Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO REALIZADO NO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP FRANCA 2016 LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO REALIZADO NO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito para a obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração: Mundo do Trabalho e Serviço Social Orientadora: Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira FRANCA 2016 Teixeira, Laís Vila Verde. A pessoa idosa na atual configuração do mundo do trabalho : um estudo realizado no município de Franca/SP / Laís Vila Verde Teixeira. – Franca : [s.n.], 2016. 138 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Universidade Esta- dual Paulista. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Orientadora: Josiani Julião Alves de Oliveira 1. Serviço social com idosos. 2. Envelhecimento. 3. Idade e emprego. I. Título. CDD – 362.8996 LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO REALIZADO DO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito para a obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração Mundo do Trabalho e Serviço Social. BANCA EXAMINADORA Presidente: _________________________________________________________ Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira 1° Examinador: ______________________________________________________ Profa. Dra. Maria Zita Figueiredo Gera – Uni-Facef 2° Examinador: ______________________________________________________ Profa. Dra. Nayara Hakime Dutra de Oliveira – FCHS/ Unesp Franca, ____ de ________ de 2016. DEDICO A Você, Mãe, que hoje está nos jardins da eternidade, onde o sofrimento e a angústia foram transformados em amor pelas mãos de Nosso Senhor. Este trabalho dedico a você em retribuição singela de tudo o que fez por mim até o dia em que Deus te chamou para ir com Ele à morada celestial. Tudo o que eu conquistar nesta vida te entrego em honra dos seus cuidados e amor por mim. Infelizmente Deus não te fez eterna para estar comigo em todos os momentos da vida, mas saiba que tudo o que ensinou guardei em meu coração, nossas almas se unem através da oração e é assim que eu sigo a vida hoje, na certeza de que está comigo onde quer que eu vá. MÃE, para sempre te amarei...daqui até a eternidade! AGRADECIMENTOS À Deus Pai, Filho e Espírito Santo... Agradeço, primeiramente, a Deus pela presença constante durante o período do Mestrado. Muitas vezes, encontrei-me sem forças e lá estava ele para ajudar, apoiar-me e me orientar. Hoje, sei que se não fosse minha Fé e a vontade de terminar esta etapa, certamente, não teria chegado até o fim. À Maria Santíssima que sempre me acompanhou nas horas mais aflitas nesse período, amparando e guiando-me frente às adversidades, sendo meu modelo de paciência, tolerância, amor, perseverança e misericórdia para chegar ao final desta jornada. Ó minha Mãe querida, obrigada por ser meu sustento na ausência de minha mãe e por toda proteção e cuidado que me trouxe até aqui. À minha Família... Com toda a paciência e cuidado não me deixaram desanimar, pelo contrário, fortaleceram e incentivaram-me a realizar meu sonho. Vocês foram e são sempre parte importante e insubstituível de toda essa caminhada, seja me apoiando em minhas decisões ou me cobrando persistência quando o cansaço e o desânimo chegavam a me abater. Sem vocês, Cibelle, Nubia e pai, eu não teria conseguido, e mesmo com tudo o que nós passamos nestes últimos anos, lutando junto com a mãe contra o câncer, vocês foram rocha firme para que eu pudesse apoiar-me e em nenhum momento pediram-me para parar, pelo contrário, não me deixaram desanimar. Obrigada por tudo. Sei que ela está muito feliz por mim e por nós, pois não deixamos de seguir em frente, apesar que sua falta é grande no meio de nós, mas o que ela nos deixou é bagagem para se carregar nas costas a vida toda. Obrigada mãe por seu apoio e dedicação enquanto esteve comigo, minha companheira de troca de ideias, meu poço de conselhos, minha fortaleza, o Mestrado é mais seu do que meu, porque foi por você que eu comecei esta etapa, já que sempre me dizia que sem estudo não chega longe e nunca me deixou parar no meio do caminho, por mais doente que estivesse sempre me incentivou a buscar meus objetivos com muita determinação. Aos amigos... Àqueles que sempre me diziam que não tinha tempo para mais nada, somente para estudar, obrigada por não desistir da nossa amizade. Dirijo-me aos amigos de forma geral, visto que, todos tiveram sua importância neste processo, seja com apoio, com palavras, mensagens ou presença real na minha vida. Obrigada por acreditarem no meu potencial, reconhecendo o meu esforço e minha dedicação para concluir o Mestrado. Peço que Deus sempre ilumine os planos de vocês e que não desanimem de seus sonhos, amo todos vocês! À academia... Espaço de construção do conhecimento e desconstrução de si mesmo, impondo desafios que nos faz desvelar a nós mesmos e abrir para o novo, superando obstáculos e infinitas dificuldades para nos colocar à disposição da prática da pesquisa, mas, que se não fosse dessa forma, o crescimento e amadurecimento pessoal seria ínfimo perto daquilo que precisamos ser nessa sociedade de classes. A minha orientadora, Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira, agradeço imensamente pela paciência e confiança no desenvolvimento deste trabalho. Sempre companheira, compreensiva e amiga em relação aos desafios da pesquisa e da vida. Guardarei sempre seus ensinamentos e sua amizade. Cumprimento a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), como agência de fomento, por desempenhar papel fundamental na construção desta pesquisa e tornar possível consolidar o conhecimento que será divulgado, posteriormente, em respeito ao acesso público da produção científica. Agradeço pela imensa oportunidade de poder passar pela Pós-graduação e digo que, uma vez que se conhece o espaço da universidade, jamais somos os mesmos. As inúmeras chances que se tem de dialogar com o diferente e como resultado construir uma consciência coletiva crítica que tem a noção das contraditoriedades do sistema econômico vigente e que, mesmo assim, cabe a nós lutarmos pela construção de uma sociedade mais igualitária, só foi possível devido a passagem pela universidade. Muito obrigada por fazer parte da construção da minha identidade enquanto Assistente Social que conclui o curso do Mestrado. TEIXEIRA, Laís Vila Verde. A pessoa idosa na atual configuração no mundo do trabalho: um estudo realizado no município de Franca/SP. 2016. 138f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2016. RESUMO Esta pesquisateve por objetivo trazer aspectos relevantes acerca da pessoa idosa em interface com o mundo do trabalho na contemporaneidade, questionando se o trabalho da pessoa idosa contribui para a renda familiar. O primeiro capítulo versou sobre a construção do modo de produção capitalista partindo da categoria trabalho e seus aspectos ontológicos abordando outras categorias inerentes como alienação, forças produtivas, produção e reprodução social. Para a compreensão do trabalho como categoria fundante do ser social na sociabilidade capitalista, perpassa-se pelo surgimento da Burguesia até sua atual configuração. Neste cenário, a pessoa idosa, na atual lógica de mercado, é sinônimo de mão-de-obra ativa disponível para força de trabalho. O segundo capítulo, traz elementos sobre as políticas para o segmento da população envelhecida e destaca-se duas políticas internacionais que são, o “Plano Internacional de Ação para o Envelhecimento” e a “Política de Saúde: uma política para o Envelhecimento Ativo”. Ambas apresentam as decisões dos organismos internacionais acerca do envelhecimento global e trazem medidas que podem fundamentar a elaboração de políticas públicas nos países, principalmente nos que estão em desenvolvimento. Discutindo a política em âmbito mundial, analisa-se a sua repercussão nas políticas sociais brasileiras a fim de dar visibilidade à problemática do envelhecimento no Brasil, colocando a família como parceira na construção de uma “sociedade para todas idades”. A fim de apresentar a repercussão das políticas internacionais no Brasil, levantou-se como marco histórico a “Política Nacional do Idoso” e o “Estatuto do Idoso”, para fomentar a discussão se as pessoas idosas estão tendo acesso aos seus direitos e sendo construtoras de sua cidadania. O terceiro capítulo traz elementos da realidade concreta por meio da pesquisa de campo, onde foi aplicado o roteiro de entrevista em duas instituições, que teve como universo de pesquisa, a cidade de Franca, no Centro de Convivência do Idoso “Avelina Maria de Jesus” e na Universidade Aberta a Terceira Idade. As pessoas idosas foram instigadas a refletir sobre o papel do trabalho em suas vidas e como a atividade laboral influencia em sua velhice e na sua família. A fim de dar concretude à pesquisa foi utilizado como método o materialismo histórico-dialético, e como a amostra foram entrevistados 6 sujeitos. A pesquisa buscou fundamentar, além da pesquisa de campo, em obras, dissertações e teses que tratam da temática do envelhecimento e do trabalho na sociedade capitalista. Os resultados mostram que o trabalho é mais do que fonte de rendimentos para a pessoa idosa e sua família, contrapondo a problemática inicial. É tratado como uma ocupação do tempo livre, onde identifica-se que o trabalho na velhice não é substituído por outra atividade a fim de desfrutarem de outras vivências fora desse contexto. Palavras-chave: envelhecimento. pessoa idosa. trabalho. TEIXEIRA, Laís Vila Verde. The elderly in the current configuration the world of work: a study in the city of Franca / SP. 2016. 