Buscar

Cap Princípios Godinho - Princípios do Direito do Trabalho

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CAPÍTULO VI
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO
I. INTRODUÇÃO
A palavra princípio traduz, na linguagem corrente, a ideia de “começo, 
início”, e, nesta linha, “o primeiro momento da existência de algo ou de uma 
ação ou processo”(1).
Mas traz, também, consigo o sentido de “causa primeira, raiz, razão” e, 
nesta medida, a ideia de aquilo “que serve de base a alguma coisa”(2).
Por extensão, signi�ca, ainda, “proposição elementar e fundamental 
que serve de base a uma ordem de conhecimentos” e, nesta dimensão, 
“proposição lógica fundamental sobre a qual se apoia o raciocínio”(3).
A palavra, desse modo, carrega consigo a força do signi�cado de 
proposição fundamental. E é nessa acepção que ela foi incorporada por 
distintas formas de produção cultural dos seres humanos, inclusive o Direito.
Assim, princípio traduz, de maneira geral, a noção de proposições 
fundamentais que se formam na consciência das pessoas e grupos sociais, a 
partir de certa realidade, e que, após formadas, direcionam-se à compreensão, 
reprodução ou recriação dessa realidade.
Nessa acepção, princípios políticos, morais ou religiosos, por exemplo, 
importariam em proposições fundamentais, ideais, resultantes de determina-
do contexto político, cultural ou religioso, que se reportam à realidade como 
diretrizes de correspondentes condutas políticas, morais ou religiosas. Em tal 
sentido, os princípios seriam elementos componentes da visão de mundo es-
sencial que caracteriza as pessoas e grupos sociais, resultando de suas prá-
ticas cotidianas e sobre elas in�uindo. Na dinâmica das pessoas e socieda-
des, os princípios atuariam como enunciados que re�etem e informam — em 
maior ou menor grau — as práticas individuais e sociais correspondentes.
Nas ciências, a palavra princípio é apreendida com sentido similar. Aqui, 
os princípios correspondem à noção de proposições ideais, fundamentais, 
construídas a partir de uma certa realidade e que direcionam a compreensão 
da realidade examinada. Ou “proposições que se colocam na base de uma 
(1) HOUAISS, Antônio, et alii. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 2001. p. 2299.
(2) HOUAISS, Antônio, et alii, loc. cit.
(3) HOUAISS, Antônio, et alii, loc. cit.
202 Mauricio Godinho Delgado
ciência, informando-a” (Cretella Júnior). Os princípios atuariam no processo 
de exame sistemático acerca de uma certa realidade — processo que é típico 
às ciências —, iluminando e direcionando tal processo.
1. Ciência e Princípios
Enquanto proposições diretoras da análise e compreensão de certa 
realidade, os princípios têm sido gravemente questionados no âmbito das 
ciências. A validade cientí�ca da ideia de princípios, como instrumento de 
análise da realidade, tem sido contestada acerbadamente. A esse respeito o 
�lósofo Nicola Abbagnano discorre que “na �loso�a moderna e contemporânea, 
a noção de princípio tende a perder sua importância. Ela inclui, com efeito, a 
noção de um ponto de partida privilegiado: e não relativamente privilegiado, isto 
é, com relação a certos escopos, mas absolutamente em si. Um ponto de partida 
deste gênero di�cilmente poderia ser admitido no domínio das ciências”(4).
De fato, as Ciências Físicas, Biológicas e Sociais têm seu objeto, fun-
damentalmente, �rmado em torno de fenômenos concretos, empíricos. Em 
síntese, debruçam-se sobre fatos e atos ocorridos ou que potencialmente 
venham a ocorrer. De�nindo-se como “o estudo sistemático e objetivo dos 
fenômenos empíricos e o acervo de conhecimentos daí resultante”(5), tais 
ciências examinam o concreto empírico, sobre ele re�etindo, de modo a 
construir leis (ou leis tendenciais) e hipóteses explicativas a respeito desse 
concreto empírico.
Os princípios, realmente, não conseguem se harmonizar a essa dinâ-
mica de atuação e construção das ciências. Ao contrário, a assunção de 
posições preestabelecidas acerca do objeto a ser investigado (assunção ine-
rente à ideia de princípios) limitaria o próprio potencial investigativo sobre a 
realidade, conformando o resultado a ser alcançado ao �nal do processo de 
investigação. Desse modo, a submissão a princípios (isto é, conceitos prees-
tabelecidos), pelo cientista, no processo de exame da realidade, importaria 
em iniludível conduta acientí�ca: é que a resposta buscada, na realidade, 
pelo investigador, já estaria gravemente condicionada na orientação investi-
gativa, em função do princípio utilizado.
2. Direito e Princípios
Contudo, o anátema lançado pelas ciências contra os princípios não 
pode prevalecer no âmbito dos estudos jurídicos. De fato, na Ciência 
Jurídica — enquanto estudo sistemático a respeito dos fenômenos jurídicos, 
(4) ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filoso�a. São Paulo: Mestre Jou, 1982. p. 760.
(5) KOLB, William. Ciência, in Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Fundação 
Getúlio Vargas — Instituto de Documentação, 1986. p. 182.
203Curso de Direito do Trabalho
com o conjunto de conhecimentos resultantes —, os princípios sempre hão 
de cumprir papel de suma relevância, sem comprometimento do estatuto 
cientí�co desse ramo especializado de conhecimento. Essa peculiaridade 
decorre da posição singular que a Ciência do Direito ocupa perante os demais 
ramos cientí�cos existentes.
É que a Ciência Jurídica tem objeto estruturalmente distinto daquele 
que caracteriza as ciências em geral. Estas, como visto, debruçam-se ao 
exame dos fatos e atos ocorridos ou potencialmente veri�cáveis — aquilo 
que poderia genericamente ser designado como ser. Em contrapartida, a 
Ciência do Direito debruça-se à análise dos institutos jurídicos e da norma (e 
dos próprios princípios jurídicos), que se constituem em modelos de conduta 
ou de organização — e que correspondem a fenômenos que genericamente 
poderiam ser designados como dever-ser(6).
A Ciência Jurídica, portanto, tem objeto singular, consistente em realida-
des essencialmente conceituais, realidades ideais e normativas, que se des-
dobram em proposições ou modelos de comportamento ou de organização. 
Seu dado central e basilar consiste no dever-ser (elemento nitidamente ideal, 
em suma) e não no ser (elemento nitidamente concreto-empírico). Nesse 
sentido, a direção emergente da noção de princípio — isto é, proposição 
diretora à compreensão de uma certa realidade — surge como um condutor 
importante à compreensão do sentido da norma e do instituto jurídico, do 
sentido do dever-ser jurídico. Noutras palavras, a premissa orientativa con-
substanciada no princípio favorece à correta percepção do sentido do institu-
to e da norma no conjunto do sistema normativo em que se integra. Por essa 
razão, os princípios, na Ciência Jurídica, não somente preservam irrefutável 
validade, como se destacam pela qualidade de importantes contributos à 
compreensão global e integrada de qualquer universo normativo.
A importância dos princípios na Ciência do Direito, entretanto, não tem 
obviamente o condão de transformá-los em axiomas absolutos e imutáveis. 
Ao contrário, sua validade se preserva apenas caso considerados em 
seus limites conceituais e históricos especí�cos, enquanto sínteses de 
orientações essenciais assimiladas por ordens jurídicas em determinados 
períodos históricos. Os princípios jurídicos despontam, assim, como sínteses 
conceituais de nítida inserção histórica, submetendo-se a uma inevitável 
dinâmica de superação e eclipsamento, como qualquer outro fenômeno 
cultural produzido.
Em conclusão, para a Ciência do Direito os princípios conceituam-se 
como proposições fundamentais que informam a compreensão do fenômeno 
(6) A respeito, KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1987. p. 4-10 
e 96-101. A visão de Kelsen é, contudo, estritamente regralista quanto à substância do fenô-
meno jurídico.
204 Mauricio Godinho Delgado
jurídico. São diretrizes centrais que se inferem de um sistema jurídico e que, 
após inferidas, a ele se reportam, informando-o.
II. PRINCÍPIOS DE DIREITO: FUNÇÕES
E CLASSIFICAÇÃO
No Direito, os princípioscumprem funções diferenciadas. Atuam, na 
verdade, até mesmo na fase de construção da regra de Direito — fase 
pré-jurídica ou política. Mas será na fase jurídica típica, após consumada a 
elaboração da regra, que os princípios cumprirão sua atuação mais relevante.
1. Fase Pré‑jurídica ou Política
Na fase pré-jurídica, que é nitidamente política, voltada à construção 
das regras e institutos do Direito, os princípios despontam como proposições 
fundamentais que propiciam uma direção coerente na construção do Direito. 
São veios iluminadores à elaboração de regras e institutos jurídicos. Os 
princípios gerais do Direito e os especí�cos a determinado ramo normativo 
tendem a in�uir no processo de construção das regras jurídicas, orientando 
o legislador no desenvolvimento desse processo. Nesse momento, os 
princípios atuam como verdadeiras fontes materiais do Direito, na medida em 
que se postam como fatores que in�uenciam na produção da ordem jurídica.
Essa in�uência política dos princípios é, contudo, obviamente limitada. É 
que as principais fontes materiais do Direito situam-se fora do sistema jurídico, 
consubstanciando-se fundamentalmente nos movimentos sociopolíticos e 
correntes político-�losó�cas e econômicas que provocam e condicionam a 
elaboração normativa.
2. Fase Jurídica
Na fase propriamente jurídica, os princípios desempenham funções di-
ferenciadas e combinadas, classi�cando-se segundo a função especí�ca 
assumida. Surgem, nesse caso, em um plano, os princípios descritivos (ou 
informativos), que cumprem papel relevante na interpretação do Direito. A seu 
lado, os princípios normativos subsidiários, que cumprem papel destacado no 
processo de integração jurídica (normas supletivas). Por �m, os princípios nor-
mativos próprios ou concorrentes, que atuam com natureza de norma jurídica, 
independentemente da necessidade de ocorrência da integração jurídica.
