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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” 
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA 
 
 
 
 
 
 
A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: 
UM ESTUDO REALIZADO NO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA 
 
 
 
 
 
 
A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: 
UM ESTUDO REALIZADO NO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP 
 
 
 
Dissertação apresentada à Faculdade de 
Ciências Humanas e Sociais, Universidade 
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 
como pré-requisito para a obtenção do título de 
Mestre em Serviço Social. Área de 
Concentração: Mundo do Trabalho e Serviço 
Social 
 
Orientadora: Profa. Dra. Josiani Julião Alves de 
Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Teixeira, Laís Vila Verde. 
 A pessoa idosa na atual configuração do mundo do trabalho : 
 um estudo realizado no município de Franca/SP / Laís Vila Verde 
 Teixeira. – Franca : [s.n.], 2016. 
 
 138 f. 
 
 Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Universidade Esta- 
 dual Paulista. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. 
 Orientadora: Josiani Julião Alves de Oliveira 
 
 1. Serviço social com idosos. 2. Envelhecimento. 
 3. Idade e emprego. I. Título. 
 CDD – 362.8996 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA 
 
 
 
 
 
A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: 
UM ESTUDO REALIZADO DO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP 
 
 
 
 
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito 
para a obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração 
Mundo do Trabalho e Serviço Social. 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
Presidente: _________________________________________________________ 
Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira 
 
 
 
 
1° Examinador: ______________________________________________________ 
Profa. Dra. Maria Zita Figueiredo Gera – Uni-Facef 
 
 
 
 
 
2° Examinador: ______________________________________________________ 
Profa. Dra. Nayara Hakime Dutra de Oliveira – FCHS/ Unesp 
 
 
 
 
 
Franca, ____ de ________ de 2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICO A 
Você, Mãe, que hoje está nos jardins da eternidade, onde o sofrimento e a angústia 
foram transformados em amor pelas mãos de Nosso Senhor. Este trabalho dedico a 
você em retribuição singela de tudo o que fez por mim até o dia em que Deus te 
chamou para ir com Ele à morada celestial. Tudo o que eu conquistar nesta vida te 
entrego em honra dos seus cuidados e amor por mim. 
Infelizmente Deus não te fez eterna para estar comigo em todos os momentos da 
vida, mas saiba que tudo o que ensinou guardei em meu coração, nossas almas se 
unem através da oração e é assim que eu sigo a vida hoje, na certeza de que está 
comigo onde quer que eu vá. 
MÃE, para sempre te amarei...daqui até a eternidade! 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À Deus Pai, Filho e Espírito Santo... 
 
Agradeço, primeiramente, a Deus pela presença constante durante o 
período do Mestrado. Muitas vezes, encontrei-me sem forças e lá estava ele para 
ajudar, apoiar-me e me orientar. Hoje, sei que se não fosse minha Fé e a vontade de 
terminar esta etapa, certamente, não teria chegado até o fim. 
À Maria Santíssima que sempre me acompanhou nas horas mais aflitas 
nesse período, amparando e guiando-me frente às adversidades, sendo meu 
modelo de paciência, tolerância, amor, perseverança e misericórdia para chegar ao 
final desta jornada. Ó minha Mãe querida, obrigada por ser meu sustento na 
ausência de minha mãe e por toda proteção e cuidado que me trouxe até aqui. 
 
À minha Família... 
 
Com toda a paciência e cuidado não me deixaram desanimar, pelo 
contrário, fortaleceram e incentivaram-me a realizar meu sonho. Vocês foram e são 
sempre parte importante e insubstituível de toda essa caminhada, seja me apoiando 
em minhas decisões ou me cobrando persistência quando o cansaço e o desânimo 
chegavam a me abater. Sem vocês, Cibelle, Nubia e pai, eu não teria conseguido, e 
mesmo com tudo o que nós passamos nestes últimos anos, lutando junto com a 
mãe contra o câncer, vocês foram rocha firme para que eu pudesse apoiar-me e em 
nenhum momento pediram-me para parar, pelo contrário, não me deixaram 
desanimar. Obrigada por tudo. Sei que ela está muito feliz por mim e por nós, pois 
não deixamos de seguir em frente, apesar que sua falta é grande no meio de nós, 
mas o que ela nos deixou é bagagem para se carregar nas costas a vida toda. 
Obrigada mãe por seu apoio e dedicação enquanto esteve comigo, minha 
companheira de troca de ideias, meu poço de conselhos, minha fortaleza, o 
Mestrado é mais seu do que meu, porque foi por você que eu comecei esta etapa, já 
que sempre me dizia que sem estudo não chega longe e nunca me deixou parar no 
meio do caminho, por mais doente que estivesse sempre me incentivou a buscar 
meus objetivos com muita determinação. 
 
Aos amigos... 
 
Àqueles que sempre me diziam que não tinha tempo para mais nada, 
somente para estudar, obrigada por não desistir da nossa amizade. Dirijo-me aos 
amigos de forma geral, visto que, todos tiveram sua importância neste processo, 
seja com apoio, com palavras, mensagens ou presença real na minha vida. 
Obrigada por acreditarem no meu potencial, reconhecendo o meu esforço e minha 
dedicação para concluir o Mestrado. Peço que Deus sempre ilumine os planos de 
vocês e que não desanimem de seus sonhos, amo todos vocês! 
 
À academia... 
 
Espaço de construção do conhecimento e desconstrução de si mesmo, 
impondo desafios que nos faz desvelar a nós mesmos e abrir para o novo, 
superando obstáculos e infinitas dificuldades para nos colocar à disposição da 
prática da pesquisa, mas, que se não fosse dessa forma, o crescimento e 
amadurecimento pessoal seria ínfimo perto daquilo que precisamos ser nessa 
sociedade de classes. 
A minha orientadora, Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira, 
agradeço imensamente pela paciência e confiança no desenvolvimento deste 
trabalho. Sempre companheira, compreensiva e amiga em relação aos desafios da 
pesquisa e da vida. Guardarei sempre seus ensinamentos e sua amizade. 
Cumprimento a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (CAPES), como agência de fomento, por desempenhar papel fundamental 
na construção desta pesquisa e tornar possível consolidar o conhecimento que será 
divulgado, posteriormente, em respeito ao acesso público da produção científica. 
Agradeço pela imensa oportunidade de poder passar pela Pós-graduação 
e digo que, uma vez que se conhece o espaço da universidade, jamais somos os 
mesmos. As inúmeras chances que se tem de dialogar com o diferente e como 
resultado construir uma consciência coletiva crítica que tem a noção das 
contraditoriedades do sistema econômico vigente e que, mesmo assim, cabe a nós 
lutarmos pela construção de uma sociedade mais igualitária, só foi possível devido a 
passagem pela universidade. Muito obrigada por fazer parte da construção da minha 
identidade enquanto Assistente Social que conclui o curso do Mestrado. 
TEIXEIRA, Laís Vila Verde. A pessoa idosa na atual configuração no mundo do 
trabalho: um estudo realizado no município de Franca/SP. 2016. 138f. Dissertação 
(Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2016. 
 
RESUMO 
 
Esta pesquisateve por objetivo trazer aspectos relevantes acerca da pessoa idosa 
em interface com o mundo do trabalho na contemporaneidade, questionando se o 
trabalho da pessoa idosa contribui para a renda familiar. O primeiro capítulo versou 
sobre a construção do modo de produção capitalista partindo da categoria trabalho e 
seus aspectos ontológicos abordando outras categorias inerentes como alienação, 
forças produtivas, produção e reprodução social. Para a compreensão do trabalho 
como categoria fundante do ser social na sociabilidade capitalista, perpassa-se pelo 
surgimento da Burguesia até sua atual configuração. Neste cenário, a pessoa idosa, 
na atual lógica de mercado, é sinônimo de mão-de-obra ativa disponível para força 
de trabalho. O segundo capítulo, traz elementos sobre as políticas para o segmento 
da população envelhecida e destaca-se duas políticas internacionais que são, o 
“Plano Internacional de Ação para o Envelhecimento” e a “Política de Saúde: uma 
política para o Envelhecimento Ativo”. Ambas apresentam as decisões dos 
organismos internacionais acerca do envelhecimento global e trazem medidas que 
podem fundamentar a elaboração de políticas públicas nos países, principalmente 
nos que estão em desenvolvimento. Discutindo a política em âmbito mundial, 
analisa-se a sua repercussão nas políticas sociais brasileiras a fim de dar 
visibilidade à problemática do envelhecimento no Brasil, colocando a família como 
parceira na construção de uma “sociedade para todas idades”. A fim de apresentar a 
repercussão das políticas internacionais no Brasil, levantou-se como marco histórico 
a “Política Nacional do Idoso” e o “Estatuto do Idoso”, para fomentar a discussão se 
as pessoas idosas estão tendo acesso aos seus direitos e sendo construtoras de 
sua cidadania. O terceiro capítulo traz elementos da realidade concreta por meio da 
pesquisa de campo, onde foi aplicado o roteiro de entrevista em duas instituições, 
que teve como universo de pesquisa, a cidade de Franca, no Centro de Convivência 
do Idoso “Avelina Maria de Jesus” e na Universidade Aberta a Terceira Idade. As 
pessoas idosas foram instigadas a refletir sobre o papel do trabalho em suas vidas e 
como a atividade laboral influencia em sua velhice e na sua família. A fim de dar 
concretude à pesquisa foi utilizado como método o materialismo histórico-dialético, e 
como a amostra foram entrevistados 6 sujeitos. A pesquisa buscou fundamentar, 
além da pesquisa de campo, em obras, dissertações e teses que tratam da temática 
do envelhecimento e do trabalho na sociedade capitalista. Os resultados mostram 
que o trabalho é mais do que fonte de rendimentos para a pessoa idosa e sua 
família, contrapondo a problemática inicial. É tratado como uma ocupação do tempo 
livre, onde identifica-se que o trabalho na velhice não é substituído por outra 
atividade a fim de desfrutarem de outras vivências fora desse contexto. 
 
