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GESTÃO DE BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Norma Lucia Neris de Queiroz Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Q3g Queiroz, Norma Lucia Neris de Gestão de biblioteca escolar e sala de leitura. / Norma Lucia Neris de Queiroz. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 162 p.; il. ISBN 978-65-5646-069-7 ISBN Digital 978-65-5646-062-8 1. Biblioteca escolar. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci CDD 028.8 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................07 CAPÍTULO 1 Caracterização da Biblioteca Escolar e da Sala de Leitura, suas Funções e Contribuições para os Segmentos Escolares e a Comunidade em Geral .......................................................9 CAPÍTULO 2 Gestão da Biblioteca Escolar e da Sala de Leitura, Seus ObJetiVos e Funções .............................................................59 CAPÍTULO 3 Integração da Biblioteca, da Unidade de Ensino e da Comunidade Escolar, Seus Recursos e AtiVidades ........ 111 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, para iniciar o nosso diálogo é importante dizer a você que é um grande prazer tê-lo como estudante nesta disciplina. Traçamos como objetivo construir e ampliar seus conhecimentos sobre a gestão da biblioteca escolar, da sala de leitura e suas contribuições para a escola, a família e a comunidade de modo geral, enfatizando suas funções, objetivos, missões, categorias e parâmetros de organização desses espaços com as flores da primavera e a alegria dos livros acolhidos na biblioteca da escola ou na sala de leitura, os quais, como nos mostra a Figura 1, nos encantam. FIGURA 1 – BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA FONTE: <http://www.bibliotecasdobrasil.com/2016/09/10-ideias- para-enfeitar-biblioteca-na.html>. Acesso em: 10 abr. 2020. Sendo assim, compreender as importantes contribuições e possibilidades da biblioteca escolar e das salas de leitura para a formação dos estudantes-leitores no processo de ensino e aprendizagem é relevante nesse momento, vez que pode conferir sentidos e significados aos estudantes no campo educacional, em especial nos tempos de incertezas que vivenciamos no país. Nessa perspectiva, sugerimos observar a imagem anterior (Figura 1), a qual buscou comunicar a você que “a ideia de biblioteca nasceu, provavalmente, para preservar a literalidade dos textos e conhecimentos das falhas da memória” (JACOB, 1996, p. 33). Logo, a discussão que buscamos tecer aqui foi olhar para a biblioteca escolar e a sala de leitura como espaços-lugares, condutores da leitura e do fazer letrado, em que, apesar da lógica da erudição carregada pela biblioteca em nossa cultura, todos os segmentos presentes na comunidade escolar possam transitar com prazer de estar neles, uma vez que os leitores e escritores têm a possibilidade de reunir suas ideias “conjuntamente com as dos livros que contêm o passado escrito e assegurado, em um espaço monumental e de acesso irrestrito” (PINTO, 2004, p. 34). Assim, aqui, ler é visto como um elemento “para auxiliar lembrar; e lembrar para escrever. Este é o percurso completo que a biblioteca indica ao projetar o conhecimento de um tempo no futuro e garantir sua persistência nos livros guardados, e muitas leituras e reescrituras que se fazem dele” (PINTO, 2004, p. 35). Desse modo, o objetivo é que as bibliotecas sejam vistas como espaços importantes e que contribuem para o processo de melhoria da qualidade da educação, como expressa a Figura 2. FIGURA 2 – IMPORTÂNCIA DAS BIBLIOTECAS FONTE: <https://sempreviva.wordpress.com/2012/05/22/nao-seria-maravilhoso-o-mundo- se-as-bibliotecas-fossem-mais-importantes-que-os-bancos/>. Acesso em: 12 abr. 2020. A título de organização, elaboramos três capítulos, subdivididos em seções, com a intenção de facilitar seu estudo sobre o tema trabalhado. Ao longo desses capítulos, você encontrará indicações de textos teóricos, artigos científicos, vídeos e atividades que devem ser feitas durante os momentos de estudos, cuja intenção é enriquecer sua aprendizagem. No primeiro capítulo, foram abordadas a caracterização e conceituação da biblioteca escolar e da sala de leitura, suas missões, categorias, parâmetros e contribuições para a escola, a família e a comunidade de modo geral na qual a escola está inserida. Para contextualizar essa discussão, apresentaremos de forma rápida a evolução da escrita, seus suportes, mudanças históricas, a invenção de Johannes Gutenberg, os livros, a biblioteca e sua origem histórica em nosso país e a importância da sala de leitura para formação de leitores e escritores, bem como a leitura acontece nas escolas públicas e na comunidade de modo geral. No segundo capítulo, o debate foi direcionado à gestão da biblioteca escolar e das salas de leitura, seus objetivos e funções, bem como sugestões de práticas pedagógicas e projetos de leitura que ocorrem ou vierem a ocorrer nesses espaços-lugares como apoio ao processo de ensino e aprendizagem para a comunidade escolar Por fim, no terceiro e último capítulo, a discussão deu ênfase à integração da biblioteca e salas de leitura de unidades de ensino e a comunidade escolar. Somado a isso, discutimos, ainda, as contribuições desses espaços-lugares - biblioteca escolar e sala de leitura -, seus recursos, atividades e projetos de leitura, para fortalecer a integração entre escola e comunidade em geral. A partir dessas discussões e reflexões propostas, espera-se que você demonstre, ao final desta disciplina, seu aprendizado em relação à gestão da biblioteca escolar e das salas de leitura, bem como suas contribuições para a escola, a família e a comunidade de modo geral. Bons estudos e excelente aprendizagem! CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, sUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA oS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Contextualizar de forma rápida a evolução da escrita, seus suportes e mudanças históricas com a invenção de Johannes Gutenberg, os livros, a biblioteca escolar e sala de leitura atuais. Caracterizar e conceituar a biblioteca escolar e sala de leitura, suas missões, categorias, parâmetros e contribuições para a escola. Apresentar a origem histórica das bibliotecas escolares em nosso país. Discutir a importância da leitura no Brasil e como ela acontece nas bibliotecas das escolas públicas e da comunidade em geral. 10 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura 11 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Refl etir sobre a gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura, suas funções, objetivos e contribuições para a escola, a família e a comunidade em geral é uma forma privilegiada de mostrar a força que esses espaços-lugares, entre outras agências de letramento, têm para formar culturalmente os diversos segmentos que estão presentes na comunidadeescolar. Estudos têm mostrado que as formas de organização desses espaços-lugares, como biblioteca escolar e sala de leitura, podem variar muito, conforme a diferenciação de funções, objetivos, categorização dos materiais, da dinâmica de seu funcionamento, da hierarquização que lhes é imposta, da lógica que os articula e dos sentidos e usos que a eles são dados. Por outro lado, por mais variações que tenham ocorrido historicamente na organização das bibliotecas ao longo dos séculos, esses espaços-lugares “mantêm o caráter atribuído às bibliotecas e aos livros neles recolhidos” (PINTO, 2004, p. 33-34). Ou seja, destacam-se, entre outras funções da biblioteca, a de preservar o conhecimento e a escrita. Somada à característica de preservadora do conhecimento e da escrita, a biblioteca escolar e a sala de leitura se assumem como espaços dinâmicos e diferenciados, os quais podem contribuir para a formação da comunidade escolar, apresentando, na contemporaneidade, a necessidade de atualizarem constantemente suas atividades para que continuem alcançando o status de distribuidores da cultura para os jovens na comunidade escolar. Nesta disciplina, o caminho a ser trilhado discute a gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura como espaços-lugares dinâmicos, que assumem ares coletivos, voltados para a transmissão da cultura. Esses espaços representam, ainda, os guardiões: [...] do que já se sabe e do que precisa ter sua perenidade assegurada. Seu princípio é metaforizado na misteriosa Biblioteca de Alexandria, que guardava e acumulava livros ao longo de toda sua trajetória para fazer a ponte que ligasse o passado ao presente e ambos a outras temporalidades futuras e distintas, mas infelizmente seu projeto foi interrompido com um brutal incêndio (PINTO, 2004, p. 34). 12 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 3 – BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA FONTE: <https://www.hipercultura.com/biblioteca-de-alexandria- historia-incendio/>. Acesso em: 10 abr. 2020. A Biblioteca de Alexandria era o maior acervo da história de ciência antiga do mundo. Quando foi destruída por um incêndio, provocado por Júlio César em 48 a.C., levou junto consigo uma grande quantidade de informações e conhecimentos construídos pela humanidade há muitos séculos. Ali, funcionava também um centro de pesquisa chamado Mouseion. Inclusive, é dessa denominação que originou a palavra "museu", a qual usamos hoje. O maior destaque da Biblioteca de Alexandria era sua vasta coleção de livros, constituída por exemplares escritos nas mais diferentes línguas e culturas. CONHECENDO A BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA A Biblioteca de Alexandria foi uma das mais importantes bibliotecas conhecidas da história, onde era guardada a maior parte do conhecimento do mundo antigo. Foi construída no coração da antiga cidade de Alexandria, no Egito, e fundada no século 3 a.C. por Ptolomeu II, um dos sucessores do Rei Alexandre, o Grande (Macedônia). Os estudos mostram que a matemática e a astronomia eram consideradas grandes tesouros da Biblioteca. Não se sabe exatamente quantas obras ela tinha em seu acervo, mas estima-se que tenha abrigado entre 30 mil a 700 mil volumes literários, acadêmicos e religiosos. O acervo da Biblioteca cresceu de tal maneira que, durante o reinado de Ptolemeu III Evérgeta, foi criada sua fi lial no Serapeu de Alexandria. Além de servir à demonstração de poder dos governantes ptolemaicos, a Biblioteca teve um papel signifi cativo na emergência de Alexandria como sucessora de Atenas enquanto centro irradiador da cultura grega. FONTE: <https://www.hipercultura.com/biblioteca-de-alexandria- historia-incendio/>. Acesso em: 10 abr. 2020. 13 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Ao longo deste capítulo, buscamos responder os questionamentos a seguir: • Quais as funções da biblioteca escolar e da sala de leitura na escola? • Como ocorre a leitura em sua escola? • Qual a relação entre biblioteca e escola? • Por que o processo de ensino-aprendizagem segue independentemente do uso da biblioteca em algumas escolas? • Será que a biblioteca pode contribuir com o processo de formação dos estudantes leitores? • Será que a função da biblioteca é guardar livros? • Que importância tem a leitura na formação dos estudantes nos dias de hoje? Consideramos os questionamentos anteriores importantes para guiar a discussão neste livro e buscaremos respondê-los ao longo do livro. Para começar a enunciar a nossa preocupação em responder aos questionamentos, apresentamos que a função da biblioteca escolar nunca foi a de um depósito de livros, ou seja, um lugar para meramente guardar livros, mas um espaço com a função de ser guardião do conhecimento e da cultura, entre outras, como retratado nas informações da Biblioteca de Alexandria, a qual tinha como a mais importante e antiga função das bibliotecas do mundo: ser a guardiã do conhecimento, da escrita e da cultura. A maioria das bibliotecas escolares sempre buscou disseminar a cultura para sua comunidade escolar e para a comunidade geral, coletiva, considerando que a leitura é uma competência fundamental para a formação de todas as pessoas, especialmente os estudantes em formação na escola, com o objetivo de se tornarem cidadãos críticos. Para continuar respondendo aos questionamentos, torna-se essencial compreender, mesmo que de forma rápida, alguns aspectos da evolução da escrita, seus suportes e mudanças históricas no modo de ler, de escrever e de disseminar os textos e a relação com as bibliotecas nos países de modo geral e nas cidades em particular. Além disso, é fundamental compreender a relação da produção em massa de livros, a disseminação de informações a partir da invenção de Gutenberg e a instituição das bibliotecas e salas de leitura na escola, com a presença de livros impressos, bem como as novas tecnologias que oportunizam o acesso à leitura de diversos gêneros textuais, como, por exemplo, os audiolivros, os e-books e outros textos eletrônicos. O linguista Cagliari (1989, p. 148) defende que a leitura “é a extensão da escola na vida das pessoas”. Para o autor, a maioria “das aprendizagens que se faz na vida foram alcançadas por meio da leitura na escola e fora dela. Sendo assim, a leitura é uma herança maior do que qualquer diploma” (CAGLIARI, 1989, p. 148). 14 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Ainda, entendemos que é relevante apresentar, neste capítulo, informações acerca da origem histórica da biblioteca escolar e da sala de leitura em nosso país, pois é importante se pensar na transformação desses espaços-lugares para despertar nos estudantes a aprendizagem da competência leitora e escritora e o gosto pela leitura durante o processo de escolarização, para que eles(as) possam adquirir essa experiência para toda a sua vida e atuarem como cidadãos críticos. Por outro lado, não podemos deixar de lado a legislação mais atual que ampara a gestão da biblioteca escolar e a sala de leitura nas escolas de educação básica brasileira. Sabemos que, apesar dos diversos entraves, a biblioteca escolar tem ganhado espaço na legislação educacional com a aprovação da Lei n. 12.244, de 24 de maio de 2010. A aprovação dessa lei resultou de um esforço signifi cativo do bibliotecário, que “[...] há longo tempo, vinha denunciando por diversos canais a falta de bibliotecas nas escolas e a precariedade das poucas que existem, situação comprovada por diversos estudos” (CAMPELLO et al., 2012, p. 2) A Lei n. 12.244/2010 aprovou a universalização das bibliotecas nas instituições escolares privadas e públicas brasileiras até o ano de 2020. Essa lei também estabeleceu como parâmetro para a organização dessas bibliotecas um acervo que tenha, no mínimo, um livro para cadaaluno matriculado. As Secretarias Estaduais e Municipais de Educação podem ampliar o tamanho desse acervo conforme sua realidade, bem como divulgar orientações de guarda, preservação, organização e funcionamento de suas bibliotecas escolares. A lei também orienta que cabe aos sistemas de ensino brasileiro desenvolver esforços progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares seja cumprida no prazo estabelecido, bem como respeitada a profi ssão de bibliotecário, disciplinada pelas Leis n. 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de 25 de junho de 1998. É possível concluir que, com a aprovação dessas leis, o poder público reconhece que “parte considerável das escolas [do país] não possui bibliotecas de forma efetiva, embora tentem constituir estruturas que confi gurem uma biblioteca de forma aleatória ou sala de leitura” (SILVA, 2011, p. 504). Não é raro comemorarmos quando uma lei é aprovada nas diversas instâncias em nosso país, especialmente leis que trazem benefícios de elevado alcance social para a população. Entretanto, em alguns casos, só a aprovação da lei não garante que o benefício chegue à população, como, por exemplo, a Lei n. 12.244/2010. Apesar da aprovação, essa lei não saiu do papel. A aplicação de algumas leis demanda mais esforços que a mera aprovação junto aos órgãos competentes. É comum constatar que, em nosso país, há leis que funcionam e outras que não, ou seja, determinadas leis são aplicadas e outras não. Ficamos 15 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 com a sensação de que toda a luta pela aprovação da lei foi em vão e que não adianta lutar para elaborar leis que buscam benefi ciar a maioria da população da classe trabalhadora, pois na prática não funcionará no Brasil. 1.1 DIÁLOGO SOBRE A EVOLUÇÃO DA ESCRITA, MUDANÇAS HISTÓRICAS, LIVROS, BIBLIOTECAS E SALA DE LEITURA FIGURA 4 – MESOPOTÂMIA, UMA DAS CIVILIZAÇÕES MAIS ANTIGAS FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/mesopotamia/>. Acesso em: 10 abr. 2020. Para começar a dialogar sobre a gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura, é relevante discutir alguns pontos sobre a evolução da escrita, os suportes, o espaço e a valorização alcançados pelos livros e pela biblioteca com as mudanças históricas, especialmente após a imprensa de Johannes Gutenberg e, mais recente, a sala de leitura nas escolas. Hoje, é comum para nós – adultos, leitores e escritores profi cientes – não pararmos para refl etir como alguém que não lê e não escreve vive em uma cidade cercada de textos escritos em português, outras línguas e palavras e ideogramas novos. Como as crianças encaram o desafi o de aprender a ler e escrever nesse ambiente letrado? Como foram inventados o alfabeto e a escrita atuais? Como surgiram os livros? Será que os livros sempre tiveram os formatos que conhecemos hoje? Como surgiu a biblioteca? Será que o livro impresso está em extinção com a presença das alternativas criadas pelas novas tecnologias? 16 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Tais questionamentos são bastante instigantes. Assim, conhecer um pouco sobre a história da escrita pode contribuir para que a comunidade escolar compreenda melhor as diversas ações que requerem a gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura, a qual prioriza o acesso ao livro, à leitura e às atividades de qualidade em uma sociedade como a nossa, que precisa, ainda, ter efetivamente a universalização das bibliotecas escolares prevista na legislação educacional. Historicamente, a invenção da escrita foi, sem dúvida, o grande marco na história, já que o homem criou a possibilidade de acumulação e produção do conhecimento que propiciaram o surgimento da fi losofi a, das ciências e das artes (PIMENTEL; BERNANDES; SANTANA, 2007). O processo de evolução da escrita sempre foi muito importante para todos os povos até chegar à forma que conhecemos hoje. Alguns estudiosos afi rmam que a escrita surgiu na Mesopotâmia, localizada entre os Rios Tigre e Eufrates, local onde apareceram as primeiras civilizações, aproximadamente no ano 4.000 a.C. Um fato interessante que vale a pena considerarmos é que o sistema de escrita que utilizamos hoje foi inventado há muitos séculos e tem suprido nossas necessidades, apesar de as inúmeras transformações que a Terra tem passado. Cagliari (1989, p. 106) ressalta que a escrita que utilizamos hoje passou por “três fases distintas: a pictórica, a ideográfi ca e a alfabética”, como demonstrado na Figura 5. FIGURA 5 – FASES DISTINTAS DA HISTÓRIA DA ESCRITA FONTE: A autora. A fase pictórica se distingue pela escrita por meio de desenhos ou pictogramas. Inicialmente, o boi era representado pelo desenho de sua cabeça. O sol surgindo no horizonte signifi cava que a outra pessoa estava comunicando que o dia estava surgindo. Nos dias de hoje, esses pictogramas podem ser encontrados também nas histórias em quadrinhos. Nessa fase, os objetos da realidade eram representados de forma bem simples (CAGLIARI, 1989). 17 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Cagliari (1989, p. 108) destaca que os pictogramas estão vinculados à “[...] imagem do que quer representar e não a um som”. Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 15) afi rmam que os “pictogramas parecem ser autoexplicáveis”. Para esses autores, “não é bem assim que eles veem essa questão. Na verdade, os pictogramas possuem limitações culturais, temporais, geracionais, entre outros”, pois o usuário, para interpretá-los corretamente, tem de conhecer o uso deles na cultura em que estão inseridos. Os ideogramas exigem que a pessoa conheça o Código de Trânsito utilizado na sociedade brasileira para ler corretamente a Figura 6 e saber que, na maioria das cidades brasileiras, foi adotada a faixa de pedestre para garantir a segurança das pessoas quando atravessam a rua, como nos mostra a Figura 6. Podemos dizer que essa prática retrata uma regra recente em nossa sociedade brasileira. Além disso, ela está ligada à cultura urbana. Temos, ainda, diversos pictogramas utilizados na sinalização de locais públicos, no trânsito, no código de endereçamento, como explicações, proibições, entre outros, conforme a Figura 7 a seguir. FIGURA 6 – HOMEM ATRAVESSANDO A FAIXA DE PEDESTRE FIGURA 7 – SINAL DE TRÂNSITO FONTE: <http://itaitubaintransito. blogspot.com/2011/07/respeite- o-pedestre-dicas-de-um-agente. html>. Acesso em: 10 abr. 2020. FONTE: <https://icetran.com. br/blog/placas-de-transito/>. Acesso em: 10 abr. 2020. A palavra pictograma vem do latim pictu = pintado + grego γράμμα = letra; ou seja, letra pintada ou desenho. Já a escrita ideográfi ca, também conhecida como hieroglífi ca egípcia, é representada por desenhos especiais denominados de ideogramas e muito importantes. Surgiu em torno do ano 3000 a.C. e as pessoas que sabiam ler e escrever nessa época eram chamadas de “escribas, homens muito admirados 18 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura do Egito Antigo, sendo muitos deles adorados como deuses” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 16). Aliás, aqueles que desejavam essa carreira deveriam passar pela escola de escribas e aprendiam, também, a desenhar com muita habilidade e a dominar o idioma, a literatura e a história do país. Ainda, deveriam possuir amplos conhecimentos de matemática, processos administrativos, mecânica e desenho arquitetônico. Para escrever, os escribas utilizavam objetos de metal, osso e marfi m, sendo que uma das extremidades era larga e pontiaguda e a outra plana, em forma de paleta, com a fi nalidade de corrigir o texto,alisando o material arranhado ou errado. Essa escrita começou a ser utilizada para controlar a produção agrícola e pecuária, registrando o número de sacas de trigo, de cabeças de boi, entre outros. Mais tarde, serviu para registrar as narrações históricas, relatos épicos e religiosos e outros tipos de inscrições com a intenção de preservar a memória desses feitos. Para facilitar seu estudo, apresentamos um breve resumo das escritas antigas e suas principais características com base no texto de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 17). Nele, aparecem escritas criadas por diversos povos com a intenção de resolver suas necessidades, como nos mostra o Quadro 1 a seguir: QUADRO 1 – ESCRITAS ANTIGAS E CARACTERIZAÇÕES Escrita antigas Caracterização Cuneiforme Escrita idealizada pelos sumérios em forma de fi guras gravadas sob tábuas de argila com estilete. Em seguida, a página era cozida no forno. Hieroglífi ca Escrita utilizando “hieróglifo” (inscrição sagrada). Ela possibilitou aos egípcios grafar diversos dados de sua cultura por meio de signos, sendo composta por cerca de 1.000 sinais. As ideias passaram a ser grafadas por sinais — cada um com seu valor fonético — e não mais por desenhos. Mnemônica Escrita utilizada pelos incas da América do Sul, utilizando dois sistemas: os equipos e os wampus. Fonética Escrita com a intenção de fi xar o pensamento humano. A imagem visual foi substituída pela sonora, dando início à escrita silábica, em que os sinais representavam sons. Ideográfi ca Escrita na qual os objetos eram representados por sinais que representavam ideias. Por exemplo: a escrita chinesa. FONTE: A autora. 19 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Equipos: formados por cordões de lã em cores diversas, nos quais as amarrações e os nós representavam uma ideia (transmitiam ideias e não palavras). Wampus: um sistema baseado em colares de conchas justapostas, cujas combinações formavam fi guras geométricas. De acordo com Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 16), cada uma assumia um signifi cado para facilitar a memorização. A fase alfabética, por sua vez, caracteriza-se como a escrita que utilizamos em nosso país hoje, ou seja, a escrita alfabética. Essa escrita utiliza letras que representam sons. Na época de consolidação, o ideograma deu lugar à representação fonográfi ca, eliminando seu valor pictórico (CAGLIARI, 1989). Os sistemas mais relevantes dessa fase são o semítico, o indiano e o greco- latino. “Este último deu origem ao nosso alfabeto (latino) e o cirílico (grego), ao alfabeto atual russo” (CAGLIARI, 1989, p. 109). A Figura 8 traz um alfabeto com vinte a trinta signos cuneiformes, sendo o alfabeto mais completo descoberto em Ugarit (atualmente Ras-Shamara, na Costa da Síria). FIGURA 8 – ALFABETO CUNEIFORME FONTE: <https://biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/ monografi a_20190503163431.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020. Em conformidade com os estudos de Cagliari (1989), o alfabeto que conhecemos hoje passou por inúmeras transformações e, na maioria das vezes, eram muito lentas. Inicialmente, foram elaborados os silabários, que consistiam em um conjunto de sinais específi cos para representar cada sílaba, com desenhos que se referiam às características fonéticas da palavra. A partir desses silabários, os fenícios criaram um alfabeto com 22 signos cuneiformes. Esse feito foi 20 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura considerado um grande avanço quando comparado com as tentativas anteriores, pois a grande quantidade de caracteres difi cultava o domínio da leitura e da escrita. Com a quantidade mais reduzida de signos, aprender a ler e a escrever poderia estar ao alcance desse povo. FIGURA 9 – ESCRITA ALFABÉTICA INICIAL FONTE: <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/impresso/ imp_basico/e1_assuntos_a1-4.html>. Acesso em: 20 abr. 2020. Assim, os fenícios, por serem comerciantes e navegadores, difundiram rapidamente a nova invenção do alfabeto entre os povos do Mediterrâneo: o aramaico, o hebraico, o copta, o árabe e o grego. Desse modo, acredita-se que o alfabeto fenício acabou estimulando outros povos a criarem, em conformidade com suas línguas, seus próprios sistemas de escrita. O povo grego deve a invenção de seu alfabeto aos fenícios. Os gregos substituíram cada som por uma letra, formando, assim, o primeiro alfabeto da história. Do alfabeto grego, “originou-se o etrusco, que deu origem ao latim, que, por sua vez, deu origem ao português” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 18) Portanto, a escrita alfabética somada à descoberta do papel possibilitou a democratização do conhecimento. Assim, o que “antes era privilégio somente de escribas, membros da igreja e da realeza, passou a fazer parte do cotidiano de diferentes segmentos sociais” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 18). Entretanto, nessa época, o livro era escrito manualmente, logo, era um objeto raro. Os leitores desses livros eram os sacerdotes e reis que ocupavam os palácios e os templos religiosos, pois só eles sabiam ler e escrever. Até quando durou esse contexto? Tal contexto só começou a ser alterado com a valiosa descoberta do papel e a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, no século XV. Nesse novo contexto, ler e escrever ganharam novos contornos, ou seja, os livros começaram a se multiplicar, ampliando o conhecimento. Com isso, surgem as bibliotecas para acomodá-los e, ao mesmo tempo, possibilitar a disseminação do conhecimento por meio deles. Nesse sentido, as bibliotecas vão contribuir de forma signifi cativamente nesse processo, embora com um aspecto mais formal, mais voltadas para a preservação do acervo do que para sua disseminação. 21 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 FIGURA 10 – PRENSA DE JOHANNES GUTENBERG FONTE: <www.tricurioso.com/2018/05/16/quem-inventou-o-primeiro- caderno/prensa-gutenberg-tricurioso/>. Acesso em: 10 abr. 2020. Essas bibliotecas eram vistas como espaços para intelectuais. Os livros ainda eram privilégio de poucos e exigiam tratamento especial e cuidados para serem guardados. Entretanto, não podemos desconsiderar as valiosas contribuições que Gutenberg trouxe para ampliar e disseminar o conhecimento no mundo. Os livros tidos como artigos raros se transformaram em material de consumo e começaram a ocupar o espaço doméstico de algumas classes. Essa singular mudança deu sentido à organização de bibliotecas, que, por sua vez, assumiu novos rumos, novas missões e funções, bem como outros objetivos. “Se, antes, as bibliotecas eram espaços silenciosos para guardar livros, hoje, com o avanço das novas tecnologias da comunicação e da informação, elas passaram a agregar novas formas de difusão da cultura” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 19). Para refl etir melhor sobre os efeitos da sociedade do conhecimento sobre o uso das tecnologias na sala de aula, sugere-se que você assista ao vídeo As tecnologias na sala de aula. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CJWOFbuwiPg. Em síntese, é possível constatar o longo caminho que os nossos antepassados tiveram de percorrer até chegar ao nosso conhecido papel, ao livro, ao computador, ao CD-ROM, à internet e aos e-books. Com a democratização do conhecimento, da escola e dos livros, as bibliotecas tiveram de se transformar e ocupar espaços informacionais. Os livros ganharam outros formatos para atender aos diversos leitores e às diferentes necessidades da sociedade como um todo (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 20). 22 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de LeituraEmbora tendo algumas ressalvas em relação ao valor do livro, que ainda continua sendo um investimento fi nanceiro caro para grande parte dos leitores das classes populares, o mercado editorial, com vista atender à modernidade tecnológica e às novas demandas que buscam disseminar o conhecimento, aumentou sua capacidade e passou a produzir grande tiragem em curto período de tempo. Esse processo contribuiu substancialmente para a democratização e a difusão do conhecimento, do livro e da leitura no país. Isso corrobora com o pensamento de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 20), que afi rmam: “a biblioteca é uma alternativa de inclusão social e se confi gura como um ambiente democrático, tendo a informação como uma ferramenta importante para a conscientização dos direitos e deveres de cada cidadão como membro da sociedade”. É nessa direção que vamos, na próxima seção, dar continuidade à discussão das contribuições inclusivas que tanto a biblioteca quanto a sala de leitura podem trazer para a escola, a família e a comunidade de um modo geral. Solicitamos que leia o artigo A importância da biblioteca nas escolas públicas municipais de Criciúma – Santa Catarina, de Valmira Perucchi. Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos e dos aspectos abordados no artigo supracitado, apresente um texto com o propósito de responder ao seguinte questionamento: qual a importância da biblioteca para incentivar a aprendizagem dos estudantes? FONTE: PERUCCHI, V. A importância da biblioteca nas escolas públicas municipais de Criciúma-Santa Catarina p. 80-97. Revista ACB, v. 4, n. 4, p. 80-97, 1999. _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ ______________________________________________________ 23 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 1.2 DIÁLOGO QUE BUSCA CONCEITUAR A BIBLIOTECA ESCOLAR COMO CENTRO DE INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA A COMUNIDADE ESCOLAR Nesta seção, vamos dialogar sobre a conceituação, missões e objetivos que caracterizam a biblioteca escolar e a sala de leitura, além de suas contribuições para a escola, a família e a comunidade de um modo geral. Os estudos têm mostrado que as inovações tecnológicas e as mudanças no rumo da economia mundial têm exigido alterações profundas em nosso modo de viver na sociedade contemporânea. Nesse momento, uma das exigências mais signifi cativas é que as pessoas façam a aquisição de novos conhecimentos, os quais devem ser apropriados de forma rápida e ativa, sendo responsáveis e consistentes. Além dessa exigência, os sujeitos devem articular novos conhecimentos à sua compreensão do mundo e experiência pessoal. Assim, cabe aos sujeitos entrelaçar saberes práticos e conhecimentos científi cos de forma consistente e veloz, pois as informações se tornam obsoletas em tempo recorde. FIGURA 11 – BIBLIOTECA ESCOLAR E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA COMUNIDADE ESCOLAR FONTE: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/ article/view/16001/12044>. Acesso em: 10 abr. 2020. A educação escolar, nessa perspectiva, vislumbra contribuir com o desenvolvimento dos estudantes, bem como atender às necessidades desse contexto e nele intervir de maneira qualitativa. Além disso, deve mediar, ao longo da escolarização, a formação dos estudantes em todas as dimensões humanas, construindo com eles, além das aprendizagens dos conhecimentos científi cos, princípios e fenômenos (BRASIL, 1998). Ainda, no mesmo nível de importância das aprendizagens, construir valores humanos, éticos, estéticos, conscientização 24 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura sobre seus direitos e deveres na comunidade, respeito a si e aos outros e atitudes de cooperação, de aceitação do outro e de tolerância, entre outros. Para enfrentar esses desafi os, os sistemas de educação devem fundamentar seus objetivos em torno dos quatro pilares da educação, mencionados no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Esses pilares orientam o projeto político-pedagógico em relação à “aquisição de novas atitudes e valores, como a convivência e o trabalho em colaboração, além da capacidade de aprender a conhecer e a enfrentar novos desafi os de forma autônoma” (DELORS, 2010, p. 31). São eles: FIGURA 12 – PILARES DA EDUCAÇÃO Aprender a conviver aquisição do conhecimento a respeito dos outros, gestão inteligente e apaziguadora dos confl itos inevitáveis Aprender a ser aquisição da capacidade de autonomia e discernimento, acompanhados de responsabilidade pessoal na realização de um destino coletivo Aprender a fazer aquisição de competências que deem condições ao indivíduo a enfrentar diversas situações Aprender a conhecer aquisição da cultura geral, sendo esta o primeiro passo para a educação permanente Pilares da educação FONTE: A autora. Com base nos eixos de aprendizagem e valores humanos citados nos Pilares da Educação, torna-se relevante que a escola busque desenvolver, com os estudantes, novas formas de ensino para aprenderem a pensar, agir e se comunicar. Essas formas de apropriação do conhecimento têm de conjugar desenvolvimento humano, aprendizagem e atendimento às necessidades exigidas pela sociedade nos dias de hoje, ou seja, as escolas, aqui, são vistas como as principais instituições capazes de formar cidadãos que satisfaçam às exigências da sociedade contemporânea. Para tanto, as escolas que desenvolvem um processo de ensino de qualidade contam com recursos, infraestrutura, equipamentos adequados e profi ssionais qualifi cados. Partindo dessa compreensão, a biblioteca escolar pode ser um espaço-lugar capaz de auxiliar a escola na formação dos estudantes como cidadãos críticos e refl exivos do nosso tempo, isto é, cidadãos capazes de lidarem com as exigências da sociedade de informação e comunicação. 25 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Esta seção tem como objetivo dialogar sobre a biblioteca escolar e a sala de leitura como espaços de informação, comunicação e aprendizagem. Para iniciar este diálogo, recorremos ao matemático e bibliotecário indiano, Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972). Assim, quando se pensa em defi nir o que é biblioteca, temos de revisitar as cinco leis da biblioteconomia elaboradas por ele. São elas: 1. Os livros são para usar. 2. A cada leitor, seu livro. 3. A cada livro, seu leitor. 4. Poupe o tempo do leitor. 5. A biblioteca é um organismo em crescimento ou a biblioteca é um organismo vivo (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 221). Ranganathan defi ne as leis que caracterizam a biblioteca, além disso, valoriza a biblioteca como um espaço dinâmico, vivo e que cresce todos os dias. Destaca, ainda, a relação entre livro e leitor, sinalizando a diversidade dos leitores e das obras, bem como a necessidade de os profi ssionais estimularem a disseminação do acervo da biblioteca de forma rápida e prazerosa. Nesse sentido, o matemático criou leis que incidem de forma direta sobre as principais atividades da biblioteca e, ao mesmo tempo, aponta a necessidade de inovação e renovação das atividades nesse espaço. Para dar conta dessas exigênciasde inovação e renovação, o profi ssional precisa conhecer o acervo e a comunidade que a biblioteca está inserida para entregar um trabalho de qualidade ao usuário, especialmente quando se trata de estudantes, uma vez que são eles quem dão sentido a esse espaço no ambiente escolar. É interessante conferir, inicialmente, o que caracteriza o termo biblioteca de um modo geral. Ferreira (1986, p. 253) defi ne o termo biblioteca em seu dicionário como: (i) A palavra biblioteca é formada da união dos termos gregos biblíon (livro) e theka (caixa), signifi cando o móvel ou o lugar onde se guardam livros. (ii) Coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta. (iii) Edifício ou recinto onde se instala essa coleção. (iv) Estante ou outro móvel onde se guardam e/ou ordenam os livros. A defi nição de Ferreira (1986) mencionada anteriormente traz elementos que caracterizam a biblioteca como, por exemplo, lugar que guarda livros; coleção de livros e documentos organizados para estudo, leitura e pesquisa; livros ordenados em estante ou móvel. Assim, é possível afi rmar que uma sala com livros espalhados pode ser vista como um depósito – e não uma biblioteca. Nessa direção, Milanesi (1986, p. 32) ressalta que a organização dos livros e materiais “[...] pode tornar possível concretizar a função pensada para a biblioteca, mas não é só a organização que conta”. Nessa perspectiva, a organização da biblioteca pode ser tanto física quanto intelectual, apresentando-se desde as formas 26 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura concretas de organização do acervo até a concepção que está por trás das escolhas técnicas (PAIVA; DUARTE, 2016, p. 90). De acordo com o matemático e bibliotecário indiano Ranganathan, é possível constatar que a defi nição de biblioteca se modifi ca ao longo da história. Para Fonseca (1992, p. 60), a biblioteca pode ir além daquilo que geralmente se pensa quando nos referimos a ela como o lugar que abriga coleções de livros ordenados e documentos organizados e também passamos a vê-la como o espaço que recepciona e agrega usuários que buscam informações. Isso quer dizer que a biblioteca pode ter seu foco voltado para as pessoas e no uso que essas fazem da informação, oferecendo meios para que ela circule da forma mais dinâmica possível (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007). Nessa direção, é comum autores criarem uma tipologia para cada biblioteca a partir das funções que desempenham na sociedade. De acordo com esse entendimento, elas podem ser caracterizadas como: nacional, pública, especializada, universitária, escolar, infantil, como aparecem na Figura 13 a seguir: FIGURA 13 – BIBLIOTECAS E ALGUMAS TIPOLOGIAS Nacional Especializada InfantilUniversitária Escolar Pública FONTE: A autora. As bibliotecas que aparecem na Figura 13, como você pode verifi car, possuem propósitos distintos. Assinalamos que distribuir as bibliotecas nesse rol pode contribuir para atender ao usuário de forma mais assertiva, como orientam as leis da biblioteconomia, a saber: a cada leitor, seu livro; a cada livro, seu leitor; e poupe o tempo do leitor nesses tempos que todos vivem acelerados e sem poder perder tempo. 