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PRINCÍPIOS DO DIREITOPRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHODO TRABALHO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMOBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Adentrar o universo dos Princípios Gerais do Direito e especiais do Direito do Trabalho. Entender os preceitos essenciais que embasam o ordenamento jurídico trabalhista. Averiguar a força normativa dos princípios trabalhistas e entender como funciona sua aplicação na prática. A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá osA partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:seguintes objetivos de aprendizagem: CONTEXTUALIZAÇÃOCONTEXTUALIZAÇÃO Antes de se examinar os princípios propriamente ditos do Direito do Trabalho, cabe dar uma noção sobre o conceito de princípio. Diz-se que a norma é gênero, dos quais as regras e princípios são espécies. Inicialmente, é possível aYrmar que princípio é onde começa algo, pode até Tamanho da fonte Capítulo 2 28/02/2023 16:28 Página 1 de 34 parecer simplista tal deYnição, contudo, ela se mostra bastante útil para desenvolver-se um raciocínio que resulte em um bom entendimento da matéria. Logo, princípio seria um ponto de partida para a compreensão da norma jurídica. Sendo que, às vezes, ele parece se confundir com ela. Celso Antônio Bandeira de Mello (1997, p. 573) bem os deYne: É, por deYnição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por deYnir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. O princípio é o primeiro passo na consecução de uma regulação, passo ao qual devem seguir-se outros. O princípio alberga uma diretriz ou norte magnético, muito mais abrangente que uma simples regra; além de estabelecer certas limitações, fornece diretrizes que embasam uma ciência e visam à sua correta compreensão e interpretação. Violar um princípio é muito mais grave do que violar uma regra. A não observância de um princípio implica ofensa não apenas a especíYco mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comando. Entretanto, não é toda Ciência que considera parte de seu fundamento os princípios. Em verdade, sua validade cientíYca é questionada no campo de algumas delas. Principalmente Ciências como as Físicas, Biológicas e Sociais que têm a necessidade de se apoiarem em volta de fenômenos concretos e empíricos para formarem seu objeto fundamental, sendo que estudos empíricos são baseados na experiência e na observação. Nessa ordem, observa Delgado (2012, p. 182): Os princípios, realmente, não conseguem se harmonizar a essa dinâmica de atuação e construção de ciências. Ao contrário, a assunção de posições preestabelecidas acerca do objeto a ser investigado (assunção inerente à ideia de princípios) limitaria o próprio potencial investigativo sobre a realidade, conformando o resultado a ser alcançado ao Ynal do processo de investigação. Desse modo, a submissão a princípios (isto é, conceitos preestabelecidos), pelo cientista, no processo de exame da realidade, pelo investigador, já estaria gravemente condicionada na orientação Fonte Open Sans Cor da Página Altura da Linha Largura do Texto 28/02/2023 16:28 Página 2 de 34 investigativa, em função do princípio utilizado. É claro que tal posicionamento não vale para a Ciência do Direito. Pelo contrário, seu objeto de estudo é diferente dos objetos das ciências e geral. A problemática da ciência do Direito reside justamente na questão do seu método e de seu objeto de conhecimento, pois, para alguns juristas, a ciência do Direito é uma atividade intelectual que tem por objeto o conhecimento racional e sistemático dos fenômenos jurídicos, enquadrando-se então em um conhecimento unívoco. É este, portanto, o conceito de ciência do Direito que se encontra nos mais variados manuais estudados, ou seja, de uma ciência dogmática, estática, chamada dogmática jurídica. Por possuir essas características, seu papel é avaliar o que está contido basicamente nas leis e nos códigos. Nesse contexto, os princípios vão sempre possuir um papel de grande importância para a Ciência Jurídica. Sobre o assunto Delgado (2012, p. 183) assevera: A Ciência Jurídica, portanto, tem objeto singular, consistente em realidades essencialmente conceituais, realidades ideais e normativas, que se desdobram em proposições ou modelos de comportamento ou de organização. Seu dado central e basilar consiste no dever-ser (elemento nitidamente ideal, em suma), e não no ser (elemento nitidamente concreto- empírico). Nesse sentido, a direção emergente da noção de princípio – isto é, proposição diretora à compreensão de uma certa realidade – surge como um condutor importante à compreensão do sentido da norma e do instituto jurídico, do sentido do dever-ser jurídico. Noutras palavras, a premissa orientativa consubstanciada no princípio favorece a correta percepção do sentido do instituto e da norma do conjunto do sistema normativo em que se integra. Por essa razão, os princípios, na Ciência Jurídica, não somente preservam irrefutável validade, como se destacam pela qualidade de importantes contributos à compreensão global e 28/02/2023 16:28 Página 3 de 34 integrada de qualquer universo normativo. Todavia, é necessário salientar que ao mesmo tempo que os princípios são utilizados com intuito de dinamizar, essa dogmática da Ciência Jurídica, concedendo-os uma característica teleológica, é preciso ponderar para que não sejam transformados em axiomas absolutos e imutáveis. Nessa ordem, as regras, os princípios especiais e os princípios gerais seguem a mesma linha de raciocínio, com coerência lógica entre si. Além da coerência lógica, deve haver uma coerência teleológica entre os princípios que compõem o sistema, consentânea com determinados Yns políticos, YlosóYcos, éticos e sociológicos. Com isso, as normas assumem, no sistema, um caráter instrumental na busca de determinados valores idealizados pela sociedade, sendo que a harmonização desse sistema ocorre porque os princípios especiais ou estão de acordo com os princípios gerais ou funcionam como exceção. PRINCÍPIOS DO DIREITO: FUNÇÕES E CLASSIFICAÇÃOPRINCÍPIOS DO DIREITO: FUNÇÕES E CLASSIFICAÇÃO Como regras mestras dentro do sistema positivo, os princípios devem ser identiYcados na Constituição de cada Estado, como estruturas básicas, fundamentos e alicerces desse sistema. Existem princípios que são comuns ao Direito em geral e princípios que são pertencentes a cada ramo especíYco do Direito, como o direito do trabalho. Possuindo inúmeras funções por exemplo: informadora, normativa e interpretativa, determinando a regra que deverá ser aplicada pelo intérprete, ou seja, um caminho a seguir. A doutrina considera duas fases distintas de atuação dos princípios. A fasefase pré-jurídica ou políticapré-jurídica ou política, e a fase jurídicafase jurídica. Conforme será estudado a seguir, é possível adiantar que os princípios atuantes na fase política, ou seja, os que são concebidos na fase pré jurídica, são os formados por decisões políticas fundamentais concretizadas em normas conformadoras do sistema positivo, as chamadas normas-princípios. 