138f. Dissertação de Mestrado em Serviço Social – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2016. ABSTRACT This research aimed to bring relevant aspects about the elder interface with the world of work in contemporary, questioning whether the work of the elder contributes to the family income. The first chapter expounded on the construction of the capitalist mode of production starting from the working class and its ontological aspects addressing other categories involved as alienation, productive forces, production and social reproduction. For the understanding of the work as the fundamental category of social being in capitalist sociability, permeates by the emergence of the Bourgeoisie to its current configuration. In this scenario, the elder, in the current market logic, is synonymous with hand labor available for active workforce. The second chapter provides details of the policies for the segment of the aging population and stands two international policies that are the "International Plan of Action on Ageing" and "Health policy: a policy for Active Ageing". Both have the decisions of international organizations on global aging and bring measures that can support the development of public policies in the countries, especially those who are under development. Discussing politics worldwide, analyzes the impact on the Brazilian social policies in order to give visibility to aging issues in Brazil, placing the family as a partner in building a "society for all ages". In order to present the impact of international policies in Brazil, rose as landmark the "National Policy for the Elderly" and the "Statute of the Elderly" to encourage discussion if older people are having access to their rights, and construction their citizenship. The third chapter brings elements of concrete reality through field research, where the interview script was applied in two institutions, which had the world of research, the city of Franca, in the Community Center for the Elderly "Avelina Maria de Jesus" and the Open University Senior Citizens. Older people were urged to reflect on the role of work in their lives and how labor activity influences in his old age and his family. In order to give concreteness to the survey it was used as a method historical and dialectical materialism, and how the sample were interviewed 6 subjects. The research sought to support, in addition to field research in works, dissertations and theses dealing with the aging issue and work in capitalist society. The results show that the work is more than a source of income for the elder and his family, comparing the initial problem. It is treated as an occupation of free time, which identifies that the work in old age is not replaced by another activity to enjoy other experiences outside this context. Keywords: aging. ederly. job. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Projeção da razão de dependência total, de jovens e de idosos (Brasil – 2030/2100) ............................................................................................ 32 Gráfico 2 Proporção de pessoas de 16 anos ou mais de idade ocupadas em trabalhos informais, segundo os grupos de idade – Brasil – 2004/2013 ................................................................................................ 33 Gráfico 3 Composição da população residente total, por sexo e grupos de idade – Brasil – 1991/2010 ..................................................................... 57 Gráfico 4 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM – 1991/ 2000/ 2010 ......................................................................................................... 81 Gráfico 5 Pirâmide etária – Franca SP – Distribuição por sexo, segundo os grupos de idade ...................................................................................... 81 Gráfico 6 Comparação Franca 2010 – 2015 (Índice de Envelhecimento em %) ............................................................................................... 82 Gráfico 7 Composição da população de 18 anos ou mais de idade em Franca – 2010 ......................................................................................................... 83 Gráfico 8 SEXO ........................................................................................................ 92 Gráfico 9 IDADE ....................................................................................................... 93 Gráfico 10 ESCOLARIDADE ................................................................................... 93 Gráfico 11 TEMPO QUE FREQUENTA A INSTITUIÇÃO (ANOS) .......................... 94 Gráfico 12 VOCÊ É APOSENTADO? ...................................................................... 94 Gráfico 13 RENDA................................................................................................... 95 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Resumo geral do Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento ........................................................................................49 Quadro 2 - Resumo geral da Política de Envelhecimento Ativo: uma política de saúde .........................................................................................................56 Quadro 3 - Atividades desenvolvidas no CCI “Avelina Maria de Jesus” .............88 Quadro 4 - Ocupação atual dos sujeito entrevistados ...........................................95 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Empregos formais por nível de instrução 2010-2014 (faixa etária) .....84 LISTA DE SIGLAS BPC Benefício de Prestação Continuada CCI Centro de Convivência do Idoso CCQs Círculos de Controle de Qualidade CF/88 Constituição Federal de 1988 CRAS Centro de Referência da Assistência Social CREAS Centro de Referência Especializado da Assistência Social ECA Estatuto da Criança e do Adolescente EI Estatuto do Idoso FMI Fundo Monetário Internacional IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ILP Instituição de Longa Permanência LOAS Lei Orgânica da Assistência Social MPC Modo de Produção Capitalista OMS Organização Mundial de Saúde ONGs Organizações Não-governamentais ONU Organização das Nações Unidas PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família PEA População Economicamente Ativa PNAS Política Nacional de Assistência Social PNI Política Nacional do Idoso PSB Proteção Social Básica SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos SEADE Fundação Sistema Estadual Análise de Dados UNATI Universidade Aberta a Terceira Idade SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 CAPÍTULO 1 A CATEGORIA TRABALHO E SUA CENTRALIDADE NA SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA ........................... 19 1.1 Categoria Trabalho: aspectos ontológicos ..................................................... 20 1.1.1 As manifestações da categoria Trabalho na sociedade capitalista contemporânea ................................................................................................. 26 1.1.2 A pessoa idosa no mundo do trabalho e a influência da família ....................... 33 1.1.3 Consumo e envelhecimento: estratégias do capital ......................................... 39 CAPÍTULO 2 ENVELHECIMENTO ATIVO: DO GLOBAL AO LOCAL ................... 44 2.1 A construção do envelhecimento na atual fase do capitalismo ................... 45 2.1.1Concebendo a velhice sob o olhar dos organismos internacionais ................... 47 2.1.2 Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento ....................................... 48 2.1.2.1 Orientação Prioritária I: Pessoas idosas e o desenvolvimento ...................... 51 2.1 2.2 Orientação Prioritária II: Promoção da saúde e bem-estar na velhice .......... 52 2.1 2.3 Orientação Prioritária III: Criação de ambiente propício e favorável ............. 53 2.1.3 Envelhecimento Ativo: uma política de saúde .................................................. 55 2.1.4 Considerações sobre o Plano Internacional para o Envelhecimento e a Política de Envelhecimento Ativo e seus reflexos na sociedade brasileira .................... 61 2.1.5 Discutindo o envelhecimento no Brasil: o Marco Legal e o direito ao acesso das políticas ............................................................................................................. 65 2.1.5.1 Considerações sobre a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso e a centralidade da família .................................................................................. 69 CAPÍTULO 3 A PESSOA IDOSA E O MUNDO DO TRABALHO: UMA APROXIMAÇÃO COM A REALIDADE CONCRETA ........................ 74 3.1Os caminhos da pesquisa ................................................................................. 75 3.1.1Desvelando o universo da pesquisa .................................................................. 79 3.1.2 O universo da pesquisa: a cidade de Franca ................................................... 80 3.1.3 Centro de Convivência do Idoso – CCI Avelina Maria de Jesus ...................... 