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PPCP AULA 4 Prof. Roberto Pansonato CONVERSA INICIAL As abordagens até aqui foram sobre previsão de demanda e planejamento e programação. Prever a demanda é algo que exige uma certa complexidade; no entanto, depois de definida, as próximas etapas devem ser o planejamento e a programação. Até aqui, vimos alguns assuntos referentes a planejamento e programação, porém, por serem assuntos relevantes e pertinentes para a nossa caminhada, serão vistos de forma mais aprofundada nesta etapa, tal qual o plano mestre de produção. Mas depois de se planejar e programar a produção, há de se controlá-la para saber se os objetivos e metas foram atingidos. Além de controlar a saída do processo de produção, há também a necessidade de se controlar alguns recursos, entre eles os estoques de matérias-primas e componentes. Junto à área de logística, mais especificamente da logística interna, também conhecida como intralogística, o PPCP deve ter sob o seu controle os níveis de estoque e os pontos e quantidades de ressuprimentos. 1. programação da produção empurrada versus puxada; 2. plano mestre de produção; 3. a influência do tempo de setup na programação; 4. gestão de estoques; e 5. volume e ressuprimento. CONTEXTUALIZANDO Muito se fala sobre a importância do planejamento; porém, nem sempre é dada a devida importância a essa fase crucial. Nesta caminhada, ao refletirmos, mais uma vez, sobre uma frase atribuída a J. L. Beckley (1913–1998), autor e empresário americano, que disse: “A maioria das pessoas não planeja fracassar, mas fracassa por não planejar”, notamos que ela ainda continua atual. Muitas vezes, é até senso comum ver comentários sobre uma determinada empresa, que se encontra em dificuldades financeiras, de que “faltou planejamento”. Será que toda empresa que não obtém sucesso não planejou ou não planejou da forma que deveria planejar? Nos recusamos a acreditar que as empresas deliberadamente não planejem absolutamente nada. Não há sentido nisso; no entanto, elas podem, sim, estar planejando de forma equivocada. E aí entram muitas variáveis nesse sistema, tais como o desdobramento das estratégias da empresa no planejamento dos mais diversos níveis e áreas de uma organização, utilização de técnicas eficazes e equipes integradas, entre outras, só para citar alguns exemplos. No PPCP, a atividade de planejamento é de suma importância, e se revela, por exemplo, nas atividades de planejar a produção em função do tipo de sistema de produção adotado e na elaboração do plano mestre de produção (PMP), um dos documentos mais importantes para o planejamento, programação e controle da produção (PPCP), a ser tratado nesta etapa. TEMA 1 – PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO EMPURRADA X PUXADA Até aqui, estudamos, de forma mais conceitual, o que são os sistemas de produção empurrada e puxada. Nesta etapa, vamos entender como fazer a programação. Programando a produção empurrada: do inglês push system, a produção empurrada é um processo produtivo planejado, respaldado em uma previsão da demanda, baseado em ordens de produção e no MRP (assunto já tratado). Tem como principal característica a colocação de ordens de produção para cada processo, que produz uma determinada quantidade de itens, independentemente do consumo do processo seguinte. Outra característica desse tipo de sistema de produção é a de produzir, estocar e, em um segundo momento, vender o estoque aos clientes. Esse sistema é recomendado para empresas que precisam de certa quantidade de produtos em estoque para atender aos clientes, absorvendo, de certa forma, as variações de oferta e demanda. Para o programador do PCP, é necessário eficiência na condução desse processo, para minimizar a superprodução e, eventualmente, a falta do produto no cliente. Para