecciosa, como prolapso da valva mitral, estenose valvular calcificada degenerativa, valva aórtica bicúspide (calcificada ou não), valvas artificiais (protéticas) e defeitos congênitos reparados ou não. Fisiopatologia Quadro clinico O quadro clínico sugestivo é vasto, envolvendo diversos sintomas. Na prática clínica o que chama a atenção muitas vezes, principalmente em pacientes de ambiente nosocomial é a presença de fatores de risco importantes em um paciente que evolui com piora clínica inicialmente de origem a esclarecer. A endocardite infecciosa é um diagnóstico importante nesse contexto, realizando a investigação de maneira adequada para início precoce do longo tratamento. Diagnostico O diagnóstico da endocardite infecciosa passa pela suspeita clínica e investigação laboratorial e imaginológica - Ecocardiograma Avaliação diagnóstica e prognóstica - Ecocardiograma Transtorácico (ETT) • Sensibilidade de 50% • Método de escolha para o diagnóstico e monitoramento dos pacientes. • Achados diagnósticos: presença de vegetação, abscesso, fístula, pseudoaneurisma, deiscência nova em prótese, nova regurgitação valvar. • Considerar em pacientes de risco com bacteremia por S. aureus. - Ecocardiograma transesofágico (ETE) • Sensibilidade de 90%. • Se ETT normal com suspeita clínica. • Avaliação de complicações. • ETE normal, com forte suspeita clínica: repetir após 1 semana. - Hemocultura • Obtenção de três pares: cada par contendo duas amostras de 10 mL de sangue. • Cada par deve ser colhido em sítios diferentes (veias periféricas). • Intervalo de 30 minutos entre as coletas dos pares. • Hemocultura positiva: deve-se repetir após 48-72 horas para verificar a eficácia do tratamento.- Critérios de Duke modificados São baseados em achados clínicos, ecocardiográficos e biológicos, e também em resultados de hemoculturas e sorologias. *Para ter o diagnóstico de EI definido, é necessário, dentre os critérios de Duke, dois critérios maiores, ou um maior e três menores, ou cinco menores.* Tratamento Princípios O tratamento da EI é baseada na antibioticoterapia, que deve começar o quanto antes, de forma empírica de acordo com a suspeita do microorganismo assim que for colhido as hemoculturas. Os antibióticos devem ser administrados via intravenosa, com agentes bactericidas e utilizando combinações sinérgicas. Após resultado do antibiograma do germe isolado em cultura, a antibioticoterapia deve ser ajustada para a sensibilidade do patógeno Fatores determinantes • Tipo de valva acometida (nativa ou protética). • Agente etiológico envolvido. • Evolução (aguda ou subaguda). Duração A duração do tratamento vai variar de acordo com o tipo de valva, com duração de 4 semanas se valva nativa e de 6 a 8 semanas se prótese valvar Tratamento cirúrgico O tratamento cirúrgico é indicado em diversas condições e é cogitado em EI graves, prolongas ou com lesões irreversíveis impactantes • Bacteremia persistente: hemoculturas positivas após sete dias de antibioticoterapia. • Insuficiência cardíaca por regurgitação valvar aguda grave. • Infecção não controlada localmente, presença de complicações. • Vegetações > 20 mm em valva tricúspide. • Agentes muito destrutivos ou pouco responsivos ao tratamento (como fungos, S. aureus). Profilaxia Indicada somente para pacientes de risco, quando forem submetidos Pacientes de risco • Portadores de próteses valvares. • Antecedente de endocardite infecciosa. • Cardiopatia congênita cianótico não tratada. • Pós-cirurgia cardíaca: recomenda-se profilaxia nos primeiros seis meses após o procedimento. • Procedimentos dentários de risco para EI. Procedimentos de risco Procedimentos dentários com manipulação de gengiva ou região periapical, ou perfuração de mucosa oral. Aminoglicosídeos São antibióticos constituídos por dois ou mais aminoaçúcares, unidos por ligação glicosídica à hexose ou ao aminociclitol, que habitualmente está em posição central. Entre os antibióticos mais comuns estão a estreptmicina, a neomicina, a teobramicina e a gentamicina. - Mecanismo de ação Os aminoglicosídeos são inibidores da síntese das proteínas e têm como local de ação a subunidade 30S do ribossoma bacteriano. A sua ligação a um determinado local do rRNA 16S da subunidade 30S do ribossoma reflete-se na tradução do mRNA. Com isso, são incorporados aminoácidos incorretos na cadeia polipeptídica durante a síntese proteica, tendo como consequência proteínas “non sense”, que, ao serem integradas na membrana citoplasmática da bactéria, altera a sua permeabilidade seletiva. - Efeitos adversos Importante estar atento às reações adversas mais recorrentes nessa classe, como a nefrotoxicidade e a ototoxicidade. São raras as reações alérgicas nesta classe de drogas. Por outro lado, esses antibióticos não apresentam hepatotoxicidade e não são conhecidos seus efeitos sobre a hematopoese ou sobre a cascata de coagulação. Perguntas Aula
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