Palavras-chave: envelhecimento. pessoa idosa. trabalho. 
 
 
 
 
TEIXEIRA, Laís Vila Verde. The elderly in the current configuration the world of 
work: a study in the city of Franca / SP. 2016. 138f. Dissertação de Mestrado em 
Serviço Social – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual 
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2016. 
 
ABSTRACT 
 
This research aimed to bring relevant aspects about the elder interface with the world 
of work in contemporary, questioning whether the work of the elder contributes to the 
family income. The first chapter expounded on the construction of the capitalist mode 
of production starting from the working class and its ontological aspects addressing 
other categories involved as alienation, productive forces, production and social 
reproduction. For the understanding of the work as the fundamental category of 
social being in capitalist sociability, permeates by the emergence of the Bourgeoisie 
to its current configuration. In this scenario, the elder, in the current market logic, is 
synonymous with hand labor available for active workforce. The second chapter 
provides details of the policies for the segment of the aging population and stands 
two international policies that are the "International Plan of Action on Ageing" and 
"Health policy: a policy for Active Ageing". Both have the decisions of international 
organizations on global aging and bring measures that can support the development 
of public policies in the countries, especially those who are under development. 
Discussing politics worldwide, analyzes the impact on the Brazilian social policies in 
order to give visibility to aging issues in Brazil, placing the family as a partner in 
building a "society for all ages". In order to present the impact of international policies 
in Brazil, rose as landmark the "National Policy for the Elderly" and the "Statute of the 
Elderly" to encourage discussion if older people are having access to their rights, and 
construction their citizenship. The third chapter brings elements of concrete reality 
through field research, where the interview script was applied in two institutions, 
which had the world of research, the city of Franca, in the Community Center for the 
Elderly "Avelina Maria de Jesus" and the Open University Senior Citizens. Older 
people were urged to reflect on the role of work in their lives and how labor activity 
influences in his old age and his family. In order to give concreteness to the survey it 
was used as a method historical and dialectical materialism, and how the sample 
were interviewed 6 subjects. The research sought to support, in addition to field 
research in works, dissertations and theses dealing with the aging issue and work in 
capitalist society. The results show that the work is more than a source of income for 
the elder and his family, comparing the initial problem. It is treated as an occupation 
of free time, which identifies that the work in old age is not replaced by another 
activity to enjoy other experiences outside this context. 
 
Keywords: aging. ederly. job. 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 Projeção da razão de dependência total, de jovens e de idosos (Brasil 
– 2030/2100) ............................................................................................ 32 
Gráfico 2 Proporção de pessoas de 16 anos ou mais de idade ocupadas em 
trabalhos informais, segundo os grupos de idade – Brasil – 
2004/2013 ................................................................................................ 33 
Gráfico 3 Composição da população residente total, por sexo e grupos de 
idade – Brasil – 1991/2010 ..................................................................... 57 
Gráfico 4 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM – 1991/ 2000/ 
2010 ......................................................................................................... 81 
Gráfico 5 Pirâmide etária – Franca SP – Distribuição por sexo, segundo os 
grupos de idade ...................................................................................... 81 
Gráfico 6 Comparação Franca 2010 – 2015 (Índice de Envelhecimento 
em %) ............................................................................................... 82 
Gráfico 7 Composição da população de 18 anos ou mais de idade em Franca – 
2010 ......................................................................................................... 83 
Gráfico 8 SEXO ........................................................................................................ 92 
Gráfico 9 IDADE ....................................................................................................... 93 
Gráfico 10 ESCOLARIDADE ................................................................................... 93 
Gráfico 11 TEMPO QUE FREQUENTA A INSTITUIÇÃO (ANOS) .......................... 94 
Gráfico 12 VOCÊ É APOSENTADO? ...................................................................... 94 
Gráfico 13 RENDA................................................................................................... 95 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Resumo geral do Plano de Ação Internacional para o 
Envelhecimento ........................................................................................49 
Quadro 2 - Resumo geral da Política de Envelhecimento Ativo: uma política de 
saúde .........................................................................................................56 
Quadro 3 - Atividades desenvolvidas no CCI “Avelina Maria de Jesus” .............88 
Quadro 4 - Ocupação atual dos sujeito entrevistados ...........................................95 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Empregos formais por nível de instrução 2010-2014 (faixa etária) .....84 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
BPC Benefício de Prestação Continuada 
CCI Centro de Convivência do Idoso 
CCQs Círculos de Controle de Qualidade 
CF/88 Constituição Federal de 1988 
CRAS Centro de Referência da Assistência Social 
CREAS Centro de Referência Especializado da Assistência Social 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
EI Estatuto do Idoso 
FMI Fundo Monetário Internacional 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
ILP Instituição de Longa Permanência 
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social 
MPC Modo de Produção Capitalista 
OMS Organização Mundial de Saúde 
ONGs Organizações Não-governamentais 
ONU Organização das Nações Unidas 
PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família 
PEA População Economicamente Ativa 
PNAS Política Nacional de Assistência Social 
PNI Política Nacional do Idoso 
PSB Proteção Social Básica 
SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos 
SEADE Fundação Sistema Estadual Análise de Dados 
UNATI Universidade Aberta a Terceira Idade 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 
CAPÍTULO 1 A CATEGORIA TRABALHO E SUA CENTRALIDADE NA 
SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA ........................... 19 
1.1 Categoria Trabalho: aspectos ontológicos ..................................................... 20 
1.1.1 As manifestações da categoria Trabalho na sociedade capitalista 
contemporânea ................................................................................................. 26 
1.1.2 A pessoa idosa no mundo do trabalho e a influência da família ....................... 33 
1.1.3 Consumo e envelhecimento: estratégias do capital ......................................... 39 
CAPÍTULO 2 ENVELHECIMENTO ATIVO: DO GLOBAL AO LOCAL ................... 44 
2.1 A construção do envelhecimento na atual fase do capitalismo ................... 45 
2.1.1Concebendo a velhice sob o olhar dos organismos internacionais ................... 47 
2.1.2 Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento ....................................... 48 
2.1.2.1 Orientação Prioritária I: Pessoas idosas e o desenvolvimento ...................... 51 
2.1 2.2 Orientação Prioritária II: Promoção da saúde e bem-estar na velhice .......... 52 
2.1 2.3 Orientação Prioritária III: Criação de ambiente propício e favorável ............. 53 
2.1.3 Envelhecimento Ativo: uma política de saúde .................................................. 55 
2.1.4 Considerações sobre o Plano Internacional para o Envelhecimento e a Política 
de Envelhecimento Ativo e seus reflexos na sociedade brasileira .................... 61 
2.1.5 Discutindo o envelhecimento no Brasil: o Marco Legal e o direito ao acesso das 
políticas ............................................................................................................. 65 
2.1.5.1 Considerações sobre a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso e a 
centralidade da família .................................................................................. 69 
CAPÍTULO 3 A PESSOA IDOSA E O MUNDO DO TRABALHO: UMA 
APROXIMAÇÃO COM A REALIDADE CONCRETA ........................ 74 
3.1Os caminhos da pesquisa ................................................................................. 75 
3.1.1Desvelando o universo da pesquisa .................................................................. 79 
3.1.2 O universo da pesquisa: a cidade de Franca ................................................... 80 
3.1.3 Centro de Convivência do Idoso – CCI Avelina Maria de Jesus ...................... 84 
3.1.4 Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) ................................................ 90 
3.1.5 Perfil dos entrevistados .................................................................................... 92 
3.1.6 Análise das categorias: conhecendo a realidade dos sujeitos ......................... 97 
3.1.6.1 Família ........................................................................................................... 97 
3.1.6.2 Trabalho ...................................................................................................... 100 
3.1.6.3 Mudança e Qualidade de Vida .................................................................... 107 
CONCLUSÃO ......................................................................................................... 112 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 120 
APÊNDICES 
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA – IDOSOS ...................................... 129 
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 
 (TCLE) ......................................................................................... 131 
ANEXOS 
ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA .............. 133 
ANEXO B – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO CCI .......................................... 135 
ANEXO C – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO UNATI ..................................... 136 
ANEXO D – PARECER DE ALTERAÇÃO NA QUANTIDADE DE SUJEITOS...... 137 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 A pesquisa teve por objetivo apresentar a realidade vivenciada pelas 
pessoas idosas e a sua permanência no mercado de trabalho, mesmo já usufruindo 
de algum benefício social ou previdenciário. A intenção foi fomentar o debate acerca 
desta situação, pois o envelhecimento tem se tornado um fenômeno mundial diante 
da baixa taxa de natalidade, visto que, demograficamente, percebe-se um rápido 
aumento da população envelhecida em detrimento do número de crianças que 
nascem. 
Diante das novas configurações do mundo do trabalho regidas pelo 
Neoliberalismo – uma ideologia que visa à liberdade de mercado, a qual o Estado 
intervém parcialmente na economia atuando como regulador social que aplica 
medidas mínimas aos problemas decorrentes deste modo de pensar a economia –, 
o capital criou alternativas para manter sua engrenagem em funcionamento, sendo a 
força de trabalho da pessoa idosa um mecanismo de perpetuação da ordem 
estabelecida, visto ser rentável ao capital mantê-los ativos no mercado de trabalho. 
A fim de compreender, numa perspectiva de totalidade, os determinantes 
que condicionam as pessoas idosas a estarem no mercado de trabalho, a pesquisa 
busca desvelar esta realidade em três aspectos: compreender a categoria trabalho 
na sociedade capitalista partindo de seus aspectos ontológicos até os dias de hoje, 
analisar as políticasvoltadas para o segmento idoso através dos marcos legais, a 
Política de Saúde: uma política de envelhecimento ativo publicada pela Organização 
Mundial de Saúde (OMS) em 2005, e o Plano Internacional em 2002, fazendo uma 
análise dos pontos positivos e negativos e seus rebatimentos na política brasileira 
para este segmento. Por fim, apresentar a pesquisa de campo que traz dados 
pertinentes dessa realidade vivenciada pela pessoa idosa e que elucida elementos 
importantes para percebermos que o trabalho é mais do que um complemento de 
renda pessoal e familiar. 
Assim sendo, no primeiro capítulo discutimos acerca da categoria trabalho 
partindo de seus aspectos ontológicos abordando categorias inerentes como 
alienação, forças produtivas, produção e reprodução social, para a compreensão do 
trabalho como categoria fundante do ser social na sociabilidade capitalista. 
Depois de compreender o que é o trabalho, damos um salto histórico para 
os anos 1990 a qual o trabalho reestrutura-se de uma forma complexificada 
tornando a própria característica do trabalhador híbrida, adquirindo característica de 
flexibilidade, polivalência, terceirização, precarização, arrocho salarial, 
16 
 