prover um senso prático às afirmações anteriores, vamos utilizar um exemplo baseado na estrutura de produto já apresentado, para fabricação da cadeira modelo “X”. Para facilitar o entendimento, conforme a estrutura de produto, vamos supor que essa cadeira, de forma macro, para ser produzida deva passar por quatro setores distintos: a. setor de fabricação de assento; b. setor de fabricação de encosto; c. setor de fabricação de pés de cadeira; e d. setor de montagem. Na condição de produção empurrada, para os setores “A”, “B” e “C”, o PPCP deve programar a produção por meio de ordens de fabricação, utilizando o máximo possível do recurso que pode obter de cada setor. Embora os setores subsequentes necessitem dos trabalhos dos setores anteriores, não há um sincronismo temporal nesse sistema de produção, ou seja, o setor “A” irá produzir o máximo que ele pode produzir e empurrará a produção para o setor “B”, gerando estoques intermediários. Esses estoques são comumente conhecidos como WIP (work in process ou work in progress), que significa trabalho em processo ou trabalho em progresso, momento em que ainda não se tem o produto acabado. O setor será programado pelo PPCP por meio de uma ordem de montagem ou produção. A figura a seguir apresenta, de forma ilustrativa, como funciona a programação em um sistema de produção empurrada. Vale salientar que a condição alinhada dos setores não configura uma situação real de layout de uma empresa, sendo essa condição utilizada apenas para fins de apresentação. Figura 1 – Produção empurrada Fonte: Pansonato, 2022. No exemplo fictício anterior, existem estoques entre os setores, que, sem considerar os tempos de ciclos produtivos de cada setor, ocasionaria um lead time (fila) de 23 dias até chegar à montagem. Programando a produção puxada: do inglês pull system, a produção puxada é um processo produtivo planejado com base na demanda real do cliente, e é a partir dessa demanda que os sistemas produtivos são acionados. No sistema de produção puxada, o processo anterior será acionado somente quando o processo seguinte solicitar. De acordo com Pansonato (2019, p. 15), o objetivo da produção puxada é: O objetivo é construir um processo para fazer somente o que o próximo processo necessita e quando necessita, ou seja, o cliente é quem deve puxar o produto, puxar a produção e puxar o valor; caso contrário os processos fornecedores tenderão a fazer o que os clientes não precisam naquele momento, levando com essa prática ao excesso de produção, a formação de estoques desnecessários, a produção empurrada e consequentemente ao desperdício. (Pansonato, 2019, p. 15) Para o PCP, a programação deve ser feita no processo puxador, que, no caso da empresa que fabrica cadeiras, o setor “D”, que faz a montagem final do produto. A partir daí, e sob a coordenação do PCP, cartões kanban serão utilizados para que o processo puxador acione o processo anterior. Cabe também ao PPCP administrar os “mercados” de kanban que são utilizados durante o processo de fabricação. Esses mercados (pulmões), diferentemente dos estoques do sistema de produção empurrada, possuem poucos itens e servem como absorvedor de possíveis variações no processo produtivo e muito úteis para a gestão visual. Utilizando-se do mesmo processo produtivo apresentado anteriormente, vamos a um exemplo ilustrativo de programação de um sistema de produção puxada. Figura 2 – Produção puxada Fonte: Pansonato, 2022. Para operacionalizar a produção puxada, é necessário a utilização de uma técnica proveniente da filosofia lean manufacturing, denominada “heijunka” (ou nivelamento da produção), conforme verificamos em outro momento. Vamos fazer uma analogia com base na produção de cadeiras. Suponha que, além da cadeira modelo “X”, o fabricante tem uma demanda firme para produzir as cadeiras modelos “Y” e “Z”, conforme quadro a seguir. Quadro 1 – Demanda de modelos de cadeira Tipo de cadeira Demanda mensal Modelo "X" 20.000 Modelo "Y" 10.000 Modelo "Z" 5.000 As demandas anteriormente apresentadas são mensais, sendo que a empresa trabalha em média 20 dias ao mês em turno único, o que proporciona uma demandadiária de 1.750 unidades, com entregas semanais. Considerando uma programação baseada no sistema de produção empurrada, provavelmente seriam fabricadas, primeiramente, as 20 mil cadeiras do modelo “X” e, em seguida, as 10 mil cadeiras do modelo “Y” e, por fim, as cinco mil cadeiras do modelo “Z”. Em uma programação baseada no sistema de produção puxada, provavelmente seriam produzidos diariamente todos os tipos de modelo, utilizando a técnica heijunka, proporcionando uma programação conforme mostramos a seguir: Quadro 2 – Técnica heijunka Tipo de cadeira Demanda mensal Demanda diária Modelo "X" 20.000 1.000 Modelo "Y" 10.000 500 Modelo "Z" 5.000 250 Nessa programação, são produzidos todos os modelos, diariamente, a fim de reduzir os níveis de estoque, tanto de matérias-primas e componentes quanto de produto acabado. Obviamente, para implantar essa forma de programação, é necessário uma série de ajustes nos sistemas produtivos, entre eles a redução do tempo de setup, assunto que veremos ainda nesta etapa. Embora a produção puxada se apresente como algo mais aparentemente inovador, não se pode descartar a produção empurrada, que, algumas vezes, pode ser a melhor solução. A decisão de se utilizar uma programação baseada no sistema de produção empurrada, ou puxada, com certeza passa pelos profissionais de PPCP, que devem ter conhecimento e compreensão das vantagens e desvantagens para programação de cada sistema de produção. TEMA 2 – PLANO MESTRE DE PRODUÇÃO Conforme já vimos, o planejamento da produção se desenvolve em três níveis: longo prazo, com o planejamento estratégico da produção (ou plano de produção), médio prazo, com o plano mestre de produção, que vamos tratar agora. O plano mestre de produção propicia um desdobramento do planejamento estratégico (plano de produção ou plano agregado), expressando para o planejamento de curto prazo a tática concebida. De acordo com Tubino (2017, p. 82), o planejamento-mestre da produção está encarregado de desmembrar os planos produtivos estratégicos de longo prazo em planos específicos de produtos acabados (bens ou serviços) para o médio prazo, no sentido de direcionar as etapas de programação e execução das atividades operacionais da empresa (montagem, fabricação e compras). O PMP (plano mestre de produção) pode ser elaborado de formas diferentes em função do produto a ser fabricado. Em caso de um produto contínuo, como uma refinaria de petróleo, por exemplo, o plano mestre de produção (PMP) define a velocidade de produção, com foco na logística de suprimento de matérias-primas e na distribuição de produtos acabados. No caso de um produto discreto, como um automóvel, por exemplo, define a velocidade de produção, com foco no abastecimento de matérias-primas e componentes nos supermercados internos de peças e na entrega de produtos acabados. O plano mestre de produção (PMP) leva em consideração aspectos importantes, como previsão de demanda, horizonte de planejamento, que pode ser semanal, mensal e até anual, e mix de produtos, que engloba os modelos e quantidades de produtos que serão produzidos. O PMP se traduz em um documento que tem influência e participação de várias áreas em uma empresa. A área de marketing e vendas é responsável pela previsão de demanda para os períodos propostos; o setor de finanças se encarrega de controlar os gastos com compras, estoques, horas extras e manutenção de máquinas e instalações; o pessoal de engenharia de produção se encarrega de apresentar a estrutura de produto e o de engenharia