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GESTÃO DE BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Norma Lucia Neris de Queiroz Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Q3g Queiroz, Norma Lucia Neris de Gestão de biblioteca escolar e sala de leitura. / Norma Lucia Neris de Queiroz. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 162 p.; il. ISBN 978-65-5646-069-7 ISBN Digital 978-65-5646-062-8 1. Biblioteca escolar. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci CDD 028.8 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................07 CAPÍTULO 1 Caracterização da Biblioteca Escolar e da Sala de Leitura, suas Funções e Contribuições para os Segmentos Escolares e a Comunidade em Geral .......................................................9 CAPÍTULO 2 Gestão da Biblioteca Escolar e da Sala de Leitura, Seus ObJetiVos e Funções .............................................................59 CAPÍTULO 3 Integração da Biblioteca, da Unidade de Ensino e da Comunidade Escolar, Seus Recursos e AtiVidades ........ 111 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, para iniciar o nosso diálogo é importante dizer a você que é um grande prazer tê-lo como estudante nesta disciplina. Traçamos como objetivo construir e ampliar seus conhecimentos sobre a gestão da biblioteca escolar, da sala de leitura e suas contribuições para a escola, a família e a comunidade de modo geral, enfatizando suas funções, objetivos, missões, categorias e parâmetros de organização desses espaços com as flores da primavera e a alegria dos livros acolhidos na biblioteca da escola ou na sala de leitura, os quais, como nos mostra a Figura 1, nos encantam. FIGURA 1 – BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA FONTE: <http://www.bibliotecasdobrasil.com/2016/09/10-ideias- para-enfeitar-biblioteca-na.html>. Acesso em: 10 abr. 2020. Sendo assim, compreender as importantes contribuições e possibilidades da biblioteca escolar e das salas de leitura para a formação dos estudantes-leitores no processo de ensino e aprendizagem é relevante nesse momento, vez que pode conferir sentidos e significados aos estudantes no campo educacional, em especial nos tempos de incertezas que vivenciamos no país. Nessa perspectiva, sugerimos observar a imagem anterior (Figura 1), a qual buscou comunicar a você que “a ideia de biblioteca nasceu, provavalmente, para preservar a literalidade dos textos e conhecimentos das falhas da memória” (JACOB, 1996, p. 33). Logo, a discussão que buscamos tecer aqui foi olhar para a biblioteca escolar e a sala de leitura como espaços-lugares, condutores da leitura e do fazer letrado, em que, apesar da lógica da erudição carregada pela biblioteca em nossa cultura, todos os segmentos presentes na comunidade escolar possam transitar com prazer de estar neles, uma vez que os leitores e escritores têm a possibilidade de reunir suas ideias “conjuntamente com as dos livros que contêm o passado escrito e assegurado, em um espaço monumental e de acesso irrestrito” (PINTO, 2004, p. 34). Assim, aqui, ler é visto como um elemento “para auxiliar lembrar; e lembrar para escrever. Este é o percurso completo que a biblioteca indica ao projetar o conhecimento de um tempo no futuro e garantir sua persistência nos livros guardados, e muitas leituras e reescrituras que se fazem dele” (PINTO, 2004, p. 35). Desse modo, o objetivo é que as bibliotecas sejam vistas como espaços importantes e que contribuem para o processo de melhoria da qualidade da educação, como expressa a Figura 2. FIGURA 2 – IMPORTÂNCIA DAS BIBLIOTECAS FONTE: <https://sempreviva.wordpress.com/2012/05/22/nao-seria-maravilhoso-o-mundo- se-as-bibliotecas-fossem-mais-importantes-que-os-bancos/>. Acesso em: 12 abr. 2020. A título de organização, elaboramos três capítulos, subdivididos em seções, com a intenção de facilitar seu estudo sobre o tema trabalhado. Ao longo desses capítulos, você encontrará indicações de textos teóricos, artigos científicos, vídeos e atividades que devem ser feitas durante os momentos de estudos, cuja intenção é enriquecer sua aprendizagem. No primeiro capítulo, foram abordadas a caracterização e conceituação da biblioteca escolar e da sala de leitura, suas missões, categorias, parâmetros e contribuições para a escola, a família e a comunidade de modo geral na qual a escola está inserida. Para contextualizar essa discussão, apresentaremos de forma rápida a evolução da escrita, seus suportes, mudanças históricas, a invenção de Johannes Gutenberg, os livros, a biblioteca e sua origem histórica em nosso país e a importância da sala de leitura para formação de leitores e escritores, bem como a leitura acontece nas escolas públicas e na comunidade de modo geral. No segundo capítulo, o debate foi direcionado à gestão da biblioteca escolar e das salas de leitura, seus objetivos e funções, bem como sugestões de práticas pedagógicas e projetos de leitura que ocorrem ou vierem a ocorrer nesses espaços-lugares como apoio ao processo de ensino e aprendizagem para a comunidade escolar Por fim, no terceiro e último capítulo, a discussão deu ênfase à integração da biblioteca e salas de leitura de unidades de ensino e a comunidade escolar. Somado a isso, discutimos, ainda, as contribuições desses espaços-lugares - biblioteca escolar e sala de leitura -, seus recursos, atividades e projetos de leitura, para fortalecer a integração entre escola e comunidade em geral. A partir dessas discussões e reflexões propostas, espera-se que você demonstre, ao final desta disciplina, seu aprendizado em relação à gestão da biblioteca escolar e das salas de leitura, bem como suas contribuições para a escola, a família e a comunidade de modo geral. Bons estudos e excelente aprendizagem! CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, sUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA oS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Contextualizar de forma rápida a evolução da escrita, seus suportes e mudanças históricas com a invenção de Johannes Gutenberg, os livros, a biblioteca escolar e sala de leitura atuais. Caracterizar e conceituar a biblioteca escolar e sala de leitura, suas missões, categorias, parâmetros e contribuições para a escola. Apresentar a origem histórica das bibliotecas escolares em nosso país. Discutir a importância da leitura no Brasil e como ela acontece nas bibliotecas das escolas públicas e da comunidade em geral. 10 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura 11 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Refl etir sobre a gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura, suas funções, objetivos e contribuições para a escola, a família e a comunidade em geral é uma forma privilegiada de mostrar a força que esses espaços-lugares, entre outras agências de letramento, têm para formar culturalmente os diversos segmentos que estão presentes na comunidadeescolar. Estudos têm mostrado que as formas de organização desses espaços-lugares, como biblioteca escolar e sala de leitura, podem variar muito, conforme a diferenciação de funções, objetivos, categorização dos materiais, da dinâmica de seu funcionamento, da hierarquização que lhes é imposta, da lógica que os articula e dos sentidos e usos que a eles são dados. Por outro lado, por mais variações que tenham ocorrido historicamente na organização das bibliotecas ao longo dos séculos, esses espaços-lugares “mantêm o caráter atribuído às bibliotecas e aos livros neles recolhidos” (PINTO, 2004, p. 33-34). Ou seja, destacam-se, entre outras funções da biblioteca, a de preservar o conhecimento e a escrita. Somada à característica de preservadora do conhecimento e da escrita, a biblioteca escolar e a sala de leitura se assumem como espaços dinâmicos e diferenciados, os quais podem contribuir para a formação da comunidade escolar, apresentando, na contemporaneidade, a necessidade de atualizarem constantemente suas atividades para que continuem alcançando o status de distribuidores da cultura para os jovens na comunidade escolar. Nesta disciplina, o caminho a ser trilhado discute a gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura como espaços-lugares dinâmicos, que assumem ares coletivos, voltados para a transmissão da cultura. Esses espaços representam, ainda, os guardiões: [...] do que já se sabe e do que precisa ter sua perenidade assegurada. Seu princípio é metaforizado na misteriosa Biblioteca de Alexandria, que guardava e acumulava livros ao longo de toda sua trajetória para fazer a ponte que ligasse o passado ao presente e ambos a outras temporalidades futuras e distintas, mas infelizmente seu projeto foi interrompido com um brutal incêndio (PINTO, 2004, p. 34). 