 
desmantelamento dos direitos trabalhistas e dos movimentos sociais em prol dos 
trabalhadores, alienação e desemprego estrutural. 
Nesse cenário, a pessoa idosa aparece como ator social compondo a 
cena histórica como trabalhador participante da força de trabalho da População 
Economicamente Ativa (PEA), pelo fato de que o trabalho, como elemento central na 
vida do ser social, é importante para a manutenção pessoal e contribuição para o 
complemento da renda familiar. 
Os autores que fundamentaram a discussão sobre a categoria trabalho e 
a sua configuração na contemporaneidade foram Ricardo Antunes (2008), Karl Marx 
(1988), Karl Marx e Friederich Engels (2007), Sérgio Lessa (1999), Marilda Vilela 
Iamamoto (2010), Yolanda Guerra (1995), Sara Granemann (2011), Ivo Tonet 
(2007), José Paulo Netto e Marcelo Braz (2008), Solange Maria Teixeira (2009) e 
Sálvea de Oliveira Campelo e Paiva (2014), Theodor Adorno (2002), entre outros. 
No segundo capítulo abordamos as duas principais políticas 
internacionais relacionadas à pessoa idosa: a política de Envelhecimento Ativo 
(OMS, 2005) e o Plano Internacional (ONU, 2002). Foi feita a análise dos 
rebatimentos políticos que estas obtiveram em âmbito nacional, no sentido de 
construir um ambiente para o envelhecimento com qualidade de vida no Brasil. 
Apresentamos um quadro com um panorama geral do conteúdo das políticas e 
discutimos acerca dos pontos positivos e negativos das mesmas elencando os 
aspectos que culminaram na criação do Estatuto do Idoso de 2003 (BRASIL, 2010a) 
e na Política Nacional do Idoso (BRASIL, 1994), reafirmando os pontos positivos e 
negativos, não apenas enquanto políticas sociais, mas, se de fato estão mudando a 
vida dessas pessoas de forma a se sentirem mais protegidas pela lei. 
Pela postura que o Estado assume no ordenamento neoliberal é notório 
que as políticas públicas possuem um caráter paliativo no sentido de apenas 
remediarem uma problemática social que a cada dia toma maiores proporções que é 
o envelhecimento do trabalhador (TEIXEIRA, 2008). As políticas, em seu texto, 
abordam esta questão, no entanto, não vemos uma efetivação de forma que a 
pessoa idosa se sinta um cidadão construtor de sua história, pelo contrário, 
encontramos políticas que são elaboradas apenas para amenizar os reais problemas 
sociais que acontecem em relação ao segmento idoso. Porém, os grupos que 
defendem as pessoas idosas caminham para a efetivação de seus diretos, estando 
à frente do movimento pela pessoa idosa. 
17 
 
 
A pessoa idosa tem sido vítima dos ditames do capital, enquanto poderia 
desfrutar de outras vivências em sua velhice, está fazendo parte da força de 
trabalho, pois as condições materiais de vida não permitem que a renda disponível 
seja suficiente para manutenção pessoal e familiar em muitos casos. 
Percebe-se, hoje, que muitas pessoas idosas convivem com suas famílias 
sendo necessária a renda do trabalho para contribuir com a manutenção da renda 
familiar. Essa tem sido uma situação cada vez mais frequente não somente no 
Brasil, mas no mundo. Podemos destacar como autores que fundamentaram a 
discussão acerca das políticas Solange Maria Teixeira (2009), Sálvea de Oliveira 
Campelo e Paiva (2014) e Ana Amélia Camarano (2004). Além disso, contribuíram 
para a compreensão da temática, documentos nacionais e internacionais como os 
da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização Mundial de Saúde 
(OMS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros. 
No terceiro capítulo, faz-se uma reflexão entre a teoria e prática trazendo 
elementos relevantes da realidade material por meio da pesquisa de campo. O lócus 
da pesquisa foi a cidade de Franca-SP e foram escolhidas duas instituições como 
universo, o Centro de Convivência do Idoso ‘Avelina Maria de Jesus” (CCI) e a 
Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) da Faculdade de Ciências Humanas 
e Sociais – UNESP/ Câmpus de Franca. Foram selecionados seis idosos que 
obedeceram aos critérios de seleção e aplicado um roteiro de entrevista com 
questões abertas e fechadas, a fim de responder a problematização da pesquisa 
que é: a renda do trabalho da pessoa idosa contribui para a renda familiar? A partir 
deste questionamento foram abertas questões que se dividiram em três categorias 
de análise: Família, Trabalho, Mudança e Qualidade de Vida, os quais foram 
apresentados os resultados da pesquisa. 
A fim de fundamentar a análise das falas dos sujeitos, foram utilizados 
autores que trazem uma abordagem crítica sobre o método utilizado, materialismo 
histórico dialético, destacando José Paulo Netto que faz uma análise pertinente do 
mesmo, além de Maria Cecília Minayo (2002), Yolanda Guerra (1995), Augusto 
Triviños (1987), Marilda Vilela Iamamoto (2001), entre outros. 
Assim, esta pesquisa proporcionou a reflexão e abriu espaço para 
fomentar a discussão acerca da pessoa idosa que trabalha no cenário neoliberal e 
construindo conhecimento em relação a esta temática com a intenção de não trazer 
resultados fechados, mas, abrir espaço para a discussão de aspectos pertinentes ao 
18 
 
 
envelhecimento na contemporaneidade a nível local e global, também, acerca da 
pessoa idosa que trabalha. Espera-se que esta pesquisa contribua para o referencial 
teórico-metodológico do Serviço Social a fim de reafirmar os propósitos ético-
políticos da profissão de forma a sempre participar da criação de novos 
instrumentais de trabalho para a atuação profissional, principalmente, com este 
sujeito, a pessoa idosa que participa ativamente da força de trabalho, vivenciando 
em seu cotidiano as mais diversas expressões da Questão Social e necessita de 
uma intervenção concreta com vistas a materialização de sua cidadania. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 A CATEGORIA TRABALHO E SUA CENTRALIDADE NA 
SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
1.1 Categoria Trabalho: aspectos ontológicos 
 
Ao observar a nova organização do mundo do trabalho e tomar a pessoa 
idosa como sujeito atuante e construtora de sua cidadania em tempos de 
globalização do capital, percebe-se que o ordenamento societário busca sempre 
manter as pessoas subordinadas e alienadas ao trabalho. 
 Ter a pessoa idosa como força de trabalho dentro da ordem do capital 
significa mais um reforço à mão de obra disponível para o mercado de trabalho, ou 
seja, possui igual valor como qualquer outro segmento desta sociedade, sendo 
participante do processo de produção e reprodução social, além de estar sujeito às 
próprias adversidades que o mercadocria e que são resultado da contradição do 
modelo econômico em pauta que preza a acumulação de riqueza em detrimento do 
aumento da miséria, um não subsiste sem o outro. 
Dessa forma, para além da reflexão acerca do trabalho na sociedade 
capitalista contemporânea, antes se faz necessário conceituar e compreender o que 
é a categoria trabalho fazendo uma revisão bibliográfica de autores que refletem 
sobre ela de forma apropriada. Nesse sentido, a intenção é situar sobre esta 
categoria nas suas origens ontológicas a fim de compreender com propriedade seus 
desdobramentos no decorrer da história até chegar nos moldes da sociabilidade 
capitalista atual. 
O trabalho, sendo um componente humano e social, sempre esteve 
presente em todos os tipos de sociedades, que existiram e se acabaram, ou que 
ainda mantêm alguns de seus resquícios neste corpo social em que vivemos. Apesar 
das suas variadas formas de manifestação, tem por finalidade materializar a ação do 
homem sobre a natureza, visto que, a existência humana depende de sua relação 
com a mesma 
 
[...] o trabalho é um ato de pôr consciente e, portanto, pressupõe um 
conhecimento concreto, ainda que jamais perfeito, de determinadas 
finalidades e de determinados meios [...] quanto mais elas [as ciências] 
crescem, se intensificam etc., tanto maior se torna a influência dos 
conhecimentos assim obtidos sobre as finalidades e os meios de efetivação 
do trabalho. (LUKÁCS, 1978 p. 8 apud SANTOS, 2011, p. 57). 
 