84 3.1.4 Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) ................................................ 90 3.1.5 Perfil dos entrevistados .................................................................................... 92 3.1.6 Análise das categorias: conhecendo a realidade dos sujeitos ......................... 97 3.1.6.1 Família ........................................................................................................... 97 3.1.6.2 Trabalho ...................................................................................................... 100 3.1.6.3 Mudança e Qualidade de Vida .................................................................... 107 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 112 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 120 APÊNDICES APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA – IDOSOS ...................................... 129 APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ......................................................................................... 131 ANEXOS ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA .............. 133 ANEXO B – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO CCI .......................................... 135 ANEXO C – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO UNATI ..................................... 136 ANEXO D – PARECER DE ALTERAÇÃO NA QUANTIDADE DE SUJEITOS...... 137 INTRODUÇÃO 15 A pesquisa teve por objetivo apresentar a realidade vivenciada pelas pessoas idosas e a sua permanência no mercado de trabalho, mesmo já usufruindo de algum benefício social ou previdenciário. A intenção foi fomentar o debate acerca desta situação, pois o envelhecimento tem se tornado um fenômeno mundial diante da baixa taxa de natalidade, visto que, demograficamente, percebe-se um rápido aumento da população envelhecida em detrimento do número de crianças que nascem. Diante das novas configurações do mundo do trabalho regidas pelo Neoliberalismo – uma ideologia que visa à liberdade de mercado, a qual o Estado intervém parcialmente na economia atuando como regulador social que aplica medidas mínimas aos problemas decorrentes deste modo de pensar a economia –, o capital criou alternativas para manter sua engrenagem em funcionamento, sendo a força de trabalho da pessoa idosa um mecanismo de perpetuação da ordem estabelecida, visto ser rentável ao capital mantê-los ativos no mercado de trabalho. A fim de compreender, numa perspectiva de totalidade, os determinantes que condicionam as pessoas idosas a estarem no mercado de trabalho, a pesquisa busca desvelar esta realidade em três aspectos: compreender a categoria trabalho na sociedade capitalista partindo de seus aspectos ontológicos até os dias de hoje, analisar as políticasvoltadas para o segmento idoso através dos marcos legais, a Política de Saúde: uma política de envelhecimento ativo publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2005, e o Plano Internacional em 2002, fazendo uma análise dos pontos positivos e negativos e seus rebatimentos na política brasileira para este segmento. Por fim, apresentar a pesquisa de campo que traz dados pertinentes dessa realidade vivenciada pela pessoa idosa e que elucida elementos importantes para percebermos que o trabalho é mais do que um complemento de renda pessoal e familiar. Assim sendo, no primeiro capítulo discutimos acerca da categoria trabalho partindo de seus aspectos ontológicos abordando categorias inerentes como alienação, forças produtivas, produção e reprodução social, para a compreensão do trabalho como categoria fundante do ser social na sociabilidade capitalista. Depois de compreender o que é o trabalho, damos um salto histórico para os anos 1990 a qual o trabalho reestrutura-se de uma forma complexificada tornando a própria característica do trabalhador híbrida, adquirindo característica de flexibilidade, polivalência, terceirização, precarização, arrocho salarial, 16 desmantelamento dos direitos trabalhistas e dos movimentos sociais em prol dos trabalhadores, alienação e desemprego estrutural. Nesse cenário, a pessoa idosa aparece como ator social compondo a cena histórica como trabalhador participante da força de trabalho da População Economicamente Ativa (PEA), pelo fato de que o trabalho, como elemento central na vida do ser social, é importante para a manutenção pessoal e contribuição para o complemento da renda familiar. Os autores que fundamentaram a discussão sobre a categoria trabalho e a sua configuração na contemporaneidade foram Ricardo Antunes (2008), Karl Marx (1988), Karl Marx e Friederich Engels (2007), Sérgio Lessa (1999), Marilda Vilela Iamamoto (2010), Yolanda Guerra (1995), Sara Granemann (2011), Ivo Tonet (2007), José Paulo Netto e Marcelo Braz (2008), Solange Maria Teixeira (2009) e Sálvea de Oliveira Campelo e Paiva (2014), Theodor Adorno (2002), entre outros. No segundo capítulo abordamos as duas principais políticas internacionais relacionadas à pessoa idosa: a política de Envelhecimento Ativo (OMS, 2005) e o Plano Internacional (ONU, 2002). Foi feita a análise dos rebatimentos políticos que estas obtiveram em âmbito nacional, no sentido de construir um ambiente para o envelhecimento com qualidade de vida no Brasil. Apresentamos um quadro com um panorama geral do conteúdo das políticas e discutimos acerca dos pontos positivos e negativos das mesmas elencando os aspectos que culminaram na criação do Estatuto do Idoso de 2003 (BRASIL, 2010a) e na Política Nacional do Idoso (BRASIL, 1994), reafirmando os pontos positivos e negativos, não apenas enquanto políticas sociais, mas, se de fato estão mudando a vida dessas pessoas de forma a se sentirem mais protegidas pela lei. Pela postura que o Estado assume no ordenamento neoliberal é notório que as políticas públicas possuem um caráter paliativo no sentido de apenas remediarem uma problemática social que a cada dia toma maiores proporções que é o envelhecimento do trabalhador (TEIXEIRA, 2008). As políticas, em seu texto, abordam esta questão, no entanto, não vemos uma efetivação de forma que a pessoa idosa se sinta um cidadão construtor de sua história, pelo contrário, encontramos políticas que são elaboradas apenas para amenizar os reais problemas sociais que acontecem em relação ao segmento idoso. Porém, os grupos que defendem as pessoas idosas caminham para a efetivação de seus diretos, estando à frente do movimento pela pessoa idosa. 17 A pessoa idosa tem sido vítima dos ditames do capital, enquanto poderia desfrutar de outras vivências em sua velhice, está fazendo parte da força de trabalho, pois as condições materiais de vida não permitem que a renda disponível seja suficiente para manutenção pessoal e familiar em muitos casos. Percebe-se, hoje, que muitas pessoas idosas convivem com suas famílias sendo necessária a renda do trabalho para contribuir com a manutenção da renda familiar. Essa tem sido uma situação cada vez mais frequente não somente no Brasil, mas no mundo. Podemos destacar como autores que fundamentaram a discussão acerca das políticas Solange Maria Teixeira (2009), Sálvea de Oliveira Campelo e Paiva (2014) e Ana Amélia Camarano (2004). Além disso, contribuíram para a compreensão da temática, documentos nacionais e internacionais como os da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros. No terceiro capítulo, faz-se uma reflexão entre a teoria e prática trazendo elementos relevantes da realidade material por meio da pesquisa de campo. O lócus da pesquisa foi a cidade de Franca-SP e foram escolhidas duas instituições como universo, o Centro de Convivência do Idoso ‘Avelina Maria de Jesus” (CCI) e a Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP/ Câmpus de Franca. Foram selecionados seis idosos que obedeceram aos critérios de seleção e aplicado um roteiro de entrevista com questões abertas e fechadas, a fim de responder a problematização da pesquisa que é: a renda do trabalho da pessoa idosa contribui para a renda familiar? A partir deste questionamento foram abertas questões que se dividiram em três categorias de análise: Família, Trabalho, Mudança e Qualidade de Vida, os quais foram apresentados os resultados da pesquisa. A fim de fundamentar a análise das falas dos sujeitos, foram utilizados autores que trazem uma abordagem crítica sobre o método utilizado, materialismo histórico dialético, destacando José Paulo Netto que faz uma análise pertinente do mesmo, além de Maria Cecília Minayo (2002), Yolanda Guerra (1995), Augusto Triviños (1987), Marilda Vilela Iamamoto (2001), entre outros. Assim, esta pesquisa proporcionou a reflexão e abriu espaço para fomentar a discussão acerca da pessoa idosa que trabalha no cenário neoliberal e construindo conhecimento em relação a esta temática com a intenção de não trazer resultados fechados, mas, abrir espaço para a discussão de aspectos pertinentes ao 18 envelhecimento na contemporaneidade a nível local e global, também, acerca da pessoa idosa que trabalha. Espera-se que esta pesquisa contribua para o referencial teórico-metodológico do Serviço Social a fim de reafirmar os propósitos ético- políticos da profissão de forma a sempre participar da criação de novos instrumentais de trabalho para a atuação profissional, principalmente, com este sujeito, a pessoa idosa que participa ativamente da força de trabalho, vivenciando em seu cotidiano as mais diversas expressões da Questão Social e necessita de uma