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Reumatologia – Amanda Longo Louzada ARTRITE REUMATÓIDE DEFINIÇÃO: · Doença sistêmica do tecido conjuntivo cujas alterações predominem em estruturas articulares, periarticulares e tendinosas, se manifestando com sinais cardinais de inflamação · É uma doença sistêmica, autoimune, crônica e progressiva · É caracterizada por sinovite periférica e manifestações extra-articulares Epidemiologia: · Doença reumática mais frequente · Mais comum entre 30-50 anos · Prevalente em mulheres · Possui grande impacto previdenciário pois as pessoas se tornam incapazes de trabalhar · Diminui a expectativa de vida em 3 a 10 anos · Pessoas com história na família, possui maior risco de adquirirem a doença · Possui caráter hereditário, poligênico, não mendeliana e multifatorial fatores predisponentes: · Genética · Sexo feminino · Tabagismo · Infecções, periodontite e alterações do microbioma intestinal · Exposição a sílica, abesto e madeira · Desequilíbrio imunológico Fisiopatologia: · Se caracteriza por tecido inflamatório sinovial com hiperplasia e aumento da vascularidade, esse tecido é chamado de PANNUS, este tecido causa lesão articular, do tecido ósseo e da sinóvia · Na sinóvia ocorre infiltração leucocitária, aumentando a expressão das moléculas de adesão, enzimas proteolíticas e interleucinas (TNF, IL-6 e IL-17), que ajudam na proliferação do PANNUS mANIFESTAÇÕES cLÍNICAS: · Sinais Sistêmicos: fadiga, astenia, anemia leve, perda de peso, febrícula, sudorese, mal-estar, adinamia, linfadenopatia, trombocitose e disestesias · Sinais Articulares: · Poliartrite aditiva, crônica do tipo inflamatória · Com rigidez matinal maior que 60 minutos · Podendo ter deformidades e instabilidades · Estruturas da articulação lesionadas: sinovial, osso subcondral, cápsula e ligamentos · Articulações mais acometidas: metacarpofalangianas, interfalangianas proximais, punhos, ombros, joelhos e metatatarsofalangianas. · Condições Associadas: doença cardiovascular, osteoporose e linfoma difuso de grandes células B · Achados Clínicos: · Mãos: · Dedo em Pescoço de Cisne: ocorre hiperextensão da interfalangiana proximal e hiperflexão da interfalangiana distal · Dedos em fuso: artrite na interfalangianas proximais, são secundárias a tumefação da articulação · Dedos em Botoeira: ocorre hiperextensão da interfalangiana distal e hiperflexão da interfalangiana proximal · Dedos em Martelo: hiperflexão da interfalangiana proximal do tarso · Dedos em Z: é devido a flexão da articulação metacarpofalangiana e hipertextensão da articulação interfalangiana. · Punhos: · Punho em dorso de camelo: ocorre tumefação das metacarpofalangianas, com hipotrofia dos músculos interósseos do dorso da mão e tumefação do punho. · Joelho: · Sinal da Tecla: ocorre quando há derrame sinovial, evidenciado pela compressão da patela · Cisto de Baker: cisto localizado na região poplítea, que pode causar dor devido a compressão nervosa e vascular, caso esse cisto se rompa ocorre pseudotromboflebite · Pé Reumatóide: o 5º metatarso é mais frequentemente acometido · O pé fica plano e com o hálux valgo · Coxo-femural: essa articulação é acometida em casos mais graves e avançados da doença · Ombro Reumatóide: ocorre redução da abdução e da rotação interna · Coluna Vertebral: · Acomete mais o esqueleto axial · O acometimento lombar é mais raro · Luxação Atlanto-axial é raro · Articulação Têmporo-mandibular: é praticamente patognomônico da doença. Quando há acometimento dessa articulação o paciente tem dor ao abrir a boca e tem dificuldade de mastigar. · Ossículo do Ouvido: pode ocasionar surdez · Cricoaritenóide: quando acometida