12 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 3 – BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA FONTE: <https://www.hipercultura.com/biblioteca-de-alexandria- historia-incendio/>. Acesso em: 10 abr. 2020. A Biblioteca de Alexandria era o maior acervo da história de ciência antiga do mundo. Quando foi destruída por um incêndio, provocado por Júlio César em 48 a.C., levou junto consigo uma grande quantidade de informações e conhecimentos construídos pela humanidade há muitos séculos. Ali, funcionava também um centro de pesquisa chamado Mouseion. Inclusive, é dessa denominação que originou a palavra "museu", a qual usamos hoje. O maior destaque da Biblioteca de Alexandria era sua vasta coleção de livros, constituída por exemplares escritos nas mais diferentes línguas e culturas. CONHECENDO A BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA A Biblioteca de Alexandria foi uma das mais importantes bibliotecas conhecidas da história, onde era guardada a maior parte do conhecimento do mundo antigo. Foi construída no coração da antiga cidade de Alexandria, no Egito, e fundada no século 3 a.C. por Ptolomeu II, um dos sucessores do Rei Alexandre, o Grande (Macedônia). Os estudos mostram que a matemática e a astronomia eram consideradas grandes tesouros da Biblioteca. Não se sabe exatamente quantas obras ela tinha em seu acervo, mas estima-se que tenha abrigado entre 30 mil a 700 mil volumes literários, acadêmicos e religiosos. O acervo da Biblioteca cresceu de tal maneira que, durante o reinado de Ptolemeu III Evérgeta, foi criada sua fi lial no Serapeu de Alexandria. Além de servir à demonstração de poder dos governantes ptolemaicos, a Biblioteca teve um papel signifi cativo na emergência de Alexandria como sucessora de Atenas enquanto centro irradiador da cultura grega. FONTE: <https://www.hipercultura.com/biblioteca-de-alexandria- historia-incendio/>. Acesso em: 10 abr. 2020. 13 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Ao longo deste capítulo, buscamos responder os questionamentos a seguir: • Quais as funções da biblioteca escolar e da sala de leitura na escola? • Como ocorre a leitura em sua escola? • Qual a relação entre biblioteca e escola? • Por que o processo de ensino-aprendizagem segue independentemente do uso da biblioteca em algumas escolas? • Será que a biblioteca pode contribuir com o processo de formação dos estudantes leitores? • Será que a função da biblioteca é guardar livros? • Que importância tem a leitura na formação dos estudantes nos dias de hoje? Consideramos os questionamentos anteriores importantes para guiar a discussão neste livro e buscaremos respondê-los ao longo do livro. Para começar a enunciar a nossa preocupação em responder aos questionamentos, apresentamos que a função da biblioteca escolar nunca foi a de um depósito de livros, ou seja, um lugar para meramente guardar livros, mas um espaço com a função de ser guardião do conhecimento e da cultura, entre outras, como retratado nas informações da Biblioteca de Alexandria, a qual tinha como a mais importante e antiga função das bibliotecas do mundo: ser a guardiã do conhecimento, da escrita e da cultura. A maioria das bibliotecas escolares sempre buscou disseminar a cultura para sua comunidade escolar e para a comunidade geral, coletiva, considerando que a leitura é uma competência fundamental para a formação de todas as pessoas, especialmente os estudantes em formação na escola, com o objetivo de se tornarem cidadãos críticos. Para continuar respondendo aos questionamentos, torna-se essencial compreender, mesmo que de forma rápida, alguns aspectos da evolução da escrita, seus suportes e mudanças históricas no modo de ler, de escrever e de disseminar os textos e a relação com as bibliotecas nos países de modo geral e nas cidades em particular. Além disso, é fundamental compreender a relação da produção em massa de livros, a disseminação de informações a partir da invenção de Gutenberg e a instituição das bibliotecas e salas de leitura na escola, com a presença de livros impressos, bem como as novas tecnologias que oportunizam o acesso à leitura de diversos gêneros textuais, como, por exemplo, os audiolivros, os e-books e outros textos eletrônicos. O linguista Cagliari (1989, p. 148) defende que a leitura “é a extensão da escola na vida das pessoas”. Para o autor, a maioria “das aprendizagens que se faz na vida foram alcançadas por meio da leitura na escola e fora dela. Sendo assim, a leitura é uma herança maior do que qualquer diploma” (CAGLIARI, 1989, p. 148). 14 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Ainda, entendemos que é relevante apresentar, neste capítulo, informações acerca da origem histórica da biblioteca escolar e da sala de leitura em nosso país, pois é importante se pensar na transformação desses espaços-lugares para despertar nos estudantes a aprendizagem da competência leitora e escritora e o gosto pela leitura durante o processo de escolarização, para que eles(as) possam adquirir essa experiência para toda a sua vida e atuarem como cidadãos críticos. Por outro lado, não podemos deixar de lado a legislação mais atual que ampara a gestão da biblioteca escolar e a sala de leitura nas escolas de educação básica brasileira. Sabemos que, apesar dos diversos entraves, a biblioteca escolar tem ganhado espaço na legislação educacional com a aprovação da Lei n. 12.244, de 24 de maio de 2010. A aprovação dessa lei resultou de um esforço signifi cativo do bibliotecário, que “[...] há longo tempo, vinha denunciando por diversos canais a falta de bibliotecas nas escolas e a precariedade das poucas que existem, situação comprovada por diversos estudos” (CAMPELLO et al., 2012, p. 2) A Lei n. 12.244/2010 aprovou a universalização das bibliotecas nas instituições escolares privadas e públicas brasileiras até o ano de 2020. Essa lei também estabeleceu como parâmetro para a organização dessas bibliotecas um acervo que tenha, no mínimo, um livro para cadaaluno matriculado. As Secretarias Estaduais e Municipais de Educação podem ampliar o tamanho desse acervo conforme sua realidade, bem como divulgar orientações de guarda, preservação, organização e funcionamento de suas bibliotecas escolares. A lei também orienta que cabe aos sistemas de ensino brasileiro desenvolver esforços progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares seja cumprida no prazo estabelecido, bem como respeitada a profi ssão de bibliotecário, disciplinada pelas Leis n. 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de 25 de junho de 1998. É possível concluir que, com a aprovação dessas leis, o poder público reconhece que “parte considerável das escolas [do país] não possui bibliotecas de forma efetiva, embora tentem constituir estruturas que confi gurem uma biblioteca de forma aleatória ou sala de leitura” (SILVA, 2011, p. 504). Não é raro comemorarmos quando uma lei é aprovada nas diversas instâncias em nosso país, especialmente leis que trazem benefícios de elevado alcance social para a população. Entretanto, em alguns casos, só a aprovação da lei não garante que o benefício chegue à população, como, por exemplo, a Lei n. 12.244/2010. Apesar da aprovação, essa lei não saiu do papel. A aplicação de algumas leis demanda mais esforços que a mera aprovação junto aos órgãos competentes. É comum constatar que, em nosso país, há leis que funcionam e outras que não, ou seja, determinadas leis são aplicadas e outras não. Ficamos 15 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 com a sensação de que toda a luta pela aprovação da lei foi em vão e que não adianta lutar para elaborar leis que buscam benefi ciar a maioria da população da classe trabalhadora, pois na prática não funcionará no Brasil. 1.1 DIÁLOGO SOBRE A EVOLUÇÃO DA ESCRITA, MUDANÇAS HISTÓRICAS, LIVROS, BIBLIOTECAS E SALA DE LEITURA FIGURA 4 – MESOPOTÂMIA, UMA DAS CIVILIZAÇÕES MAIS ANTIGAS FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/mesopotamia/>. Acesso em: 10 abr. 2020. Para começar a dialogar sobre a gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura, é relevante discutir alguns pontos sobre a evolução da escrita, os suportes, o espaço e a valorização alcançados pelos livros e pela biblioteca com as mudanças históricas, especialmente após a imprensa de Johannes Gutenberg e, mais recente, a sala de leitura nas escolas. Hoje, é comum para nós – adultos, leitores e escritores profi cientes – não pararmos para refl etir como alguém que não lê e não escreve vive em uma cidade cercada de textos escritos em português, outras línguas e palavras e ideogramas novos. Como as crianças encaram o desafi o de aprender a ler e escrever nesse ambiente letrado? Como foram inventados o alfabeto e a escrita atuais? Como surgiram os livros? Será que os livros sempre tiveram os formatos que conhecemos hoje? Como surgiu a biblioteca? Será que o livro impresso está em extinção com a presença das alternativas criadas pelas novas tecnologias? 16 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura Tais questionamentos são bastante instigantes. Assim, conhecer um pouco sobre a história da escrita pode contribuir para que a comunidade escolar compreenda melhor as diversas ações que requerem a gestão da biblioteca escolar e da sala de leitura, a qual prioriza o acesso ao livro, à leitura e às atividades de qualidade em uma sociedade como a nossa, que precisa, ainda, ter efetivamente a universalização das bibliotecas escolares prevista na legislação educacional. Historicamente, a invenção da escrita foi, sem dúvida, o grande marco na história, já que o homem criou a possibilidade de acumulação e produção do conhecimento que propiciaram o surgimento da fi losofi a, das ciências e das artes (PIMENTEL; BERNANDES; SANTANA, 2007). O processo de evolução da escrita sempre foi muito importante para todos os povos até chegar à forma que conhecemos hoje. Alguns estudiosos afi rmam que a escrita surgiu na Mesopotâmia, localizada entre os Rios Tigre e Eufrates, local onde apareceram as primeiras civilizações, aproximadamente no ano 4.000 a.C. Um fato interessante que vale a pena considerarmos é que o sistema de escrita que utilizamos hoje foi inventado há muitos séculos e tem suprido nossas necessidades, apesar de as inúmeras transformações que a Terra tem passado. Cagliari (1989, p. 106) ressalta que a escrita que utilizamos hoje passou por “três fases distintas: a pictórica, a ideográfi ca e a alfabética”, como demonstrado na Figura 5. FIGURA 5 – FASES DISTINTAS DA HISTÓRIA DA ESCRITA FONTE: A autora. A fase pictórica se distingue pela escrita por meio de desenhos ou pictogramas. Inicialmente, o boi era representado pelo desenho de sua cabeça. O sol surgindo no horizonte signifi cava que a outra pessoa estava comunicando que o dia estava surgindo. Nos dias de hoje, esses pictogramas podem ser encontrados também nas histórias em quadrinhos. Nessa fase, os objetos da realidade eram representados de forma bem simples (CAGLIARI, 1989). 