intervenção concreta com vistas a materialização de sua cidadania. CAPÍTULO 1 A CATEGORIA TRABALHO E SUA CENTRALIDADE NA SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA 20 1.1 Categoria Trabalho: aspectos ontológicos Ao observar a nova organização do mundo do trabalho e tomar a pessoa idosa como sujeito atuante e construtora de sua cidadania em tempos de globalização do capital, percebe-se que o ordenamento societário busca sempre manter as pessoas subordinadas e alienadas ao trabalho. Ter a pessoa idosa como força de trabalho dentro da ordem do capital significa mais um reforço à mão de obra disponível para o mercado de trabalho, ou seja, possui igual valor como qualquer outro segmento desta sociedade, sendo participante do processo de produção e reprodução social, além de estar sujeito às próprias adversidades que o mercadocria e que são resultado da contradição do modelo econômico em pauta que preza a acumulação de riqueza em detrimento do aumento da miséria, um não subsiste sem o outro. Dessa forma, para além da reflexão acerca do trabalho na sociedade capitalista contemporânea, antes se faz necessário conceituar e compreender o que é a categoria trabalho fazendo uma revisão bibliográfica de autores que refletem sobre ela de forma apropriada. Nesse sentido, a intenção é situar sobre esta categoria nas suas origens ontológicas a fim de compreender com propriedade seus desdobramentos no decorrer da história até chegar nos moldes da sociabilidade capitalista atual. O trabalho, sendo um componente humano e social, sempre esteve presente em todos os tipos de sociedades, que existiram e se acabaram, ou que ainda mantêm alguns de seus resquícios neste corpo social em que vivemos. Apesar das suas variadas formas de manifestação, tem por finalidade materializar a ação do homem sobre a natureza, visto que, a existência humana depende de sua relação com a mesma [...] o trabalho é um ato de pôr consciente e, portanto, pressupõe um conhecimento concreto, ainda que jamais perfeito, de determinadas finalidades e de determinados meios [...] quanto mais elas [as ciências] crescem, se intensificam etc., tanto maior se torna a influência dos conhecimentos assim obtidos sobre as finalidades e os meios de efetivação do trabalho. (LUKÁCS, 1978 p. 8 apud SANTOS, 2011, p. 57). Este, sendo uma categoria eminentemente humana, que nos diferencia dos animais, acontece por meio de um processo reflexivo que se chama teleologia 21 ou prévia-ideação1 e consiste em antecipar na mente a ação que se deseja realizar, ou seja, “[...] no fim do processo de trabalho aparece um resultado que já existia inicialmente na imaginação do trabalhador.” (MARX, 1988). A escolha das alternativas damos o nome de objetivação, isto é, a realização da escolha. Este movimento de transformar a natureza a partir de uma prévia-ideação é denominado por Lukács, depois de Marx, por trabalho (LESSA, 1999, p. 2). Destaca-se que, por meio do trabalho, o homem transforma a natureza e também se transforma e o resultado do trabalho é sempre alguma transformação da realidade. A natureza não é a mesma por ter sido exercida uma ação sobre ela, e o homem não é mais o mesmo por ter aprendido algo com a sua ação, ou seja, há uma aquisição de experiências e habilidades de forma dinâmica por meio do trabalho Isso significa que ao construir o mundo objetivo o indivíduo também se constrói. Ao transformar a natureza, os homens também se transformam – pois adquirem sempre novos conhecimentos e habilidades. Esta nova situação (objetiva e subjetiva, bem entendido) faz com que surjam novas necessidades (um machado diferente, por exemplo) e novas possibilidades para atendê-las (o indivíduo possui conhecimentos e habilidades que não possuía anteriormente e, além disso, possui um machado para auxiliá-lo na construção do próximo machado). (LESSA, 1999, p. 2, grifo do autor). As novas necessidades e novas possibilidades dão ao indivíduo motivação para ter novas prévias-ideações, projetos, e objetivações, que vão dar origem a um novo ciclo de novas necessidades e assim por diante. Esquematizando este processo podemos aludir que o objeto é construído pelo homem por meio do trabalho. Este objeto apenas existe como resultado do trabalho, portanto, não há o desaparecimento da natureza, mas sim sua transformação. A prévia-ideação se constitui como uma resposta, entre outras possibilidades, a uma necessidade concreta que é determinada pela história humana. Como a realidade está sempre se transformando, a história, a necessidade nunca serão as mesmas, sendo assim, o homem transformando a natureza também se transforma. 1 Também entendida como teleologia, segundo Santos (2011, p. 56) “Para a teleologia transformar a realidade objetiva (uma causalidade) em uma causalidade posta, ou seja, em um produto, ela precisa pôr o fim e buscar os meios que possibilitem esse processo. [...] Ao mesmo tempo em que o pensamento, mesmo que inconscientemente, estabelece a finalidade de sua ação, ele articula a busca dos meios necessários para alcançar aquela finalidade, para transformar causalidades espontâneas – ou seja, condições já encontradas – em causalidades postas.” 22 Podemos dizer que ao transformar a natureza pelo trabalho há o desenvolvimento das capacidades que levam ao desenvolvimento dos bens necessários à humanidade, dessa forma, os conhecimentos e habilidades vão sendo construídos historicamente, os científicos, artísticos, filosóficos, tornando-se cada vez mais complexos e sofisticados, distanciando-se da primitividade do conhecimento. Com o desenvolvimento das técnicas do trabalho, as relações sociais também se complexificaram ao lado das novas condições históricas que foram se estabelecendo, a qual foi necessário a criação de novos elementos para compor a sociabilidade emergente: a capitalista. Pode-se inferir que o ideal capitalista foi o precursor do surgimento do trabalho explorado, do exército industrial de reserva, da propriedade privada, do Estado (para gerenciar essa sociedade dividida em classes – a burguesa e a proletária) e de uma ideologia que orienta as regras para a exploração do trabalho. Com relação ao surgimento do Estado como instituição gerenciadora, Marx e Engels (2007, p. 75) consideram que Por meio da emancipação da propriedade privada em relação à comunidade, o Estado se tornou uma existência particular ao lado e fora da sociedade civil; mas esse Estado não é nada mais do que a forma de organização que os burgueses se dão necessariamente, tanto no exterior como no interior, para a garantia recíproca de sua propriedade e de seus interesses. Assim sendo, é por meio do trabalho que há o estabelecimento da reprodução material e da reprodução das relações de poder entre os homens. Mantêm-se as diversas partes que compõe a sociedade em funcionamento de forma orgânica, como o Estado, o Direito, a política, entre outros que se relacionam com a totalidade da reprodução social2, que segundo Granemann (2011, p. 15) É ao trabalho produtor de mercadoria que se imputa a reprodução do capital como força capaz de continuamente submeter a força de trabalho para que ela reproduza a totalidade da forma social de produção de mercadorias. Essa é a sociabilidade possível no modo capitalista. 2 Por produção e reprodução social podemos compreender como o âmbito de relações que articulam a elaboração e criação de produtos no modo de produção capitalista, ao passo que, concomitantemente, também compreende não apenas os atos relativos a vida material e biológica do homem, mas aqueles que fazem dar continuidade ao conjunto da vida social, a um dado estágio de sociabilidade. 23 Nesse sentido, surgem novas relações sociais para atender as novas necessidades postas pelo trabalho que se organizam em partes, como complexos sociais (o Direito, a fala, o Estado, a ideologia – que condensa arte, política, religião, filosofia), para o desenvolvimento da humanidade em si. As diversas partes que compõe a sociedade exercem uma função social na esfera do processo produtivo, e “O conjunto total das relações e complexos sociais que compõem as sociedades em cada momento histórico, é denominado de totalidade social.” (LESSA, 1999, p. 8, grifo nosso). Podemos fazer a seguinte elucidação: nas sociedades primitivas, é pelo trabalho que o homem transforma a natureza (realidade material) e também se transforma, numa relação homem versus natureza. Como vimos anteriormente, nas sociedades complexas, é pelo trabalho que se promove a organização das relações sociais paramanter uma determinada ideologia, ou seja, uma relação de dominação do homem versus homem. A história do homem3 é a história da origem e desenvolvimento das diversas formas de organização social. Por meio do trabalho, o homem construiu as bases das relações sociais e a própria história encarregou-se da sua complexificação com a tecnificação, a divisão sexual do trabalho e globalização dos mercados. Além de criar os complexos sociais como a política, o direito, a cultura, a filosofia e outros para o bom funcionamento da ideologia dominante, [...] a forma de organização das relações de produção na sociedade capitalista, cujo núcleo básico é a compra e a venda da força de trabalho, dá origem a uma sociedade civil marcada pela divisão entre público e privado, pela oposição dos homens entre si, pela exploração, pela dominação, pelo egoísmo, pelo afã de poder, enfim, por uma fratura ineliminável no seu interior. (TONET, 2004, p. 26). A sociedade foi dividida em duas classes: a que trabalha e produz riqueza e a que apropria a riqueza socialmente produzida, em outras palavras, a classe dominada e a classe dominante. A que trabalha vende a sua força de trabalho em troca de um salário para sua sobrevivência em detrimento do enriquecimento e empoderamento da outra classe. Identificamos, aqui, o surgimento do trabalho alienado, pois o trabalhador não se reconhece no produto de seu trabalho, visto que há apenas uma relação de troca, característica do trabalho assalariado na sociedade 3 O termo homem é utilizado enquanto ser humano. 