causa rouquidão, disfagia, tosse, dor na região anterior do pescoço. · Sinais Extra-articulares: · Cutâneas: hipotrofia, eritema, nódulos subcutâneos (20-40% mais comum) vasculite, Raynaud e distrofia ungueal · Nódulo Subcutâneo: fator reumatóide positivo, indolor, móvel, sob superfície extensora, podem acometer vísceras (olho, pulmão, cordas vocais), é resultado de uma vasculite de pequenos vasos, formação de histiócito em paliçada. com tecido conjuntivo infiltrado por linfócitos e com necrose fibrinóide central · Vasculite: úlcera cutânea, neuropatia periférica e pioderma gangrenoso · Cardiológicas: pericardite, miocardite (formação de granulomas\vasculite), endocardite, distúrbios de condução, arterite coronariana e IAM (10 anos antes controle) · Pulmonares: nódulo, pneumonite (mais comum) com ou sem vasculite e síndrome de Caplan · Derrame: exsudato (PH menor que 7,3, glicose menor que 50% e DHL maior que 700) e com frequência respiratória elevada · Pneumonia intersticial está presente em 50% dos pacientes · Fazem nódulos reumatóides dentro do pulmão · Pleurite e derrame pleural ocorrem mais em homens, fator reumatoide + e nódulos reumatóide · Síndrome de Caplan: forma nodular de acometimento pulmonar e fibrose maciça · Nefrológicos: síndrome nefrótica secundária a amiloidose (mais comum), AINE ou Paracetamol, pode causar necrose papilar e nefrite intersticial · Ocular: ocorre em 15-25% dos casos;conjuntivite (mais comum) esclerite, episclerite, paralisia do nervo oculomotor, miosite orbitária, paralisia transitória do músculo oblíquo e uveíte anterior · Neurológico: nódulos em meninge, neuropatia cervical e periférica, compressão e vasculite cerebral Critérios de Classificação ACR-EULAR PARA ARTRITE REUMATÓIDE – 2010: · Envolvimento Articular: · 0 - uma grande articulação (ombro, joelho, quadril, cotovelo e tornozelo) · 1 - duas a dez grandes articulações · 2 - uma à a três pequenas articulações com ou sem grandes articulações · 3 – quatro à dez articulações com ou sem grande articulações · 5 – mais de articulações, com pelos menos 1 pequena articulação · Sorologia: · 0 – fator reumatoide negativo e anti-CCP negativo · 2 – Fator reumatoide ou anti-CCP positivo em baixos títulos · 3 – Fatore reumatoide ou anti-CCP positivo em altos títulos · Reagentes de fase aguda (ao menos 1 teste) · 0 – VHS e PCR normais · 1 – VHS ou PCR acima do normal · Duração dos sintomas: · 0 – menos que 6 semanas · 1 - mais que 6 semanas Exames Laboratoriais: · Fator Reumatóide: 70-80% dos paciente com artrite reumatóide · Autoanticorpo direcionado a fração FC da imunoglobulina G (IgG) humana · Como teste diagnóstico é limitado pois 30-50% dos pacientes vão ter sorologia negativa · Pode estar presente em diversas situações de estímulo crônico do sistema imune · Estima prognóstico: progressão radiológica e mortalidade · Diagnóstico diferencial: sjogren (mais comum), LES, AIDS na sarcoidose, Chagas na hepatite, endocardite bacteriana na hanseníase, sífilis em idosos e pessoas sadias · Fator reumatóide negativo não exclui diagnóstico e o positivo deve ser cuidadosamente interpretado com os achados clínicos · AntiCCP: anticorpo antiproteína citrulinada · Boa aplicabilidade clínica: aparecem precocemente, sensibilidade de 70-80% (70-75% segundo a SBR) e especificidade de 90-98% · Auxilia nos casos de fator reumatóide negativo · Preditor de evolução da artrite indiferenciada para artrite reumatóide ( 93% contra 68% do fator reumatóide) · Raramente presentes em outras doenças, apenas em casos de tuberculose ativa · Indicador de progressão e prognóstico · Hemograma: geralmente é normal, podendo ter uma discreta anemia