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Controle de Qualidade de Produtos Farmacêuticos Responsável pelo Conteúdo: Prof.a Dr.ª Mirela Cardoso Garcia Revisão Textual: Prof.a Dr.a Selma Aparecida Cesarin Revisão Técnica: Prof. Dr. Everton Carlos Gomes Controle de Qualidade Microbiológico Controle de Qualidade Microbiológico • Aprender sobre testes microbiológicos de controle de qualidade. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Controle Microbiológico de Medicamentos; • Controle Microbiológicos para Produtos Não Estéreis; • Controle de Qualidade Microbiológico para Produtos Estéreis (Injetáveis, Colírios e Correlatos para Saúde); • Conservantes. UNIDADE Controle de Qualidade Microbiológico Controle Microbiológico de Medicamentos Crescimento Microbiano Fatores necessários ao crescimento: • Físicos: pH, temperatura, pressões hidrostática e osmótica; • Químicos: fontes de C, nitrogênio, oxigênio, fósforo, enxofre, oligoelementos e fatores orgânicos. Quadro 1 – Fatores Físicos Temperatura Existem microrganismos termófilos (crescem em temperatura alta), mesófilos (crescem em temperaturas moderadas) e psicrófilos (cres- cem em temperaturas mais baixas). • Temperatura: a maioria cresce em temperaturas ideais para o homem. • Temperatura mínima de crescimento: menor temperatura na qual é capaz que os microrganismos cresçam; • Temperatura ótima: temperatura na qual o micro-organismo mais cresce; • Temperatura máxima: maior temperatura em que ainda pode ocor- rer crescimento microbiano. pH A maioria cresce em pH 6,5-7,5. Mas temos também as acidófilas, que crescem em pH baixo, e as basófilas, que crescem em pH alto. Pressão Hidrostática Pressão aplicada a um líquido, em que uma pressão elevada não esma- ga o microrganismo. A água passa imediatamente pela membrana da célula, igualando a pressão de fora e a de dentro. Pressão Osmótica Microrganismos são compostos por 80-90% de água e quando ocor- re aumento da pressão osmótica, há remoção da água celular, cau- sando plasmólise. Fases do Crescimento Microbiano 1 2 3 4 Figura 1 Fonte: Adaptada de SERRANO, 2005. p. 39-54 8 9 1. Fase lag: Período de adaptação ao novo meio. Ocorre síntese de enzimas e NÃO há multiplicação celular. Entretanto, as células aumentam de tamanho e se preparam para divisã o; 2. Fase log: Alto crescimento de microbianos (exponencialmente), fim da síntese de enzimas, absorvem todo nutriente do meio e têm alta atividade metabólic a; 3. Fase estacionária: Fim dos nutrientes. O número de células mortas = o nú- mero de células novas e começa o acúmulo de metabólitos tóxico s; 4. Fase de declínio: O número de células mortas é maior que o de células no- vas. As células perdem a capacidade de se dividir e ocorre morte celular. Meios de Cultura São preparações que possuem nutrientes necessários para os microrganismos se multiplicarem, ou seja, açúcar, nitrogênio, fontes de carbono etc. O ágar é meio de cultura obtido a partir de algas marinhas vermelhas, formado por uma composição de agarose e agaropectina. São classificados de diversas formas, expostas a seguir. Quadro 2 Composição • Naturais: são encontrados na Natureza, de origem vegetal ou animal; • Artificiais: fabricados em Laboratório, onde se conhece sua compo- sição, meios suplementados com sangue etc. Estado Físico • Líquidos: caldos desprovidos de ágar. Exemplo: caldo tioglicolato; • Semissólidos: apresentam até 1% de ágar; • Sólidos: apresentam 1,5 até 2,5 de ágar. Exemplo: ÁgarvMcConkey. Finalidades e Características • Simples: só possui nutrientes básicos para o crescimento microbiano. Exemplo: TSA e TSB; • Enriquecido: além dos elementos básicos, possui elementos nutriti- vos, porém não é específico; • Seletivo: possui agentes inibidores de determinado microrganismo e identifica, o isolante do microrganismo necessário. Exemplo: Ágar McConkey – crescimentos de bacilos gram negativo; • Diferencial: permite a diferenciação de microrganismos diferentes, Exemplo: Ágar McConkey – diferencia bactérias fermentadoras e não fermentadoras de lactose; • Indicadores: permite a análise bioquímica do micro-organismo para sua identificação; • Estoque: meios onde são estocadas culturas para posterior utiliza- ção. Exemplo: Ágar Sabouraud. 9 UNIDADE Controle de Qualidade Microbiológico Controle Microbiológicos para Produtos Não Estéreis São produtos orais e tópicos que NÃO tem como requerimento serem estéreis, po- rém não podem conter micro-organismo patogênico. Quais são esses microrganismos patogênicos? • Salmonella sp; • Pseudomonas aeruginosa; • Escherichia coli; • Staphylococcus aureus. Já as saprófitas toleram carga microbiana. O que a alta contaminação causa? • Alterações nas propriedades físico-químicas do produto; • Risco à saúde do usuário. Qual o objetivo do Controle de Qualidade nesses casos? • Comprovar ausência de microrganismos patogênicos; • Determinar o número de microrganismos viáveis. Fontes de Contaminação • Direta: água, matéria-prima e material da embalagem; • Indiretas: instalações inadequadas, operadores, processos não validados e sistema. Método de Análise Amostragem Determinação Numérica Isolamento e Identi�cação dos microrganismos Figura 2 Amostragem • Matéria-prima: barricas, galões ou sacas √n + 1. Utiliza-se o pool, que é a mistura dos conteúdos das diferentes unidades. A amostra de 100g ou 100ml é suficiente; • Produto acabado: duplicata de amostra do início, meio e fim da produção; • Comprimidos ou cápsulas: 100g; • Semissólidos ou líquido a granel: 100g ou 100ml; • Sachês: 100g, porém de 10 sachês diferentes. 10 11 Diluentes • Soluções que podem conter inativante do conservante; • Solução NaCl 0,9% estéril; • Solução NaCl 0,9% estéril e peptonada a 0,1% estéril; • Tampão fosfato pH aproximadamente 7,0; • Caldo lactosado estéril; • Diluente universal: 3% de polissorbato 80; peptona 0,2% e lecitina3%. Preparo das Amostras • Tomada de ensaio (10g ou 10ml) para cada frasco com diluente; • Comprimidos devem ser triturados; • Pomadas, cremes e géis podem ser dispersos no diluente com leve aquecimento, e adicionar tensoativo, se necessário. Metodologias Semeadura em profundidade (Pour plate) • Adiciona-se 1ml da amostra preparada em diluições já conhecidas, na Placa de Petri estéril; • Adiciona-se meio de cultura não seletivo, estéril, fundido e resfriado à temperatura de 45-80°C. Cerca de 20ml é vertido e homogeneizado com movimentos de 8 ou de S; • Pode ser utilizado ágar, caseína, soja ou Sabouraud-dextrose; • Deixar o meio se solidificar; • Incubar; • Contagem de microrganismos UFC/g ou ml – UFC=unidade de formação de colônia; • Fazer duplicata ou triplicata. Vantagens • Alíquota com maior representatividade; • Boa visualização de colônias. Desvantagens • Afeta micro-organismo sensível ao calor; • Menor precisão à baixa carga microbiana. Calcula-se Número de colônias por diluição x fator de diluição = UFC/mg ou ml. 11 UNIDADE Controle de Qualidade Microbiológico Amostra 1 mL 1 mL 1 mL 1 mL 1 mL 1 mL 1 mL de amostra para 9 mL de diluente 1/10 10-1 1/100 10-2 1/1000 10-3 1/10000 10-4 1/100000 10-5 1/1000000 10-8 Figura 3 Plaqueamento de 1ml de cada diluição Número excessivo de colônias UFC/mg ou ml = 6 colônias x 10-4 6 colônias 2 colônias Não dá pra contar