27 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 QUADRO 2 – BIBLIOTECAS E ALGUMAS TIPOLOGIAS Pública – é encarregada de administrar a leitura e a informação para a comunidade em geral, sem distinção de sexo, idade, raça, religião e opinião política. Pública – é encarregada de administrar a leitura e a informação para a comunidade em geral, sem distinção de sexo, idade, raça, religião e opinião política. Especializada – é encarregada de promover toda informação especializada de determinada área, como, por exemplo, agricultura, direito, indústria, entre outras. Universitária – é parte integrante de uma instituição de ensino superior e sua fi nalidade é oferecer apoio ao desenvolvimento de programas de ensino e à realização de pesquisas. Escolar – é organizada na escola para integrar-se à programação da sala de aula e no desenvolvimento do currículo escolar. Funciona como um centro de recursos educativos, tendo como objetivo primordial desenvolver e fomentar a leitura e a informação. Poderá servir como suporte para a comunidade em suas necessidades. Infantil – é organizada com o objetivo primordial de atender crianças com diversos materiais que poderão enriquecer horas de lazer. Visa, ainda, despertar o encantamento pelos livros, pela leitura e pela formação do leitor FONTE: Adaptado de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 23). Depósito legal: obriga os editores a depositar ali vários exemplares de cada obra impressa (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 23). É interessante entender a tipologia de cada biblioteca, já que pode ajudar os profi ssionais, especialmente os bibliotecários, a perceberem a função social e as suas especifi cidades para desenvolverem a gestão desses espaços de forma mais adequada com a comunidade na qual estão inseridas, evidenciando, principalmente, suas necessidades, anseios por informação e práticas culturais, como destacam Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 23). Para estabelecer as diretrizes e ações para cada uma das bibliotecas, os profi ssionais precisam conhecer, também, as necessidades e expectativas da comunidade. Essa orientação pode oportunizar resultados mais positivos em relação ao fazer cultural e educacional. Apesar da importância de continuar analisando a tipologia das bibliotecas, faz-se necessário nos concentrarmos na discussão que fundamenta a estrutura da organização do conhecimento em que se baseia a concepção, o espaço físico e os serviços da biblioteca dentro da escola, além do trabalho do profi ssional responsável por essa função específi ca e a entrega de seus serviços à comunidade escolar. Nos dias de hoje, como concebemos a biblioteca escolar e a sala de leitura? 28 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 14 – BIBLIOTECA MARIO DE ANDRADE – SÃO PAULO FONTE: <http://recantoadormecido.com.br/2014/03/11/biblioteca-mario-de- andrade-oferece-curso-de-historia-em-quadrinhos/>. Acesso em: 10 ago. 2020. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/2019) informa que, das 180 mil escolas brasileiras de educação básica, 98 mil ou 55% delas não têm biblioteca escolar ou sala de leitura. Em função desses dados, recorremos aos ensinamentos de Maciel, Barbato e Queiroz (2010), quando elas afi rmam que é necessário criar políticas públicas educacionais brasileiras, especialmente a implantação de bibliotecas escolares e salas de leitura no país, para efetivar a democratização da escola e do acesso à leitura, ao livro e à aprendizagem dos estudantes da educação básica. Nessa perspectiva, é importante conhecer a trajetória da biblioteca escolar e da sala de leitura no contexto brasileiro para enxergar possibilidades nesse campo. Silva (2011) nos ajuda a revisitar o contexto histórico dessa temática. Assim, as primeiras bibliotecas escolares brasileiras foram implantadas nos colégios jesuítas construídos na Bahia durante a metade do século XVI. Mais tarde, outras capitanias foram agraciadas de forma expressiva com esses equipamentos até o fi nal do século XVIII. Apesar de as bibliotecas escolares dessa época se confi gurarem de modo mais formais, “os profi ssionais já percebiam o potencial delas na melhoria do ensino e da aprendizagem dos alunos” (SILVA, 2011, p. 490). A partir da crença positiva em relação à biblioteca escolar, os estudiosos vêm construindo, ao longo da história brasileira, diversas conceituações acerca dessa biblioteca, umas mais amplas e outras mais restritas. Eles têm destacado, também, as contribuições da sala de leiturapara as práticas leitoras tanto dos estudantes quanto dos professores. Nessa perspectiva, Fonseca (2007, p. 5) conceitua a biblioteca escolar como o espaço que busca “fornecer livros e material didático tanto a estudantes quanto a professores”. Analisando o conceito de Fonseca, podemos verifi car que ele guarda semelhança com a forma que a Lei n. 12.244, de 24 de maio 2010, considera, em seu art. 2º, a biblioteca escolar. Ou seja, ela é vista como “a coleção de livros, materiais videográfi cos e documentos registrados em qualquer suporte destinados à 29 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 consulta, pesquisa, estudo ou leitura” (BRASIL, 2010). Embora a Lei n. 12.244/2010 imprima, de modo geral, a valorização da biblioteca escolar, ela não avança em sua conceituação, especialmente nos tempos de informação e comunicação digitais. A biblioteca na escola também foi conceituada como “um espaço desejável que, contudo, pode ser substituído, com adaptações e soluções criativas” (PEREIRA, 2006, p. 23). Já Campello et al. (2002, p. 10) destacam que a biblioteca escolar pode ser conceituada tanto na formação do leitor quanto na formação do aluno com “competência informacional, capaz de localizar, selecionar e interpretar informações em diversos suportes”. Souza defi ne que a tarefa de mediação da leitura literária é considerada prioridade na biblioteca escolar (SOUZA, 2009), enquanto Côrte e Bandeira (2011) afi rmam que, no contexto da legislação educacional brasileira, a biblioteca deve trabalhar articulada ao processo de ensino e aprendizagem. Para as autoras, a biblioteca escolar é compreendida como: [...] um espaço de estudo e construção do conhecimento, articula com a dinâmica da escola, desperta o interesse intelectual, favorece o enriquecimento cultural e incentiva a formação do hábito da leitura. Jamais será uma instituição independente, porque sua atuação refl ete as diretrizes de outra instituição que é a escola (CÔRTE; BANDEIRA, 2011, p. 8). A conceituação de Côrte e Bandeira (2011) destaca que a biblioteca escolar tem de desenvolver seu plano de trabalho de modo coerente e articulado com o caminho traçado no projeto político-pedagógico e sua concepção de educação interdisciplinar, especialmente o contexto de promoção da leitura e a estrutura física adequada. Já o Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar – GEBE compreende a biblioteca escolar como: Um espaço físico exclusivo, sufi ciente para acomodar o acervo, os ambientes para serviços e atividades para usuários e os serviços técnicos e administrativos; materiais informacionais variados, que atendam aos interesses e necessidades dos usuários; acervo organizado de acordo com normas bibliográfi cas padronizadas, permitindo que os materiais sejam encontrados com facilidade e rapidez; acesso a informações digitais (internet); espaço de aprendizagem; administração por bibliotecário qualifi cado, apoiado por equipe adequada em quantidade e qualifi cação para fornecer serviços à comunidade escolar (GEBE, 2010, p. 9). Na compreensão do GEBE, podemos constatar que ele ressalta a estrutura física e administrativa da biblioteca de forma qualifi cada e detalhada, incluindo a pesquisa de informações por meio dos dispositivos digitais para atender aos interesses e às necessidades dos usuários. Além disso, caracteriza a biblioteca escolar não apenas como um espaço promotor de leitura, mas um espaço que pode potencializar 30 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura a aprendizagem dos estudantes. Essa última caracterização se diferencia das conceituações elaboradas anteriormente por Souza (2009), Côrte e Bandeira (2011) e Pereira (2006). Nessa perspectiva, a biblioteca escolar pode ser vista, segundo Campello (2012, p. 16), como um “laboratório que propicia a conexão das ideias e a construção do conhecimento”. A autora ainda defende que a biblioteca escolar pode ampliar signifi cativamente suas atividades e contribuir para a “mudança de paradigma da leitura para o paradigma da aprendizagem”. (CAMPELLO, 2012, p. 7). Com isso, Campello (2012, p. 15) reforça a ideia de que: A biblioteca escolar deve deixar de ser apenas o local onde está o acervo de livros para leitura e passar a oferecer atividades específi cas de formação do estudante, principalmente em competências informacionais, desde a escolha de materiais até o uso e a comunicação do que foi encontrado. Em 2012, Lúcia Maroto defendeu a ideia de que uma biblioteca escolar poderia assumir o status de “um centro dinamizador da leitura e difusor do conhecimento produzido pela coletividade”, constituindo-se, portanto, em uma “oportunidade concreta de acesso ao patrimônio científi co e cultural” para os alunos (MAROTO, 2012, p. 75). Observamos que essa autora está ampliando sua concepção de biblioteca escolar, pois, ao longo de sua trajetória, vem se dedicando à execução de boas práticas em bibliotecas escolares, quase todas ligadas à leitura literária. Já a pesquisadora espanhola, Glória Durban Roca, pontua, em seu livro publicado no Brasil em 2012, que os aspectos mais relevantes da biblioteca escolar se encontram em um espaço educacional e suas dimensões física, literária e educacional. Na dimensão física, a preocupação da biblioteca escolar deve facilitar a seleção coordenada de materiais informativos e literários que favoreçam o desenvolvimento de práticas de leituras e habilidades intelectuais. Na dimensão educacional, deve promover a criação de processos de ensino e aprendizagem voltados para apoiar o projeto político-pedagógico da escola (DURBAN ROCA, 2012). Para a autora, a biblioteca escolar não é um “centro de recursos a serviço da aprendizagem”, mas, um “contexto de aprendizagem onde a interação dos usuários com determinados recursos, processos de ensino e aprendizagem e práticas de leitura são facilitados” (DURBAN ROCA, 2012, p. 26). Assim, os usuários podem desenvolver, nessa biblioteca, ao longo de sua escolarização, práticas de leitura, de acordo com diferentes objetivos e fi nalidades, utilizando os múltiplos materiais que a biblioteca oferece. Por ser um contexto de desenvolvimento de competências intelectual e emocional imprescindíveis para os estudantes, a biblioteca escolar poderá fomentar recursos básicos para o desenvolvimento pessoal e social. Durban Roca (2012) defi ne, ainda, a biblioteca escolar como aquela que conta em seu acervo materiais impressos e recursos eletrônicos, contribuindo para a formação dos estudantes e direcionada à emancipação deles. Para a autora, essa 31 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 emancipação ocorre pela manipulação e produção autônoma do conhecimento por meio dos recursos oferecidos pela biblioteca escolar aos seus usuários. Esses recursos certamente contribuem para o desenvolvimento dos Pilares da Educação, em especial com os eixos do aprender a conhecer e aprender a fazer. Durban Roca (2012) nos presenteia, ainda, com o conceito de biblioteca escolar explicitado no Quadro 3. Nele, são apresentadas duas dimensões: atividade-meio e atividade-fi m para a biblioteca escolar. A atividade-meio potencializa a dimensão educacional como recurso e agente pedagógico interdisciplinar e a atividade-fi m estrutura a organização física. Enfi m, “a biblioteca escolar não só apoia as atividades pedagógicas da escola, mas também, ela própria, é local e oportunidade de aprendizagem” (DURBAN ROCA, 2012, p. 100). QUADRO 3 – CONCEITO DE BIBLIOTECA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A COMUNIDADE ESCOLAR Conceito Ação Contribuições Dimensão física Estruturaorganizada estável Facilitar A seleção coordenada de materiais informativos e literários. A centralização dos recursos para assegurar seu uso compartilhado. O acesso a materiais diversos e de qualidade. A existência de um lugar de encontro e de relações pessoais. A criação de um contexto presencial de aprendizagem e leitura. Contexto presencial de aprendizagem e leitura Favorecer O desenvolvimento de práticas de leitura e de habilidades intelectuais. A realização de trabalhos de pesquisa e de atividades de leitura. A criação de um ambiente de leitura e de escrita na escola. O uso da biblioteca como recurso educacional. Dimensão educacional Recurso educacional Promover A criação de processos de ensino-aprendizagem. As ações de atendimento às necessidades especiais e de compensação de desigualdade entre os alunos. As ações de envolvimento das famílias no incentivo à leitura. O apoio pedagógico à prática docente. Agente pedagógico interdisciplinar Apoiar O desenvolvimento do projeto curricular e educacional da escola. A prática educacional no âmbito pedagógico e de conteúdo curricular. A projeção de situações de aprendizagem por pesquisa e desenvolvimento da prática de leitura e escrita. Os processos de melhoria do ensino iniciados na escola. FONTE: Durban Roca (2012, p. 100). 32 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura A conceitualização de Durban Roca (2012) apresentada no Quadro 3 é muito interessante, considerando que ela explicita as contribuições das duas dimensões: física e educacional da biblioteca. Além disso, cria um desdobramento dos objetivos de cada ação na contribuição da biblioteca escolar para a comunidade escolar, incluindo a formação dos leitores estudantes e a participação das famílias nesse processo, o apoio à comunidade escolar na transmissão da cultura, a pesquisa para apoiar a comunidade escolar e a discussão acerca da diversidade e as necessidades individualizadas dos participantes de uma forma bem completa. Já Pierruccini (2004, p. 58) conceitua a biblioteca escolar como “dispositivo que ordena, organiza, prescreve de tal modo que cria uma ordem informacional e, portanto, não apenas disponibiliza informações, mas diz, conta, narra – produz signifi cados”. Para a autora, essa ordem informacional precisa ser dialógica, entre a biblioteca e todos os atores da escola, e não monológica, a partir do profi ssional responsável pela biblioteca e as ferramentas da biblioteconomia. É ressaltado por Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 25) que: [...] a escola, um espaço de aprendizagem permanente, é preciso usufruir das coisas boas que lá existem e desenvolver suas potencialidades ajudando, assim, a escola a crescer [...], portanto a biblioteca escolar não deve ser só um espaço de ação pedagógica, servindo como apoio à construção do conhecimento e de suporte a pesquisas. Deve ser, sim, um espaço para que todos que nela atuam possam utilizá-la como uma fonte de experiência, exercício da cidadania e formação para toda a vida. O Manifesto da UNESCO (1976, p. 158-159), documento imprescindível que dá sustentação a todas as ações da biblioteca, vê a biblioteca escolar como a porta de entrada para o conhecimento, fornecendo as condições básicas para o aprendizado permanente, autonomia das decisões e para o desenvolvimento cultural dos estudantes, profi ssionais da educação e grupos sociais. No tocante às salas de leitura nas escolas, observa-se que elas se constituem como um espaço muito específi co que promove a leitura e, acima de tudo, guardam livros e outros materiais impressos destinados a alunos, professores, funcionários e membros da comunidade. De acordo com Corredor (2014, p. 2), apesar da riqueza do trabalho de leitura que ocorrem nessas salas, 33 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 [...] há, também, limitações nas atividades devido à manutenção e à administração dessas salas, uma vez que geralmente não se tem uma pessoa responsável, ou seja, uma Orientadora da Sala de Leitura que se responsabilize para coordenar os projetos relacionados à leitura ou um problema que comprometa toda a potencialidade desse espaço. É possível que, na ausência de uma proposta direcionada à leitura na escola, todo um conjunto de livros que poderiam ser disponibilizados aos alunos acaba sendo “[...] subutilizados. Digo subutilizados não como julgamento de quem sabe como seria o ‘jeito certo’ de se utilizar um livro, mas como consequência do raciocínio de que ler um livro vai além de tê-lo diante de si e reconhecer o texto e as imagens ali impressas” (CORREDOR, 2014, p. 2). A proposta da sala de leitura, seja pelo próprio processo que originou esse projeto ou pela dinâmica da política de ensino da escola, geralmente tem trazido aos estudantes experiências vagas, intermitentes ou quase nulas com relação ao desenvolvimento da competência leitora em um processo dialógico, considerando que esse processo pede um conhecimento sobre o nosso estar no mundo, como destaca Freire em seu livro A importância do ato de ler: em três artigos que se completam (FREIRE, 1989). Nesse sentido, faz-se necessário refl etir sobre os objetivos do projeto político-pedagógico de sua escola em relação ao desenvolvimento da leitura e a orientação feita anteriormente por Campello (2012), na qual a pesquisadora diz que a biblioteca deve ultrapassar o paradigma da leitura e passar a promover o paradigma da aprendizagem junto com os estudantes e a equipe docente. Nesse caso, essa orientação deve ser estendida à proposta pedagógica da sala de leitura. Isso porque, na escola, a prática da leitura, apesar de o discurso ofi cial dos órgãos de educação apontar o contrário, está muito relacionada à ressignifi cação da linguagem escrita. Corredor (2014) afi rma que há muitas semelhanças entre a biblioteca escolar e a sala de leitura, não apenas nas práticas que teoricamente visam exercitar a capacidade de leitura dos estudantes. A sala de leitura complementaria a proposta de atividades da biblioteca escolar. Observamos, ainda, o compromisso comum desses espaços para que os estudantes atinjam um melhor desempenho em leitura. No que diz respeito às diferenças, podemos listar, por exemplo, a hierarquia e a atmosfera formal que existem nas bibliotecas escolares, as quais são diferentes da sala de leitura, embora tenham consciência de seu objetivo comum. Com isso, constatamos que a sala de leitura parece mais restrita que a da biblioteca escolar. Analisando os conceitos expostos acerca da biblioteca escolar até aqui, observamos uma ampliação positiva do conceito da biblioteca escolar, considerando que esse espaço vai se transformando para atender às necessidades dos usuários, em especial os estudantes, em conformidade com as exigências da 34 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura sociedade contemporânea. Nesse sentido, Paiva e Duarte (2016 apud Prestebak, 2001) afi rmam que há três elementos que caracterizam a biblioteca – informação, educação e lazer, os quais mudaram muito pouco desde 1918. Entretanto, a biblioteca escolar evoluiu, mas esses serviços centrais ainda são fundamentais. Para o desenvolvimento das competências informacionais, culturais, sociais e educativas de seus usuários, a biblioteca escolar deve cumprir a missão defi nida no Manifesto, aprovado no ano de 2000. Isto é, cabe à biblioteca escolar oferecer serviços de aprendizagem, livros e outros recursos a toda a comunidade escolar, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua e situação social, para que desenvolva o pensamento crítico e utilize, de maneira efi caz, a informação, apoiada no inciso IV, do artigo 3º, que trata dos direitos fundamentais da Constituição Federal de 1988 (BRASIL,1988). Consoante com a missão mencionada do Manifesto aprovado no ano de 2000, a biblioteca escolar e a sala de leitura devem cumprir os objetivos defi nidos no documento. No Quadro 4, a seguir, assinalamos os objetivos que ambos os espaços escolares devem colocar em prática para atender às necessidades dos usuários na escola (IFLA, 2000, p. 2). QUADRO 4 – OBJETIVOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SUA PRÁTICA OBJETIVOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SUA PRÁTICA Apoiar e intensifi car a consecução dos objetivos educacionais defi nidos na missão e no currículo da escola; desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura e da aprendizagem, bem como o uso dos recursos da biblioteca ao longo da vida; oferecer oportunidades de vivências destinadas à produção e uso da informação voltada ao conhecimento, à compreensão, imaginação e ao entretenimento; apoiar todos os estudantes na aprendizagem e prática de habilidades para avaliar e usar a informação, em suas variadas formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar adequadamente as formas de comunicação com a comunidade onde estão inseridos; prover acesso em nível local, regional, nacional e global aos recursos existentes e às oportunidades que expõem os aprendizes a diversas ideias, experiências e opiniões; organizar atividades que incentivem a tomada de consciência cultural e social, bem como de sensibilidade; trabalhar em conjunto com estudantes, professores, administradores e pais, para o alcance fi nal da missão e objetivos da escola; proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso à informação são pontos fundamentais à formação de cidadania responsável e ao exercício da democracia; promover leitura, recursos e serviços da biblioteca escolar junto à comunidade escolar e ao seu derredor. FONTE: Adaptado de IFLA (2000, p. 2). 35 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Observando esses objetivos, é possível afi rmar que as bibliotecas escolares e salas de leitura no Brasil ainda estão longe de atingi-los. Entretanto, acredita- se que esses objetivos trazem em si a possiblidade de orientar o processo de ensino e aprendizagem de excelência. Portanto, trazê-los para o nosso curso não consideramos uma perda de tempo, ao contrário, é uma forma de continuar persistindo na proposta de melhorar a educação básica, em especial a dos estudantes das escolas públicas. Afi nal, a biblioteca escolar e a sala de leitura assumem funções essenciais na educação desses jovens. É notável que as funções desempenhadas por esses ambientes estão voltadas para o âmbito cultural, informacional, recreativo e educativo. Daí, a importância da harmonia entre escola, biblioteca e sala de leitura, pois seus objetivos são interligados e só a partir dessa articulação podem ser cumpridos adequadamente. Além do cumprimento dos objetivos retratados no Quadro 4, a qualidade da entrega dos serviços da biblioteca escolar e da sala de leitura depende da atuação dos profi ssionais responsáveis por esses ambientes. Para isso, cabe ao profi ssional responsável, em especial se ele for bibliotecário, como menciona a Lei n. 12.244/2010, desempenhar as seguintes funções dentro da unidade de informação: (i) proporcionar acesso à informação, às ideias que servem como portas de acesso ao conhecimento, ao pensamento e à cultura; (ii) proporcionar apoio essencial à formação contínua para a tomada de decisão independente; (iii) contribuir para o desenvolvimento e a manutenção da liberdade intelectual ajudando, assim, a preservar os valores democráticos fundamentais universais; (iv) adquirir, preservar e disponibilizar a mais ampla variedade de documentos, refl etindo a pluralidade da sociedade; (v) assegurar que a seleção e a disponibilidade dos documentos e dos serviços sejam regidas por considerações de natureza profi ssional e não por critérios políticos, morais ou religiosos; (vi) adquirir, organizar e difundir a informação livremente; (vii) opor-se a qualquer forma de censura e disponibilizar os seus documentos, instalações e serviços a todos os utilizadores, de forma equitativa (SALES, 2004, p. 44). Analisando as funções do profi ssional responsável pela biblioteca e sala de leitura, para esse profi ssional alcançar resultados mais promissores, suas funções devem estar alinhadas com a missão e objetivos propostos no projeto político-pedagógico da escola. Caso essas funções estejam em dissonância com os propósitos da escola, possivelmente os resultados alcançados não estarão condizentes com o planejamento desses espaços e os objetivos fi carão 36 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura ainda mais longe de serem alcançados, especialmente aqueles que defi niram o uso adequado das fontes de informação existentes e o desenvolvimento do pensamento crítico nos alunos. Litton (1974) classifi cou as tarefas do responsável pela biblioteca e sala de leitura que em três grupos principais: administrativas, técnicas e educacionais, as quais são articuladas, como mostra a Figura 15 a seguir: FIGURA 15 – TAREFAS DOS PROFISSIONAIS DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA, SEGUNDO LITTON FONTE: A autora. Atividades administrativas: são aquelas ligadas ao planejamento do ambiente, à supervisão do pessoal, à distribuição de tarefas, à gestão do acervo e a todas as outras atividades voltadas para a área administrativa. Atividades técnicas: são aquelas relacionadas ao tratamento da informação para que possa ser usada de forma efi ciente pela comunidade atendida como: processos de catalogação, classifi cação, indexação e outros vinculados ao tratamento documental. Atividades educacionais: são aquelas considerada por muitos como as mais importantes, como o incentivo à leitura, planejamento junto aos professores e à comunidade escolar, seleção de materiais educativos, entre outras atividades voltadas ao contexto educacional. Já as Diretrizes da IFLA/UNESCO sobre as bibliotecas escolares defi nem as seguintes atividades para serem realizadas na biblioteca escolar e na sala de leitura pelo profi ssional responsável por esses ambientes, como demonstra a citação a seguir. Espera-se, então, que eles cumpram as seguintes atividades: 37 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 a) analisar os recursos e as necessidades de informação da comunidade escolar; b) formular e promover políticas para o desenvolvimento dos serviços; c) desenvolver políticas e sistemas de aquisição para os recursos da biblioteca; d) catalogar e classifi car documentos e recursos em geral; e) promover a utilização da biblioteca; f) apoiar estudantes e professores na utilização de recursos da biblioteca e de tecnologia da informação; g) responder aos pedidos de referência e de informação, utilizando os materiais adequados; h) promover programas de leitura e eventos culturais; i) participar de atividades de planifi cação relacionadas à gestão do currículo; j) participar na preparação, promoção e avaliação de atividades de aprendizagem; l) promover a avaliação de serviços de biblioteca enquanto componente normal e regular do sistema de avaliação global da escola; m) construir parcerias com organizações externas; n) preparar e aplicar orçamentos; o) conceber planejamento estratégico; p) gerir a formação da equipe da biblioteca e sala de leitura (IFLA, 2002, p. 13). A partir dessas atividades, observa-se que o profi ssional responsável pela biblioteca escolar e a sala de leitura podem ser considerados como agentes transformadores no espaço educativo. Além das competênciasinformacionais e outras atividades (como listadas na citação anterior), ao longo de sua formação acadêmica, esses agentes continuam participando de cursos de formação continuada para se atualizarem com frequência, pois as transformações na sociedade contemporânea são velozes e os profi ssionais que não se atualizam podem comprometer a qualidade do serviço que vão entregar a seus usuários. Esses profi ssionais devem, ainda, trabalhar a interação com a equipe docente, os estudantes e a comunidade na qual a escola está inserida. Para isso, um dos primeiros passos é compreender como surgiram as bibliotecas escolares em nosso país, o que discutiremos no próximo tópico desta seção. Como surgiu a biblioteca escolar em nosso país? Consideramos essencial trazer esse questionamento sobre o surgimento das bibliotecas escolares brasileiras para a nossa discussão, pois ele pode nos ajudar a compreender a trajetória histórica destes espaços-lugares, que são as bibliotecas escolares. Para começar a respondê-lo, ressaltamos que não vamos apresentar uma trajetória linear e homogênea da biblioteca escolar em todos os 38 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura cantos do nosso Brasil. Assim, devido ao limite imposto pela literatura da área sobre essa temática até metade do século XX, faremos, aqui, uma exposição rápida sobre alguns pontos históricos fundamentais que contribuíram para a constituição das bibliotecas escolares no país, em especial fatos históricos, programas, legislações, funções, missões e iniciativas. Na revisitação de algumas fontes, os autores destacam esse limite com relação aos dados históricos. Nessa perspectiva, Monteiro (2016, p. 37) afi rma que os “primeiros livros presentes na educação brasileira datam da segunda metade do século XVI, sendo estes bem poucos utilizados pelos jesuítas na alfabetização dos fi lhos da elite.” Para dar continuidade a essa escolarização, mais tarde chegaram mais livros, os quais foram usados, também, na formação dos professores. Com esses livros “foram formadas as primeiras Bibliotecas Escolares, curiosamente chamadas de ‘Livrarias’” (MONTEIRO, 2016, p. 38). A primeira delas foi a Livraria do Colégio da Bahia. Mais tarde, os jesuítas criaram outros colégios e conventos em Salvador, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga, sendo que cada um deles tinha sua biblioteca. Assim, essas bibliotecas passaram a armazenar livros, desenvolver atividades de ensino e formar outros professores (ERMAKOFF, 2015). Em suma, as bibliotecas escolares podem ser vistas como as principais instituições formadoras da elite brasileira daquela época, como destacam Silva e Bortolin (2006). Nessa época, já estavam por aqui outras ordens religiosas - franciscanos, beneditinos e carmelitas -, os quais cuidavam da instrução dos colonos e, em suas escolas, também possuíam bibliotecas (MONTEIRO, 2016). Ao contrário do que muitos imaginam, os acervos dessas bibliotecas eram de qualidade, sendo comparados aos acervos da biblioteca de uma faculdade. Até esse período, a biblioteca escolar que tinha a estrutura física mais atrativa, de acordo com Moraes (2006), era a de Salvador. Essa biblioteca abrigava um acervo com grande qualidade em uma sala com um suntuoso teto, ou seja, “[...] a sala era uma das joias da pintura brasileira [...], assemelhando-se àquelas salas que os reis e príncipes europeus mandavam construir e decorar para instalar seus livros e cabinets de curiosités” (MORAES, 2006, p. 8). Apesar do crescimento das bibliotecas escolares, em 1759, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas e: As bibliotecas escolares sofreram um golpe terrível com a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil. Todos os bens foram confi scados, inclusive as bibliotecas. Livros retirados 39 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 dos colégios fi caram amontoados em lugares impróprios, durante anos, enquanto se procedia ao inventário de bens dos inacianos (MORAES, 2006, p. 10). Moraes (2006) pontua que, após a expulsão dos jesuítas, o país fi cou quase um século sem dados e informações sobre as bibliotecas escolares. Só a partir da segunda metade do século XIX que foi retomada a organização das bibliotecas escolares, as quais eram, na verdade, uma coleção de livros e não um espaço físico na escola, cuja preocupação de Vicente Pires da Mota (presidente da província de São Paulo de 1848 a 1851) dizia respeito à educação dos provincianos e não a organização desses espaços. Após 1815, o Conselho de Instrução do Império criou a primeira “biblioteca escolar brasileira”, que, em síntese, era uma coleção de adaptações das obras Os Lusíadas e as Fábulas de La Fontaine. Mais especifi camente, essas adaptações incorporavam características nacionais às histórias, iniciativa que “deu-se devido à recusa às obras traduzidas enviadas de Portugal ao Brasil, que não se adequavam à realidade cultural brasileira” (MORAES, 2006, p. 10). Em 1808, com a chegada da Família Real e do governo português ao Rio de Janeiro, houve uma mudança na situação das bibliotecas no Brasil. De acordo com Silva e Bortolin (2006), graças à liberação da imprensa, proibida no Brasil desde o início da colonização, criou-se a Imprensa Régia para a confecção dos documentos do governo, como: cartazes, sermões, folhetos e outros mais. Essa imprensa: [...] chegou ao Brasil, nos porões dos navios, a tipografi a para a constituição da imprensa Régia. Até aquela data as ofi cinas tipográfi cas estavam totalmente vetadas por Lisboa. Depois, sob a tutela da Corte, conseguiu editar, em 1808, 37 títulos e até 1822, 1154 (MILANESI, 1993, p. 29). O rei também trouxe a Biblioteca Real, formada por milhares de livros - manuscritos e documentos da coroa -, “era uma livraria rica e versátil, [...] com uma esplêndida coleção quase toda suntuosamente encadernada em marroquino vermelho”, descreve Moraes (2006, p. 91). Inicialmente, o acervo com cerca de 60.000 volumes foi instalado no Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro, em 1811. Porém, como ressalta Moraes (2006, p. 91) “a consulta era permitida apenas aos estudiosos, vindo a ser aberta ao público somente em 1814. Logo após a Independência, foi anexada ao patrimônio público brasileiro e passou a ser chamada de Biblioteca Nacional”. Válio (1990) ressalta que, entre os anos de 1880 até 1915, foram criadas as bibliotecas das Escolas Normais. A Biblioteca da Escola Normal Caetano 40 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura de Campos, em São Paulo, foi a primeira delas. Para o autor, essas foram as primeiras “bibliotecas escolares no sentido que conhecemos hoje” (VÁLIO, 1990, p. 18). Esse autor ressalta, ainda, que, no Brasil, a publicação de livros de um modo geral e de literatura infantil em particular teve um grande avanço entre os anos de 1915 e 1921. Porém, até a década de 1940, nem todas as escolas tinham sua biblioteca escolar e os estudantes fi caram desassistidos nesse sentido (SILVA, 2011). Nas unidades escolares que tinham bibliotecas, o uso do livro e da própria biblioteca era exclusivo aos alunos matriculados, fossem escolas públicas ou privadas. Somente após esse período, as escolas estaduais passaram a contar com bibliotecas em suas unidades (SILVA, 2011). Em 1937, houve a expansão das bibliotecas públicas em todo o território nacional com a fundação do Instituto Nacional do Livro (INL). Até 1945, essa iniciativa contribuiu com o aumento signifi cativo de bibliotecas públicas, principalmente nos estados menos prósperos, devido ao apoio do INL, que as auxiliava na dispendiosa tarefa de adquirir o acervo e na capacitação técnica dos profi ssionais (FGV, 2020). Silva (2011, p. 497) destaca que, nas décadas de 1940 e 1950, abiblioteca escolar ganhou força e legitimidade na educação brasileira e se iniciou a preocupação com a formação do acervo da biblioteca escolar. A participação direta dos alunos e pais torna-se o foco, revelando a importância da composição do acervo e da participação direta dos discentes e de suas famílias na construção da biblioteca escolar por meio de ações pedagógicas, resultado da reforma educacional da Escola Nova, proposta por Fernando de Azevedo (1927-1930) e Anísio Teixeira (1931-1935), ocorrida na década de 1930. A década de 1950 foi marcada, também, pelo avanço das bibliotecas escolares em nosso país, a partir da valorização desse espaço e a busca para melhorar a qualidade do acervo, comparando-as às primeiras bibliotecas escolares brasileiras instaladas pelos jesuítas. Já nos anos 1960, apesar da falha dos registros, contamos com a contribuição de Maroto (2012), que explana que havia previsão de bibliotecas escolares com boa estrutura nas escolas polivalentes, oriundas da reforma do ensino médio, em 1969. Escolas polivalentes buscavam a modernização do currículo e a criação de bibliotecas bem estruturadas como recurso educacional. Entretanto, em conformidade com a autora, o projeto foi extinto e, mais uma vez na história, tivemos o fechamento de bibliotecas escolares, dessa vez para a criação de salas de aula e mudanças no currículo. 41 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 As escolas polivalentes, previstas no art. 35 da Lei n. 5.692/1971, podem ser compreendidas como necessárias à compreensão teórica e prática dos fundamentos científi cos das múltiplas técnicas utilizadas no processo produtivo. Já em 1970, a função da biblioteca escolar ganhou força no ensino de 1º e 2º graus com a LDB – Lei n. 5.692/1971. Polke (1973) destaca que os documentos governamentais fi zeram menção direta à biblioteca escolar, especialmente ao Programa de Expansão e Melhoria do Ensino – PREMEM, que tinha como objetivo principal aperfeiçoar o sistema de ensino de primeiro e segundo graus no Brasil em 1972. As instalações para ciência e para biblioteca escolar, a serem colocadas em cada escola, são a base para modernização do currículo e do ensino, tanto no que toca às humanidades como às ciências, e servirão de fonte de recursos educacionais a um programa bem equilibrado (PREMEM, p. 8 apud POLKE, 1973, p. 5). A partir da Lei n. 5.692/1971 já mencionada, as bibliotecas escolares passaram a fazer parte do plano de ensino escolar. No entanto, foram necessários programas governamentais promovidos pelo Estado brasileiro para que essas iniciativas se consolidassem no decorrer dos anos tanto no que diz respeito à distribuição de livros para as escolas quanto às construções e adequações de bibliotecas escolares. Até os dias de hoje, encontramos unidades escolares sem biblioteca escolar, enquanto outras escolas têm bibliotecas escolares precárias. Mas todos os educadores reafi rmam a importância desse espaço na escola para que o processo de ensino e aprendizagem atinja a qualidade desejada (GUIDA, 2018). Observamos que, dos anos de 1930 até 1980, não tivemos uma política nacional com ações integradas entre os diversos tipos de bibliotecas (escolares, públicas, universitárias, comunitárias, populares, especializadas, entre outras). É possível constatar, na exposição feita até aqui sobre biblioteca escolar, que foram realizadas ações locais isoladas ao longo desse período. Talvez, por serem isoladas, essas ações foram perdendo forças em virtude da falta de incentivo e de valorização política e governamental durante mais de cinquenta anos (SILVA, 2011). 