28/02/2023 16:28 Página 4 de 34 Já os princípios jurídicos, concebidos na fase jurídica, são princípios gerais informadores da ordem jurídica nacional, sendo princípios derivados dos princípios políticos, provenientes da fase pré-jurídica. Assim, esses conceitos serão desenvolvidos mais detalhadamente nos tópicos seguintes. a) Fase pré-jurídica ou políticaa) Fase pré-jurídica ou política Os princípios determinam a regra que deverá ser aplicada pelo intérprete, demonstrando o caminho a seguir. Na sua fase pré-jurídica, esses princípios orientarão o legislador no momento da construção das regras e institutos do Direito. Tal fase é considerada política, e representa o processo de construção das normas jurídicas. Porém,a inquência política dos princípios não pode ocorrer de maneira ilimitada. Como explica Mauricio Godinho Delgado (2012, p. 184): “É que as principais fontes materiais do Direito situam-se fora do sistema jurídico, consubstanciando-se, fundamentalmente, nos movimentos sociopolíticos e correntes político-YlosóYcas e econômicas que provocam e condicionam a elaboração normativa”. É possível dizer que, nessa fase, os princípios atuam como verdadeiras fontes materiais do Direito, quando decisões políticas fundamentais serão concretizadas em normas conformadoras do sistema positivo. b) Fase jurídicab) Fase jurídica Na fase jurídicafase jurídica, os princípios adquirem outro emprego. Assumirão funções diversas, mas concorrentes e serão classiYcados conforme seu papel singular. Por isso, terão uma subclassiYcação, segundo Mauricio Godinho Delgado (2012, p. 184): [...] princípios descritivosprincípios descritivos (ou informativos), princípios normativosprincípios normativos subsidiáriossubsidiários (normas supletivas) e princípios normativosprincípios normativos concorrentes.concorrentes. Os princípios descritivos ou informadoresprincípios descritivos ou informadores cooperam de forma saliente na interpretação do Direito, permitem o alcance da verdadeira Ynalidade da lei no momento da sua aplicação. Os princípios normativos subsidiáriosprincípios normativos subsidiários realizam a tarefa de integração do ordenamento ou das normas jurídicas. Por último, os princípiosprincípios 28/02/2023 16:28 Página 5 de 34 normativos concorrentesnormativos concorrentes atuam com natureza de norma jurídica, estabelecendo regras práticas de todo um sistema de normas. Ressalte-se que não há um grupo de princípios, exclusivamente, descritivos contraposto a outro grupo – ainda que mais restrito – de princípios exclusivamente normativos. Qualquer princípio geral de Direito, ou os especíYcos a ramo jurídico especial, cumprem os papéis interpretativos, normativos subsidiários e normativos concorrentes. As funções desempenhadas é que se diferenciam, sem que impliquem a existência de categorias incomunicáveis de princípios gerais do Direito. Assim, colocando-se como fontes materiais e formais do direito, os princípios denunciam os valores que devem imperar na ordem jurídica e revestem-se de características normativas, pois inspiram o legislador e suprem as lacunas deixadas pela atividade legislativa. Pode-se até aYrmar que, assumindo sua função diretiva, os princípios alcançam maior abrangência que as próprias regras, perseguem o objetivo de alcançar a correta compreensão, integração e interpretação das regras jurídicas existentes no ordenamento jurídico. AT IV IDADE DE ESTUDOS:AT IV IDADE DE ESTUDOS: 1) Aponte as principais diferenças existentes entre as fases1) Aponte as principais diferenças existentes entre as fases pré-jurídica e a fase jurídica dos princípios.pré-jurídica e a fase jurídica dos princípios. 28/02/2023 16:28 Página 6 de 34 Responder Princípios descritivos (ou informativos)Princípios descritivos (ou informativos): o professor Delgado (2012, p. 184) esclarece que, nesse tipo, os princípios exercem “sua função mais clássica e recorrente, como veículo de auxílio à interpretação jurídica”. Servirão de critério orientador para os intérpretes e aplicadores da lei, atuando como instrumento de interpretação e não fonte formal do Direito. Literalmente, determinam a regra que deverá ser aplicada pelo intérprete, demonstrando um caminho a seguir. Assim, Carlos Ari Sundfeld (2008 apud ARAUJO; NUNES JUNIOR, 2008, 73) ensina que “A enunciação dos princípios de um sistema tem, portanto, uma primeira utilidade evidente: ajuda no ato de conhecimento”. Conclui-se, então, que a importância desse tipo de princípio está no seu caráter orientador e diretivo, balizando os operadores do direito à essência do conjunto do sistema de Direito. Princípios normativos subsidiários (ou supletivos)Princípios normativos subsidiários (ou supletivos): aqui se revestem da função de fontes formais supletivas do direito, quando se está diante de uma lacuna ou omissão do ordenamento jurídico. Esta função é prevista no art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil e no art. 8º da CLT, como já mencionado anteriormente. Atuam na qualidade de fonte subsidiária do direito, servindo como elemento integrador ou forma de colmatação de lacunas do ordenamento jurídico, na hipótese de ausência da lei aplicável à espécie típica, ou, ao caso concreto. De tal modo, “a proposição ideal consubstanciada no princípio incide sobre o caso concreto, como se fosse regra jurídica especíYca” (DELGADO, 2012, p. 185). Princípios normativos concorrentesPrincípios normativos concorrentes: alguns autores os denominam como princípios fundamentadores, por abarcarem regras fundamentais do sistema jurídico. A partir da metade do século XX, são reconhecidos pela maior parte da doutrina contemporânea ocidental, na verdade Ylósofos do Direito e constitucionalistas, tais como Norberto Bobbio, Robert Alexy, 28/02/2023 16:28 Página 7 de 34 Ronald Dworkin, José Joaquim Gomes Canotilho, entre outros. No Brasil, o autor que difundiu esse pensamento foi o constitucionalista Paulo Bonavides, que a respeito do assunto aponta com maestria: “os princípios são o oxigênio das Constituições na época do pós-positivismo”. Brevemente, vale dizer que o pós- positivismo aparece como uma nova conjectura no que concerne à normatividade dos princípios, após o fracasso da teoria jusnaturalista e do positivismo jurídico. O pensamento pretende dotar os princípios jurídicos de caráter normativo, devendo atuar como uma espécie de norma jurídica vinculante. Frise-se que os autores anteriormente mencionados são os representantes dessa corrente de pensamento que nasceu no século XX, com o intuito de quebrar as teorias vigentes à época (jusnaturalismo e positivismo). Eles alcançam o patamar de fonte material básica e primária, dotados de força suYciente para gerar lei ou costume, transformá-los ou invalidá-los, podendo até serem considerados fontes sustentadoras de outros princípios. Para o tema atenta Delgado (2012, p. 186): Esta nova compreensão doutrinária passou a se valer da expressão norma como referência geral aos dispositivos gerais, abstratos, impessoais e obrigatórios que regulam a vida social. Assim, na ideia de norma (em sentido amplo) estariam abrangidas, pois, as noções de regras (ou norma, em sentido estrito) e de princípios jurídicos (e também a noção de institutos jurídicos, acrescentamos nós). A “distinção entre regras e princípios é pois uma distinção entre dois tipos de normas”, diz Robert Alexy, sintetizando essa compreensão teórica sobre o problema. Todavia, existe dúvida sobre a prevalência dos princípios sobre as regras legais como defendem tais autores, o que se teme é a geração de “insegurança na ordem jurídica e meio social regulado”. Para Mauricio Godinho Delgado (2012, p. 187), seria “mais adequado sustentar que, em vez de função normativa própria, especíYca, autônoma, veriYca-se que os princípios atuam como comandos jurídicos instigadores, tendo, no fundo, uma função normativa concorrente”. No presente estudo, não se pode esquecer que o cerne é o direito do trabalho, e que se trata de um ramo especialíssimo do Direito. Não sendo 28/02/2023 16:28 Página 8 de 34 plausível que se importe sem reservas o posicionamento constitucionalista da qexibilização dos princípios, situação que não funcionaria de forma adequada para o ordenamento justrabalhista. Desse modo, se uma regra legal traduz o comando genérico contido em determinado princípio, mas se mostra incompatível com outro, poderá prevalecer, em face do peso do princípio concretizado. O que não quer dizer que o princípio desprezado não possua inquência no entendimento da norma. Para o direito do trabalho essa última função dos princípios funciona melhor em conjunto com a função interpretativa abordada anteriormente. O ideal é que as duas funções sejam aplicadas juntamente, com o intuito deajustar as regras do Direito ao sentido fundamental do ordenamento jurídico. E é por isso inclusive que no direito do trabalho se fala em função normativa concorrente dos princípios. PRINCÍPIOS JURÍDICOS GERAIS APLICÁVEIS AOPRINCÍPIOS JURÍDICOS GERAIS APLICÁVEIS AO DIREITO DO TRABALHO – ADEQUAÇÕESDIREITO DO TRABALHO – ADEQUAÇÕES A coerência interna de um sistema jurídico decorre dos princípios sobre os quais se organiza. Para operacionalizar o funcionamento desse sistema, torna-se necessária a subdivisão dos princípios jurídicos. Extraem-se, assim, os princípios gerais e os princípios especiais, conforme a natureza de cada subdivisão. A harmonização desse sistema acontece porque os princípios especiais ou estão de acordo com os princípios gerais ou funcionam como exceção. Há princípios que são comuns ao Direito em geral, tendo aplicação, também, no