Figura 4 Vantagens Não afeta micro-organismos ao calor e ótima visualização de colônias. Desvantagens Baixa precisão para carga baixa microbiana e não se aplica a amostras com carga menor que 2UFC/g. Membrana filtrante • Alíquotas do produto ou diluições são filtradas em membranas apropriadas (045µm – 47mm de diâmetro); • Coloca-se a membrana sobre a placa de petri contendo meio de cultura solidificado; • Incubar; • Fazer contagem. / 100 diluição volume do frascoNúmero decolônias UFC g volume filtrado × × = Vantagens Permite amostragem de volumes elevados, não afeta micro-organismos sensíveis ao calor. Desvantagens Somente amostras solúveis no diluente, custo elevado e cuidadocom a membrana. 12 13 Número Mais Provável (NMP) • Preparar diluições 1:10/1:100/ 1:1000 feitas a partir da primeira solução; • Transferir 1ml para tudo e adicionar 9ml de TSB (fazer em triplicata); • Incubar; • Encontrar o número de tubos que turvou + e o que não houve turvação; • Determinar o NMP de acordo com a Tabela e tubo controle. Vantagens • Não afeta micro-organismos ao calor; • Alta sensibilidade (meio líquido). Desvantagens • Baixa precisão; • Impossível examinar características das colônias. Controle de Qualidade Microbiológico para Produtos Estéreis (Injetáveis, Colírios e Correlatos para Saúde) • Esterilização: destruição ou eliminação TOTAL dos micro-organismos; • Processo de esterilização. Tabela 1 Físicos Térmicos Químicos Físico Não Térmicos Calor seco Esterilização por gases Luz ultravioleta Calor úmido Radiação ionizante Filtração Fonte: SERRANO, 2005. p. 39-54 • Produtos estéreis não devem conter pirogênios ou endotoxinas; • Utiliza-se água para injetáveis nas análises. Finalidade Avaliar ausências de qualquer tipo de micro-organismo (inclusive viáveis) de produtos que foram submetidos a algum processo de esterilização. 13 UNIDADE Controle de Qualidade Microbiológico Área para Realização do Teste • Sala pequena com capela de fluxo laminar horizontal (deve ser ligada 30 minutos antes); • Sala limpa e asséptica por métodos eficazes; • Antecâmara para entrada de pessoas, com sala prévia para paramentação dos analistas. Meios de Cultura • Devem ser esterilizados em autoclave; • Devem permitir desenvolvimento de uma larga gama de microrganismos; • Geralmente, são empregados meios líquidos, e no mínimo 2; • Tempo de incubação de 14 dias. Tabela 2 Meio Tioglicolato Caseína-soja Temp. de incubação 30 – 37ºC 20 – 25ºC Tempo de incubação 14 dias 14 dias Ph ótimo 7,1 ± 0,2 7,3 ± 0,2 Fonte: SERRANO, 2005. p. 39-54 Preparação da amostra • Desinfecção da superfície externa (frasco, ampola, embalagem) por nebulização ou imersão em solução antisséptica; • Aguardar a remoção do agente químico; • As embalagens devem ser abertas somente no momento da inoculação; • Identificar as amostras. Método Direto ou Inoculação Direta • A amostra é diretamente inoculada no meio de cultura; • Volume do inóculo deve ser 10% do volume do meio; • Se tiver conservantes/antimicrobianos, eles precisam ser inativados; • Após a preparação da amostra, devem ser incubadas por 14 dias. • 3 tubos: » 1 meio; » 2 meio + microrganismo; » 3 meio + produto em análise. 