42 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura A partir da década de 1990, com a intenção de melhorar a educação brasileira, foram criados e implementados alguns programas e projetos governamentais de distribuição e socialização de livros para as bibliotecas escolares no país, como, por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). Além desses programas, foi aprovada, depois de oito anos, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB em 20 de dezembro de 1996. De acordo com Guida (2018, p. 25) foi “com a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9.394/1996) e a inclusão dos PCN de Língua Portuguesa, em 1998, que mais uma vez a biblioteca escolar voltou a ser valorizada no ambiente escolar”. Esses documentos a reconhecem como um espaço fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem, da possibilidade de desenvolver o gosto pela leitura e da formação de leitores competentes: A escola deve dispor de uma biblioteca em que sejam colocados à disposição dos alunos, inclusive para empréstimo, textos de gêneros variados, materiais de consulta nas diversas áreas do conhecimento, almanaques, revistas, entre outros (BRASIL, 1998, p. 71). Outra iniciativa relevante para ampliar e melhorar a biblioteca escolar foi a criação do Programa Nacional de Biblioteca Escolar (PNBE), em 1997, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica – FNDE, em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SOUZA, 2009). Esse programa tem como objetivo ampliar e distribuir livros para atualizar o acervo das bibliotecas das escolas públicas brasileiras, estando vigente até os dias atuais. Uma iniciativa no campo da legislação dirigida à ampliação e à melhoria da biblioteca escolar diz respeito à Lei n. 12.224, aprovada nos órgãos legislativos federais em 24 de maio de 2010, como mencionamos na contextualização deste livro. Essa lei prevê a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino de todo o país até o ano de 2020. Ela determina, também, que o acervo dessas bibliotecas deve ter, no mínimo, um título por estudante matriculado na escola e o sistema de ensino será, também, responsável pela guarda, preservação, organização, funcionamento e divulgação da biblioteca (BRASIL, 2010). Além da Lei n. 12.244/2010, em 2015, foi criado e aprovado o Projeto de Lei do Senado n. 28, que cria a Política Nacional de Bibliotecas. Essa política propõe a normalização de alguns conceitos de bibliotecas – nacional, pública, especializada, universitária, escolar, comunitária e especial e seus acervos – além de responsabilidades do Estado para com elas (BRASIL, 2015). A Política Nacional de Biblioteca estabelece como diretrizes: • igualdade de acesso à biblioteca; • especifi cidade de serviços e materiais à disposição de 43 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 usuários em atenção especial; • elevada qualidade das coleções, produtos e serviços; • vedação da censura; • e a independência dos gestores e profi ssionais para compor os arquivos (BRASIL, 2015). Essa política dispõe, ainda, que as bibliotecas devem contar com bibliotecários em número proporcional e adequado ao atendimento dos usuários, bem como determina que a iniciativa privada ou qualquer órgão da administração direta ou indireta possa criar bibliotecas, como “espaço físico ou virtual que mantenha bens simbólicos organizados, tecnicamente tratados e que ofereça serviços de consulta e empréstimo” (BRASIL, 2015). Os bens simbólicos são compreendidos como: livros, outros documentos ou informações disponíveis em qualquer mídia ou suporte. Pelo projeto, as bibliotecas escolares devem selecionar, reunir, organizar e preservar os bens, além de promover acesso universal e irrestrito aos usuários. Segundo o autor do projeto, o Brasil é um dos últimos países a adotar uma norma jurídica com o objetivo de estabeleceruma política nacional para bibliotecas. Países como Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala, Paraguai, Uruguai e Venezuela já possuem normas nesse campo. Outra importante estratégia para promover o acesso ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas de acesso público no Brasil foi criada por meio da Política Nacional de Leitura e Escrita – PNLE, instituída pela Lei n. 13.696/2018, em 13 de julho de 2018, e implementada pelos Ministério da Cultura e da Educação, em cooperação com os estados, Distrito Federal e municípios e a participação da sociedade civil e instituições privadas. Essa política é resultante de diversas discussões realizadas ao longo de dez anos por meio das atividades do Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL, que vamos discutir de forma mais detalhada na terceira seção, na qual discutiremos a importância das bibliotecas públicas para as comunidades de um modo geral. Concordando com Prestebak (2001), destacamos que grande parte dos profi ssionais da educação acredita que a aprendizagem escolar dos estudantes fl ui melhor quando a escola cria e mantém uma biblioteca dinâmica, atuante e articulada com a comunidade escolar. Assim, a escola deve favorecer o conhecimento mútuo e, nesse aspecto, todos os que nela atuam têm um papel preponderante. É preciso perceber que a educação não se dá unilateralmente, mas na relação com o outro, isto é, a comunidade escolar e estudantes, estudantes e estudantes e comunidade escolar e comunidade em que a escola está inserida. Para ampliar um pouco mais a discussão sobre biblioteca escolar, a partir de dados dos órgãos públicos que defendem o aumento do número e a qualidade 44 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura da biblioteca escolar, indicamos a leitura de uma notícia de jornal publicada pela Agência Câmara de Notícias na atividade de estudo a seguir. Solicitamos que leia o artigo O papel da biblioteca na formação do leitor, de Luiz Percival L. Brito. Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos e dos aspectos abordados no artigo supracitado, apresente um texto de, no máximo, três páginas, com o propósito de responder ao seguinte questionamento: como a biblioteca escolar e a sala de leitura podem contribuir para a formação do leitor na escola? FONTE: BRITTO, L. P. O papel da biblioteca na formação do leitor. Biblioteca Escolar: que espaço é esse? ano 21, p. 18-25, out. 2011. Disponível em: https://midiasstoragesec.blob.core.windows.net/001/2017/08/ biblioteca-escolar-que-espao--esse.pdf. Acesso em: 19 abr. 2020. _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ ______________________________________________________ 1.3 DISCUSSÃO SOBRE A LEITURA E SUA RELAÇÃO COM A BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA Nesta seção, vamos discutir a importância da leitura, a formação do leitor e sua relação com a biblioteca escolar e a sala de leitura, bem como suas contribuições para a comunidade escolar e a família. Nessa perspectiva, Rocco (1994) afi rma que a leitura é essencial para a formação dos jovens na sociedade contemporânea e, quanto mais cedo começarem, mais benefícios podem agregar em seu desenvolvimento humano ao longo da vida. Para a autora, refl etir sobre a leitura remete a duas questões: por que os jovens devem desenvolver sua formação leitora? O que, de fato, os jovens agregam em seu desenvolvimento com a leitura? Que relação têm a biblioteca escolar e a sala de leitura com a 45 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 formação leitora dos estudantes? Que contribuições a leitura, a biblioteca e a sala de leitura podem trazer para os estudantes e a comunidade escolar? FIGURA 16 – LEITURA, BIBLIOTECA E SALA DE LEITURA FONTE: <http://agencia.sorocaba.sp.gov.br/escolas-municipais-recebem- revitalizacao-de-salas-de-leitura/#&gid=1&pid=1>. Acesso em: 15 abr. 2020. A partir desses questionamentos, é relevante trazer a contribuição de Queiroz e Maciel (2014) no tocante à formação leitora, orientam que a formação de leitores autônomos e críticos exige a construção de diferentes habilidades ao longo dos anos, tanto pelas famílias quanto pelas escolas. Nessa perspectiva, a biblioteca e a sala de leitura são essenciais e podem contribuir signifi cativamente com o trabalho pedagógico da escola e da equipe docente. Quando se trata da formação de leitores infantis, especialmente, crianças das classes populares, as escolas devem criar estratégias e projetos pedagógicos que atraiam sua atenção, considerando a complexidade da leitura e a falta de acesso a materiais de boa qualidade (QUEIROZ; MACIEL, 2014, p. 26). Os questionamentos abordados no início desta seção foram: por que os jovens devem desenvolver sua formação leitora? O que de fato os jovens agregam em seu desenvolvimento com a leitura? Não é tão simples encontrar respostas apropriadas para tais questões. Apesar da complexidade desses problemas, os profi ssionais da educação não desistem de buscar estratégias para enfrentar esses desafi os. Desse modo, passamos a discutir essas questões a partir da importância da formação do leitor entre os estudantes. Para enriquecer seus estudos nesse momento, sugerimos que assista ao vídeo, indicado a seguir, da Professora Magda Soares, que vem dedicando sua carreira à formação do leitor e professores da educação básica, especialmente em relação às temáticas do ensino e aprendizagem da leitura, escrita e letramento. 46 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Para refl etir melhor sobre as contribuições da biblioteca e da sala de leitura na formação de crianças leituras, sugere-se que você assista ao vídeo Alfaletrar, biblioteca escolar e literatura, publicado pela professora mineira Magda Soares. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=yQQtoyNhfGs. Para analisar dados de leitura em nosso país, lançamos mão da pesquisa intitulada Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida pelo IBOPE/Instituto Pró- Livro. Em sua quarta edição, a pesquisa afi rma que foi considerado leitor aquela pessoa que leu pelo menos um livro nos últimos três meses – inteiro ou em partes. Nessa pesquisa, foram entrevistadas em todo o país mais de 5.000 pessoas, a partir dos cinco anos de idade, sobre seus hábitos e motivações de leitura. Os resultados mostram que o número de leitores cresceu no Brasil nos últimos quatro anos. Em 2011, os leitores eram 50% da população. Em 2016, os leitores aumentaram para 56%, o que corresponde a mais de 104,7 milhões de pessoas. Apesar do ligeiro crescimento, 54% dos leitores brasileiros não se identifi cam com textos literários, uma vez que os alfabetizados não leem romances, contos e poesias por vontade própria. O relatório divulgou que, em 2015, apesar do aumento de leitores brasileiros, o índice de leitura é, ainda, baixo. Isto é, os brasileiros leitores leram em média 2,43 livros terminados e 2,53 em partes no ano. Em conformidade com as autoras Queiroz e Maciel (2014), a leitura é uma das vias de acesso ao conhecimento e à cultura para o povo brasileiro. Portanto, 44% não usufruem desse canal para acessarem o conhecimento e a cultura pelo fato de não serem leitores. Por outro lado, sabemos que formar um leitor na escola não é tão simples, pois não é uma habilidade passiva, estática. Nesse ponto, a colaboração da biblioteca e da sala de leitura pode ser essencial para trabalhar com os professores,como já defendemos nas seções anteriores, e garantir o trabalho pedagógico de forma dinâmica. Do mesmo modo que é difícil para o professor, sozinho, dar conta dessa tarefa, a biblioteca também não pode ser um mero depósito silencioso de livros. Conforme a pesquisa, o que motiva os brasileiros a lerem? Quais motivos as crianças, jovens e adultos têm para ler? Podemos ver o resultado da pesquisa Retratos da Leitura na Figura 17. 47 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 FIGURA 17 – PRINCIPAL MOTIVAÇÃO PARA LER UM LIVRO FONTE: <https://prolivro.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Pesquisa_ Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020. A Figura 17 apresenta as principais motivações que impulsionam os leitores brasileiros a escolherem um livro para ler de acordo com a faixa de idade. De acordo com os dados, o gosto pela leitura (25%) é a primeira motivação dos participantes, seguida da atualização cultural (19%), entretenimento (distração) (15%), motivos religiosos (11%), crescimento pessoal (10%), exigência escolar (7%) e atualização profi ssional ou exigência do trabalho (7%). É possível observar que as motivações para ler um livro integram o papel civilizador da leitura em nosso país. Entretanto, a primeira razão apresentada pelos leitores como obstáculo para aumentar a leitura de textos é a falta de tempo (43%). Com esses resultados, é possível compreender, também, que se a pessoa desenvolve o gosto pela leitura, ela, de modo geral, continua essa prática por toda a sua vida e poderá ampliar seu crescimento pessoal, atualizar-se para melhorar o seu desempenho profi ssional e realizar uma das práticas mais importantes, que é ler para seu entretenimento pessoal, como destaca Cagliari (1989, p. 148) “a leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido por meio da leitura fora da escola”. Então, a leitura pode contribuir para os estudantes irem além de obter o diploma, inclusive em sua formação humana. 48 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 18 – PRINCIPAL MOTIVAÇÃO PARA LER UM LIVRO, POR FAIXA ETÁRIA FONTE: <https://prolivro.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Pesquisa_ Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020. A Figura 18 traz dados parecidos com os apresentados na Figura 17. Entretanto, é relevante conhecer as motivações por faixa etária para propor estratégias de aprendizagem na escola, incluindo a biblioteca e a sala de leitura. Na Figura 17, apresentada anteriormente, os leitores que têm como primeira motivação o gosto pela leitura são os jovens entre 11 e 13 anos de idade, seguido pelas crianças de 5 e 10 anos de idade. Observa-se que esses participantes estão, na verdade, iniciando a formação leitora, estando a maioria deles inseridos na escola com práticas de leitura. Portanto, a escola deve continuar realizando boas estratégias de leitura. O número de leitura aumenta conforme a escolaridade (10,87 para os entrevistados com nível superior) e a renda familiar (11,28 para mais de 10 salários mínimos). A prática da leitura também é maior entre estudantes (9,38 livros por ano), sobretudo devido a títulos indicados pela escola e didáticos. Ser leitor é muito mais que decifrar palavras e frases, mas a possibilidade de se tornar humano. Para deixar claro o que estou querendo dizer com “tornar humano”, apoiamo-nos no discurso de Mario Vargas Llosa ao receber o prêmio Nobel de Literatura de 2010, quando afi rma que: [...] um mundo sem literatura se transformaria num mundo sem desejos, sem ideais, sem desobediência, um mundo de autômatos privados daquilo que torna humano um ser humano, ou seja, a capacidade de sair de si mesmo e de se transformar 49 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 em outro, em outros, modelados pela argila dos nossos sonhos (LAGO, 2019, s.p.). Outra pergunta feita foi em relação aos títulos na lista da última obra lida e quais os títulos mais marcantes? A resposta mais pontuada foi a Bíblia. Com isso, registrou-se que o livro mais lido no Brasil é a Bíblia. Entretanto, os participantes não fi zeram a relação dessa resposta com a sua resposta à pergunta: qual a principal motivação para ler um livro? Tal constatação deriva de que apenas 11 participantes elegeram como principal motivação motivos religiosos. FIGURA 19 – FATORES QUE INFLUENCIAM NA ESCOLHA DE UM LIVRO FONTE: <https://prolivro.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Pesquisa_ Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020. A Figura 19 apresenta os fatores que infl uenciam na escolha de um livro. De acordo com os dados, 30 participantes escolhem o livro pelo tema e assunto. Essa relação é esperada por pessoas leitoras adultas, como é informado nas observações do gráfi co. A infl uência é seguida pelo autor (12); dicas de outras pessoas, título e capa (11 cada); dicas de professores (7); críticas/resenhas (5); e editora, publicidade/anúncio e redes sociais (2). Esses dados mostram que na sexta posição estão as dicas dos professores. Possivelmente, esse dado nos indica que precisamos indicar mais títulos para os nossos estudantes. A biblioteca e a sala de leitura podem contribuir signifi cativamente na indicação de títulos com excelente qualidade, que farão diferença para a formação dos leitores. Além da infl uência da escolha dos livros, a pesquisa também questionou qual o local e os suportes que os participantes utilizam para realizar suas leituras. 50 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Onde as pessoas que participaram da pesquisa gostam de ler? Quais as suas preferências? Elas preferem livros impressos, digitais ou ambos? O Quadro 5 tem como intenção responder as nossas perguntas: Onde as pessoas que participaram da pesquisa gostam de ler? Quais as suas preferências? Elas são por livros impressos, digitais ou ambos? Para isso, vamos apresentar os dados na tabela a seguir: QUADRO 5 – LOCAL DE LEITURA, LIVRO IMPRESSO E DIGITAL E AMBOS Local de leitura Livro Impresso Livro Digital Ambos Casa 75 6 19 Sala de aula 88 3 9 Trabalho 61 14 25 Biblioteca da escola ou faculdade 81 2 17 Transporte (ônibus, trem, metrô, avião) 75 15 13 Parques, praças, shoppings, praias, clubes 74 14 12 Livraria 88 3 9 Outros lugares 86 5 9 Biblioteca comunitária 76 4 9 Cybercafé, lan house 34 42 24 Cafeteria ou bares 65 13 20 FONTE: A autora. O Quadro 5 mostra que o local para realizar a leitura escolhido pelos participantes é, em primeiro lugar, a casa, seguida pela sala de aula, trabalho, biblioteca da escola ou faculdade, transporte, lugares públicos (parques, praças, shoppings, praias e clubes), livraria, outros lugares, biblioteca comunitária, cybercafé ou lan house e cafetaria ou bares). Em relação ao suporte de preferência para a leitura, constatamos que o suporte de preferência dos participantes dessa pesquisa é o livro impresso em todos os locais, exceto os leitores que escolheram os cybercafés ou lan house, pois 42 deles preferem livros digitais. Constatamos, ainda, que a quantidade dos leitores que se posicionaram favoráveis aos dois suportes é, também, baixa, considerando o uso das tecnologias na sociedade contemporânea, pois só os leitores que escolheram como local de leitura de sua preferência o trabalho se posicionaram favoráveis a ambos os suportes. Isto é, 25 deles dizem que os dois suportes atendem às suas preferências. 51 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARESE A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Em relação às bibliotecas, a plataforma QEdu apresentou os dados do Censo Escolar 2016, mostrando que, do total de 183.376 escolas, 67.088 possuem biblioteca, o que equivale a 37%. Outras 43.218 unidades (24%) afi rmam que possuem sala para leitura. Não existem números consistentes sobre a presença de bibliotecários nesses estabelecimentos, mas estima-se que a maioria não conta com esse profi ssional. Caldin (2003, p. 47) afi rma que “a leitura se confi gura como um meio de se apropriar do que se passa ao redor da pessoa. Portanto, ler pode ser visto como um ato social”. Nessa direção, recorremos a Cagliari (1989, p. 148), que expressa de forma contundente que a leitura é uma “atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos estudantes”. Para o autor, “o melhor que a escola pode oferecer a seus alunos deve estar voltado para a leitura. Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for um bom leitor, penso que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa (CAGLIARI, 1989, p. 148). Assim, a escola que não proporciona aos estudantes o contato com a leitura, não está cuidando efetivamente da formação leitora dos estudantes que estão sob a sua responsabilidade. Entretanto, é bom lembrar de que essa atividade pedagógica é um compromisso de todos que na escola atuam. Portanto, temos aqui um chamado ao pessoal da biblioteca e da sala de leitura para transformá- las em espaços ativos com o objetivo de realizar a formação leitora e a formação humana, com a aprendizagem de temas importantes, os quais a escola tem dividido com a família e a comunidade, para a formação humana. Nesse sentido, sugerimos a leitura de um fragmento de um texto que discute a importância da biblioteca para crianças pequenas a seguir: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Para fi nalizar este capítulo, é interessante trazer algumas considerações para orientar o seu estudo, especialmente no tocante à discussão sobre a conceituação, a caracterização, as missões, objetivos e categorias da biblioteca escolar e da sala de leitura, além de suas contribuições para a escola, a família e a comunidade em que a escola está inserida. Na contextualização, refl etimos sobre a importância da biblioteca como o espaço-lugar que vai além de guardar as coleções, mas que pode nos ajudar a preservar a memória do conhecimento, bem como estabelecer com a escola uma relação de pertencimento Nesse sentido, discutimos, na primeira seção, a evolução da escrita, seus suportes, mudanças históricas e a invenção da prensa por Johannes Gutenberg no século VX, os livros, a biblioteca e sua origem histórica em nosso país e a importância da sala de leitura para formação de leitores e escritores. 52 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Na segunda seção, o debate foi direcionado à gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura, seu conceito, missões, funções e objetivos, bem como suas contribuições para a escola, a família e a comunidade escolar Na terceira e última seção, a discussão foi em torno da importância da leitura, a formação do leitor e sua relação com a biblioteca escolar e a sala de leitura e suas contribuições para a comunidade escolar e a família, perpassando pela pesquisa do IBOPE que investigou o comportamento leitor dos brasileiros nos últimos anos. Para fundamentar a discussão deste capítulo, inserimos textos teóricos sobre a histórica da escrita, a leitura e a formação leitora dos estudantes, bem como sobre a gestão da biblioteca e da sala de leitura. Apresentamos, ainda, relatórios de audiências públicas sobre o cenário das bibliotecas, salas de leitura, entre outros. Por fi m, adicionamos textos teóricos (fragmentos) para aprofundar sua aprendizagem sobre a gestão da biblioteca e sala de leitura. Desejamos a você bons estudos! Solicitamos que assistam ao vídeo A menina que odiava livros, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZsURXKum5K0. Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos e dos aspectos abordados no vídeo supracitado, apresente um texto com o propósito de responder ao seguinte questionamento: que estratégias podemos criar para incentivar o gosto pela leitura? _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ ______________________________________________________ 53 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Presidência da República, 1988. BRASIL. Decreto nº 7.559, de 1º de setembro de 2011. Dispõe sobre o Plano Nacional do Livro e Leitura - PNLL e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7559.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010. Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do país. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/ lei/l12244.htm. Acesso em: 10 maio 2015. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l9394.htm. Acesso em: 8 mar. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE): leitura e bibliotecas nas escolas públicas brasileiras. Brasília: MEC, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Avalmat/livro_ mec_fi nal_baixa.pdf. Acesso em: 8 mar. 2020. BRASIL. 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Apresentar práticas e projetos pedagógicos desenvolvidos em bibliotecas escolares e salas de leitura no país para qualifi car ainda mais o processo de ensino e aprendizagem e a atuação profi ssional da comunidade escolar nesses contextos escolares. 60 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura 61 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOSE LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO FIGURA 1 – GERENCIAMENTO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA FONTE: <https://bibliotecasbr.lojaintegrada.com.br/ bibliotecasmudam>. Acesso em: 10 ago. 2020. Neste capítulo, nossa intenção é dialogar com você acerca do gerenciamento da biblioteca escolar e da sala de leitura. Para tanto, buscamos refl etir especialmente acerca dos programas, projetos e campanhas de incentivo à leitura instituídos em nosso país, bem como aspectos da organização dos espaços físicos, funcionamento, formação do acervo, armazenamento, seleção, aquisição e dinamização desses espaços. Concordamos que as bibliotecas podem mudar as pessoas e elas podem mudar o mundo, como demonstra o sentido do livro dos autores Daniele Carneiro e Juliano Rocha, publicado de forma independente pela editora Magnolia Cartonera e o blog Bibliotecas do Brasil, como mostra a Figura 1. Apresentamos, também, algumas sugestões de práticas e projetos pedagógicos que se confi guram em recursos de apoio ao processo de ensino e aprendizagem para estudantes da educação básica e comunidade escolar. Quero ser lembrado por algo que dure para sempre. Sabes o quê? Fez uma pausa, olhou-me, e anunciou, solene: - Um livro. Um livro que conte a história da humanidade de nosso povo. Um livro que seja a base da civilização. Claro, o livro como objeto, também é perecível. Mas o conteúdo do livro, não. É uma mensagem que passa de geração em geração, que fica na cabeça das pessoas. E que se espalha pelo mundo. O livro é dinâmico. O livro se dissemina como as sementes. Que o vento leva, [...]. – Quero que escrevas esse livro Quero que descrevas a trajetória de nossa gente através do tempo [...]. Quero um livro que as gerações leiam com respeito, mas também, com encanto (SCLIAR, 1999, p. 116). 62 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Nesta contextualização, ressaltamos que dialogar acerca da biblioteca escolar e da sala de leitura é de fundamental importância para compreendermos a relevância que esses espaços com livros interessantes e outros materiais têm na formação histórica, cultural e educacional dos estudantes até os dias de hoje, como destaca Scliar (1999), que traz a imagem dinâmica do livro em seu poema na epígrafe acima. Entretanto, destacamos que, apesar de a biblioteca escolar e sala de leitura serem distintas, elas possuem muitas atividades semelhantes em relação aos objetivos e às atividades desenvolvidas, as quais são essenciais para fortalecer o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes, o qual deves ser comprometido com a educação de qualidade. Arriscamos dizer que a sala de leitura pode complementar as atividades da biblioteca escolar, por isso, muitas vezes, encontramos esses espaços conjugados em muitas escolas, ou seja, biblioteca escolar com sala de leitura. Talvez esse modelo seja o mais interessante para as bibliotecas escolares, as quais têm como uma das funções estimular a leitura e contribuir para formação leitora e cultural dos estudantes da educação básica em nosso país. Constatamos, também, que a preocupação com a formação do leitor em nosso país não é nova. De acordo com Zilberman (1988), há registros dessa preocupação de forma clara desde o século XVIII e, ainda, que a formação do leitor necessariamente passaria pelo uso do livro. Nesse sentido, a autora afi rma que: A prática da leitura foi ostensivamente promovida pela pedagogia do século XVIII, pois propagava os ideais iluministas [...]. Dessa feita, valorizando o livro enquanto instrumento de cultura e usando-o como arma contra a nobreza feudal que justifi cava seus privilégios, invocando a tradição que os consagrara. E os pensadores iluministas procuravam a época solapar uma ordem de conceitos até então tida como inquestionável por meio da circulação de ideias nos textos escritos (ZILBERMAN, 1988, p. 17). Cabe destacar que a ideia trazida por Zilberman (1988) sobre a valorização do livro na citação anterior é importante para continuarmos explorando e aplicando estratégias de leitura com os estudantes até os nossos dias, pois “[...] ler é antes de tudo, um direito fundamental do cidadão e uma das principais vias de acesso ao conhecimento e à cultura, bem como o desenvolvimento e a construção da autonomia dos cidadãos do nosso tempo. [...]” (QUEIROZ; MACIEL, 2014, p. 26). Uma das estratégias de formação dos leitores pode ser desenvolvida tanto nas bibliotecas escolares quanto nas salas de leitura. Então, o que distingue a biblioteca escolar da sala de leitura? Constatamos que apesar, de a biblioteca escolar e a sala de leitura serem diferentes, elas possuem atividades e objetivos comuns. Portanto, a distinção entre 63 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 esses espaços pode começar na origem deles, seguida das funções que cada um deles assume. Uma dessas diferenças diz respeito ao processo de organização da biblioteca escolar e da sala de leitura, como, por exemplo, a primeira biblioteca do mundo foi erguida em “Nínive, cidade mais importante da Assíria (atual Iraque), pelo rei Assurbanípal II, por volta do século 7 a.C. Nela, foram guardados milhares de tabuletas escritas (argila) com caracteres cuneiformes, a mais antiga forma de escrita que se tem notícia” (CAGLIARI, 1989, p. 148). Historicamente, a primeira função da biblioteca, como discutimos no primeiro capítulo, era a de preservar os relatos/feitos da humanidade com vistas a salvaguardar toda e qualquer informação, fatos, registros históricos e científi cos elaborados pelos povos. Essa função, ao lado de outras assumidas pela biblioteca em tempos mais recentes, tem sido mantida, ao longo dos anos, até os nossos dias. Tal fato ocorre em qualquer tipo de biblioteca, seja ela pública, escolar, especializada, infantil, entre outras, pois o princípio entre elas é o mesmo, ou seja, preservar a memória histórica dos fatos e fenômenos vividos pela humanidade. O que vai diferir uma biblioteca da outra são os serviços que entregam aos usuários e a diversidade de seus acervos. Já a sala de leitura, guardadas as suas diferenças com a biblioteca escolar, tem como principais funções: estimular à leitura e desenvolver atividades de ensino que atendam às necessidades e aos interesses da comunidade escolar e das instituições de ensino onde está inserida. É interessante destacar que incentivar a leitura e desenvolver atividades de ensino, sem sombra de dúvidas, estão no rol das funções desenvolvidas, também, pela biblioteca escolar. Então, por que criaram as salas de leituras? Sabemos, no entanto, que a biblioteca escolar assume mais funções que a sala de leitura e, ao mesmo tempo, agregou uma sala de leitura em seu espaço físico. Nesse sentido, surgem muitos questionamentos para compreender esse fato. Com isso, vamos responder ao longo do capítulo os questionamentos a seguir: • Quantas são as bibliotecas escolares e as salas de leitura nas escolas públicas implantadas no Brasil? • Quais as bibliotecas escolares que possuem sala de leitura no Brasil? • Por que o poder público criou salas de leitura? • Será que a criação das salas de leitura está relacionada à exigência do profi ssional responsável – que não é necessariamente um(a) bibliotecário(a)? 64 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura 2 GESTÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E FUNÇÕES Iniciando o nosso diálogo, neste capítulo, buscamos responder aos questionamentos, entre outras informações que consideramos relevantes para seu estudo nesta disciplina. O Censo Escolar da Educação Básica de 2017 (Tabela 1) evidencia que 31% das escolas públicas (federal, estadual e municipal), no Brasil, possuíam biblioteca escolar e 20% delas, salas de leitura. Deacordo com a Lei n. 12.244, de 24 de maio de 2010, todas as escolas públicas do país são obrigadas a implantar a biblioteca escolar até o ano de 2020. Os dados apresentados na Tabela 1 a seguir, elaborada por Santos (2018, p. 35), confi rmam que a universalização da biblioteca escolar e da sala de leitura em todas as escolas públicas tem, ainda, uma imensa batalha a vencer, considerando que já estamos no ano do prazo fi nal estabelecido pela lei - que é o ano de 2020. TABELA 1 – ESCOLAS PÚBLICAS NO BRASIL COM BIBLIOTECAS E SALAS DE LEITURA, SEGUNDO CENSOS ESCOLARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA (2010 A 2017) Ano Total de escolas públicas de Educação Básica Escolas com Bibliotecas Escolas com Sala de Leitura 2010 158.710 42.832 (27%) 19.548 (12%) 2011 156.164 42.895 (27%) 23.054 (15%) 2012 154.583 43.513 (28%) 25.766 (17%) 2013 151.884 43.928 (29%) 26.551 (17%) 2014 149.098 44.305 (30%) 26.054 (17%) 2015 146.718 45.456 (31%) 27.471 (19%) 2016 145.647 45.681 (31%) 28.953 (20%) 2017 144.726 44.906 (31%)] 29.093 (20%) FONTE: Santos (2018, p. 35). Analisando a Tabela 1, é possível constatar que, no período entre 2010 e 2017, das 144.726 escolas públicas que oferecem educação básica, 44.906 (31%) possuíam bibliotecas com salas de leitura e 29.093 (20%) possuíam bibliotecas sem sala de leitura no ano de 2017. Constatamos, ainda, que o aumento de escolas públicas com biblioteca foi de 2.074 no país, o que corresponde a um crescimento de apenas 5%. No mesmo período, o número de escolas com sala de leitura teve um aumento substancial de 49%. Destacamos, ainda, que nessa série histórica, houve a redução de 13.984 escolas públicas no total geral. Por outro lado, ressaltamos que os números de bibliotecas escolares e salas de leitura 65 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 apresentados na Tabela 1 evidenciam que, apesar de as estratégias de formação do leitor não serem algo novo, estão longe de atender às necessidades dos estudantes em formação da educação básica, ainda mais com a redução de escolas públicas que atendem aos estudantes que mais utilizam esse recurso público. Reconhecemos muitos benefícios quando os estudantes têm acesso a uma sala de leitura bem dinamizada. No entanto, questionamos: por que determinadas escolas não têm biblioteca escolar com sala de leitura? Sabemos que tanto a biblioteca quanto a sala de leitura desenvolvem funções de extrema importância na qualifi cação do ensino e da aprendizagem dos estudantes da educação básica. A título de ilustração, sabemos que foi só no ano de 2009 que a sala de leitura foi incorporada ao Programa Nacional Sala de Leitura (PNSL), realizado pela Fundação de Amparo ao Estudante (FAE), ligada ao Ministério da Educação e Cultura. Entretanto, a Sala de Leitura (SL) buscou reforçar o objetivo do PNSL, ou seja, incentivar a leitura dos estudantes do ensino fundamental II, do ensino médio, da Educação de Jovens e Adultos – EJA e dos profi ssionais da educação de todo o país, em um espaço diferente da biblioteca escolar, com um acervo rico de livros e periódicos científi cos e gerenciado por toda a equipe de profi ssionais docentes da escola e não apenas o profi ssional bibliotecário escolar. O modelo de sala de leitura previsto pelo Programa Nacional Sala de Leitura (PNSL) prescreveu que a sala deveria ser ampla, arejada e equipada com mesas, cadeiras e equipamentos tecnológicos, abrigando um acervo com vistas a atender às necessidades dos estudantes. Essa sala de leitura deveria ser coordenada pelos próprios professores da escola e funcionar “[...] sem interrupção durante toda a semana e em todos os turnos de aulas” (SÃO PAULO, 2009, p. 35). FIGURA 2 – ATIVIDADE PEDAGÓGICA NA SALA DE LEITURA FONTE: <https://undime.org.br/noticia/20-07-2016-13-46-projeto- de-professor-amazonense-tem-como-meta-democratizar-o-acesso- e-o-gosto-pela-leitura>. Acesso em: 20 abr. 2020. 66 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Observamos que a ideia inicial do Programa Nacional Sala de Leitura (PNSL) era estimular a leitura dos estudantes de forma dinâmica, uma vez que a utilização da sala de leitura deveria ser diferente da biblioteca escolar, especialmente em relação ao horário de funcionamento da sala de leitura, a prestação de serviços e a coordenação ampliada por todos profi ssionais responsáveis. Enfi m, a sala de leitura deveria ser usada em todos os turnos de aulas da escola, durante todos os dias letivos. Para dar conta dessa estrutura, a coordenação dessa sala cabia a todos os profi ssionais docentes da escola ao mesmo tempo, excluindo a obrigatoriedade da presença do profi ssional bibliotecário para cuidar da preservação e manutenção do acervo e de outros materiais pedagógicos, iconográfi cos, fonográfi cos e documentos históricos. Sugere-se que a estrutura da sala de leitura seja mais simples e com custos reduzidos para atender aos principais objetivos, que são: estimular a leitura e desenvolver atividades de ensino. Para ter a melhor compreensão sobre o funcionamento da biblioteca e da sala de leitura, sugerimos que você assista ao vídeo Biblioteca e salas de leitura melhoram o desempenho escolar dos alunos? Esse vídeo traz o resultado de uma pesquisa feita pelo INSPER com 500 escolas que atendem alunos dos anos iniciais do ensino fundamental de 17 estados brasileiros. Disponível em: http://www.crb8.org.br/bibliotecas-e-salas-de-leitura-melhoram-o- desempenho-dos-alunos/. 2.1 DIÁLOGO SOBRE A GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA Já dizia o famoso escritor Monteiro Lobato (1951, p. 45): “Um país se faz com homens e livros”. Através dessa frase célebre, acreditamos que Monteiro Lobato tinha plena consciência da importância de incentivar a formação leitora das novas gerações em nosso país. Para Soares (2009, p. 53), a frase de Lobato é atual, pois a leitura pode trazer diversos benefícios, tanto ao desenvolvimento do país quanto aos sujeitos em uma sociedade letrada como a nossa, como destaca a seguir: 67 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 [...] por meio do livro, homens e mulheres são capazes de criar uma nação que compreende seus desafi os e busca soluções para a construção de um país justo, sustentável e democrático. A leitura sistemática constrói uma subjetividade complexa, permitindo o deleite estético e a ampliação do repertório de conhecimentos do leitor (SOARES, 2009, p. 53). Soares (2009), em sua citação anterior, destaca a importância da leitura para a construção subjetiva, cultural e educacional e do seu papel estratégico na formulação e execução das políticas que promovam o acesso ao livro e à formação de leitores, fortalecendo as ações de cidadania, inclusão social, desenvolvimento humano e o desenvolvimento da sociedade brasileira. Como fazer avançar um país com homens não leitores? As possibilidades desse desenvolvimento fi cam reduzidas. Portanto, todas instituições e organizações não governamentais devem privilegiar estratégias que incentivam a formação leitora dos sujeitos adultos e, em especial, das novas gerações. FIGURA 3 – ORGANIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA BIBLIOTECA INFANTIL PARQUE VILLAS BOAS (EUA) FONTE: <https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetura/ projeto-para-biblioteca/>. Acesso em: 26 abr. 2020. Programas, projetos e campanhas de incentivo à leitura Sabemos que desenvolver a competência leitora de uma sociedade letrada não é algo simples. Analisando por outro lado, sabemos, também, que o alcance desse objetivo é complexo, mas não é impossível. Faz-se necessário, portanto, criar e implantar programas, projetos e campanhas de incentivo à leitura em todo o país, que sejam bem-estruturados e sustentáveispor um longo tempo, para que ultrapassem o nível de ações pontuais para se tornar uma prática social e cultural da comunidade. Fazendo um balanço rápido sobre os programas, projetos e campanhas de incentivos à leitura em nosso país até o momento, já foram criados e implantados diversos programas, projetos e campanhas com diferentes objetivos, em diferentes 68 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura épocas, e nem sempre os resultados atendem às expectativas das proposições, pois continuamos perseguindo até hoje um dos primeiros objetivos, que é formar os sujeitos em leitores, especialmente durante a escolarização da educação básica. Para esclarecer a trajetória que o Brasil vem construindo sobre a formação leitora dos sujeitos, em especial dos estudantes, acreditamos que seja interessante discutirmos aqui fatos históricos. Na década de 1970, o governo federal manifestou interesse em estimular a formação leitora dos estudantes brasileiros, com vistas a elevar os índices de alfabetização infantil que eram extremamente baixos no país, para não dizer vergonhosos. A partir de então, por intermédio do Instituto Nacional do Livro (INL), iniciou-se o projeto de fi nanciamento de obras literárias para incentivar a leitura pelo país afora. Os resultados desse projeto não atenderam às expectativas do Instituto Nacional do Livro (INL). Com isso, na década de 1980, a Fundação Nacional do Livro fi nanciou projetos de incentivo à leitura em parceria com empresas educacionais privadas e secretarias de educação estaduais e municipais. A partir de então, com essas parcerias, o Intitulo Nacional do Livro (INL) fi rmou o objetivo de ampliar e melhorar o acervo de obras da literatura infanto-juvenil nas escolas públicas de todo o país, com o intuito de alcançar a formação leitora dos estudantes. Nessa mesma década, mais especifi camente em 1984, a Fundação Nacional do Livro ampliou ainda mais suas ações, agregando a distribuição de títulos de literatura e a criação de salas de leitura nas escolas públicas, confi gurando essas ações no Programa Nacional Sala de Leitura (PNSL). Contudo, o Programa Nacional Sala de Leitura (PNSL) continuou vinculado à Fundação de Amparo ao Estudante (FAE/Ministério da Educação e Cultura). Nessa década, ainda no período da redemocratização, esse programa fi rmou mais uma parceria. Dessa vez, fi rmou com as secretarias de educação estaduais que ainda não tinham feito ainda e Universidades Federais Públicas a fi m de dar continuidade ao objetivo central, ou seja, estimular a leitura dos estudantes em todas as regiões do país, bem como fortalecer a ampliação das salas de leitura nas escolas públicas. Para tanto, com essa nova parceria, o programa continuou distribuindo livros de literatura e periódicos para as escolas públicas de todo o país e introduziu a capacitação de professores das redes públicas de ensino com a contribuição das universidades públicas, como destaca o pesquisador Custódio (2000, p. 153) a seguir: Tendo sido criado em 1984, até 1987, o Programa Nacional Salas de Leitura – PNSL se desenvolveu compondo, enviando acervos para a ambientar as Salas de Leitura em todas as regiões do país e a capacitação dos professores. Esse trabalho era executado em parceria com as Secretarias Estaduais de Educação e as Universidades, essas últimas ocupando-se da capacitação dos professores (CUSTÓDIO, 2000, p. 153). 