Direito do Trabalho. São conceitos nucleares da própria constituição do Direito. É de se destacar, por exemplo, que ninguém poderá alegar a ignorância do Direito, deve-se respeitar a dignidade da pessoa humana, é proibido o abuso de direito, o enriquecimento sem causa, entre outros. Nessa linha aduz o professor: Qualquer dos princípios gerais que se aplique ao Direito do Trabalho sofrerá, evidentemente, uma adequada compatibilização com os princípios e regras próprias a este ramo jurídico especializado, de modo que a 28/02/2023 16:28 Página 9 de 34 inserção da diretriz geral não se choque com a especialidade inerente ao ramo justrabalhista (DELGADO, 2012, p. 188). É forçoso concluir que tais princípios gerais irradiarão sobre todo ordenamento jurídico. Cada ramo especializado recebe sua inquência, mas a adequa conforme suas peculiaridades. Não se trata, porém, de uma alteração desse princípio, pelo contrário, sua função é preservar a unidade da ordem jurídica, ou seja, conservar o Direito como um sistema formado por partes coordenadas. a) Princípios gerais – adequaçõesa) Princípios gerais – adequações Os princípios advindos do Direito Civil e aplicados aos contratos são usados no Direito do Trabalho. Especialmente, o que prevê a inalterabilidade dos contratos, ou como é conhecido o pacta sunt servanda. Tal premissa dispõe sobre a força obrigatória dos contratos, ou seja, que o contrato faz lei entre as partes, devendo ser cumprido. A adequação desse princípio ao Direito do Trabalho foi excessiva, desYgurando a matriz civilista e gerando uma direção própria, denominado como princípio da inalterabilidade contratual lesiva. Sendo assim, é mais exato analisar a alusão histórica ao princípio geral do Direito Civil inserido no estudo sobre o princípio especial do ramo justrabalhista, que será desenvolvido em tópico próprio. Curso de Direito Civil Brasileiro, vol. 1, teoria geral do direito civil, Maria Helena Diniz. Ainda, existem três princípios gerais do Direito que são correlatos e possuem grande importância para a área justrabalhista. São eles: o princípio da lealdade e boa-fé, a não alegação da própria torpeza (ou não alegação da ignorância do Direito) e o princípio da proibição do abuso de direito. Vale ressaltar que os três princípios oferecem inquência tanto para a área do 28/02/2023 16:28 Página 10 de 34 Direito Material do Trabalho, como para a área do Direito Processual do Trabalho: “Em tal sentido, esses princípios não somente iluminam a compreensão da ordem jurídica como também, ao mesmo tempo, fornecem poderoso instrumento à aferição valorativa dos fatos trazidos a exame do intérprete e aplicador concreto do Direito” (DELGADO, 2012, p. 188). Ao observar as leis trabalhistas, percebe-se que os princípios da lealdade e da boa-fé têm sua essência inserida em uma porção delas. Por exemplo, dentro da justa causa obreira: incontinência de conduta, mau procedimento, desídia e negociação habitual desleal são casos em que há a quebra dessa lealdade e boa-fé exigida numa relação contratual, aqui, especiYcamente, na de trabalho. Em virtude desses princípios que são basilares, todo contrato deve ter por fundamento esses conceitos, o empregado precisa cumprir sua parte no contrato, desempenhando normalmente suas atividades, enquanto o empregador também deve cumprir com suas obrigações, formando uma lealdade reciproca, sendo que a quebra por qualquer uma das partes incorrerá num desequilíbrio dessa relação jurídica. Quanto ao princípio da não alegação da própria torpeza, é concretizado, também, no Direito Civil através do art. 150 do Código Civil, que impõe que “se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização” (BRASIL, 1988). Aqui, ninguém pode alegar a ignorância do Direito. Todavia, esse princípio possui uma adequação única no Direito do Trabalho, por causa da imperatividade das normas trabalhistas e do princípio protetivo aplicado imperante, como menciona Delgado (2012, p. 187): “a bilateralidade da conduta irregular não inviabiliza, necessariamente, a alegação judicial do ilícito perpetrado”. Com isso, na seara trabalhista quando há uma simulação bilateral de contrato de trabalho, por exemplo, não impedirá que haja a tentativa de desconstituição judicial da relação civil formalizada, em favor de um possível vínculo empregatício encoberto. É claro que isso se deve ao caráter protetivo da Justiça Trabalhista. Mesmo que o princípio da não alegação da própria torpeza possua uma 28/02/2023 16:28 Página 11 de 34 aplicação justrabalhista diferente da do Direito Comum, é preciso asseverar que deverá ser feita com parcimônia, não sendo ilimitada. Se Ycar claro que a simulação ocorreu em prol do próprio empregado (demissão forjada para saque de FGTS), o princípio aparecerá para problematizar ocasionais questionamentos, pelo mesmo empregado, de outros efeitos decorrentes do mesmo ato irregular. Outro princípio bastante utilizado em todo o ordenamento jurídico é o princípio da razoabilidadeprincípio da razoabilidade. É basicamente considerado como um princípio de interpretação constitucional, mas, tem sido aplicado a todos os ramos do Direito. É deYnido como: “Aquele que orienta o intérprete na busca da justa medida de cada instituto jurídico. Objetiva a ponderação entre os meios utilizados e os Yns perseguidos, indicando que a interpretação deve pautar o menor sacrifício ao cidadão ao escolher dentre vários possíveis signiYcados da norma” (ARAUJO; NUNES JUNIOR, 2008, p. 89). A respeito do tema, Delgado (2012, p. 189) aponta: “dispõe o princípio da razoabilidade que as condutas humanas devem ser avaliadas segundo um critério associativo de verossimilhança, sensatez e ponderação”. O princípio geral da legalidadeprincípio geral da legalidade também é outro princípio importante ao Direito do Trabalho. Tal princípio é representado pela expressão latina “nullum crimen nulla poena sine preve lege”, signiYcando que não existe crime ou ilícito sem lei anterior que o deYna, ou, nem há pena sem prévia cominação legal. Como exemplo da aplicação de tal premissa no Direito do Trabalho na Yxação dos institutos de justas causas obreiras e empresariais (arts. 482 e 483 da CLT) e através de penalidades existentes na lei, temos a rescisão contratual indireta e a dispensa por justa causa. É por isso que seu emprego não ocorre de forma absoluta. Quando se refere à advertência, sabe-se que mesmo se tratando de uma penalidade imposta ao trabalhador, ela não possui previsão legal expressa, mas é advinda de um costume, ou seja, uma fonte autônoma de Direito do Trabalho. Por Ym, existem outros princípios gerais de Direito que irradiam no ramo justrabalhista. Como o da dignidade da pessoa humana, o da não discriminação entre outros. Contudo, a partir de agora será realizada uma 28/02/2023 16:28 Página 12 de 34 Responder análise dos princípios especíYcos do Direito do Trabalho. AT IV IDADE DE ESTUDOS:AT IV IDADE DE ESTUDOS: 1) DeYna o 1) DeYna o pacta sunt servandapacta sunt servanda?? PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO DO TRABALHOPRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO DO TRABALHO O DireitoMaterial do Trabalho subdivide-se em um ramo individual e um ramo coletivo, cada qual com suas especiYcidades e princípios competentes. A estrutura normativa do Direito Individual do Trabalho é constituída a partir da premissa da diferença e desiquilíbrio entre as partes dessa relação jurídica, ou seja, entre empregado e empregador. Este último atua como uma Ygura coletiva, isto é, um sujeito socioeconômico e político cujas ações, mesmo que internas, têm aptidão de produzir efeitos numa comunidade mais ampla (sociedade). Do lado oposto dessa relação, está o sujeito individual, representado pelo trabalhador, que ocupa uma posição de vulnerabilidade em relação ao empregador (sujeito coletivo). O trabalhador sozinho não consegue gerar ações de impacto na coletividade. E esse desiquilíbrio entre as partes origina 28/02/2023 16:28 Página 13 de 34 o Direito Individual do Trabalho, dotado de mecanismos que visam à proteção desse sujeito individual e o reestabelecimento do equilíbrio dessa relação. Enquanto o Direito Individual advém de uma relação desigual de seus sujeitos, o Direito Coletivo surge de uma relação de sujeitos teoricamente equivalentes. De um lado o empregador e de outro o “ser coletivo obreiro” representado