17 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Cagliari (1989, p. 108) destaca que os pictogramas estão vinculados à “[...] imagem do que quer representar e não a um som”. Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 15) afi rmam que os “pictogramas parecem ser autoexplicáveis”. Para esses autores, “não é bem assim que eles veem essa questão. Na verdade, os pictogramas possuem limitações culturais, temporais, geracionais, entre outros”, pois o usuário, para interpretá-los corretamente, tem de conhecer o uso deles na cultura em que estão inseridos. Os ideogramas exigem que a pessoa conheça o Código de Trânsito utilizado na sociedade brasileira para ler corretamente a Figura 6 e saber que, na maioria das cidades brasileiras, foi adotada a faixa de pedestre para garantir a segurança das pessoas quando atravessam a rua, como nos mostra a Figura 6. Podemos dizer que essa prática retrata uma regra recente em nossa sociedade brasileira. Além disso, ela está ligada à cultura urbana. Temos, ainda, diversos pictogramas utilizados na sinalização de locais públicos, no trânsito, no código de endereçamento, como explicações, proibições, entre outros, conforme a Figura 7 a seguir. FIGURA 6 – HOMEM ATRAVESSANDO A FAIXA DE PEDESTRE FIGURA 7 – SINAL DE TRÂNSITO FONTE: <http://itaitubaintransito. blogspot.com/2011/07/respeite- o-pedestre-dicas-de-um-agente. html>. Acesso em: 10 abr. 2020. FONTE: <https://icetran.com. br/blog/placas-de-transito/>. Acesso em: 10 abr. 2020. A palavra pictograma vem do latim pictu = pintado + grego γράμμα = letra; ou seja, letra pintada ou desenho. Já a escrita ideográfi ca, também conhecida como hieroglífi ca egípcia, é representada por desenhos especiais denominados de ideogramas e muito importantes. Surgiu em torno do ano 3000 a.C. e as pessoas que sabiam ler e escrever nessa época eram chamadas de “escribas, homens muito admirados 18 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura do Egito Antigo, sendo muitos deles adorados como deuses” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 16). Aliás, aqueles que desejavam essa carreira deveriam passar pela escola de escribas e aprendiam, também, a desenhar com muita habilidade e a dominar o idioma, a literatura e a história do país. Ainda, deveriam possuir amplos conhecimentos de matemática, processos administrativos, mecânica e desenho arquitetônico. Para escrever, os escribas utilizavam objetos de metal, osso e marfi m, sendo que uma das extremidades era larga e pontiaguda e a outra plana, em forma de paleta, com a fi nalidade de corrigir o texto,alisando o material arranhado ou errado. Essa escrita começou a ser utilizada para controlar a produção agrícola e pecuária, registrando o número de sacas de trigo, de cabeças de boi, entre outros. Mais tarde, serviu para registrar as narrações históricas, relatos épicos e religiosos e outros tipos de inscrições com a intenção de preservar a memória desses feitos. Para facilitar seu estudo, apresentamos um breve resumo das escritas antigas e suas principais características com base no texto de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 17). Nele, aparecem escritas criadas por diversos povos com a intenção de resolver suas necessidades, como nos mostra o Quadro 1 a seguir: QUADRO 1 – ESCRITAS ANTIGAS E CARACTERIZAÇÕES Escrita antigas Caracterização Cuneiforme Escrita idealizada pelos sumérios em forma de fi guras gravadas sob tábuas de argila com estilete. Em seguida, a página era cozida no forno. Hieroglífi ca Escrita utilizando “hieróglifo” (inscrição sagrada). Ela possibilitou aos egípcios grafar diversos dados de sua cultura por meio de signos, sendo composta por cerca de 1.000 sinais. As ideias passaram a ser grafadas por sinais — cada um com seu valor fonético — e não mais por desenhos. Mnemônica Escrita utilizada pelos incas da América do Sul, utilizando dois sistemas: os equipos e os wampus. Fonética Escrita com a intenção de fi xar o pensamento humano. A imagem visual foi substituída pela sonora, dando início à escrita silábica, em que os sinais representavam sons. Ideográfi ca Escrita na qual os objetos eram representados por sinais que representavam ideias. Por exemplo: a escrita chinesa. FONTE: A autora. 19 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Equipos: formados por cordões de lã em cores diversas, nos quais as amarrações e os nós representavam uma ideia (transmitiam ideias e não palavras). Wampus: um sistema baseado em colares de conchas justapostas, cujas combinações formavam fi guras geométricas. De acordo com Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 16), cada uma assumia um signifi cado para facilitar a memorização. A fase alfabética, por sua vez, caracteriza-se como a escrita que utilizamos em nosso país hoje, ou seja, a escrita alfabética. Essa escrita utiliza letras que representam sons. Na época de consolidação, o ideograma deu lugar à representação fonográfi ca, eliminando seu valor pictórico (CAGLIARI, 1989). Os sistemas mais relevantes dessa fase são o semítico, o indiano e o greco- latino. “Este último deu origem ao nosso alfabeto (latino) e o cirílico (grego), ao alfabeto atual russo” (CAGLIARI, 1989, p. 109). A Figura 8 traz um alfabeto com vinte a trinta signos cuneiformes, sendo o alfabeto mais completo descoberto em Ugarit (atualmente Ras-Shamara, na Costa da Síria). FIGURA 8 – ALFABETO CUNEIFORME FONTE: <https://biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/ monografi a_20190503163431.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020. Em conformidade com os estudos de Cagliari (1989), o alfabeto que conhecemos hoje passou por inúmeras transformações e, na maioria das vezes, eram muito lentas. Inicialmente, foram elaborados os silabários, que consistiam em um conjunto de sinais específi cos para representar cada sílaba, com desenhos que se referiam às características fonéticas da palavra. A partir desses silabários, os fenícios criaram um alfabeto com 22 signos cuneiformes. Esse feito foi 20 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura considerado um grande avanço quando comparado com as tentativas anteriores, pois a grande quantidade de caracteres difi cultava o domínio da leitura e da escrita. Com a quantidade mais reduzida de signos, aprender a ler e a escrever poderia estar ao alcance desse povo. FIGURA 9 – ESCRITA ALFABÉTICA INICIAL FONTE: <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/impresso/ imp_basico/e1_assuntos_a1-4.html>. Acesso em: 20 abr. 2020. Assim, os fenícios, por serem comerciantes e navegadores, difundiram rapidamente a nova invenção do alfabeto entre os povos do Mediterrâneo: o aramaico, o hebraico, o copta, o árabe e o grego. Desse modo, acredita-se que o alfabeto fenício acabou estimulando outros povos a criarem, em conformidade com suas línguas, seus próprios sistemas de escrita. O povo grego deve a invenção de seu alfabeto aos fenícios. Os gregos substituíram cada som por uma letra, formando, assim, o primeiro alfabeto da história. Do alfabeto grego, “originou-se o etrusco, que deu origem ao latim, que, por sua vez, deu origem ao português” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 18) Portanto, a escrita alfabética somada à descoberta do papel possibilitou a democratização do conhecimento. Assim, o que “antes era privilégio somente de escribas, membros da igreja e da realeza, passou a fazer parte do cotidiano de diferentes segmentos sociais” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 18). Entretanto, nessa época, o livro era escrito manualmente, logo, era um objeto raro. Os leitores desses livros eram os sacerdotes e reis que ocupavam os palácios e os templos religiosos, pois só eles sabiam ler e escrever. Até quando durou esse contexto? Tal contexto só começou a ser alterado com a valiosa descoberta do papel e a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, no século XV. Nesse novo contexto, ler e escrever ganharam novos contornos, ou seja, os livros começaram a se multiplicar, ampliando o conhecimento. Com isso, surgem as bibliotecas para acomodá-los e, ao mesmo tempo, possibilitar a disseminação do conhecimento por meio deles. Nesse sentido, as bibliotecas vão contribuir de forma signifi cativamente nesse processo, embora com um aspecto mais formal, mais voltadas para a preservação do acervo do que para sua disseminação. 