69 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 Em 1988, com a avaliação das ações do PNSL, seu objetivo foi redimensionado para alcançar resultados mais efetivos em torno da formação de leitores no país. A partir de então, o PNSL incorporou a implementação e a implantação de bibliotecas escolares, passando a ser denominado Programa Nacional Salas de Leitura/Biblioteca Escolares, por meio de um protocolo de intenções celebrado entre Fundação de Amparo ao Estudante (FAE) e o Instituto Nacional do Livro e Leitura (INLL). Ressalta-se, aqui, que o Instituto Nacional do Livro (INL) agregou o objetivo da leitura e passou a ser Instituto Nacional do Livro e Leitura (INLL). Em parceria, essas instituições começaram a criar bibliotecas escolares com salas de leituras e, ao mesmo tempo, passaram a incrementar bibliotecas que já tinham sido criadas nas escolas públicas, mas se encontravam sem vitalidade. Além disso, os professores que atuavam nesses espaços (bibliotecas escolares e salas de leitura) começaram a ter oportunidade de se capacitarem para melhor atender à comunidade escolar, em especial os estudantes e professores nas escolas públicas. Essa capacitação de professores teve grande sucesso em diversas localidades no país. Já nos anos de 1990, o Instituto Nacional do Livro e Leitura (INLL) foi extinto. Apesar da extinção, os programas e projetos desenvolvidos pelo INLL tiveram continuidade com a distribuição de acervos e discussões relativas à formação do leitor, tanto nos setores encarregados desses programas no Ministério da Educação e Cultura quanto nos cursos de formação de professores oferecidos pelas Universidades Públicas Federais em parceria com as Secretarias de Educação Estaduais de Ensino. Em 1992, foi instituído o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER) articulado à Fundação Biblioteca Nacional (FBN). FIGURA 4 – IMPORTÂNCIA DA LEITURA E CIDADANIA FONTE: <https://m.leitura.com.br/produto/quem-perde-a-voz- perde-vez-85085>. Acesso em: 20 abr. 2020. Nesse mesmo ano, surgiu uma parceria entre o governo francês e brasileiro, dando origem ao Pró-Leitura, com o objetivo de atuar na formação do professor do ensino fundamental para que ele estimulasse a leitura nas escolas com a 70 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura participação de alunos. Esse programa agregou, também, a formação inicial dos futuros professores do ensino fundamental e dos pesquisadores durante quatro anos (PEREIRA; NETO, 2015, p. 53). A partir de 1994, paralelamente ao Pró-Leitura e ao PROLER, começou a funcionar o Programa Nacional Biblioteca do Professor (PNBE). Seu propósito era formar professores dos anos iniciais do ensino fundamental, distribuir livros literários, além de produzir e difundir materiais de capacitação dos professores (PEREIRA; NETO, 2015, p. 53). Nessa primeira edição, os livros distribuídos eram obras literárias brasileiras e estrangeiras selecionadas por professores das universidades públicas federais, “profi ssionais com experiências docentes na educação básica e na formação de professores”. (PEREIRA; NETO, 2015, p. 53). A parceria entre o PNBE e as Universidades públicas resultou em questões relevantes, como, por exemplo, o desenvolvimento de uma política de leitura para o país, especialmente para os sistemas públicos de ensino, abrangendo a formação do professor, tanto em sua formação inicial quanto na formação continuada. Esses profi ssionais tiveram acesso a livros, periódicos e informações atualizadas. Nesse sentido, considerando a necessidade de ofertar um conjunto de recursos como suporte ao processo de formação permanente dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental e aos estudantes de licenciaturas/futuros profi ssionais, foi instituído o Programa Nacional Biblioteca do Professor (PNBE), por meio da Portaria n. 956, de 21 de junho de 1994 (CUSTÓDIO, 2000). FIGURA 5 – PROGRAMA DE LEITURA (PROLER) FONTE: <https://proleruniritter.wordpress.com/>. Acesso em: 1º maio 2020. Dando continuidade ao resgate histórico dos programas, projetos e campanhas de incentivo, o Governo Federal e órgãos não governamentais, na década de 1990, implantaram o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Com uma atuação complementar à ação de distribuição de livros, iniciou-se a formação em serviço dos professores, para que esses profi ssionais pudessem promover a leitura em suas classes em todas asregiões do país. Assim, os coordenadores dos programas governamentais concluíram que a promoção da 71 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 leitura não aconteceria apenas com ações de distribuição de livros literários para a escola, pois as escolas que visitavam duas situações eram recorrentes: (i) encontrar os livros do PNBE guardados nas caixas, sem que ao menos tivessem sido abertas; (ii) quando havia bibliotecas, ainda que precárias, não havia um profi ssional com formação específi ca para fazer a ponte entre o livro e o aluno. Em uma dessas escolas, quem cuidava dos acervos era a mesma pessoa responsável pela máquina de xerox (PEREIRA; NETO, 2015, p. 52). Diante disso, era preciso que os títulos distribuídos às escolas fi cassem “fora das caixas” e fossem para as mãos dos professores e dos estudantes em contextos mediadores da leitura. Na época, a maioria dos professores não eram leitores e não se apropriavam de práticas leitoras em sua formação docente. Com a intenção de tornar o docente um promotor ativo de leitura com os estudantes de suas classes, foi criado o Programa Nacional de Biblioteca Escolar (PNBE) para formar os professores que trabalhavam com o ensino fundamental I em todas as regiões do país. De acordo com Pereira e Neto (2015, p. 51), o PNBE é um “programa único no mundo tanto pela sua dimensão quanto pelo alcance em termos de investimentos e distribuição de acervo literário às escolas públicas”. Os autores vão mais longe quando se referem ao PNBE. Para eles, o contexto de políticas e programas de leitura no Brasil, visto que: “o PNBE é singular, se comparado à política do livro com alguns outros países, em virtude de sua complexidade, recursos fi nanceiros investidos, quantidade de obras distribuídas e da dimensão geográfi ca do Brasil, que abarca centenas de escolas públicas” (PEREIRA; NETO, 2015, p. 51). Cada etapa do PNBE integra-se ao Programa Nacional do Livro e Leitura (PNLL). Essa parceria se “efetivou, em 2006, como Política de Estado do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério da Cultura (MinC) para fomentar a leitura no Brasil” (PEREIRA; NETO, 2015, p. 52). Ainda na década de 1990, foi instituído o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER), cujo objetivo principal era coordenar, disseminar, articular e ouvir as propostas e ideias para dinamizar experiências de leitura, realizadas nas diversas regiões do país. Em 1997, a Secretaria de Ensino Fundamental (SEF) do Ministério da Educação (MEC) criaram o Plano Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE), com a intenção de prover recursos diversifi cados para a promoção da leitura no ensino fundamental. Em 2001, o MEC e a SEF criaram o Programa Literatura em Minha Casa, com o objetivo de integrar as práticas de leitura, a escola e a família. Compreendemos que programas são conjuntos de princípios ou relação de objetivos de um 72 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura indivíduo, um partido político ou uma associação, com uma lista detalhada de compromissos, projetos ou planos para serem executados. Compreendemos que projetos são planos gerais de edifi cação ou execução e campanhas são conjuntos de esforços, ou de meios, para se atingir a um objetivo. Nos últimos 26 anos, foram desenvolvidos pelo Governo Federal, em parceria com órgãos não governamentais, vários programas, projetos e campanhas a nível nacional com o objetivo de promover e incentivar a leitura. A partir de 2006, o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (Ceale/UFMG) assumiu o processo de avaliação das obras que integram o PNBE. Nesse mesmo ano, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) ampliou o atendimento do PNBE e encaminhou material didático-pedagógico para professores do ensino fundamental das escolas que participaram do Programa de Desenvolvimento Profi ssional Continuado – Programa Parâmetros em Ação. Entre os materiais enviados, seguiam os volumes impressos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998). Em 2003, houve mais uma novidade do PNBE, já que foram incluídas obras destinadas aos estudantes do ensino fundamental I e II e suas famílias para que fossem levadas para suas casas como estímulo para compor a biblioteca familiar. Entre os anos de 2001 e 2002, o MEC criou a ação Literatura em Minha Casa. No ano seguinte, em 2003, foram desenvolvidas mais quatro ações junto ao PNBE. As ações foram: - Biblioteca Escolar - para estudantes do 6º ao 9º anos ensino fundamental II; - Biblioteca do Professor - livros destinados ao uso próprio do docente, em casa, sem que tivessem de retornar à escola; - Palavra da Gente - estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA); - Casa da Leitura - acervo entregue aos municípios para serem repassados às bibliotecas públicas (PEREIRA; NETO, 2015, p. 60). É importante ressaltar que uma das regras do PNBE é alternar os critérios de distribuição dos acervos de acordo com os anos escolares, de modo que as versões do PNBE de 2009 a 2013 não sofreram mudanças muito signifi cativas, Nos anos de 2010 e 2011, o PNBE distribuiu acervo à educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação de jovens e adultos, ao professor e à educação especial, bem como periódicos. No ano de 2012, o PNBE seguiu a dinâmica já estabelecida e o Ministério da Educação incluiu no programa “obras também em formato MecDaisy, tecnologia 73 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 que cria livros digitalizados com áudio” (PEREIRA; NETO, 2015, p. 60). De 2013 até os dias de hoje, o PNBE vem seguindo a dinâmica de distribuição, alternando o acervo para os níveis e modalidades de ensino. Paralelamente a esses anos, o Programa Nacional do Livro e Leitura (PNLL) continua. Apesar dessas ações desenvolvidas pelos PNBE e PNLL desde a década de 1990, a pesquisa realizada por Jane Paiva e Andréa Berenblum (2009) evidencia que ter o livro na escola não signifi ca, ainda, formar leitores. Para as autoras, nos “[...] casos em que esses materiais são utilizados, o trabalho pedagógico continua marcado por uma forte tendência à decomposição de textos para o estudo de gramática prescritiva, em busca de respostas corretas e únicas interpretações para a leitura” (PAIVA; BERENBLUM, 2009, p. 182). Constata-se que as escolas não utilizam, ainda, os acervos dos PNBE e PNLL como são orientadas nas formações inicial e continuada. Constatamos também que a formação de leitores poderia ser melhor desenvolvida caso tivéssemos “mediadores de leitura nas escolas, sejam eles professores, bibliotecários, entre outros que, se preparados para a tarefa, poderiam revolucionar a leitura na escola pública nas práticas pedagógicas das escolas” (AROSI; RIBEIRO, 2016, p. 6581). Nessa mesma direção, Soares (2009, p. 79) propõe, inicialmente, que para a formação leitura dos estudantes na escola, faz-se necessário: [...] refl etir acerca das barreiras que não permitem aos estudantes, na sociedade brasileira, o acesso equitativo à leitura, desde as que concernem à aquisição da tecnologia da escrita, a partir da qual se criariam condições de possibilidade de leitura, até aquelas que propiciam o acesso ao livro como a existência de bibliotecas – públicas e escolares – ou de livrarias, fornecendo dados imprescindíveis à análise sobre o direito à leitura (SOARES, 2009, p. 79). Nessa citação, a autora desenvolve a discussão sobre as barreiras que difi cultam a democratização da leitura pelos sujeitos, em especial dos estudantes da classe popular, elegendo como objeto de refl exão a leitura, tomada como condição para a democratização cultural. 74 Gestão de Biblioteca Escolare Sala de Leitura Já que estamos discutindo os programas governamentais articulados à formação leitora dos estudantes do país e a criação de bibliotecas escolares e salas de leitura, não podemos deixar de destacar o Dia Nacional do Livro Infantil, que é comemorado no dia 18 de abril. Esse dia foi criado em 2002, em homenagem ao escritor Monteiro Lobato, que nasceu em 18 de abril de 1882. Sua obra mais conhecida é o Sítio do Picapau Amarelo, dirigida ao público infanto- juvenil. Essa história se passa no sítio da Dona Benta, avó de Narizinho e Pedrinho, onde habitam criaturas como o Visconde de Sabugosa, a boneca Emília e a Cuca, que estão impregnadas no imaginário de diversas gerações. Quem não se lembra dessas personagens? Gerenciando a biblioteca escolar e a sala de leitura FIGURA 6 – BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA FONTE: <farroupilha.rs.gov.br/2018/10/26/escola-presidente-dutra-reforma- biblioteca-e-inaugura-sala-da-leitura/>. Acesso em: 12 maio 2020. Neste tópico, apresentamos o gerenciamento da biblioteca escolar e da sala de leitura, especialmente aspectos da organização e do layout desses espaços, buscando garantir a melhor disposição possível para recepcionar os estudantes, a equipe docente e as famílias da comunidade escolar. Apresentamos, ainda, o funcionamento desses espaços no que diz respeito à formação e ao desenvolvimento do acervo – armazenamento, seleção, aquisição, desbaste e desgaste, que não são tarefas simples. São necessários diversos cuidados, entre eles o funcionamento, o acervo e a organização, para que se atinjam os objetivos propostos (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007). Além disso, é oportuno discutir os eventos culturais e as atividades que poderão ser desenvolvidas com e pelos estudantes através do apoio da equipe docente. 75 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 Organizar uma biblioteca escolar e uma sala de leitura exige muitos cuidados, os quais devem ser observados para atingir seus objetivos. Espera-se que esses espaços sejam dinâmicos e possam contribuir para a formação cultural da comunidade escolar, em especial dos estudantes, desenvolvendo sua curiosidade e seu senso crítico, que os levarão à cidadania plena. Válio (1990) defi ne biblioteca escolar como um espaço que busca estimular a formação cultural, especialmente a formação leitora e a aprendizagem de conhecimentos construídos pela humanidade, a partir da utilização de seu acervo de livros e de outros materiais pelos estudantes. Além disso, coopera com a instrução e a formação cultural da comunidade escolar e dá suporte ao atendimento do currículo da escola. Já as Diretrizes da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) compreendem que a biblioteca escolar, nos dias de hoje, é: [...] um espaço de aprendizagem físico e digital na escola onde a leitura, a pesquisa, a investigação, o pensamento, a imaginação e a criatividade são fundamentais para imprimir o conhecimento e o crescimento pessoal, social e cultural da comunidade escolar, em especial, os estudantes (IFLA, 2015, p. 19). Nessa mesma direção, Lima afi rma que a biblioteca escolar tem a função educativa de integrar “os recursos ou equipamentos pedagógicos, como um laboratório da práxis educativa e está presente na escola e constitui um instrumento de ensino e aprendizagem de fundamental importância” (LIMA, 2016, p. 32). FIGURA 7 – SALA DE LEITURA DE ESCOLA DO ENSINO FUNDAMENTAL FONTE: <https://www.publishnews.com.br/materias/2019/05/03/investir-em- educacao-e-investir-em-biblioteca-escolar>. Acesso em: 12 maio 2020. E a sala de leitura, como podemos defi ni-la? Com relação à sala de leitura, Santos (2018, p. 35-36) afi rma que a presença da sala de leitura nas escolas públicas pode sinalizar uma opção “[...] dos estados e municípios por um caminho mais econômico, inclusive, porque o modelo recomendado pelo PSL (Programa da Sala de Leitura) não se faz necessário a construção de novos espaços e a contratação do profi ssional 76 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura bibliotecário”. Concordamos com Santos (2018) que a aderência a esse PSL talvez seja mais por razões econômicas que pedagógicas, contradizendo o próprio objetivo das propostas educacionais das esferas federal, estadual e municipal brasileiras, as quais apresentam em seus discursos que o principal objetivo diz respeito à oferta da educação de qualidade para todos os estudantes da educação básica. Contudo, em muitas escolas brasileiras com pouca possibilidade de receber a instalação de uma biblioteca escolar, as atividades desenvolvidas nas salas de leitura têm refl etido em bons resultados junto aos estudantes. Santos (2018) evidenciou a dinâmica da sala de leitura da escola observada e os resultados positivos para a aprendizagem dos estudantes. Por outro lado, revela problemas vividos por outros profi ssionais dessas salas no país afora, como, por exemplo, a prática solitária de muitos professores das salas de aula, ou seja, eles “têm formação em diversas áreas do conhecimento e, em geral são servidores readaptados que constantemente têm seus trabalhos interrompidos devido à rotatividade dos colegas” (SANTOS, 2018, p. 42) e, a todo momento, têm de substituir seus colegas, dando aula com respaldo da gestora escolar. Para ter uma melhor compreensão sobre o funcionamento da sala de leitura modelo de São Paulo, sugere-se que você assista ao vídeo Sala de Leitura, publicado pela rede estadual de ensino de São Paulo, produzido para a Bienal do Livro 2010. Disponível no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=dMDcSfNxZQU. De um modo geral, as bibliotecas escolares e salas de leitura são acomodadas em espaços existentes na escola, ou seja, são espaços adaptados. Com isso, na maioria das vezes, são destinados espaços pequenos e não muito estratégicos. Daí, surgem difi culdades para atender às necessidades de uma biblioteca escolar e de uma sala de leitura que deseja entregar serviços e produtos de boa qualidade. Nesse sentido, torna-se importante que a comunidade escolar conceba como importantes esses recursos pedagógicos, uma vez que eles objetivam garantir o direito de aprendizagem aos estudantes e de ensinar, pesquisar, divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber aos professores e à comunidade escolar, conforme estabelece um dos princípios do ensino assegurado no inciso II do artigo 3º da Lei n. 9.394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), “II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber”. Com isso, talvez seja possível criar soluções mais viáveis para essas difi culdades. 77 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 No conjunto da organização da biblioteca escolar e da sala de leitura, cabe discutir, ainda, a questão do layout, pois ele é de extrema relevância para estruturar bem o espaço e permitir o melhor aproveitamento tanto do ponto de vista da disposição do mobiliário e do acervo quanto dos serviços e produtos oferecidos à comunidade escolar, especialmente à formação dos estudantes. De acordo com Pimentel, Bernardes e Santana, (2007, p. 28), o layout é a maneira de distribuir melhor os elementos no espaço físico da biblioteca e da sala de leitura para torná-las o mais agradável possível, incluindo a qualidade de elementos como: iluminação, temperatura, acústica e cores. Além disso, “a organização adequada para comportar o mobiliário, o acervo, o espaço para leitura, estudo e pesquisa individual e em grupo entre outros espaços, possibilitando bem estar aos usuários nesses espaços” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 28). Para Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 28) a bibliotecaescolar e a sala de leitura deveriam ser “abrigadas em um prédio próprio, projetado para esse fi m, em local de pouco barulho e de fácil acesso às pessoas”. Entretanto, como na maioria das vezes a comunidade escolar tem de adaptar os ambientes, eles sugerem algumas dicas importantes para organizar melhor esses ambientes, conforme o Quadro 1 a seguir: QUADRO 1 – DICAS PARA GESTÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA Para saber a quantidade de livros a ser colocada em determinado espaço, pode-se usar um cálculo padrão que diz que 1 m2 pode comportar até cinquenta volumes. Assim, se você possui duzentos volumes, esses podem ser disponibilizados em uma área mínima de 4 m2. As paredes devem ter uma cor clara para refl etir a luz e aumentar o grau de visibilidade. As janelas devem permitir a entrada de luz natural, de modo que possibilite um ambiente claro que favoreça a leitura; garantindo, assim, a preservação e a conservação do acervo. Os livros devem fi car em local arejado e com pouca incidência de raios solares. O piso deve ser de material resistente e de fácil conservação sendo o mais usado o de material em vinílico. Há ainda pisos de madeira e os frios (cerâmica, pedra e metal). O piso em material carpete não é recomendado, pois, além da difi culdade de limpeza e pouca durabilidade, são propícios ao acúmulo de microorganismos e pregas. A iluminação artifi cial faz-se necessária para permitir o perfeito funcionamento no horário noturno. Lâmpadas de Diodo Emissor de Luz - LED são as mais indicadas não só pela economia, mas porque têm baixo poder de aquecimento e causam menos danos ao acervo. Para facilitar o controle e a circulação dos usuários, a biblioteca deve ter somente uma entrada destinada a ele. Não podemos nos esquecer de incluir acessos para as pessoas com maior idade e aquelas com necessidades especiais. FONTE: Adaptado de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 29). 78 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura O mobiliário deve levar em consideração o espaço físico (tamanho) e as atividades que serão desenvolvidas, ou seja, acervo e equipamentos destinados à biblioteca e à sala de leitura. Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 30) sugerem que os móveis devem ser de madeira ou aço. Os de aço são mais resistentes e oferecem maior segurança na armazenagem dos livros e evitam a retenção da umidade. Os de madeira são de baixo custo e devem ser reforçados para suportar o peso dos livros. Além disso devem receber tratamento contra a infestação de insetos (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 30). Em relação às mesas, é interessante equipar a biblioteca e a sala de leitura com mesas dos dois tipos. Algumas grandes, para estudos e reuniões em grupos, e outras menores, para o estudo individual. Elas devem estar de preferência distantes umas das outras, pois quando estamos em grupo a nossa tendência é falar mais alto. Se esses espaços atenderem, também, crianças pequenas, o mobiliário deve ser colorido, alegre e apropriado às condições físicas desses(as) pequenos(as) (tamanho, anatomia das mesas e cadeiras), possibilitando o seu bem- estar e encantamento, conquistando desde já o usuário desse espaço (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 30). FIGURA 8 – BIBLIOTECA ESCOLAR X LAYOUT DO ESPAÇO FONTE: <https://www.seduc.pi.gov.br/noticia/Comunidade-Escolar- da-21-Gerencia- Regional-de-Educacao-sai-em-busca-do-ouro- na-OBMEP-2013/5275/>. Acesso em: 20 abr. 2020. No tocante à sinalização da biblioteca e sala de leitura, a primeira informação deve começar por sua sinalização no prédio da escola para todos os usuários, incluindo a sinalização braile, para incluir os cegos e defi cientes visuais. 79 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 Entretanto, essa sinalização pode ser externa e interna. A sinalização externa pode indicar a biblioteca ou a sala de leitura, mas pode comunicar também a importância desses espaços para a comunidade escolar e seus visitantes. Já a sinalização interna deve estar na recepção da escola onde está localizada a biblioteca ou a sala de leitura. Essa informação pode comunicar aos estudantes e às famílias que a escola se preocupa com a aprendizagem e a formação cultural dos estudantes. Essa comunicação pode “conter informações sobre os serviços oferecidos pela biblioteca, como: empréstimo de livros, reforço escolar, hora do conto, palestras, discussão de fi lmes e vídeos, horário de funcionamento, normas de uso, documentos necessários para inscrição ou cadastro etc.” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 31). É de fundamental importância que, dentro da biblioteca ou da sala de leitura, haja informações para comunicar e orientar à comunidade escolar sobre o uso desses espaços, como, por exemplo, o acesso ao acervo (por autores ou assuntos), os catálogos dos livros e de outros materiais, bem como a indicação das estantes, o espaço onde o grupo pode se reunir ou estudar juntos ou individualmente por meio das relações (por autores e assuntos), dos catálogos dos livros e de outros materiais. Além disso, deve-se disponibilizar murais interativos ou com informações sobre as atividades e eventos que esses espaços vão promover ou, ainda, informações sobre os livros e aqueles mais lidos, mais procurados ou outras informações que sejam relevantes para os usuários. Enfi m, não se deve descuidar das sinalizações internas ou externas para dinamizar a biblioteca escolar ou sala de leitura. O horário de funcionamento da biblioteca escolar e sala de leitura Sabemos que é de extrema importância a biblioteca escolar e a sala de leitura atenderem à comunidade escolar durante o funcionamento em todos os turnos que ocorrem as aulas. Para que esses espaços estejam em funcionamento em período integral e durante todo ano letivo, faz-se necessário promover a aprendizagem ativa e oferecer atividades atrativas aos estudantes. Se a gestão e a equipe docente tiverem condições de ampliar o funcionamento desses espaços, pode-se optar por colocar em funcionamento da biblioteca escolar no horário de almoço, nos fi nais de semana e no período de recesso e férias escolares para receber, além dos estudantes da escola, os moradores da comunidade como uma forma de estudo ou de lazer: 80 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 9 – HORÁRIO E ATIVIDADES DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA FONTE: A autora. A composição dos acervos, formação, armazenamento e seleção O acervo da biblioteca escolar e da sala de leitura pode ser como qualquer outro tipo de biblioteca, ou seja, ser formado por livros, enciclopédias, periódicos, revistas, jornais, e-books, vídeos, fi lmes, CDs, DVDs e outros materiais impressos e digitais. Esses materiais são classifi cados geralmente como coleções ou item. Apesar dos materiais tecnológicos e digitais, o livro impresso é o item em maior número nesses espaços. FIGURA 10 – FUNCIONAMENTO DA BIBLIOTECA, COMPOSIÇÃO E ARMAZENAMENTO DO ACERVO FONTE: <http://blog.crb6.org.br/artigos-materias-e-entrevistas/bibliotecas- dao-lugar-a-salas-de-leitura/>. Acesso em: 12 maio 2020. Outro aspecto importante para a formação do acervo desses ambientes diz respeito à escolha dos itens que irão compor suas coleções. Para isso, é preciso defi nir, ainda, os critérios que serão utilizados para selecionar os itens e gêneros das coleções e como serão armazenados e mantidos esses acervos. 81 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 Para Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 33), a organização dos acervos de uma biblioteca escolar e de uma sala de leitura “envolve o trabalho constante de inclusão e exclusão de itens, atividades que favorecem a atualização do acervo com relaçãoaos anseios dos usuários, que podem variar de acordo com o surgimento ou o desuso de suas necessidades de informação”. Portanto, é necessário que o profi ssional responsável pela biblioteca e pela sala de leitura esteja atento para manter um acervo atualizado e atenda às necessidades da comunidade escolar. Assim, o armazenamento está vinculado às funções desses espaços. Contudo, o armazenamento tem de levar em consideração o tamanho do espaço, o layout, o acervo e os usuários a serem atendidos. Em relação à seleção dos itens para compor o acervo da biblioteca escolar e da sala de leitura, alguns requisitos entram em cena, pois dependem da capacidade fi nanceira da escola, do número de títulos que recebem dos programas nacionais de distribuição de livro e das doações recebidas. Entretanto, a seleção deve estabelecer como critério para a seleção os objetivos da gestão e da equipe docente, pois nem sempre todos os itens recebidos de doações combinam com os objetivos desses espaços. Geralmente, o maior número de títulos recebidos nas doações é de livros didáticos. Nesse caso, se o objetivo é estimular à leitura e incentivar a aprendizagem dos estudantes com espaços atrativos, não serão aproveitados todos os títulos recebidos. Geralmente, a seleção dos títulos é fundamentada em estudos e indicações por especialistas, como indicações em eventos acadêmicos que estão relacionados aos objetivos da biblioteca escolar e sala de leitura, pois não adianta selecionar títulos de áreas que não dialogam com os usuários ou ter um número elevado de um título ocupando espaços de outros livros. Nesse sentido, o planejamento desse item com toda a equipe escolar é fundamental para traçar os critérios de seleção do acervo. A pessoa que fi ca a cargo da seleção se guiará por meio dos critérios de seleção elaborados por toda a equipe docente e estudantes. Em síntese, para escolher o acervo, é preciso saber os objetivos e necessidades da sala de leitura e da biblioteca escolar naquela comunidade escolar, incluindo o que precisam e podem adquirir por meio de compras, o que recebem por meio de doação ou até por meio de trocas dos títulos entre os usuários e pessoas da comunidade. A aquisição do acervo, desbaste e o descarte A aquisição do acervo, o desbaste e o descarte são elementos essenciais para a composição da biblioteca escolar e da sala de leitura. A aquisição do acervo é essencial e envolve atividades de compra, guarda e compartilhamento de doação e permuta de livros, entre outros materiais. Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 34) afi rmam que a “[...] preocupação com o processo de 82 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura aquisição é extremamente necessária, pois ela pode contribuir com a formação de um acervo com qualidade ou não.” Se uma dessas atividades de aquisição não for bem planejada, a formação do acervo pode ser prejudicada. Vale a pena lembrar que nem sempre a escola recebe recursos fi nanceiros para comprar todos os títulos interessantes para compor o acervo da biblioteca escolar e complementar o da sala de leitura com títulos que atraem os estudantes e a equipe docente. Nesse sentido, pontuamos que a equipe escolar pode pensar em estratégias colaborativas para compor o acervo, como, por exemplo, promover uma boa campanha de arrecadação de livros, uma feira de trocas de livros com a comunidade escolar e outros participantes e, ainda, uma rodada de trocas entre bibliotecas escolares do bairro e da cidade. Tais estratégias podem contribuir para a construção de um excelente acervo para esses ambientes. Diferentemente da aquisição, na biblioteca escolar e na sala de leitura faz-se necessário também o desbaste e o descarte. Enfi m, por que fazer desbaste? O que é desbaste? Por que fazer o descarte quando os recursos para compor o acervo são escassos? Bem, o desbaste é a substituição temporária de alguns itens da coleção das estantes ou “vitrines” da biblioteca ou da sala de leitura. Isto é, em determinada época, por diversas razões, alguns livros que não estão sendo usados ou emprestados com frequência podem ser guardados em um depósito ou outro lugar e ter outros expostos para chamar a atenção dos nossos usuários, por exemplo, os professores desenvolvem todo ano, no mês de agosto, o trabalho sobre folclore. Então, é importante que nesse mês o acervo sobre folclore esteja mais evidente nesses espaços para colaborar com a pesquisa dos estudantes e professores. “Quando chegar ao término do mês de agosto, os livros acerca do folclore poderão ser desbastados e ser substituídos por outros e assim por diante” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 35) Já o descarte ou a seleção negativa é a retirada defi nitiva de alguns títulos do acervo da biblioteca escolar e da sala de leitura, os quais estejam repetidos (muitos exemplares), livros comprovadamente sem uso (verifi cados pelas estatísticas de empréstimo), títulos desatualizados ou danifi cados, cuja restauração seja impossibilitada, pois não permite a manipulação da obra. Sendo assim, é importante que seja realizado o descarte com critérios para eliminar livros que não estão servindo para manter o nível de qualidade desses ambientes com o objetivo de atender aos usuários. Acervo, coleções de livros de referências Em relação à composição do acervo, torna-se importante discutir os títulos ou coleções, como livros de referências e materiais que guardam uma memória externa, por exemplo: catálogos, bases de dados, hemeroteca, entre outros materiais. Portanto, a organização efi ciente do acervo da biblioteca escolar e da 83 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 sala de leitura pede uma organização baseada no armazenamento e no arranjo das coleções, além de um importante processamento técnico para receber o material que retorna dos empréstimos e devoluções. O que coleciona a hemeroteca? Quais os tipos dos materiais encontrados na hemeroteca: impressos ou digitais? Você já ouviu falar ou utilizou o material da hemeroteca alguma vez? Como já foi dito, nos dias de hoje, o acervo de uma biblioteca ou de uma sala de leitura não possui somente livros. Geralmente, ele é constituído por diversos tipos de coleções, as quais variam de acordo com as especifi cidades das bibliotecas e das salas de leitura. Diante disso, o acervo de uma biblioteca especializada é diferente do acervo de uma biblioteca escolar. No entanto, toda e qualquer biblioteca tende a ter um mesmo conjunto básico de coleções, como as mencionadas a seguir: QUADRO 2 – COLEÇÕES E LIVROS DE REFERÊNCIA Coleção Especifi cidades Coleções de livros de referências Conjunto de livros de consulta. Indicam onde encontrar o assunto procurado de uma forma mais detalhada, por exemplo, dicionário, enciclopédias, atlas, índices. Coleção de livros textos Conjunto de livros que compõem o acervo geral: literatura, didáticos e informativos etc. Coleção de periódicos Conjunto de revistas, jornais ou outro tipo de material que circule em períodos regulares (diário, mensal, anual) ou outro período com informações atualizadas. Coleção de materiais não bibliográfi cos ou multimeios Conjunto de materiais que estão em uma forma diferente de livros, vídeos, fi lmes, CD, DVD, fotografi as, slides, materiais digitais, jogos etc. Hemeroteca Conjunto de recortes de jornais que informam sobre diversos assuntos e temas atuais no suporte impresso ou digitais. FONTE: Adaptado de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 40-41). 