Ressalte-se que não há um grupo de princípios exclusivamente descri-
tivos contraposto a outro grupo — ainda que mais restrito — de princípios 
exclusivamente normativos. Qualquer princípio geral de Direito, ou os especí-
�cos a ramo jurídico especial, cumprem os papéis interpretativos, normativos 
205Curso de Direito do Trabalho
subsidiários e normativos próprios ou concorrentes. As funções desempe-
nhadas é que se diferenciam, sem que impliquem a existência de categorias 
incomunicáveis de princípios gerais do Direito.
A) Princípios Descritivos (ou Informativos) — Na fase jurídica, os 
princípios atuam, em primeiro lugar, como proposições ideais que propiciam 
uma direção coerente na interpretação da regra de Direito. São veios 
iluminadores à compreensão da regra jurídica construída.
Cumprem, aqui, sua função mais clássica e recorrente, como veículo 
de auxílio à interpretação jurídica. Nesse papel, os princípios contribuem 
no processo de compreensão da regra e institutos jurídicos, balizando-os 
à essência do conjunto do sistema de Direito. São chamados princípios 
descritivos ou informativos, na medida em que propiciam uma leitura 
reveladora das orientações essenciais da ordem jurídica analisada.
Os princípios informativos ou descritivos não atuam, pois, como fonte 
formal do Direito, mas como instrumental de auxílio à interpretação jurídica.
B) Princípios Normativos Subsidiários — Podem os princípios, 
entretanto, em segundo lugar, cumprir o papel de fontes formais supletivas do 
Direito. Atuam como fontes normativas subsidiárias, à falta de outras regras 
jurídicas utilizáveis pelo intérprete e aplicador do Direito em face de um singular 
caso concreto. A proposição ideal consubstanciada no princípio incide sobre o 
caso concreto, como se fosse regra jurídica especí�ca. É o que se passa em 
situações de recurso necessário à integração jurídica, em decorrência de falta 
de regras jurídicas aplicáveis no conjunto das fontes normativas principais 
existentes. Denominam-se princípios normativos subsidiários, na medida em 
que atuam como verdadeiras regras jurídicas em face de casos concretos não 
regidos por fonte normativa principal da ordem jurídica.
A função normativa subsidiária dos princípios, embora mais rara do que 
sua função interpretativa, corresponde, curiosamente, àquela especialmente 
citada por texto expresso da legislação. É o que se passa quando a lei 
autoriza o recurso, pelo juiz, à integração jurídica (art. 8º, CLT; art. 4º, Lei de 
Introdução ao Código Civil; art. 126 do antigo CPC)(7).
(7) Os princípios descritivos ou informativos são denominados, pelo Professor Ribeiro de 
Vilhena, “princípios jurídicos”, ao passo que os princípios normativos são denominados, pelo 
mesmo jurista, “princípios axiomáticos”. VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Princípios de 
Direito — Princípio Jurídico do Direito do Trabalho. In: BARROS, A. M. de. Curso de Direito 
do Trabalho. São Paulo: LTr, 1993. p. 116-131. A respeito da Lei de Introdução ao Código 
Civil (Decreto-lei n. 4.657, de 1942), relembre-se que sua denominação foi alterada para Lei 
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, conforme Lei n. 12.376, de 30.12.2010. Com 
relação, por �m, ao artigo 140 do CPC-2015 (que corresponde ao art. 126 do CPC-1973), ele 
não se refere aos princípios ou a qualquer fonte subsidiária do Direito, pois não se reporta a 
“lacuna da lei” (como fazia o velho CPC), porém a lacuna do “ordenamento jurídico”. Como 
a ideia de ordenamento jurídico é muito mais ampla do que a ideia de “lei”, torna-se difícil 
206 Mauricio Godinho Delgado
C) Princípios Normativos Próprios ou Concorrentes — Parte impor-
tante da doutrina jurídica ocidental mais notável agrega outra função às duas 
tradicionais já amplamente reconhecidas: trata-se da função normativa própria 
dos princípios. Ou seja, os princípios atuam também como norma jurídica pró-
pria, ostentando, desse modo, natureza de efetivas normas jurídicas.
Esta mais recente compreensão sedimentou-se, em distintas vertentes, 
dimensões e abrangência, na segunda metade do século XX, na obra de 
célebres juristas, principalmente autores de Filoso�a do Direito e do Direito 
Constitucional. Citem-se como exemplo, entre vários outros, Vezio Crisafulli 
e Norberto Bobbio, na Itália; Jean Boulanger, na França; Federico de Castro, 
Luís Díez-Picazo e Joaquín Arce y Flórez-Valdez, na Espanha; Joseph Esser e 
Robert Alexy, na Alemanha; Ronald Dworkin, nos EUA; José Joaquim Gomes 
Canotilho, em Portugal; Paulo Bonavides, no Brasil(8). Tal função normativa 
especí�ca dos princípios seria resultante de sua dimensão fundamentadora 
de toda a ordem jurídica. Essa dimensão passa, necessariamente, pelo 
reconhecimento doutrinário de sua natureza de norma jurídica efetiva e não 
simples enunciado programático não vinculante. Isso signi�ca que o caráter 
normativo contido nas regras jurídicas integrantes dos clássicos diplomas 
jurídicos (constituições, leis e diplomas correlatos) estaria também presente 
nos princípios gerais de Direito. Ambos seriam, pois, norma jurídica, dotados 
da mesma natureza normativa.
Esta nova compreensão doutrinária passou a se valer da expressão 
norma como referência geral aos dispositivos gerais, abstratos, impessoais 
e obrigatórios que regulam a vida social. Assim, na ideia de norma (em 
sentido amplo) estariam abrangidas, pois, as noções de regras (ou norma, 
em sentido estrito) e de princípios jurídicos (e também a noção de institutos 
jurídicos, acrescentamos nós). A “distinção entre regras e princípios é pois 
uma distinção entre dois tipos de normas”, diz Robert Alexy, sintetizando 
esta compreensão teórica sobre o problema(9).
Tal função maior percebida nos princípios — ao menos nos princípios 
gerais ou essenciais do Direito — permitiria quali�cá-los como “normas-chaves 
de todo o sistema jurídico” (Paulo Bonavides)(10), “fundamento da ordem 
admitir a presença de lacunas nesse ordenamento; além disso, para o novo CPC, não há 
qualquer dúvida de que os princípios ostentam, sim, natureza normativa.
(8) A respeito de tais contribuições teóricas, consultarDELGADO, Mauricio Godinho. 
Princípios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2001, em seu primeiro 
capítulo. (2. ed.: 2004; 3. ed.: 2010; 4. ed.: 2013)
(9) ALEXY, R. Teoría de los Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitu-
cionales, 1997, p. 83. A expressão norma pode ser utilizada, pois, em sentido amplo (quando 
abrangeria as regras, os princípios — e, pensamos, também os institutos jurídicos); mas pode 
ser utilizada ainda em sentido estrito, quando corresponderia a regras jurídicas.
(10) BONAVIDES, Paulo, ob. cit., p. 257.
207Curso de Direito do Trabalho
jurídica” (Federico de Castro)(11), “superfonte” (Flórez-Valdez),(12) verdadeiros 
“mandamentos de otimização” da ordem jurídica (Robert Alexy)(13).
É claro que a prevalência dos princípios sobre as regras legais, de-
fendida por diversos desses autores, é relativa, sob pena de criar-se total 
insegurança na ordem jurídica e meio social regulado. Na verdade, parece-
-nos mais adequado sustentar que, em vez de função normativa própria, 
especí�ca, autônoma, veri�ca-se que os princípios atuam como comandos 
jurídicos instigadores, tendo, no fundo, uma função normativa concorrente. 
Trata-se de papel normativo concorrente, mas não autônomo, apartado do 
conjunto jurídico geral e a ele contraposto.
Esta última função atua, de maneira geral, em concurso com a inter-
pretativa da regra analisada. Nesta atuação, ora estende o comando desta, 
ora o restringe, ora até mesmo esteriliza-o, a partir de uma absorção de seu 
sentido no âmbito mais abrangente cimentado pelos princípios correlatos. 
Nesta linha, se uma regra legal realiza o comando genérico contido em certo 
princípio, mas entra em choque com outro, pode prevalecer, sem dúvida, em 
face do peso do princípio realizado. Contudo, isso não signi�ca que o princí-
pio preterido não tenha certa in�uência na compreensão da norma enfocada, 
atenuando, adequadamente, seus efeitos pensados na origem.
A clássica função interpretativa age, pois, em concurso com a função 
normativa, ajustando as regras do Direito ao sentido essencial de todo o 
ordenamento. Por isso se pode falar também em uma função simultanea-
mente interpretativa/normativa, resultado da associação das duas funções 
especí�cas (a descritiva e a normativa), que agem em conjunto, fusionadas, 
no processo de compreensão e aplicação do Direito(14).
III. PRINCÍPIOS JURÍDICOS GERAIS APLICÁVEIS AO
DIREITO DO TRABALHO — ADEQUAÇÕES
Há princípios gerais de todo o Direito que têm inquestionável aplicação 
no âmbito especializado do Direito do Trabalho.
São princípios que tendem a incorporar as diretrizes centrais da própria 
noção do Direito (ilustrativamente, os princípios da lealdade e boa-fé ou da 
(11) In FLÓREZ-VALDEZ, ob. cit., p. 53 e 56.
(12) Ob. cit., p. 55.
(13) ALEXY, Robert, ob. cit., p. 86 e seguintes. Há menções à obra de Alexy que falam, em 
português, em mandatos de otimização; contudo, o conceito é de mandado (ou mandamento), 
por se tratar de ordenações de permissão ou de proibição.
(14) Para exame mais aprofundado sobre a concepção normativista de princípios, consultar 
o Capítulo I da obra deste autor, Princípios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho. São 
Paulo: LTr, 2001 (2. ed.: 2004; 3. ed.: 2010). Esclareça-se que o critério fundado no peso (ou 
importância) dos princípios é acentuado tanto por Ronald Dworkin (Los Derechos en Serio. 
Barcelona: Ariel, 1999, p. 77 e seguintes), como por Robert Alexy (ob. cit., p. 105-109).
208 Mauricio Godinho Delgado
não alegação da própria torpeza) ou as diretrizes centrais do conjunto dos 
sistemas jurídicos contemporâneos ocidentais (como, ilustrativamente, o 
princípio da inalterabilidade dos contratos). Tendem a ser, portanto, princípios 
que se irradiam por todos os segmentos da ordem jurídica, cumprindo 
o relevante papel de assegurar organicidade e coerência integradas à 
totalidade do universo normativo de uma sociedade política. Nessa linha, os 
princípios gerais, aplicando-se aos distintos segmentos especializados do 
Direito, preservam a noção de unidade da ordem jurídica, mantendo o Direito 
como um efetivo sistema, isto é, um conjunto de partes coordenadas.