Este, sendo uma categoria eminentemente humana, que nos diferencia 
dos animais, acontece por meio de um processo reflexivo que se chama teleologia 
21 
 
 
ou prévia-ideação1 e consiste em antecipar na mente a ação que se deseja realizar, 
ou seja, “[...] no fim do processo de trabalho aparece um resultado que já existia 
inicialmente na imaginação do trabalhador.” (MARX, 1988). A escolha das 
alternativas damos o nome de objetivação, isto é, a realização da escolha. Este 
movimento de transformar a natureza a partir de uma prévia-ideação é denominado 
por Lukács, depois de Marx, por trabalho (LESSA, 1999, p. 2). 
Destaca-se que, por meio do trabalho, o homem transforma a natureza e 
também se transforma e o resultado do trabalho é sempre alguma transformação da 
realidade. A natureza não é a mesma por ter sido exercida uma ação sobre ela, e o 
homem não é mais o mesmo por ter aprendido algo com a sua ação, ou seja, há 
uma aquisição de experiências e habilidades de forma dinâmica por meio do 
trabalho 
 
Isso significa que ao construir o mundo objetivo o indivíduo também se 
constrói. Ao transformar a natureza, os homens também se transformam – 
pois adquirem sempre novos conhecimentos e habilidades. Esta nova 
situação (objetiva e subjetiva, bem entendido) faz com que surjam novas 
necessidades (um machado diferente, por exemplo) e novas possibilidades 
para atendê-las (o indivíduo possui conhecimentos e habilidades que não 
possuía anteriormente e, além disso, possui um machado para auxiliá-lo na 
construção do próximo machado). (LESSA, 1999, p. 2, grifo do autor). 
 
As novas necessidades e novas possibilidades dão ao indivíduo 
motivação para ter novas prévias-ideações, projetos, e objetivações, que vão dar 
origem a um novo ciclo de novas necessidades e assim por diante. 
Esquematizando este processo podemos aludir que o objeto é construído 
pelo homem por meio do trabalho. Este objeto apenas existe como resultado do 
trabalho, portanto, não há o desaparecimento da natureza, mas sim sua 
transformação. A prévia-ideação se constitui como uma resposta, entre outras 
possibilidades, a uma necessidade concreta que é determinada pela história 
humana. Como a realidade está sempre se transformando, a história, a necessidade 
nunca serão as mesmas, sendo assim, o homem transformando a natureza também 
se transforma. 
 
1 Também entendida como teleologia, segundo Santos (2011, p. 56) “Para a teleologia transformar a 
realidade objetiva (uma causalidade) em uma causalidade posta, ou seja, em um produto, ela 
precisa pôr o fim e buscar os meios que possibilitem esse processo. [...] Ao mesmo tempo em que 
o pensamento, mesmo que inconscientemente, estabelece a finalidade de sua ação, ele articula a 
busca dos meios necessários para alcançar aquela finalidade, para transformar causalidades 
espontâneas – ou seja, condições já encontradas – em causalidades postas.” 
22 
 
 
Podemos dizer que ao transformar a natureza pelo trabalho há o 
desenvolvimento das capacidades que levam ao desenvolvimento dos bens 
necessários à humanidade, dessa forma, os conhecimentos e habilidades vão sendo 
construídos historicamente, os científicos, artísticos, filosóficos, tornando-se cada 
vez mais complexos e sofisticados, distanciando-se da primitividade do 
conhecimento. 
Com o desenvolvimento das técnicas do trabalho, as relações sociais 
também se complexificaram ao lado das novas condições históricas que foram se 
estabelecendo, a qual foi necessário a criação de novos elementos para compor a 
sociabilidade emergente: a capitalista. 
Pode-se inferir que o ideal capitalista foi o precursor do surgimento do 
trabalho explorado, do exército industrial de reserva, da propriedade privada, do 
Estado (para gerenciar essa sociedade dividida em classes – a burguesa e a 
proletária) e de uma ideologia que orienta as regras para a exploração do trabalho. 
Com relação ao surgimento do Estado como instituição gerenciadora, Marx e Engels 
(2007, p. 75) consideram que 
 
Por meio da emancipação da propriedade privada em relação à 
comunidade, o Estado se tornou uma existência particular ao lado e fora da 
sociedade civil; mas esse Estado não é nada mais do que a forma de 
organização que os burgueses se dão necessariamente, tanto no exterior 
como no interior, para a garantia recíproca de sua propriedade e de seus 
interesses. 
 
Assim sendo, é por meio do trabalho que há o estabelecimento da 
reprodução material e da reprodução das relações de poder entre os homens. 
Mantêm-se as diversas partes que compõe a sociedade em funcionamento de forma 
orgânica, como o Estado, o Direito, a política, entre outros que se relacionam com a 
totalidade da reprodução social2, que segundo Granemann (2011, p. 15) 
 
É ao trabalho produtor de mercadoria que se imputa a reprodução do capital 
como força capaz de continuamente submeter a força de trabalho para que 
ela reproduza a totalidade da forma social de produção de mercadorias. 
Essa é a sociabilidade possível no modo capitalista. 
 
 
2 Por produção e reprodução social podemos compreender como o âmbito de relações que articulam 
a elaboração e criação de produtos no modo de produção capitalista, ao passo que, 
concomitantemente, também compreende não apenas os atos relativos a vida material e biológica 
do homem, mas aqueles que fazem dar continuidade ao conjunto da vida social, a um dado 
estágio de sociabilidade. 
23 
 
 
Nesse sentido, surgem novas relações sociais para atender as novas 
necessidades postas pelo trabalho que se organizam em partes, como complexos 
sociais (o Direito, a fala, o Estado, a ideologia – que condensa arte, política, religião, 
filosofia), para o desenvolvimento da humanidade em si. As diversas partes que 
compõe a sociedade exercem uma função social na esfera do processo produtivo, e 
“O conjunto total das relações e complexos sociais que compõem as sociedades em 
cada momento histórico, é denominado de totalidade social.” (LESSA, 1999, p. 8, 
grifo nosso). 
Podemos fazer a seguinte elucidação: nas sociedades primitivas, é pelo 
trabalho que o homem transforma a natureza (realidade material) e também se 
transforma, numa relação homem versus natureza. Como vimos anteriormente, nas 
sociedades complexas, é pelo trabalho que se promove a organização das relações 
sociais paramanter uma determinada ideologia, ou seja, uma relação de dominação 
do homem versus homem. 
A história do homem3 é a história da origem e desenvolvimento das 
diversas formas de organização social. Por meio do trabalho, o homem construiu as 
bases das relações sociais e a própria história encarregou-se da sua 
complexificação com a tecnificação, a divisão sexual do trabalho e globalização dos 
mercados. Além de criar os complexos sociais como a política, o direito, a cultura, a 
filosofia e outros para o bom funcionamento da ideologia dominante, 
 
[...] a forma de organização das relações de produção na sociedade 
capitalista, cujo núcleo básico é a compra e a venda da força de trabalho, dá 
origem a uma sociedade civil marcada pela divisão entre público e privado, 
pela oposição dos homens entre si, pela exploração, pela dominação, pelo 
egoísmo, pelo afã de poder, enfim, por uma fratura ineliminável no seu 
interior. (TONET, 2004, p. 26). 
 
A sociedade foi dividida em duas classes: a que trabalha e produz riqueza 
e a que apropria a riqueza socialmente produzida, em outras palavras, a classe 
dominada e a classe dominante. A que trabalha vende a sua força de trabalho em 
troca de um salário para sua sobrevivência em detrimento do enriquecimento e 
empoderamento da outra classe. Identificamos, aqui, o surgimento do trabalho 
alienado, pois o trabalhador não se reconhece no produto de seu trabalho, visto que 
há apenas uma relação de troca, característica do trabalho assalariado na sociedade 
 
3 O termo homem é utilizado enquanto ser humano. 
24 
 
 
capitalista. Sobre o conceito de alienação, Granemann (2011, p. 14) afirma que 
 
A sociabilidade contida em um modo de produção que transforma a tudo em 
mercadorias, a começar pela força de trabalho, tem como seu resultado 
relações sociais e a atividade laborativa mesma de produzir os bens 
necessários à vida social, como algo penoso, alienado, no qual o próprio 
produtor não se reconhece nos frutos de seu trabalho. 
 