24 capitalista. Sobre o conceito de alienação, Granemann (2011, p. 14) afirma que A sociabilidade contida em um modo de produção que transforma a tudo em mercadorias, a começar pela força de trabalho, tem como seu resultado relações sociais e a atividade laborativa mesma de produzir os bens necessários à vida social, como algo penoso, alienado, no qual o próprio produtor não se reconhece nos frutos de seu trabalho. A esse processo damos o nome de desenvolvimento das forças produtivas que são mediadas pelo trabalho, a qual toda potência humana é empregada na produção dos bens que são indispensáveis à reprodução da sociedade, tais como: a ciência, divisão social do trabalho, ideologia, conhecimento, técnicas, entre outras. Porém, há o lado negativo do desenvolvimento das forças produtivas, a capacidade humana de produzir desumanidades, como dito anteriormente. O aspecto negativo faz parte do complexo de alienação. Na sociedade, onde o trabalho se baseia nas relações de exploração/ dominação, este passa a atender não apenas as necessidades humanas, mas as necessidades da ideologia, no caso, a capitalista. O trabalho passa a ser subalterno ao capital, ou seja, às necessidades de acumulação de riquezas pela classe dominante. Como nos diria Marx e Engels (2007, p. 47, grifo do autor) “As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante.” Aqui se trata do trabalho assalariado e alienado, a qual a força de trabalho é submetida à reprodução do capital para a manutenção da ordem vigente e obtenção do lucro por meio da mais-valia4, do excedente de trabalho. A sociedade capitalista é permeada pela contradição entre as classes fundamentais (burguesia e proletariado), em que o trabalhador se torna mero instrumento nas mãos de seu patrão, se tornando “coisa”. A “coisificação” do trabalhador se dá pelo fato de que ele não mais se reconhece no produto do seu trabalho, já que não participa do processo completo da produção, mas apenas da parte que foi designado. O processo de trabalho produz riqueza para a classe dominante e miséria 4 Segundo Marx, mais-valia significa valor excedente não pago ao trabalhador e que somente acontece na esfera da produção, este valor é apropriado pelo capitalista. Significa que, “[...] Comparando o processo de produzir valor com o de produzir mais valia, veremos que o segundo só difere do primeiro por se prolongar além de certo ponto. O processo de produzir valor simplesmente dura até o ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um equivalente. Ultrapassando esse ponto, o processo de produzir valor torna-se processo de produzir mais valia (valor excedente).” (MARX, 1988). 25 para a classe dos trabalhadores, isto se deve ao fato de que o capital não pode deixar de se expandir, pois ele é uma forma de propriedade privada, ou seja, se alimenta de sua própria acumulação. Sendo assim, ele existe para manter a lucratividade e rentabilidade dos negócios a fim de garantir a sua expansão. Por meio da divisão do trabalho, já está dada desde o princípio a divisão das condições de trabalho, das ferramentas e dos materiais, o que gera a fragmentação do capital acumulado em diversos proprietários e, com isso a fragmentação entre capital e trabalho, assim como as diferentes formas de propriedade. Quanto mais se desenvolve a divisão do trabalho e a acumulação aumenta, tanto mais aguda se torna essa fragmentação. O próprio trabalho só pode subsistir sob o pressuposto dessa fragmentação. (MARX; ENGELS, 2007, p. 72) Dessa forma, “[...] o trabalho continua a ser o eixo fundamental da sociabilidade humana.” (GRANEMANN, 2009, p. 225). Além de ser sustento das relações sociais, é nele que se assenta a reprodução social. Analisando os aspectos políticos e econômicos da sociedade capitalista madura, percebe-se uma grande transformação nos diversos setores que compõe a economia em relação aos demais estágios do capitalismo que outrora o homem tem presenciado e construído a sua história. Desde os primórdios da civilização, o trabalho tem sido o elemento de proteção e sobrevivência do homem nas diversas formas de sociabilidade que já acometeram a humanidade. Sabendo disso, trabalho e determinantes das relações humanas sempre estarão presentes na vida do ser social, porque ele é sujeito atuante e elemento modificador desse processo, sendo o sujeito, também, uma categoria inscrita na sociabilidade capitalista que tem o trabalho como centro nas relações sociais e de produção. A relação da compra e venda da força de trabalho entre o trabalhador e o capitalista pode ser representada na própria fala de Marx (1988), Ao penetrar o trabalhador na oficina do capitalista, pertence a este o valor- de-uso de sua força de trabalho, sua utilização, o trabalho. O capitalista compra a força de trabalho e incorpora o trabalho, fermento vivo, aos elementos mortos constitutivos do produto, os quais também lhe pertencem. Diante do percurso histórico-ontológico traçado até o momento, pretende- se apresentar os elementos pertinentes à sociedade capitalista contemporânea, considerando os traços do passado que influenciaram e influenciam os 26 direcionamentos do modo de produção capitalista na atualidade sempre tendo como base a centralidade da categoria trabalho na constituição da vida do ser social. 1.1.1 As manifestações da categoria Trabalho na sociedade capitalista contemporânea A partir da década de 1980 o mundo do trabalho sofreu grandes transformações, principalmente em países de capitalismo avançado, o qual a classe- que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2008) sofreu profundas crises, afetando inter- relacionamentos e até sua forma de ser. Isso provocou um grande salto tecnológico, mesclando fordismo e taylorismo, ou seja, mudanças nos moldes da produção. A produção em série e de massa foram substituídas pela “flexibilização da produção”, que adequa a produção à lógica do mercado provocando rebatimentos negativos nos direitos trabalhistas conquistados. Novos padrões de gestão da força de trabalhosão incorporados a essa nova ideologia, como os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) que remetem a uma “gestão participativa, de busca da qualidade total”, expressões estas muito utilizadas em países de capitalismo avançado. O CCQ foi desenvolvido no Japão por gerentes de empresas, a partir dos anos 50, junto com o toyotismo. No sistema Toyota, os engenheiros do chão de fábrica deixam de ter um papel estratégico e a produção é controlada por grupos de trabalhadores. A empresa investe muito em treinamento, participação e sugestões para melhorar a qualidade e a produtividade. O controle de qualidade é apenas uma parte do CCQ. (WATANABE, 1993, p. 5 apud ANTUNES, 2008, p. 35) Os valores toyotistas foram conquistando espaço e adeptos na sociedade, de forma que não somente a organização do trabalho se transformou, mas também a organização dos trabalhadores, que se encontra ameaçada sob o poder dos empresários. Estes incutem na mente de seus funcionários que a empresa na qual trabalham é sua família e que dela necessitam cuidar, eliminando, dessa forma, qualquer forma de organização autônoma dos trabalhadores. Infere-se que todas as conquistas dos trabalhadores são irrisórias diante da nova ordem do capital, da flexibilização do trabalho, da desregulamentação dos direitos trabalhistas, lembrando o despotismo taylorista que envolve e manipula, características próprias da sociabilidade contemporânea moldada pelo sistema 27 produtor de mercadorias. O trabalho assalariado é a forma especifica do regime a que vivem submetidos os produtores diretos no MPC. Isso significa que ele é parte constitutiva do sistema de exploração do trabalho que é próprio do MPC: por mais significativas que sejam as conquistas salariais dos trabalhadores (e elas são importantes em si mesmas, entre outras razões porque podem melhorar as suas condições de vida), não afetam o núcleo do caráter explorador da relação capital/trabalho. Do ponto de vista ideológico, aliás, o regime salarial contribui para difundir a falsa ideia, tão cara aos capitalistas, segundo a qual, mediante o salário, os trabalhadores obtêm a remuneração integral do seu trabalho. (PAULO NETTO; BRAZ, 2008, p. 104). A acumulação flexível quer se voltar para o crescimento, isto é, crescer em valores que se apoiam em e na exploração do trabalho, oferecendo ao sistema uma intrínseca dinâmica tecnológica e organizacional, características próprias ao modo de produção capitalista (MPC). Para se adequar às novas necessidades do mercado, foram inseridos à produção mecanismos de aproveitamento do tempo, dentre eles temos o quesito da polivalência do trabalhador, que deve operar várias máquinas ao mesmo tempo, na lógica just in time da empresa, ou seja, o processo de trabalho é cronometrado e deve responder à