pelas organizações sindicais. Tal ramo é marcado por regras, institutos e princípios próprios. Adentrando esse assunto, preleciona Delgado (2012, p. 191): A compreensão global do Direito do Trabalho impõe, é claro, a compreensão acerca dos princípios especíYcos de seu segmento juscoletivo. É que o Direito Coletivo atua sobre o ramo do Direito Individual, produzindo-lhe importante universo de regras jurídicas, consubstanciando no conjunto de diplomas autônomos que compõem sua estrutura normativa (notadamente, Convenção e Acordo Coletivo de Trabalho). Desse modo, o Direito Coletivo pode alterar o conteúdo do Direito Individual do Trabalho, ao menos naqueles setores socioeconômicos em que incidem seus especíYcos diplomas. Desde a Carta de 1988, a propósito, ampliou-se o potencial criativo do Direito Coletivo, lançando ao estudioso a necessidade de pesquisar os critérios objetivos de convivência e assimilação entre as normas autônomas negociadas e as heterônomas tradicionais da ordem jurídica do país. Portanto, para o presente estudo será feita uma sedimentação de conteúdo. O estudo dos princípios especiais do Direito do Trabalho não dispensará a análise posterior dos princípios especiais do Direito Coletivo do Trabalho. a) Princípios de direito individual do trabalhoa) Princípios de direito individual do trabalho São muitos os princípios especiais do Direito individual do Trabalho, pois conforme haja a evolução desse ramo ou dos acontecimentos, novos princípios vão se inserindo nesse rol. Dentre estes, os mais importantes e que formam o denominado núcleo basilar dos princípios especiais do Direito do Trabalho são: a) o princípio da proteção; b) o princípio da norma mais favorável; c) o princípio da imperatividade das normas trabalhistas; d) o princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas; e) o princípio da condição mais benéYca; f) o 28/02/2023 16:28 Página 14 de 34 Princípio da proteçãoPrincípio da proteção: Através dele tem-se como regra que se deve proporcionar uma maneira de compensar a superioridade econômica do empregador em relação ao empregado, dando a este superioridade jurídica. Tal superioridade é conferida ao empregado quando se concede ao obreiro a proteção por meio da lei. princípio da inalterabilidade contratual; g) o princípio da integralidade salarial; h) o princípio da primazia da realidade sobre a forma e i) o princípio da continuidade da relação de emprego. Para se aprofundar melhor no tema dos Princípios do Direito do Trabalho, sugere-se a leitura da obra de Mauricio Godinho Delgado, Princípios de direito individual e coletivo do trabalho, da editora LTR, e, o artigo jurídico, Os princípios do direito do trabalho e os direitos fundamentais do trabalhador, publicado na revista eletrônica do site Âmbito Jurídico cujo link segue: Disponível em: <https://bit.ly/2GMBgKwhttps://bit.ly/2GMBgKw>. Acesso em: 2 abr. 2018. Tais princípios representam o alicerce do Direito Individual do Trabalho, eles incorporam a essência da função teleológica do Direito do Trabalho, ou seja, sua função Ynalística e, ao mesmo tempo, possuem abrangência a todo seu conjunto. Frise-se que exercem essas funções sem se confrontarem com os princípios gerais do Direito. Destarte, aponta Delgado (2012, p. 193): “Sem a presença e observância cultural e normativa desse núcleo basilar de princípios especiais, ou mediante a descaracterização acentuada de suas diretrizes indutoras, compromete-se a própria noção de Direito do Trabalho em certa sociedade histórica concreta”. Existem alguns princípios justrabalhistas controvertidos que serão aprofundados, oportunamente, em separado. Como o princípio do in dubio pro operário e a análise da prova no processo do trabalho, e o princípio do maior rendimento. 28/02/2023 16:28 Página 15 de 34 Princípio da norma mais favorávelPrincípio da norma mais favorável: ele está originariamente presente no art. 7º, caput, combinado com o art. 5º, § 2º da Constituição Federal. A Carta Magna prevê um catálogo mínimo de direitos fundamentais sociais trabalhistas, autorizando a aplicação de outros direitos previstos em fontes normativas diversas, desde que propiciem melhoria na condição social, jurídica e econômica do trabalhador. O princípio se irradiará por todas as partes do Direito Individual do Trabalho, e isso pode ser observado na presença de regras basicamente protetivas, tutelares da vontade e interesses do trabalhador. Suas premissas são fundamentalmente favoráveis ao trabalhador, sendo certo aYrmar que esse caráter protetivo legitima a existência do Direito do Trabalho. Uma parcela da doutrina diz que ele é o principal princípio orientador do Direito do Trabalho, exatamente pelo fato de inquenciar toda a estrutura justrabalhista. Sobre ele, Delgado (2012, p. 193) tece algumas considerações: O princípio tutelar inqui em todos os segmentos do Direito Individual do Trabalho, inquindo na própria perspectiva desse ramo ao construir-se, desenvolver-se e atuar como direito. Efetivamente, há ampla predominância nesse ramo jurídico especializado de regras essencialmente protetivas, tutelares da vontade e interesses obreiros; seus princípios são fundamentalmente favoráveis ao trabalhador; suas presunções são elaboradas em vista do alcance da mesma vantagem jurídica retiYcadora da diferenciação social prática. Na verdade, pode-se aYrmar que sem a ideia protetivo-retiYcadora, o Direito Individual do Trabalho não se justiYcaria histórica e cientiYcamente. Alguns autores, inquenciados pelo jurista uruguaio Américo Plá Rodriguez, o desmembram em três outros princípios: o in dubio pro operário, o princípio da norma mais favorável e o princípio da condição mais benéYca. Entretanto, acredita-se que ele está presente em muito mais regras e institutos que nestes três outros princípios. Como já dito anteriormente, ele norteia todo o sentido da criação do Direito do Trabalho, não podendo restringi-lo a apenas três institutos. A aplicação da norma mais favorável pode ser realizada de três formas: 28/02/2023 16:28 Página 16 de 34 No momento da elaboraçãomomento da elaboração da normada norma, a nova lei deverá dispor de um jeito mais benéYco ao trabalhador, ou seja, a nova lei deve tratar de criar regras objetivando a melhoria da condição do trabalhador. O outro desdobramento desse princípio pode ocorrer no momento demomento de resoluçãoresolução dede conqitos entre regras confrontantes ou concorrentesconqitos entre regras confrontantes ou concorrentes. Assim, havendo normas a serem aplicadas numa escala hierárquica, deve-se observar a que for mais favorável ao trabalhador. Por último, através da interpretação da norma mais favorávelatravés da interpretação da norma mais favorável, quando houver várias normas a serem aplicadas ao caso concreto, adota-sea norma mais benéYca ao obreiro. Assim, “O princípio ora focalizado pode ser utilizado tanto na interpretação como na aplicação de determinada norma jurídica. Além disso, pode ser manejado para a solução de antinomias entre normas infraconstitucionais e na hipótese de colisão entre direitos fundamentais” (BRANCO, 2007, p. 37). Em sua função informadora, no momento da elaboração da lei (fase pré jurídica), ou como diz Delgado (2012, p. 189), essa é uma “fase essencialmente política”, servirá como orientação de política legislativa, funcionando como fonte material do direito trabalhista. Superada a fase pré jurídica, o princípio continua atuando só que em uma perspectiva diferente. Agora a regra já foi construída, portanto, ele terá função interpretativa/normativa, que permite a escolha da interpretação mais favorável ao trabalhador quando há duas ou mais opções de interpretação em relação à regra jurídica analisada. É válido expor que tal interpretação deve ser feita de forma objetiva e ordenada. Nesse sentido aduz Delgado (2012, p. 195): Na pesquisa e eleição da regra mais favorável, o intérprete e aplicador do Direito obviamente deverá se submeter a algumas condutas objetivas, que permitam preservar o caráter cientíYco da compreensão e apropriação do fenômeno jurídico. Assim, haverá de ter, em certo caso concreto, não o trabalhador especíYco, objeto da incidência da norma em certo caso concreto, mas o trabalhador como ser componente de um universo mais amplo (categoria proYssional, por exemplo). Na sua função hierarquizante, o operador do