84 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 11 – MATERIAIS ENCONTRADOS NA HEMEROTECA FONTE: <http://caipirissimagxp.blogspot.com/2017/05/guaranesia-ganha- hemeroteca-digital.html>. Acesso em: 12 maio 2020. Como foi possível observar, a Figura 11 traz a ilustração de uma hemeroteca digital, com recortes de jornais e diversasmatérias jornalísticas antigas para contribuir com a formação cultural dos estudantes e dos professores que participaram desde sempre em eventos dessa natureza. Sugerimos utilizar a hemeroteca digital como projeto pedagógico a ser realizados com e pelos estudantes e professores nas escolas, inclusive de forma interdisciplinar, com várias áreas do conhecimento, e, depois, criar um momento no calendário da biblioteca escolar ou sala de leitura para apresentá-los e trocar experiências entre outras turmas. Quem são os profi ssionais responsáveis pela biblioteca escolar e sala de leitura? Em relação aos profi ssionais responsáveis pela biblioteca escolar e pela sala de leitura, observamos que o nosso país apresenta, ainda, um descompasso. As redes de ensino, em especial as públicas, não possuem em seus quadros a quantidade de bibliotecários necessários para alocar em cada uma das bibliotecas esse profi ssional. Hoje, as redes (federal, estadual ou municipal) não dispõem de bibliotecários sufi cientes para atender a cada escola, apesar de a legislação enfatizar a ocupação das bibliotecas escolares por profi ssionais bibliotecários (Lei n. 12.244/2010 e Resolução do Conselho Federal de Biblioteconomia - CFB 199/2018). Os profi ssionais que atuam nas salas de leitura são indicados pelo programa que os professores, sendo que tal indicação foi prevista desde a criação desse espaço pelo Programa Nacional Sala de Leitura (PNSL). Acreditamos que a comunidade escolar busca dinamizar ativamente esse espaço diariamente em todos os turnos. Entretanto, sabemos que, com a dinâmica exigida na biblioteca e sala de leitura, apenas um bibliotecário na escola não tem condições de atender a contento a todas as orientações do programa. Portanto, com isso, é preciso que 85 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 a comunidade fi que atenta que, em escolas maiores, com três turnos, apenas um bibliotecário não é sufi ciente para realizar o trabalho com a qualidade exigida. É preciso refl etir que, além das autoridades educacionais não conseguirem cumprir a legislação até o presente momento em relação aos profi ssionais bibliotecários, há outra difi culdade nesse campo que diz respeito à condição dos profi ssionais que atuam hoje nas bibliotecas escolares, pois são professores readaptados funcionalmente que, na maioria dos casos, não possuem formação específi ca de bibliotecário escolar e têm de desenvolver tarefas de um bibliotecário apenas com sua experiência pessoal e profi ssional de professor. Limas (2015, p. 106) aponta, em seu estudo intitulado Redes de bibliotecas escolares no Brasil: estudo exploratório, que a inserção dos professores readaptados funcionalmente nas bibliotecas escolares é adotada por muitas redes de ensino públicas e privadas. Por outro lado, essa prática criou, na maioria dos casos, uma imagem negativa historicamente para esses professores, os quais foram bons profi ssionais em seu ofício e não conseguem manter o padrão de qualidade nesse novo posto, uma vez que não receberam formação profi ssional para desempenhá-lo, como pode ser verifi cado nos depoimentos de duas participantes da pesquisa de escolas diferentes ao serem questionadas: como concebem professores readaptados? Pesquisadora: Como você vê os professores readaptados na biblioteca? Bem, vejo que se trata de professores que, por razões de saúde, foram afastados das salas de aula e passaram a atuar na biblioteca para continuar seu trabalho. Eles fazem de tudo, atividades feitas pelos auxiliares de biblioteca, pelo bibliotecário. Em todos os casos, em maior ou menor número, existe essa situação em todos os lugares que eu sei. Em escolas estaduais e municipais. Às vezes, a crítica vem pelo fato de alguns professores em readaptação funcional nas bibliotecas não fazerem muito bem as atividades. Isso espalha uma imagem negativa para eles durante muito tempo (Selma Chaves, auxiliar de biblioteca, 31 anos). [...] Eu falei do professor em readaptação funcional que a gente tem difi culdades em alguns casos em função do laudo dele. Mas a gente tem difi culdades também com auxiliares e com professores. Porque há uma tendência a achar, do senso comum. Não e só aqui. Isso na própria universidade, eu já ouvi. Quando a gente está em discussões na sala de aula. “Ah, porque biblioteca escolar... joga o professor lá que ...readaptado, não é e tal”. A gente tem professor que trabalha muito bem. A gente tem professor que não trabalha tão bem. A gente tem auxiliar de biblioteca que não trabalha bem. A gente tem bibliotecário que trabalha muito bem. E a gente tem bibliotecário que não trabalha bem. Então assim... é só pra desmistifi car isso de que professor em readaptação profi ssional na biblioteca é sempre 86 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura um estorvo. E em alguns casos nessa rede. Vou falar que é onde a gente está, se não são eles o trabalho não vai. Eu queria ter falado isso, deixar isso registrado (Carolina Teixeira de Paula, auxiliar de biblioteca, 27 anos) (LIMAS, 2015, p. 97). Analisando os resultados do estudo exploratório de Limas (2015) e os depoimentos das auxiliares de bibliotecas, observamos que a primeira participante confi rma a imagem negativa criada do professor readaptado funcionalmente em nosso país. Entretanto, a auxiliar de biblioteca relativiza esse discurso, argumentando que não é a readaptação funcional que deve imprimir a condição negativa aos professores que são encaminhados à biblioteca escolar, pois há outros profi ssionais que não são readaptados e não trabalham bem, como, por exemplo, auxiliares de bibliotecário, bibliotecários e professores readaptados e, conforme disse Carolina Teixeira de Paula “só prá desmitifi car isso de que profi ssional em readaptação profi ssional na biblioteca é sempre um estorvo” e ainda “se não são eles o trabalho não vai” (LIMAS, 2015, p. 6). Nesse caso, os professores readaptados que estão e chegarão à biblioteca deverão ser acolhidos para que possam dar o melhor de si com a experiência pessoal e profi ssional e, ao mesmo tempo, cobrar das autoridades educacionais cursos de formação continuada para que esses professores desenvolvam o seu trabalho com qualidade. Solicitamos que leia o artigo Biblioteca escolar: (re)organização e fomento à leitura, publicado por Edson Luiz Rezende Junior. Faça suas anotações e, em seguida, apresente um texto que discuta as ideias mais relevantes apresentadas pelo autor sobre a organização da escola selecionada. Recomendamos ao estudante que articule as informações do artigo com as que discutimos neste capítulo. FONTE: JUNIOR, E. L. R. Biblioteca Escolar: (Re)organização e Fomento à Leitura. Revista Ininga, v. 2, n. 1, 2015. Disponível em: https://revistas. ufpi.br/index.php/ininga/article/view/5931. Acesso em: 19 abr. 2020. _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ ______________________________________________________ 87 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 2.2 DIÁLOGO ACERCA DAS SUGESTÕES DE PRÁTICAS E PROJETOS PEDAGÓGICOS PARA APOIAR A GESTÃO DA BIBLIOTECA ESCOLA E DA SALA DE LEITURA Nesta seção, apresentamos algumas sugestões de práticas e projetos pedagógicos como recursos de apoio ao processo de ensinar e de aprender para estudantes e a comunidade escolar da educação básica realizados por diferentes atorespara construir os seguintes objetivos de aprendizagem: apresentar e discutir práticas e projetos pedagógicos desenvolvidos em bibliotecas escolares e salas de leitura no país para qualifi car ainda mais o processo de ensino e aprendizagem e a atuação profi ssional da comunidade escolar nesses contextos escolares. Os projetos e as práticas pedagógicas apresentadas aqui foram recolhidas por meio de um levantamento de trabalhos desenvolvidos em bibliotecas escolares, salas de leitura e escolas de educação básica com o objetivo de dinamizar esses espaços disponíveis no banco de dados do SciELO – Scientifi c Electronic Library, pois acreditamos que é interessante profi ssionais da comunidade escolar conhecerem experiências aplicadas. Para capturar os projetos e práticas pedagógicas, utilizamos como descritores as seguintes palavras-chave: (i) Projetos pedagógicos na biblioteca escolar. (ii) Projetos pedagógicos na sala de leitura das escolas básicas. (iii) Projetos pedagógicos na biblioteca escolar e sala de leitura. (iv) Prática pedagógica na biblioteca escolar e sala de leitura. Nesta seção, o termo “prática pedagógica” pode ser compreendido como uma ação que começa desde que: [...] o planejamento e a sistematização da dinâmica dos processos de aprendizagem até a caminhada no meio de processos que ocorrem para além da aprendizagem, de forma a garantir o ensino de conteúdos e atividades que são considerados fundamentais para a formação do estudante (FRANCO, 2016, p. 547). Nesse sentido, o professor no exercício de seu ofício buscará “recolher as aprendizagens de outras fontes, de outros mundos, de outras lógicas, para 88 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura incorporá-las em seu processo de ensino” (FRANCO, 2016, p. 547) com vistas a ampliar aquilo que os estudantes já sabem de forma crítica. Já a expressão “projeto pedagógico” pode ser defi nida, de acordo com Almeida (2002, p. 58), como uma prática que “[...] rompe com as fronteiras disciplinares, tornando-as permeáveis na ação de articular diferentes áreas de conhecimento, mobilizadas na investigação de problemáticas e situações da realidade”. Enfi m, podemos compreender como uma prática mais dinâmica e contextualizada, proporcionando situações de aprendizagem em que os estudantes podem aprender fazendo, pesquisando, experimentando, refl etindo, construindo e intervindo, a partir de conhecimentos diversifi cados, contextualizados, situações de aprendizagem reais e signifi cativas, entre outras possibilidades. Privilegiamos, aqui, projetos e práticas pedagógicas realizadas em escolas da educação básica, em uma feira livre, e uma prática que ocorre no lar de diversas regiões brasileiras, bem como aqueles que concorreram a concursos de premiação, como, por exemplo, o Prêmio VivaLeitura, considerando que esses eventos têm uma comissão julgadora que os analisam e emitem um parecer avaliativo sobre a proposta de trabalho. A título de ilustração, o Prêmio VivaLeitura é uma iniciativa dos Ministérios da Cultura, da Educação e da Organização dos Estados Ibero-americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI). A seguir, explicitamos, na Figura 12, os títulos dos projetos e práticas pedagógicas que compuseram a nossa análise: FIGURA 12 – PROJETOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ANALISADAS PROJETOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICOS PROJETO 1: ROEDORES DE LIVROS PRÁTICA 1: LEITURA, MARCO DE PROJETO PEDAGÓGICO DE ESCOLA DO RIO PROJETO 2: LITERATURA NAS RUAS PRÁTICA 2: ESCOLA GAÚCHA INCENTIVA ALUNOS A APRECIAR OBRAS DE LITERATURA PROJETO 3: BIBLIOTECÁRIA LEVA AMOR PELOS LIVROS A MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA PRÁTICA 3:GÊMEAS DE 7 ANOS CRIAM CANAL PARA DIVULGAR SEUS VÍDEOS COM DICAS SOBRE LIVROS INFANTIS PROJETO 4: CELULAR É FERRAMENTA DE LEITURA E DE APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA PRÁTICA 4: ATIVIDADES ATRAEM ESTUDANTES À BIBLIOTECA EM ESCOLA PARAIBANA PROJETO 5: ESCOLA DE PERNAMBUCO INVESTE EM LEITURA E CRESCE EM AVALIAÇÃO FONTE: A autora. 89 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 Em seguida, apresentamos a síntese de cada um dos projetos e práticas pedagógicas analisadas para que você possa compreender a proposta de trabalhos dos professores e bibliotecário, crianças e família. FIGURA 13 - PROJETO 1: ROEDORES DE LIVROS FONTE: <http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/40271- roedores-de-livros>. Acesso em: 12 maio 2020. O Projeto Roedores de Livros teve seu nome inspirado na expressão “rato de biblioteca”, que geralmente é usada para identifi car pessoas que gostam de ler e que gostam de estar cercadas de várias obras impressas. Esse projeto foi criado em 2006, em uma biblioteca de Brasília, no Distrito Federal, por um grupo de professores voluntários e verdadeiros “ratos de biblioteca”. De acordo com uma das integrantes do Projeto, a professora Ana Paula Bernardes, a iniciativa deu certo e, ano a ano, o projeto só cresce. Hoje, o projeto tem como objetivo ler, contar e encantar com histórias no Shopping Popular de Ceilândia, ou melhor, na feira popular da maior região administrativa do Distrito Federal (cerca de 490 mil habitantes). Todos as manhãs de sábados, comparecem a esse shopping mais de 30 crianças, entre 4 e 14 anos de idade. Como é realizado em uma feira, a maioria das crianças participantes são fi lhos e fi lhas dos próprios feirantes ou de pessoas que sempre vão à feira fazer compras ou passear no local, os quais conhecem o projeto e passam a participar com frequência. Essas crianças são, também, estudantes das escolas públicas da região. Elas vão à biblioteca (na feira), espaço cedido ao Grupo dos Roedores e lá ouvem histórias, participam de ofi cinas de artes e de outras atividades e, quando querem, podem também emprestar livros e levar os exemplares para ler em casa. A iniciativa voluntária tem como objetivo atrair outros “roedores” interessados em aprender a ler cada dia melhor e a se divertir com a mágica dos livros literários. De acordo com a professora Bernardes, a proposta é acolher a todos. “A gente deixa todos juntos. Temos todas as idades no projeto. O grande presente é convidar a criança para ler junto, para se divertir e fazer uma coisa mais aconchegante” (MEC, 2016a, s.p.). 90 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Para essa professora, a leitura tem de ser um ato de carinho, de amor, de estar junto. “E a criança vai levar esse ‘estar junto’ para sempre. E vai sempre associar o livro a uma coisa muito boa. E é isso que aproxima a criança do livro” (MEC, 2016a, s.p.). Para ampliar o projeto, os voluntários vão até as escolas públicas, apresentam o projeto e desenvolvem atividades. No entanto, as atividades não fi cam limitadas ao espaço da biblioteca do shopping e tampouco aos pequenos estudantes. Segundo Bernardes, “neste ano (2018), promovemos um grande encontro, o qual chamamos de Encontro com Escritores. Nele, visitamos dez regionais administrativas, levando um escritor e divulgamos, também, o nosso projeto” (MEC, 2016a, s.p.). Para a professora Bernardes, os encontros foram realizados com intenção de incentivar não só os jovens a ler, mas os professores procurarem a biblioteca, que tem um grande acervo. Hoje, o acervo da biblioteca dos Roedores é bom. No entanto, fazemos campanhas de doação para recebermos e sempre são bem-vindas. “Encaminhamos todos os livros que recebemos nas doações a outras instituições de Brasília que estejam organizando pequenas bibliotecas ou salas de leitura” (MEC, 2016a, s.p.), diz a professora Bernardes. Além disso, “oferecemos, ainda, apoio a pequenos projetos e a organizações não governamentais que estão preocupadas com a formação de leitores” (MEC, 2016a, s.p.). O trabalho tem despertado muitos leitores, o que é bem importante. FIGURA 14 – PROJETO 2: LITERATURA NAS RUAS FONTE: <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/21090-alunos-vao-as-ruas-de-uberaba-como-multiplicadores-de-leitura>. Acesso em: 20 abr. 2020. O projeto Literatura nas Ruas foi criado em 2012, pelo professor Diovane de César Resende Ribeiro, no Centro Municipal de Educação Infantil Maria Eduarda Farnezi Caetano, no município mineiro de Uberaba, com o objetivo de despertar o interesse das crianças da educação infantil pela literatura e torná-las multiplicadoras de leitura. Com isso, parte das atividades do projeto ocorrem nas ruas e os resultados superaram as expectativas em termo de aceitação das crianças e adesão das famílias. 91 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 Segundo Diovane, o projeto surgiu da necessidade pessoal de não só comprovar a importância da arte na educação infantil, como também estimular o gosto das crianças pela literatura. Tão logo começou a trabalhar, em 2012, procurou sensibilizar crianças e suas famílias em uma biblioteca comunitária para conhecer e apreciar diferentes linguagens artísticas. As ações desenvolvidas na biblioteca “ganharam destaque, então decidimos estruturar e desenvolver esse projeto” (MEC, 2015a, s.p.). O professor revela que as crianças tiveram oportunidade de assistir à apresentação da companhia de teatro integrada por adolescentes, a Cia. Rogê, com a adaptação do livro A Caixa Preta, do escritor Tiago de Melo Andrade, durante a 3ª Festa Literária de Uberaba (FLU). Como as crianças manifestaram o interesse pela atividade, ele selecionou algumas poesias para serem distribuídas aos moradores da comunidade em que a escola estava situada. Percebeu, então, que era possível ir além e ampliar a distribuição dessas poesias em outros lugares. Nesse ínterim conseguiu selar a parceria com a Biblioteca Comunitária Ler é Preciso, cujo responsável o Professor Antônio Bernardes Neto, que já coletava e doava obras literárias, repassou ao Professor Diovane vários exemplares de obras literárias. Após o trabalhar com a leitura dessas obras recebidas com as crianças, elas tiveram como tarefa confeccionar marcadores de livros para distribuir junto com as obras na praça central de Uberaba aos moradores de rua. Essas ações foram bem avaliadas por todos participantes, então: [...] resolvemos ampliá-las e agregar um projeto de poesia. Nele, as crianças ouviram, leram e declamaram muitos poemas. Em seu encerramento, realizamos um sarau com contos e poesias, fazendo uma homenagem ao Poetinha, em comemoração ao centenário de nascimento do poeta, escritor e compositor Vinícius de Moraes [1913-1980]. Essa atividade envolveu as famílias, as quais muito dedicadas a ajudar seus fi lhos, em casa, nos ensaios com as declamações (MEC, 2015a, s.p.). Durante essas atividades, percebi que as crianças queriam ler cada vez mais. “Alguns, assim que terminavam as atividades, logo escolhiam outro livro do Cantinho de Leitura para folheá-los e lê-lo enquanto os colegas estavam concluindo suas tarefas” (MEC, 2015a, s.p.). Esse professor conta com formação superior em Pedagogia e, no ensino médio, no curso de magistério. Entretanto, desde quando cursava o magistério, atuava na área da educação como voluntário na biblioteca da escola onde cursou o ensino fundamental. O Projeto Literatura nas Ruas foi um dos fi nalistas da sétima edição do Prêmio VivaLeitura, na categoria 2, destinada a escolas públicas 92 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura e particulares. Segundo MEC (2015a, s.p.): “Após essa experiência, saio com a força revigorada e mais crente de que tudo é possível. Basta acreditar”, diz o Professor Diovane. FIGURA 15 – PROJETO 3: BIBLIOTECÁRIA LEVA AMOR PELOS LIVROS A MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA FONTE: <http://portal.mec.gov.br/busca-geral/222-noticias/537011943/37921- bibliotecaria-leva-amor-pelos-livros-a-moradores-de-rua>. Acesso em: 20 abr. 2020. Há 34 anos, o amor pelas pessoas e livros ocupa os dias da bibliotecária Terezinha Maria de Jesus da Conceição Lima, a Teca Lima, de Belém, nesse projeto de leitura. Ela acredita que a leitura oferece às pessoas a possibilidade de adquirir conhecimento, crescer, viajar, relaxar e amenizar o sofrimento. Para a bibliotecária Terezinha Lima, “a leitura é um momento de prazer” (MEC, 2016b, s.p.). Por isso, a Terezinha Lima tem se preocupado em levar os livros até aqueles que estão mais distantes e isolados, como detentos e quilombolas. “Tudo dá certo, quando gostamos de pessoas”, diz a bibliotecária. Terezinha Lima é funcionária da biblioteca estadual do Pará, mas estava cedida à Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha, no Distrito de Icoaraci, Pará. E foi ali que ela desenvolveu o projeto com moradores em situação de rua com objetivo de tornar visíveis os invisíveis. Um instigante desafi o, mas também um dos ganhadores da oitava edição do Prêmio VivaLeitura, iniciativa dos ministérios da Cultura e da Educação. Na premiação recebida em maio de 2018, esse projeto foi o vencedor da categoria 1, Biblioteca Viva. Terezinha Lima criou esse projeto em 2014, a partir da observação da parcela da sociedade que inclui pedintes, guardadores de carros e artesãos. O trabalho, realizado em parceria com o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), contribuiu para a integração e o reconhecimento da comunidade em relação aos moradores em situação de rua. Segundo a bibliotecária, os participantes gostam de frequentar o espaço da biblioteca, onde não só têm oportunidade de ler e pegar livros emprestados, como 93 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 de usar o computador e participar dos variados projetos culturais lá desenvolvidos. Um deles é o Boi Literário Paraense, promovido pela biblioteca há mais de 30 anos, que realiza a festa em 24 de junho, com brincadeiras típicas juninas. Nele, os homens participam de ofi cinas de musicalidade e as mulheres se dedicam à personalização de indumentárias e bordados. Outra importante atividade promovida pela biblioteca é o Jardim Poético, realizado sempre no mês de abril. Um dia inteiro é dedicado a atrações de bandas e corais, além de exposição dos objetos de artesanato feitos pelos próprios moradores de rua. A biblioteca apoia, também, projetos desenvolvidos pelo Centro Pop, como o Auto de Natal, a Paixão de Cristo e atividades culturais, como, por exemplo, o Cinema na Biblioteca, os quais contam sempre com a participação desses moradores em situação de rua. A bibliotecária tem especialização em organização de arquivos e em gestão pública. Ela acredita estar no lugar certo para trabalhar porque gosta de ler. “É uma bibliotecária dinâmica, atuante e inclui em todos os projetos a literatura como base para outras linguagens artísticas” (MEC, 2016b, s.p.) O Prêmio VivaLeitura foi o primeiro que Terezinha Lima obteve em sua carreira, mas ela se sente premiada sempre que empresta um livro, que um leitor consegue pesquisar sobre o assunto que precisa ou que os usuários da biblioteca são aprovados em concursos, entre outros pontos. Os livros foram adquiridos a partir das indicações de assuntos e títulos feitas pelos próprios moradores de rua. Localizado na mesma rua da biblioteca, a quatro quarteirões de distância, o Centro Pop conta com profi ssionais dedicados ao trabalho na abordagem e na triagem de moradores em situação de rua, emissão de documentos e realização de ofi cinas. FIGURA 16 – PROJETO 4: CELULAR É FERRAMENTA DE LEITURA E DE APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA FONTE: <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/21062-celular-e- ferramenta-de-leitura-e-de-aprendizagem-de-historia>. Acesso em: 20 abr. 2020. 94 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Rodolfo Alves Pereira, professor de história de escolas das redesestaduais de educação de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, criou um blog e um aplicativo para incentivar a leitura de textos históricos pelos estudantes do 9º ano do ensino fundamental. Ele garante que os estudantes ganharam habilidade na leitura, capacidade de articular ideias e argumentos de forma escrita e se tornaram mais refl exivos em função de mais tempo de estudo e de leitura de textos de qualidade. As inovações tecnológicas fazem parte do projeto O Celular como Ferramenta de Leitura e de Aprendizagem, iniciado no ano de 2011 com estudantes da Escola Estadual Luiz Salgado Lima, no município mineiro de Leopoldina. Até agosto do ano de 2010, os estudantes usavam o celular apenas como telefone celular. Então, o professor criou um aplicativo para facilitar o acesso dos estudantes aos textos e conteúdos por ele postados no seu blog. O aplicativo permite a postagem de textos de diversos gêneros, como: notícias, mapas e pinturas entre outros. “Todo tipo de documento que sirva como fonte histórica de leitura e pesquisa em nossas aulas” (MEC, 2016b, s.p.), ressalta o professor. Com novas formas de ler e estudar, as aulas se tornaram mais atrativas. Os estudantes passaram a ler mais e a registrar suas refl exões sobre os textos. Segundo MEC (2016b, s.p.): “Muitas dessas refl exões são postadas no blog e os estudantes se tornaram produtores do conhecimento, na medida em que se posicionam e têm seus trabalhos publicados”, explica o professor. Para ele, o projeto atende diretamente cerca de 90 estudantes, mas todos os professores e estudantes da escola podem baixar o aplicativo e usá-lo em sala de aula. De acordo com o professor Rodolfo, o blog tem apresentado resultados expressivos, quantitativa e qualitativamente. O trabalho foi intensifi cado no ano de 2016, a partir da proposta de manter o blog atualizado com postagens de qualidade, bem como de aumentar a participação dos estudantes nas atividades de manutenção. Conforme MEC (2016b, s.p.): “Vamos dar continuidade à metodologia aplicada, mesclando aulas com o uso das tecnologias da informação no ensino-aprendizagem”, o que ressalta o professor em questão. O projeto foi um dos fi nalistas da sétima edição do Prêmio VivaLeitura, na categoria 2, destinada a escolas públicas e particulares, o que deixou o professor orgulhoso. “Ficar entre os fi nalistas signifi ca um reconhecimento, a coroação de um ano de trabalho muito feliz e produtivo” (MEC, 2016b, s.p.). Ele revela que pretende dar prioridade ao desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais para formar leitores refl exivos e capazes de exercer a cidadania em uma sociedade democrática e plural. Assim, Rodolfo afi rma que: “Terei de fortalecer os planos de aula para que os estudantes tenham objetivos e metas claras e exequíveis” (MEC, 2016b, s.p.) 95 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 FIGURA 17 – PROJETO 5: ESCOLA DE PERNAMBUCO INVESTE EM LEITURA E CRESCE EM AVALIAÇÃO FONTE: <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/17282-escola-de- pernambuco-investe-em-leitura-e-cresce-em-avaliacao>. Acesso em: 20 abr. 2020. A escola rural do povoado de Lagoa da Cruz, no alto da serra do Sertão do Pajeú, no município de Quixaba, no estado de Pernambuco, investiu em leitura e elevou seus índices de aprovação. Esse povoado tem apenas três mil habitantes e é de difícil acesso. Seria uma localidade esquecida, se não fosse sua fama em relação ao ensino de qualidade oferecido pela Escola Tomé Francisco da Silva, que atrai estudantes das cidades vizinhas. A escola tem 800 alunos matriculados em turmas do primeiro ano do ensino fundamental ao fi nal do ensino médio e é destaque tanto no índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) quanto no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em 2009, a instituição conquistou o título de melhor escola pública de Pernambuco. No mesmo ano, obteve o segundo lugar no Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar, promovido pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed). Para se ter ideia da qualidade do ensino oferecido, a escola atingiu nota 6,5 no Ideb — a meta do Ministério da Educação era atingir, até o ano 2022, a média nacional de 6 pontos, que corresponde ao índice de países desenvolvidos. No Enem de 2010, a Escola Tomé Francisco obteve nota 585,33 e fi cou em primeiro lugar entre as escolas regulares de Pernambuco. Segundo o gestor da instituição: “Não tem receita pronta para o sucesso da gestão escolar, porque cada escola tem sua particularidade” (MEC, 2011, s.p.). No entanto, ele cita, entre os passos da empreitada, o trabalho coletivo dos educadores, que recebem formação continuada, a atenção aos projetos pedagógicos e o apoio das famílias. O incentivo à leitura permeia os projetos desenvolvidos durante todo o ano. O Projeto Prazer de Ler já existe há uma década e se volta para estudantes do primeiro ao nono ano. Sua proposta é motivar os estudantes a ler por meio de ofi cinas de contos, poesias e música. No fi m das atividades, eles apresentam peças teatrais para a comunidade escolar. Em 2010, 120 estudantes apresentaram a peça teatral A Menina que Odiava Livros na abertura dos Jogos Escolares 96 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Regionais, no município de Afogados da Ingazeira. Em 2011, foi encenada a peça A Bela Borboleta. Outro projeto de incentivo à leitura estimula a produção de textos para o blog da escola. O diretor da instituição afi rma que: “Conseguimos, assim, usar mais intensamente o laboratório de informática” (MEC, 2011, s.p.). Um dos próximos projetos da escola será desenvolvido na área de exatas. “No próximo ano, vamos trabalhar projetos com Matemática, Física e Química, sem abandonar aqueles que têm garantido bom desempenho dos estudantes em humanas”, adianta a coordenadora de projetos pedagógicos para os anos iniciais, Josilene Quitute diz que para atingir a meta de melhorar as notas dos estudantes nas disciplinas de exatas, a ideia é mudar a forma de ensinar cálculos de matemática feitos hoje apenas no quadro de giz. A coordenadora explica que: “Queremos chamar profi ssionais para explicar como se faz o cálculo de uma área na prática” (MEC, 2011, s.p.). Assim, é uma rica experiência em uma escola de um povoado rural de Pernambuco, com grande potencial para despertar nos jovens a responsabilidade e o desejo de se esforçarem para aprender, além de promover o aumento da autoestima. Então, é possível despertar jovens para aprender, já que, mesmo com todas as difi culdades e escassez de recursos, a escola tem conseguido avançar em relação à área de linguagem. FIGURA 18 – PRÁTICA 1: LEITURA, MARCO DE PROJETO PEDAGÓGICO DE ESCOLA DO RIO FONTE: <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/18254-escola-do- rio-tem-na-leitura-o-marco-de-projeto-pedagogico>. Acesso em: 20 abr. 2020. Inserir os estudantes no mundo da leitura é o marco do projeto político- pedagógico da Escola Municipal Portugal para 514 estudantes da educação infantil ao sexto ano do ensino fundamental. Todos os dias, os professores promovem o Momento da Leitura, quando leem para os alunos ou algum aluno lê 97 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 para os demais. As turmas também fazem momentos de leitura individual. Cada estudante pode escolher o livro. A instituição está localizada no bairro de São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro. Segundo o coordenador pedagógico, Alexandre Roque de Araújo, “a escola mantém livros à disposição em todas as salas de aulas” e “o acervo é atualizado periodicamente, com rodízio de obras entre as turmas ou trocas feitas diretamente na biblioteca” (MEC, 2012a, s.p.) A biblioteca, conhecida, também,como sala de leitura, conta com um professor regente que desenvolve projetos para estimular à leitura entre os estudantes. Além de participar de atividades dirigidas, as crianças podem escolher livros para ler em casa e partilhar com os familiares, semanalmente. Segundo Alexandre, uma prática que contribui para o desenvolvimento da habilidade de leitura e de escrita é o uso de um diário por alunos das turmas do quarto ao sexto ano. “Eles usam o diário para escrever livremente sobre o que quiserem e têm a liberdade de partilhar ou não os registros para a turma” (MEC, 2012a, s.p.). Há 12 anos no magistério, Alexandre é habilitado ao magistério dos anos iniciais e graduado em História. A Escola Portugal participa também de trabalho voltado especifi camente aos estudantes do primeiro ano do ensino fundamental. Isto é, o Projeto Trilhas, que disponibiliza diversos livros literários e diferentes materiais (jogos) para uso dos professores e estudantes, desenvolvido pelo Instituto Natura em parceria com Ministério da Educação. O coordenador pedagógico destaca que: “É um projeto de alfabetização e formação de leitores” (MEC, 2012a, s.p.). Um dos resultados já verifi cados com a aplicação do projeto foi o despertar da curiosidade das crianças para diversos tipos de textos, como parlendas — rimas infantis, usadas em brincadeiras ou como técnica de memorização —, poesias e contos. O coordenador analisa: “Também auxiliou no processo de aquisição da escrita” (MEC, 2012a, s.p.). De acordo com Alexandre, o momento dedicado às atividades do projeto tornou-se o preferido na sala de aula: “As crianças podem viajar no mundo do faz de conta e liberar a imaginação” (MEC, 2012a, s.p). Professora responsável pela implementação do projeto Trilhas em duas turmas do primeiro ano, Daysi dos Santos Fonseca destaca como maior contribuição do trabalho é o resgate cultural, para despertar nas crianças a vontade e a curiosidade de participar das rodas de leitura e tornar o ato de ler um momento descontraído e lúdico. Outro ponto que Daysi, com 30 anos de magistério, considera relevante é a riqueza cultural do projeto, até mesmo para os professores que não vivenciaram na infância as cantigas e brincadeiras de roda, agora resgatadas. 98 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 19 – PRÁTICA 2: ESCOLA GAÚCHA INCENTIVA ALUNOS A APRECIAR OBRAS DE LITERATURA FONTE: <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/207-1625150495/18985-escola- gaucha-incentiva-alunos-a-apreciar-obras-de-literatura>. Acesso em: 20 abr. 2020. Desde que foi criada, há 17 anos, a Escola Municipal Valneri Antunes, de Porto Alegre, incentiva o gosto pela leitura entre as crianças da educação infantil. Localizada no Parque Chico Mendes, no bairro Mário Quintana, a escola atende 204 crianças com idades de um ano a 5 anos e 11 meses. Elas fi cam na instituição das 7 às 19 horas. O interesse pelas obras de literatura infantil é estimulado constantemente. Em um espaço de leitura usado pelas 11 turmas, as crianças têm a oportunidade de escutar histórias, manusear livros e são orientados a tratar as obras com cuidado. Para a pedagoga Lia Fernanda Fadini, diretora da escola há seis anos: “Achamos que a literatura seria uma ajuda à comunidade, que enfrenta muitos problemas com drogadição e violência” (MEC, 2013, s.p.). A preocupação da escola em incentivar a leitura levou à participação no Concurso Escola de Leitores – Programa Prazer em Ler. O projeto Pipoletras (carrinho de pipoca com livros), criado pela professora Sigrid Fraga Moreira, fi cou entre os vencedores da segunda edição (2011-2012). As mudanças ocorreram não só no espaço de leitura, revitalizado, com paredes coloridas, pufes, mesinhas e cadeiras coloridas adequadas à faixa etária, mas em todas as salas de aula, que dispõem agora de um cantinho de leitura. Nara, coordenadora pedagógica, considera como principal mudança a postura de educadores e funcionários. Eles aprenderam, em cursos de formação, que os livros não têm de fi car fechados e começaram a incentivar e valorizar a literatura entre os próprios colegas. Segundo a professora, o grupo tinha grande difi culdade em abrir o armário e liberar o acervo à comunidade. Houve compra de novos livros, tanto de literatura infantil quanto para adultos e até os funcionários começaram a ler mais, nos períodos de intervalo ou retirando obras para ler em casa. A pedagoga, com especialização em educação infantil e 21 anos de magistério, ressalta que: “Hoje, os armários foram substituídos por prateleiras ao alcance das crianças” (MEC, 2013, s.p.). 99 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 As crianças com mais de cinco anos podem levar livros para casa todas as semanas. Nara, coordenadora pedagógica, diz que: “Eles fazem isso com muito orgulho, levam para casa um tesouro que dividirão com a família” (MEC, 2013, s.p.). A cada período de 15 dias, o carrinho de pipocas com livros percorre os locais da comunidade a fi m de aproximar os livros das pessoas. O Pipoletras visita instituições como creches comunitárias e entidades que apoiam menores de 6 a 14 anos em situação de vulnerabilidade econômica e social por meio do Serviço de Apoio Socioeducativo (Sase), da prefeitura. De acordo com Lia, é possível perceber o interesse e o cuidado com os livros demonstrados pelos adolescentes atendidos (MEC, 2013, s.p.). As visitas do carrinho, que obedecem a um cronograma, são acompanhadas, geralmente, pela professora Sigrid. Durante a visita, cada instituição recebe uma caixa com diversas obras para empréstimos aos interessados. Elas devem ser devolvidas à escola depois de 15 dias. Lia destaca o comprometimento observado no momento do retorno dos livros à biblioteca. “Mães envolvidas com drogadição têm demonstrado interesse e cuidado em devolver os livros” (MEC, 2013, s.p.). O Pipoletras sempre está presente em atividades da escola que têm a participação das famílias, como as festas juninas. Uma experiência vivida em visita à Colômbia, em 2012 — uma área especial de leitura para mães e bebês na escola, a “bebeteca” —, despertou em Nara a disposição de implantar algo semelhante. Assim, no berçário da Escola Valneri Antunes, foi organizado um espaço que permite aos bebês interagir com livros específi cos para a faixa etária — de pano e de plástico, com sons e imagens, que despertam a curiosidade. FIGURA 20 – PRÁTICA 3: GÊMEAS DE 7 ANOS CRIAM CANAL PARA DIVULGAR SEUS VÍDEOS COM DICAS SOBRE LIVROS INFANTIS FONTE: <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/34491- gemeas-de-7-anos-criam-canal-para-divulgar-seus-videos-com- dicas-sobre-livros-infantis>. Acesso em: 20 abr. 2020. 100 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Acostumadas aos livros, as irmãs Beatriz e Juliana Mello, de 7 anos de idade, iam bem no segundo ano do ensino fundamental, mas precisavam melhorar a produção de textos. A solução apontada pela escola foi a leitura em voz alta. E, para estimular, gravar o momento para que elas mesmas se avaliassem. Foi assim que o simples exercício acabou se transformando em canal de vídeos no YouTube, feito por e para crianças. Para a mãe das gêmeas, Ana Carolina Trotta, 39 anos: “Na hora de gravar, sugeri que contassem um pouco o que acharam do livro para fi car mais divertido” (MEC, 2016c, s.p.). Ainda, “Ao terminar, elas viram e pediram para mostrar ‘para todos os amigos e todas as crianças’” (MEC, 2016c, s.p.). O primeiro vídeo foi postado em setembro de 2015, quando o canal Dicas da Bia e da Juju ainda nem tinha nome. Seis meses se passaram e, com a mesma espontaneidade do começo, as meninas seguem com o projeto de literatura infantil até hoje. A ideia inicial não era ambiciosa. Mas, com a exposição, chegou a preocupar Ana Carolina. “Como era um assunto que acho importante, acabeicedendo; hoje, fi co feliz com o resultado” (MEC, 2016c, s.p.). Na casa dessa família carioca, leitura sempre foi tema de interesse e de incentivo. Desde bebês, Beatriz e Juliana são estimuladas pelos pais a cultivarem esse hábito. “Até hoje, mesmo elas já sabendo ler, às vezes revezamos as páginas para lermos juntas” (MEC, 2016c, s.p.). Como brincadeira de criança, que não precisa de muito para ser divertida nem tem hora para acontecer, as garotas gravam quando e sobre os livros que querem. As coleções Go Girl, Bruxa Onilda, Bruxinha Winnie e Casa Amarela são as que Juliana mais gosta. Mas as revistinhas da Turma da Mônica, do Menino Maluquinho e do Riquinho também têm lugar cativo na leitura da menina. Entre os livros de que Beatriz gosta, chama atenção a preferência por autores consagrados, como Ziraldo, Ruth Rocha e Ana Maria Machado. Talita Rebouças para crianças, histórias sobre animais e princesas, além das revistinhas que a irmã também curte são outros exemplos das leituras de Bia. Ana Carolina também notou melhora na pontuação e na estrutura das frases construídas pelas meninas, além disso: “Elas já gostam muito de livros e de gibis também. Com o canal, o assunto fi cou mais presente na vida delas e acabaram lendo mais” (MEC, 2016c, s.p.) A escola da rede particular, onde as irmãs estudam, tem projetos de estímulo à leitura e compartilhamento de livros, incluindo uma biblioteca na sala de aula, 101 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 abastecida pelos próprios alunos. Mas um fator importante para Bia e Juju já serem leitoras, mesmo tão pequenas, é o ambiente familiar. Para elas, ver avós e pais com livros nas mãos sempre foi comum, e as histórias escritas aparecem em vários momentos da vida das irmãs. Sem rotina ou pressão. Depois da maternidade e com os afazeres do trabalho, ela confessa ter se distanciado da prática da leitura, reservando esse momento quase sempre para as fi lhas. Uma amostra de que qualquer um, em qualquer idade, de maneira simples, pode ajudar a criar ou recriar um leitor. FIGURA 21 – PRÁTICA 4: ATIVIDADES ATRAEM ESTUDANTES À BIBLIOTECA EM ESCOLA PARAIBANA FONTE: <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/17675-atividades- atraem-os-estudantes-a-biblioteca-em-escola-paraibana>. Acesso em: 20 abr. 2020. Incentivar estudantes e seus familiares a se envolverem com a leitura de modo lúdico e recreativo, é uma das razões que levaram o professor de Língua Portuguesa, Enildo da Paixão Rodrigues, a promover atividades capazes de atrair estudantes à biblioteca da Escola de Ensino Fundamental Durmeval Trigueiro Mendes, em João Pessoa, na Paraíba. O professor Enildo é, também, coordenador da biblioteca, que leva o nome do poeta paraibano Lúcio Lins (1948-2005). Para o professor Rodrigues, bibliotecas contribuem para o desenvolvimento da cidadania. “É importante fazer os estudantes compreenderam que é por meio da leitura que cada indivíduo pode se capacitar melhor para vivenciar sua cidadania e, dessa forma, exigir o cumprimento dos direitos individuais e coletivos” (MEC, 2012b, s.p.). Rodrigues vê a Biblioteca Lúcio Lins como um recurso de prolongamento da sala de aula e de outros espaços educacionais. Ele explica que ali é organizada uma agenda semanal de leitura e de narração de histórias. Para essas atividades, os professores de língua portuguesa levam os alunos à biblioteca uma vez por semana. Lá, os estudantes participam de rodas de leitura de livros, leem jornais e revistas e fazem a leitura e a releitura de elementos iconográfi cos. 102 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Além dessas atividades, são realizadas na biblioteca palestras, ofi cinas, mostras de fi lmes e de vídeos sobre temas diversos, como direitos humanos, sustentabilidade ambiental, cidadania, ações antidrogas, questões de gênero, alimentação saudável, saraus literários, datas históricas e religiosas. Os estudantes têm acesso livre, nos intervalos das aulas, e podem pegar, ao longo do mês, quantos livros emprestados quiserem. Em datas históricas, durante a semana cultural da escola ou quando é necessário fazer a divulgação de livros ou de material pedagógico, são organizadas exposições na biblioteca. Essa biblioteca abriga, também, a realização de atividades interdisciplinares, como: música, circo, teatro e dança com a participação de diversos professores. Rodrigues afi rma que as atividades ajudam os estudantes a ganhar desenvoltura na leitura e no discurso, oral e escrito. “Os alunos passam a vislumbrar a beleza das histórias literárias, aprendem a distinguir realidade de fi cção e concluem que a biblioteca é um espaço privilegiado para a aquisição de conhecimentos” (MEC, 2012b, s.p.). O professor Rodrigues diz, ainda que a biblioteca “é um ambiente no qual os estudantes aprendem a ler, a pesquisar e a compor textos de forma autônoma” (MEC, 2012b, s.p.). A Biblioteca Lúcio Lins também é um local para a realização de projetos. Um deles, o Viajando Através das Histórias Infanto-Juvenis, foi criado para desenvolver a capacidade de leitura de alunos com difi culdade de aprendizagem. Outro projeto é o Conhecendo Nossa Comunidade e Escola, destinado a promover visitas a locais próximos à escola e a permitir que os estudantes conheçam projetos voluntários realizados na própria comunidade. “O objetivo é fazer o aluno participar, na prática, da vida da comunidade e exercer compromisso com a coletividade” (MEC, 2012b, s.p.). Com 38 anos de magistério, o professor Rodrigues tem graduação em letras e especialização em educação em direitos humanos. Considerações sobre os projetos e as práticas pedagógicas Em relação às considerações sobre os projetos e as práticas pedagógicas, ressaltamos que a escolha desses projetos foi bastante cuidadosa para que eles cumprissem os objetivos desta seção e inspirassem os estudantes do curso a criar seus projetos para incrementar suas práticas pedagógicas nas bibliotecas e salas de leitura ou, ainda, com contexto escolar. Apesar desse critério, selecionamos projetos e práticas pedagógicos que aconteceram fora dos muros da escola, mas eles agregam estudantes e fomentam o gosto pela leitura de forma inovadora. 