Qualquer dos princípios gerais que se aplique ao Direito do Trabalho 
sofrerá, evidentemente, uma adequada compatibilização com os princípios e 
regras próprias a este ramo jurídico especializado, de modo que a inserção 
da diretriz geral não se choque com a especi�cidade inerente ao ramo 
justrabalhista. Esse processo de adequação será, obviamente, mais extenso 
naqueles especí�cos pontos objetivados pelo princípio geral em que, 
topicamente, se realçar a identidade singular do Direito do Trabalho perante 
o conjunto do sistema jurídico em geral.
1. Princípios Gerais — adequações
Um dos mais importantes princípios gerais do Direito aplicáveis ao ramo 
justrabalhista seria o da inalterabilidade dos contratos, que se expressa no 
conhecido aforismo pacta sunt servanda. Informa tal princípio que os ajustes 
contratuais �rmados pelas partes não são modi�cáveis ao longo do prazo de 
sua vigência, impondo-se ao cumprimento �el pelos pactuantes.
Contudo, o processo de adequação desse princípio geral durante seu 
ingresso no Direito do Trabalho foi muito intenso. A intensidade de adequação 
des�gurou a matriz civilista, dando origem a uma diretriz justrabalhista 
própria, o princípio da inalterabilidade contratual lesiva. Desse modo, torna-
se mais correto e prático examinar a referência histórica ao princípio geral 
do Direito Civil no âmbito do estudo especí�co sobre o princípio especial do 
ramo juslaborativo (o que será feito no item IV.1, à frente).
Há três princípios gerais do Direito, conceitualmente relacionados entre 
si, que, seja no conjunto sistemático que representam, seja na identidade 
ideal singular de cada um, assumem inquestionável importância na área 
justrabalhista. Trata-se dos princípios da lealdade e boa-fé, da não alegação 
da própria torpeza e, ainda, do princípio do efeito lícito do exercício regular 
do próprio direito — este incorporando seu contrário, consubstanciado na 
vedação à prática do abuso do direito.
Em seu conjunto, esses três princípios produzem repercussões, quer no 
âmbito do Direito Material do Trabalho, quer no âmbito do Direito Processual 
do Trabalho. Nesses dois segmentos, sintetizam a noção de que a ordem 
209Curso de Direito do Trabalho
jurídica deve apenas acolher e conferir consequências compatíveis em favor 
de uma pessoa com respeito a condutas lícitas e de boa-fé por ela praticadas. 
Em tal sentido, esses princípios não somente iluminam a compreensão 
da ordem jurídica como também, ao mesmo tempo, fornecem poderoso 
instrumento à aferição valorativa dos fatos trazidos a exame do intérprete e 
aplicador concreto do Direito.
No que concerne aos princípios da lealdade e boa-fé e do efeito lícito ao 
exercício regular do próprio direito, eles se encontram claramente inseridos 
em distintas normas justrabalhistas, que tratam dos limites impostos à 
conduta de uma parte em confronto com os interesses da outra parte 
contratual. É o que se percebe, ilustrativamente, em algumas �guras de justa 
causa obreira, como incontinência de conduta, mau procedimento, desídia, 
negociação habitual desleal, etc. (art. 482, CLT). É o que se apreende, do 
mesmo modo, em algumas �guras empresariais faltosas, como exigência 
de serviços superiores às forças do trabalhador, tratamento deste com rigor 
excessivo ou, ainda, a redução substantiva de oferta de trabalho quando este 
for remunerado à base exclusiva de produção (art. 483, CLT).(15)
No que tange ao princípio da não alegação da própria torpeza, ele 
sofre uma adequação singular ao Direito do Trabalho. É que em face da 
imperatividade dominante nas normas justrabalhistas e do princípio protetivo 
regente neste ramo jurídico especializado, a bilateralidade da conduta 
irregular não inviabiliza, necessariamente, a alegação judicial do ilícito 
perpetrado — ao contráriodo tradicionalmente assentado no Direito Civil (art. 
104, CCB/1916; art. 150, CCB/2002). Desse modo, uma simulação bilateral 
de contrato societário, por exemplo, não impede, por si só, a tentativa de 
desconstituição judicial da relação civil formalizada, em favor de um suposto 
vínculo empregatício encoberto. O contingenciamento da livre vontade 
obreira, que é inerente à estrutura e dinâmica da relação empregatícia, reduz 
os ônus que se poderiam imputar à participação do trabalhador na simulação.
Entretanto, é óbvio que não se deve elidir visceralmente e em todas 
as situações trabalhistas a incidência do princípio geral enfocado. Eviden-
ciando-se que a simulação se efetuou com o precípuo intuito de bene�ciar o 
próprio empregado (dispensa simulada para propiciar o saque do FGTS, por 
exemplo), o princípio da não alegação da própria torpeza desponta para pro-
blematizar eventuais questionamentos, pelo mesmo empregado, de outros 
efeitos decorrentes do mesmo ato irregular.
O princípio da razoabilidade, de larga aplicação em qualquer segmento 
jurídico, também claramente atua no ramo justrabalhista. Conforme explici-
tamos em outra obra, “dispõe o princípio da razoabilidade que as condutas 
(15) Sobre o tema, consultar a excelente obra de BARACAT, Eduardo Milléo. A Boa-Fé no 
Direito Individual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2003.
210 Mauricio Godinho Delgado
humanas devem ser avaliadas segundo um critério associativo de verossi-
milhança, sensatez e ponderação. Não apenas verossimilhança, viabilidade 
aparente, probabilidade média; mas também, ao mesmo tempo, sensatez, 
prudência, ponderação. Há, como se vê, um claro comando positivo no prin-
cípio da razoabilidade: ele determina que se obedeça a um juízo tanto de 
verossimilhança como também de ponderação, sensatez e prudência na 
avaliação das condutas das pessoas. Há, por outro lado, um indubitável co-
mando negativo no mesmo princípio: ele sugere que se tenha incredulidade, 
ceticismo quanto a condutas inverossímeis, assim como no tocante a condu-
tas que, embora verossímeis, mostrem-se insensatas”(16).
Outro princípio jurídico geral de grande interesse ao Direito do Trabalho 
é o da inexistência de ilícito e respectiva penalidade sem prévia norma legal 
instituidora: o princípio da tipi�cação legal de ilícitos e penas. Tal princípio é 
adotado fundamentalmente na �xação das �guras de justas causas obreiras 
e empresariais (ilustrativamente, arts. 482 e 483, CLT) e em algumas das 
penalidades legalmente previstas, em especial suspensão e dispensa por 
justa causa (se não se quiser mencionar também, neste rol, a rescisão 
contratual indireta).
Contudo, a aplicabilidade do princípio não é absoluta no ramo justraba-
lhista: a penalidade de advertência, por exemplo, não se encontra prevista 
na CLT. Trata-se de punição essencialmente criada pelo costume trabalhista 
e não pela legislação heterônoma estatal. De fato, poucos diplomas legais 
referem-se à advertência ou admoestação verbal ou escrita: como exceções 
houve a antiga Lei de Greve, n. 4.330/64, e os diplomas legais de regula-
ção do trabalho portuário — Lei n. 8.630/93 (art. 19, I, “a”), diploma que foi 
revogado pela MPr. n. 595, de 6.12.2012, convertida na Lei n. 12.815, de 
5.6.2013 (que também menciona a “repreensão verbal ou por escrito” em seu 
art. 33, I, “a”.).(17)
Registre-se que se aplicam também ao Direito do Trabalho os princípios 
da dignidade da pessoa humana, da não discriminação, da proporcionalidade 
(que se associa ao da razoabilidade) e outros. Para sua análise circunstanciada 
remetemos o leitor a nossa obra especí�ca sobre princípios jurídicos(18).
2. Máximas e Brocardos Jurídicos
Existem ainda outras diretrizes gerais que se estendem, em certa 
medida, ao Direito do Trabalho, respeitadas as adaptações que a especi�ci-
(16) DELGADO, Mauricio Godinho. Princípios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho. São 
Paulo: LTr, 2001. p. 143-144 (grifos no original).
(17) A Lei n. 4.330, de 1964, tida como “Lei Anti-Greve”, quedou-se não recebida pelo art. 9º da 
Constituição de 1988. De todo modo, foi expressamente revogada pela Lei n. 7.783, de 1989.
(18) DELGADO, Mauricio Godinho. Princípios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho. São 
Paulo: LTr, 2001 (2. ed.: 2004; 3. ed.: 2010; 4. ed.: 2013).
211Curso de Direito do Trabalho
dade desse ramo especializado sempre há de impor. Trata-se de máximas, 
parêmias e/ou brocardos jurídicos, que não chegam a ter a generalidade, o 
status e a natureza inerentes aos princípios, mas guardam importância para 
o conhecimento e utilização empírica do Direito.
Apontem-se, neste grupo, ilustrativamente, a parêmia que fala da não 
exigência do impossível a qualquer pessoa, ou a que se reporta à prerrogativa 
menor autorizada pela prerrogativa maior (“quem pode o mais, pode o 
menos”); ou ainda a parêmia que sustenta a regra do perecimento da coisa 
em função do perecimento de seu dono ou, se se preferir, do perecimento da 
coisa sob ônus de seu dono (res perit domino).
IV. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS AO DIREITO
DO TRABALHO
O Direito Material do Trabalho desdobra-se em um segmento individual e 
um segmento coletivo, cada um possuindo regras, institutos e princípios próprios.
Toda a estrutura normativa do Direito Individual do Trabalho constrói-se a 
partir da constatação fática da diferenciação social, econômica e política básica 
entre os sujeitos da relação jurídica central desse ramo jurídico especí�co. 
Em tal relação, o empregador age naturalmente como ser coletivo, isto é, um 
agente socioeconômico e político cujas ações — ainda que intraempresariais 
— têm a natural aptidão de produzir impacto na comunidade mais ampla.