21 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 FIGURA 10 – PRENSA DE JOHANNES GUTENBERG FONTE: <www.tricurioso.com/2018/05/16/quem-inventou-o-primeiro- caderno/prensa-gutenberg-tricurioso/>. Acesso em: 10 abr. 2020. Essas bibliotecas eram vistas como espaços para intelectuais. Os livros ainda eram privilégio de poucos e exigiam tratamento especial e cuidados para serem guardados. Entretanto, não podemos desconsiderar as valiosas contribuições que Gutenberg trouxe para ampliar e disseminar o conhecimento no mundo. Os livros tidos como artigos raros se transformaram em material de consumo e começaram a ocupar o espaço doméstico de algumas classes. Essa singular mudança deu sentido à organização de bibliotecas, que, por sua vez, assumiu novos rumos, novas missões e funções, bem como outros objetivos. “Se, antes, as bibliotecas eram espaços silenciosos para guardar livros, hoje, com o avanço das novas tecnologias da comunicação e da informação, elas passaram a agregar novas formas de difusão da cultura” (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 19). Para refl etir melhor sobre os efeitos da sociedade do conhecimento sobre o uso das tecnologias na sala de aula, sugere-se que você assista ao vídeo As tecnologias na sala de aula. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CJWOFbuwiPg. Em síntese, é possível constatar o longo caminho que os nossos antepassados tiveram de percorrer até chegar ao nosso conhecido papel, ao livro, ao computador, ao CD-ROM, à internet e aos e-books. Com a democratização do conhecimento, da escola e dos livros, as bibliotecas tiveram de se transformar e ocupar espaços informacionais. Os livros ganharam outros formatos para atender aos diversos leitores e às diferentes necessidades da sociedade como um todo (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 20). 22 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de LeituraEmbora tendo algumas ressalvas em relação ao valor do livro, que ainda continua sendo um investimento fi nanceiro caro para grande parte dos leitores das classes populares, o mercado editorial, com vista atender à modernidade tecnológica e às novas demandas que buscam disseminar o conhecimento, aumentou sua capacidade e passou a produzir grande tiragem em curto período de tempo. Esse processo contribuiu substancialmente para a democratização e a difusão do conhecimento, do livro e da leitura no país. Isso corrobora com o pensamento de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 20), que afi rmam: “a biblioteca é uma alternativa de inclusão social e se confi gura como um ambiente democrático, tendo a informação como uma ferramenta importante para a conscientização dos direitos e deveres de cada cidadão como membro da sociedade”. É nessa direção que vamos, na próxima seção, dar continuidade à discussão das contribuições inclusivas que tanto a biblioteca quanto a sala de leitura podem trazer para a escola, a família e a comunidade de um modo geral. Solicitamos que leia o artigo A importância da biblioteca nas escolas públicas municipais de Criciúma – Santa Catarina, de Valmira Perucchi. Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos e dos aspectos abordados no artigo supracitado, apresente um texto com o propósito de responder ao seguinte questionamento: qual a importância da biblioteca para incentivar a aprendizagem dos estudantes? FONTE: PERUCCHI, V. A importância da biblioteca nas escolas públicas municipais de Criciúma-Santa Catarina p. 80-97. Revista ACB, v. 4, n. 4, p. 80-97, 1999. _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ ______________________________________________________ 23 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 1.2 DIÁLOGO QUE BUSCA CONCEITUAR A BIBLIOTECA ESCOLAR COMO CENTRO DE INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA A COMUNIDADE ESCOLAR Nesta seção, vamos dialogar sobre a conceituação, missões e objetivos que caracterizam a biblioteca escolar e a sala de leitura, além de suas contribuições para a escola, a família e a comunidade de um modo geral. Os estudos têm mostrado que as inovações tecnológicas e as mudanças no rumo da economia mundial têm exigido alterações profundas em nosso modo de viver na sociedade contemporânea. Nesse momento, uma das exigências mais signifi cativas é que as pessoas façam a aquisição de novos conhecimentos, os quais devem ser apropriados de forma rápida e ativa, sendo responsáveis e consistentes. Além dessa exigência, os sujeitos devem articular novos conhecimentos à sua compreensão do mundo e experiência pessoal. Assim, cabe aos sujeitos entrelaçar saberes práticos e conhecimentos científi cos de forma consistente e veloz, pois as informações se tornam obsoletas em tempo recorde. FIGURA 11 – BIBLIOTECA ESCOLAR E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA COMUNIDADE ESCOLAR FONTE: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/ article/view/16001/12044>. Acesso em: 10 abr. 2020. A educação escolar, nessa perspectiva, vislumbra contribuir com o desenvolvimento dos estudantes, bem como atender às necessidades desse contexto e nele intervir de maneira qualitativa. Além disso, deve mediar, ao longo da escolarização, a formação dos estudantes em todas as dimensões humanas, construindo com eles, além das aprendizagens dos conhecimentos científi cos, princípios e fenômenos (BRASIL, 1998). Ainda, no mesmo nível de importância das aprendizagens, construir valores humanos, éticos, estéticos, conscientização 24 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura sobre seus direitos e deveres na comunidade, respeito a si e aos outros e atitudes de cooperação, de aceitação do outro e de tolerância, entre outros. Para enfrentar esses desafi os, os sistemas de educação devem fundamentar seus objetivos em torno dos quatro pilares da educação, mencionados no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Esses pilares orientam o projeto político-pedagógico em relação à “aquisição de novas atitudes e valores, como a convivência e o trabalho em colaboração, além da capacidade de aprender a conhecer e a enfrentar novos desafi os de forma autônoma” (DELORS, 2010, p. 31). São eles: FIGURA 12 – PILARES DA EDUCAÇÃO Aprender a conviver aquisição do conhecimento a respeito dos outros, gestão inteligente e apaziguadora dos confl itos inevitáveis Aprender a ser aquisição da capacidade de autonomia e discernimento, acompanhados de responsabilidade pessoal na realização de um destino coletivo Aprender a fazer aquisição de competências que deem condições ao indivíduo a enfrentar diversas situações Aprender a conhecer aquisição da cultura geral, sendo esta o primeiro passo para a educação permanente Pilares da educação FONTE: A autora. Com base nos eixos de aprendizagem e valores humanos citados nos Pilares da Educação, torna-se relevante que a escola busque desenvolver, com os estudantes, novas formas de ensino para aprenderem a pensar, agir e se comunicar. Essas formas de apropriação do conhecimento têm de conjugar desenvolvimento humano, aprendizagem e atendimento às necessidades exigidas pela sociedade nos dias de hoje, ou seja, as escolas, aqui, são vistas como as principais instituições capazes de formar cidadãos que satisfaçam às exigências da sociedade contemporânea. Para tanto, as escolas que desenvolvem um processo de ensino de qualidade contam com recursos, infraestrutura, equipamentos adequados e profi ssionais qualifi cados. Partindo dessa compreensão, a biblioteca escolar pode ser um espaço-lugar capaz de auxiliar a escola na formação dos estudantes como cidadãos críticos e refl exivos do nosso tempo, isto é, cidadãos capazes de lidarem com as exigências da sociedade de informação e comunicação. 25 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Esta seção tem como objetivo dialogar sobre a biblioteca escolar e a sala de leitura como espaços de informação, comunicação e aprendizagem. Para iniciar este diálogo, recorremos ao matemático e bibliotecário indiano, Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972). Assim, quando se pensa em defi nir o que é biblioteca, temos de revisitar as cinco leis da biblioteconomia elaboradas por ele. São elas: 1. Os livros são para usar. 2. A cada leitor, seu livro. 3. A cada livro, seu leitor. 4. Poupe o tempo do leitor. 5. A biblioteca é um organismo em crescimento ou a biblioteca é um organismo vivo (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 221). Ranganathan defi ne as leis que caracterizam a biblioteca, além disso, valoriza a biblioteca como um espaço dinâmico, vivo e que cresce todos os dias. Destaca, ainda, a relação entre livro e leitor, sinalizando a diversidade dos leitores e das obras, bem como a necessidade de os profi ssionais estimularem a disseminação do acervo da biblioteca de forma rápida e prazerosa. Nesse sentido, o matemático criou leis que incidem de forma direta sobre as principais atividades da biblioteca e, ao mesmo tempo, aponta a necessidade de inovação e renovação das atividades nesse espaço. Para dar conta dessas exigênciasde inovação e renovação, o profi ssional precisa conhecer o acervo e a comunidade que a biblioteca está inserida para entregar um trabalho de qualidade ao usuário, especialmente quando se trata de estudantes, uma vez que são eles quem dão sentido a esse espaço no ambiente escolar. É interessante conferir, inicialmente, o que caracteriza o termo biblioteca de um modo geral. Ferreira (1986, p. 253) defi ne o termo biblioteca em seu dicionário como: (i) A palavra biblioteca é formada da união dos termos gregos biblíon (livro) e theka (caixa), signifi cando o móvel ou o lugar onde se guardam livros. (ii) Coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta. (iii) Edifício ou recinto onde