normo\normo, com leucometria normal ou com leve leucocitose, trombocitopenia e neutropenia · Síndrome de Feity: ocorre em pacientes com infecções bacterianas recorrentes. Ocorre esplenomegalia e neutropenia · Provas Inflamatórias: estão sempre aumentados quando a doença está em atividade · HLA-DR4 e HLA-DR1: estão relacionados com pior prognóstico Exames de Imagem: · Alterações: · Iniciais: não costuma ter muitas alterações · Partes moles podem apresentar edema · Densidade óssea alterada, osteopenia, diminuição da massa óssea periarticular, devido ao desuso da articulação · Alterações do espaço articular · Alteração das superfícies articulares · Tardia: · Destruição do espaço articular · Contraturasem flexão e extensão · Anquilose · Características radiográficas: · Simetria · Osteopenia (inicialmente periarticular) · Aumento de partes moles · Redução do espaço articular · Erosões ósseas · Cistos ósseos ou geodas: área translúcida subcondral e deve-se a invasão da cartilagem\osso pelo pannus · Deformidades e instabilidades · USG: · Método não invasivo e de custo acessível · Detecta sinovite, derrame articular e erosão · Pouco útil na avaliação do acometimento interósseo (edema ósseo) · Power Doppler: permite avaliar a vascularização sinovial que contribuem para o monitoramento terapêutico (hiperfluxo fase ativa) · RNM: · Sinovite: espessamento sinovial pelo meio de contraste e espessura maior que 1 mm · Erosão óssea: lesão justa-articular regular e visível em dois planos, com ruptura da cortical vista em pelo menos um plano índice de Atividade da doença: · Contagem de dor e edema em 28 articulações (ombros, cotovelos, punho MCF, IFP de mãos e joelhos), VHS, avaliação da saúde geral pelo paciente (EVA de 0-100) · Grande aplicação no monitoramento dos pacientes e em estudos clínicos · Reconhece se o tratamento está sendo efetivo · Componentes: · DAS 28: usa somente o número de articulações e o EVA do paciente, está caindo em desuso pois tem paciente que tem fibromialgia associada, que tem dor crônica e hipervaloriza o EVA. · CDAI: usa número de articulações, EVA do paciente e do médico · SDAI: usa o número de articulações, PCR, EVA do paciente e do médico Diagnóstico: · Clínico · Laboratorial · Imagem: raio-x, USG e RNM · Edema ósseo na RNM, com erosão óssea · Sinovite na USG · Diagnóstico Diferencial: · Infecções: virais (dengue, HIV, parvovírus, CMV, hepatites), bacterianas (sífilis e estafilococcicas), micobactérias e fúngicas. · Espondiloartrites: artrites reativas, EA, Aps, artrites enteropáticas · Doenças do tecido conjuntivo: LES, PM\DM, ES, SS, BEÇET, polimialgia reumática e vasculites · Artrites Microcristalinas: gota e pirofosfato · Neoplasias: metástases, linfomas e SPN · Outras: tireoideopatias, AO, hemocromatose, amiloidose e sarcoidose Tratamento: · Inicial: · Educação do paciente e familiares · Fisioterapia · Apoio psicossocial · Terapia ocupacional · Terapia medicamentosa · Abordagem cirúrgica · Metotrexate (MTX): · Considerada 1ª droga de escolha · Deve ter muita certeza do diagnóstico, pois é um imunossupressor · Droga “âncora para associação com demais MMCD’s (recomenda-se monitorização hematológica, hepática e renal) · Dose Inicial: 10-15 mg\semana, com dose máxima de 25 mg\semana · Efeitos Terapêuticos: 4-12 semanas · Recomenda-se administrar ácido fólico (1-2 mg\dia ou 5-10 mg\semana) 24-48 após a tomada de MTX · Contraindicações: gestação, cirrose hepática, idosos (aumenta a toxicidade hematológica e TGI ), lactação · Efeitos Adversos: · TGI: estomatite, mucosite, mielotoxicidade e infecções · Pulmonar: mais comum no 1º ano de uso · Monitoramento através de hemograma completo, TGO