Em contrapartida, no outro polo da relação inscreve-se um ser indivi-
dual, consubstanciado no trabalhador que, como sujeito desse vínculo so-
ciojurídico, não é capaz, isoladamente, de produzir, como regra, ações de 
impacto comunitário. Essa disparidade de posições na realidade concreta fez 
emergir um Direito Individual do Trabalho largamente protetivo, caracterizado 
por métodos, princípios e regras que buscam reequilibrar, juridicamente, a 
relação desigual vivenciada na prática cotidiana da relação de emprego.
O Direito Coletivo, ao contrário, é um ramo jurídico construído a partir de 
uma relação entre seres teoricamente equivalentes: seres coletivos ambos, 
o empregador de um lado e, de outro, o ser coletivo obreiro, mediante as 
organizações sindicais. Em correspondência a esse quadro fático distinto, 
surgem, obviamente, no Direito Coletivo, categorias teóricas, processos e 
princípios também distintos.
A compreensão global do Direito do Trabalho impõe, é claro, a compre-
ensão acerca dos princípios especí�cos de seu segmento juscoletivo. É que 
o Direito Coletivo atua sobre o Direito Individual, produzindo-lhe importante 
universo de regras jurídicas, consubstanciado no conjunto de diplomas 
autônomos que compõem sua estrutura normativa (notadamente, Conven-
ção e Acordo Coletivo de Trabalho). Desse modo, o Direito Coletivo pode 
alterar o conteúdo do Direito Individual do Trabalho, ao menos naqueles 
212 Mauricio Godinho Delgado
setores socioeconômicos em que incidam seus especí�cos diplomas. Desde 
a Constituição de 1988, a propósito, ampliou-se o potencial criativo do Direito 
Coletivo, lançando ao estudioso a necessidade de pesquisar os critérios 
objetivos de convivência e assimilação entre as normas autônomas negociadas 
e as normas heterônomas tradicionais da ordem jurídica do país.
Por esta razão, o estudo feito neste Capítulo sobre os princípios especiais 
do Direito do Trabalho (e Direito Individual do Trabalho), a par dos princípios 
gerais aplicáveis ao ramo justrabalhista, não dispensa, de modo algum, o 
correspondente estudo sobre os princípios especiais do Direito Coletivo. A 
análise acerca destes últimos princípios será feita, obviamente, no Livro III 
deste Curso, dedicado ao ramo juscoletivo trabalhista (Capítulo XXXIV da 
presente obra), para onde remetemoso leitor.
V. PRINCÍPIOS DE DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO
Conforme exposto em nossa obra especí�ca sobre princípios justraba-
lhistas(19), os princípios especiais do Direito Individual do Trabalho (ou Direito 
do Trabalho) são diversos, alcançando mais de uma dezena de proposições. 
À medida que o ramo juslaboral desenvolve-se (e já são mais de 150 anos 
de evolução no mundo ocidental), novos princípios são inferidos do conjunto 
sistemático de sua cultura, regras e institutos peculiares.
Os mais importantes princípios especiais justrabalhistas indicados pela 
doutrina são: a) princípio da proteção (conhecido também como princípio 
tutelar ou tuitivo ou protetivo ou, ainda, tutelar-protetivo e denominações con-
gêneres); b) princípio da norma mais favorável; c) princípio da imperatividade 
das normas trabalhistas; d) princípio da indisponibilidade dos direitos tra-
balhistas (conhecido ainda como princípio da irrenunciabilidade dos direitos 
trabalhistas); e) princípio da condição mais bené�ca (ou da cláusula mais 
bené�ca); f) princípio da inalterabilidade contratual lesiva (mais conhecido 
simplesmente como princípio da inalterabilidade contratual; merece ainda 
certos epítetos particularizados, como princípio da intangibilidade contratual 
objetiva); g) princípio da intangibilidade salarial (chamado também integra-
lidade salarial, tendo ainda como correlato o princípio da irredutibilidade 
salarial); h) princípio da primazia da realidade sobre a forma; i) princípio da 
continuidade da relação de emprego.
Este grande grupo de nove princípios especiais forma aquilo que 
denominamos núcleo basilar dos princípios especiais do Direito do Trabalho 
(ou Direito Individual do Trabalho)(20).
(19) DELGADO, Mauricio Godinho. Princípios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho. São 
Paulo: LTr, 2001. p. 36-37 (4. ed.: 2013). 
(20) Idem. 
213Curso de Direito do Trabalho
Insistimos que tais princípios formam o núcleo justrabalhista basilar por, 
a um só tempo, não apenas incorporarem a essência da função teleológica 
do Direito do Trabalho, como por possuírem abrangência ampliada e genera-
lizante ao conjunto desse ramo jurídico, tudo isso sem que se confrontem de 
maneira inconciliável com importantes princípios jurídicos gerais, externos 
ao ramo jurídico especializado. O potencial vinculante, indutor e de gene-
ralização desses princípios sobre o conjunto do ramo jurídico especializado 
é, desse modo, mais forte e abrangente do que o característico aos demais 
princípios especiais do Direito Laboral.
Isso signi�ca que sem a presença e observância cultural e normativa 
desse núcleo basilar de princípios especiais, ou mediante a descaracterização 
acentuada de suas diretrizes indutoras, compromete-se a própria noção de 
Direito do Trabalho em certa sociedade histórica concreta(21).
Há certos princípios justrabalhistas especiais francamente controvertidos 
— e que, por isso, devem ser examinados em separado (a�nal, os princípios 
são grandes luminares, e a própria dúvida — se consistente — sobre sua 
real existência, sentido, extensão e validade já compromete grande parte de 
seu próprio papel central). Trata-se do princípio in dubio pro operario — se e 
quando aplicado ao terreno dos fatos, isto é, à análise da prova no processo 
judicial trabalhista. A seu lado, também estigmatizado pela controvérsia, o 
princípio do maior rendimento(22).
1. Núcleo Basilar de Princípios Especiais(23)
A) Princípio da Proteção — Informa este princípio que o Direito do 
Trabalho estrutura em seu interior, com suas regras, institutos, princípios e 
presunções próprias, uma teia de proteção à parte hipossu�ciente na relação 
empregatícia — o obreiro —, visando reti�car (ou atenuar), no plano jurídico, 
o desequilíbrio inerente ao plano fático do contrato de trabalho.
O princípio tutelar in�ui em todos os segmentos do Direito Individual 
do Trabalho, in�uindo na própria perspectiva desse ramo ao construir-se, 
desenvolver-se e atuar como direito. Efetivamente, há ampla predominân-
cia nesse ramo jurídico especializado de regras essencialmente protetivas, 
tutelares da vontade e interesses obreiros; seus princípios são fundamental-
mente favoráveis ao trabalhador; suas presunções são elaboradas em vista 
do alcance da mesma vantagem jurídica reti�cadora da diferenciação social 
(21) DELGADO, Mauricio Godinho, ob. cit., p. 39-40.
(22) DELGADO, M. G. Loc. cit.
(23) O presente texto deste tópico (“Núcleo Basilar de Princípios Especiais”) corresponde a 
uma síntese do Capítulo II de nossa obra já citada, Princípios de Direito Individual e Coletivo 
do Trabalho.
214 Mauricio Godinho Delgado
prática. Na verdade, pode-se a�rmar que sem a ideia protetivo-reti�cadora, 
o Direito Individual do Trabalho não se justi�caria histórica e cienti�camente.
Parte importante da doutrina aponta este princípio como o cardeal do 
Direito do Trabalho, por in�uir em toda a estrutura e características próprias 
desse ramo jurídico especializado. Esta, a propósito, a compreensão do 
grande jurista uruguaio Américo Plá Rodriguez, que considera manifestar-
se o princípio protetivo em três dimensões distintas: o princípio in dubio pro 
operario, o princípio da norma mais favorável e o princípio da condição mais 
bené�ca(24).
Na verdade, a noção de tutela obreira e de reti�cação jurídica da re-
conhecida desigualdade socioeconômica e de poder entre os sujeitos da 
relação de emprego (ideia inerente ao princípio protetor) não se desdobra 
apenas nas três citadas dimensões. Ela abrange, essencialmente, quase 
todos (senão todos) os princípios especiais do Direito Individual do Traba-
lho. Como excluir essa noção do princípio da imperatividade das normas 
trabalhistas? Ou do princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas? 
Ou do princípio da inalterabilidade contratual lesiva? Ou da proposição re-
lativa à continuidade da relação de emprego? Ou da noção genérica de 
despersonalização da �gura do empregador (e suas inúmeras consequên-
cias protetivas ao obreiro)? Ou do princípio da irretroação das nulidades? 
E assim sucessivamente. Todos esses outros princípios especiais também 
criam, no âmbito de sua abrangência, uma proteção especial aos interesses 
contratuais obreiros, buscando reti�car, juridicamente, uma diferença práti-
ca de poder e de in�uência econômica e social apreendida entre os sujeitos 
da relação empregatícia.
Desse modo, o princípio tutelar não se desdobraria em apenas três 
outros, mas seria inspirador amplo de todo o complexo de regras, princípios 
e institutos que compõem esse ramo jurídico especializado.
B) Princípio da Norma Mais Favorável — O presente princípio 
dispõe que o operador do Direito do Trabalho deve optar pela regra mais 
favorável ao obreiro em três situações ou dimensões distintas: no instante 
de elaboração da regra (princípio orientador da ação legislativa, portanto) ou 
no contexto de confronto entre regras concorrentes (princípio orientador do 
processo de hierarquização de normas trabalhistas) ou, por �m, no contexto 
de interpretação das regras jurídicas (princípio orientador do processo de 
revelação do sentido da regra trabalhista).
(24) RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1993. p. 42-43 
e 28. O jurista argentino Alfredo J. Ruprecht também aponta esse desdobramento do princípio 
tutelar em três regras distintas: in dubio pro operario, norma mais favorável e condições mais van-
tajosas. In: Os Princípios do Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995. p. 14-28. 
215Curso de Direito do Trabalho
A visão mais ampla do princípio entende que atua, desse modo, em 
tríplice dimensão no Direito do Trabalho: informadora, interpretativa/normativa 
e hierarquizante(25).
Na fase pré-jurídica (isto é, fase essencialmente política) age como 
critério de política legislativa, in�uindo no processo de construção desse 
ramo jurídico especializado. Trata-se da função essencialmente informativa 
do princípio, sem caráter normativo, agindo como verdadeirafonte material 
do ramo justrabalhista. Essa in�uência é muito clara, especialmente em 
contextos políticos democráticos, colocando em franca excepcionalidade 
diplomas normativos que agridam a direção civilizatória essencial que é 
inerente ao Direito do Trabalho.