de processos os tempos padrões e os métodos de produção; o departamento de compras se encarrega do suprimento de itens para produção, com o suporte da logística inbound; a área de gestão de pessoas apresentará o plano de contratação e treinamento em função das necessidades etc. O PMP, também conhecido como master production scheduning (MPS), possui um horizonte de tempo que depende de fatores, como tipo do produto, políticas de estoque, prazos de entrega de matéria-prima e volume de produção (Bezerra, 2013, p. 69). Essas variáveis fazem com que o PMP tenha prazos mais curtos do que os previstos no plano estratégico de produção. Ainda utilizando a fábrica de cadeiras, a seguir apresentamos um exemplo simples e bem resumido de um plano mestre de produção (PMP). Quadro 3 – Plano Mestre de Produção (PMP) Semanas Tipo de cadeira 1 2 3 4 5 6 7 8 Modelo "X" 5.000 4.000 6.000 4.000 5.000 4.500 5.000 6.500 Modelo "Y" 2.500 3.500 2.750 2.500 2.750 3.250 2.750 Modelo "Z" 1.250 1.250 2.250 1.000 1.000 1.000 2.250 Total 8.750 8.750 8.750 8.750 8.750 8.750 8.750 8.750 Nesse caso específico, em função dos fatores apresentados anteriormente, existem variações na programação dos tipos de cadeiras, porém obedecendo o plano de produção (estratégico). Na elaboração de um plano mestre de produção (PMP), um fator que deve ser considerado refere-se aos estoques. Quadro 4 – Estoques O quadro anterior apresenta um plano mestre de produção (PMP) com informações sobre os estoques inicial e final e a respectiva programação para atender à demanda. Veremos essa planilha em detalhes na seção “Na Prática” desta etapa. TEMA 3 – A INFLUÊNCIA DO TEMPO DE SETUP NA PROGRAMAÇÃO Algumas vezes negligenciado pelos programadores da área de PCP, o tempo de setup pode ser um balizador no atendimento ou não das demandas dos clientes. Crédito: tynyuk/Shutterstock. De forma genérica, na abordagem de assuntos referentes à produção, o termo setup pode ser definido como o tempo de parada de uma máquina ou equipamento entre a produção de um item anterior até a produção do primeiro item do próximo lote. Fazendo uma analogia com uma corrida de Fórmula 1, seria algo como a parada de um carro no box para troca de pneus. No momento da parada, o piloto, efetivamente, e seu carro não estão competindo, pois não estão na pista de corrida. Devido a essa não agregação de valor em relação direta com a corrida, as equipes buscam reduzir ao máximo esse tempo. O termo setup, ou redução do tempo de setup, pode ser encontrado também como redução do tempo de troca, TRF (troca rápida de ferramenta) ou SMED (single minute exchange of die), que, traduzido para o português de uma forma técnica, seria algo como troca de molde em menos de 10 minutos. Esse último termo foi bastante estudado na década de 1950, quando um desafio técnico foi proposto ao engenheiro japonês Shigeo Shingo na planta da empresa Mazda. O primeiro desafio foi reduzir o tempo de setup de uma prensa de mil toneladas de quatro horas para duas horas. Shingo atingiu o objetivo de 90 minutos após seis meses de estudos e, como se não bastasse, ele recebeu outro desafio, só que de três minutos, que ele conseguiu atingir três meses depois, dando início ao termo SMED dentro das empresas, principalmente as que utilizavam a filosofia lean. Voltando ao exemplo da fabricação de cadeiras, toda vez que ocorre a troca do modelo “X” para o modelo “Y” ou modelo “Z”, há a necessidade de preparação das máquinas e equipamentos para que se consiga produzi-los. Essa necessidade de reduzir os tempos de setup torna-se ainda mais importante quando se opta pela produção puxada por meio do nivelamento da produção (heijunka). Lotes menores exigem trocas de modelos em produção de forma constante, e, se os tempos de setup não forem reduzidos, ao optar por esse sistema de produção, a