103 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 Não só o critério da inovação fez parte dessa escolha. Lançamos outros critérios para assegurar a nossa discussão ampla por aqui. Todos os projetos e práticas escolhidos foram capturados no portal aberto do Ministério da Educação, considerando que a maioria deles concorreram a prêmios educacionais. É relevante a escolha de projetos vencedores de concursos, considerando que eles passaram por uma comissão de avaliação composta por especialistas. Portanto, eles têm uma proposta que merece a atenção de outros educadores e valorização dos colegas. Em relação à escolha dos projetos e práticas pedagógicas, destacamos que todas as experiências foram aplicadas na prática e fomentam a formação cultural e a aprendizagem de conhecimentos produzidos pela humanidade, especialmente a formação leitora de crianças e jovens nesses últimos seis anos. Portanto, consideramos essas experiências atuais, ainda que algumas delas já aconteçam há mais tempo, e cada uma traz encantamentos de seu jeito. Cabe destacar que a prática do projeto Roedores de Livros ocorre em um lugar inusitado, ou seja, em uma feira popular e livre. Como o projeto e o grupo de professores voluntários foram bem recepcionados, os feirantes cederam um espaço para que eles pudessem compartilhar essa ação com a comunidade com regularidade, especialmente porque os participantes são, em sua maioria, os fi lhos dos comerciantes e a comunidade que utiliza esse comércio.O projeto Literatura nas Ruas, também criado por um professor, tem como aplicação direta as crianças pequenas, em uma ação com pessoas da comunidade fora do espaço da escola. De um modo geral, questionamos: é possível a aplicação desse projeto? Não é uma tarefa fácil, mas a aplicação desse projeto ocorreu mesmo com as diversas variáveis envolvidas. Seu objetivo é, também, desafi ador, pois se trata de despertar o interesse das crianças da educação infantil pela literatura e torná-las multiplicadoras de leitura. A literatura sobre a formação de leitores orienta que, quanto mais cedo começar a leitura, mais possibilidades a criança tem de se transformar em um leitor. Com isso, o professor Diovane de César Resende Ribeiro aplicou o que orientam as Diretrizes Nacionais da Educação Infantil (2012). Na análise, fi ca claro que a aplicação do projeto só ocorreu porque teve o apoio das famílias das crianças. Outra questão importante na formação das crianças e estudantes maiores é a necessidade da construção da aproximação da família na escola. No caso do projeto que explora o celular como um recurso pedagógico para ensinar e aprender conteúdos de História, cabe destacar o uso do celular para a comunidade escolar, pois a presença do celular gera, ainda, confl itos na relação professor e estudantes. Cremos que esse projeto pode inspirar outras escolas a aprofundar e criar possiblidades de incluir o celular em suas práticas pedagógicas. 104 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura As práticas pedagógicas selecionadas para este capítulo têm como centralidade o incentivo à leitura desde as crianças da educação infantil aos estudantes do ensino fundamental II. Em especial, destacamos a escola rural de um povoado de Pernambuco que tem investido na leitura, sendo que suas avaliações mudaram radicalmente. Com esses resultados, a escola apresenta grande potencial para despertar nos jovens a responsabilidade e o desejo de aprenderem, ampliando, também, a autoestima dos estudantes e da comunidade escolar. Então, é possível despertar os jovens para aprender, mesmo com todas difi culdades e a escassez de recursos pelas quais a escola tem passado, mas tem conseguido avançar com a colaboração de toda comunidade escolar. Outra experiência que merece ser destacada aqui é a experiência com a gravação de vídeos pelas crianças para encantar seus pares com o apoio da família. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Para fi nalizar este capítulo, faz-se necessário trazer algumas considerações para orientar o seu estudo. Inicialmente, foi contextualizada a discussão acerca do gerenciamento da biblioteca escolar e da sala de leitura. Nessa discussão, refl etimos sobre os programas, projetos e campanhas de incentivo à leitura instituídos em nosso país, trazendo algumas considerações históricas para ilustrar a nossa compreensão de que não é tão simples transformar os estudantes de nossas escolas em leitores críticos e refl exivos como algumas pessoas pensam. Em seguida, tratamos de aspectos do gerenciamento da biblioteca escolar e da sala de leitura, principalmente da organização dos espaços físicos, funcionamento, formação do acervo, armazenamento, seleção, aquisição e dinamização desses espaços. Ressaltamos que vemos os espaços de formação de leitores como essenciais para o desenvolvimento humano integral, a formação cultural e a aprendizagem do conhecimento formal da nossa sociedade. Foram discutidas, ainda que rapidamente, as semelhanças e diferenças entre a biblioteca escolar e sala de leitura em nosso país, inclusive as difi culdades que esses espaços vivenciam para atender às necessidades dos estudantes e da equipe docente. Por último, apresentamos a síntese de projetos e práticas pedagógicas. A seleção desses projetos seguiu alguns critérios, com a intenção de trazer para este capítulo projetos e práticas que pudessem nos inspirar e nos ajudar a criar outras experiências. Os projetos foram desenvolvidos em diferentes regiões e modalidades de ensino, como a experiência inovadora com o suporte tecnológico na prática pedagógica, a experiência que valoriza o protagonismo de crianças e jovens, as experiências de leitura fora do contexto escolar com a presença de estudantes e as experiências com a participação de adultos da comunidade local e da família. 105 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 Para discutir de forma mais aprofundada a temática proposta, inserimos outras vozes a partir de vídeos, artigos, resultados de pesquisas, projetos pedagógicos e notícias jornalísticas com entrevistas de especialistas que vêm se dedicando a estudar essa temática, além de atividades que podem oportunizá-lo a sistematizar seu estudo e aprendizagem. Assista ao vídeo A biblioteca ou a sala de leitura não é só uma soma de livros, é um conjunto organizado de materiais... São duas perguntas sobre leitura respondidas pela especialista Telma Weisz ao Portal da Nova Escola, disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/7998/ portas-abertas-para-o-mundo-da-leitura. Faça suas anotações e, em seguida, apresente um texto em que sejam discutidas as ideias apresentadas pela especialista para dinamizar a biblioteca escolar ou a sala de leitura de sua escola. Recomendamos ao estudante que articule as informações do vídeo e as discutidas neste capítulo. _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ 106 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. B. Educação, projetos, tecnologia e conhecimento. São Paulo: PROEM, 2002. AROSI, C. M. F.; RIBEIRO, E. A. W. Políticas públicas e a formação de professores leitores: um diálogo possível e necessário. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICAS DE ENSINO, 18., 2016, Cuiabá. Anais [...] Cuiabá: UFMT, 2016, p. 6575-6587. BRASIL. Conselho Federal De Biblioteconomia. Resolução nº 199, de 3 de julho de 2018. Dispõe sobre os parâmetros a serem adotados para a estruturação e o funcionamento das Bibliotecas Escolares. Disponível em: https:// www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/29894428/ do1-2018-07-13-resolucao-n-199-de-3-de-julho-de-2018-29894423. Acesso em: 10 maio 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Presidência da República, 1988. BRASIL. Decreto nº 7.559, de 1º de setembro de 2011. Dispõe sobre o Plano Nacional do Livro e Leitura - PNLL e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7559.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010. Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do país. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/ lei/l12244.htm. Acesso em: 10 maio 2015. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l9394.htm.Acesso em: 8 mar. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE): leitura e bibliotecas nas escolas públicas brasileiras. Brasília: MEC, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Avalmat/livro_ mec_fi nal_baixa.pdf. Acesso em: 8 mar. 2020. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental – língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. 107 GESTÃO DDA BIBLIOTECA ESCOLAR A BIBLIOTECA ESCOLAR EE DDA SALA A SALA DDE LEITURA, SEUS OBJETIVOS E LEITURA, SEUS OBJETIVOS EE FUNÇÕESFUNÇÕES Capítulo 2 CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Spicione, 1989. CUSTÓDIO, C. D. Leitura, formação de leitores e Estado: concepções e ações ao longo da trajetória do Ministério da Educação 1930-1994. 2000. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2000. FRANCO, M. A. R. S. Prática pedagógica e docência: um olhar a partir da epistemologia do conceito. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 97, n. 247, p. 534 -551, set./dez. 2016. IFLA. Diretrizes da IFLA para biblioteca escolar, jun. 2015. Disponível em: https://www.ifl a.org/fi les/assets/school-libraries-resource-centers/publications/ifl a- school-library-guidelines-pt.pdf. Acesso em: 14 fev. 2020. LIMA, M. C. R. Da biblioteca escolar à sala de leitura nas Escolas Públicas Estaduais de Ensino fundamental paulista: leis, decretos, normas e agentes. 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) – Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2016. LIMAS, R. F. Redes de bibliotecas escolares no Brasil: estudo exploratório. 2015. 142 p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. LOBATO, M. América. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1951. MEC. Projeto de biblioteca em shopping popular do Distrito Federal atrai quem gosta de aprender. 31 out. 2016a. Disponível em: http://portal.mec.gov. br/ultimas-noticias/211-218175739/40951-projeto-de-biblioteca-em-shopping- popular-do-distrito-federal-atrai-quem-gosta-de-aprender. Acesso em: 20 ago. 2020. MEC. Bibliotecária leva amor pelos livros a moradores de rua. 22 jul. 2016b. 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Acesso em: 20 ago. 2020. MEC. Escola gaúcha incentiva alunos a apreciar obras de literatura. 12 ago. 2013. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/207- 1625150495/18985-escola-gaucha-incentiva-alunos-a-apreciar-obras-de- literatura. Acesso em: 20 ago. 2020. MEC. Escola do Rio tem na leitura o marco de projeto pedagógico. 23 nov. 2012a. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222- 537011943/18254-escola-do-rio-tem-na-leitura-o-marco-de-projeto-pedagogico. Acesso em: 20 ago. 2020. MEC. Atividades atraem os estudantes à biblioteca em escola paraibana. 13 abr. 2012b. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211- 218175739/17675-atividades-atraem-os-estudantes-a-biblioteca-em-escola- paraibana. Acesso em: 20 ago. 2020. MEC. Escola de Pernambuco investe em leitura e cresce em avaliação. 5 dez. 2011. 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Revista Unisinos, São Leopoldo, v. 18, n. 1, p. 25-34, jan./abr. 2014. SANTOS, P. S. Biblioteca escolar e sala de leitura: um longo caminho para universalização. Revista Biblioteca Escolar, v. 6, n. 2, p. 28-47, 2018. SÃO PAULO. Resolução SE nº 15/2009. Dispõe sobre a criação e organização de salas de leitura nas escolas da rede estadual de ensino. Disponível em: http:// siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/15_09.HTM. Acesso em: 30 abr. 2020. SCLIAR, M. A mulher que escreveu a Bíblia. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. SOARES, M. Oralidade, alfabetização e letramento. Revista Pátio Educação Infantil, ano 7, n. 20, p. 1-4, jul./out. 2009 VÁLIO, E. B. M. Biblioteca Escolar: uma visão histórica. Trasn-in-formação, v. 2, n. 1, p. 15-24. 1990. Disponível em: http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/ index.php/transinfo/article/view/1670. Acesso em: 8 jun. 2018. ZILBERMANN. R. A leitura e o ensino da literatura. 2. ed. São Paulo: Cultrix. 1988. 110 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura CAPÍTULO 3 INTEGRAÇÃO DA BIBLIOTECA, DA UNIDADE DE ENSINO E DA COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS E ATIVIDADES A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Discutir a concepção de biblioteca escolar e da sala de leitura a partir do olhar dos estudantes e da comunidade escolar. Dialogar acerca da dinamização necessária da biblioteca escolar e da sala de leitura para atender às necessidades da comunidade escolar. Analisar elementos que caracterizam as bibliotecas públicas e comunitárias e suas distinções e benefícios para a comunidade em geral. Apresentar contribuições, ações e alguns projetos de bibliotecas comunitárias construídos por iniciativas populares e seus benefícios para a comunidade em geral. 112 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura 113 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo, discutiremos com você alguns aspectos da biblioteca escolar e da sala de leitura, especialmente dos recursos humanos, materiais e atividades que favorecem a integração entre escola e comunidade. Para isso, dialogaremos, no primeiro momento, sobre o olhar que a comunidade escolar tem da biblioteca escolar e sala de leitura e a dinamização desses espaços para atender às necessidades dos estudantes e da equipe docente. Em um segundo momento, discutiremos sobre a biblioteca pública e a biblioteca comunitária e o que as distinguem, apresentando contribuições, ações e alguns projetos de bibliotecas comunitárias construídos por iniciativaspopulares, além de seus benefícios para a comunidade em geral. Em conformidade com o que já discutimos nos capítulos anteriores, a biblioteca escolar e a sala de leitura são espaços fundamentais que podem contribuir positivamente para “o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem de qualidade, além de serem considerados espaços relevantes de apoio didático-pedagógico e cultural para toda comunidade escolar” (PEREIRA, 2016, p. 38), como mostra a Figura 1. FIGURA 1 – BIBLIOTECA E ATIVIDADE – PINACOTECA FONTE: <https://www.braziliantimes.com/comunidade-brasileira/2018/05/02/feira-de- educacao-do-consulado-vai-ser-dia-05-de-maio.html>. Acesso em: 19 maio 2020. Refl etir sobre o que pensa a comunidade escolar a respeito da biblioteca escolar e de sala de leitura pode auxiliar gestores das unidades de ensino a rever a dinâmica que têm utilizado nesses espaços e verifi car, ainda, se ela está atendendo ou não às necessidades da comunidade escolar. Tais providências podem apoiar e qualifi car o processo de ensino e aprendizagem dos jovens estudantes de sua escola, em especial daqueles que estão integrados nas escolas públicas. Behr, Moro e Estabel (2008, p. 32) sinalizam que a gestão do ensino e da 114 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura aprendizagem de qualidade na educação básica passa, também, pela biblioteca escolar e pela sala de leitura atuante com propostas dinâmicas e atuantes. Para ampliar a visão sobre a importância da formação leitora no processo de desenvolvimento humano e sociocultural dos estudantes, discutimos, também, os elementos que caracterizam as bibliotecas públicas e comunitárias e suas distinções, além dos benefícios que elas trazem para a comunidade em geral por meio de alguns projetos de bibliotecas comunitárias construídos por iniciativas das comunidades. 2 INTEGRAÇÃO DA BIBLIOTECA, DA UNIDADE DE ENSINO E DA COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS E ATIVIDADES Behr, Moro e Estabel (2008, p. 32) defendem que a escola “[...] deve priorizar o processo de desenvolvimento humano dos estudantes da educação básica como um todo, além de assegurar o acesso e o uso da informação”. Nessa mesma direção, Ely (2003, p. 46) pontua que a biblioteca escolar e a sala de leitura “podem iniciar a formação leitora, desenvolver habilidades, competências e atitudes cidadãs apropriadas para os jovens estudantes de nosso tempo, as quais seguirão com eles ao longo da vida”. Esses espaços, quando bem integrados ao cotidiano escolar, assumem a função socioeducativa, complementando o trabalho pedagógico e articulando estudantes à equipe docente. A biblioteca escolar e a sala de leitura podem contribuir, ainda, com “a formação de futuros(as) frequentadores(as) de outros tipos de bibliotecas” (BEHR; MORO; ESTABEL, 2008, p. 32). Em síntese, a biblioteca escolar e a sala podem contribuir tanto com a constituição de jovens estudantes, leitores e cidadãos quanto com investidores em seu capital cultural, valorizando o conhecimento crítico, como destaca a Figura 2 a seguir: 115 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 FIGURA 2 – IMPORTÂNCIA DO LIVRO, LEITURA E CULTURA FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/474496510725744918/>. Acesso em: 18 maio 2020. De acordo com Ely (2003, p. 47), a biblioteca escolar deve oferecer aos estudantes e a equipe docente, no mínimo, serviços como: “[...] o serviço de referência, de empréstimo de livros a domicílio e para as salas de aula, bem como a leitura e a consulta local, entre outros.” Assim, a biblioteca escolar e a sala de leitura funcionam como espaços importantes que constituem, junto com a escola, o processo de ensino, de aprendizagem e de desenvolvimento sociocultural dos estudantes, ou seja, esses espaços são partes vivas da escola, contribuindo de forma ativa com os estudantes e a equipe docente com seus serviços. Entretanto, para contribuir, a biblioteca escolar e a sala de leitura devem possuir um acervo atualizado para uso dos estudantes e da equipe docente, mas esse uso também deve ser por lazer, para despertar nos estudantes o prazer de ler, a imaginação, a fantasia e a descoberta do conhecimento. Portanto, faz-se necessário que esses espaços sejam, também, acolhedores. Por outro lado, sabemos que implantar e manter bibliotecas escolares e salas de leituras apropriadas e acolhedoras para atraírem a comunidade escolar e, ainda, estimular a formação crítica e refl exiva dos jovens estudantes nas escolas públicas brasileiras não é tão fácil, pois, das 180 mil escolas brasileiras, 98 mil ou 55% não têm biblioteca escolar ou sala de leitura, segundo dados do INEP no ano de 2018. Nessa perspectiva, Macedo (2005, p. 68) assevera que: [...] os pontos críticos, todavia, não recaem tão-somente na inexistência da biblioteca escolar e sala de leitura, mas na precariedade desses espaços: ou são “arremedos” de biblioteca escolar e sala de leitura, as quais têm pouca organização, com a prestação de serviços desanimadora, e que não pode servir de modelos para o uso correto da informação, ou não contam com alguém motivado para ofertar a prestação de serviços bibliotecários com qualidade para esses jovens e a comunidade que têm o direito assegurado [...]. Com base nessas considerações, constatamos que esses espaços têm difi culdades para entregar serviços de qualidade que satisfaçam às necessidades 116 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura dos usuários se não forem gerenciados por profi ssionais habilitados e motivados, tais como: o bibliotecário escolar e professores das diversas áreas de conhecimento. Esses profi ssionais devem realizar, nesses ambientes, diversas atividades, tanto no campo educativo quanto no campo sociocultural, conforme destaca Corrêa et al. (2002, p. 121), quando afi rmam que os profi ssionais responsáveis pela biblioteca e a sala de leitura devem: [...] desempenhar algumas funções educativas, contudo diferentes das que um professor desempenha em sala de aula. Sua função educativa se concentra no sentido de auxiliar a comunidade escolar na utilização correta das fontes de informação, dando um embasamento para que o educando saiba usufruir esses conhecimentos, também fora do ambiente escolar. Ele ensina a socialização, através do compartilhamento de informações, de utilização de materiais e ambientes coletivos, preparando assim o educando no desenvolvimento sociocultural. Concordando com as considerações feitas por Corrêa et al. acima, destacamos que a biblioteca escolar e a sala de leitura terão difi culdades de atender aos usuários de forma satisfatória se não tiverem um bom gerenciamento pelos profi ssionais responsáveis, bem como as condições adequadas do poder público. Assim, já é consenso entre a equipe docente que o trabalho pedagógico se torna mais signifi cativo quando a biblioteca escolar e a sala de leitura desenvolvem ações dinâmicas, atrativas e de qualidade. Para alcançar esses resultados, os serviços oferecidos pela biblioteca escolar e sala de leitura devem estar de acordo com o interesse dos estudantes e da equipe docente. Isso requer um planejamento integrado entre os profi ssionais responsáveis por esses espaços e a equipe docente, pois não adianta os profi ssionais responsáveis por esses espaços criarem uma série de serviços para instigar o desenvolvimento intelectual e cultural dos estudantes se a equipe docente não participar ativamente desse planejamento. Esse trabalho terá mais chances se for em uma perspectiva interdisciplinar com a equipe docente, incluindo a participação ativa dos estudantes. Silva e Araújo (2003) ressaltam que o plano de trabalho da biblioteca escolar e da sala de leitura deve estar incluído no projeto político-pedagógico da instituição para complementar as atividades realizadasem sala de aula, inclusive a formação leitora. 117 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 Para ter melhor a compreensão sobre as condições das bibliotecas escolares e das salas de leitura no Brasil, sugerimos que você assista ao vídeo Dados do Inep mostram que 55% das escolas brasileiras não têm biblioteca ou sala de leitura. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/549315-dados-do-inep-mostram- que-55-das-escolas-brasileiras-nao-tem-biblioteca-ou-sala-de- leitura/. 2.1 DISCUTINDO A BIBLIOTECA ESCOLAR SOB O OLHAR DOS ESTUDANTES E DA COMUNIDADE ESCOLAR FIGURA 3 – BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA FONTE: <https://marciatravessoni.com.br/noticias/leitura-para-o- desenvolvimento-biblioteca-infantil-do-colegio-ari-de-sa-e-destaque- pelos-projetos-especiais>. Acesso em: 12 maio 2020. Nesta seção, abordamos, inicialmente, o olhar que estudantes e equipe docente têm a respeito da biblioteca escolar e da sala de leitura, bem como a dinamização desses espaços para atender às necessidades dos estudantes e da equipe docente da escola em que esses espaços estão inseridos, considerando os seguintes objetivos a seguir: 118 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura • discutir a concepção que os estudantes e a comunidade docente têm da biblioteca escolar e a sala de leitura; • dialogar acerca da dinamização da biblioteca escolar e da sala de leitura com vistas a atender às necessidades da comunidade escolar. Concepção dos estudantes e da equipe docente acerca da biblioteca escolar e da sala de leitura FIGURA 4 – JOVENS ESTUDANDO EM BIBLIOTECA ESCOLAR FONTE:<http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2012/05/servidores-da-fundacao- tancredo-neves-em-belem-ameacam-greve.html>. Acesso em: 12 maio 2020. O estudo analisado aqui é qualitativo e intitulado A Biblioteca sob o olhar da comunidade escolar, publicado por Pereira em 2016. Ele investigou a visão dos estudantes do ensino fundamental II e o posicionamento dos professores e da gestora a respeito da necessidade de implantação da biblioteca em uma determinada escola pública, situada na cidade de João Pessoa. Participaram do estudo 35 estudantes do 6º ao 9º ano (20,2% do universo), cinco professores (62,5%) e a gestora da escola, por meio da aplicação de questionários. Aos alunos, priorizou-se o uso de questões fechadas, já com os professores e a gestora, foram utilizadas questões abertas. O autor analisou os resultados separadamente. Dessa forma, esses resultados foram apresentados em três subseções. Apresentamos a síntese desses resultados: Estudantes Os estudantes possuíam idade entre 10 e 18 anos, tendo 18 estudantes entre 10 e 13 anos de idade e 17 entre 14 e 18 anos. Apesar de alguns estudantes estarem na faixa etária acima dos padrões médios de idade/série estabelecidos pelas Diretrizes Básicas da Educação Nacional vigente, a maioria está na faixa adequada pelas orientações ofi ciais para cursar o ensino fundamental II. 119 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 Dos estudantes respondentes, 74% deles afi rmaram que gostam de ler muito ou moderadamente. Soares (2010) afi rma que a importância da leitura é indiscutível quando o assunto em pauta é educação. Afi nal, mesmo com o surgimento das novas tecnologias, os livros continuam sendo um instrumento essencial para o processo de ensino e aprendizagem e a formação cultural de bons estudantes. Quanto ao local onde despertaram o gosto pela leitura, a família e a escola estão entre os ambientes mais signifi cativos para os estudantes, com 34% cada. A internet foi indicada por 23% dos estudantes. A biblioteca escolar obteve apenas 9% das indicações e a sala de leitura nenhuma, mas nessa escola há uma sala de leitura. Essas indicações são preocupantes e comprovam que os espaços – biblioteca escolar e sala de leitura - necessitam discutir sua dinamização para atender aos interesses da comunidade a fi m de entregar de forma efetiva os serviços com a qualidade exigida pelos estudantes dessa escola. Quando os estudantes foram indagados se costumam frequentar bibliotecas de um modo geral, 74% responderam que não. Subentende-se que um dos motivos que os levam a não frequentarem bibliotecas pode ser por não reconhecerem esse espaço como um lugar signifi cativo para sua formação humana ou a ausência de um desses espaços próximos à sua residência, além de fatores históricos e culturais, como a infl uência da família. Indagados em relação aos serviços que gostariam que fossem oferecidos pela biblioteca de sua escola, 51% dos estudantes gostariam de ter acesso à internet, outros 26% queriam que fossem oferecidos auxílios a pesquisas escolares, indicação de livros interessantes e a normalização de trabalhos, enquanto 23% gostariam de ter acesso a gibis, revistas, jornais e fi lmes com debates para compreenderem melhor as obras, pois alegaram que não compreendem o sentido desses gêneros. Como ilustração, Jonas, estudante do 9º ano, disse que “a professora de Português passou para a gente vê o fi lme Vidas Secas. O fi lme é bem legal, mas queria saber mais sobre o que ele quer nos dizer. Acho que se tivesse um debate na biblioteca, aprendia mais, eu e meus colegas” (PEREIRA, 2016, s.p.). 40% dos respondentes disseram que a biblioteca escolar pode ser importante para a aprendizagem deles se conseguir ajudá-los a se apropriarem dos conhecimentos, enquanto 34% afi rmaram que é um local ideal para realizar pesquisas e 23% disseram que o espaço é útil para estudar, sendo que somente 3% alegaram que a biblioteca serve para se manterem atualizados. De acordo com Pereira (2016), ao serem indagados sobre como concebiam a biblioteca e a sala de leitura, as respostas dos estudantes deram muitas indicações da importância desses espaços para sua formação escolar e cultural quando apontaram como 120 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura um local de debate que possibilita a eles se apropriarem de conhecimento, de pesquisa, de estudo e de atualização. Isso mostra o quanto é necessária a implantação de bibliotecas nas escolas públicas do país. Em relação à atuação do profi ssional responsável pela biblioteca, 97% dos estudantes concordam que sua postura deve ser dinâmica e que ele deve discutir com os professores da escola a fi m de melhorar o trabalho da biblioteca e da sala de leitura. Apenas um estudante (3%) não opinou e permaneceu neutro. Observa- se, portanto, a importância de cumprir a Lei n. 12.244, de 24 de maio de 2010, que determina a obrigatoriedade do poder público de instalar bibliotecas escolares com a presença do bibliotecário em todas as instituições de ensino do país. Professores FIGURA 5 – PROFESSORES PLANEJANDO AÇÕES JUNTOS COM BIBLIOTECÁRIA FONTE: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2236/monitoria- aluno-aluno-colaboracao>. Acesso em: 12 maio 2020. O grupo de professores é formado por cinco sujeitos que ministram disciplinas como: língua portuguesa, matemática, ciências naturais, geografi a e história. Desses professores, três são do sexo feminino (60%) e dois são do sexo masculino (40%). Com relação à idade, três (60%) deles estavam na faixa etária entre 21 e 40 anos de idade e os outros dois (40%) entre 41 a 60 anos de idade. Todos os professores possuíam graduação na modalidade licenciatura plena nas disciplinas em que atuavam. A professora de ciências naturais, além da licenciatura, era graduada em pedagogia e tinha curso de pós-graduação em psicopedagogia. 121 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUSRECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 QUADRO 1 – DADOS DOS PROFESSORES Professores Sexo Faixa etária Tempo de atuação Professora 1 - Língua Portuguesa F 21- 40 anos 01 mês Professora 2 – Matemática F 21- 40 anos 20 anos Professora 3 – Ciências Naturais F 21- 40 anos 13 anos Professora 4 – História M 41- 60 anos 03 meses Professora 5 – Geografi a M 41- 60 anos 18 meses FONTE: A autora. Os professores foram questionados sobre: qual a importância da biblioteca escolar e da sala de leitura? Veja as respostas desse grupo no Quadro 2. QUADRO 2 – RESPOSTAS DOS PROFESSORES SOBRE A IMPORTÂNCIA DA BIBLIOTECA E SALA DE LEITURA Prof. 1: “[...] para a construção do conhecimento do alunado, é necessário realizarmos leituras e conhecer o mundo através dos livros”. Prof. 2: “[...] é uma importante fonte de pesquisa para toda comunidade escolar”. Prof. 3: “Para facilitar o ensino-aprendizagem”. Prof. 4: “[...] vai ajudar nossos alunos na realização dos trabalhos e nos estudos para as provas, ampliando ainda mais os seus conhecimentos”. Prof. 5: “Para ajudar alunos e professores a adquirirem mais conhecimentos”. FONTE: Adaptado de Pereira (2016). Pereira (2016) analisou as respostas dos professores e afi rma que eles veem a biblioteca escolar e a sala de leitura como espaços de leitura, ensino, pesquisa e estudo como muito importantes no processo de aquisição do conhecimento por parte dos estudantes. Apenas um deles se incluiu como usuário desses espaços, quando disse que a biblioteca e sala de leitura têm as funções de ajudar alunos e professores a adquirirem mais conhecimentos (PEREIRA, 2016). Além disso, os professores foram indagados com a seguinte pergunta: que serviços mais contribuem para o processo de ensino-aprendizagem? Para 80% dos professores, a orientação para as pesquisas escolares e a normalização de trabalhos são os principais, enquanto 20% afi rmaram que o empréstimo domiciliar é o que mais colabora nesse processo. Questionados acerca da gerência da biblioteca e dos benefícios que ela pode trazer para a formação dos estudantes, obteve-se o posicionamento descrito no Quadro 3. 122 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura QUADRO 3 – RESPOSTAS SOBRE A GERÊNCIA DA BIBLIOTECA E SALA DE LEITURA Prof. 1: “Ter um profi ssional que oriente boas leituras seria uma infl uência positiva para os estudantes”; Prof. 2: “Os alunos seriam muito benefi ciados no desenvolvimento de suas pesquisas, estudos em grupo e nas relações de trabalho”; Prof. 3: “Teriam oportunidade de conhecimento e compreensão de múltiplas leituras”; Prof. 4: “Se benefi ciariam principalmente em suas pesquisas”; Prof. 5: “Benefícios de mais conhecimentos adquiridos”. FONTE: Adaptado de Pereira (2016). A análise de Pereira (2016) ressalta que os professores reconhecem que a presença da biblioteca escolar e da sala de leitura organizadas e coordenadas por profi ssionais competentes só traz benefícios para a comunidade escolar, seja na orientação de boas leituras, na compreensão de variados tipos de textos ou na pesquisa escolar. Os professores também foram questionados com a seguinte pergunta: que profi ssionais podem ser responsáveis pela biblioteca? Para eles, o bibliotecário é, ainda, o profi ssional mais qualifi cado para realizar as atividades na biblioteca e o professor na sala de leitura, conforme mostram as justifi cativas do Quadro 4. QUADRO 4 – RESPOSTAS SOBRE A GERÊNCIA DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA Prof. 1: “O bibliotecário possui o conhecimento necessário para orientar na escolha do livro. Já a sala de leitura é incumbência dos professores”. Prof. 2: “Ele está qualifi cado para administrar o acervo da biblioteca e o professor trabalha muito bem na sala de leitura, na minha opinião.” Prof. 3: “O bibliotecário está apto a suprir as necessidades do educando. E o professor na sala de leitura”. Prof. 4: “É o profi ssional mais capacitado para atender as necessidades do alunado”. Prof. 5: “Como é um profi ssional qualifi cado nessa área, tem a capacidade de atuar nela”. FONTE: Adaptado de Pereira (2016). Os professores acreditam nas habilidades do bibliotecário enquanto gestor da biblioteca escolar, pois, assim como todos os profi ssionais que estudaram sobre uma determinada área do conhecimento, eles são os mais capacitados para atuarem nelas. Já os professores farão o trabalho com qualidade nas salas de leitura. A educação de qualidade depende de estruturas apropriadas, que possibilitem ao estudante ir além da sala de aula e viajar por mundos ricos em informações e conhecimentos, como as salas de leitura e as bibliotecas escolares. 123 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 Gestora Escolar A gestora atua na instituição há pouco mais de um ano, é graduada em pedagogia e está na faixa etária entre 30 a 40 anos. Ela afi rmou, ainda, que essa é sua primeira experiência enquanto gestora escolar. Pereira (2016) indagou a gestora escolar sobre a importância da biblioteca escolar para o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes e professores de sua escola e obteve a seguinte resposta: “Contribui muito. Por ser um ambiente de descobertas e de exposição de conhecimento. Nesses ambientes que temos a oportunidade de conhecer o mundo que nos cercam” (PEREIRA, 2016, p. 50). Pereira (2016) diz, ainda, que para compreender a sociedade que fazemos parte, precisamos nos debruçar cada vez mais no universo da leitura. As bibliotecas, como explicitado pela gestora da escola, são espaços fundamentais no processo de aquisição do conhecimento, uma vez que nelas existem os mais diversos gêneros e materiais de informação. Questionada sobre a contribuição da biblioteca escolar para o aprendizado dos estudantes, ela respondeu que: “Seu acervo possibilita, de acordo com um bom planejamento, enriquecer o ensino-aprendizagem” (PEREIRA, 2016, p. 51). Pereira (2016) infere que a gestora escolar acredita na responsabilidade da biblioteca escolar e no apoio aos docentes e confi rma a importância desse espaço para o ensino e aprendizagem. As pesquisas escolares exigidas pelos professores são formas extensivas de aprimorar os ensinamentos repassados em sala de aula. Portanto, para que o processo de ensino e aprendizagem seja alcançado de forma efetiva, faz-se necessária a existência de ambientes apropriados, acolhedores e de profi ssionais qualifi cados apoiando esse fi m. A gestora escolar foi questionada sobre a importância da biblioteca na prática docente. Para ela, a utilização adequada da biblioteca é capaz de melhorar signifi cativamente a qualidade das aulas ministradas pelo corpo docente, consequentemente, poderá gerar benefícios para os estudantes, pois, com aulas mais dinâmicas e atrativas, o ensino-aprendizagem no ensino fundamental pode até se tornar mais fácil: “A adequada utilização da biblioteca enriquece as atividades dos professores, fortalece também suas estratégias e torna suas aulas mais atraentes” (PEREIRA, 2016, p. 51). A gestora escolar também afi rmou que as adequações nos espaços da escola muitas vezes não são feitas devido à carência de recursos fi nanceiros. Cabe aos envolvidos no sistema escolar – seja professor, estudantes, gestor, bibliotecário ou a própria comunidade – reivindicar às autoridades as adequações 124 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura desses espaços para uma educação de qualidade. Por fi m, a gestora escolar afi rma que: “Há uma urgente necessidade de difundir o uso de bibliotecas nas escolas e sala de leitura para fortalecer a leitura também fora das instituições, visto que, essa prática ainda não faz parte das atividades diárias da maioria dos estudantes” (PEREIRA, 2016, p. 52). Ainda, “a implantação de bibliotecas e de salas deleitura nas escolas deve priorizar atividades de leitura, considerando que a leitura desenvolve nos estudantes o pensamento crítico, a compreensão de mundo e pode torná-los cidadãos mais conscientes de seus direitos e obrigações” (PEREIRA, 2016, p. 52). Os resultados desse estudo mostram que o grupo pesquisado concebe a biblioteca escolar e a sala de leitura como espaços importantes de apoio à formação dos estudantes da educação básica. Os participantes, especialmente os estudantes, afi rmaram que os espaços devem ser bem estruturados e que os serviços oferecidos devem ser diversifi cados para apoiá-los pedagogicamente, devendo permitir o acesso às tecnologias de informação e serem bem gerenciados por bibliotecários e profi ssionais responsáveis. Além disso, toda a comunidade escolar almeja a construção de bibliotecas e salas de leitura nas instituições de ensino. Conclui-se que, para a implantação e reformas nas bibliotecas e salas de leitura em escolas públicas, é necessário o apoio do poder público, no sentido de destinar recursos fi nanceiros às reformas, ampliações das dependências pedagógicas e implantação das bibliotecas e salas de leitura e compra de mobiliário e equipamentos tecnológicos, bem como a manutenção desses espaços. Por considerarem importante a dinâmica da biblioteca e sala de leitura, vamos passar a discussão da dinamização desses espaços. Dinamização da biblioteca escolar e da sala de leitura FIGURA 6 – MEDIAÇÃO DE LEITURA PARA CRIANÇAS PEQUENAS FONTE: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/ bibliotecas/noticias/?p=21223>. Acesso em: 12 maio 2020. 