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DESCRIÇÃO A construção anatomofuncional do complexo articular do ombro e sua ação cinesiológica no campo da prevenção e reabilitação musculoesquelética. PROPÓSITO Compreender o conceito e a origem das principais disfunções musculoesqueléticas que acometem o complexo articular do ombro, a fim de elaborar treinamentos e tratamentos preventivos e recuperativos para potencializar a recuperação tanto do atleta quanto no não atleta, é fundamental para sua atuação profissional. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer os principais tipos de lesões do complexo articular do ombro MÓDULO 2 Descrever os principais testes funcionais do complexo articular do ombro MÓDULO 3 Identificar os principais exercícios de prevenção e recuperação do complexo articular do ombro INTRODUÇÃO A partir de agora, aprenderemos a reconhecer e descrever os principais tipos de lesões e testes funcionais para realizar um programa de prevenção e recuperação musculoesquelética do complexo do ombro. Para tal, é necessário respeitar os procedimentos e especificidade prévios do teste, adequando a sua seleção à real necessidade do avaliado, aplicando, assim, a melhor prescrição de exercícios. Relacionaremos, ainda, as medidas quantitativas e qualitativas das valências físicas de força muscular e flexibilidade com a prescrição de exercícios, a fim de melhorar as condições de alongamento, força e estabilidade — pilares básicos para a “articulação saudável”. MÓDULO 1 Reconhecer os principais tipos de lesões do complexo articular do ombro O COMPLEXO DO OMBRO Inicialmente, é importante destacar que o ombro faz parte de um grande complexo articular, composto por diversas estruturas anatômicas que, quando funcionalmente integradas, nos permitem realizar diversos movimentos. Dessa forma, dividiremos as cinco principais articulações desse complexo em duas categorias que, didaticamente, nos permitirão compreender sua estrutura e importância no cotidiano das pessoas (DANGELO; FATTINI, 2011). Nós temos três articulações que fazem parte da classificação das articulações verdadeiras: GLENOUMERAL Composta pela união da cabeça do úmero com a cavidade glenoide da escápula. Permite que a estrutura articular possua convexidade e concavidade, dando maiores graus de liberdade ao produzir movimentos. Assim, a articulação glenoumeral é importante, pois possibilita todos os movimentos articulares necessários, como, por exemplo, flexão/extensão, adução/abdução, rotação medial/lateral e circundução. ACROMIOCLAVICULAR Formada pela união da escápula, por meio do acrômio, com a clavícula, permitindo movimentos específicos, como os de elevação/depressão, rotação e retração/prostração. ESTERNOCLAVICULAR Importante por ser considerada o elo entre o membro superior e o esqueleto axial e por permitir os movimentos de elevação/depressão, rotação e retração/protração. Observamos também um conjunto de duas articulações auxiliares. Por mais que sejam consideradas falsas, elas são importantes no auxílio do movimento, permitindo maiores graus de amplitude de movimento. São elas: Escapulotorácica Responsável pela articulação da escápula com o tórax, que, por suas características morfofuncionais, permite os movimentos de deslizamento e as fases iniciais dos movimentos de adução (+/- 15cm) e abdução da escápula (+/- 10 a 12cm). & Subacromial Formada pela conexão do arco coracoacromial com a bolsa subdeltóidea e com os tendões dos músculos do manguito rotador. Essa articulação é importante por auxiliar no trabalho estabilizador do complexo articular do ombro (HAMILL et al., 2016). Imagem: Shutterstock.com adaptada por Tiago Figueiredo Imagem 1: Anatomia do ombro. INFLUÊNCIAS INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS NOS MECANISMOS DE LESÃO De forma complementar, ao pensar nos diferentes fatores associados às lesões, observamos influências intrínsecas e extrínsecas que podem potencializar um quadro clínico e desenvolver uma determinada lesão. Iniciaremos com os fatores intrínsecos, tendo alguns deles importante papel biológico na multidimensionalidade da lesão. Assim, observaremos que variações anatômicas que causam desalinhamento do esqueleto, principalmente, o axial, oferecem desequilíbrios nas cargas mecânicas, desbalanceando o sistema muscular e sobrecarregando estruturas adjacentes. Neste