direito, diante de uma situação 28/02/2023 16:28 Página 17 de 34 Princípio da imperatividade das normas trabalhistasPrincípio da imperatividade das normas trabalhistas: tal princípio tem o objetivo de informar que o Direito do Trabalho é composto basicamente por regras imperativas. Princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistasPrincípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas: também chamado de princípio da irrenunciabilidade de direitos, tem como regra que os direitos trabalhistas são irrenunciáveis pelo trabalhador. de conqito de normas, terá a condição de optar pela norma mais favorável ao trabalhador. Entretanto, o uso do princípio não pode comprometer a sistemática da ordem jurídica. Conforme já estudado anteriormente, ao fazer a escolha dessa norma mais favorável, o aplicador deverá se valer, também, da teoria do conglobamentoconglobamento. O que signiYca que a procura da regra mais favorável tem que ser feita com enfoque no conjunto de regras existentes no sistema, o enfoque tem que ser global, levando-se em conta o caráter teleológico do Direito do Trabalho. Dentre muitas classiYcações, as regras podem ser divididas em imperativas (ou cogentes) e dispositivas. São imperativas quando têm aplicação obrigatória e não podem ser afastadas pela vontade das partes. Já as dispositivas apresentam um caráter permissivo e podem ser afastadas pela vontade do agente. No Direito do trabalho, prevalecem as normas imperativas e poucos são os exemplos de regras dispositivas existentes na CLT. Para este princípio, prevalece a restrição à autonomia da vontade no contrato trabalhista, em contraponto à diretriz civil de soberania das partes no ajuste das condições contratuais. Esta restrição é tida como instrumento assecuratório eYcaz de garantias fundamentais ao trabalhador, em face do desiquilíbrio de poderes inerente ao contrato de emprego. É possível dizer que tal princípio é consequência do princípio anterior que determina a obrigatoriedade das normas justrabalhistas. A indisponibilidade dos direitos trabalhistas advém do fato de o direito do trabalho objetivar equilibrar essa relação jurídica através da proteção que coloca para a parte hipossuYciente do contrato de trabalho, o trabalhador. Não teria sentido se ao mesmo tempo em que o Direito do Trabalho cria 28/02/2023 16:28 Página 18 de 34 Princípio da condição mais benéYcaPrincípio da condição mais benéYca: este princípio determina a proibição da alteração contratual se ela o tornar menos favorável ao empregado. Caso a alteração ocorra, não irá produzir efeitos, tendo em vista que o trabalhador possui direito adquirido (art. 5º, XXXVI, CF, 1988) a norma mais favorável. Também, no contraponto entre cláusulas contratuais concorrentes, será aproveitada a que for mais favorável ao obreiro. essa cadeia de proteção ao trabalhador, permita que ele disponha dessa proteção. Lembrando que muito dos direitos trabalhistas são considerados fundamentais pela CF/88, ou seja, direitos naturalmente indisponíveis. Alguns autores também advertem que existem direitos de indisponibilidade absoluta, como os relativos à segurança e à medicina do trabalho, por exemplo, e direitos de indisponibilidade relativa, que podem ser alterados desde que não causem prejuízo ao empregado (art. 468 CLT), ou, haja expressa autorização constitucional e legal. Portanto, desde que respeitadas as condições legalmente impostas, poderá o trabalhador transigir, fazendo concessões recíprocas, o que importa em um ato bilateral. Não diz respeito à comparação de normas (regras), e sim cláusulas contratuais, ou qualquer dispositivo que tenha essa natureza. Ainda, elas podem ser expressas ou tácitas, e advindas do próprio pacto laboral ou do regulamento de empresa. Incorporada pela legislação (art. 468 CLT) e jurisprudência trabalhistas (Súmulas 51, I, e 288, TST), o princípio informa que cláusulas contratuais benéYcas somente poderão ser suprimidas caso suplantadas por cláusula posterior ainda mais favorável, mantendo-se intocadas (direito adquirido) em face de qualquer subsequente alteração menos vantajosa do contrato ou regulamento de empresa (evidentemente que a alteração implementada por norma jurídica submeter-se-ia a critério analítico distinto) (DELGADO, 2012, p. 197). SimpliYcando, o princípio da condição mais benéYca proporcionará ao trabalhador que lhe prevaleça a condição mais vantajosa ajustada no contrato de trabalho ou resultante do regulamento de empresa; ainda, que 28/02/2023 16:28 Página 19 de 34 Princípio da inalterabilidade contratual lesivaPrincípio da inalterabilidade contratual lesiva: inspirado no princípio geral do Direito Civil, da inalterabilidade dos contratos (ou pacta sunt servanda), o princípio da inalterabilidade contratual lesiva, é exclusivo do Direito do Trabalho. Diz-se exclusivo após ter sofrido profundas adequações à seara justrabalhista. vigore ou sobrevenha norma jurídica imperativa, prescrevendo menor nível de proteção e que com esta não sejam elas incompatíveis. É considerado um dos mais relevantes princípios importados pelo Direito do Trabalho do Direito Civil. Sua importância é atribuída ao fato de se colocar como mais um mecanismo de proteção ao trabalhador hipossuYciente. Na forma civilista, o princípio traduz a premissa de que o acordo de vontades faz lei entre as partes, ou seja, ele ressalva a força obrigatória dos contratos, que devem ser rigorosamente observados e cumpridos. Decorrendo dele também o princípio da intangibilidade dos contratos. Mesmo no Direito Civil, houve atenuação desse princípio através da fórmula rebus sic stantibus, que signiYca “voltar as coisas como eram antes”. A partir dela se permitiu a emenda de cláusulas do contrato ao longo de sua vigência, no caso de haver um posterior desequilíbrio contratual, alheio à vontade das partes. A inalterabilidade unilateral do contrato deixou de ser absoluta. Ao ingressar no ramo justrabalhista ele sofreu signiYcativas adaptações, inclusive a alteração no seu nome (princípio da inalterabilidade contratual lesiva). A princípio, o signiYcado genérico de inalterabilidade esvai-se no ramo do Direito do Trabalho. Contrariando a matriz originária do princípio, o ramo justrabalhista incentiva alterações contratuais que forem favoráveis ao trabalhador. Isso é o que Yca evidenciado no art. 468 da CLT, que autoriza alterações nos contratos individuais de trabalho, por mútuo consentimento e desde que não resultem,de maneira nenhuma, em prejuízo ao empregado. Em um segundo aspecto, caso a alteração surja desfavorável ao trabalhador, o conceito de inalterabilidade torna-se extremamente rigoroso. Seguindo esse raciocínio, no art. 444 da CLT foi acrescentado um parágrafo único pela 28/02/2023 16:28 Página 20 de 34 reforma trabalhista, verbis: Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes. Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o caput deste artigo aplica-se às hipóteses previstas no art. 611-A desta Consolidação, com a mesma eYcácia legal e preponderância sobre os instrumentos coletivos, no caso de empregado portador de diploma de nível superior e que perceba salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social (Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017) Em um terceiro aspecto, no Direito do Trabalho, há a tendência em se rejeitar a atenuação civilista da fórmula rebus sic stantibus. Isso se deve ao fato de o ramo trabalhista colocar sob o ônus do empregador os riscos da atividade econômica por ele exercida, tal pensamento vem materializado no art. 2º da CLT, artigo esse que Yxa o conceito legal de empregador. Lembre-se de que, independentemente de se obter sucesso com o negócio desenvolvido, esse empregador tem por obrigação arcar com as verbas trabalhistas de seus empregados. Cabe transcrever, neste passo, citação literal de Mauricio Godinho Delgado (2012, p. 199): “A esse propósito, aliás, a jurisprudência tem reiteradamente esclarecido que no conceito de riscos assumidos pelo empregador, inscreve- se, sim, a profusão legislativa que sempre caracterizou a tradição jurídica e administrativa brasileira, com as modiYcações monetárias daí advindas”. Portanto, visualiza-se que não há justiYcativa que afaste a obrigação que o empregador possui de adimplir as verbas trabalhistas inerentes ao seu ramo de atividade econômica. Neste sentido, tem-se no princípio da inalterabilidade contratual lesiva um instrumento de proteção aos direitos do trabalhador e de concretização do equilíbrio no campo fático das relações trabalhistas do país, no que toca aos contratos de trabalho e às partes nele envolvidas. 