Na fase jurídica (após construída a regra, portanto), o mesmo princípio 
atua quer como critério de hierarquia de regras jurídicas, quer como princípio 
de interpretação de tais regras.
Como critério de hierarquia, permite eleger como regra prevalecente, 
em uma dada situação de con�ito de regras, aquela que for mais favorável 
ao trabalhador, observados certos procedimentos objetivos orientadores, 
evidentemente.
Como princípio de interpretação do Direito, permite a escolha da 
interpretação mais favorável ao trabalhador, caso antepostas ao intérprete 
duas ou mais consistentes alternativas de interpretação em face de uma 
regra jurídica enfocada. Ou seja, informa esse princípio que, no processo 
de aplicação e interpretação do Direito, o operador jurídico, situado perante 
um quadro de con�ito de regras ou de interpretações consistentes a seu 
respeito, deverá escolher aquela mais favorável ao trabalhador, a que melhor 
realize o sentido teleológico essencial do Direito do Trabalho.
Na pesquisa e eleição da regra mais favorável, o intérprete e aplicador 
do Direito obviamente deverá se submeter a algumas condutas objetivas, 
que permitam preservar o caráter cientí�co da compreensão e apropriação 
do fenômeno jurídico. Assim, haverá de ter em conta não o trabalhador 
especí�co, objeto da incidência da norma em certo caso concreto, mas o 
trabalhador como ser componente de um universo mais amplo (categoria 
pro�ssional, por exemplo).
No tocante ao processo de hierarquização de normas, não poderá o 
operador jurídico permitir que o uso do princípio da norma mais favorável 
comprometa o caráter sistemático da ordem jurídica, elidindo-se o patamar 
de cienti�cidade a que se deve submeter todo processo de interpretação e 
aplicação do Direito. Assim, o encontro da regra mais favorável não se pode 
fazer mediante uma separação tópica e casuística de regras, acumulando-se 
(25) Esta é a linha proposta por Amauri Mascaro Nascimento, por exemplo, em Iniciação ao 
Direito do Trabalho. 17. ed. São Paulo: LTr, 1991. p. 68-69.
216 Mauricio Godinho Delgado
preceitos favoráveis ao empregado e praticamente criando-se ordens 
jurídicas próprias e provisórias em face de cada caso concreto — como 
resulta do enfoque proposto pela teoria da acumulação. 
Ao contrário, o operador jurídico deve buscar a regra mais favorável 
enfocando globalmente o conjunto de regras componentes do sistema, 
discriminando, no máximo, os preceitos em função da matéria, de modo a 
não perder, ao longo desse processo, o caráter sistemático da ordem jurídica 
e os sentidos lógico e teleológico básicos que sempre devem informar o 
fenômeno do Direito (teoria do conglobamento).
No tocante, por sua vez, ao processo de interpretação de normas, não 
poderá o operador jurídico suplantar os critérios cientí�cos impostos pela 
Hermenêutica Jurídica à dinâmica de revelação do sentido das normas exa-
minadas, em favor de uma simplista opção mais bené�ca para o obreiro 
(escolher, por exemplo, uma alternativa inconsistente de interpretação, porém 
mais favorável). Também no Direito do Trabalho o processo interpretativo 
deve concretizar-se de modo objetivo, criterioso, guiado por parâmetros téc-
nico-cientí�cos rigorosos. Assim, apenas se, após respeitados os rigores da 
Hermenêutica Jurídica, chegar-se ao contraponto de dois ou mais resulta-
dos interpretativos consistentes, é que procederá o intérprete à escolha �nal 
orientada pelo princípio da norma mais favorável. É óbvio que não se pode 
valer do princípio especial justrabalhista para comprometer o caráter lógico-
-sistemático da ordem jurídica, elidindo-se o patamar de cienti�cidade a que se 
deve submeter todo processo de interpretação de qualquer norma jurídica(26).
C) Princípio da Imperatividade das Normas Trabalhistas — Informa 
tal princípio que prevalece no segmento juslaborativo o domínio de regras 
jurídicas obrigatórias, em detrimento de regras apenas dispositivas. As 
regras justrabalhistas são, desse modo, essencialmente imperativas, não 
podendo, de maneira geral, ter sua regência contratual afastada pela simples 
manifestação de vontade das partes. Nesse quadro, raros são os exemplos 
de regras dispositivas no texto da CLT, prevalecendo uma quase unanimidade 
de preceitos imperativos no corpo daquele diploma legal(27).
Para este princípio prevalece a restrição à autonomia da vontade no 
contrato trabalhista, em contraponto à diretriz civil de soberania das partes 
no ajuste das condições contratuais. Esta restrição é tida como instrumento 
assecuratório e�caz de garantias fundamentais ao trabalhador, em face do 
desequilíbrio de poderes inerente ao contrato de emprego.
(26) A respeito, consultar o Capítulo VII, “Interpretação, Integração e Aplicação do Direito do 
Trabalho”, nesta obra.
(27) O art. 472, § 2º, CLT, é um desses raros exemplos de regras dispositivas no Direito do 
Trabalho: “Nos contratos por prazo determinado, o tempo de afastamento, se assim acorda-
rem as partes interessadas, não será computado na contagem do prazo para a respectiva 
terminação” (grifos acrescidos).
217Curso de Direito do Trabalho
D) Princípio da Indisponibilidade dos Direitos Trabalhistas — O 
presente princípio é projeção do anterior, referente à imperatividade das 
regras trabalhistas. Ele traduz a inviabilidade técnico-jurídica de poder o 
empregado despojar-se, por sua simples manifestação de vontade, das 
vantagens e proteções que lhe asseguram a ordem jurídica e o contrato.
A indisponibilidade inata aos direitos trabalhistas constitui-se talvez 
no veículo principal utilizado pelo Direito do Trabalho para tentar igualizar, no 
plano jurídico, a assincronia clássica existente entre os sujeitos da relação 
socioeconômica de emprego. O aparente contingenciamento da liberdade 
obreira que resultaria da observância desse princípio desponta, na verdade, 
como o instrumento hábil a assegurar efetiva liberdade no contexto da relação 
empregatícia: é que aquele contingenciamento atenua ao sujeito individual 
obreiro a inevitável restrição de vontade que naturalmente tem perante o 
sujeito coletivo empresarial.
É comum à doutrina valer-se da expressão irrenunciabilidade dos 
direitos trabalhistas para enunciar o presente princípio. Seu conteúdo é 
o mesmo já exposto, apenas adotando-se diferente epíteto. Contudo, a 
expressão irrenunciabilidade não parece adequada a revelar a amplitude 
do princípio enfocado. Renúncia é ato unilateral, como se sabe. Ora, o 
princípio examinado vai além do simples ato unilateral, interferindo também 
nos atos bilaterais de disposição de direitos (transação, portanto). Para a 
ordem justrabalhista, não serão válidas quer a renúncia, quer a transação 
que importe objetivamente em prejuízo ao trabalhador(28).
E) Princípio da Condição Mais Bené�ca — Este princípio importa na 
garantia de preservação, ao longo do contrato, da cláusula contratual mais 
vantajosa ao trabalhador, que se reveste do caráter de direito adquirido 
(art. 5º, XXXVI, CF/88). Ademais, para o princípio, no contraponto entre 
dispositivos contratuais concorrentes, há de prevalecer aquele mais favorável 
ao empregado.
Não se trata, aqui, como visto, de contraponto entre normas (ou regras), 
mas cláusulas contratuais (sejam tácitas ou expressas, sejam oriundas do 
próprio pacto ou do regulamento de empresa). Não se trata também, é claro, 
de condição no sentido técnico-jurídico (isto é, “cláusula que subordina o 
efeito do ato jurídico a evento futuro e incerto” — art. 114, CCB/1916; art. 
121, CCB/2002). O que o princípio abrange são as cláusulas contratuais, 
ou qualquer dispositivo que tenha, no Direito do Trabalho, essa natureza. 
Por isso é que, tecnicamente, seria mais bem enunciado pela expressão 
princípio dacláusula mais bené�ca.
(28) Para análise mais circunstanciada sobre renúncia e transação, ver o último item do pre-
sente capítulo, intitulado “Indisponibilidade de direitos: renúncia e transação no Direito Indi-
vidual do Trabalho”.
218 Mauricio Godinho Delgado
Incorporado pela legislação (art. 468, CLT) e jurisprudência trabalhistas 
(Súmula 51, I, TST), o princípio informa que cláusulas contratuais bené�cas 
somente poderão ser suprimidas caso suplantadas por cláusula posterior 
ainda mais favorável, mantendo-se intocadas (direito adquirido) em face de 
qualquer subsequente alteração menos vantajosa do contrato ou regulamento 
de empresa (evidentemente que a alteração implementada por norma jurídica 
submeter-se-ia a critério analítico distinto).
Na verdade, o princípio da cláusula mais bené�ca traduz-se, de certo 
modo, em manifestação do princípio da inalterabilidade contratual lesiva, 
também característico do Direito do Trabalho.(29)
F) Princípio da Inalterabilidade Contratual Lesiva — O princípio da 
inalterabilidade contratual lesiva é especial do Direito do Trabalho. Contudo, 
sua origem é claramente exterior ao ramo justrabalhista, inspirado no 
princípio geral do Direito Civil da inalterabilidade dos contratos. Tanto que, 
normalmente, é estudado como exemplo de princípio geral do Direito (ou de 
seu ramo civilista) aplicável ao segmento juslaboral(30).
O que justi�ca, então, passar a tratá-lo como princípio especial justraba-
lhista? O fato fundamental de ter sido tão acentuada a adequação e adaptação 
sofrida pelo princípio geral civilista, a partir de seu ingresso no Direito do 
Trabalho — sofrendo modi�cações substantivas —, que se torna, hoje, após 
cristalizadas tais mudanças, mais correto (e mais conveniente) enfatizar-se 
a especi�cidade trabalhista no lugar da própria matriz primitiva do princípio.