A esse processo damos o nome de desenvolvimento das forças 
produtivas que são mediadas pelo trabalho, a qual toda potência humana é 
empregada na produção dos bens que são indispensáveis à reprodução da 
sociedade, tais como: a ciência, divisão social do trabalho, ideologia, conhecimento, 
técnicas, entre outras. Porém, há o lado negativo do desenvolvimento das forças 
produtivas, a capacidade humana de produzir desumanidades, como dito 
anteriormente. O aspecto negativo faz parte do complexo de alienação. 
Na sociedade, onde o trabalho se baseia nas relações de exploração/ 
dominação, este passa a atender não apenas as necessidades humanas, mas as 
necessidades da ideologia, no caso, a capitalista. O trabalho passa a ser subalterno 
ao capital, ou seja, às necessidades de acumulação de riquezas pela classe 
dominante. Como nos diria Marx e Engels (2007, p. 47, grifo do autor) “As ideias da 
classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe é a 
força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual 
dominante.” 
Aqui se trata do trabalho assalariado e alienado, a qual a força de trabalho 
é submetida à reprodução do capital para a manutenção da ordem vigente e 
obtenção do lucro por meio da mais-valia4, do excedente de trabalho. A sociedade 
capitalista é permeada pela contradição entre as classes fundamentais (burguesia e 
proletariado), em que o trabalhador se torna mero instrumento nas mãos de seu 
patrão, se tornando “coisa”. A “coisificação” do trabalhador se dá pelo fato de que ele 
não mais se reconhece no produto do seu trabalho, já que não participa do processo 
completo da produção, mas apenas da parte que foi designado. 
O processo de trabalho produz riqueza para a classe dominante e miséria 
 
4 Segundo Marx, mais-valia significa valor excedente não pago ao trabalhador e que somente 
acontece na esfera da produção, este valor é apropriado pelo capitalista. Significa que, “[...] 
Comparando o processo de produzir valor com o de produzir mais valia, veremos que o segundo 
só difere do primeiro por se prolongar além de certo ponto. O processo de produzir valor 
simplesmente dura até o ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído 
por um equivalente. Ultrapassando esse ponto, o processo de produzir valor torna-se processo de 
produzir mais valia (valor excedente).” (MARX, 1988). 
25 
 
 
para a classe dos trabalhadores, isto se deve ao fato de que o capital não pode 
deixar de se expandir, pois ele é uma forma de propriedade privada, ou seja, se 
alimenta de sua própria acumulação. Sendo assim, ele existe para manter a 
lucratividade e rentabilidade dos negócios a fim de garantir a sua expansão. 
 
Por meio da divisão do trabalho, já está dada desde o princípio a divisão 
das condições de trabalho, das ferramentas e dos materiais, o que gera a 
fragmentação do capital acumulado em diversos proprietários e, com isso a 
fragmentação entre capital e trabalho, assim como as diferentes formas de 
propriedade. Quanto mais se desenvolve a divisão do trabalho e a 
acumulação aumenta, tanto mais aguda se torna essa fragmentação. O 
próprio trabalho só pode subsistir sob o pressuposto dessa fragmentação. 
(MARX; ENGELS, 2007, p. 72) 
 
Dessa forma, “[...] o trabalho continua a ser o eixo fundamental da 
sociabilidade humana.” (GRANEMANN, 2009, p. 225). Além de ser sustento das 
relações sociais, é nele que se assenta a reprodução social. 
Analisando os aspectos políticos e econômicos da sociedade capitalista 
madura, percebe-se uma grande transformação nos diversos setores que compõe a 
economia em relação aos demais estágios do capitalismo que outrora o homem tem 
presenciado e construído a sua história. 
Desde os primórdios da civilização, o trabalho tem sido o elemento de 
proteção e sobrevivência do homem nas diversas formas de sociabilidade que já 
acometeram a humanidade. Sabendo disso, trabalho e determinantes das relações 
humanas sempre estarão presentes na vida do ser social, porque ele é sujeito 
atuante e elemento modificador desse processo, sendo o sujeito, também, uma 
categoria inscrita na sociabilidade capitalista que tem o trabalho como centro nas 
relações sociais e de produção. A relação da compra e venda da força de trabalho 
entre o trabalhador e o capitalista pode ser representada na própria fala de Marx 
(1988), 
 
Ao penetrar o trabalhador na oficina do capitalista, pertence a este o valor-
de-uso de sua força de trabalho, sua utilização, o trabalho. O capitalista 
compra a força de trabalho e incorpora o trabalho, fermento vivo, aos 
elementos mortos constitutivos do produto, os quais também lhe pertencem. 
 
Diante do percurso histórico-ontológico traçado até o momento, pretende-
se apresentar os elementos pertinentes à sociedade capitalista contemporânea, 
considerando os traços do passado que influenciaram e influenciam os 
26 
 
 
direcionamentos do modo de produção capitalista na atualidade sempre tendo como 
base a centralidade da categoria trabalho na constituição da vida do ser social. 
 
1.1.1 As manifestações da categoria Trabalho na sociedade capitalista 
contemporânea 
 
A partir da década de 1980 o mundo do trabalho sofreu grandes 
transformações, principalmente em países de capitalismo avançado, o qual a classe-
que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2008) sofreu profundas crises, afetando inter-
relacionamentos e até sua forma de ser. Isso provocou um grande salto tecnológico, 
mesclando fordismo e taylorismo, ou seja, mudanças nos moldes da produção. 
A produção em série e de massa foram substituídas pela “flexibilização da 
produção”, que adequa a produção à lógica do mercado provocando rebatimentos 
negativos nos direitos trabalhistas conquistados. 
Novos padrões de gestão da força de trabalhosão incorporados a essa 
nova ideologia, como os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) que remetem a 
uma “gestão participativa, de busca da qualidade total”, expressões estas muito 
utilizadas em países de capitalismo avançado. 
 
O CCQ foi desenvolvido no Japão por gerentes de empresas, a partir dos 
anos 50, junto com o toyotismo. No sistema Toyota, os engenheiros do chão 
de fábrica deixam de ter um papel estratégico e a produção é controlada por 
grupos de trabalhadores. A empresa investe muito em treinamento, 
participação e sugestões para melhorar a qualidade e a produtividade. O 
controle de qualidade é apenas uma parte do CCQ. (WATANABE, 1993, p. 5 
apud ANTUNES, 2008, p. 35) 
 
Os valores toyotistas foram conquistando espaço e adeptos na sociedade, 
de forma que não somente a organização do trabalho se transformou, mas também 
a organização dos trabalhadores, que se encontra ameaçada sob o poder dos 
empresários. Estes incutem na mente de seus funcionários que a empresa na qual 
trabalham é sua família e que dela necessitam cuidar, eliminando, dessa forma, 
qualquer forma de organização autônoma dos trabalhadores. 
Infere-se que todas as conquistas dos trabalhadores são irrisórias diante 
da nova ordem do capital, da flexibilização do trabalho, da desregulamentação dos 
direitos trabalhistas, lembrando o despotismo taylorista que envolve e manipula, 
características próprias da sociabilidade contemporânea moldada pelo sistema 
27 
 
 
produtor de mercadorias. 
 
O trabalho assalariado é a forma especifica do regime a que vivem 
submetidos os produtores diretos no MPC. Isso significa que ele é parte 
constitutiva do sistema de exploração do trabalho que é próprio do MPC: 
por mais significativas que sejam as conquistas salariais dos trabalhadores 
(e elas são importantes em si mesmas, entre outras razões porque podem 
melhorar as suas condições de vida), não afetam o núcleo do caráter 
explorador da relação capital/trabalho. Do ponto de vista ideológico, aliás, o 
regime salarial contribui para difundir a falsa ideia, tão cara aos capitalistas, 
segundo a qual, mediante o salário, os trabalhadores obtêm a remuneração 
integral do seu trabalho. (PAULO NETTO; BRAZ, 2008, p. 104). 
 
A acumulação flexível quer se voltar para o crescimento, isto é, crescer 
em valores que se apoiam em e na exploração do trabalho, oferecendo ao sistema 
uma intrínseca dinâmica tecnológica e organizacional, características próprias ao 
modo de produção capitalista (MPC). 
Para se adequar às novas necessidades do mercado, foram inseridos à 
produção mecanismos de aproveitamento do tempo, dentre eles temos o quesito da 
polivalência do trabalhador, que deve operar várias máquinas ao mesmo tempo, na 
lógica just in time da empresa, ou seja, o processo de trabalho é cronometrado e 
deve responder à qualidade exigida pela empresa, intensificando o ritmo, o tempo e 
o processo de trabalho, flexibilizando o aparato produtivo e a organização do 
trabalho, havendo a necessidade de agilidade em se adaptar. 
Esta lógica mercadológica foi introduzida pela empresa japonesa 
automobilística Toyota, que influenciou fortemente na forma de racionalização do 
trabalho, na ênfase da meritocracia na empresa, no sindicalismo manipulado e 
cooptado e na produção condicionada pela demanda, intensificando o processo de 
exploração do trabalho. 
Segundo Dupas (2001, p. 25) 
 
[...] é certo que a flexibilidade propiciada pelas novas tecnologias tem 
permitido que o processo de geração de excedente no capitalismo atual não 
mais se restrinja à jornada de trabalho, invadindo os demais momentos do 
cotidiano do trabalhador, o que cria a ilusão de que o capital aproxima-se do 
trabalho ao não mais exigir cartão de ponto e ao remunerá-lo por resultado. 
Na verdade, a flexibilidade propiciada pelas novas tecnologias rompeu as 
limitações impostas pelas dimensões espaço/tempo, destruindo a 
verticalização da produção e fragmentando o trabalho para longe de um 
único espaço físico. 
 
