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Vict�ria K. L. Card�so Artrite reumatóide Introdução Definição: ● Doença inflamatória autoimune sistêmica. ● Acomete primariamente regiões com líquido sinovial, causando destruição óssea e cartilaginosa, podendo ter manifestações extra-articulares. Pop. mais acometida: mulheres (2,5:1) entre 30 e 50 anos. Fisiopatologia Etiopatogenia: ● Fatores de interação: genética, epigenética, ambiente, infecções e alterações hormonais. ○ Genética: mutação nos genes HLA-DR4, PTPN22 (+ mutação da enzima PADI). ○ Ambiente: tabagismo, periodontite por Porphyromonas gingivalis e exposição à sílica. ○ Infecções: parvovírus, vírus Epstein-Barr, micoplasma, Mycobacterium e bactérias da microbiota intestinal. ○ Alterações hormonais: estrógeno. Fatores de risco: (são as exposições ambientais) ● Tabagismo→ principal fator de risco modificável. ○ Aumento da chance de AR a partir de 10 anos-maço, mesmo após suspensão por até 20 anos. ● Periodontite por Porphyromonas gingivalis. ● Exposição à sílica. ● Obesidade→ síndrome metabólica. Passo a passo da patogênese: ● Via genética: 1. Mutação nos genes HLA-DR4 e PTPN22 e na enzima PADI (responsável pela catalisação da citrulinização de proteínas). 2. Início da citrulinização pela presença de um epítopo compartilhado (mudança de uma guanina por uma citrulina). 3. Formação de uma proteína anômala, que nesse caso é considerada artritogênica. 4. Essa proteína citrulinizada artritogênica é como um antígeno para o corpo, sendo @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so então apresentada para linfócitos T e B. 5. Os linfócitos aumentam a resposta inflamatória, rica em TNF, IL-6 e IL-1, que se retroalimentam e ativam mais linfócito T. 6. Esses linfócitos T ativam, novamente, mais linfócitos B, que, a partir das interleucinas, ativam mais linfócito T. 7. (ou seja) Processo de expansão inflamatória. 8. Solução: inibir a PADI→ pois assim haverá diminuição do processo inflamatório do paciente, visto que diminuirá a citrulinização. ● Via hormonal: 1. Elevação de estrógeno. 2. Diminuição da apoptose de linfócitos B. 3. Aumento do tempo para a “morte” desse linfócito. 4. Aumento da quantidade de linfócitos B reacionais. 5. Maior produção de anticorpos. 6. Exacerbação da inflamação. 7. Solução: uso de anticoncepcional, para não haver elevação de estrógeno. a. Obs: estrógeno exógeno não aumenta o valor total sérico no sangue, então não tem problema. 8. Obs: durante a gravidez a mulher para de ter atividade da doença, ela entra em remissão, pois a quantidade de estrógeno diminui significativamente. Porém, no puerpério há a normalização dos hormônios e, consequentemente, aumento de estrógeno. ● Via pelo tabagismo e pela higiene bucal: 1. Fumaça de cigarro. 2. Estímulo às células da imunidade inata, principalmente na mucosa pulmonar e no TGI. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so a. O TGI se inicia na boca, por isso a questão da higiene bucal. b. Algumas bactérias presentes na mucosa oral, por exemplo a Porphyromonas gingivalis, também fazem mutação na PADI, então há mais citrulinização de proteínas. 3. Aumento do processo inflamatório e de mutação de PADIs (enzima para citrulinização). 