Realmente, um dos mais importantes princípios gerais do Direito que foi 
importado pelo ramo justrabalhista é o da inalterabilidade dos contratos, que 
se expressa, no estuário civilista originário, pelo conhecido aforismo pacta 
sunt servanda (“os pactos devem ser cumpridos”). Informa tal princípio, em 
sua matriz civilista, que as convenções �rmadas pelas partes não podem ser 
unilateralmente modi�cadas no curso do prazo de sua vigência, impondo-se 
ao cumprimento �el pelos pactuantes.
Sabe-se, porém, que esse princípio jurídico geral (pacta sunt servanda) 
já sofreu claras atenuações no próprio âmbito do Direito Civil, através da 
fórmula rebus sic stantibus. Por essa fórmula atenuadora, a inalterabilidade 
(29) A Súmula 288, I, do TST (originalmente, apenas Súmula 288) expressava uma projeção 
do critério contido no inciso I da Súmula 51, ao �xar a diretriz de manutenção das antigas 
cláusulas do regulamento previdenciário privado, no tocante aos antigos empregados inscritos 
no sistema de previdência complementar vinculado à empresa empregadora. Esse especí�co 
item do verbete sumular teve sua vigência suspensa pelo TST, em 2015, por maioria de votos, 
em sessão plenária da Corte Superior. A nova redação do item I da Súmula 288, foi aprovada 
pelo TST em 2016, também por maioria de votos, já em sentido diametralmente oposto ao 
anterior.
(30) Até mesmo este autor assim o fez, nas duas primeiras edições da obra Introdução ao 
Direito do Trabalho. 
219Curso de Direito do Trabalho
unilateral deixou de ser absoluta, podendo ser suplantada por uma compatível 
reti�cação das cláusulas do contrato ao longo de seu andamento. Essa 
possibilidade reti�cadora surgiria caso fosse evidenciado que as condições 
objetivas despontadas durante o prazo contratual — condições criadas sem o 
concurso das partes — provocaram grave desequilíbrio contratual, inexistente 
e impensável no instante de formulação do contrato e �xação dos respectivos 
direitos e obrigações. Tais circunstâncias novas e involuntárias propiciariam à 
parte prejudicada, desse modo, a lícita pretensão de modi�cação do contrato.
O princípio geral da inalterabilidade dos contratos sofreu forte e 
complexa adequação ao ingressar no Direito do Trabalho — tanto que 
passou a se melhor enunciar, aqui, através de uma diretriz especí�ca, a da 
inalterabilidade contratual lesiva.
Em primeiro lugar, a noção genérica de inalterabilidade perde-se no 
ramo justrabalhista. É que o Direito do Trabalho não contingencia — ao 
contrário, incentiva — as alterações contratuais favoráveis ao empregado; 
estas tendem a ser naturalmente permitidas (art. 468, CLT).
Em segundo lugar, a noção de inalterabilidade torna-se sumamente 
rigorosa caso contraposta a alterações desfavoráveis ao trabalhador — 
que tendem a ser vedadas pela normatividade justrabalhista (arts. 444 e 
468, CLT).
Em terceiro lugar, a atenuação civilista da fórmula rebus sic stantibus 
(atenuação muito importante no Direito Civil) tende a ser genericamente 
rejeitada pelo Direito do Trabalho.
É que este ramo jurídico especializado coloca sob ônus do empregador 
os riscos do empreendimento (art. 2º, caput, CLT), independentemente 
do insucesso que possa se abater sobre este. As obrigações trabalhistas 
empresariais preservam-se intocadas ainda que a atividade econômica 
tenha sofrido revezes efetivos em virtude de fatos externos à atuação do 
empregador. Fatores relevantes como a crise econômica geral ou a crise 
especí�ca de certo segmento, mudanças drásticas na política industrial do 
Estado ou em sua política cambial — fatores que, obviamente, afetam a 
atividade da empresa — não são acolhidos como excludentes ou atenuantes 
da responsabilidade trabalhista do empregador. A esse propósito, aliás, a 
jurisprudência tem reiteradamente esclarecido que no conceito de riscos 
assumidos pelo empregador inscreve-se, sim, a profusão legislativa que 
sempre caracterizou a tradição jurídica e administrativa brasileira, com as 
modi�cações econômicas e monetárias daí advindas (Plano Bresser, Plano 
Verão, Plano Collor, Plano Real, etc.). Portanto, prejuízos derivados de tais 
planos econômicos o�ciais não eliminam ou restringem a responsabilidade 
do empregador por suas obrigações laborativas.
Não obstante o critério geral do art. 2º da CLT e a interpretação 
jurisprudencial referida (em favor da assunção empresarial dos riscos 
220 Mauricio Godinho Delgado
econômicos), é inquestionável que a legislação trabalhista tendeu, em 
certo momento histórico, a incorporar certos aspectos da fórmula rebus sic 
stantibus, reduzindo, assim, os riscos trabalhistas do empregador.
De fato, o art. 503 da CLT autorizava a “redução geral dos salários dos 
empregados da empresa” em casos de “prejuízos devidamente comprovados”. 
A Lei n. 4.923, de 1965, por sua vez — não por coincidência, oriunda de 
período autocrático da vida política e jurídica do País —, também veio permitir 
a redução salarial obreira em situações objetivas do mercado, adversas para 
o empregador, deferindo, inclusive, a este, meios judiciais para alcance de 
sua pretensão reducionista. A Constituição de 1988, entretanto, ao �xar a 
regra geral da “irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção 
ou acordo coletivo” (art. 7º, VI, CF/88), derrogou tais normas permissivas, 
condicionando quaisquer condutas de redução salarial à negociação coletiva 
sindical (arts. 7º, VI, e 8º, VI, CF/88).
Mais recentemente, a propósito, no contexto da retração econômica 
despontada em 2015, surgiu a Medida Provisória n. 680, de 6.7.15, que 
instituiu o Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Pelo novo diploma 
jurídico, foi permitido a empresas que se encontrarem em situação de 
di�culdade econômico-�nanceira, nas condições e forma estabelecidas em 
ato do Poder Executivo Federal (art. 2º, caput), aderirem ao PPE, de maneira 
a reduzirem, temporariamente, em até trinta por cento, a jornada de trabalho 
de seus empregados, com a redução proporcional dos salários, desde que 
autorizada esta redução por acordo coletivo de trabalho especí�co celebrado 
“com o sindicato de trabalhadores representativo da categoria da atividadeeconômica preponderante” (art. 3º, caput e § 1º, MPr. n. 680/2015). Trata-se 
de hipótese de alteração contratual lesiva, mas autorizada por negociação 
coletiva trabalhista, em contexto de di�culdade econômico-�nanceira da 
empresa empregadora e restrita à duração realmente provisória.(31)
O PPE foi alterado para Programa Seguro — PSE, Emprego, por meio da 
MPr. n. 761, de 22.12.2016, sofrendo prorrogação até 31.12.2018. A mesma 
lógica de redução da jornada e do salário, em até 30%, por intermédio de 
negociação coletiva especí�ca foi preservada.
Em suma, consideradas essas três importantes especi�cidades é que 
se pode, hoje, falar na existência de um princípio especial trabalhista, o da 
inalterabilidade contratual lesiva.
Ressalte-se, a propósito, não ser absoluta, é claro, a vedação às 
alterações lesivas do contrato de trabalho. Afora as situações inerentes ao 
(31) Dispunha o § 3º do art. 3º da MPr. n. 680/2015: “A redução temporária da jornada de 
trabalho poderá ter duração de até seis meses e poderá ser prorrogada, desde que o período 
total não ultrapasse doze meses”. Contudo a Lei n. 13.189/2015 (conversão da MPr. n. 680/15), 
em seu art. 5º, § 1º, IV, dilatou esse prazo, permitindo a prorrogação de períodos sucessivos 
de seis meses de redução, “desde que o período total não ultrapasse vinte quatro meses”.
221Curso de Direito do Trabalho
chamado jus variandi ordinário empresarial (o qual, segundo a doutrina, 
englobaria mudanças de menor importância, não chegando a atingir efetivas 
cláusulas do pacto entre as partes)(32), haveria certo leque de modi�cações 
lesivas autorizadas implícita ou explicitamente por lei (como a reversão: 
parágrafo único do art. 468 da CLT) ou franqueadas pela ordem jurídica à 
própria norma coletiva negociada (art. 7º, VI, CF/88)(33).
Intangibilidade Contratual Objetiva — Registre-se, por �m, a existên-
cia de uma particularização do princípio da inalterabilidade contratual lesiva, 
que se conhece no Direito do Trabalho através de epíteto especí�co — o 
princípio da intangibilidade objetiva do contrato de trabalho(34).
Tal diretriz acentuaria que o conteúdo do contrato empregatício não 
poderia ser modi�cado (como já ressaltado pelo princípio da inalterabilida-
de contratual lesiva) mesmo que ocorresse efetiva mudança no plano do 
sujeito empresarial. Ou seja, a mudança subjetiva perpetrada (no sujeito-
-empregador) não seria apta a produzir mudança no corpo do contrato (em 
seus direitos e obrigações, inclusive passados). Trata-se da sucessão tra-
balhista, como se percebe (também conhecida como alteração subjetiva do 
contrato de trabalho). O contrato de trabalho seria intangível, do ponto de 
vista objetivo, embora mutável do ponto de vista subjetivo, desde que a 
mudança envolvesse apenas o sujeito-empregador.
Na verdade, como se nota, também aqui a referência básica é ao 
princípio da inalterabilidade contratual lesiva (a mudança do polo passivo do 
contrato de emprego não pode consumar lesividade ao obreiro, pela perda 
de toda a história do contrato em andamento; por isso, dá-se a sucessão 
de empregadores). O recurso à denominação distinta é mero instrumento 
para se acentuar o aspecto não alterado (todo o conteúdo do contrato) em 
contraponto com o aspecto em mudança (o sujeito empresarial do contrato)(35).
G) Princípio da Intangibilidade Salarial — Estabelece o princípio da 
intangibilidade dos salários que esta parcela justrabalhista merece garantias 
diversi�cadas da ordem jurídica, de modo a assegurar seu valor, montante 
e disponibilidade em benefício do empregado. Este merecimento deriva 
(32) Sobre o jus variandi ordinário e extraordinário empresarial, consultar VIANA, Márcio Túlio. 
Direito de Resistência. São Paulo: LTr, 1996. p. 226-7 e 247-9. Também DELGADO, Mauricio 
Godinho. Alterações Contratuais Trabalhistas. São Paulo: LTr, 2000. p. 47-52.