A nova lógica de mercado procura dispor de diversos mecanismos para 
28 
 
 
responder à demanda existente e criar novas demandas, para isso não se preocupa 
em destruir o pouco que sobrou do estado de bem estar social naqueles países que 
viveram sobre este regime, tratando-se do direito dos trabalhadores assalariados, já 
que o modelo japonês atua muito mais em sintonia com a agenda neoliberal do que 
com uma visão verdadeiramente social-democrata. A questão é viver o sonho do 
capital (ANTUNES, 2008), Estado mínimo5 para os trabalhadores e máximo para o 
capital. 
O capitalismo contemporâneo tem uma característica singular que é a 
destruição de todas as regulamentações e direitos que foram historicamente 
conquistados, o qual não se pode deixar de considerar todo o sangue que foi 
derramado em lutas do movimento operário desde a sua constituição 
 
A desmontagem (total ou parcial) dos vários tipos de Welfare State é o 
exemplo emblemático da estratégia do capital nos dias correntes, que 
prioriza a supressão de direitos socais arduamente conquistados 
(apresentados como “privilégios” de trabalhadores) e a liquidação das 
garantias ao trabalho em nome da “flexibilização” já referida. (PAULO 
NETTO; BRAZ, 2008, p. 226). 
 
Diante disso, há um distanciamento de alternativas que vão para além do 
capital, já que as medidas adotadas têm seu fundamento na ótica do mercado, da 
produtividade e das empresas, não levando em consideração expressões como o 
desemprego estrutural, que é resultado das transformações do processo produtivo. 
Não se considera a demanda trazida pelo trabalhador, visto que a mesma é fruto da 
exploração do trabalho, base em que se assenta a acumulação capitalista. Os 
dilemas da contemporaneidade possuem como raiz a forma de gerenciamento das 
relações sociais e de trabalho, influenciando em questões éticas, sociais e políticas 
 
Hoje a questão tornou-se mais complexa. No andar de cima potencializa-se 
a acumulação pelo grau de inovação, pela possibilidade de fragmentação 
das cadeias produtivas globais e pela enorme autonomia da tecnologia, esta 
última finalmente liberta de suas amarras éticas ou sociais, antes 
teoricamente representadas pelo papel mais atuante dos Estados nacionais. 
 
5 O Estado adota medidas de incentivo fiscal para as grandes organizações enquanto as políticas 
sociais sofrem cortes exorbitantes. Segundo Montaño e Duriguetto (2011, p. 208, grifos dos 
autores) há uma “[...] orientação para o corte dos gastos sociais do Estado, para assim conter o 
déficit público e gerar superávit primário, segue, na verdade, as recomendações contidas no 
ajuste estrutural proposto pelos organismos internacionais, pelas quais as economias nacionais 
devem adaptar-se às novas condições da economia mundial. É nesse cenário que é preconizada 
a redução da intervenção estatal no financiamento e na operacionalização das políticas sociais. 
Dessa forma focaliza suas ações e direciona os gastos públicos aos que comprovam sua pobreza. 
 
29 
 
 
[...] Se a consequência desse desenvolvimento for, por exemplo, um maciço 
aumento do desemprego por conta da radical automação no setor de 
serviços, este ônus passa a ser transferido para a sociedade, tenha ela ou 
não estrutura para lidar com a questão. (DUPAS, 2001, p. 28). 
 
Acerca das metamorfoses do mundo do trabalho e da classe-que-vive-do-
trabalho, observamos uma subproletarização (ANTUNES, 2008, p. 47) intensificada, 
expressa na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado e 
“terceirizado”, que marca a sociedade capitalista, complementando o processo de 
estranhamento do trabalho que possibilita ao capital a apropriação do saber e do 
fazer do trabalho. 
No atual modo de produção, o trabalho é estranhado/coisificado ao 
homem, fazendo com que ele não conheça todo o processo de produção, ou seja, 
não fazparte do produto que realiza, não se reconhece como parte do processo. A 
base de acumulação do capital é a exploração, a expropriação de mais-valia e a 
apropriação da riqueza socialmente produzida. O princípio de totalidade nos 
possibilita compreender que a subsunção do trabalho ontológico ao trabalho 
explorado não permite ao ser humano uma realização pessoal, mas responde 
apenas, aos fetiches do capital globalizado. 
Muitos trabalhadores sentem diretamente as transformações do mundo do 
trabalho precarizado, temporário, terceirizado, tendo seu cotidiano moldado pelo 
desemprego estrutural. O trabalho possui várias faces resultantes das modificações 
do mundo da produção de capital ocorrida nas últimas décadas. 
Podemos dizer que essa nova lógica de mercado fez germinar um 
exército de trabalhadores informais, ampliando o trabalho desregulamentado sem 
carteira assinada. Nesta era de informatização do trabalho (transferir as capacidades 
intelectuais para a máquina), observamos uma informalização do mesmo, que 
agrega uma classe desprovida de direitos com salários baixos. Vivenciamos uma 
queda do trabalho contratado e regulamentado, que está sendo substituído pelo 
empreendedorismo, corporativismo e pelo trabalho voluntário. Esse cenário tem se 
desdobrado no aumento de instituições do terceiro setor, desenvolvendo atividades 
ligadas a assistência, com ou sem fins lucrativos, à margem do mercado. 
A internacionalização do capital se caracteriza, portanto 
 
[...] por um processo de precarização estrutural do trabalho, os capitais 
globais estão exigindo também o desmonte da legislação social protetora do 
trabalho. E flexibilizar a legislação social do trabalho significa – não é 
30 
 
 
possível ter nenhuma ilusão sobre isso – aumentar ainda mais os 
mecanismos de extração do sobretrabalho, ampliar as formas de 
precarização e destruição dos direitos sociais arduamente conquistados 
pela classe trabalhadora, desde o início da Revolução Industrial, na 
Inglaterra, e especialmente pós-1930, quando se toma o exemplo brasileiro. 
(ANTUNES, 2008, p. 109, grifo do autor). 
 
Figura-se um processo no qual há a procura por manter a sobrevivência 
sobrepondo-se a muitas outras necessidades. O neoliberalismo tem ditado as 
regras: reestruturação produtiva, privatização acelerada, recrudescimento do Estado, 
políticas fiscais e monetárias articuladas com órgãos mundiais como o fundo 
Monetário Internacional (FMI), desmonte dos direitos sociais, manipulação do 
trabalho, fragmentação e heterogenização da classe trabalhadora. Diante deste 
cenário destruidor, o qual o capital enfrenta suas crises criando outras crises para 
manter seu ciclo vital, podemos considerar e relevar a categoria trabalho como 
central neste modo de produção e na vida do homem, visto que “[...] o capital pode 
diminuir o trabalho vivo, mas não eliminá-lo. Pode intensificar sua utilização, pode 
precarizá-lo e mesmo desempregar parcelas imensas, mas não pode extingui-lo” 
(ANTUNES, 2008, p.186, grifo do autor). 
Nesse cenário, o Estado não se posiciona de forma neutra, mas de forma 
cautelosa frente à nova ordem societária ditada pelo capital. Este novo modelo de 
Estado deveria garantir os meios mínimos de sobrevivência para as pessoas. 
Se realizarmos uma análise de conjuntura, entretanto, não encontraremos 
elementos concretos que nos provem sua materialidade, ou seja, o Estado parece 
estar cumprindo um papel de ator observador ao invés de ser o protagonista, no 
sentido de buscar melhores alternativas para os apelos da população. Não 
garantindo o trabalho, acaba por incentivar o trabalho informal e precário. A forma 
assalariada de trabalho desenvolvida pelo capitalismo visa à integração das pessoas 
ao modo de produção. A concentração de renda e a desigualdade social contribuem 
para o desemprego estrutural. 
Outra característica muito presente após a década de 1990 é a 
massificação do consumo e intensificação do sistema de produção, que tem como 
grande parceira a propaganda mercadológica, seja ela direta ou indireta, visando 
que o produto final alcance sucesso, em outras palavras, consumido por um grande 
número de pessoas. Acerca do consumo, Granemann (2011, p. 4) considera que 
 
 
31 
 
 
Claro está que os processos de manipulação da natureza, em especial no 
modo de produção capitalista, não carregam a preocupação de preservar a 
vida já que a crescente conversão de todas as esferas da sociabilidade 
humana em processos apropriados pelo capital e tornadas mercadejáveis 
propiciaram incessantes produção e consumo de mercadorias que tem 
ameaçado de destruição o planeta. Parâmetros tais convertem a ação 
laborativa em atividade que produz uma sociabilidade alienada porque 
exercida com o fito da mercantilização, exclusivamente com o objetivo de 
auferir lucros para o capitalista e, por essa razão, no modo capitalista de 
produção impôs-se aos homens forma particular de efetivação do trabalho. 
 