14 15 Desvantagem Aprovação de lote contaminado por amostragem pequena ou residual de agente antimicrobiano. Método Indireto ou por Filtração • Não há contato direto do produto com os meios; • O produto é filtrado através de membrana estéril que deve ser escolhida de acordo com o material a ser testado e sem afinidade com agentes antimicrobianos. A mais utilizada é composta por ésteres de celulose. São utilizados fluidos de lavagem da membrana a fim de retirar o efeito bacteriostáti- co/fungiostático e interferentes do método; • Fluidos: » H2O peptonada pH 7,0; » H2O peptonada pH 7,0 + Tween 80 0,1%; » H2O peptonada pH 7,0 + Tween 80 0,1% + Extrato de carne. » Devem ser entubados por 14 dias, juntamente com o branco das amostras. Vantagens • Técnica mais sensível; • Menor volume de meio; • Menor preocupação com falso. Desvantagens Há maior manipulação da amostra, podendo ocasionar resultados falsos +. Método Indireto por Sistema Fechado (Steritest ®) • Não há manipulação da membrana filtrante; • Abrange produtos com grandes volumes (1ml até 5l); • Diminuição de contaminação durante o teste; • Facilidade operacional. Resultados • Turvação do meio = +; • Não turvação do meio = –. 15 UNIDADE Controle de Qualidade Microbiológico Conservantes São substâncias com efeito antimicrobiano incorporado aos produtos a fim de evitar a proliferação de microrganismos neles e assegurar sua estabilidade. São intrinsicamente tóxicas, portanto, deve ser utilizada a menor concentração possível. Características de um bom conservante • Apresentar amplo espectro de ação; • Ser efetivo em ampla faixa de pH; • Ser compatível com as demais matérias-primas da formulação; • Não afetar as características físicas do produto; • Ser seguro; • Baixo custo; • Estar de acordo com a Legislação vigente; • Sua concentração deve ser mantida durante o prazo de validade; • Inativar rapidamente os contaminantes. Challenge-test ou Teste do desafio Determina o tipo e a concentração mínima efetiva da conservante requerida para conservar o produto durante todo o processo de fabricação e utilização do paciente. Condições para o teste de eficácia • Quantidade de amostra: mínimo 20g ou 20ml; • Carga do inóculo não mais que 1% do volume da amostra; • Intervalos de tempo após inoculação: » Inicial; » 6 horas; » 1 dia; » 2 dias; » 7 dias; » 14 dias; » 28 dias. 16 17 Produto com sua embalagem �nal Contaminação com microrganismos teste (contagem previamente determinada) Determinação da carga sobrevivente nos intervalos de tempo (até 28 dias) Figura 5 Vantagem Determinar a velocidade de morte de cada micro-organismo. Microrganismos utilizados • Escherichia coli; • Staphylococcus aureus; • Pseudomonas aeruginosa; • Candida albicans; • Aspergillus niger. 17 UNIDADE Controle de Qualidade Microbiológico Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Controle microbiológico de drogas vegetais comercializadas na região central do Rio Grande do Sul https://bit.ly/2YjwWIs Controle de qualidade microbiológico de medicamentos estéreis https://bit.ly/39nUq5i Farmacopeia Brasileira https://bit.ly/2Mnzr9T Fernanda Drumond destaca a importância do Challenge Test https://bit.ly/39krgUF Teste do desafio microbiano em cosméticos – Challenge Test https://bit.ly/3pmwGnL 18 19 Referências AMARAL, F. D. Análise de riscos e pontos críticos de contaminação microbiana na manipulação de produtos e insumos farmacêuticos. Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial – ICTQ, Anápolis – Goiás, 2010. EUDRALEXEMPLO. Manufacture of Sterile Medicinal Products. EU Guidelines to Good Manufacturing Practice Medicinal Products for Human and Veterinary Use, European Commission, v. 4, 2008. OLIVEIRA, A. R. M.; GAITANI, C. M. Controle de qualidade. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019. v. 11. (e-book) SERRANO, S. H. P. et al. Controle Físico-Químico e Qualidade de medicamentos. Campo Grande: Uniderp, 2005. p. 39-54. WHYTE, W. Tecnologia de salas limpas. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. 19
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