se instala essa coleção. (iv) Estante ou outro móvel onde se guardam e/ou ordenam os livros. A defi nição de Ferreira (1986) mencionada anteriormente traz elementos que caracterizam a biblioteca como, por exemplo, lugar que guarda livros; coleção de livros e documentos organizados para estudo, leitura e pesquisa; livros ordenados em estante ou móvel. Assim, é possível afi rmar que uma sala com livros espalhados pode ser vista como um depósito – e não uma biblioteca. Nessa direção, Milanesi (1986, p. 32) ressalta que a organização dos livros e materiais “[...] pode tornar possível concretizar a função pensada para a biblioteca, mas não é só a organização que conta”. Nessa perspectiva, a organização da biblioteca pode ser tanto física quanto intelectual, apresentando-se desde as formas 26 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura concretas de organização do acervo até a concepção que está por trás das escolhas técnicas (PAIVA; DUARTE, 2016, p. 90). De acordo com o matemático e bibliotecário indiano Ranganathan, é possível constatar que a defi nição de biblioteca se modifi ca ao longo da história. Para Fonseca (1992, p. 60), a biblioteca pode ir além daquilo que geralmente se pensa quando nos referimos a ela como o lugar que abriga coleções de livros ordenados e documentos organizados e também passamos a vê-la como o espaço que recepciona e agrega usuários que buscam informações. Isso quer dizer que a biblioteca pode ter seu foco voltado para as pessoas e no uso que essas fazem da informação, oferecendo meios para que ela circule da forma mais dinâmica possível (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007). Nessa direção, é comum autores criarem uma tipologia para cada biblioteca a partir das funções que desempenham na sociedade. De acordo com esse entendimento, elas podem ser caracterizadas como: nacional, pública, especializada, universitária, escolar, infantil, como aparecem na Figura 13 a seguir: FIGURA 13 – BIBLIOTECAS E ALGUMAS TIPOLOGIAS Nacional Especializada InfantilUniversitária Escolar Pública FONTE: A autora. As bibliotecas que aparecem na Figura 13, como você pode verifi car, possuem propósitos distintos. Assinalamos que distribuir as bibliotecas nesse rol pode contribuir para atender ao usuário de forma mais assertiva, como orientam as leis da biblioteconomia, a saber: a cada leitor, seu livro; a cada livro, seu leitor; e poupe o tempo do leitor nesses tempos que todos vivem acelerados e sem poder perder tempo. 27 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 QUADRO 2 – BIBLIOTECAS E ALGUMAS TIPOLOGIAS Pública – é encarregada de administrar a leitura e a informação para a comunidade em geral, sem distinção de sexo, idade, raça, religião e opinião política. Pública – é encarregada de administrar a leitura e a informação para a comunidade em geral, sem distinção de sexo, idade, raça, religião e opinião política. Especializada – é encarregada de promover toda informação especializada de determinada área, como, por exemplo, agricultura, direito, indústria, entre outras. Universitária – é parte integrante de uma instituição de ensino superior e sua fi nalidade é oferecer apoio ao desenvolvimento de programas de ensino e à realização de pesquisas. Escolar – é organizada na escola para integrar-se à programação da sala de aula e no desenvolvimento do currículo escolar. Funciona como um centro de recursos educativos, tendo como objetivo primordial desenvolver e fomentar a leitura e a informação. Poderá servir como suporte para a comunidade em suas necessidades. Infantil – é organizada com o objetivo primordial de atender crianças com diversos materiais que poderão enriquecer horas de lazer. Visa, ainda, despertar o encantamento pelos livros, pela leitura e pela formação do leitor FONTE: Adaptado de Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 23). Depósito legal: obriga os editores a depositar ali vários exemplares de cada obra impressa (PIMENTEL; BERNARDES; SANTANA, 2007, p. 23). É interessante entender a tipologia de cada biblioteca, já que pode ajudar os profi ssionais, especialmente os bibliotecários, a perceberem a função social e as suas especifi cidades para desenvolverem a gestão desses espaços de forma mais adequada com a comunidade na qual estão inseridas, evidenciando, principalmente, suas necessidades, anseios por informação e práticas culturais, como destacam Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 23). Para estabelecer as diretrizes e ações para cada uma das bibliotecas, os profi ssionais precisam conhecer, também, as necessidades e expectativas da comunidade. Essa orientação pode oportunizar resultados mais positivos em relação ao fazer cultural e educacional. Apesar da importância de continuar analisando a tipologia das bibliotecas, faz-se necessário nos concentrarmos na discussão que fundamenta a estrutura da organização do conhecimento em que se baseia a concepção, o espaço físico e os serviços da biblioteca dentro da escola, além do trabalho do profi ssional responsável por essa função específi ca e a entrega de seus serviços à comunidade escolar. Nos dias de hoje, como concebemos a biblioteca escolar e a sala de leitura? 28 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura FIGURA 14 – BIBLIOTECA MARIO DE ANDRADE – SÃO PAULO FONTE: <http://recantoadormecido.com.br/2014/03/11/biblioteca-mario-de- andrade-oferece-curso-de-historia-em-quadrinhos/>. Acesso em: 10 ago. 2020. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/2019) informa que, das 180 mil escolas brasileiras de educação básica, 98 mil ou 55% delas não têm biblioteca escolar ou sala de leitura. Em função desses dados, recorremos aos ensinamentos de Maciel, Barbato e Queiroz (2010), quando elas afi rmam que é necessário criar políticas públicas educacionais brasileiras, especialmente a implantação de bibliotecas escolares e salas de leitura no país, para efetivar a democratização da escola e do acesso à leitura, ao livro e à aprendizagem dos estudantes da educação básica. Nessa perspectiva, é importante conhecer a trajetória da biblioteca escolar e da sala de leitura no contexto brasileiro para enxergar possibilidades nesse campo. Silva (2011) nos ajuda a revisitar o contexto histórico dessa temática. Assim, as primeiras bibliotecas escolares brasileiras foram implantadas nos colégios jesuítas construídos na Bahia durante a metade do século XVI. Mais tarde, outras capitanias foram agraciadas de forma expressiva com esses equipamentos até o fi nal do século XVIII. Apesar de as bibliotecas escolares dessa época se confi gurarem de modo mais formais, “os profi ssionais já percebiam o potencial delas na melhoria do ensino e da aprendizagem dos alunos” (SILVA, 2011, p. 490). A partir da crença positiva em relação à biblioteca escolar, os estudiosos vêm construindo, ao longo da história brasileira, diversas conceituações acerca dessa biblioteca, umas mais amplas e outras mais restritas. Eles têm destacado, também, as contribuições da sala de leiturapara as práticas leitoras tanto dos estudantes quanto dos professores. Nessa perspectiva, Fonseca (2007, p. 5) conceitua a biblioteca escolar como o espaço que busca “fornecer livros e material didático tanto a estudantes quanto a professores”. Analisando o conceito de Fonseca, podemos verifi car que ele guarda semelhança com a forma que a Lei n. 12.244, de 24 de maio 2010, considera, em seu art. 2º, a biblioteca escolar. Ou seja, ela é vista como “a coleção de livros, materiais videográfi cos e documentos registrados em qualquer suporte destinados à 29 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 consulta, pesquisa, estudo ou leitura” (BRASIL, 2010). Embora a Lei n. 12.244/2010 imprima, de modo geral, a valorização da biblioteca escolar, ela não avança em sua conceituação, especialmente nos tempos de informação e comunicação digitais. A biblioteca na escola também foi conceituada como “um espaço desejável que, contudo, pode ser substituído, com adaptações e soluções criativas” (PEREIRA, 2006, p. 23). Já Campello et al. (2002, p. 10) destacam que a biblioteca escolar pode ser conceituada tanto na formação do leitor quanto na formação do aluno com “competência informacional, capaz de localizar, selecionar e interpretar informações em diversos suportes”. Souza defi ne que a tarefa de mediação da leitura literária é considerada prioridade na biblioteca escolar (SOUZA, 2009), enquanto Côrte e Bandeira (2011) afi rmam que, no contexto da legislação educacional brasileira, a biblioteca deve trabalhar articulada ao processo de ensino e aprendizagem. Para as autoras, a biblioteca escolar é compreendida como: [...] um espaço de estudo e construção do conhecimento, articula com a dinâmica da escola, desperta o interesse intelectual, favorece o enriquecimento cultural e incentiva a formação do hábito da leitura. Jamais será uma instituição independente, porque sua atuação refl ete as diretrizes de outra instituição que é a escola (CÔRTE; BANDEIRA, 2011, p. 8). A conceituação de Côrte e Bandeira (2011) destaca que a biblioteca escolar tem de desenvolver seu plano de trabalho de modo coerente e articulado com o caminho traçado no projeto político-pedagógico e sua concepção de educação interdisciplinar, especialmente o contexto de promoção da leitura e a estrutura física adequada. Já o Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar – GEBE compreende a biblioteca escolar como: Um espaço físico