(33) Sobre os critérios autorizativos de modi�cações do contrato de trabalho, consultar a obra 
deste autor, Alterações Contratuais Trabalhistas (São Paulo: LTr, 2000), em seu Capítulo III 
(“Alterações Contratuais Objetivas: Classi�cação e Princípios Aplicáveis”). Neste Curso, re-
portar-se ao Capítulo XXVI, item VII.
(34) Particularização referida no tópico “Fundamentos da Sucessão Trabalhista”, do capítulo 
sobre a �gura jurídica do empregador, da obra deste autor, Introdução ao Direito do Trabalho, 
desde sua primeira edição (1995).
(35) Para a análise da sucessão trabalhista, em suas tradicionais e modernas vertentes de 
interpretação, consultar o Capítulo XII desta obra.
222 Mauricio Godinho Delgado
do fato de considerar-se ter o salário caráter alimentar, atendendo, pois, a 
necessidades essenciais do ser humano.
A noção de natureza alimentar é simbólica, é claro. Ela parte do 
suposto — socialmente correto, em regra — de que a pessoa física que vive 
fundamentalmente de seu trabalho empregatício proverá suas necessidades 
básicas de indivíduo e de membro de uma comunidade familiar (alimentação, 
moradia, educação, saúde, transporte, etc.) com o ganho advindo desse 
trabalho: seu salário. A essencialidade dos bens a que se destinam o salário 
do empregado, por suposto, é que induz à criação de garantias fortes e 
diversi�cadas em torno da �gura econômico-jurídica.
A força desse princípio não está, contudo, somente estribada no Direito 
do Trabalho, porém nas relações que mantém com o plano externo (e mais 
alto) do universo jurídico. De fato, o presente princípio laborativo especial 
ata-se até mesmo a um princípio jurídico geral de grande relevo, com sede 
na Constituição: o princípio da dignidade da pessoa humana.
Realmente, considera este princípio jurídico maior e mais abrangente 
que o trabalho é importante meio de realização e a�rmação do ser humano, 
sendo o salário a contrapartida econômica dessa a�rmação e realização. É 
claro que o reconhecimento social pelo trabalho não se resume ao salário, já 
que envolve dimensões muito amplas, ligadas à ética, à cultura, às múltiplas 
faces do poder, ao prestígio comunitário, etc.; mas é o salário, sem dúvida, a 
mais relevante contrapartida econômica pelo trabalho empregatício. Nesse 
quadro, garantir-se juridicamente o salário em contextos de contraposição de 
outros interesses e valores é harmonizar o Direito do Trabalho à realização 
do próprio princípio da dignidade do ser humano.
O atual princípio justrabalhista projeta-se em distintas direções: garantia 
do valor do salário; garantias contra mudanças contratuais e normativas que 
provoquem a redução do salário (aqui o princípio especial examinado se 
identi�ca pela expressão princípio da irredutibilidade salarial, englobando-se 
também, de certo modo, no princípio da inalterabilidade contratual lesiva); 
garantias contra práticas que prejudiquem seu efetivo montante — trata-se 
dos problemas jurídicos envolventes aos descontos no salário do empregado 
(o princípio aqui também tende a se particularizar em uma denominação 
diferente: princípio da integralidade salarial); �nalmente, garantias contra 
interesses contrapostos de credores diversos, sejam do empregador, sejam 
do próprio empregado.
Boa parte do conteúdo do presente princípio já se encontra normatizada, 
isto é, já se concretizou em distintas regras legais integrantes do Direito do 
Trabalho do País. Nesse quadro, seu estudo passa a ser, praticamente, um 
estudo de dogmática jurídica — que escapa às fronteiras do presente capítulo(36).
(36) O diversi�cado sistema de garantias salariais vigorante no Direito brasileiro encontra-se 
analisado, pormenorizadamente, nos capítulos XII até XV da obra deste autor, Salário — teoria 
e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 1997. p. 193-245. Neste Curso, consultar o Capítulo XXII.
223Curso de Direito do Trabalho
Em linhas gerais, porém, pode-se esclarecer que as diversas garantias 
�xadas pela ordem jurídica não têm caráter absoluto, usualmente acolhendo 
restrições. Ilustrativamente, a proteção relativa ao valor do salário ainda 
não o preserva de perdas decorrentesda corrosão monetária; a vedação a 
mudanças contratuais e normativas provocadoras da redução de salários pode 
ser �exibilizada mediante negociação coletiva (art. 7º, VI, CF/88); a garantia 
de integralidade salarial, com controle de descontos em seu montante, é 
excepcionada pela própria norma jurídica que a instituiu (art. 462, CLT); a 
proteção contra constrições externas, como a penhora, embora ampla, encontra 
exceção, por exemplo, na prestação alimentícia (art. 649, IV, § 2º, CPC-1973; 
art. 833, IV, § 2º, CPC-2015).
Por outro lado, percebe-se clara tendência a um alargamento de tais 
garantias por além da estrita verba de natureza salarial, de modo a abranger 
todos os valores pagos ao empregado em função do contrato de trabalho. 
Excluídas as proteções voltadas à preservação do valor do salário, a 
tendência é de se estenderem as demais garantias, quando compatíveis, 
ao conjunto das verbas contratuais trabalhistas. Ilustrativamente, é o que se 
passa com a impenhorabilidade e também com o superprivilégio dos créditos 
trabalhistas no concurso de credores na falência(37).
H) Princípio da Primazia da Realidade sobre a Forma — O princípio 
da primazia da realidade sobre a forma (chamado ainda de princípio do 
contrato realidade) amplia a noção civilista de que o operador jurídico, no 
exame das declarações volitivas, deve atentar mais à intenção dos agentes 
do que ao envoltório formal através de que transpareceu a vontade (art. 85, 
CCB/1916; art. 112, CCB/2002).
No Direito do Trabalho deve-se pesquisar, preferentemente, a prática 
concreta efetivada ao longo da prestação de serviços, independentemente 
da vontade eventualmente manifestada pelas partes na respectiva relação 
jurídica. A prática habitual — na qualidade de uso — altera o contrato pactuado, 
gerando direitos e obrigações novos às partes contratantes (respeitada a 
fronteira da inalterabilidade contratual lesiva).
Desse modo, o conteúdo do contrato não se circunscreve ao transposto 
no correspondente instrumento escrito, incorporando amplamente todos os 
matizes lançados pelo cotidiano da prestação de serviços. O princípio do 
contrato realidade autoriza, assim, por exemplo, a descaracterização de uma 
pactuada relação civil de prestação de serviços, desde que no cumprimento 
do contrato despontem, concretamente, todos os elementos fático-jurídicos 
da relação de emprego (trabalho por pessoa física, com pessoalidade, não 
eventualidade, onerosidade e sob subordinação).
(37) DELGADO, Mauricio Godinho. Salário — teoria e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 1997. 
p. 193-245. Neste Curso, ver Capítulo XXII.
224 Mauricio Godinho Delgado
O princípio da primazia da realidade sobre a forma constitui-se em 
poderoso instrumento para a pesquisa e encontro da verdade real em uma 
situação de litígio trabalhista. Não deve, contudo, ser brandido unilateralmente 
pelo operador jurídico. Desde que a forma não seja da essência do ato 
(ilustrativamente, documento escrito para a quitação ou instrumento escrito 
para contrato temporário), o intérprete e aplicador do Direito deve investigar 
e aferir se a substância da regra protetiva trabalhista foi atendida na prática 
concreta efetivada entre as partes, ainda que não seguida estritamente a 
conduta especi�cada pela legislação.
I) Princípio da Continuidade da Relação de Emprego — Informa tal 
princípio que é de interesse do Direito do Trabalho a permanência do vínculo 
empregatício, com a integração do trabalhador na estrutura e dinâmica 
empresariais. Apenas mediante tal permanência e integração é que a ordem 
justrabalhista poderia cumprir satisfatoriamente o objetivo teleológico do 
Direito do Trabalho, de assegurar melhores condições, sob a ótica obreira, de 
pactuação e gerenciamento da força de trabalho em determinada sociedade.
De fato, a permanência da relação de emprego provoca, em geral, três 
correntes de repercussões favoráveis ao empregado envolvido.
A primeira reside na tendencial elevação dos direitos trabalhistas, seja 
pelo avanço da legislação ou da negociação coletiva, seja pelas conquistas 
especi�camente contratuais alcançadas pelo trabalhador em vista de 
promoções recebidas ou vantagens agregadas ao desenvolvimento de seu 
tempo de serviço no contrato.
A segunda corrente de repercussões favoráveis reside no investimento 
educacional e pro�ssional que se inclina o empregador a realizar nos traba-
lhadores vinculados a longos contratos. Quanto mais elevado o montante 
pago à força de trabalho (e essa elevação tende a resultar, ao lado de outros 
aspectos, da duração do contrato e conquistas trabalhistas dela decorrentes), 
mais o empresário ver-se-á estimulado a investir na educação e aperfeiçoa-
mento pro�ssional do obreiro, como fórmula para elevar sua produtividade e 
compensar o custo trabalhista ocorrido. Esse investimento na formação do 
indivíduo cumpre a fundamental faceta do papel social da propriedade e da 
função educativa dos vínculos de labor, potenciando, individual e socialmente, o 
ser humano que trabalha.
A terceira corrente de repercussões favoráveis da longa continuidade da 
relação de emprego situa-se na a�rmação social do indivíduo favorecido por 
esse longo contrato. Aquele que vive apenas de seu trabalho tem neste, e na 
renda dele decorrente, um decisivo instrumento de sua a�rmação no plano da 
sociedade. Se está submetido a contrato precário, provisório, de curta duração 
(ou se está desempregado), �ca sem o lastro econômico e jurídico necessário 
para se impor no plano de suas demais relações econômicas na comunidade.
225Curso de Direito do Trabalho
À medida que se sabe que a grande maioria da população economica-
mente ativa, na sociedade contemporânea ocidental (em particular em países 
como o Brasil), constitui-se de pessoas que vivem apenas de seu trabalho, 
percebe-se a relevância do presente princípio no Direito e sociedade atuais.