125 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 Neste tópico, vamos dialogar com você sobre a dinamização da biblioteca e da sala de leitura, bem como a mediação de leitura. Ressaltamos que esse diálogo é de fundamental importância atualmente, uma vez que esses espaços têm como um de seus principais objetivos pedagógicos fomentar a leitura dos jovens estudantes e auxiliar no planejamento e na atuação da equipe docente acerca dessa questão. Assim, a biblioteca escolar e a sala de leitura “podem proporcionar aos estudantes dentro da escola, outras oportunidades de leitura e acesso a todo o tipo de informação, com os mais diversos meios e materiais de acesso a essa informação” (BALÇA, 2006, p. 208). Sabemos que a responsabilidade de transformar estudantes em leitores autônomos e críticos exige o desenvolvimento de diferentes habilidades ao longo dos anos pelas famílias e pelas escolas. Queiroz e Maciel (2014, p. 26) ressaltam que “[...] quando se trata de formar leitores, especialmente jovens estudantes das classes populares, as escolas devem criar estratégias e projetos que atraiam sua atenção, considerando a complexidade da leitura e a falta de acesso a materiais de boa qualidade.” Outra grande contribuição pode vir da biblioteca escolar e da sala de leitura, como salienta o professor Silva (1987, p. 23): “Sem bibliotecas na real acepção da palavra e gente especializada para dinamizá-las, continuaremos a incentivar os governos a não agir.” Sem sombra de dúvida, o professor Silva (1987) está nos alertando de que é preciso continuar a luta para o bibliotecário habilitado ocupar seu lugar na escola e contribuir com a formação de leitores críticos e autônomos junto com a equipe docente, como orientam os Parâmetros Curriculares Nacionais desde 1998. No interior da escola, a formação de estudantes que sejam leitores críticos e autônomos não cabe apenas ao professor de língua portuguesa, mas a toda comunidade escolar, inclusive à biblioteca e à sala de leitura. Esses espaços não podem fi car de fora dessa empreitada, já que eles podem garantir mais uma oportunidade de leitura a esses estudantes. Criar momentos de leitura no currículo escolar, além das aulas propriamente ditas, é uma proposta de abrir as portas, alargar os horizontes e ampliar a consciência sobre a leitura de mundo para os estudantes ao longo da vida, especialmente porque o mundo se transforma a todo momento, gerando até difi culdades para acompanhar essas transformações que acontecem em tempo recorde, inclusive no processo de ensino e aprendizagem. Somado às questões da velocidade das transformações no século XXI, o processo de ensino e aprendizagem também é desafi ado a lidar com jovens estudantes denominados de “nativos digitais” em salas de aula, ou seja, uma geração de sujeitos que nasceram após a ascensão da internet em todo o mundo. Essa característica impacta diretamente na forma como esses estudantes encaram o processo de ensino e aprendizagem. Com isso, a escola não pode organizar seu processo educativo do mesmo modo que fazia há 20 anos atrás. É 126 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura premente a necessidade de mudanças no processo de organização do ensino e nos espaços da biblioteca e da sala de leitura. Analisando as transformações tecnológicas e as prerrogativas da educação básica, que deve ser inclusiva nos dias de hoje, temos que a educação inclusiva deve atender a todos os estudantes, sejam eles nativos digitais, plenos ou Pessoas com Defi ciência (PcD) que estão presentes nas salas de aula. Assim, os inúmeros recursos auditivos e visuais disponibilizados pelas invenções tecnológicas tornam a biblioteca escolar e a sala de leitura tradicionais pouco interessantes para esses estudantes. Com isso, talvez a biblioteca escolar e a sala de leitura sejam os espaços que mais demandam transformações para atender aos estudantes nesse momento em nossas escolas. Entretanto, as mudanças na biblioteca e na sala de leitura vão além de simples reformas no ambiente físico e aquisição de novos equipamentos. É necessário, portanto, transformar as ações pedagógicas oferecidas por esses espaços, pois o principal objetivo deles é auxiliar a instituição de ensino na formação de estudantes leitores, inserindo-os de maneira qualifi cada e prazerosa no universo da literatura e do conhecimento sobre a cidadania de nossos tempos. Nessa perspectiva, sugerimos uma atividade para iniciar o processo de mudança na concepção da biblioteca escolar e da sala de leitura que deve ser construída com estudantes de todas as faixas etárias e modalidades de ensino. Essa atividade é a valorização desses espaços. Nessa valorização, cabe, em primeiro lugar, estruturar uma forma dos estudantes conhecerem e reconhecerem os recursos que a biblioteca escolar e a sala de leitura já têm, especialmente, o acervo. Em seguida, construírem juntos com os estudantes e toda a equipe docente novos valores para esses espaços na escola. Muitos estudantes e até profi ssionais de ensino não utilizam a biblioteca da escola nem a sala de leitura. Pasmem, mas é verdade! Se não conhecem os espaços, como eles podem se tornar importante para a comunidade escolar? Para essa valorização, sugerimos que resgatem a história da biblioteca, da sala de leitura ou das duas se tiverem espaço, a partir dos seguintes questionamentos com os estudantes e professores: 127 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 • Você já teve a curiosidade de saber quando a sua escola, biblioteca ou salas de leitura foram criadas e quem as organizou? • Você sabe quais são os livros que fazem parte do acervo da biblioteca e da sala de leitura? • Desse acervo, quantos livros você já leu? • No que você pode contribuir para que a biblioteca e a sala de leitura sejam mais dinâmicas e atendam às necessidades de toda a comunidade escolar? • Qual é a participação da biblioteca e da sala de leitura nas demais atividades da escola? (PIMENTEL; BERNARDES;SANTANA, 2007, p. 74). Com esses questionamentos, estudantes e professores podem refl etir sobre os recursos que já têm na biblioteca e na sala de leitura, observarem a sua efetividade e como eles podem contribuir para o planejamento das programações culturais e pedagógicas desses espaços. Com esse novo modo de planejar, estudantes e professores poderão contribuir para que esses espaços deixem de ser apenas contemplativos e passem a ser mais ativos e atrativos para o processo educativo. Outra sugestão que consideramos importante diz respeito à inclusão da programação da biblioteca e da sala de leitura no projeto político-pedagógico. Essa inclusão pode ser um excelente caminho para desenvolver a valorização desses espaços formativos e construir diversas atividades educativas e culturais, bem como ampliar os serviços para atender à comunidade escolar, inclusive permitir a maior participação da comunidade escolar, fi rmando parcerias com “os líderes comunitários, os sindicatos, as organizações comerciais, industriais, religiosas, autoridades políticas, os artistas, os profi ssionais liberais, as associações de classe, as ONGs e os clubes de serviço, entre outras que se afi nem com os objetivos da escola” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 75). Estabelecer parcerias com associações, entidades e ONGs pode propiciar o envolvimento da comunidade e render benefícios para a escola, inclusive fortalecer a atuação da biblioteca escolar e da sala de leitura. A participação da associação de pais da escola é um exemplo desse fortalecimento. Essas parcerias podem contribuir para aproximar a escola da comunidade, especialmente por meio da biblioteca escolar e da sala de leitura, as quais podem prestar ou trocar alguns serviços com essa comunidade. É importante que a comunidade perceba que a biblioteca e a sala de leitura são bens culturais, os quais lhes pertencem e que podem ser utilizados por ela, seja participando do planejamento, dando sua opinião ou ajudando a tomar as decisões assertivas. Por fi m, para fortalecer o 128 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura trabalho pedagógico da escola como um todo, é de fundamental relevância que a comunidade participe do planejamento do projeto político-pedagógico da escola. Por outro lado, a escola deve acolher essa comunidade para aproveitar seu potencial de ação comunitária tanto quanto sua função específi ca. FIGURA 7 – DINAMIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA FONTE: http://blog.crb6.org.br/artigos-materias-e-entrevistas/bibliotecas- dao-lugar-a-salas-de-leitura/. Acesso em: 12 maio 2020. Dependendo das condições da comunidade, a escola, especialmente a biblioteca e a sala de leitura, pode contribuir, oferecendo serviços de informação à comunidade sobre assuntos básicos, como as dos exemplos do Quadro 5. QUADRO 5 – INFORMAÇÕES SOBRE SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA À COMUNIDADE Saúde – assistência médica, hospitalar, saúde bucal, planejamento familiar, prevenção de doenças, vacinação etc. Emprego – agências de emprego, oferta de concurso público, vagas de ocupação etc. Saúde – assistência médica, hospitalar, saúde bucal, planejamento familiar, prevenção de doenças, vacinação etc. Emprego – agências de emprego, oferta de concurso público, vagas de ocupação etc. Legislação – obtenções de documentos, direitos e deveres, assistência jurídica, obtenção de benefícios etc. Educação – escolas, cursos, bolsa de estudos, ensino profi ssionalizante, estágios, vestibulares etc. Cultura – centros culturais da região, agenda e divulgação de eventos, oferta de cursos relativos à área de música, arte cênica, literatura, religião, entre outros. Transporte – horários dos itinerários dos meios de transportes públicos da localidade, agendamento de passagens, telefones importantes, identifi cação das empresas de transporte etc. Segurança – Defesa Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, 190, entre outros. Conselho Tutelar – proteção integral e denúncia de violência contra criança e adolescentes. FONTE: Adaptado de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 76). 129 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 Em algumas comunidades, essas informações não são facilmente encontradas e tampouco atualizadas, fazendo as pessoas perderem muito tempo com ligações telefônicas que não se completam e gerando gastos fi nanceiros desnecessários. Nesse sentido, os estudantes e profi ssionais da biblioteca e da sala de leitura podem prestar informações valiosas e de qualidade para a comunidade. Para isso, deve-se reservar um local de destaque para divulgá-las, como um quadro de avisos, no site, por e-mail, WhatsApp da escola e até mesmo na rádio comunitária. Dependendo da importância da informação, ela pode se estender aos murais das igrejas, de outras escolas e de outras instituições de grande circulação de pessoas na comunidade. Será que, atualmente, para se formar leitores, basta ter livros na biblioteca e na sala de leitura? De pronto, podemos dizer que ter livros de boa qualidade na biblioteca e na sala de leitura é muito importante, mas esse material sozinho não forma um leitor atualmente, em virtude da diversidade de estudantes que temos na escola, como estudantes nativos digitais, estudantes plenos e outros com defi ciência, estudantes com desenvolvimento global atípico e altas habilidades, considerando que toda escola deve ser inclusiva. Grossi (2008) afi rma que pessoas que não são leitoras restringem a sua vida à comunicação oral e difi cilmente ampliam seus horizontes com ideias diferentes das pessoas próximas com quem convivem. A leitura de diferentes gêneros textuais possibilita o desenvolvimento de habilidades requeridas pela formação leitora crítica e autônoma, como ressalta a citação a seguir: [...] é nos livros que temos a chance de entrar em contato com o desconhecido, conhecer outras épocas e outros lugares – e, com eles abrir a cabeça. Por isso, incentivar a formação de leitores é não apenas fundamental no mundo globalizado em que vivemos. É trabalhar pela sustentabilidade do planeta, ao garantir a convivência pacífi ca entre todos e o respeito à diversidade (GROSSI, 2008, p. 3). Concordamos com Grossi (2008) quando ele afi rma que a leitura tem o poder de desenvolver habilidades e competências bastante complexas para transformar as pessoas com capacidade de ler o mundo de forma crítica e sustentável, buscando desenvolver a ética, o respeito a si mesmo e ao outro, a aceitação da diversidade e a criatividade em relação ao meio sociocultural. Nesse sentido, para alcançar resultados mais positivos junto aos jovens, faz- se necessário que a biblioteca escolar e a sala de leitura sejam mais dinâmicas e criem estratégias que atraiam os estudantes e a equipe docente, com vistas a favorecer as mais diversas formas de expressão cultural e a apropriação das diferentes linguagens. Pimentel, Bernardes e Santana (2007) sugeriram algumas 130 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura estratégias de dinâmicas nas bibliotecas escolares e salas de leitura das escolas que atendem estudantes dos anos fi nais do ensino fundamental, do ensino médio, da educação técnica profi ssional tecnológica e da educação de jovens e adultos, como vemos no Quadro 6. QUADRO 6 – ESTRATÉGIAS PARA DINAMIZAR BIBLIOTECA E SALA DE LEITURA ESTRATÉGIAS DE DINÂMICAS DA BIBLIOTECA E SALA DE LEITURA Exposições artísticas e pintura Roda de leitura Varal de leitura Festival de poesia Sarau literário Ofi cinas literárias Encontros com o escritor do livro Cursos de extensão Apresentações teatrais e musicais FONTE: Adaptado de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 79-80). Assim, as estratégias mencionadas no Quadro 6 podem dinamizar a biblioteca e a sala de leitura nas escolas que atendemestudantes dos anos fi nais do ensino fundamental, do ensino médio, da educação técnica profi ssional tecnológica e da educação de jovens e adultos. Além das estratégias para dinamizar esses espaços, é preciso que a equipe promotora considere os seguintes elementos listados por Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 78): • calendário da programação cultural; • perfi l cultural da comunidade escolar; • qualidade da atividade e sua relação com os objetivos dos espaços promotores de leitura; • tempo de duração da atividade que não poderá ser extensa e estar de acordo com o cronograma preestabelecido para não prejudicar o bom funcionamento das aulas, da biblioteca escolar e da sala de leitura; • horário adequado da atividade (hora do intervalo: recreio, lanche); • frequência ou repetição de apresentação de uma mesma atividade; • recursos para realizar o evento, desde mesas, cadeiras, microfone, computador, pendrive, CD, caixa de som, entre outros; • divulgação da atividade tanto para a comunidade interna quanto a externa. As estratégias para crianças pequenas da educação infantil e estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental na biblioteca escolar e na sala de leitura podem ser criadas para incentivá-los a ler e a desenvolver novas habilidades, pois a leitura: 131 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 [...] é fundamental. Para isso, as políticas de incentivo à leitura se descolem da mera organização de feiras ou da criação de bibliotecas e salas de leitura. O mais urgente é investir em formação de mediadores, professores leitores e bibliotecários capazes de semear o prazer da leitura por todo o país. Mediadores são agentes importantes e efi cientes para fazer da leitura uma prática social mais difundida e aproveitada (LINARD; LIMA, 2008, p. 9). Os autores da citação anterior destacam que a leitura na infância possibilita descobertas de sentimentos, palavras e podem levar as crianças a desenvolverem habilidades e competências leitoras, bem como aumentar substancialmente a capacidade crítica de ler textos e realidade. O ato de ler estimula o imaginário e dá a possibilidade de responder as dúvidas em relação às inúmeras questões que vão surgindo ao longo da vida, o surgimento de novas ideias e o despertar da curiosidade do leitor, fazendo com que ele sempre busque outros textos para ler. Uma das formas de incentivar a criança a ler é apresentá-la aos livros que estimulam a vontade e o prazer. A partir daí, elenca-se diversas vantagens, como a de que ela conheça mundos novos e realidades diferentes para que, dessa forma, ela possa construir sua própria linguagem, oralidade, valores, sentimentos e ideias que levará para o resto da vida. “O livro leva a criança a desenvolver a criatividade, a sensibilidade, a sociabilidade, o senso crítico, a imaginação criadora por meio do texto literário (poesia ou prosa)” (PRADO, 1996, p. 19-20). Indursky e Zinn (1985, p. 56) afi rmam que a “prática leitora não é somente entretenimento ou de uso acadêmico. Ela pode ser uma prática que amplie a visão de mundo do leitor, a qual o sujeito pode contextualizar suas próprias experiências com o texto lido”. Assim, a produção de leitura “[...] consiste no processo de interpretação desenvolvido por um sujeito-leitor que se, defrontando com um texto, analisa, questiona com o objetivo de processar seu signifi cado projetando sobre ele sua visão de mundo para estabelecer uma interação crítica com o texto” (INDURSKY; ZINN,1985, p. 56). Assim, o gostar de ler é construído em um processo individual, coletivo e social ao mesmo tempo, pois ouvir histórias é relevante tanto para os que já sabem ler quanto para aqueles que não sabem. O professor deve buscar compreender as difi culdades particulares que crianças ou estudantes apresentam no momento de ouvir e ler histórias e deve, ao mesmo tempo, estimulá-las a produzir e ouvir textos por meio de várias estratégias, tais como: ▪ hora do conto ou contação de história; ▪ recontos de história; ▪ exposição de desenhos e pinturas sobre uma determinada história ou desenhos livres; 132 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura ▪ desenhos e pinturas coletivas; ▪ escrita de textos e produção de livros com histórias inventadas pelas crianças e estudantes; ▪ apresentações teatrais e musicais; ▪ dramatização de textos e músicas; ▪ varal de textos, livros e poesias; ▪ sarau literário; ▪ encontros com o escritor, buscando aproximar leitor e autor (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 79-80). É importante que, ao fi nal de cada uma dessas atividades, as crianças, os estudantes e a equipe gestora e docente façam a avaliação, identifi cando pontos positivos, o que pode ser feito de uma forma melhor e, quando possível, fazer essa avaliação em conjunto com todos participantes. É importante lembrar, ainda, que as atividades devem atender aos interesses dos participantes, da escola e da comunidade envolvida, para que possam resultar positivamente na circulação de bens culturais, na socialização de ideias e nas experiências vivenciadas. Se os horários permitirem, a biblioteca e a sala de leitura podem desenvolver algumas dessas estratégias de ação para a comunidade na qual a escola está inserida. Além das estratégias, é possível convidar as famílias e a comunidade em geral para participar de ofi cinas, as quais são essencialmente práticas. Se a comunidade tiver interesse, pode participar da elaboração do planejamento das propostas das ofi cinas, as quais podem ocorrer mensal, semestral ou anualmente. Pimentel, Bernardes e Santana (2007) dão diversas sugestões, algumas delas foram incluídas na Quadro 7 a seguir: QUADRO 7 – OFICINAS QUE PODEM DINAMIZAR A BIBLIOTECA E SALA DE LEITURA OFICINAS Contação de história – por meio da arte de contar histórias, procura seduzir o ouvinte ao texto literário. Porcelana fria ou biscuit – confecção de personagens das obras literárias das histórias por meio do conhecimento teórico – prático. Saraus literários - declamação de poesias e textos literários, incluindo a música. Meia de seda – customiza-se meia de seda e produz-se trabalhos manuais relacionados às datas comemorativas do calendário brasileiro. Origami – arte milenar de dobradura em papel muito apreciada por jovens e adolescentes. A atividade pode ser relacionada à confecção de personagens da literatura. Apresentação teatral – apresentação de histórias utilizando vários recursos que valorizam a cultura local. Fuxicos – por meio de retalhos de tecidos confeccionam-se bolsas, capas de almofadas, blusas, colchas de cama e outros artigos artesanais. Caixas artesanais – confecção de caixas de papelão com várias formas e divisórias 133 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 Concurso de poesia – é uma forma de incentivar a produção literária na biblioteca. Máscaras – confecção de máscaras teatrais e folclóricas individuais e personalizadas, além do estudo sobre as várias formas e suas aplicações. Pintura em tela – noções básicas de pintura acrílica e em óleo, utilizando temas inspirados na literatura brasileira. Bonecos – confecção, manipulação, estudo e conceito de bonecos. Palestras e seminários educativos – podem ser de temas atuais ou de acordo com as necessidades da comunidade. Por exemplo: DST/Aids, uso indevido de drogas, gravidez na adolescência, entre outros temas envolvendo a saúde. FONTE: Adaptado de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 79-80). Com a oferta dessas ofi cinas desenvolvidas pela biblioteca escolar, seus serviços e produtos, ela pode se transformar em um ponto de referência para a comunidade geral,além dos estudantes. Solicitamos que assista ao vídeo Nova Escola na sua Escola | Roda de Leitura, elaborado pela Nova Escola por Ana Flavia Alonço, disponível no endereço: https://www.youtube.com/ watch?v=_0xT_wG3tKY. Esse vídeo apresenta em prática uma roda de leitura para educação infantil trabalhando a relação entre textos e ilustrações e, em seguida, a contadora conversa com um grupo de professoras. Após assistir ao vídeo, apresente um texto (com, no máximo, duas páginas) respondendo ao seguinte questionamento: como o profi ssional responsável pela biblioteca escolar ou sala de leitura pode trabalhar a leitura com crianças pequenas, enfatizando aspectos importantes dessa prática? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 134 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Mediação da aprendizagem FIGURA 8 – MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM FONTE: <https://movimentobocalixo.wordpress.com/2011/04/11/ mini-forum-de-leitura/>. Acesso em: 12 maio 2020. Neste tópico, vamos refl etir sobre a importância da aprendizagem. Todo mundo reconhece que um dos principais objetivos da escola é construir possibilidades de aprendizagem do conhecimento e da formação sociocultural dos jovens estudantes. Nesse sentido, a escola deve buscar mediar a aprendizagem, especialmente com os jovens das classes populares, cuja centralidade está na condução das interações planejadas e da intencionalidade pedagógica para construir a autonomia e o desejo de aprender pelos estudantes, como destaca a Professora Maria Teresa de Assunção Freitas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Desse modo, é interessante assistir ao vídeo As características do professor mediador, no qual o Professor Marcos Meier discute essas características de forma detalhada e pode ajudar o projeto da biblioteca escolar e sala de leitura. O termo aprendizagem está sendo entendido aqui como “uma atividade conjunta, em que relações colaborativas entre estudantes e equipe docente podem e devem ter espaço” (MONROE, 2018, s.p.). O professor, como o sujeito mais experiente, deve “ser o grande orquestrador de todo o processo de ensino e aprendizagem. Além de ser o sujeito mais experiente, sua interação é planejada e tem intencionalidade pedagógica” (MONROE, 2018, s.p.), como destaca a professora Maria Teresa de Assunção Freitas. 135 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 Como os estudantes aprendem? De acordo com a teoria sociocultural, a aprendizagem é um processo que se inicia desde o nascimento. No início da infância, a criança aprende explorando o ambiente onde está inserida. Ela se diverte ao ver a chuva cair, os animais, pressiona interruptores e observa o efeito, morde objetos, desmonta brinquedos e vai, assim, descobrindo o mundo. Analisando essas atividades, parece que, para se apropriar dos saberes, basta o contato direto com os objetos de conhecimento. Na realidade, boa parte das relações entre o sujeito e seu meio em nossa cultura não ocorre diretamente. Para levar a água à boca, por exemplo, a criança aprende a utilizar um copo. Para alcançar um brinquedo em cima da mesa, apoia-se em um banquinho. Ao ameaçar colocar o dedo na tomada, muda de ideia com o alerta da mãe - ou pela lembrança de um choque. Em todos esses casos, um elo intermediário se interpõe entre o ser humano e o mundo. De acordo com Vygotsky (2003), essas ações intermediadas são fundamentais para a apropriação do conhecimento e vão diferenciar o homem dos outros animais. O autor demonstrou essa distinção a partir de diversos experimentos realizados com animais. Em um deles, que é comum até hoje entre nós, um macaco conseguia pegar uma banana no alto de uma jaula se visse um caixote no mesmo ambiente. No entanto, se o caixote não estivesse ali, o símio nem tentava experimentar outro objeto para ajudá-lo a pegar a banana e ter sucesso em seu objetivo. Nesse caso, o ser humano age de forma diferente. "Enquanto o macaco precisa ver o instrumento, o ser humano consegue imaginá- lo ou conceber outro objeto e atribuir a mesma função", afi rma a professora Marta Kohl de Oliveira (1997, p. 39), da Universidade de São Paulo (USP), em seu livro Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. O exemplo também é útil para distinguir dois importantes elementos mediadores propostos por Vygotsky (2003), que são: os instrumentos e o signo. Os instrumentos, ao se interpuserem entre o homem e o mundo, vão ampliar signifi cativamente as possibilidades do homem transformar a natureza, por exemplo, o machado representa um instrumento mediador da relação entre o trabalhador rural e o mundo do trabalho, uma vez que o mesmo corta mais e melhor que a mão humana (VYGOTSKY, 2003, p. 78). Vygotsky (2003), na citação anterior, ressalta a importância dos instrumentos para o desenvolvimento humano, já que eles permitiram e ainda permitem ao homem transformar a natureza, como, por exemplo, uma chave de fenda que facilita e qualifi ca a colocação de parafusos para os mecânicos. Uma escada vai contribuir muito para o trabalhador consertar o telhado e uma vasilha vai facilitar o armazenamento de água para preparar os alimentos etc. Alguns animais, 136 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura sobretudo primatas, podem até utilizar instrumentos eventualmente, mas é o homem quem concebe o uso desses instrumentos de modo mais sofi sticado, guardando instrumentos para o futuro, inventando os novos e deixando as instruções para que outros os fabriquem em outros momentos. Outro elemento mediador de suma importância é o signo. Ele é tipicamente humano. Houaiss, em seu dicionário (2010), defi ne o signo como "qualquer objeto, forma ou fenômeno que representa algo diferente de si mesmo". A linguagem, por exemplo, é toda composta de signos: a palavra mesa em nossa cultura nos remete ao objeto concreto mesa. Veja que você pode imaginar agora uma mesa mesmo sem a necessidade de vê-la. Para o homem, a capacidade de construir representações mentais, substituindo os objetos do mundo real é um traço evolutivo importante do nosso desenvolvimento humano: "Essa capacidade de representar mentalmente algo sem ele estar presente possibilita libertar-nos do espaço e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das próprias coisas, fazer planos e produzir intenções", destaca Oliveira (1997, p. 42). Essa característica é fundamental para a apropriação do conhecimento, pois permite ao sujeito aprender por meio da experiência do outro. Uma criança, por exemplo, não precisa pôr a mão na chama de uma vela para saber que ela queima. Esse conhecimento pode ser apropriado com a orientação da mãe ou de uma pessoa mais experiente. Quando o pequeno associa a representação mental da vela à possibilidade de queimadura, ocorre uma internalização do conhecimento - e ele já não precisa das advertências maternas para sua queimadura como destaca Vygotsky (2003). Nesse sentido, Vygotsky (2003, p. 79) ressalta que a “interação (principalmente a realizada entre sujeitos face a face) tem uma função central no processo de internalização (que compreendemos como aprendizagem)”. Ele afi rma, em seu livro A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, que "o caminho do objeto até a criança e sua aprendizagempassa por outra pessoa" (VYGOTSKY, 1998, p. 68). Portanto, a aprendizagem é mediada por outra pessoa mais experiente. O conceito de aprendizagem mediada na escola confere um papel privilegiado ao professor, pois é ele quem planeja as interações com a intencionalidade pedagógica de construir estudantes autônomos, capazes de aprenderem sozinhos e participarem do processo de ensino com vontade de aprender. Esse professor passa a ser, então, o mediador do conhecimento para os estudantes com a intencionalidade pedagógica de promover, assim, a aprendizagem. De acordo com a teoria sociocultural de Vygotsky, as interações com essas características especiais são a base para que o sujeito consiga compreender as representações mentais de seu grupo social e possa internalizar sua cultura. 137 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 O que é ser um(a) mediador(a) da aprendizagem? De acordo com o dicionário Houaiss (2010), o mediador da aprendizagem é aquele que medeia, intermedeia, intervém, propõe e conduz atividades junto aos estudantes com a intenção pedagógica de que eles aprendam. Na perspectiva do desenvolvimento humano construída por Vygotsky (1998), ele enfatiza a importância do aprendizado. Para o autor, existe um percurso de desenvolvimento, em parte defi nido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é o aprendizado que possibilita o despertar do processo interno do desenvolvimento que, se não fosse o contato do sujeito com certo ambiente cultural, não ocorreria, ou seja, “o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores culturalmente organizadas e especifi camente humanas” (VYGOTSKY, 1998, p.101). Essa concepção de aprendizagem reforça a importância que Vygotsky dá ao papel do outro social no desenvolvimento e na aprendizagem dos sujeitos da espécie humana e na escola em particular. Para explicitar essa relação com o outro, Vygotsky (1998) oferece um conceito específi co essencial em sua teoria, ou seja, o conceito de zona de desenvolvimento proximal ou iminente (ZPD). Para Vygotsky (1998, p. 87), a ZPD é: [...] a distância entre o nível de desenvolvimento real (aquilo que o estudante já sabe) que se costuma determinar por meio da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial (aquilo que está em vias de aprender), determinado por meio da solução de problemas sob a orientação de um adulto (na escola pelo professor) ou com a colaboração dos companheiros de classe mais experientes. 138 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 9 – ZONA DE DEZENVOLVIMENTO PROXIMAL FONTE: <https://www.dicaseducacaofi sica.info/abordagem- construtivista-educacao-fi sica/>. Acesso em: 20 maio 2020. FIGURA 10 – ZPD: NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO POTENCIAL FONTE: <https://escribo.com/2019/03/28/desenvolvimento- cognitivo-e-aprendizado/>. Acesso em: 20 maio 2020. Hoje, sabemos que o estudante não se apropria do conhecimento apenas com as interações do professor e da escola, mas, na perspectiva da teoria sociocultural elaborada por Vygotsky (1998), a escola e o professor assumem funções privilegiadas na construção da aprendizagem dos jovens estudantes, especialmente daqueles das classes populares, já que o aprendizado se dá na relação entre os sujeitos. Diante dessa orientação teórica, alguns professores se apressam e organizam aulas em que todas as atividades são realizadas em grupo. Trata-se de um entendimento incorreto do conceito: não é porque a apropriação de conhecimentos ocorre, sobretudo, nas interações com o outro mais experiente, que trabalho pedagógico nas aulas deve ser feito apenas em grupos. Os momentos de trabalhos em grupos na sala de aula são essenciais para a aprendizagem, mas o professor deve planejar também atividades que sejam realizadas com interações do professor e estudantes, estudantes e seus pares (grupos) estudantes em duplas e estudantes sozinhos (individuais e refl exivas), como destaca Freitas (2007). 139 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 Para ter melhor a compreensão sobre a aprendizagem mediada na escola, sugerimos que você assista ao vídeo As características do professor mediador, feito pelo Prof. Marcos Meier, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RtVvvMaSX90. Considerando a aprendizagem que a biblioteca e a sala de leitura na escola procuram construir, é de fundamental importância que as características da mediação da aprendizagem estejam presentes, enfatizando a aprendizagem do conhecimento e a formação cultural dos estudantes, como ressaltamos no Capítulo 2. Naquele momento, afi rmamos que as atividades desses espaços deveriam ir além do trabalho apenas com a leitura. Entretanto, não se trata de desmerecer o trabalho de leitura, pois, a nosso ver, o trabalho com a leitura deve continuar, mas ir além dela, já que vemos a leitura como uma das vias em que todos os estudantes podem utilizar para alcançar a aprendizagem necessária a fi m de estar incluído no mundo letrado. A leitura de vida que fazemos a todo instante nos ajuda a fazer a leitura das letras e dos sinais gráfi cos espalhados ao nosso redor. Partimos sempre da constatação de que a leitura de mundo precede a leitura da palavra, como ressaltou Paulo Freire (1996). Assim, a leitura é um dos principais elementos para o crescimento de mundo do sujeito. Podemos dizer que é pela formação do leitor que se constrói a cidadania e se promove a capacidade de discernimento, da criatividade, da lógica e da pesquisa. Saber ler implica não só aprender a decodifi car sinais gráfi cos e juntar letras, mas aprender a descobrir sentidos. Saber ler é compreender – e não simplesmente decifrar. Quando fazemos a correspondência letra–som, não podemos dizer que estamos realizando uma atividade de leitura. As pessoas que identifi cam as letras, mas não são capazes de dar signifi cados a elas, não compreenderam o que leram, sendo chamadas de analfabetos funcionais. Ler é um processo em que o leitor é instigado a desenvolver, por meio do trabalho mental entre as unidades de pensamento, a construção de signifi cados com base nos conhecimentos já incorporados em seu repertório. Signifi ca estabelecer vínculos entre um número cada vez maior de informações. Você sabia que, enquanto você realiza esta atividade de leitura, um número infi nito de células cerebrais está em funcionamento? Que durante o processo de leitura seu cérebro está em grande atividade? É verdade, ele precisa combinar, ao 140 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura mesmo tempo, os sinais gráfi cos e as unidades de pensamento que constituem a linguagem. Só depois de dominadas essas duas dimensões da leitura é que se pode afi rmar que se adquiriu verdadeiramente a competência de leitora. Assim, para que os estudantes que frequentam a biblioteca ou sala de leitura de sua escola possam ter uma boa formação de leitora, é importante que encontrem sentido naquilo que leem. Por isso, é essencial que os textos selecionados ajudem o estudante compreender o texto, dialogar com as palavras impressas e entrar no imaginário do autor refazendo o percurso da criação. Todo bom leitor é um coautor, pois recria o texto de acordo com suas vivências e constrói uma visão mais ampla de mundo. Quando a leitura acontece de verdade, ela é capaz de nos transportar a outros lugares, situações e tempos passados e futuros. Ler, aqui, é viajar sem sair do lugar. É uma aventura, algo em que mergulhamos e que até nos faz esquecer o momento presente. Essas característicassão relatadas com frequência pelos leitores infantis dos livros de literatura. Para dar suas contribuições à formação leitora das novas gerações, cabe ao profi ssional da biblioteca e da sala de leitura conhecer o acervo desses espaços. Em relação à função do mediador de aprendizagem na biblioteca e na sala de leitura, o profi ssional responsável pode ser visto como o agente que promove a aprendizagem dos estudantes a partir do planejamento das interações elaborado junto com a equipe docente. Esse mediador é, também, como destacam Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 84): “o agente cultural que exerce diversas atividades nesses espaços”. Esse mediador deve selecionar, junto com as crianças e seus professores, títulos literários infantis e contar histórias para crianças, dramatizando textos infantis e promovendo momentos de reconto das histórias ouvidas, desenhos e pinturas desses títulos. Junto com estudantes jovens e seus professores, eles podem selecionar e expor livros de interesse desse grupo, promovendo recitais de poesias, de contos, rodas de leituras, representações teatrais e debates sobre temas de interesse dos estudantes. Além disso, esse agente pode divulgar informações sobre livros, textos literários e espetáculos culturais da cidade, organizar murais e apresentar as novidades do mercado editorial. Desse modo, ele pode dinamizar os espaços da biblioteca e sala de leitura. 