4. Maior citrulinização das proteínas. ● Via metabólica: ○ Aqui considera-se especialmente a obesidade e a síndrome metabólica, pois elas se relacionam com a resposta clínica aos tratamentos. ○ Alguns tratamentos da AR são feitos por mg/kg, então uma maior quantidade de fármaco será necessária e também há um maior risco de efeitos colaterais. Quadro clínico Manifestações articulares: geralmente esses sintomas se instalam de maneira insidiosa e progressiva (semanas a meses). ● Características principais: ○ Trata-se de uma poliartrite simétrica e aditiva, principalmente de mãos e pés (metacarpofalângicas - MCF, interfalângicas proximais - IFP, interfalângicas distais - IFD e metatarsofalângicas - MTF. ○ Possui rigidez matinal ≥ 1 h e podem ter sintomas gerais, como fadiga, febre, mialgia e perda de peso. ● Mãos: ○ Atrofia de interósseos. ○ Desvios ulnar de MCF e radial dos punhos. ○ Dedo em pescoço de cisne (hiperextensão da IFP + flexão da IFD). ○ Dedo em botoeira (flexão da IFP e hiperextensão da IFD). ○ Síndrome do túnel do carpo (compressão do n. medial). ○ Síndrome do canal de Guyon (compressão do n. ulnar). ○ Tenossinovite estenosante (dedo em gatilho). ○ Mãos em dorso de camelo. ○ Estilóide em tecla de piano (lesão do ligamento colateral ulnar, levando à proeminência da cabeça ulnar e estilóide). @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Polegares em Z (flexão da MCF e hiperextensão IF). ● Ombros: redução da amplitude de movimento e progressão para ombro congelado (capsulite adesiva). ● Cotovelos: semiflexão e semipronação. ● Coluna cervical: ○ Cervicalgia. ○ Instabilidade C1-C2 (tenossinovite do ligamento transverso de C1) com subluxação atlantoaxial e mielopatia cervical. ● Joelhos: ○ Cisto de Baker (herniação posterior da cápsula)→ pode romper e evoluir com clínica semelhante à TVP. ○ Deformidades em varo ou valgo ● Antepé: ○ Retificação ou desabamento do arco anterior (metatarsos)→ causando pé plano anterior (calosidades nas cabeças dos metatarsos). ○ Hálux valgo. ○ Desvio e subluxação das cabeças da MTF em direção à superfície plantar. ● Cricoaritenóides: disfonia e dor à deglutição. Manifestações extra-articulares: esses quadros se associam à doença grave poliarticular, com FR positivo e presença de HLA-DRB1. ● Nódulos reumatóides: ○ Mais em zonas de atrito→ superfície extensora do antebraço, tendão do calcâneo, ísquio, MTF e flexora dos dedos. ○ Possui relação com a atividade de doença. ● Rim: ○ Glomerulonefrite mesangial. ○ Amiloidose AA (amiloide A). ○ Nefrite intersticial secundária à síndrome de Sjögren ou ao uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINE). ● Área cardíaca: ○ Derrame pericárdico assintomático. ○ Aortite. ○ Aneurisma de aorta. ○ Insuficiência aórtica (dilatação do anel valvar). ● Área respiratória: (geralmente assintomático) @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Doença intersticial com fibrose intersticial em bases. ■ Pneumonia intersticial usual - PIU, nódulos pulmonares, derrame pleural (possui glicose baixa, desidrogenase lática e proteínas elevadas). ○ Bronquiolite obliterante→ rara e grave. ● Área ocular: ○ Síndrome sicca→ Sjögren. ○ Episclerite (benigna). ○ Esclerite (grave). ○ Ceratite ulcerativa periférica. ○ Escleromalácia perfurante. ● Doença de Still: doença inflamatória sistêmica rara, com clínica heterogênea. ○ Sintomas constitucionais→ febre alta, mialgia e poliartrite. ■ Pode ser um episódio único ou recorrente. ○ Rash rosa-salmão evanescente → durante os episódios febris→ característico da doença. ○ Serosite, linfadenopatia e esplenomegalia. ○ Possíveis alterações laboratoriais → anemia e trombocitose. ● Síndrome de Felty: AR + esplenomegalia + leucopenia, com neutropenia. ○ Geralmente ocorre mais em fase tardia e destrutiva→ afeta menos de 1% dos pacientes. ○ Idade predominante: quinta à sétima década→ dois terços dos pacientes são mulheres. ○ Associada a