contexto, temos a escoliose estrutural. Originalmente, é uma condição clínica na coluna, mas que modifica os padrões da cadeia, alterando, por exemplo, o nível da cintura escapular, provocando até disfunção nos movimentos do complexo articular do ombro. COMENTÁRIO Note que não são apenas fatores biológicos que condicionam o aparecimento de uma lesão osteomioarticular, mas um somatório de fatores multidimensionais. Correlacionamos, ainda, possíveis deficits na produção das diferentes manifestações de força (força máxima, resistência e potência) como um fator importante, pois podem levar à instabilidade articular, quando somamos a instabilidade anatômica que o complexo articular do ombro possui na sua faceta anterior. Além disso, o nível de força muscular é um importante preditor de saúde e funcionalidade. SAIBA MAIS Adicionalmente, o baixo nível de flexibilidade e/ou amplitude articular pode se somar a esses fatores intrínsecos e contribuir para o desenvolvimento de condições lesivas de caráter musculoarticular. Diversos fatores extrínsecos, quando sobrecarregam os fatores intrínsecos, aumentam a possibilidade do desenvolvimento de lesão. Assim, alguns merecem ser destacados, pois são para esses fatores que devem ser direcionadas as nossas energias como profissionais. A maioria deles é comportamental (diretos e/ou indiretos). O primeiro diz respeito à natureza da tarefa, no sentido de observar se a tarefa motora possui gestos potencialmente lesivos, ou se essa tarefa é única ou repetitiva. Por exemplo, mesmo não sendo indicativo absoluto de desenvolver lesão, a posição de abdução com rotação externa é potencialmente danosa para o complexo articular do ombro. Já em relação à tarefa contínua (repetitiva), pode desempenhar papel impactante na promoção de lesões ligamentares, como as tendinites. Gestos potencialmente lesivos Tarefa contínua Ainda neste contexto, é possível que o padrão de movimento, o volume e a intensidade da tarefa induzam uma cascata de eventos que culminam em lesões, que, na maioria das vezes, são musculares. RECOMENDAÇÃO Esse é um dos fatores mais importantes que os profissionais de Educação Física precisam pensar ao montar a periodização e o planejamento dos exercícios propostos. Destacando que um padrão de movimento ineficiente, associado ao alto volume e à alta intensidade, é lesivo para o sistema musculotendíneo. Por fim, incluímos aqui a influência do ambiente como sendo um importante fator extrínseco, ressaltando a característica do terreno em que será realizada a atividade, assim como sua duração e a condição do material utilizado. Os fatores extrínsecos somados aos fatores intrínsecos aumentam a relação desgaste-lesão, mas não são preditores isolados de lesão. ANATOMIA FUNCIONAL DO OMBRO Diferentemente da anatomia tradicional, a anatomia funcional tem o papel de descrever funcionalmente a interação de diferentes componentes na promoção do movimento. Isso é fundamental para compreendermos a interação do profissional de Educação Física e do fisioterapeuta no processo de reabilitação/retreinamento após lesões. EXEMPLO Por exemplo, a articulação glenoumeral, por mais que possibilite grande número de movimentos em maior grau de liberdade, possui considerável instabilidade, quando olhamos apenas para os componentes passivos dessa articulação. Quando a observamos como um todo, é possível verificar que a maior parte da sua estabilidade provém de uma ação integrada das demais articulações desse complexo, bem como pela atuação do tecido conjuntivo e das cadeias fasciais (MYERS, 2016). Funcionalmente, o complexo articular do ombro, sob o olhar da anatomia funcional, temmovimentos naturais que extrapolam a teoria tradicional de planos e eixos (frontal, sagital e transversal). Nesse contexto, é possível observar o importante papel do ritmo escapulotorácico para condução, que nada mais é do que uma interação entres os complexos articulares descritos no início do módulo e como essa interação acontece para permitir maior liberdade nos movimentos dessa articulação. A ideia de cadeias fasciais foi amplamente apresentada por Thomas Myers em sua obra intitulada Trilhos Anatômicos (2016). Considerando a ação dessas cadeias, os movimentos de adução/abdução e inclinação anterior/posterior da escápula são sinergicamente coordenados, principalmente, pelos músculos estabilizadores