qualidade exigida pela empresa, intensificando o ritmo, o tempo e o processo de trabalho, flexibilizando o aparato produtivo e a organização do trabalho, havendo a necessidade de agilidade em se adaptar. Esta lógica mercadológica foi introduzida pela empresa japonesa automobilística Toyota, que influenciou fortemente na forma de racionalização do trabalho, na ênfase da meritocracia na empresa, no sindicalismo manipulado e cooptado e na produção condicionada pela demanda, intensificando o processo de exploração do trabalho. Segundo Dupas (2001, p. 25) [...] é certo que a flexibilidade propiciada pelas novas tecnologias tem permitido que o processo de geração de excedente no capitalismo atual não mais se restrinja à jornada de trabalho, invadindo os demais momentos do cotidiano do trabalhador, o que cria a ilusão de que o capital aproxima-se do trabalho ao não mais exigir cartão de ponto e ao remunerá-lo por resultado. Na verdade, a flexibilidade propiciada pelas novas tecnologias rompeu as limitações impostas pelas dimensões espaço/tempo, destruindo a verticalização da produção e fragmentando o trabalho para longe de um único espaço físico. A nova lógica de mercado procura dispor de diversos mecanismos para 28 responder à demanda existente e criar novas demandas, para isso não se preocupa em destruir o pouco que sobrou do estado de bem estar social naqueles países que viveram sobre este regime, tratando-se do direito dos trabalhadores assalariados, já que o modelo japonês atua muito mais em sintonia com a agenda neoliberal do que com uma visão verdadeiramente social-democrata. A questão é viver o sonho do capital (ANTUNES, 2008), Estado mínimo5 para os trabalhadores e máximo para o capital. O capitalismo contemporâneo tem uma característica singular que é a destruição de todas as regulamentações e direitos que foram historicamente conquistados, o qual não se pode deixar de considerar todo o sangue que foi derramado em lutas do movimento operário desde a sua constituição A desmontagem (total ou parcial) dos vários tipos de Welfare State é o exemplo emblemático da estratégia do capital nos dias correntes, que prioriza a supressão de direitos socais arduamente conquistados (apresentados como “privilégios” de trabalhadores) e a liquidação das garantias ao trabalho em nome da “flexibilização” já referida. (PAULO NETTO; BRAZ, 2008, p. 226). Diante disso, há um distanciamento de alternativas que vão para além do capital, já que as medidas adotadas têm seu fundamento na ótica do mercado, da produtividade e das empresas, não levando em consideração expressões como o desemprego estrutural, que é resultado das transformações do processo produtivo. Não se considera a demanda trazida pelo trabalhador, visto que a mesma é fruto da exploração do trabalho, base em que se assenta a acumulação capitalista. Os dilemas da contemporaneidade possuem como raiz a forma de gerenciamento das relações sociais e de trabalho, influenciando em questões éticas, sociais e políticas Hoje a questão tornou-se mais complexa. No andar de cima potencializa-se a acumulação pelo grau de inovação, pela possibilidade de fragmentação das cadeias produtivas globais e pela enorme autonomia da tecnologia, esta última finalmente liberta de suas amarras éticas ou sociais, antes teoricamente representadas pelo papel mais atuante dos Estados nacionais. 5 O Estado adota medidas de incentivo fiscal para as grandes organizações enquanto as políticas sociais sofrem cortes exorbitantes. Segundo Montaño e Duriguetto (2011, p. 208, grifos dos autores) há uma “[...] orientação para o corte dos gastos sociais do Estado, para assim conter o déficit público e gerar superávit primário, segue, na verdade, as recomendações contidas no ajuste estrutural proposto pelos organismos internacionais, pelas quais as economias nacionais devem adaptar-se às novas condições da economia mundial. É nesse cenário que é preconizada a redução da intervenção estatal no financiamento e na operacionalização das políticas sociais. Dessa forma focaliza suas ações e direciona os gastos públicos aos que comprovam sua pobreza. 29 [...] Se a consequência desse desenvolvimento for, por exemplo, um maciço aumento do desemprego por conta da radical automação no setor de serviços, este ônus passa a ser transferido para a sociedade, tenha ela ou não estrutura para lidar com a questão. (DUPAS, 2001, p. 28). Acerca das metamorfoses do mundo do trabalho e da classe-que-vive-do- trabalho, observamos uma subproletarização (ANTUNES, 2008, p. 47) intensificada, expressa na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado e “terceirizado”, que marca a sociedade capitalista, complementando o processo de estranhamento do trabalho que possibilita ao capital a apropriação do saber e do fazer do trabalho. No atual modo de produção, o trabalho é estranhado/coisificado ao homem, fazendo com que ele não conheça todo o processo de produção, ou seja, não fazparte do produto que realiza, não se reconhece como parte do processo. A base de acumulação do capital é a exploração, a expropriação de mais-valia e a apropriação da riqueza socialmente produzida. O princípio de totalidade nos possibilita compreender que a subsunção do trabalho ontológico ao trabalho explorado não permite ao ser humano uma realização pessoal, mas responde apenas, aos fetiches do capital globalizado. Muitos trabalhadores sentem diretamente as transformações do mundo do trabalho precarizado, temporário, terceirizado, tendo seu cotidiano moldado pelo desemprego estrutural. O trabalho possui várias faces resultantes das modificações do mundo da produção de capital ocorrida nas últimas décadas. Podemos dizer que essa nova lógica de mercado fez germinar um exército de trabalhadores informais, ampliando o trabalho desregulamentado sem carteira assinada. Nesta era de informatização do trabalho (transferir as capacidades intelectuais para a máquina), observamos uma informalização do mesmo, que agrega uma classe desprovida de direitos com salários baixos. Vivenciamos uma queda do trabalho contratado e regulamentado, que está sendo substituído pelo empreendedorismo, corporativismo e pelo trabalho voluntário. Esse cenário tem se desdobrado no aumento de instituições do terceiro setor, desenvolvendo atividades ligadas a assistência, com ou sem fins lucrativos, à margem do mercado. A internacionalização do capital se caracteriza, portanto [...] por um processo de precarização estrutural do trabalho, os capitais globais estão exigindo também o desmonte da legislação social protetora do trabalho. E flexibilizar a legislação social do trabalho significa – não é 30 possível ter nenhuma ilusão sobre isso – aumentar ainda mais os mecanismos de extração do sobretrabalho, ampliar as formas de precarização e destruição dos direitos sociais arduamente conquistados pela classe trabalhadora, desde o início da Revolução Industrial, na Inglaterra, e especialmente pós-1930, quando se toma o exemplo brasileiro. (ANTUNES, 2008, p. 109, grifo do autor). Figura-se um processo no qual há a procura por manter a sobrevivência sobrepondo-se a muitas outras necessidades. O neoliberalismo tem ditado as regras: reestruturação produtiva, privatização acelerada, recrudescimento do Estado, políticas fiscais e monetárias articuladas com órgãos mundiais como o fundo Monetário Internacional (FMI), desmonte dos direitos sociais, manipulação do trabalho, fragmentação e heterogenização da classe trabalhadora. Diante deste cenário destruidor, o qual o capital enfrenta suas crises criando outras crises para manter seu ciclo vital, podemos considerar e relevar a categoria trabalho como central neste modo de produção e na vida do homem, visto que “[...] o capital pode diminuir o trabalho vivo, mas não eliminá-lo. Pode intensificar sua utilização, pode precarizá-lo e mesmo desempregar parcelas imensas, mas não pode extingui-lo” (ANTUNES, 2008, p.186, grifo do autor). Nesse cenário, o Estado não se posiciona de forma neutra, mas de forma cautelosa frente à nova ordem societária ditada pelo capital. Este novo modelo de Estado deveria garantir os meios mínimos de sobrevivência para as pessoas. Se realizarmos uma análise de conjuntura, entretanto, não encontraremos elementos concretos que nos provem sua materialidade, ou seja, o Estado parece estar cumprindo um papel de ator observador ao invés de ser o protagonista, no sentido de buscar melhores alternativas para os apelos da população. Não garantindo o trabalho, acaba por incentivar o trabalho informal e precário. A forma assalariada de trabalho desenvolvida pelo capitalismo visa à integração das pessoas ao modo de produção. A concentração de renda e a desigualdade social contribuem para o desemprego estrutural. Outra característica muito presente após a década de 1990 é a massificação do consumo e intensificação do sistema de produção, que tem como grande parceira a propaganda mercadológica, seja ela direta ou indireta, visando que o produto final alcance sucesso, em outras palavras, consumido por um grande número de pessoas. Acerca do consumo, Granemann (2011, p. 4) considera que 31 Claro está que os processos de manipulação da natureza, em especial no modo de produção capitalista, não carregam a preocupação de preservar a vida já que a crescente conversão de todas as esferas da sociabilidade humana em processos apropriados pelo capital e tornadas mercadejáveis propiciaram incessantes