Pela exposição da autora, infere-se que as transformações ocorridas na 
sociedade e nas condições de vida da população estão relacionadas à ordem 
econômica, organização do trabalho, mudança de valores e de hábitos e afirmação 
da lógica individualista no contexto da sociedade. Provocando mudanças radicais no 
modo de organização familiar e no papel da pessoa idosa na sociedade, além de 
termos um crescimento acelerado da pobreza nas classes, majoritariamente, 
marginalizadas. Tais transformações societárias vão interferir no cotidiano e na 
subjetividade da pessoa idosa que está no mercado de trabalho. Devemos 
considerar que “Todas as transformações implementadas pelo capital têm como 
objetivo reverter a queda da taxa de lucro e criar condições renovadas para a 
exploração da força de trabalho.” (PAULO NETTO; BRAZ, 2008, p. 218). 
Diante desse cenário, encontramos idosos que já se aposentaram, mas 
que, devido às intempéries enfrentadas nessa sociedade, ainda permanecem ou 
retornam ao mundo do trabalho. São pessoas idosas que já usufruem de sua 
aposentadoria ou são beneficiárias de outros programas sociais e que não veem 
alternativa além do trabalho para garantir a sua sobrevivência e de sua família. O 
sistema capitalista se apropria dessa força de trabalho para garantir sua 
permanência como um dos braços do motor da economia. 
32 
 
 
Gráfico 1 – Projeção da razão de dependência total, de jovens e de idosos 
(Brasil – 2030/2100). 
 
Fonte: IBGE, (2014, [p. 22]) - Síntese de Indicadores Sociais 
 
O gráfico 1 mostra, proporcionalmente, uma previsão do grau de 
dependência da renda das pessoas idosas numa escala de tempo entre 2030 a 
2100 no Brasil. Percebemos, que a participação do jovem diminui e a participação da 
pessoa idosa aumenta com o passar dos anos podendo chegar a mais de 80% do 
grau de dependência da renda. 
Esses números são um retrato do que já acontece na atualidade, visto 
que, a renda proveniente da aposentadoria ou do trabalho já é suporte de muitas 
famílias brasileiras, sendo esta uma realidade que acontece não somente no Brasil, 
mas em muitos países, inclusive considerados desenvolvidos. 
 
Dois grupos populacionais tiveram importante contribuição para o indicador 
de informalidade: os jovens e os idosos. Em 2013, cerca de 45% dos jovens 
de 16 a 24 anos ocupados estavam em trabalhos informais. Entre os idosos 
no mercado de trabalho este percentual era ainda maior (69%). Esses dois 
grupos têm características distintas, visto que os jovens estão iniciando sua 
trajetória profissional; os idosos, por sua vez, estão em outro estágio da vida 
laboral, seja encerrando um ciclo profissional ou retornando ao mercado de 
trabalho, já aposentados. Dessa maneira, as características de proteção 
social do trabalho formal podem não ser o principal atrativo para os idosos. 
(IBGE, 2014, [p. 129-130]). 
 
Estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam 
que a maioria dos postosde trabalho ocupados pelas pessoas idosas são informais 
e que os números vêm crescendo nos últimos anos, como mostra o gráfico 2. 
33 
 
 
Gráfico 2 – Proporção de pessoas de 16 anos ou mais de idade ocupadas em 
trabalhos informais, segundo os grupos de idade – Brasil – 2004/2013. 
 
Fonte: IBGE, (2014, [p. 129]) - Síntese de Indicadores Sociais 
 
Percebe-se que há uma variação do aumento da ocupação dos postos de 
trabalho informais no Brasil entre os anos de 2004 a 2013 e que a faixa etária de 60 
anos ou mais cresce e em maior escala no mesmo período, revelando a 
problematização deste estudo de que a pessoa idosa retorna ao mercado de 
trabalho mesmo já usufruindo de algum benefício ou aposentadoria justamente 
porque a os rendimentos são poucos para manter a subsistência pessoal e de sua 
família. 
 
1.1.2 A pessoa idosa no mundo do trabalho e a influência da família 
 
Acerca das considerações sobre o mundo do trabalho e suas influências 
na formação da sociabilidade capitalista não podemos deixar de destacar, afinal, 
sendo ele o nosso objeto de estudo, os dilemas vivenciados pela pessoa idosa no 
mundo do trabalho, que agora se torna mais aparente a problemática do idoso 
trabalhador que é requisitado pelo mercado tanto por possuir mais conhecimento 
que a população jovem quanto por ser mão-de-obra barata para o capitalista, 
principalmente se ele(a) já for uma aposentado(a). A sociabilidade capitalista 
constitui-se de 
 
34 
 
 
[...] uma sociedade na qual se subordinam as sociedades nacionais em 
seus segmentos locais e arranjos regionais, com suas potencialidades e 
negatividades, considerando seus dinamismos e contradições. Nela se 
confrontam o neoliberalismo, o nazifascismo e o neo-socialismo. Nesse 
novo estágio de desenvolvimento do capital redefinem-se as soberanias 
nacionais, com a presença de corporações transnacionais e organizações 
multilaterais – o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a 
Organização Mundial do Comércio, a “santíssima trindade do capital em 
geral” – principais porta-vozes das classes dominantes em escala mundial. 
(IANNI, 2004 apud IAMAMOTO, 2010, p. 110). 
 
Nesse sentido, tomando esta configuração, a pessoa idosa é alvo deste 
novo ordenamento societário que busca manter as pessoas subordinadas e 
alienadas ao próprio trabalho. Sendo assim, a força de trabalho da pessoa idosa 
possui igual valor como qualquer outro segmento pertencente a esta sociedade, 
participando do processo de produção e reprodução social e estando sujeito as 
diversas intempéries de ordem econômica, política e social resultantes da 
contradição do modelo econômico vigente que preza a acumulação de riqueza em 
detrimento do aumento da miséria, um não existe sem o outro. 
O mito do idoso tratado como um ser humano e social que perdeu sua 
utilidade, sua força física e sua capacidade de contribuir para com o sustento da casa, 
toma no neoliberalismo uma nova configuração, na qual o envelhecimento se torna uma 
problemática social devido ao aparecimento de uma população que vive em 
vulnerabilidade social, e que, por conta dessa situação, passa a participar ativamente da 
força de trabalho que a pessoa idosa tem “[...] seu tempo de vida subordinado ao tempo 
de trabalho, mesmo depois de aposentado.” (TEIXEIRA, 2009, p. 68). 
 
[...] como se verá, o rendimento do trabalho do idoso é fundamental na 
composição de sua renda pessoal e familiar, de tal forma que dificilmente se 
pode esperar mecanismos compensatórios que permitam a queda da sua 
participação no mercado de trabalho. (CAMARANO, 2004). 
 
Faz-se uma associação da qualidade de vida na terceira idade com o 
mercado consumidor, na qual a pessoa idosa passa a ser, então, alvo de 
propagandas e do consumismo. Observando a realidade aparente, percebe-se que a 
pessoa idosa que trabalha ou contribui com a renda familiar de outra forma não 
possui uma qualidade de vida completa em sua totalidade e a família também não 
pode desfrutar ou ao menos buscar ter uma qualidade de vida entre seus membros. 
Estamos falando de uma população economicamente ativa que volta ao 
mercado de trabalho para suprir uma necessidade individual, da sua família e do 
35 
 
 
próprio mercado. Esse cenário provoca alterações tanto no mercado de trabalho, ou 
seja, como receber essa mão de obra, quais subsídios oferecer e qual o respaldo 
político que essa população necessita; de forma a garantir sua manutenção pessoal. 
Percebemos que o Estado se comporta de maneira periférica, sendo 
submisso aos ditames do capital que se preocupa apenas com sua própria 
acumulação, oferecendo políticas que são “[...] incapazes de romper com o ciclo da 
pobreza decorrente da apropriação privada da riqueza.” (TEIXEIRA, 2009, p. 69). 
O Estado como mantenedor das estruturas de classes e relações de 
produção, faz jus a mundialização do capital cumprindo sua função de reproduzir os 
interesses institucionalizados entre as classes e grupos dominantes. A fim de evitar 
as crises, cria políticas anticíclicas para conter e valorizar os processos de 
acumulação de capital, criando programas de ajuste estrutural. Aos que não se 
enquadram nas condicionalidades dos programas a solução é o se sujeitar aos 
postos aviltantes do mercado de trabalho, submetendo-se, muitas vezes, a 
condições subumanas para manter a sobrevivência. Essa é a realidade de muitas 
pessoas idosas, que não são contempladas pelos programas sociais e nem pela 
previdência social. 
Segundo estudos de indicadores sociais do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE, 2014, [p. 38]) 
 
A proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade que acumulavam 
aposentadoria e pensão foi diferenciada por sexo, sendo que 2,6% dos 
homens e 11,9% das mulheres estavam nesta condição [...]. A alta 
proporção de idosos de 60 anos ou mais de idade que não recebiam 
aposentadoria ou pensão (23,9%) possivelmente está relacionada à 
inserção no mercado de trabalho, dado que a taxa de ocupação foi de 
27,4% nesta faixa de idade, mas para aqueles que não eram aposentados 
ou pensionistas a taxa de ocupação foi de 45,1%. Merece destacar também 
que 15,6% dos idosos de 60 anos ou mais de idade eram aposentados e 
estavam ocupados na semana de referência, sendo que o indicador foi de 
23,2% para os homens e 9,5% entre as mulheres deste grupo etário. O 
tempo médio semanal dedicado ao trabalho das pessoas de 60 anos ou 
mais de idade foi de 34,7 horas, valor abaixo do tempo médio para a 
população total ocupada. A principal fonte do rendimento dos idosos de 60 
anos ou mais de idade, na semana de referência, foi de aposentadoria ou 
pensão (67,6%) e o trabalho contribuiu com 28,3% da composição do 
rendimento nesta faixa etária. 
 