possibilidade de sucesso pode não ser alcançada. Se o programador do setor de PPCP não se atentar a esses detalhes, há grandes possibilidades de não atingir as demandas dos clientes. Muitas vezes, para o programador, seria mais fácil e confortável produzir lotes maiores, pois possibilita amortizar todo o tempo despendido no setup em um volume maior de peças. O exemplo a seguir mostra o esforço em reduzir o tempo unitário de produção das peças (1,024 minuto, conforme exemplo a seguir), aumentando-se o tamanho do lote (mil peças), ou seja, diluindo o tempo de setup (240 min.) namaior quantidade de peças possíveis. Quadro 5 – Tempo unitário de produção das peças Tempo de setup Tempo de usinagem (por peça) Tamanho do lote Tempo total (por peça) 240 min. 1 min. 100 1+240/100=3,4 min. 240 min. 1 min. 1.000 1+240/1000=1,24 min. 240 min. 1 min. 1.000 1+240/10000=1,024 min. Ao se optar pela produção puxada, em que predomina a programação de lotes menores, deve- se diminuir continuamente o tempo de setup. O exemplo a seguir apresenta um trabalho de redução do tempo de setup de 240 para três minutos, com lote de 100 peças e mantendo-se praticamente o tempo unitário da condição anterior. Quadro 6 – Redução do tempo de setup Tempo de setup Tempo de usinagem (por peça) Tamanho do lote Tempo total (por peça) 240 min. 1 min. 100 1+240/100=3,4 min. 120 min. 1 min. 100 1+120/100=2,2 min. 60 min. 1 min. 100 1+60/100=1,6 min. 3 min. 1 min. 100 1+3/100=1,03 min. Para o profissional de PPCP, deve estar muito clara a programação da produção e os tempos de setup na definição do sistema de produção adotada (empurrada ou puxada). Mas há outra variável que age sobre os tempos de ciclo (e também no tempo padrão) que, muitas vezes, interfere na programação. Trocas de ferramentas podem ocorrer não apenas quando se substitui a produção de um item, mas também durante a sua produção, e isso pode causar um grande problema na programação se os tempos dessas trocas não forem considerados. Leve em conta que, para a produção de cadeiras, no corte de um item de madeira cujo tempo de ciclo da máquina seja de 15 segundos (restrição da linha), e que seja necessário trocar uma serra circular a cada 90 peças produzidas e que o tempo para essa troca seja de três minutos (tempos e quantidade de peças fictícios). Crédito: tynyuk/Shutterstock. Para resolver esse problema, podemos fazer uso da equação a seguir: Em que: Ts= tempo para troca de ferramentas; P= peças por troca de ferramentas; Tp= tempo padrão (ou tempo de ciclo); Tf= tempo para embalagem; e F= peças por embalagem. Como no nosso exemplo, não estamos considerando tempo para embalagem, “tf” e “f” devem ser desconsiderados. Vamos ver como ficaria com o exemplo anterior. Portanto, para a programação desse componente da cadeira, o tempo de ciclo a ser utilizado deverá ser de 17 segundos, em vez de 15 segundos. Esses dois segundos, isoladamente, talvez não representem algo considerável; no entanto, em volumes maiores, faz toda a diferença. No nosso caso, ao se optar pelo tempo de 15 segundos, a produção seria de 240 peças por hora; no entanto, utilizando o tempo de ciclo real, de 17 segundos, a produção horária seria de 211 peças. Uma diferença razoável. Faça uma analogia em um dia e uma semana de trabalho para se obter a diferença de capacidade produtiva. TEMA 4 – GESTÃO DE ESTOQUES No tópico 2 desta etapa, foi apresentado um exemplo resumido de um plano mestre de produção (PMP) com o controle de estoques inicial e final. Embora não seja uma atribuição direta do planejamento, programação e controle de produção (PPCP), a gestão de estoques (parte da administração de materiais) tem influência direta nos processos do PPCP. Boa parte dos gastos de uma empresa industrial é proveniente da aquisição de materiais, sejam eles produtivos ou improdutivos; portanto, esses