28/02/2023 16:28 Página 21 de 34 Princípio da intangibilidade salarialPrincípio da intangibilidade salarial: o salário é a principal contraprestação do empregador para o empregado, e é responsável pela subsistência do trabalhador e sua família. Em virtude disso, merece do Direito do Trabalho formas de resguardo, como irredutibilidade, intangibilidade e estabilidade. Esta proteção está em consonância com a Convenção nº 95 da Organização Mundial do Trabalho e com o art. 7º da CF/88. Sobre o assunto, analisa Delgado (2012, p. 201): O professor Mauricio Godinho Delgado (2012) faz menção a uma particularização do princípio da inalterabilidade contratual lesiva, como se fosse um subprincípio dentro dele, e o denomina de princípio daprincípio da intangibilidade objetiva do contrato de trabalhointangibilidade objetiva do contrato de trabalho. Tal preceito informa que o conteúdo do contrato empregatício não pode ser modiYcado mesmo que ocorra efetiva mudança no plano empresarial, referindo-se, mais precisamente, a uma mudança subjetiva do contrato, do sujeito-empregador. Fato que ocorre na sucessão trabalhista ou alteração subjetiva do contrato de trabalho, portanto o contrato de trabalho seria intangível, mas podendo ser alterado do ponto de vista subjetivo, ou seja, desde que a alteração aconteça apenas em relação ao empregador. Traduzindo-se no conceito de que a mudança no polo passivo do contrato de trabalho, de forma alguma pode lesar o trabalhador pela perda de toda a história do contrato em andamento. Em virtude disso há a sucessão de empregadores, o novo integrante do polo passivo arcará com toda a obrigação advinda do contrato estabelecido entre empregado e antigo empregador. Pode-se dizer que tal “subprincípio” nada mais é do que mais uma faceta do princípio da inalterabilidade contratual lesiva que se materializa em mais uma garantia ao trabalhador. Estabelece o princípio da intangibilidade dos salários que esta parcela justrabalhista merece garantias diversiYcadas da ordem jurídica, de modo a assegurar seu valor, montante e disponibilidade em benefício do empregado. Este merecimento deriva do fato de considerar-se ter o salário caráter alimentar, atendendo, pois a necessidades do ser humano. O princípio parte da premissa de que a pessoa física depende do dinheiro do 28/02/2023 16:28 Página 22 de 34 seu trabalho para viver e suprir suas necessidades básicas (alimentação, moradia, educação, saúde e transporte). É o salário que irá dar condições para o trabalhador manter sua dignidade e a de sua família, ou seja, o salário, geralmente, é destinado a bens de natureza essencial, sendo correto aYrmar que é corolário ao princípio da dignidade da pessoa humana. A proteção conferida ao salário por esse princípio se dá em mais de um aspecto. A garantia do valor do salário, coibindo mudanças contratuais e normativas que provoquem sua redução (princípio da irredutibilidade salarial); garantia contra práticas que prejudiquem seu efetivo montante, são as questões envolvendo os descontos no salário do empregado e, por Ym, a garantia contra interesses contrapostos de credores diversos, tanto do empregador como do empregado. Por isso, o Código de Processo Civil em seu art. 833, IV, determina que as verbas de natureza alimentar são impenhoráveis. Todavia, o art. 7º da CF, que dispõe sobre a irredutibilidade salarial, autoriza sua qexibilização em caso especíYco: Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; A CF expressamente autoriza a qexibilização salarial em caso de Convenção ou Acordo Coletivo. Frisando-se que o entendimento predominante é o de que tal qexibilização poderá abranger todas as parcelas de natureza salarial, e não apenas o salário em sentido estrito. O art. 462 da CLT, “ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo”, também incorpora essa qexibilização e abre exceção ao princípio quanto à intangibilidade do salário do trabalhador. Por Ym, é necessário lembrar que a estabilidade salarial dá nome à garantia do trabalhador de não perder o valor salarial relativo à gratiYcação por exercício de função a partir de dez anos contados do início das atividades 28/02/2023 16:28 Página 23 de 34 Princípio da primazia da realidade sobre a formaPrincípio da primazia da realidade sobre a forma: esse princípio também é denominado por alguns autores como apenas princípio da primazia da realidade. Através de tal princípio sedimenta-se que, para o Direito do Trabalho, os fatos podem ser mais importantes que outros meios de prova como o documental. Privilegia-se a realidade sobre a forma ou a estrutura empregada. Princípio da continuidade da relação de empregoPrincípio da continuidade da relação de emprego: presume esse princípio que o Direito do Trabalho preza pela permanência do vínculo empregatício, sendo importante que o trabalhador esteja integrado à estrutura e dinâmica empresariais. Vale frisar que essa integração do especíYcas, exceto se a reversão ao cargo efetivo se operou por justo motivo. Essa regra quanto à estabilidade é um desdobramento desse princípio da proteção salarial que surge de uma criação jurisprudencial que foi consolidada na Súmula 372 do TST que apresenta: “percebida a gratiYcação de função por dez ou mais anos pelo empregado, se o empregador, sem justo motivo, revertê-lo a seu cargo efetivo, não poderáretirar-lhe a gratiYcação tendo em vista o princípio da estabilidade Ynanceira”. Caberá ao operador do direito pesquisar a prática concreta efetivada ao longo da prestação de serviço. Nem sempre o que está disposto no contrato formal é exatamente o que ocorre na prática. Por isso, ao contrário do que é costume no ramo do Direito Civil, o aplicador do Direito ao examinar as declarações volitivas, precisa se atentar à intenção das partes e não se delimitar ao envoltório formal pelo qual transpareceu à vontade. Por exemplo, se um empregado é rotulado de autônomo pelo empregador, possuindo contrato escrito de representação comercial, o que deve ser observado, realmente, são as condições fáticas que demonstrem a existência do contrato de trabalho. Entretanto, ao se utilizar desse princípio, o operador precisa ter parcimônia, e não o aplicar de maneira unilateral. O intérprete deve se atentar e aferir se a substância da regra protetiva trabalhista foi atendida na prática concreta efetivada entre as partes, ainda que não seguida estritamente à conduta especiYcada pela lei. 28/02/2023 16:28 Página 24 de 34 trabalhador no mercado de trabalho é de suma importância não apenas para o Direito do Trabalho, mas para a economia e a sociedade em geral. Por conseguinte, a legislação instituiu como regra o contrato de trabalho por tempo indeterminado. A CLT, em seu art. 443, traz as formas do contrato individual de trabalho, sendo necessário apontar que tal dispositivo legal foi alterado pela reforma trabalhista de 2017, pois antes dela Ygurava o contrato por tempo indeterminado e determinado. Com a reforma acrescentou-se a Ygura do contra intermitente. Art. 443 -Art. 443 - O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeterminado, ou para prestação de trabalho intermitente (Redação(Redação dada pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017).dada pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017). § 1º Considera-se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência dependa de termo preYxado ou da execução de serviços especiYcados ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada. § 2º O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando: a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justiYque a predeterminação do prazo; b) de atividades empresariais de caráter transitório; c) de contrato de experiência. § 3º Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a prestação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria” (Incluído pela Lei nº 13.467, de(Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017).13.7.2017). No plano dogmático, a principal consequência do princípio consiste na determinação de que, em regra, o contrato de trabalho deve ser Yrmado por prazo indeterminado. Os