exclusivo, sufi ciente para acomodar o acervo, os ambientes para serviços e atividades para usuários e os serviços técnicos e administrativos; materiais informacionais variados, que atendam aos interesses e necessidades dos usuários; acervo organizado de acordo com normas bibliográfi cas padronizadas, permitindo que os materiais sejam encontrados com facilidade e rapidez; acesso a informações digitais (internet); espaço de aprendizagem; administração por bibliotecário qualifi cado, apoiado por equipe adequada em quantidade e qualifi cação para fornecer serviços à comunidade escolar (GEBE, 2010, p. 9). Na compreensão do GEBE, podemos constatar que ele ressalta a estrutura física e administrativa da biblioteca de forma qualifi cada e detalhada, incluindo a pesquisa de informações por meio dos dispositivos digitais para atender aos interesses e às necessidades dos usuários. Além disso, caracteriza a biblioteca escolar não apenas como um espaço promotor de leitura, mas um espaço que pode potencializar 30 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura a aprendizagem dos estudantes. Essa última caracterização se diferencia das conceituações elaboradas anteriormente por Souza (2009), Côrte e Bandeira (2011) e Pereira (2006). Nessa perspectiva, a biblioteca escolar pode ser vista, segundo Campello (2012, p. 16), como um “laboratório que propicia a conexão das ideias e a construção do conhecimento”. A autora ainda defende que a biblioteca escolar pode ampliar signifi cativamente suas atividades e contribuir para a “mudança de paradigma da leitura para o paradigma da aprendizagem”. (CAMPELLO, 2012, p. 7). Com isso, Campello (2012, p. 15) reforça a ideia de que: A biblioteca escolar deve deixar de ser apenas o local onde está o acervo de livros para leitura e passar a oferecer atividades específi cas de formação do estudante, principalmente em competências informacionais, desde a escolha de materiais até o uso e a comunicação do que foi encontrado. Em 2012, Lúcia Maroto defendeu a ideia de que uma biblioteca escolar poderia assumir o status de “um centro dinamizador da leitura e difusor do conhecimento produzido pela coletividade”, constituindo-se, portanto, em uma “oportunidade concreta de acesso ao patrimônio científi co e cultural” para os alunos (MAROTO, 2012, p. 75). Observamos que essa autora está ampliando sua concepção de biblioteca escolar, pois, ao longo de sua trajetória, vem se dedicando à execução de boas práticas em bibliotecas escolares, quase todas ligadas à leitura literária. Já a pesquisadora espanhola, Glória Durban Roca, pontua, em seu livro publicado no Brasil em 2012, que os aspectos mais relevantes da biblioteca escolar se encontram em um espaço educacional e suas dimensões física, literária e educacional. Na dimensão física, a preocupação da biblioteca escolar deve facilitar a seleção coordenada de materiais informativos e literários que favoreçam o desenvolvimento de práticas de leituras e habilidades intelectuais. Na dimensão educacional, deve promover a criação de processos de ensino e aprendizagem voltados para apoiar o projeto político-pedagógico da escola (DURBAN ROCA, 2012). Para a autora, a biblioteca escolar não é um “centro de recursos a serviço da aprendizagem”, mas, um “contexto de aprendizagem onde a interação dos usuários com determinados recursos, processos de ensino e aprendizagem e práticas de leitura são facilitados” (DURBAN ROCA, 2012, p. 26). Assim, os usuários podem desenvolver, nessa biblioteca, ao longo de sua escolarização, práticas de leitura, de acordo com diferentes objetivos e fi nalidades, utilizando os múltiplos materiais que a biblioteca oferece. Por ser um contexto de desenvolvimento de competências intelectual e emocional imprescindíveis para os estudantes, a biblioteca escolar poderá fomentar recursos básicos para o desenvolvimento pessoal e social. Durban Roca (2012) defi ne, ainda, a biblioteca escolar como aquela que conta em seu acervo materiais impressos e recursos eletrônicos, contribuindo para a formação dos estudantes e direcionada à emancipação deles. Para a autora, essa 31 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 emancipação ocorre pela manipulação e produção autônoma do conhecimento por meio dos recursos oferecidos pela biblioteca escolar aos seus usuários. Esses recursos certamente contribuem para o desenvolvimento dos Pilares da Educação, em especial com os eixos do aprender a conhecer e aprender a fazer. Durban Roca (2012) nos presenteia, ainda, com o conceito de biblioteca escolar explicitado no Quadro 3. Nele, são apresentadas duas dimensões: atividade-meio e atividade-fi m para a biblioteca escolar. A atividade-meio potencializa a dimensão educacional como recurso e agente pedagógico interdisciplinar e a atividade-fi m estrutura a organização física. Enfi m, “a biblioteca escolar não só apoia as atividades pedagógicas da escola, mas também, ela própria, é local e oportunidade de aprendizagem” (DURBAN ROCA, 2012, p. 100). QUADRO 3 – CONCEITO DE BIBLIOTECA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A COMUNIDADE ESCOLAR Conceito Ação Contribuições Dimensão física Estruturaorganizada estável Facilitar A seleção coordenada de materiais informativos e literários. A centralização dos recursos para assegurar seu uso compartilhado. O acesso a materiais diversos e de qualidade. A existência de um lugar de encontro e de relações pessoais. A criação de um contexto presencial de aprendizagem e leitura. Contexto presencial de aprendizagem e leitura Favorecer O desenvolvimento de práticas de leitura e de habilidades intelectuais. A realização de trabalhos de pesquisa e de atividades de leitura. A criação de um ambiente de leitura e de escrita na escola. O uso da biblioteca como recurso educacional. Dimensão educacional Recurso educacional Promover A criação de processos de ensino-aprendizagem. As ações de atendimento às necessidades especiais e de compensação de desigualdade entre os alunos. As ações de envolvimento das famílias no incentivo à leitura. O apoio pedagógico à prática docente. Agente pedagógico interdisciplinar Apoiar O desenvolvimento do projeto curricular e educacional da escola. A prática educacional no âmbito pedagógico e de conteúdo curricular. A projeção de situações de aprendizagem por pesquisa e desenvolvimento da prática de leitura e escrita. Os processos de melhoria do ensino iniciados na escola. FONTE: Durban Roca (2012, p. 100). 32 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura A conceitualização de Durban Roca (2012) apresentada no Quadro 3 é muito interessante, considerando que ela explicita as contribuições das duas dimensões: física e educacional da biblioteca. Além disso, cria um desdobramento dos objetivos de cada ação na contribuição da biblioteca escolar para a comunidade escolar, incluindo a formação dos leitores estudantes e a participação das famílias nesse processo, o apoio à comunidade escolar na transmissão da cultura, a pesquisa para apoiar a comunidade escolar e a discussão acerca da diversidade e as necessidades individualizadas dos participantes de uma forma bem completa. Já Pierruccini (2004, p. 58) conceitua a biblioteca escolar como “dispositivo que ordena, organiza, prescreve de tal modo que cria uma ordem informacional e, portanto, não apenas disponibiliza informações, mas diz, conta, narra – produz signifi cados”. Para a autora, essa ordem informacional precisa ser dialógica, entre a biblioteca e todos os atores da escola, e não monológica, a partir do profi ssional responsável pela biblioteca e as ferramentas da biblioteconomia. É ressaltado por Pimentel, Bernardes e Santana (2007, p. 25) que: [...] a escola, um espaço de aprendizagem permanente, é preciso usufruir das coisas boas que lá existem e desenvolver suas potencialidades ajudando, assim, a escola a crescer [...], portanto a biblioteca escolar não deve ser só um espaço de ação pedagógica, servindo como apoio à construção do conhecimento e de suporte a pesquisas. Deve ser, sim, um espaço para que todos que nela atuam possam utilizá-la como uma fonte de experiência, exercício da cidadania e formação para toda a vida. O Manifesto da UNESCO (1976, p. 158-159), documento imprescindível que dá sustentação a todas as ações da biblioteca, vê a biblioteca escolar como a porta de entrada para o conhecimento, fornecendo as condições básicas para o aprendizado permanente, autonomia das decisões e para o desenvolvimento cultural dos estudantes, profi ssionais da educação e grupos sociais. No tocante às salas de leitura nas escolas, observa-se que elas se constituem como um espaço muito específi co que promove a leitura e, acima de tudo, guardam livros e outros materiais impressos destinados a alunos, professores, funcionários e membros da comunidade. De acordo com Corredor (2014, p. 2), apesar da riqueza do trabalho de leitura que ocorrem nessas salas, 33 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 [...] há, também, limitações nas atividades devido à manutenção e à administração dessas salas, uma vez que geralmente não se tem uma pessoa responsável, ou seja, uma Orientadora da Sala de Leitura que se responsabilize para coordenar os projetos relacionados à leitura ou um problema que comprometa toda a potencialidade desse espaço. É possível que, na ausência de uma proposta direcionada à leitura na escola, todo um conjunto de livros que poderiam ser disponibilizados aos alunos acaba sendo “[...] subutilizados. Digo subutilizados não como julgamento de quem sabe como seria o ‘jeito certo’ de se utilizar um livro, mas como consequência do raciocínio de que ler um livro vai além de tê-lo diante de si e reconhecer o texto e as imagens ali impressas” (CORREDOR, 2014, p. 2). A proposta da sala de leitura, seja pelo próprio processo que originou esse projeto ou pela dinâmica da política de ensino da escola, geralmente tem trazido aos estudantes experiências vagas, intermitentes ou quase nulas com relação ao desenvolvimento da competência leitora em um processo dialógico, considerando que esse processo pede um conhecimento sobre o nosso estar no mundo, como destaca Freire em seu livro A importância do ato de ler: em três artigos que se completam (FREIRE, 1989). Nesse sentido, faz-se necessário refl etir sobre os objetivos do projeto político-pedagógico de sua escola em relação ao desenvolvimento da leitura e a orientação feita anteriormente por Campello (2012), na qual a pesquisadora diz que a biblioteca deve ultrapassar o paradigma da leitura e passar a promover o paradigma da aprendizagem junto com os estudantes e a equipe docente. Nesse caso, essa orientação deve ser estendida à proposta pedagógica da sala de leitura. Isso porque, na escola, a prática da leitura, apesar de o discurso ofi cial dos órgãos de educação apontar o contrário, está muito relacionada à ressignifi cação da linguagem escrita. Corredor (2014) afi rma que há muitas semelhanças entre a biblioteca escolar e a sala de leitura, não apenas nas práticas que teoricamente visam exercitar a capacidade de leitura dos estudantes. A sala de leitura complementaria a proposta de atividades da biblioteca escolar. Observamos, ainda, o compromisso comum desses espaços para que os estudantes atinjam um melhor desempenho em leitura. No que diz respeito às diferenças, podemos listar, por exemplo, a hierarquia e a atmosfera formal que existem nas bibliotecas escolares, as quais são diferentes da sala de leitura, embora tenham consciência de seu objetivo comum. Com isso, constatamos que a sala de leitura parece mais restrita que a da biblioteca escolar. Analisando os conceitos expostos acerca da biblioteca escolar até aqui, observamos uma ampliação positiva do conceito da biblioteca escolar, considerando que esse espaço vai se transformando para atender às necessidades dos usuários, em especial os estudantes, em conformidade com as exigências da 34 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura sociedade contemporânea. Nesse sentido, Paiva e Duarte (2016 apud Prestebak, 2001) afi rmam que há três elementos que caracterizam a biblioteca – informação, educação e lazer, os quais mudaram muito pouco desde 1918. Entretanto, a biblioteca escolar evoluiu, mas esses serviços centrais ainda são fundamentais. Para o desenvolvimento das competências informacionais, culturais, sociais e educativas de seus usuários, a biblioteca escolar deve cumprir a missão defi nida no Manifesto, aprovado no ano de 2000. Isto é, cabe à biblioteca escolar oferecer serviços de aprendizagem, livros e outros recursos a toda a comunidade escolar, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua e situação social, para que desenvolva o pensamento crítico e utilize, de maneira efi caz, a informação, apoiada no inciso IV, do artigo 3º, que trata dos direitos fundamentais da Constituição Federal de 1988 (BRASIL,1988). Consoante com a missão mencionada do Manifesto aprovado no ano de 2000, a biblioteca escolar e a sala de leitura devem cumprir os objetivos defi nidos no documento. No Quadro 4, a seguir, assinalamos os objetivos que ambos os espaços escolares devem colocar em prática para atender às necessidades dos usuários na escola (IFLA, 2000, p. 2). QUADRO 4 – OBJETIVOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SUA PRÁTICA OBJETIVOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SUA PRÁTICA Apoiar e intensifi car a consecução dos objetivos educacionais defi nidos na missão e no currículo da escola; desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura e da aprendizagem, bem como o uso dos recursos da biblioteca ao longo da vida; oferecer oportunidades de vivências destinadas à produção e uso da informação voltada ao conhecimento, à compreensão, imaginação e ao entretenimento; apoiar todos os estudantes na aprendizagem e prática de habilidades para avaliar e usar a informação, em suas variadas formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar adequadamente as formas de comunicação com a comunidade onde estão inseridos; prover acesso em nível local, regional, nacional e global aos recursos existentes e às oportunidades que expõem os aprendizes a diversas ideias, experiências e opiniões; organizar atividades que incentivem a tomada de consciência cultural e social, bem como de sensibilidade; trabalhar em conjunto com estudantes, professores, administradores e pais, para o alcance fi nal da missão e objetivos da escola; proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso à informação são pontos fundamentais à formação de cidadania responsável e ao exercício da democracia; promover leitura, recursos e serviços da biblioteca escolar junto à comunidade escolar e ao seu derredor. FONTE: Adaptado de IFLA (2000, p. 2). 35 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 Observando esses objetivos, é possível afi rmar que as bibliotecas escolares e salas de leitura no Brasil ainda estão longe de atingi-los. Entretanto, acredita- se que esses objetivos trazem em si a possiblidade de orientar o processo de ensino e aprendizagem de excelência. Portanto, trazê-los para o nosso curso não consideramos uma perda de tempo, ao contrário, é uma forma de continuar persistindo na proposta de melhorar a educação básica, em especial a dos estudantes das escolas públicas. Afi nal, a biblioteca escolar e a sala de leitura assumem funções essenciais na educação desses jovens. É notável que as funções desempenhadas por esses ambientes estão voltadas para o âmbito cultural, informacional, recreativo e educativo. Daí, a importância da harmonia entre escola, biblioteca e sala de leitura, pois seus objetivos são interligados e só a partir dessa articulação podem ser cumpridos adequadamente. Além do cumprimento dos objetivos retratados no Quadro 4, a qualidade da entrega dos serviços da biblioteca escolar e da sala de leitura depende da atuação dos profi ssionais responsáveis por esses ambientes. Para isso, cabe ao profi ssional responsável, em especial se ele for bibliotecário, como menciona a Lei n. 12.244/2010, desempenhar as seguintes funções dentro da unidade de informação: (i) proporcionar acesso à informação, às ideias que servem como portas de acesso ao conhecimento, ao pensamento e à cultura; (ii) proporcionar apoio essencial à formação contínua para a tomada de decisão independente; (iii) contribuir para o desenvolvimento e a manutenção da liberdade intelectual ajudando, assim, a preservar os valores democráticos fundamentais universais; (iv) adquirir, preservar e disponibilizar a mais ampla variedade de documentos, refl etindo a pluralidade da sociedade; (v) assegurar que a seleção e a disponibilidade dos documentos e dos serviços sejam regidas por considerações de natureza profi ssional e não por critérios políticos, morais ou religiosos; (vi) adquirir, organizar e difundir a informação livremente; (vii) opor-se a qualquer forma de censura e disponibilizar os seus documentos, instalações e serviços a todos os utilizadores, de forma equitativa (SALES, 2004, p. 44). Analisando as funções do profi ssional responsável pela biblioteca e sala de leitura, para esse profi ssional alcançar resultados mais promissores, suas funções devem estar alinhadas com a missão e objetivos propostos no projeto político-pedagógico da escola. Caso essas funções estejam em dissonância com os propósitos da escola, possivelmente os resultados alcançados não estarão condizentes com o planejamento desses espaços e os objetivos fi carão 36 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura ainda mais longe de serem alcançados, especialmente aqueles que defi niram o uso adequado das fontes de informação existentes e o desenvolvimento do pensamento crítico nos alunos. Litton (1974) classifi cou as tarefas do responsável pela biblioteca e sala de leitura que em três grupos principais: administrativas, técnicas e educacionais, as quais são articuladas, como mostra a Figura 15 a seguir: FIGURA 15 – TAREFAS DOS PROFISSIONAIS DA BIBLIOTECA ESCOLAR E SALA DE LEITURA, SEGUNDO LITTON FONTE: A autora. Atividades administrativas: são aquelas ligadas ao planejamento do ambiente, à supervisão do pessoal, à distribuição de tarefas, à gestão do acervo e a todas as outras atividades voltadas para a área administrativa. Atividades técnicas: são aquelas relacionadas ao tratamento da informação para que possa ser usada de forma efi ciente pela comunidade atendida como: processos de catalogação, classifi cação, indexação e outros vinculados ao tratamento documental. Atividades educacionais: são aquelas considerada por muitos como as mais importantes, como o incentivo à leitura, planejamento junto aos professores e à comunidade escolar, seleção de materiais educativos, entre outras atividades voltadas ao contexto educacional. Já as Diretrizes da IFLA/UNESCO sobre as bibliotecas escolares defi nem as seguintes atividades para serem realizadas na biblioteca escolar e na sala de leitura