HLA-DR4, nódulos reumatoides e níveis elevados de FR. ○ Pode haver: nódulos subcutâneos, úlceras em MMII, linfadenopatia, vasculite reumatoide e neuropatia periférica. ○ Diagnóstico diferencial importante: leucemia linfocítica granular (LLG) T. ● Vasculite reumatoide: ligada ao FR positivo, tabagismo ativo e doença de longa duração. ○ Neuropatia periférica (acometimento de vasa vasorum). ○ Vasculite cutânea (púrpura palpável e úlcera em MMII), ○ Vasculite de médios vasos com arterite visceral. ○ Mononeurite múltipla. ○ Livedo reticular. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Pioderma gangrenoso. ○ Infecção periungueal. ○ Necrose de extremidades. Exames e diagnóstico Exames complementares: ● Para avaliação da atividade da doença: reagentes de fase aguda, VHS e proteína C reativa. ● Para diagnóstico e prognóstico: FR e o anticorpo antipeptídeo citrulinado cíclico (anti-CCP). ● Examesde imagem: também são importantes no diagnóstico e na avaliação da progressão de doença. ○ Radiografia de mãos e pés: mostra edema de partes moles, osteopenia periarticular, erosões marginais, redução do espaço articular e deformidades. ○ USG: (importante) diagnóstico precoce (sinovites subclínicas e/ou erosões) e para avaliação de atividade da doença (sinovites com power Doppler positivo). ○ RNM: alta sensibilidade, pode mostrar edema ósseo (prediz erosão), tenossinovite, erosão e dano à cartilagem. Critérios classificatórios ACR/EULAR 2010: deve-se aplicar em pacientes com pelo menos 1 sinovite clínica não explicada por nenhuma outra doença→ positivo quando ≥ 6. Diagnósticos diferenciais: ● Importante diagnóstico diferencial: poliartrite paraneoplásica. ○ Pesquisar em pacientes com síndrome consumptiva ou com outros sinais de alerta. ● Doenças infecciosas: infecções por parvovírus B19, HIV, hepatite B e C e rubéola. ● Doenças autoimunes: LES, síndrome de Sjögren, polimialgia reumática, espondiloartropatia, artrite psoriásica, hipotireoidismo, sarcoidose e amiloidose. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Fatores de mau prognóstico: ● FR em altos títulos. ● Anti-CCP positivo. ● Presença de HLA DR4 e DRB1*0101. ● Elevação persistente de VHS e de proteína C reativa. ● Acometimento de grandes articulações. ● Sexo feminino. ● Acometimento extra-articular. ● Presença de erosões (especialmente nos primeiros 2 anos de doença). ● Início da doença em idade precoce. Tratamento e monitoramento Tratamento não farmacológico: ● Educação sobre a doença. ● Cessação do tabagismo. ● Terapias físicas→ fisioterapia, reabilitação e terapia ocupacional. ● Infiltração articular. ● Controle de comorbidades risco cardiovascular e infeccioso. Tratamento medicamentoso no Brasil: ● Alvo: preferencialmente a remissão, mas se aceita a baixa atividade em pacientes com doença de longa data. ● MMCD sintéticos convencionais: ○ Metotrexato→ 7,5 a 25 mg/semana VO. ○ Leflunomida→ 20 mg/dia VO. ○ Hidroxicloroquina→ 400 mg/dia VO. ○ Sulfassalazina→ 2 a 3 g/dia VO. ● MMCD biológicos (anti-TNF): ○ Adalimumabe→ 40 mg SC, a cada 14 dias. ○ Certolizumabe. ■ Ataque: 400 mg nos dias 0, 14 e 28, SC. ■ Manutenção: 400 mg a cada 28 dias ou 200 mg a cada 14 dias, SC. ○ Etanercepte→ 50 mg/semana, SC. ■ Menor risco de reativação de tuberculose. ○ Golimumabe→ 50 mg SC, a cada 28 dias. ● Bloqueador da coestimulação do linfócito T: ○ Abatacepte. ■ Ataque: 0, 14 e 28 dias. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ■ Manutenção: 125 mg SC, 1 vez/semana, a cada 28 dias. ■ < 60 kg: 500 mg, IV. ■ 60 a 100 kg: 750 mg IV. ■ ≥ 100 kg: 1 g, IV. ● Antirreceptor de IL-6: ○ Rituximabe→ 1 g, IV, no dia 0 e 1 g, IV, no dia 14→ a cada 6 meses ou mais. ● Anti-CD20: ○ Rituximabe→ 1 g, IV, no dia 0 e 1 g IV no dia 14→ a cada 6 ou mais meses. Recomendações para o tratamento: ● 1a etapa: MMCD sintéticos convencionais. 1. Primeira escolha terapêutica: metotrexato (MTX). 2. Contraindicação ao MTX: leflunomida (LFN) ou sulfassalazina. 3. Hidroxicloroquina como primeira opção: no caso de pacientes sem fatores de mau prognóstico (casos leves e com menor risco de apresentar erosões ósseas). 4. Em caso de toxicidade, falta de resposta em 3 meses ou o alvo não atingido em 6 meses: realizar a troca ou associar MMCD sintéticos convencionais. 5. Associações de MMCD sintéticos: a. MTX com antimalárico (cloroquina ou hidroxicloroquina). b. MTX com sulfassalazina. c. MTX com antimalárico e sulfassalazina (terapia tríplice). d. MTX com LFN. 6. Para minimizar os efeitos adversos: deve-se reduzir a dose do primeiro MMCD sintético no momento da associação ao segundo. 7. Não se recomenda: utilizar MMCD biológicos na primeira etapa do tratamento. ● 2a etapa: após 6 meses, iniciar o primeiro biológico em associação com MMCD, de preferência o MTX. 1. Persistência da atividade da doença, de forma moderada ou alta, após 6 meses utilizando 2 esquemas terapêuticos diferentes com MMCD sintéticos: utilizar um MMCD biológico ou tofacitinibe, sempre com MTX, sulfassalazina ou LFN. 2. Contraindicação absoluta a esses MMCD sintéticos: realizar @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so monoterapia com MMCD biológico ou com tofacitinibe. a. MMCD biológicos disponíveis no SUS: anti-TNF, bloqueador da coestimulação de linfócitos, anti-IL-6 ou sintético alvo-específico. ● 3a etapa: troca de biológicos em associação com MMCD sintético, preferencialmente o MTX. Tratamento das manifestações extra-articulares: ● Vasculites: ○ Formas leves (localizadas) ou moderadas: prednisona 20 a 40 mg, com imunossupressores (MTX ou azatioprina - AZA). ■ Manutenção: MTX, AZA ou LFN. ○ Formas graves: pulsoterapia com metilprednisolona 1 g, por 3 dias, com pulsoterapia de ciclofosfamida (CFA), RTX ou anti-TNF. ■ Manutenção: MTX, AZA ou LFN. ● Doença pulmonar intersticial: (depende do padrão tomográfico) ○ Se houver estabilidade: não se trata especificamente a doença pulmonar. ○ Se houver necessidade de tratamento: uso de corticosteroides e imunossupressores. ○ Casos graves: usar CFA. ○ Esquema de manutenção: AZA, micofenolato mofetila (MMF) e RTX. ○ Contraindicação relativa para: anti-TNF, LFN e MTX. ● Acometimento ocular: ○ Síndrome sicca: sintomáticos e controle da doença de base. ○ Episclerite: medidas locais→ colírio lubrificante, AINE tópico. ○ Esclerite: tratamento tópico, corticosteróide sistêmico e imunossupressores. ○ Escleromalacia: tratamento tópico, corticosteróide sistêmico e imunossupressores (CFA). ● Nódulos reumatoides: respondem bem ao corticosteroide sistêmico e ao MMCD sintético convencional. Monitoramento: ● Tempo: a cada 1 a 3 meses. ● Como: ○ Avaliação clínica. ○ Seguimento infeccioso. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Avaliação de medidas laboratoriais: ■ Atividade da doença→ VHS e proteína C reativa. ■ Verificação de toxicidade medicamentosa→ hemograma, AST, ALT e função renal. ○ Calcular DAS28, CDAI ou SDAI a cada 3 a 6 meses. ● Exames de imagem: solicitar radiografia de mãos e pés anualmente para avaliar a progressão da doença. ○ Verificar a necessidade de USG de mãos e punhos para avaliar atividade subclínica. @p�sitivamed
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