gastos precisam ser minimizados. Conforme Paranhos Filho (2012, p. 281), em uma empresa industrial, a administração eficiente de materiais é fator preponderante para o seu sucesso, pois os materiais em geral representam parcela significativa do capital de giro necessário para o seu funcionamento. O PCP, como qualquer outro departamento de uma empresa, sofre influência da política organizacional, e, muitas vezes, tem que se adaptar a essa política. Por exemplo: se a empresa tem como política industrial utilizar os equipamentos fabris no máximo de sua capacidade, com certeza essa forma de administrar irá proporcionar muitos nichos de estoque pela empresa. Nessa forma de gerir os estoques, as máquinas devem ficar sempre carregadas, e qualquer ociosidade do equipamento é considerada como uma falha grave e uma irresponsabilidade do gestor. A figura a seguir apresenta como ocorre a pressão por aumento de estoques. Figura 3 – Pressão da organização pelo aumento de estoques Fonte: Pansonato, baseado em Paranhos Filho (2012, p. 283). Conforme figura anterior, cada setor tem sua justificativa (ou desculpa) para trabalhar com estoque elevado, porém, esse “conforto” coletivo pressiona, por outro lado, a necessidade de maior capital de giro, principalmente pelos materiais em estoque. A filosofia lean manufacturing (ou produção enxuta) procura desmistificar a política de altos estoques, ao preconizar o just-in-time (JIT) como um dos seus principais pilares. A gestão de estoques em empresas que optam pela utilização do JIT é menos confortável, pois pressiona as áreas envolvidas a buscar o máximo de eficiência para manter o sistema em funcionamento. Para o PPCP, a responsabilidade por eventual falta e parada de produção é muito maior quando da utilização do sistema just-in-time; no entanto, os ganhos com redução de custos relativos aos estoques, tanto de matérias-primas (MP) e componentes quanto de produto acabado (PA), compensam esse esforço. O giro de estoques deve ser alto, ou seja, girar o máximo possível dentro de um período estipulado, o que proporciona almoxarifados menores e mais eficientes. Para uma gestão de estoque eficiente, é necessário que se tenha uma classificação de materiais. Entre as mais utilizadas, deve-se destacar a curva ABC, que classifica os materiais em função do valor e utilização, para que o gestor priorize as decisões quanto aos esforços despendidos nos gastos com estoque. TEMA 5 – VOLUME E RESSUPRIMENTO Como apresentado no exemplo de um PMP no tópico 2, os estoques e seus respectivos ressuprimentos são de grande importância para o PPCP. Embora a intuição, em alguns casos, possa ser empregada na tomada de decisão, estamos aprendendo em nossa caminhada que dados e informações objetivas podem nos ajudar a tomar decisões mais assertivas. Como saber meu estoque de segurança? Com quantas peças em estoque eu devo disparar um pedido de compras? Qual seria meu estoque máximo? Para responder a essa e outras perguntas, vamos a um exemplo prático utilizando o método com grau de atendimento definido (MGDA), conforme terminologia apresentada a seguir. emax. = estoque máximo; emin. = estoque mínimo; em. = estoque médio; es = estoque de segurança (ou emin = estoque mínino); cm = consumo médio; tr = tempo de reposição; e pp = tempo de pedido (quantidade em função do tempo de reposição). Considere que uma empresa fez um levantamento dos últimos 12 meses para um estudo para obtenção do estoque de segurança, ponto de pedido e estoque máximo. Os dados coletados no almoxarifado foram os seguintes: A 1 4.000 2 3.650 3 3.800 4 3.500 5 4.100 6 3.500 7 4.200 8 3.450 9 4.060 10 3.800 11 4.000 12 3.650 A seguir, apresentamos os passos para a obtenção dos questionamentos anteriores: passo 1: obter a média dos últimos 12 meses. De acordo com a tabela anterior, a média de