contratos de trabalho por prazo determinado são permitidos de forma excepcional, o que signiYca que o ordenamento 28/02/2023 16:28 Página 25 de 34 juslaboral guia-se em prol da manutenção da relação de emprego. Mauricio Godinho Delgado (2012) aponta que a permanência da relação de emprego gera três correntes de repercussão favorável ao empregadotrês correntes de repercussão favorável ao empregado envolvidoenvolvido. Primeiramente, incorre numa tendencial elevação dos direitos trabalhistas, em decorrência do avanço da legislação e da negociação coletiva, e das conquistas contratuais adquiridas pelo trabalhador em vista de promoções recebidas ou vantagens agregadas ao desenvolvimento de seu tempo de serviço no contrato. Um contrato de trabalho permanente também impulsiona o empregador a investir em educação e proYssionalização de seus empregados vinculados a contratos duradouros. “Esse investimento na formação do indivíduo cumpre a fundamental faceta do papel social da propriedade e da função educativa dos vínculos de labor, potenciando, individual e socialmente, o ser humano que trabalha” (DELGADO, 2012, p. 204). Por último, o autor destaca que um contrato de trabalho permanente causa a aYrmação social do indivíduo nele envolvido. Nesse sentido ele argumenta: “aquele que vive apenas de seu trabalho tem neste, e na renda dele decorrente, um decisivo instrumento de sua aYrmação no plano da sociedade” (DELGADO, 2012, p. 204). Ainda o autor acrescenta que com a introdução de lei do FGTS (Lei nº 5.107/66) ocorreu um desprestígio do sistema estabilitário e indenizatório vigorante na CLT. A nova lei passou a admitir que, no momento da admissão, o trabalhador optasse pelo sistema do Fundo, situação que se tornou na prática dominante. Com o implemento da Constituição Federal em 1988, esta generaliza o sistema do FGTS revogando a antiga opção existente na CLT. Contudo, a Lei Magna, com o intuito de inserir o princípio da continuidade da relação empregatícia, afasta a anterior incompatibilidade do instituto do FGTS com qualquer eventual sistema de garantias jurídicas de permanência do trabalhador no emprego, estendeu o fundo a todo empregado. Assim ilustra-se: “Art. 7ºArt. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: III III - fundo de garantia 28/02/2023 16:28 Página 26 de 34 do tempo de serviço”. É importante salientar que à época, havia uma única exceção, o instituto do FGTS não se estendia aos empregados domésticos. Essa não é a realidade de hoje, a Lei complementar nº 150/2015 altera essa situação e corrige a desigualdade a que essa enorme gama de trabalhadores era colocada. Comentando o dispositivo retrotranscrito, Luiz Alberto David de Araujo e Vidal Serrano Nunes Junior (2008, p. 69) comentam: No mais, os direitos sociais são atribuídos, em igualdade, aos trabalhadores rurais e urbanos, sendo certo, no entanto, que o rol de direitos constante do art. 7º do texto constitucional não é exauriente dos direitos trabalhistas, pois o caput do dispositivo é literal ao consignar a existência daqueles, “além de outros que visem à melhoria de sua condição social. Ainda o mesmo dispositivo constitucional instituiu a regra que resguarda a relação de emprego em face da despedida arbitrária ou sem justa causa e criou a ideia de aviso-prévio proporcional ao tempo de serviço. Apesar de a jurisprudência trabalhista, por décadas, ter negado aplicação imediata ao preceito constitucional, não se pode negar que por conta de sua vigência, mudou-se a cultura jurídica rescisória dominante no país. No cenário jurisprudencial da atualidade, vê-se a inquência do princípio, entre outras, na Súmula 212 do Tribunal Superior do Trabalho. Ela impõe que o ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, Yca a cargo do empregador. Porque o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado. Analisando o enunciado jurisprudencial, percebe-se que para a Corte Superior Trabalhista, esse princípio além de fundamentar a preservação dos contratos de trabalho, também repercute na esfera processual trabalhista, uma vez que estabelece presunção favorável ao obreiro quanto ao término do vínculo de trabalho, distribuindo o encargo do ônus probandi a quem tem melhor condição de fazê-lo, o empregador. Finalmente, conclui-se que em consequência da regra geral que advém do princípio, os contratos a termo possuem caráter excepcional e a criação do 28/02/2023 16:28 Página 27 de 34 instituto da sucessão de empregadores (arts. 10 e 448 da CLT), formam uma rede de garantias ao trabalhador quanto a sua manutenção no mercado de trabalho. b) Princípios justrabalhistas especiais controvertidosb) Princípios justrabalhistas especiais controvertidos Depois de bastante abordar o tema, já se sabe que princípios são ideias fundamentais e informadorasda organização jurídica, representando grandes fachos normativos que servem para iluminar a compreensão do Direito. Entretanto, seria contraditória a existência de um princípio impreciso que entrasse em choque com o conjunto sistemático geral do Direito, ou com os seus princípios gerais. Assim explica Mauricio Godinho Delgado (2012, p. 206), “na verdade, o próprio fato de haver forte dissensão acerca de determinado princípio – sua existência, ou pelo menos, validade – já compromete, em boa medida, seus status no mundo do Direito”. Pelo fato de serem dotados de certa contradição quanto a sua existência e validade, é que os princípios in dubio pro operarioin dubio pro operario e princípio do maiorprincípio do maior rendimento rendimento são estudados de forma separada em tópico especíYco. Princípio Princípio in dubio pro operario – in dubio pro operario – é possível aYrmar que tal princípio consiste em uma transposição adaptada do princípio indubio pro reo, advindo do Direito Penal. Ele deve auxiliar a interpretação da norma trabalhista em prol do trabalhador, em caso de dúvida deve-se optar pela norma mais favorável ao obreiro. Todavia, existem dois problemas que envolvem a aplicação de tal princípio. Primeiramente, e menos grave, o problema reside em uma questão prática, técnica, ou seja, o seu conteúdo básico já é abordado por outros princípios especíYcos do Direito do Trabalho, o princípio da norma mais favorável ou o princípio da proteção. Inclusive alguns autores, como Sérgio Pinto Martins (2008), considera-o como um dos desmembramentos do princípio da proteção. Na verdade, o problema grave que o envolve é que no tocante a sua outra dimensão temática, ele choca-se com o princípio jurídico geral da essência da civilização ocidental e do Estado Democrático de Direito, o famoso princípio do juiz naturalprincípio do juiz natural. 28/02/2023 16:28 Página 28 de 34 O princípio do juiz natural é o princípio constitucional que encontra respaldo em dois dispositivos legais: art. 5º, XXXVII e art. 5º, LIII da CF/88: XXXVIIXXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; [...]............................................................................................. LIII –LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. O conteúdo jurídico do princípio pode ser resumido na necessidade de predeterminação do juízo competente, quer para o processo, quer para o julgamento, proibindo-se qualquer forma de designação de tribunais e juízos para casos determinados. Essa garantia constitucional tem dois destinatários: o cidadão, que deve submeter-se ao juízo aleatório do Estado, sem romper a regra da livre distribuição e, ao Estado, que não pode deYnir o juiz para determinado cidadão ou caso. Mas, vale frisar que isso não impede a existência de juízos especializados. E mais, é esse princípio que irá garantir a independência e imparcialidade do órgão julgador. Por isso, é considerado um dos desdobramentos do princípio, também fundamental, da igualdade. Após rápida explicação sobre no que consiste o princípio constitucional mencionado anteriormente, enfrenta-se onde está o choque entre os dois princípios. O choque não está na dimensão da interpretação normativa do princípio (atualmente, referenciada pelo princípio da norma mais favorável), mas sim na dimensão de aferição e valoração dos fatos trazidos a exame do intérprete e aplicador do Direito. Há divergência doutrinária e jurisprudencial acerca da aplicação do princípio in dubio pro operario no campo do processo trabalhista, quanto ao exame de fatos e provas. Nesse sentido, assevera Sergio Pinto Martins (2008, p. 61): “O in dubio pro operario não se aplica integralmente ao processo do trabalho, pois, havendo dúvida, à primeira vista, não se poderia decidir a favor do trabalhador, mas veriYcar quem tem o ônus da prova no caso concreto”. 