produção e consumo de mercadorias que tem ameaçado de destruição o planeta. Parâmetros tais convertem a ação laborativa em atividade que produz uma sociabilidade alienada porque exercida com o fito da mercantilização, exclusivamente com o objetivo de auferir lucros para o capitalista e, por essa razão, no modo capitalista de produção impôs-se aos homens forma particular de efetivação do trabalho. Pela exposição da autora, infere-se que as transformações ocorridas na sociedade e nas condições de vida da população estão relacionadas à ordem econômica, organização do trabalho, mudança de valores e de hábitos e afirmação da lógica individualista no contexto da sociedade. Provocando mudanças radicais no modo de organização familiar e no papel da pessoa idosa na sociedade, além de termos um crescimento acelerado da pobreza nas classes, majoritariamente, marginalizadas. Tais transformações societárias vão interferir no cotidiano e na subjetividade da pessoa idosa que está no mercado de trabalho. Devemos considerar que “Todas as transformações implementadas pelo capital têm como objetivo reverter a queda da taxa de lucro e criar condições renovadas para a exploração da força de trabalho.” (PAULO NETTO; BRAZ, 2008, p. 218). Diante desse cenário, encontramos idosos que já se aposentaram, mas que, devido às intempéries enfrentadas nessa sociedade, ainda permanecem ou retornam ao mundo do trabalho. São pessoas idosas que já usufruem de sua aposentadoria ou são beneficiárias de outros programas sociais e que não veem alternativa além do trabalho para garantir a sua sobrevivência e de sua família. O sistema capitalista se apropria dessa força de trabalho para garantir sua permanência como um dos braços do motor da economia. 32 Gráfico 1 – Projeção da razão de dependência total, de jovens e de idosos (Brasil – 2030/2100). Fonte: IBGE, (2014, [p. 22]) - Síntese de Indicadores Sociais O gráfico 1 mostra, proporcionalmente, uma previsão do grau de dependência da renda das pessoas idosas numa escala de tempo entre 2030 a 2100 no Brasil. Percebemos, que a participação do jovem diminui e a participação da pessoa idosa aumenta com o passar dos anos podendo chegar a mais de 80% do grau de dependência da renda. Esses números são um retrato do que já acontece na atualidade, visto que, a renda proveniente da aposentadoria ou do trabalho já é suporte de muitas famílias brasileiras, sendo esta uma realidade que acontece não somente no Brasil, mas em muitos países, inclusive considerados desenvolvidos. Dois grupos populacionais tiveram importante contribuição para o indicador de informalidade: os jovens e os idosos. Em 2013, cerca de 45% dos jovens de 16 a 24 anos ocupados estavam em trabalhos informais. Entre os idosos no mercado de trabalho este percentual era ainda maior (69%). Esses dois grupos têm características distintas, visto que os jovens estão iniciando sua trajetória profissional; os idosos, por sua vez, estão em outro estágio da vida laboral, seja encerrando um ciclo profissional ou retornando ao mercado de trabalho, já aposentados. Dessa maneira, as características de proteção social do trabalho formal podem não ser o principal atrativo para os idosos. (IBGE, 2014, [p. 129-130]). Estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a maioria dos postosde trabalho ocupados pelas pessoas idosas são informais e que os números vêm crescendo nos últimos anos, como mostra o gráfico 2. 33 Gráfico 2 – Proporção de pessoas de 16 anos ou mais de idade ocupadas em trabalhos informais, segundo os grupos de idade – Brasil – 2004/2013. Fonte: IBGE, (2014, [p. 129]) - Síntese de Indicadores Sociais Percebe-se que há uma variação do aumento da ocupação dos postos de trabalho informais no Brasil entre os anos de 2004 a 2013 e que a faixa etária de 60 anos ou mais cresce e em maior escala no mesmo período, revelando a problematização deste estudo de que a pessoa idosa retorna ao mercado de trabalho mesmo já usufruindo de algum benefício ou aposentadoria justamente porque a os rendimentos são poucos para manter a subsistência pessoal e de sua família. 1.1.2 A pessoa idosa no mundo do trabalho e a influência da família Acerca das considerações sobre o mundo do trabalho e suas influências na formação da sociabilidade capitalista não podemos deixar de destacar, afinal, sendo ele o nosso objeto de estudo, os dilemas vivenciados pela pessoa idosa no mundo do trabalho, que agora se torna mais aparente a problemática do idoso trabalhador que é requisitado pelo mercado tanto por possuir mais conhecimento que a população jovem quanto por ser mão-de-obra barata para o capitalista, principalmente se ele(a) já for uma aposentado(a). A sociabilidade capitalista constitui-se de 34 [...] uma sociedade na qual se subordinam as sociedades nacionais em seus segmentos locais e arranjos regionais, com suas potencialidades e negatividades, considerando seus dinamismos e contradições. Nela se confrontam o neoliberalismo, o nazifascismo e o neo-socialismo. Nesse novo estágio de desenvolvimento do capital redefinem-se as soberanias nacionais, com a presença de corporações transnacionais e organizações multilaterais – o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, a “santíssima trindade do capital em geral” – principais porta-vozes das classes dominantes em escala mundial. (IANNI, 2004 apud IAMAMOTO, 2010, p. 110). Nesse sentido, tomando esta configuração, a pessoa idosa é alvo deste novo ordenamento societário que busca manter as pessoas subordinadas e alienadas ao próprio trabalho. Sendo assim, a força de trabalho da pessoa idosa possui igual valor como qualquer outro segmento pertencente a esta sociedade, participando do processo de produção e reprodução social e estando sujeito as diversas intempéries de ordem econômica, política e social resultantes da contradição do modelo econômico vigente que preza a acumulação de riqueza em detrimento do aumento da miséria, um não existe sem o outro. O mito do idoso tratado como um ser humano e social que perdeu sua utilidade, sua força física e sua capacidade de contribuir para com o sustento da casa, toma no neoliberalismo uma nova configuração, na qual o envelhecimento se torna uma problemática social devido ao aparecimento de uma população que vive em vulnerabilidade social, e que, por conta dessa situação, passa a participar ativamente da força de trabalho que a pessoa idosa tem “[...] seu tempo de vida subordinado ao tempo de trabalho, mesmo depois de aposentado.” (TEIXEIRA, 2009, p. 68). [...] como se verá, o rendimento do trabalho do idoso é fundamental na composição de sua renda pessoal e familiar, de tal forma que dificilmente se pode esperar mecanismos compensatórios que permitam a queda da sua participação no mercado de trabalho. (CAMARANO, 2004). Faz-se uma associação da qualidade de vida na terceira idade com o mercado consumidor, na qual a pessoa idosa passa a ser, então, alvo de propagandas e do consumismo. Observando a realidade aparente, percebe-se que a pessoa idosa que trabalha ou contribui com a renda familiar de outra forma não possui uma qualidade de vida completa em sua totalidade e a família também não pode desfrutar ou ao menos buscar ter uma qualidade de vida entre seus membros. Estamos falando de uma população economicamente ativa que volta ao mercado de trabalho para suprir uma necessidade individual, da sua família e do 35 próprio mercado. Esse cenário provoca alterações tanto no mercado de trabalho, ou seja, como receber essa mão de obra, quais subsídios oferecer e qual o respaldo político que essa população necessita; de forma a garantir sua manutenção pessoal. Percebemos que o Estado se comporta de maneira periférica, sendo submisso aos ditames do capital que se preocupa apenas com sua própria acumulação, oferecendo políticas que são “[...] incapazes de romper com o ciclo da pobreza decorrente da apropriação privada da riqueza.” (TEIXEIRA, 2009, p. 69). O Estado como mantenedor das estruturas de classes e relações de produção, faz jus a mundialização do capital cumprindo sua função de reproduzir os interesses institucionalizados entre as classes e grupos dominantes. A fim de evitar as crises, cria políticas anticíclicas para conter e valorizar os processos de acumulação de capital, criando programas de ajuste estrutural. Aos que não se enquadram nas condicionalidades dos programas a solução é o se sujeitar aos postos aviltantes do mercado de trabalho, submetendo-se, muitas vezes, a condições subumanas para manter a sobrevivência. Essa é a realidade de muitas pessoas idosas, que não são contempladas pelos programas sociais e nem pela previdência social. Segundo estudos de indicadores sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014, [p. 38]) A proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade que acumulavam aposentadoria e pensão foi diferenciada por sexo, sendo que 2,6% dos homens e 11,9% das mulheres estavam nesta condição [...]