141 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 A palavra mediação deriva do latim mediatio, que signifi ca intercessão, interposição, intervenção. Nesse sentido, mediar é posicionar-se entre, é atuar deliberadamente para interferir em um processo ou situação. A interpretação do termo mediar, quando se trata do trabalho educativo do professor e da professora, refere-se ao fato de que ele assume a tarefa de promover o encontro entre dois elementos do processo de ensino e aprendizagem: a criança que aprende e o objeto cultural que é por ela apreendido. Para Vygotsky (2003 apud Bissoli, 2014, p. 589), a “aprendizagem é um processo ativo, e implica a sua participação como sujeito, promovendo o seu desenvolvimento. Ao ouvir uma história, ao cantar uma canção, ao participar de uma brincadeira ou ao aprender para que serve um objeto, a criança passa por uma vivência singular que implica sempre aprendizagem e afeto”. Cabe, ainda, ao mediador de aprendizagem: preparar os espaços da biblioteca e da sala de leitura e acolher a comunidade escolar. Assim, o agente mediador deve estar preparado para receber os diversos tipos de leitores e de não leitores. Fazendo uma analogia, a atuação do agente mediador pode ser comparada à de um agricultor, que prepara a terra, aduba, joga as sementes, irriga e, mais tarde, colhe. O mediador prepara o local, deixa-o agradável e receptivo. Depois, enche o local de livros e textos de qualidade. Após, começa a jogar as sementes, propondo diversas atividades criativas. A partir daí, precisa cuidar e irrigar o pensamento com frequência dos estudantes, para não deixar secar o imaginário e a fantasia. Assim, deve sempre seguir, chamando-os para novas atividades na biblioteca e na sala de leitura para torná-los leitores autônomos e críticos que buscam livremente suas leituras. Pode-se dizer, ainda, em uma nova comparação, que a tarefa principal do mediador da aprendizagem é descobrir a vontade de aprender que há em cada estudante. Aguiar (2001, p. 36) compara esse descobrir com o descobrir a aprendizagem, afi rmando que “a aprendizagem do conhecimento que já mora no estudante e, nós, nos diversos papéis que representamos – como pais, professores, bibliotecários e mediadores de aprendizagem – temos de ajudar o outro em sua descoberta”. No mais, cabe ao mediador: planejar, convidar e recepcionar a comunidade ao deleite de cada uma das atividades. Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 86) ressaltam que: [...] o perfi l de quem quer ser um mediador da aprendizagem na biblioteca escolar e na sala de leitura deve ser, antes de qualquer coisa, de um leitor. Isso mesmo! Como ele poderá 142 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura mediar atividades em uma biblioteca sem ler? O mediador antes de qualquer outra coisa deve conhecer seu produto: o livro. Ele deve saber quais são os principais títulos de sua biblioteca, quais obras podem seduzir melhor seu leitor, ou seja, a comunidade escolar. O mediador da aprendizagem deve estar bem informado e buscar a solução dos problemas que impendem o leitor de despertar para a aprendizagem. Para isso, é preciso que ele, a partir de observações cuidadosas, conheça os estudantes, as manifestações culturais locais, como os estudantes se comportam nas atividades de pesquisas, como escolhem o título e qual o lugar preferido nesses espaços. Enfi m, o que se espera desse mediador é que ele conheça os estudantes e planeje as interações apropriadas para eles. Pimentel, Bernardes e Santana (2007) chamam a atenção de que crianças cada vez mais cedo têm acesso à internet. Diante disso, essas crianças estão passando da condição de iniciantes do processo de aprendizagem à condição de internautas sem estar com as competências e habilidades de aprendizagem totalmente consolidadas. Mas o que há de mal nisso? “As falhas no processo de aprendizagem dessas crianças podem gerar, no futuro, um usuário dessas tecnologias com diversas defi ciências e sem o senso crítico necessário para sua promoção e participação na sociedade” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 91). Por que as crianças preferem a opção eletrônica? Porque o livro exige esforços que demandam tempo, que precisam de concentração, raciocínio, refl exão, dedução e, até mesmo, certa cumplicidade com o autor. Já os meios eletrônicos oferecem uma dinâmica pronta, animada e exigem mínimos esforços do telespectador, como o de apertar botões, alimentando a mais danosa inclinação do ser humano (AGUIAR, 2001). As crianças iniciantes necessitam, ainda, serem despertadas pelo mediador da aprendizagem, o qual seleciona o que há de melhor e oferece uma variedade de gêneros textuais, incluindo os literários, até que elas possam defi nir suas preferências e desenvolvam sua autonomia, como destaca Freitas (2014). E como trabalhar com os jovens estudantes na biblioteca e sala de leitura? Cremos que é preciso adentrar no mundo dos jovens estudantes para entendermos suas expectativas em relação à aprendizagem e ao que pensam a respeito do momento atual e de sua formação cultural. Se os jovens estudantes receberam em sua infância bons estímulos, eles terão desenvolvidas muitas habilidades e competências e buscarão por si só textos de qualidade para lerem na biblioteca e na sala de leitura, pois nesse momento esses jovens estão descobrindo seu mundo interior e seu egocentrismo crítico, organizando seu plano de vida e seus valores. De um modo geral, o interesse desses jovens está relacionado à leitura de livros de aventuras, romances sensacionais e relatos de viagens. Entretanto, como cada um tem o seu gosto, esses espaços precisam contemplar os interesses 143 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 dos jovens, oferecendo títulos de diversos gêneros a esses sujeitos: poesias, contos, notícias, crônicas, romances, teatros, histórias em quadrinhos, charges inteligentes, textos informativos etc. Quando os jovens estudantes são expostos a diversos gêneros, aumentam as possibilidades de eles se tornarem capazes de exercer sua autonomia e amadurecer suas competências para a aprendizagem. Ele começa a selecionar o que lhe interessa, a ser mais crítico e a exigir a leituracom mais conteúdo, mais argumentos e mais possibilidades de interpretação. É preciso colocar os jovens estudantes em situações em que eles possam observar e analisar a diversidade de materiais que a língua oferece, seja em termos de ritmo e de sonoridade ou de signifi cação. É necessário apresentar o texto literário como uma obra de arte que é desenhada e imaginada. Uma vez encantados com a leitura e a aprendizagem, os jovens estudantes podem se motivar a aprender e passarão a procurar materiais de estudos de boa qualidade. Isso não é difícil de entender. Pense no que mais gosta de fazer. Você precisa ter alguém o motivando o tempo todo para fazer o que gosta? Claro que não. Uma ideia que agrada muito é o sarau literário, momentos de rap ou sarau poético. Aliar essas atividades com a música é realmente estimulante para esses estudantes nessa fase. Nesse momento, é bom explorar outras habilidades e competências dos estudantes, como, por exemplo, quem toca violão, fl auta ou qualquer outro instrumento ou, quem sabe, repentista de literatura de cordel, cantor de música clássica ou de música sertaneja? No recital ou sarau, procure livros de poesia ou com personagens que o grupo considera importante. Outras atividades que podem chamar a atenção das crianças e jovens na biblioteca e na sala de leitura são exposição de charadas, parlendas, adivinhações (“o que é, o que é?”), travas-línguas, piadas, curiosidades, apresentações teatrais que podem ocorrer mensalmente e, ainda, construir murais interativos que podem ser colocados em lugar de destaque na biblioteca ou sala de leitura. Neles, os estudantes poderão sugerir títulos que tenham interesse em ler, títulos que ainda não leram e críticas ao enredo, à ilustração, às personagens, entre outras. Os profi ssionais responsáveis pela biblioteca e sala de leitura podem colocar estantes ou expositores em lugar de destaque com as novas aquisições de livros feitas pela biblioteca ou sala de leitura, sejam livros comprados, doados, lançamentos do mercado editorial ou títulos que a biblioteca ainda não tenha, mas já está em vias de adquiri-los. Avise aos estudantes com um cartaz sinalizando que são novas aquisições. Também, uma vez por mês, programe um dia de vídeos ou fi lmes com títulos de interesses dos estudantes e crie um ambiente gostoso e aconchegante. Por último, veja as dicas para incentivar a aprendizagem na biblioteca e na sala de leitura, elaboradas por Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 100). 144 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Dica 1 – Tudo o que fi zer na biblioteca ou na sala de leitura fale do livro, do autor, do ilustrador. Esse é o seu principal produto. Em tudo que fi zer coloque o livro. Deixe claro que uma atividade diferente de leitura ou uma determinada apresentação artística foi inspirada em livros. Dica 2 – Avise com antecedência à escola qualquer atividade programada na biblioteca escolar ou na sala de leitura. Talvez, algum estudante queira usar a biblioteca para estudo ou pesquisa e vai encontrar um ambiente agitado e festivo, o que pode ser desagradável para o usuário no momento. Dica 3 – Como troféu, para qualquer premiação, dê um livro ou algo relacionado à leitura como, por exemplo, um marcador de páginas. Assim, o mediador da aprendizagem poderá planejar várias atividades ricas, convidando os estudantes para participar do planejamento e da organização, envolvendo-os ativamente e relacionando as atividades com foco na interdisciplinaridade de diversas disciplinas. Solicitamos que assista aos vídeos O que acontece quando lemos, elaborados pelo Programa TV Escola. Disponíveis no endereço: https:// www.youtube.com/watch?v=TMORNt4tfo0 e https://www.youtube. com/watch?v=Et4B29WyW_s. Os vídeos apresentam algumas pistas sobre a prática de leitura, como, por exemplo, a facilidade que temos de ler o texto de um assunto que já conhecemos, a velocidade dos olhos na leitura e quando compreendemos um assunto ou apenas quando deciframos. Fazendo uso do conhecimento adquirido e dos aspectos abordados nos vídeos supracitados, apresente um texto de, no máximo, três páginas, respondendo ao seguinte questionamento: o que acontece quando lemos atualmente? _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ ______________________________________________________ 145 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 2.2 BIBLIOTECAS PÚBLICAS E COMUNITÁRIAS E ALGUNS PROJETOS COMUNITÁRIOS E SEUS BENEFÍCIOS PARA A COMUNIDADE EM GERAL A criação de bibliotecas populares me parece uma das atividades mais necessárias para o desenvolvimento da cultura brasileira. Não que essas bibliotecas venham resolver qualquer dos dolorosos problemas de nossa cultura [...] mas a disseminação, no povo, no hábito de ler, se bem orientada, criará fatalmente uma população urbana mais esclarecida, mais capaz de vontade própria, menos indiferente à vida nacional (ANDRADE, 1957, p. 7). Nesta seção, discutimos com você acerca dos elementos que identifi cam bibliotecas públicas e comunitárias, suas distinções e benefícios para a comunidade em geral, já que essas bibliotecas são pensadas e organizadas pelas próprias comunidades. Desse modo, apresentamos algumas contribuições, ações e projetos de bibliotecas comunitárias e de salas de leitura construídas por iniciativas populares e seus benefícios para toda a comunidade a partir dos seguintes objetivos: ● analisar elementos que caracterizam as bibliotecas públicas e comunitárias, suas distinções e seus benefícios para a comunidade em geral; ● apresentar contribuições, ações e alguns projetos de bibliotecas comunitárias construídos por iniciativas populares e seus benefícios para a comunidade em geral. Dialogar sobre as bibliotecas é de fundamental importância. Essa importância foi confi rmada na voz de Mário de Andrade desde o ano de 1939, quando expressou essa convicção a respeito das bibliotecas populares de forma assertiva e poética, especialmente quando afi rma, conforme a citação acima, que a organização de espaços leitores é uma atividade extremamente necessária para ampliar a consciência cidadã dos homens, bem como torná-los corresponsáveis pela vida nacional. Dito isso, convido você a conhecer um pouco mais sobre as bibliotecas públicas e comunitárias, como destaca a Figura 11. 146 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 11 – BIBLIOTECAS PÚBLICAS E COMUNITÁRIAS FONTE: <http://www.cultura.mg.gov.br/component/gmg/story/5567-biblioteca-publica- estadual-amplia-prazo-para-devolucao-de-livros>. Acesso em: 1º maio 2020. Consideramos de fundamental importância discutir sobre a importância das bibliotecas pública e comunitária, esclarecendo a atuação de cada um desses espaços formativos para a comunidade. Para essa discussão, recorremos a autores que vêm se dedicando a essa temática, como: Soares, Martins, Alves, Martos, Bonfuoco, Pegoraro e Ferraz. Para eles, as bibliotecas públicas podem ser: federal, estadual e municipal, ou seja, são bibliotecas implantadas, organizadas e mantidas por órgãos estatais que servem a uma população um pouco maior, como uma cidade ou estado. Já as bibliotecas comunitárias podem ou não ser subordinadas ao governo, mas atendem a populações menores, como bairros ou comunidades.A biblioteca comunitária, “por estar mais próxima de seus usuários estabelece um vínculo maior com eles, mostrando que ela é parte integrante da comunidade” (SOARES et al., 2019, p. 405). Por outro lado, a defi nição de biblioteca comunitária é “marcada por divergências entre alguns autores. Muitos deles conceituam a biblioteca comunitária como sendo pública ou popular” (MACHADO, 2008, p. 81). Já biblioteca pública tem como objetivo servir aos interesses dos usuários sem fazer qualquer distinção e despertar em seus usuários a consciência da participação social. Assim, o instrumento mais valioso de que dispõe uma biblioteca pública é o serviço de informação à comunidade, pois, ao fazer isso, ela estará cumprindo sua verdadeira missão: levar a informação e o conhecimento a todos os participantes. É relevante considerar que as bibliotecas públicas contribuem para a formação da população usuária e serve como estímulo ao desenvolvimento da indústria editorial. Por isso, surge a necessidade, por parte das autoridades, de valorizar essas instituições, cumprindo com o dever de oferecer à comunidade 147 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 todos os serviços relacionados à cultura, ao incentivo à leitura e à informação aos cidadãos que vão contribuir com o desenvolvimento da sociedade. Nessa perspectiva, os sociólogos do conhecimento Berger e Luckmann (1996) trabalham com conceitos da realidade e ordens sociais, instituição, ideologia, identidade e memória. Desse modo, apresentamos o conceito elaborado por esses sociólogos no que se refere às bibliotecas públicas e comunitárias. Para eles, essas bibliotecas “são espaços integrados à sociedade, as quais fazem parte, vez que se encontram inseridas em um determinado contexto político e cultural” (BERGER; LUCKMANN, 1996, p. 45). Entretanto, ressaltam que tal contexto não é neutro, podendo tanto sofrer infl uências quanto ser infl uenciado no momento de organizar e difundir o seu acervo e informações. Por outro lado, essas bibliotecas podem, por meio dos próprios serviços prestados, promover mudanças nas mentalidades de seus usuários. Para atender a todos esses públicos, a biblioteca pública deverá contar com um acervo variado e generalista, pois será tarefa quase impossível se aprofundar em todas as áreas do conhecimento. Além do acervo, torna-se relevante oferecer vários suportes e mídias, acompanhando as mudanças e atualizações dos equipamentos tecnológicos. Por outro lado, a biblioteca não pode ser um local inerte e frio, mas “um lugar onde convergem informações sobre o mundo, dados locais e globais, fragmentos de saber e da realidade, fi cção e obras verossímeis” (BRETTAS, 2010, p. 107). Entretanto, a biblioteca pública não pode desprezar seu papel de preservar a memória local, guardando e disponibilizando a produção cultural de sua comunidade e região (FERRAZ, 2014; IFLA, 1994). No Brasil, outro fator que se confi gura de extrema importância no que se refere à leitura como um direito fundamental de qualquer cidadão é a Lei nº. 10.753, de 30 de outubro de 2003, que fi cou nacionalmente conhecida como a Lei do Livro. Essa lei tem como objetivo instigar e garantir a leitura a todos os brasileiros, assegurando ao cidadão o pleno exercício do direito de livre acesso e uso de livros, independentemente de o suporte ser físico ou digital (BRASIL, 2003). Além disso, essa lei também instiga a exportação de livros brasileiros para outros países, estimulando a produção intelectual e cultural dos escritores e autores brasileiros, assegurando o acesso à leitura para portadores de necessidades especiais e visando à ampliação de bibliotecas em todo o país. 148 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Biblioteca comunitária, iniciativas livres e seus projetos Neste tópico, buscamos dialogar com você sobre algumas contribuições acerca da biblioteca comunitária, das iniciativas livres e dos projetos de bibliotecas construídos por iniciativas populares e seus benefícios para a comunidade em geral. Para iniciar o nosso diálogo, vamos abordar a biblioteca comunitária ou iniciativas livres e as vantagens que esse espaço cultural pode trazer para a comunidade como um todo. Para isso, recorremos a autores como Guedes (2002) e Machado (2008), que vêm se dedicando a estudar essa temática há algum tempo. Guedes (2002, p. 1) pontua que as bibliotecas comunitárias são “[...] ambientes físicos criados e mantidos por iniciativa das comunidades [...]”, cujo objetivo principal é ampliar o acesso da comunidade à informação. Para o autor, a biblioteca comunitária “pode ser considerada um lugar de importante inclusão social, sendo que ela possui, como público-alvo, aqueles que não têm fácil acesso à leitura, informações e bens culturais” (GUEDES, 2002, p. 1). Ressaltamos que, apesar de esses espaços serem chamados de bibliotecas comunitárias, não é obrigatória a presença do bibliotecário enquanto disseminador, mediador da informação, promotor e incentivador da leitura e da aprendizagem, pois são mantidos pela própria comunidade local, a qual desempenha a função de incentivadora da leitura, da aprendizagem e da disseminação informacional. Machado (2008, p. 50) defi ne a biblioteca comunitária como um “[...] espaço estratégico para implantação de políticas públicas de inclusão social e cultural” e que tem os “mesmos objetivos da biblioteca pública, que são promover o acesso à informação e ao conhecimento, estimular a aprendizagem, a leitura e sua compreensão por meio de ações voltadas a essa disseminação” (MACHADO, 2008, p. 51). É, ainda, um “espaço de acolhimento e vivência [...] com suas ações e serviços organizados com base na realidade e conhecimento local” (MACHADO, 2008, p. 51). Já Soares (2010) afi rma que a biblioteca comunitária tem: [...] autonomia quanto ao horário de funcionamento, tendo em vista que não há um regimento padronizado para esse tipo de biblioteca, podendo atender ao seu público de acordo com a demanda ou, casos raros, com a disponibilidade de horário de seus idealizadores, quando os mesmos são responsáveis pelo seu bom funcionamento (SOARES, 2010, p. 3). Geralmente, o acervo da biblioteca comunitária é formado por doações da própria comunidade em que a biblioteca comunitária está inserida (SOARES, 149 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 2010) e de outras contribuições de pessoas interessadas nesse tipo de ação. Horta e Rocha (2017) ressaltam que as bibliotecas comunitárias podem ser vistas como um instrumento de democratização e acesso à leitura, à aprendizagem e à informação. Nesse sentido, Machado (2019, p. 91 apud Soares et al., 2019) diz que as bibliotecas comunitárias são constituídas “[...] do desejo e da necessidade de um determinado grupo de pessoas em ter acesso ao livro, à aprendizagem dos jovens, à informação e à prática da leitura num real exercício de cidadania”. Em síntese, uma biblioteca comunitária pode ser reconhecida pelas características elaboradas por Machado (2008) em seu estudo. Essas características vão distingui-la de uma biblioteca pública. São elas: ● forma de constituição: são bibliotecas criadas efetivamente pela e não para a comunidade, como resultado de uma ação cultural; ● perspectiva comum do grupo em torno do combate à exclusão informacional como forma de luta pela igualdade e justiça social; ● processo de articulação local e o forte vínculo com a comunidade; ● referência espacial: estão, em geral, localizadas em regiões periféricas; ● fato de não serem instituições governamentais, ou com vinculação direta aos municípios, estados ou federações(MACHADO, 2008, p. 60-61). Concordamos com Machado (2008) quando ela ressalta que o mais importante em relação às bibliotecas comunitária e pública é que ambas contribuem para o desenvolvimento das pessoas da comunidade, todavia parece que a biblioteca comunitária, por atuar em áreas de periferias, contribui mais ainda, por possibilitar o acesso à informação, à aprendizagem e ao conhecimento para sujeitos que difi cilmente teriam acesso a esses conhecimentos se não tivesse esse espaço na comunidade. Por outro lado, a biblioteca comunitária nasce ancorada no interesse e necessidade de um grupo de moradores. Sua implantação e construção são concebidas pelos membros dessa própria comunidade, bem como seu gerenciamento (MACHADO, 2008). Por essas características, não se exige a presença de um bibliotecário para gerenciá-la. No entanto, muitas vezes, essa desobrigação em relação ao profi ssional bibliotecário pode comprometer a qualidade e os serviços prestados dessa biblioteca devido à ausência desse profi ssional (MACHADO, 2008). Machado (2019, p. 92) pontua que a biblioteca comunitária se fundamenta em “cenários e conjunturas específi cos que envolvem iniciativas e ações práticas 150 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura de indivíduos ou associações ao visualizar a necessidade de um espaço voltado para disponibilidade de acesso ao conhecimento e informações para uma população de determinada região” que sofre da ausência ou possui difi culdade de alcance a uma biblioteca pública. A título de ilustração, nas Figuras 12 e 13 apresentamos seis experiências de bibliotecas comunitárias em diversos países com o objetivo de promover o acesso à leitura de forma prazerosa entre a população. Nossa intenção, aqui, é mostrar como a leitura é um tema caro a todas as sociedades letradas. Ao mesmo tempo, há diversas possibilidades de atender às necessidades da formação de leitores. FIGURA 12 – EXPERIÊNCIAS EXITOSAS DE BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS EM DIVERSOS PAÍSES FONTE: <https://www.archdaily.com.br/br/01-120328/seis-casos-bem-sucedidos-de- bibliotecas-comunitarias-que-promovem-o-acesso-a-leitura/51bcfca1b3fc4ba712000030- seis-casos-bem-sucedidos-de-bibliotecas-comunitarias-que-promovem-o- acesso-a-leitura-foto?next_project=no>. Acesso em: 12 maio 2020. As experiências de bibliotecas comunitárias mencionadas nas Figuras 12 e 13 são iniciativas livres, que buscam prestar serviços importantes de democratizar a leitura e a informação, já que elas fazem os livros chegarem a pessoas que estão em situações e lugares os quais as impedem de terem acesso aos livros, à leitura, à aprendizagem e à informação. Por outro lado, essas alternativas buscam incentivar à leitura prazerosa e antiburocráticas, em que todos têm acesso aos livros, sem problemas com a apresentação de documentos e comprovantes de residência, os quais 151 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 acabam por excluir muitas pessoas da convivência com livros e informações aprofundadas, como pessoas de passagem, turistas, não residentes, estrangeiros e, principalmente, pessoas em vulnerabilidade social. As bibliotecas comunitárias são uma maneira autônoma de promover o acesso facilitado ao livro, encorajar a leitura, incentivar a aprendizagem, estimular a busca por informações seguras e transformar essa relação com os livros mais íntima para as pessoas que estão excluídas, especialmente das pessoas que estão excluídas das livrarias e dos espaços de leitura tradicionais em vários países, como mostra a Figura 13: FIGURA 13 – EXPERIÊNCIAS EXITOSAS DE BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS EM DIVERSOS PAÍSES FONTE: Adaptado de: <https://www.archdaily.com.br/br/01-120328/ seis-casos-bem-sucedidos-de-bibliotecas-comunitarias-que- promovem-o-acesso-a-leitura>. Acesso em: 12 maio 2020. As bibliotecas comunitárias ou livres “são uma via alternativa para abraçar mais gente com livros, com a leitura e com o conhecimento” (MACHADO, 2019, p. 93). Um exemplo dessas bibliotecas e editoras é a iniciativa das Cartoneros Populares. Antigo ônibus elétrico transformado em Biblioteca Bonde Otets Paisiy. Projetado pelo Studio 8 1/2, criado não só para incentivar a leitura, mas revitalizar a zona da cidade, Bulgária. Seu interior foi equipado com confortáveis assentos de leitura. 152 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 14 – LIVROS PRODUZIDOS PELO COLETIVO CARTONEIROS POPULARES FONTE: <http://www.bibliotecasdobrasil.com/2019/12/democratizacao- da-leitura-atraves-das.html>. Acesso em: 20 maio 2020. Participam da iniciativa Cartoneras Populares artistas solo e coletivas com um nível de consciência bem desenvolvido da realidade das publicações independentes, as quais enfrentam sacrifícios fi nanceiros diários. São artistas, professoras, bibliotecárias, educadoras, mediadoras de leitura, escritoras, revolucionárias, outsiders e pessoas do dia a dia que entendem o que é ser desfavorecido(a) fi nanceiramente para além dos seus meios, bem como apresentamos algumas ações, recursos, atividades e projetos que vislumbram fortalecer a integração entre escola e comunidade em geral. Com capas de papelão, pintados e costurados à mão, os livros são chamados de livros "cartoneros”. Os livros são publicados para partilhar as experiências dos artistas com projetos de incentivo à leitura e à aprendizagem informais. Eles são uma ótima maneira de começar a se situar no assunto, ter uma ideia de vários detalhes e aprender a fazer um projeto autônomo, independente e com os recursos que você tem ao seu alcance. São leituras importantes, que poderão ajudar as famílias, como os livros produzidos pelo grupo destacados na Figura 15. FIGURA 15 – LIVROS PRODUZIDOS PELO COLETIVO CARTONEIROS POPULARES FONTE: <http://www.bibliotecasdobrasil.com/2019/12/democratizacao- da-leitura-atraves-das.html>. Acesso em: 20 maio 2020. 153 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 As vantagens da biblioteca comunitária são estar mais próxima e aberta à população, já que, “se as bibliotecas municipais fechassem, muito pouco seria alterado, ou seja, [...] não haveria estranhamento uma vez que entre o acervo e a população não foram construídos vínculos” (MILANESI, 2002, p. 91). Geralmente, esse vínculo é percebido mais claramente em uma comunidade que se disponibiliza a criar seu próprio acervo e projetos, muitas vezes partindo de uma iniciativa de um pequeno grupo ou por um apenas um sujeito que se propaga entre os demais membros da localidade, principalmente no que se diz respeito à cultura e sua manutenção. Para melhor compreender as bibliotecas comunitárias, sugerimos que você assista ao vídeo Biblioteca Comunitária do Bosque, localizada em São Sebastião. O vídeo está disponível no endereço: https://tvbrasil.ebc.com.br/reporter-df/2018/07/conheca- bibliotecas-criadas-e-mantidas-pela-comunidade-do-df. O conhecimento da comunidade trará às bibliotecas indicações reais para determinação do acervo e dos serviços a serem prestados, sempre a partir dos anseios e necessidades da comunidade. Para isso, é preciso que a profi ssional responsável pela biblioteca “esteja atento a essa questão, participe da vida da comunidade” (ALMEIDA JUNIOR, 1997, p. 78). É preciso reforçar o envolvimento no lado social e se tornar parte da comunidade, trabalhando para disseminar o conhecimento e a educação daqueles que são privados de tal privilégio. FIGURA 16 – LIVROS PRODUZIDOS PELO COLETIVO CARTONEIROS POPULARES FONTE: <http://www.bibliotecasdobrasil.com/2019/12/democratizacao- da-leitura-atraves-das.html>. Acesso em: 20 maio 2020. 154Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura A biblioteca é a mais antiga e frequente instituição identifi cada com a cultura. Desde que o homem passou a registrar o conhecimento, ela esteve presente, colecionando e ordenando tabuinhas de argila, papiros, pergaminhos e papéis impressos. Pode- se facilmente identifi car a biblioteca como importante meio para a manutenção da cultura, não apenas como um depósito de livros, mas como organismo atuante para práticas culturais desenvolvidas por seus responsáveis diretos. Não é aceitável que o conhecimento fi que somente registrado, ele precisa ser disseminado para o maior número de usuários possível (MILANESI, 2003, p. 24). Você já imaginou abrir a geladeira e encontrar um livro? Os moradores de Ibiá, na região do Alto Paranaíba, no estado de Minas Gerais, já têm essa oportunidade. O projeto Geladeira Literária está transformando eletrodomésticos sem uso ou com defeito em bibliotecas comunitárias espalhadas pelos principais pontos da cidade. A ideia é simples: o acesso aos livros e a outros gêneros textuais é livre, sem formalidades ou burocracias. Qualquer pessoa pode abrir a geladeira, escolher um livro, levar para casa pelo tempo que quiser e devolver em uma das dez bases do projeto. Nesse caso, a geladeira “velha” foi utilizada para guardar esses materiais e simbolicamente comunicar aos leitores que eles podem saciar outro tipo de “fome”, isto é, o desejo de ler e de se informar na sociedade do conhecimento (CAVALCANTE; FEITOSA, 2011; MILANESI, 1986). FIGURA 17 – BIBLIOTECA COMUNITÁRIA: PROJETO GELADEIRA LITERÁRIA FONTE: <https://ammg.org.br/noticia/projeto-geladeira- literaria/>. Acesso em: 12 maio 2020. No projeto Geladeira Literária, crianças, jovens e adultos encontram livros apropriados às suas faixas etárias. O projeto tem como objetivo incentivar a 155 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 leitura de todos os sujeitos que frequentam o espaço. Por outro lado, o projeto busca, ainda, “desburocratizar o acesso à leitura e levar o livro onde estão as pessoas. As geladeiras fi cam localizadas nos pontos de maior circulação de pessoas, próximo a escolas e praças” (PIO, 2019, s.p.). Para uma das voluntárias do projeto, o projeto “acredita que todo mundo é bem-intencionado e, se você acredita nas pessoas, as respostas serão sempre positivas” (PIO, 2019, s.p.). Esse projeto se destina a incentivar a leitura das pessoas dos bairros periféricos. O acesso aos livros e a outros gêneros textuais é livre, sem formalidades ou burocracias. O projeto foi pensado a partir da experiência do projeto Geladeira Cultural, que é realizado há 4 anos, em 39 bairros da região metropolitana de Recife e Olinda com 42 geladeiras. Os recursos (geladeiras e material de leitura) foram doados pela comunidade que desejava receber o projeto. Ali, as geladeiras fi cam em associações de moradores, clube de mães e centros sociais. Cada geladeira tem um padrinho ou uma madrinha que cuida para que esse espaço esteja sempre limpo e organizado. Os recursos para manter o projeto vêm dos próprios voluntários, que se mobilizam para arrecadar livros com a rede de contatos particular. Uma das prateleiras de cada geladeira fi ca disponível para que qualquer pessoa contribua com a doação de livros. No Distrito Federal, com o mesmo propósito do projeto Geladeira Cultural de Recife e Olinda, que é fomentar o gosto e o acesso à leitura. O produtor cultural e videoartista baiano Lucas Rafael, que reside no Distrito Federal há alguns anos, resolveu dar um bom uso a uma geladeira velha que tinha em casa. Ele passou a usá-la como depósito para guardar livros e convidar as crianças de sua comunidade para tomá-los emprestados e lê-los. Esses foram os primeiros passos para a criação de um projeto de leitura que está ganhando força Brasil a fora, que é o Geladeira de Livros. Segundo o seu idealizador, ele tem sido identifi cado por outros nomes, de acordo com a localidade. O material para compor o projeto Geladeiras de Livros surgiu do resultado de uma campanha de livros usados, idealizada por um grupo de estudantes de uma faculdade, incluindo o idealizador. Durante os oito primeiros meses, o projeto funcionou na casa do produtor cultural que residia em uma comunidade de classe popular que tem apenas uma biblioteca pública, mas ela fi ca distante de sua quadra residencial. A única recomendação que as crianças recebiam é de que deveriam ter cuidado com o material para que outras crianças pudessem também ler e, quando fi nalizassem a leitura, devolvessem à geladeira. Foi também possível constatar que iniciativas como o projeto em questão, de certa forma, visam suprir a ausência dos poderes públicos nas comunidades 156 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura populares do Brasil. Geralmente, o número de bibliotecas públicas nas cidades é reduzido e, quando há biblioteca, ela está distante das pessoas que mais precisam desses recursos (MACHADO, 2008) Além disso, em algumas cidades não há livrarias ou centrais de vendas. Nesses casos, é preciso que o Ministério da Educação priorize essas cidades nos programas de distribuição de livros para as instituições educativas, pois a formação leitora geralmente está somente a cargo das escolas brasileiras. Com relação à importância da informação para a formação das pessoas, vale ressaltar que essa formação possuiu uma capacidade transformadora, visto que, em determinadas ocasiões, a informação atua na subjetividade delas, integrando o processo de sua autonomia e se libertando das amarras invisíveis que se fazem presente. Sabendo da importância da leitura para a transformação social e cultural do povo em consonância com motivações da comunidade, Almeida Júnior (1997, p. 94) afi rma que iniciativas como a do projeto Geladeiras de Livros (Distrito Federal), Geladeira Cultural (Pernambuco) e Geladeira Literária (São Paulo) têm “importância social para formação leitora e cidadã para essas comunidades de pessoas pobres e pode assumir, no meio em que está inserida, como fator de transformação do ambiente social”. Marisa Jesus (2007, p. 3 apud Blank e Sarmento, 2010, p. 2) alerta para a necessidade da “[...] existência de bibliotecas comunitárias que atendam às necessidades de informação, [que podem] minimizar a exclusão social”. Contudo, o próprio Almeida Júnior diz que “o desenvolvimento da formação leitora deve ser pensado como objetivos principais das políticas básicas essenciais” (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p. 98). Os projetos de leitura citados têm objetivos semelhantes e podem auxiliar na formação leitora dos participantes, bem como no exercício da cidadania, pois propiciam o acesso à informação, ao livro, às artes e à cultura. Esse conjunto de elementos, aliado ao desejo/interesse dos participantes, é capaz de interferir positivamente na emancipação social e na formação cidadã, conscientizando-os da possibilidade de torná-los cidadãos críticos. O projeto Geladeira de Livros vem imprimindo transformações na comunidade desde o incentivo à leitura, a apropriação de conhecimentos e o desenvolvimento pessoal daqueles que residem naquela localidade, além do empoderamento do grupo dos adultos na condução do projeto para outras pessoas da comunidade. Sobre o sucesso do projeto, a comunidade relata que é grande, já que acreditam que ajudar a comunidade com forma simples de incentivo à leitura pode fazer a diferença para algumas crianças e idosos. 157 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 É possível que outras comunidades, se tiverem interesse, podem desenvolver o projeto. Para isso, bastarecorrer ao apoio da própria comunidade para doar geladeiras velhas, livros e revistas. É importante se lembrar que, para implantar o projeto em local público, faz-se necessário buscar autorização da prefeitura ou do órgão competente. Esses órgãos podem auxiliar, também, na difusão do projeto em conjunto com a comunidade que necessita desse incentivo. Para melhor compreender as bibliotecas comunitárias, sugerimos que você assista ao vídeo Biblioteca Comunitária Ecofuturo. Esse vídeo está disponível no endereço: http://www.ecofuturo.org.br/blog/ projeto/bibliotecas-comunitarias/biblioteca-comunitaria-ler-e-preciso/. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Para fi nalizar este capítulo, realizaremos uma rápida síntese dos diálogos que compuseram o texto. Inicialmente, contextualizamos a temática, dialogando sobre o alinhamento entre o processo de ensino e aprendizagem e verifi cando se os serviços prestados pela biblioteca escolar e sala de leitura estavam atendendo às necessidades da comunidade escolar. Após a contextualização, discutimos, ancorados no estudo de Pereira (2016), a concepção da comunidade escolar sobre a biblioteca escolar e a sala de leitura, a partir do olhar dos estudantes, professores e gestores de uma escola. Observamos que os estudantes são interessados em sua formação escolar, mas poucos frequentam a biblioteca da escola, sendo que os professores ainda não desenvolveram um planejamento da programação da biblioteca e da sala de recursos com os profi ssionais responsáveis pelos espaços formativos. Em outro momento, discutimos as bibliotecas públicas e comunitárias, sinalizando a relevância de cada uma delas, suas características, objetivos e funções. Assim, observamos que a biblioteca pública é mantida de forma geral pelo poder público e a biblioteca comunitária surge da iniciativa de uma pessoa ou um grupo de suas comunidades, por isso tem grande poder de vincular a comunidade à prestação de serviços. Discutimos, ainda, elementos que caracterizam as bibliotecas públicas e comunitárias, suas distinções e benefícios que trazem para a comunidade em geral por meio de alguns projetos de bibliotecas comunitárias construídos por iniciativas das comunidades. 158 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Por último, apresentamos alguns projetos de biblioteca pública que buscam incentivar a leitura a partir de estratégias simples, mas interessantes, em seis países diferentes. Por fi m, dialogamos sobre um projeto de biblioteca comunitária em nível nacional, que é realizado em Pernambuco, Minas Gerais e no Distrito Federal. Para discutir de forma mais aprofundada a temática proposta, inserimos outras vozes a partir de vídeos, artigos, textos, resultados de pesquisas, projetos de biblioteca e sala de leitura e notícias jornalísticas com entrevistas de especialistas que vêm se dedicando a estudar essa temática. Ainda, propomos atividades que podem oportunizá-lo a sistematizar seu estudo e aprendizagem. Leia o artigo O papel da biblioteca comunitária na construção dos direitos humanos, publicado por Diogo Andres Salcedo e Mariana Alves na Revista Digital de Biblioteconomia e Ciências da Computação. Faça suas anotações e, em seguida, apresente um texto no qual discuta as ideias apresentadas pelos autores, explicitando a importância da biblioteca comunitária para a construção dos direitos humanos. Recomendamos ao estudante que articule as informações do artigo e as discutidas neste capítulo. _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ 159 INTEGRAÇÃO DDA BIBLIOTECA, A BIBLIOTECA, DDA UNIDADE A UNIDADE DDE ENSINO E ENSINO EE DDA COMUNIDADE ESCOLAR, A COMUNIDADE ESCOLAR, SEUS RECURSOS SEUS RECURSOS EE ATIVIDADES ATIVIDADES Capítulo 3 REFERÊNCIAS ANDRADE, M. 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