28/02/2023 16:28 Página 29 de 34 Ademais, Carlos Henrique Bezerra Leite ensina (2014, p. 56): PerYlhamos o entendimento segundo o qual o princípio in dubio pro operaria não deve ser estendido ao campo do processo no que respeita à instrução probatória17, pois a moderna ciência processual possui metodologia própria (CLT, art. 818; CPC, art. 331) acerca da divisão do ônus da prova, conferindo ao juiz, inclusive, o poder de inverter o ônus da prova, tal como prevê o art. 6Q, VIII, do CDC. O art. 818 da CLT, apesar de ter sofrido algumas alterações com a reforma trabalhista, traça as diretrizes de produção probatória para o processo trabalhista. Art. 818 - Art. 818 - O ônus da prova incumbe: (Redação dada pela Lei nº(Redação dada pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017).13.467, de 13.7.2017). I -I - ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito; (Incluído(Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017)pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017) II -II - ao reclamado, quanto à existência de fato impeditivo, modiYcativo ou extintivo do direito do reclamante (Incluído pela Lei nº 13.467, de(Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017).13.7.2017). §1º§1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva diYculdade de cumprir o encargo nos termos deste artigo ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juízo atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído (Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017).(Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017). § 2º§ 2º A decisão referida no § 1º deste artigo deverá ser proferida antes da abertura da instrução e, a requerimento da parte, implicará o adiamento da audiência e possibilitará provar os fatos por qualquer meio em direito admitido (Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017)(Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017) § 3º§ 3º A decisão referida no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil (Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017).(Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017). Conforme demonstrado anteriormente, além de o Código Trabalhista ter sua própria regra de produção de provas nos autos de um processo, aplicar o 28/02/2023 16:28 Página 30 de 34 princípio do in dubio pro operario nesse sentido destituiria o juiz ou órgão julgador de toda a independência e imparcialidade que lhe é obrigatoriamente inerente, privando os cidadãos de suas garantias fundamentais relacionadas ao princípio do juiz natural. Mauricio Godinho Delgado (2012, p. 207) menciona que a diretriz do princípio na dimensão processual trabalhista causaria um “desiquilíbrio atávico ao processo de exame de valoração dos fatos trazidos à análise do intérprete e aplicador do Direito”, situação que não passaria pelo crivo da cientiYcidade do fenômeno jurídico da atualidade. É relevante apontar que tal pensamento correspondia a uma fase embrionária do Direito do Trabalho, com pouca base técnico-cientíYca. Contemporaneamente, a teoria do ônus da prova sedimentada no Direito Processual do Trabalho anula a ótica apresentada por esse princípio, deixando a questão da interpretação normativa para o princípio da norma mais favorável ao trabalhador. Princípio do maior rendimentoPrincípio do maior rendimento: também de validade controvertida é o princípio do maior rendimento. Basicamente, determina em seu conceito que o empregado deve agir com boa-fé e lealdade na execução do contrato, exercendo suas funções sempre de modo a não prejudicar os interesses do empregador (é claro que se trata aqui dos interesses lícitos). Foi difundido pelo jurista espanhol e professor de Direito do Trabalho Eugenio Perez Botija (1910-1966), na década de 1940. Nas palavras de Mauricio Godinho Delgado (2012, p.175), o princípio: “Seria a diretriz subjacente a todo o poder disciplinar empregatício, conferindo fundamento a algumas Yguras típicas de justa causa, como, ilustrativamente, a desídia e a negociaçãoconcorrencial ao empregador (art. 482, CLT)”. Insta salientar que o art. 482 da CLT elenca as treze situações que podem ensejar a rescisão do contrato de trabalho por justa causa. Dentre elas estão: incontinência de conduta ou mau procedimento, desídia noincontinência de conduta ou mau procedimento, desídia no desempenho das respectivas funções, ato de indisciplina ou dedesempenho das respectivas funções, ato de indisciplina ou de insubordinação etcinsubordinação etc. Em algumas decisões dos Tribunais é possível visualizar sua aplicação na prática: 28/02/2023 16:28 Página 31 de 34 TRT-9-632008670902 PR 63-2008-670-9-0-2 (TRT-9)TRT-9-632008670902 PR 63-2008-670-9-0-2 (TRT-9) Data de publicação: 26/11/2010 EmentaEmenta: TRT-PR-26-11-2010 Assédio moral – necessidade de prova robusta para sua conYguração – cobrança de cumprimento de metas sem abusos por parte do empregador – amparo no princípio do maior rendimento – inexistência de ilicitude. O assédio moral, como espécie de gênero de dano moral, tal como este demanda, para seu reconhecimento, robusta prova do dano imaterial efetivamente sofrido pelo trabalhador, não se sustentando somente na impressão subjetiva do empregado acerca de lesão a direito ínsito de sua personalidade. Assim, mera alegação de cobranças de metas e perseguições, não enseja dever de indenização. E, ainda que provado o estabelecimento de metas a serem cumpridas e sua respectiva cobrança, a ré, ao assim proceder, não incorre em qualquer ilicitude. A hipótese encontra suporte até mesmo no princípio do maior rendimentoprincípio do maior rendimento (ou princípio do rendimento), que também fundamenta o Direito do Trabalho, em contraposição aos demais princípios trabalhistas com enfoque na proteção do trabalhador. Recurso obreiro a que se nega provimento. Fonte: Disponível em: <Fonte: Disponível em: <https://bit. ly/34zkl6uhttps://bit. ly/34zkl6u>. Acesso em: 2 abr. 2018.>. Acesso em: 2 abr. 2018. Apesar de a peculiaridade desse princípio estar em uma tutela especíYca para empregador em contraposição aos tantos princípios de aplicação especíYca para o empregado, ele acaba sendo abarcado pelo conteúdo existente no princípio da lealdade de da boa-fé dos contratos, podendo incorrer numa situação de redundância. Se for analisado sob o prisma de que como o empregador tem a obrigação de agir com boa-fé e lealdade para com o empregado, esse, em contraprestação, deve agir, também, com boa-fé e lealdade para com aquele. 28/02/2023 16:28 Página 32 de 34 Capítulo 1 Capítulo 3 Conteúdo escrito por: E é nesse sentido que reside o ponto controvertido, não desmerecendo a essência de seu conteúdo, mas, apenas o fato de que se admitida a acepção mencionada, ele perde sua particularidade, sendo abrangido pelo princípio da boa-fé e lealdade contratual. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESALGUMAS CONSIDERAÇÕES Após a realização de todo o estudo a respeito dos princípios do Direito e princípios do Direito do trabalho, entende-se que toda ciência funda-se em princípios, e o Direito, como ciência, não foge dessa premissa. Sendo assim, o Direito embasa-se em princípios universais ou restritos a seus ramos especíYcos, os quais são importantes para compreensão, integração e aplicação normativa aos casos concretos, dispondo de verdades válidas, próprias da sua área de saber que compõem seus enunciados lógicos. O Direito do Trabalho como setor autônomo possui juntamente com os princípios gerais do direito, seus princípios especiais que compõem as diretrizes e postulados formadores das normas trabalhistas. Constituindo o fundamento do ordenamento jurídico trabalhista, tais princípios especiais se caracterizam como enunciados básicos que englobam indeYnidas situações. Devendo interagir harmonicamente entre si para conduzir de modo unido e coeso o ordenamento jurídico justrabalhista. Todos os direitos reservados © Mariana dos Reis André Cruz Poli 28/02/2023 16:28 Página 33 de 34 28/02/2023 16:28 Página 34 de 34
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