Percebe-se que o trabalho é importante no cotidiano das pessoas idosas 
e, apesar da aposentadoria compor como um dos rendimentos principais, a renda do 
trabalho também é contabilizada, ou seja, viver com uma renda apenas não basta, o 
36 
 
 
trabalho é necessário. 
Apesar de o trabalho ainda ser presente nessa fase da vida, a proposta 
do envelhecimento ativo é que as pessoas idosas passem a ocupar os espaços de 
discussão, sendo autoras e construtoras de sua própria história, colocando em 
prática a sua cidadania enquanto sujeitos de direitos. A participação social diz 
respeito a todos os espaços: cultural, social político, econômico, lazer, entre outros 
contribuindo para uma expectativa de vida saudável e com qualidade. 
Outro ponto a se considerar é que, quem está envolvido com este 
segmento, sejam especialistas ou voluntários que devem contribuir com o 
fortalecimento do movimento do idoso, em que a pessoa idosa possa expor suas 
ideias e reivindicar seus direitos junto às instâncias governamentais. Entretanto, 
Teixeira (2009, p. 70-71, grifo do autor) nos afirma que: 
 
As diversas respostas contemporâneas à problemática do envelhecimento, 
tomado de forma genérica,não só mascaram a centralidade do envelhecimento 
do trabalhador na constituição dessa problemática social, mas também os 
novos movimentos sociais, especialmente, na fase atual, em que as ONGs 
assumem a dianteira nessas lutas, não priorizam suas demandas e 
necessidades, como têm reforçado a cultura protetiva nesse enfrentamento, 
assumindo uma dimensão protecionista na execução de serviços, legitimando e 
dando corpo às novas simbioses entre o público e o privado. 
 
Podemos reconhecer como desafio, levar para a sociedade a questão do 
envelhecimento e suas múltiplas facetas, visto que, forças políticas tem se 
desdobrado para manipular essa realidade, mascarando o que realmente acontece, 
principalmente, em relação aos idosos trabalhadores. Essa população por vezes se 
vê como excluída por não encontrar aparato para suprirem suas necessidades. Ao 
mesmo tempo em que temos sujeitos envolvidos para desmistificar o 
envelhecimento como algo ruim, fomentando o debate acerca da construção da 
cidadania para as pessoas idosas, temos também a sociedade requisita para fazer 
parte da População Economicamente Ativa (PEA). 
Acerca do trabalho na velhice, Paiva (2014, p. 114) considera que 
 
Eis a trama que produz e reproduz a vida inteira do(a) trabalhador(a) e que 
não o(a) libertará da condenação ao trabalho na velhice, a menos que a 
doença ou a morte, significando o esgotamento total da sua capacidade 
funcional do sistema do capital, o(a) incapacite para tal esforço. Tampouco 
o(a) libertará, enquanto classe, da condição de se reproduzir nos limites da 
força a ser sugada pelo espírito predatório do capital. 
 
Diante desse cenário de extrema exploração da força de trabalho da 
37 
 
 
pessoa idosa e que, na visão da autora da qual este trabalho compartilha, enquanto 
classe trabalhadora não se desvencilhará do trabalho na velhice, já que, muitas têm 
sido as situações de pobreza extrema enfrentada por este segmento, famílias que 
são mantidas com a renda da aposentadoria ou outro benefício assistencial, pela 
renda do trabalho informal, entre os elementos que não permitem que a pessoa 
idosa desfrute desta fase da vida, muitas vezes não planejada pelo próprio sujeito, 
visto que o cotidiano o alijou de qualquer reflexão crítica sobre como conduzir sua 
vida na velhice. 
Por vivenciarmos a contradição capital e trabalho, a população idosa 
deixa de fazer parte do exército industrial de reserva para compor a população 
economicamente ativa, oferecendo sua força de trabalho para o desenvolvimento 
das forças produtivas e também para manter o equilíbrio do capital. 
Dentro dessa contradição, notamos que a força de trabalho mais velha 
está no mercado do trabalho por muitos motivos, que podemos destacar: falta de 
mão de obra qualificada, redução de gastos com o pagamento seguridade social 
para os funcionários mais jovens, amplo conhecimento produtivo armazenado pela 
pessoa idosa durante sua vida de trabalho tem maior peso na atualidade, entre 
outros fatores. 
A questão da redução de gastos justifica a contratação de pessoas idosas 
que já se aposentaram, ou seja, o empresário não precisará guardar recurso para 
despesas da seguridade social para um funcionário que já está aposentado, e mais 
ainda, não poderá registrá-lo, o que na visão do empresário é uma vantagem, já que 
se desresponsabilizará quanto ao cumprimento de algumas leis trabalhistas. 
 
As manobras da ofensiva neoliberal vão atingir, na contemporaneidade, o 
segmento mais velho da classe trabalhadora, principalmente, mediante 
estratégias que o detenham ou o remetam de volta ao mercado capitalista 
de trabalho, não livrando esse segmento dos mecanismos mais bárbaros de 
exploração. Seja pela via do subemprego, da precarização; seja pela via da 
“provedoria” de seus descendentes. (PAIVA, 2014, p. 127). 
 
Como foi explanado, o trabalhador idoso é vítima do sistema opressor do 
capital. Sabe-se que existem postos de trabalho aviltantes que negam 
veementemente as leis trabalhistas e qualquer tipo de direito que o trabalhador está 
assegurado, o que leva a refletir que a pessoa idosa já vivencia em sua velhice 
algumas doenças que necessitam de cuidados especiais, a qual os medicamentos, 
38 
 
 
muitas vezes, excedem o valor que podem pagar. Com a precarização do trabalho 
isso se torna um sério problema em sua vida, porque o salário que ganha mal 
assegura a sua saúde. 
Atualmente, tem se tornado muito comum a convivência de idosos com 
suas famílias, segundo o IBGE (2014, [p. 37]), 
 
Uma dimensão importante ao tratar dos idosos refere-se ao tipo de arranjo 
domiciliar no qual este está inserido e como se dá a convivência familiar. 
Em 2013, o arranjo familiar mais comum para os idosos (30,6%) foi aquele 
composto por idosos morando com filhos, todos com 25 anos ou mais de 
idade, na presença ou não de outros parentes ou agregados, sendo este 
indicador mais elevado para as idosas (33,3%) que para os idosos (27,3%). 
Outro arranjo comum foi o formado por casais sem filhos (26,5%), e para os 
homens esse arranjo foi o mais comum (33,4%) do que para as mulheres 
(21,0%). A proporção de idosos que viviam sozinhos, ou seja, sem filhos, 
cônjuge, outros parentes ou agregados, foi de 15,1%, e para as mulheres 
este indicador atingiu o valor de 17,8%. Desta forma, 84,9% dos idosos 
estavam em arranjos em que havia presença de outra pessoa com quem 
estabelecesse alguma relação familiar, seja cônjuge, filho, outro parente ou 
agregado. Os arranjos familiares, residentes em domicílios particulares, que 
tinham ao menos uma pessoa de 60 anos ou mais de idade correspondiam 
a 29,0% do total de arranjos familiares e para os arranjos familiares com 
idosos o rendimento mensal familiar per capita médio foi 25,0% superior ao 
rendimento dos arranjos familiares sem idosos e 16,6% superior ao 
rendimento do total de arranjos familiares. 
 
Diante dessa conjuntura vivenciada pelas novas configurações familiares 
e pela pessoa idosa, um ponto a destacar é a contribuição da renda da pessoa idosa 
para o sustento de sua família, mesmo com a aposentadoria, a ajuda também parte 
dos rendimentos do trabalho, pois, agora, compõem a população economicamente 
ativa, ocupando postos de trabalho formais e informais. 
Esta é uma tendência que vem aumentando ao longo do tempo, a qual 
cada vez mais os rendimentos da pessoa idosa, seja ele proveniente do trabalho ou 
de benefícios, são base para a manutenção do núcleo familiar. Isso também se deve 
ao fato que tem crescido o número de famílias extensas, as quais o idoso tem sido, 
em muitas situações, o provedor do lar. “Com seus parcos rendimentos, os(as) 
velhos(as) trabalhadores(as) acabam se responsabilizando pela própria reprodução 
social e de toda a sua família. Inaugura-se a época do(a) velho(a) trabalhador(a) 
valorizado(a) como fonte de renda [...].” (PAIVA, 2014, p. 129) 
Paiva (2014, p. 130) também considera que 
 
Faz-se necessário subverter a lógica que esvazia o curso de vida humana 
de sua historicidade; lógica do longo e árduo processo de vida e trabalho, 
desumanizando a velhice dos(as) trabalhadores(as); lógica que 
responsabiliza e culpabiliza o indivíduo pela tragédia da qual faz parte. 
39 
 
 
 
Considera-se que somente subvertendo esta lógica selvagem do capital é 
que podemos realmente propiciar às pessoas idosas uma velhice mais humanizada, 
no sentido de poderem desfrutar melhor esta fase de sua vida, aviltada pelas 
condições de trabalho no modo de produção capitalista, possibilitando-os de ter uma 
qualidade de vida melhor usufruindo do lazer, cultura e maior convívio social. 
 
1.1.3 Consumo e envelhecimento: estratégias do capital 
 
Ao perceber que a pessoa idosa ainda permanece ativa no mercado de 
trabalho de alguma forma, o sistema capitalista a todo o momento cria manobras 
para garantir sua manutenção por meio do consumo de mercadorias. O público 
idoso não está livre dessa trama

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