e TGP, uréia e creatinina · Medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD): · MMCD Sintéticos: · MMCDsc- Sintético Convencional: MTX, sulfassalazina e leflunomida · MMCDsae- Sintetico alvo específico: inibidores da JAK (atuam sobre enzimas responsáveis pela sinalização intracelular da via JAK-STAT), Tofacitinibe (inibidor da JAK1 e JAK3), Baricitinibe (inibidor reversível da JAK1 e JAK2 · MMCD Biológicos: direcionadas para alvo específicos. · MMCDbo- biológico original: adalimumabe, certolizumabe pegol, etanercepte, golimumababe, infliximabe, abatacepte, rituximabe e tocilizumabe · Adalimumabe: inibe o fator de necrose tumoral alfa, ao se ligar ao receptores de tumor de necrose alfa na superfície celular · Certolizumabe pegol: inibe o fator de necrose tumoral alfa ao se ligar às formas solúvel e transmembrana do fator de necrose tumoral alfa · Etanercepte: inibe o fator de necrose tumoral alfa, ao se ligar à forma solúvel do fator de necrose tumoral alfa e ao fator de necrose tumoral alfa ligado à superfície celular · Golimumabe: inibe o fator de necrose tumoral alfa ao se ligar às formas solúvel e transmembrana de fator de necrose tumoral alfa · Infliximabe: inibe o fator de necrose tumoral alfa ao se ligar às formas solúvel e transmembrana fator de necrose tumoral alfa · Abatacepte: inibe a ativação dos linfócitos T, ao inibir a sua via de coestimulação · Rituximabe: provoca destruição dos linfócitos B, ao se ligar aos marcadores CD20 na superfície dessas células · Tocilizumabe: inibe a sinalização mediada pelos receptores de IL-6 · MMCDbb- biológico biossimilar: infliximabe · Cuidados antes do uso de biológicos: são recomendados devido o potencial imunossupressor alto, podendo reativar doenças como hepatite e tuberculose. · Rastreio de Tuberculose Ativa ou Latente (TBL): raio-x de tórax para ver PPD · PPD maior ou igual a 5 mm com paciente com tuberculose ativa, com alteração radiológica e com tuberculose prévia, faz o uso de Isoniazida 5-10 mg\kg\dia (máximo de 300mg por dia) por 6-9 meses, porém após 1 mês de início da Isoniazida já é permitido o início biológico · Pesquisa de HBV\HCV\HIV · Biológicos e Câncer: · Mais de 5 anos de tratamento de câncer: pode se utilizar qualquer biológico · Menos de 5 anos de tratamento de câncer: o Rituximabe é o biológico recomendado · Atualizar o cartão vacinal: pneumo, meningo, hepatite B e A, Haemophilus, difteria, tétano e influenza · HPV partículas semelhantes ao vírus liberada para uso · Vacinas com vírus vivo atenuado faz antes do uso de biológicos, pois corre o risco do paciente apresentar a doença · Retirada de Medicamentos: · Caso resposta completa (remissão) e sustentada (6-12 meses) · Retirada gradual e cuidadosa: primeiro AINE, depois corticóide, depois MMCD biológico e manter o sintético · Remissão sustentada e livre de medicamentos é rara Fatores de Mau prognóstico: · Variáveis demográficas: · Sexo feminino · Tabagismo · Aumenta a atividade da doença · Reduz resposta clínica e funcional ao longo do tempo · Não há evidências de sua influência na progressão radiológica · Início da doença em idade precoce · Baixo nível socioeconômico e educação formal · Variáveis Relacionadas à doença: · Demora no diagnóstico e início do tratamento · Níveis de atividade da doença maior que 2 articulações, VHS\PCR persistentemente elevado, ICAD elevado · Fadiga e perda rápida de atividade funcional · Proliferação sinovial de início rápido · Manifestações extra articulares · Alterações radiográficas precoces · Fator reumatóide e CCP altos títulos · Fatores genéticos: epítopo compartilhado HLADRB1
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