pelo profi ssional responsável por esses ambientes, como demonstra a citação a seguir. Espera-se, então, que eles cumpram as seguintes atividades: 37 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 a) analisar os recursos e as necessidades de informação da comunidade escolar; b) formular e promover políticas para o desenvolvimento dos serviços; c) desenvolver políticas e sistemas de aquisição para os recursos da biblioteca; d) catalogar e classifi car documentos e recursos em geral; e) promover a utilização da biblioteca; f) apoiar estudantes e professores na utilização de recursos da biblioteca e de tecnologia da informação; g) responder aos pedidos de referência e de informação, utilizando os materiais adequados; h) promover programas de leitura e eventos culturais; i) participar de atividades de planifi cação relacionadas à gestão do currículo; j) participar na preparação, promoção e avaliação de atividades de aprendizagem; l) promover a avaliação de serviços de biblioteca enquanto componente normal e regular do sistema de avaliação global da escola; m) construir parcerias com organizações externas; n) preparar e aplicar orçamentos; o) conceber planejamento estratégico; p) gerir a formação da equipe da biblioteca e sala de leitura (IFLA, 2002, p. 13). A partir dessas atividades, observa-se que o profi ssional responsável pela biblioteca escolar e a sala de leitura podem ser considerados como agentes transformadores no espaço educativo. Além das competênciasinformacionais e outras atividades (como listadas na citação anterior), ao longo de sua formação acadêmica, esses agentes continuam participando de cursos de formação continuada para se atualizarem com frequência, pois as transformações na sociedade contemporânea são velozes e os profi ssionais que não se atualizam podem comprometer a qualidade do serviço que vão entregar a seus usuários. Esses profi ssionais devem, ainda, trabalhar a interação com a equipe docente, os estudantes e a comunidade na qual a escola está inserida. Para isso, um dos primeiros passos é compreender como surgiram as bibliotecas escolares em nosso país, o que discutiremos no próximo tópico desta seção. Como surgiu a biblioteca escolar em nosso país? Consideramos essencial trazer esse questionamento sobre o surgimento das bibliotecas escolares brasileiras para a nossa discussão, pois ele pode nos ajudar a compreender a trajetória histórica destes espaços-lugares, que são as bibliotecas escolares. Para começar a respondê-lo, ressaltamos que não vamos apresentar uma trajetória linear e homogênea da biblioteca escolar em todos os 38 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura cantos do nosso Brasil. Assim, devido ao limite imposto pela literatura da área sobre essa temática até metade do século XX, faremos, aqui, uma exposição rápida sobre alguns pontos históricos fundamentais que contribuíram para a constituição das bibliotecas escolares no país, em especial fatos históricos, programas, legislações, funções, missões e iniciativas. Na revisitação de algumas fontes, os autores destacam esse limite com relação aos dados históricos. Nessa perspectiva, Monteiro (2016, p. 37) afi rma que os “primeiros livros presentes na educação brasileira datam da segunda metade do século XVI, sendo estes bem poucos utilizados pelos jesuítas na alfabetização dos fi lhos da elite.” Para dar continuidade a essa escolarização, mais tarde chegaram mais livros, os quais foram usados, também, na formação dos professores. Com esses livros “foram formadas as primeiras Bibliotecas Escolares, curiosamente chamadas de ‘Livrarias’” (MONTEIRO, 2016, p. 38). A primeira delas foi a Livraria do Colégio da Bahia. Mais tarde, os jesuítas criaram outros colégios e conventos em Salvador, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga, sendo que cada um deles tinha sua biblioteca. Assim, essas bibliotecas passaram a armazenar livros, desenvolver atividades de ensino e formar outros professores (ERMAKOFF, 2015). Em suma, as bibliotecas escolares podem ser vistas como as principais instituições formadoras da elite brasileira daquela época, como destacam Silva e Bortolin (2006). Nessa época, já estavam por aqui outras ordens religiosas - franciscanos, beneditinos e carmelitas -, os quais cuidavam da instrução dos colonos e, em suas escolas, também possuíam bibliotecas (MONTEIRO, 2016). Ao contrário do que muitos imaginam, os acervos dessas bibliotecas eram de qualidade, sendo comparados aos acervos da biblioteca de uma faculdade. Até esse período, a biblioteca escolar que tinha a estrutura física mais atrativa, de acordo com Moraes (2006), era a de Salvador. Essa biblioteca abrigava um acervo com grande qualidade em uma sala com um suntuoso teto, ou seja, “[...] a sala era uma das joias da pintura brasileira [...], assemelhando-se àquelas salas que os reis e príncipes europeus mandavam construir e decorar para instalar seus livros e cabinets de curiosités” (MORAES, 2006, p. 8). Apesar do crescimento das bibliotecas escolares, em 1759, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas e: As bibliotecas escolares sofreram um golpe terrível com a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil. Todos os bens foram confi scados, inclusive as bibliotecas. Livros retirados 39 CARACTERIZAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR E DA SALA DE LEITURA, SUAS FUNÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERALE CONTRIBUIÇÕES PARA OS SEGMENTOS ESCOLARES E A COMUNIDADE EM GERAL Capítulo 1 dos colégios fi caram amontoados em lugares impróprios, durante anos, enquanto se procedia ao inventário de bens dos inacianos (MORAES, 2006, p. 10). Moraes (2006) pontua que, após a expulsão dos jesuítas, o país fi cou quase um século sem dados e informações sobre as bibliotecas escolares. Só a partir da segunda metade do século XIX que foi retomada a organização das bibliotecas escolares, as quais eram, na verdade, uma coleção de livros e não um espaço físico na escola, cuja preocupação de Vicente Pires da Mota (presidente da província de São Paulo de 1848 a 1851) dizia respeito à educação dos provincianos e não a organização desses espaços. Após 1815, o Conselho de Instrução do Império criou a primeira “biblioteca escolar brasileira”, que, em síntese, era uma coleção de adaptações das obras Os Lusíadas e as Fábulas de La Fontaine. Mais especifi camente, essas adaptações incorporavam características nacionais às histórias, iniciativa que “deu-se devido à recusa às obras traduzidas enviadas de Portugal ao Brasil, que não se adequavam à realidade cultural brasileira” (MORAES, 2006, p. 10). Em 1808, com a chegada da Família Real e do governo português ao Rio de Janeiro, houve uma mudança na situação das bibliotecas no Brasil. De acordo com Silva e Bortolin (2006), graças à liberação da imprensa, proibida no Brasil desde o início da colonização, criou-se a Imprensa Régia para a confecção dos documentos do governo, como: cartazes, sermões, folhetos e outros mais. Essa imprensa: [...] chegou ao Brasil, nos porões dos navios, a tipografi a para a constituição da imprensa Régia. Até aquela data as ofi cinas tipográfi cas estavam totalmente vetadas por Lisboa. Depois, sob a tutela da Corte, conseguiu editar, em 1808, 37 títulos e até 1822, 1154 (MILANESI, 1993, p. 29). O rei também trouxe a Biblioteca Real, formada por milhares de livros - manuscritos e documentos da coroa -, “era uma livraria rica e versátil, [...] com uma esplêndida coleção quase toda suntuosamente encadernada em marroquino vermelho”, descreve Moraes (2006, p. 91). Inicialmente, o acervo com cerca de 60.000 volumes foi instalado no Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro, em 1811. Porém, como ressalta Moraes (2006, p. 91) “a consulta era permitida apenas aos estudiosos, vindo a ser aberta ao público somente em 1814. Logo após a Independência, foi anexada ao patrimônio público brasileiro e passou a ser chamada de Biblioteca Nacional”. Válio (1990) ressalta que, entre os anos de 1880 até 1915, foram criadas as bibliotecas das Escolas Normais. A Biblioteca da Escola Normal Caetano 40 Gestão de Biblioteca Escolar e Sala de Leitura de Campos, em São Paulo, foi a primeira delas. Para o autor, essas foram as primeiras “bibliotecas escolares no sentido que conhecemos hoje” (VÁLIO, 1990, p. 18). Esse autor ressalta, ainda, que, no Brasil, a publicação de livros de um modo geral e de literatura infantil em particular teve um grande avanço entre os anos de 1915 e 1921. Porém, até a década de 1940, nem todas as escolas tinham sua biblioteca escolar e os estudantes fi caram desassistidos nesse sentido (SILVA, 2011). Nas unidades escolares que tinham bibliotecas, o uso do livro e da própria biblioteca era exclusivo aos alunos matriculados, fossem escolas públicas ou privadas. Somente após esse período, as escolas estaduais passaram a contar com bibliotecas em suas unidades (SILVA, 2011). Em 1937, houve a expansão das bibliotecas públicas em todo o território nacional com a fundação do Instituto Nacional do Livro (INL). Até 1945, essa iniciativa contribuiu com o aumento signifi cativo de bibliotecas públicas, principalmente nos estados menos prósperos, devido ao apoio do INL, que as auxiliava na dispendiosa tarefa de adquirir o acervo e na capacitação técnica dos profi ssionais (FGV, 2020). Silva (2011, p. 497) destaca que, nas décadas de 1940 e 1950, a
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