. A alta proporção de idosos de 60 anos ou mais de idade que não recebiam aposentadoria ou pensão (23,9%) possivelmente está relacionada à inserção no mercado de trabalho, dado que a taxa de ocupação foi de 27,4% nesta faixa de idade, mas para aqueles que não eram aposentados ou pensionistas a taxa de ocupação foi de 45,1%. Merece destacar também que 15,6% dos idosos de 60 anos ou mais de idade eram aposentados e estavam ocupados na semana de referência, sendo que o indicador foi de 23,2% para os homens e 9,5% entre as mulheres deste grupo etário. O tempo médio semanal dedicado ao trabalho das pessoas de 60 anos ou mais de idade foi de 34,7 horas, valor abaixo do tempo médio para a população total ocupada. A principal fonte do rendimento dos idosos de 60 anos ou mais de idade, na semana de referência, foi de aposentadoria ou pensão (67,6%) e o trabalho contribuiu com 28,3% da composição do rendimento nesta faixa etária. Percebe-se que o trabalho é importante no cotidiano das pessoas idosas e, apesar da aposentadoria compor como um dos rendimentos principais, a renda do trabalho também é contabilizada, ou seja, viver com uma renda apenas não basta, o 36 trabalho é necessário. Apesar de o trabalho ainda ser presente nessa fase da vida, a proposta do envelhecimento ativo é que as pessoas idosas passem a ocupar os espaços de discussão, sendo autoras e construtoras de sua própria história, colocando em prática a sua cidadania enquanto sujeitos de direitos. A participação social diz respeito a todos os espaços: cultural, social político, econômico, lazer, entre outros contribuindo para uma expectativa de vida saudável e com qualidade. Outro ponto a se considerar é que, quem está envolvido com este segmento, sejam especialistas ou voluntários que devem contribuir com o fortalecimento do movimento do idoso, em que a pessoa idosa possa expor suas ideias e reivindicar seus direitos junto às instâncias governamentais. Entretanto, Teixeira (2009, p. 70-71, grifo do autor) nos afirma que: As diversas respostas contemporâneas à problemática do envelhecimento, tomado de forma genérica,não só mascaram a centralidade do envelhecimento do trabalhador na constituição dessa problemática social, mas também os novos movimentos sociais, especialmente, na fase atual, em que as ONGs assumem a dianteira nessas lutas, não priorizam suas demandas e necessidades, como têm reforçado a cultura protetiva nesse enfrentamento, assumindo uma dimensão protecionista na execução de serviços, legitimando e dando corpo às novas simbioses entre o público e o privado. Podemos reconhecer como desafio, levar para a sociedade a questão do envelhecimento e suas múltiplas facetas, visto que, forças políticas tem se desdobrado para manipular essa realidade, mascarando o que realmente acontece, principalmente, em relação aos idosos trabalhadores. Essa população por vezes se vê como excluída por não encontrar aparato para suprirem suas necessidades. Ao mesmo tempo em que temos sujeitos envolvidos para desmistificar o envelhecimento como algo ruim, fomentando o debate acerca da construção da cidadania para as pessoas idosas, temos também a sociedade requisita para fazer parte da População Economicamente Ativa (PEA). Acerca do trabalho na velhice, Paiva (2014, p. 114) considera que Eis a trama que produz e reproduz a vida inteira do(a) trabalhador(a) e que não o(a) libertará da condenação ao trabalho na velhice, a menos que a doença ou a morte, significando o esgotamento total da sua capacidade funcional do sistema do capital, o(a) incapacite para tal esforço. Tampouco o(a) libertará, enquanto classe, da condição de se reproduzir nos limites da força a ser sugada pelo espírito predatório do capital. Diante desse cenário de extrema exploração da força de trabalho da 37 pessoa idosa e que, na visão da autora da qual este trabalho compartilha, enquanto classe trabalhadora não se desvencilhará do trabalho na velhice, já que, muitas têm sido as situações de pobreza extrema enfrentada por este segmento, famílias que são mantidas com a renda da aposentadoria ou outro benefício assistencial, pela renda do trabalho informal, entre os elementos que não permitem que a pessoa idosa desfrute desta fase da vida, muitas vezes não planejada pelo próprio sujeito, visto que o cotidiano o alijou de qualquer reflexão crítica sobre como conduzir sua vida na velhice. Por vivenciarmos a contradição capital e trabalho, a população idosa deixa de fazer parte do exército industrial de reserva para compor a população economicamente ativa, oferecendo sua força de trabalho para o desenvolvimento das forças produtivas e também para manter o equilíbrio do capital. Dentro dessa contradição, notamos que a força de trabalho mais velha está no mercado do trabalho por muitos motivos, que podemos destacar: falta de mão de obra qualificada, redução de gastos com o pagamento seguridade social para os funcionários mais jovens, amplo conhecimento produtivo armazenado pela pessoa idosa durante sua vida de trabalho tem maior peso na atualidade, entre outros fatores. A questão da redução de gastos justifica a contratação de pessoas idosas que já se aposentaram, ou seja, o empresário não precisará guardar recurso para despesas da seguridade social para um funcionário que já está aposentado, e mais ainda, não poderá registrá-lo, o que na visão do empresário é uma vantagem, já que se desresponsabilizará quanto ao cumprimento de algumas leis trabalhistas. As manobras da ofensiva neoliberal vão atingir, na contemporaneidade, o segmento mais velho da classe trabalhadora, principalmente, mediante estratégias que o detenham ou o remetam de volta ao mercado capitalista de trabalho, não livrando esse segmento dos mecanismos mais bárbaros de exploração. Seja pela via do subemprego, da precarização; seja pela via da “provedoria” de seus descendentes. (PAIVA, 2014, p. 127). Como foi explanado, o trabalhador idoso é vítima do sistema opressor do capital. Sabe-se que existem postos de trabalho aviltantes que negam veementemente as leis trabalhistas e qualquer tipo de direito que o trabalhador está assegurado, o que leva a refletir que a pessoa idosa já vivencia em sua velhice algumas doenças que necessitam de cuidados especiais, a qual os medicamentos, 38 muitas vezes, excedem o valor que podem pagar. Com a precarização do trabalho isso se torna um sério problema em sua vida, porque o salário que ganha mal assegura a sua saúde. Atualmente, tem se tornado muito comum a convivência de idosos com suas famílias, segundo o IBGE (2014, [p. 37]), Uma dimensão importante ao tratar dos idosos refere-se ao tipo de arranjo domiciliar no qual este está inserido e como se dá a convivência familiar. Em 2013, o arranjo familiar mais comum para os idosos (30,6%) foi aquele composto por idosos morando com filhos, todos com 25 anos ou mais de idade, na presença ou não de outros parentes ou agregados, sendo este indicador mais elevado para as idosas (33,3%) que para os idosos (27,3%). Outro arranjo comum foi o formado por casais sem filhos (26,5%), e para os homens esse arranjo foi o mais comum (33,4%) do que para as mulheres (21,0%). A proporção de idosos que viviam sozinhos, ou seja, sem filhos, cônjuge, outros parentes ou agregados, foi de 15,1%, e para as mulheres este indicador atingiu o valor de 17,8%. Desta forma, 84,9% dos idosos estavam em arranjos em que havia presença de outra pessoa com quem estabelecesse alguma relação familiar, seja cônjuge, filho, outro parente ou agregado. Os arranjos familiares, residentes em domicílios particulares, que tinham ao menos uma pessoa de 60 anos ou mais de idade correspondiam a 29,0% do total de arranjos familiares e para os arranjos familiares com idosos o rendimento mensal familiar per capita médio foi 25,0% superior ao rendimento dos arranjos familiares sem idosos e 16,6% superior ao rendimento do total de arranjos familiares. Diante dessa conjuntura vivenciada pelas novas configurações familiares e pela pessoa idosa, um ponto a destacar é a contribuição da renda da pessoa idosa para o sustento de sua família, mesmo com a aposentadoria, a ajuda também parte dos rendimentos do trabalho, pois, agora, compõem a população economicamente ativa, ocupando postos de trabalho formais e informais. Esta é uma tendência que vem aumentando ao longo do tempo, a qual cada vez mais os rendimentos da pessoa idosa, seja ele proveniente do trabalho ou de benefícios, são base para a manutenção do núcleo familiar. Isso também se deve ao fato que tem crescido o número de famílias extensas, as quais o idoso tem sido, em muitas situações, o provedor do lar. “Com seus parcos rendimentos, os(as) velhos(as) trabalhadores(as) acabam se responsabilizando pela própria reprodução social e de toda a sua família. Inaugura-se a época do(a) velho(a) trabalhador(a) valorizado(a) como fonte de renda [...].” (PAIVA, 2014, p. 129) Paiva (2014, p. 130) também considera que Faz-se necessário subverter a lógica que esvazia o curso de vida humana de sua historicidade; lógica do longo e árduo processo de vida e trabalho, desumanizando a velhice dos(as) trabalhadores(as); lógica que responsabiliza e culpabiliza o indivíduo pela tragédia da qual faz parte. 39 Considera-se que somente subvertendo esta lógica selvagem do capital é que podemos realmente propiciar às pessoas idosas uma velhice mais humanizada, no sentido de poderem desfrutar melhor esta fase de sua vida, aviltada pelas condições de trabalho no modo de produção capitalista, possibilitando-os de ter uma qualidade de vida melhor usufruindo do lazer, cultura e maior convívio social. 1.1.3 Consumo e envelhecimento: estratégias do capital Ao perceber que a pessoa idosa ainda permanece ativa no mercado de trabalho de alguma forma, o sistema capitalista a todo o momento cria manobras para garantir sua manutenção por meio do consumo de mercadorias. O público idoso não está livre dessa trama
Compartilhar