O princípio examinado perdeu parte signi�cativa de sua força com a 
introdução do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço no Brasil, em 1967 
(antiga Lei n. 5.107/66), desprestigiando o sistema estabilitário e indeniza-
tório então vigorante na CLT (a Lei 5.107 passou a permitir, no momento da 
admissão, uma opção pelo sistema do Fundo — a qual se tornou tendência 
dominante, na prática). O sistema do FGTS transformou a dispensa sem jus-
ta causa em verdadeiro ato potestativo do empregador, frustrando o incentivo 
à permanência do pacto. Tempos depois, o Texto Máximo de 1988 generali-
zaria o sistema do Fundo de Garantia ao conjunto do mercado de trabalho, 
eliminando a antiga opção.
A Constituição de 1988 inclinou-se a reinserir o princípio da continuidade da 
relação empregatícia em patamar de relevância jurídica, harmonizando, em 
parte, a ordem justrabalhista à diretriz desse princípio. Assim, afastou a an-
terior incompatibilidade do instituto do FGTS com qualquer eventual sistema 
de garantias jurídicas de permanência do trabalhador no emprego — afas-
tamento implementado ao estender o Fundo a todo e qualquer empregado 
(art. 7º, III, CF/88: exceto o doméstico)(38). Ao lado disso, �xou a regra da “re-
lação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, 
nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, 
dentre outros direitos” (art. 7º, I, CF/88). Lançou, adicionalmente, a ideia de 
“aviso-prévio proporcional ao tempo de serviço”, “nos termos da lei” (art. 7º, 
XXI, CF/88), indicando o reforço da noção de contingenciamento crescente à 
prática de ruptura desmotivada do contrato empregatício.
(38) O texto original do parágrafo único do art. 7º da Constituição de 1988, concernente às 
parcelas constitucionais estendidas aos empregados domésticos, não incorporava o inciso 
III, relativo ao FGTS. Apenas em 1999 é que surgiu a primeira referência à possibilidade de 
integração do empregado doméstico no sistema do Fundo de Garantia: foi a Medida Provi-
sória n. 1.986/99, com MPrs. subsequentes, até a conversão na Lei n. 10.208/2001. Contudo 
tratava-sede regra jurídica meramente voluntária, não imperativa, o que esvaziou signi�ca-
tivamente seu impacto na ordem jurídica e na vida social trabalhista (no caso, decidindo o 
empregador pela inserção de seu empregado doméstico no FGTS, a respectiva inscrição po-
deria ser feita a partir do mês de março de 2000 — conforme Decreto n. 3.361/00 —, se fosse 
o caso; antes disso, ainda não seria viável a inscrição fundiária). A EC n. 72/2013 é que tornou 
imperativa a inserção do empregado doméstico no sistema do Fundo de Garantia, conforme 
lei de regulamentação posterior (novo texto do parágrafo único do art. 7º da Constituição); 
este diploma normativo de regulamentação surgiu com a Lei Complementar n. 150/2015, a 
qual, �nalmente, a partir de 1º de outubro de 2015, inseriu, de maneira obrigatória, os empre-
gados domésticos no sistema do FGTS. A respeito, consultar, neste Curso, o Capítulo XI, item 
“IV. Empregado Doméstico”. Consultar também: DELGADO, Mauricio Godinho; DELGADO, 
Gabriela Neves. O Novo Manual do Trabalho Doméstico. São Paulo: LTr, 2016. 
226 Mauricio Godinho Delgado
Embora a jurisprudência tenha se �rmado, por décadas, no sentido de 
negar e�cácia imediata a qualquer dos dois últimos preceitos constitucionais, 
é inquestionável o redirecionamento que sua instigante existência provoca 
na própria cultura jurídica de potestade rescisória, dominante desde meados 
da década de 1960.(39)
Não obstante as vicissitudes acima, o princípio da continuidade da 
relação de emprego ainda cumpre, hoje, razoável importância na ordem 
justrabalhista brasileira.
Ele gera, por exemplo, certas presunções favoráveis ao trabalhador, 
conforme jurisprudencialmente assentado (Súmula 212, TST).
Nessa linha, faz presumida a ruptura contratual mais onerosa ao 
empregador (dispensa injusta), caso evidenciado o rompimento do vínculo; 
coloca, em consequência, sob ônus da defesa, a prova de modalidade 
menos onerosa de extinção do contrato (pedido de demissão ou dispensa 
por justa causa, por exemplo). Faz presumida também a própria continuidade 
do contrato, lançando ao ônus da defesa a prova de ruptura do vínculo 
empregatício, em contextos processuais de controvérsia sobre a questão.
O mesmo princípio também propõe como regra geral o contrato 
trabalhista por tempo indeterminado, uma vez que este é o que melhor 
concretiza o direcionamento pela continuidade da relação empregatícia.
Em consequência dessa regra geral, tornam-se exceptivos, no Direito 
do Trabalho, os contratos a termo, os quais somente podem ser pactuados 
nas estritas hipóteses franqueadas por lei. Hoje, no Direito brasileiro, são 
cinco essas hipóteses. As três mais frequentes estão previstas no art. 443 
da CLT (trata-se de serviço cuja natureza ou transitoriedade justi�que a 
predeterminação do prazo; ou de atividades empresariais transitórias; ou, 
ainda, de contrato de experiência). A seu lado, há o grupo de situações 
direcionadas por leis especiais a certas pro�ssões delimitadas, como 
ocorre com os artistas pro�ssionais e também com os atletas pro�ssionais. 
Finalmente, há a hipótese da Lei n. 9.601, de 1998, que regulou o chamado 
contrato provisório de trabalho.(40)
(39) Em 2011, quase 13 anos após o início de vigência da Constituição, o Supremo Tribunal 
Federal sinalizou na direção da efetividade da regra da proporcionalidade do aviso-prévio. 
Esta sinalização, feita no transcorrer do julgamento de alguns mandados de injunção (MI 
n. 943, n. 1011, n. 1074 e n. 1090), acelerou a aprovação pelo Parlamento de projeto de lei 
tratando da matéria, resultando na Lei n. 12.506, de 11.10.2011 (Diário O�cial de 13 de outu-
bro). O novo diploma �xou um acréscimo de três dias por ano de serviço prestado na empresa, 
até o máximo de 60 dias, a título de proporcionalidade do aviso. A respeito, consultar o Capí-
tulo XXIX, item VII, deste Curso. 
(40) A Lei n. 11.718/2008 (conversão da MP n. 410, de 28.12.2007) criou o contrato rural por 
pequeno prazo, por dois meses, a ser capitaneado pelo produtor rural pessoa física, para o 
exercício de atividades de natureza temporária (novo art. 14-A da Lei n. 5.889/73, conforme 
227Curso de Direito do Trabalho
Finalmente o princípio da continuidade da relação de emprego confere 
suporte teórico (ao lado de outros princípios) a um importante instituto 
justrabalhista: a sucessão de empregadores, regulada pelos arts. 10 e 448 
da CLT(41).
2. Princípios Justrabalhistas Especiais Controvertidos(42)
Princípios são grandes fachos normativos, que cumprem o essencial 
papel de iluminar a compreensão do Direito em sua regência das relações 
humanas. Ora, na qualidade de iluminadores do sentido essencial do Direito 
devem eles, por coerência, ser, no mínimo, claros e objetivos, de um lado, e, 
de outro lado, harmonizadores do conjunto jurídico geral. Princípio impreciso, 
inseguro, ou que entre em choque com o conjunto sistemático geral do 
Direito ou com princípios cardeais do universo jurídico será, em síntese, uma 
contradição em seus próprios termos.
Na verdade, o próprio fato de haver forte dissensão acerca de determinado 
princípio — sua existência ou, pelo menos, validade — já compromete, em 
boa medida, seu status no mundo do Direito. Como expõe o autor argentino 
Jorge Rodriguez Mancini, em citação de Américo Plá Rodriguez, a “função 
dos princípios jurídicos é muito clara e poderosa e, por isso mesmo, não 
convém estender o conceito além do que lhe toca por sua natureza, evitando-
se assim derivar de um conceito que não é um princípio jurídico, conclusões 
infundadas que possam expressar tendências de justiça, mas que carecem 
de apoio jurídico...”(43).
Completa a respeito deste tema o clássico juslaborista Américo Plá 
Rodriguez: “Achamos que os princípios devem ter respaldo consensual ou quase 
consensual. Pode haver discussões sobre sua denominação, sua formulação, 
seu alcance, sua órbita de aplicação, mas não sobre sua própria existência”(44).
A) Princípio in dubio pro operario — Uma das mais antigas referências 
doutrinárias a princípios justrabalhistas está na diretriz in dubio pro misero. 
Lei n. 11.718/08). Este pacto, embora tenha especi�cidades normativas, pode ser enquadrado 
no grupo de contratos que tenham como causa serviços cuja natureza ou transitoriedade 
justi�que a predeterminação do prazo. Uma análise dos contratos a termo encontra-se nos 
Capítulos XVI e XVII deste Curso.
(41) Sobre sucessão trabalhista, consultar neste mesmo Curso o Capítulo XII, “O Emprega-
dor”. No texto, �ca esclarecido que somente a matriz clássica e mais abrangente do instituto 
sucessório é que tem por suporte teórico o princípio da continuidade da relação de emprego, já 
que a matriz extensiva da �gura não supõe a permanência da prestação laborativa pelo obreiro.
(42) O presente item 2 corresponde à síntese do texto constante em nossa obra, Princípios de 
Direito Individual e Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2001. p. 81-88.
(43) In RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 
2000. p. 438 (grifos acrescidos).
(44) RODRIGUEZ, Américo Plá, ob. cit., p. 439.
228 Mauricio Godinho Delgado
Trata-se de transposição adaptada ao ramo justrabalhista do princípio jurídico 
penal in dubio pro reo. Como o empregador é que se constitui em devedor na 
relação de emprego (e réu na relação processual trabalhista), adaptou-se o 
princípio à diretriz in dubio pro misero (ou pro operario).
Tal princípio, entretanto, apresenta dois problemas: o primeiro, menos 
grave, essencialmente prático, consistente no fato de que ele abrange 
dimensão temática já acobertada por outro princípio justrabalhista especí�co 
(o da norma mais favorável). O segundo problema, muito grave, consistente 
no fato de que, no tocante à sua outra dimensão temática, ele entra em 
choque com princípio jurídico geral da essência da civilização ocidental, hoje, 
e do Estado Democrático de Direito: o princípio do juiz natural.
No que tange a sua primeira debilidade, o princípio in dubio pro

Continue navegando