consumo foi de 3.809 peças; passo 2: obter o fator “k” em função do grau de atendimento (95%), conforme quadro a seguir. Índice de 95% refere-se a um risco de 5%. K = 1,645. Quadro 7 – Índice de risco “K” Fonte: Russo, 2013, p. 133. passo 3: determinar fórmula para cálculo do estoque mínimo (ou estoque de segurança). E.mín. = σ . k Em que: σ = desvio padrão do consumo; k = coeficiente de risco (ver tabela anterior). passo 4: determinar fórmula para cálculo do desvio padrão. Por meio de uma planilha eletrônica (Excel, por exemplo), utilize a fórmula de desvio padrão da amostra: =DESVPAD.A(A1:A12) O resultado esperado é: 260,09 - portanto: σ = 260,09 Voltando à fórmula de estoque mínimo (ou de segurança): passo 5: calcular o estoque mínimo (segurança), multiplicando o desvio padrão pelo coeficiente de risco “k”:E min = σ * k E min = 260,09 * 1,645 E min = 427 peças passo 6: calcular o ponto de pedido, considerando que o tempo de reposição (TR) desse item é de 10 dias a partir do pedido colocado. Deve-se multiplicar o consumo médio pelo tempo de reposição (mensal) e adicionar o estoque mínimo (segurança). PP = (Cm * TR) + E min. PP = (3.809 * (10/30)) + 427 PP = 1.696 peças Passo 7: Calcular o estoque máximo. E max = Cm + E min E max = 3.809 + 427 E max = 4.236 peças Veja como fica em um gráfico de controle de estoque (“dente de serra”). Gráfico 1 – Gráfico "dente de serra" Fonte: Pansonato, 2022. O gráfico anterior, bastante utilizado para explicar fenômenos relativos ao controle de estoque, mostra que, ao iniciar com um estoque máximo de 4.236 peças (quantidade no eixo “Y”), o consumo ocorre com o passar do tempo (tempo (dias) no eixo “X”). Quando se atinge o valor de 1.696 peças em estoque, é realizado um pedido de compras de 3.809 peças, que deverão ser entregues em até 10 dias (TR), para preservar o estoque de segurança (mínimo) de 427 peças. Ressalva-se aqui que o gráfico anteriormente apresentado mostra uma situação perfeita de consumo e ressuprimento, o que nem sempre ocorre no cotidiano das empresas, porém os valores calculados permanecem e garantem um nível de atendimento de 95%. Vale salientar que todos os cálculos apresentados podem fazer parte de uma planilha eletrônica ou até de um sistema ERP. NA PRÁTICA Vamos fazer um plano mestre de produção (PMP)? Utilize os mesmos dados do tópico 2 e cole em uma planilha eletrônica (Excel). Depois, siga as instruções a seguir, para que a planilha opere de modo automático. Para facilitar, em material complementar, temos uma planilha PMP com os dados a seguir. Figura 4 – Instrução para elaboração do PMP Fonte: Pansonato, 2022. FINALIZANDO Chegamos ao fim desta etapa sobre PPCP. Não basta apenas compreender a diferença entre produção empurrada e produção puxada: para um profissional de PPCP, é necessário saber como programar. E isso nós vimos no tópico 1. Hoje, você já é capaz de fazer um plano mestre de produção (PMP) básico, por meio de um exemplo apresentado na seção “Na prática”. A partir de agora, você compreende a influência dos tempos de setup na programação e definição da capacidade produtiva. E, para encerrar a nossa etapa, aprendemos conceitos sobre gestão de estoques e de volume e ressuprimento, com um exemplo prático bem interessante. Até a próxima! REFERÊNCIAS BEZERRA, C. T.; Técnicas de planejamento, programação e controle da produção. Curitiba, Intersaberes, 2013. PANSONATO, R. C. Lean manufacturing. Curitiba: Contentus, 2020. PARANHOS FILHO, M.; Gestão da produção industrial. Curitiba, Intersaberes, 2012. RUSSO, C. P.: Armazenagem, controle e distribuição. Curitiba: Intersaberes, 2013. SANTOS, A. P. L.; Planejamento, programação e controle da produção. Curitiba, Intersaberes, 2015. TUBINO, D. F.; Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
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