e dinâmicos que permitem tais movimentos, destacando os músculos do trapézio (feixes ascendentes e descendentes) e serrátil anterior. Quando um desses músculos apresenta maior ou menor ativação, desestabiliza o movimento funcional de “volante escapular” e desencadeia diversas compensações que podem, ou não, apresentar papel importante no aparecimento de lesões (DUTTON, 2010). O movimento do ritmo escapulotorácico inicia-se na articulação glenoumeral com 30° de abdução ou 45°-60° de flexão, com uma razão de 3:1. Ao atingir a angulação de 90° de abdução, o contato entre o tubérculo maior do úmero com o acrômio aumenta, sendo necessário um movimento de rotação lateral para “liberar” o membro superior em movimento. Após a rotação lateral, entre 90° e 120°, esse contato do tubérculo maior com acrômio é reduzido, liberando o movimento após 120°, permitindo mais fluidez na elevação, abdução e rotação superior do ângulo inferior. LESÕES DE CARTILAGEM Dentre as principais lesões de cartilagem na articulação do ombro, observamos os quadros clínicos de artrite (inflamação) e/ou artrose (desgaste articular), em que a artrite, geralmente, apresenta fibrose com maior cronicidade (lesão acima de 6 meses). Ambas as condições são relativamente similares em cinco principais características: Edema Presença de dor durante o quadro clínico Restrição de amplitude de movimento Redução na produção de força Incapacidade funcional Esses quadros clínicos são contínuos, ou seja, uma característica se relaciona com a outra. O edema é comum a todos os casos traumáticos e inflamatórios, e, por consequência, leva ao quadro doloroso instaurado e acompanhado de rubor. A partir desse momento, a resposta ectoscópica é de mudança no padrão postural. Isso gera a redução da amplitude de movimento e da produção de força. O somatório dessas características clínicas pode induzir à incapacidade funcional. COMENTÁRIO Observamos que as intervenções colaborativas entre fisioterapeutas e profissionais de Educação Física precisam ser a base dessa estrutura, pois essa característica inicial é que desencadeia todos os demais sinais e sintomas proferidos pelo indivíduo. Abordaremos essas questões mais adiante ao comentarmos sobre prescrição de exercícios e intervenções com a finalidade de minimizar esse quadro. Quando pensamos na estruturação das ações nesses quadros, é didaticamente correto dividir em duas grandes etapas: PRÉ-CINESIOTERAPIA Durante a primeira etapa, a ação do fisioterapeuta é muito mais presente, sendo comum usar recursos eletrotermofototerapêuticos, como crioterapia, TENS e ultrassom na artrite, e ainda o laser na artrose. CINESIOTERAPIA/RETREINAMENTO A segunda etapa tem como principal características a inclusão de recursos. Os exercícios são uma forma de trabalhar os efeitos das características clínicas encontradas em ambas as condições, como aumento da mobilidade articular e fortalecimento muscular. Essa fase pode ser realizada pelo profissional de Educação Física e pelo fisioterapeuta. Outra condição que merece destaque, mesmo não tendo relação direta com lesões cartilaginosas, é o quadro de discinese escapular, caracterizada como disfunção com predominância neuromuscular, causando descoordenação dos movimentos e do posicionamento das estruturas do complexo articular do ombro, principalmente das escápulas. Ela possui uma etiologia multifatorial e, o mais importante, pode desencadear diversas outras lesões no complexo articular do ombro, como a síndrome do impacto, bursite, tendinite do supraespinhoso e a dor crônica no ombro (DUTTON, 2010). LESÕES LIGAMENTARES No que diz respeito às lesões ligamentares do complexo articular do ombro, é possível observar a lesão por esforço repetitivo (LER) como uma das condições clínicas que apresentam maior prevalência. A LER tem causa recorrente e correlacionada à repetição excessiva de um mesmo gesto, sejam esportivos ou no trabalho (LER vs. DORT). Sua principal característica está ligada à inflamação dos componentes moles daquela região, principalmente dos tendões, por excesso de uso. Isso causa uma lesão com característica parcial, cujo principal sintoma é a inflamação tecidual, o que corresponde ao quadro álgico excessivo (DUTTON, 2010). RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Neste contexto, a grande função dos profissionais de Educação Física e de Fisioterapia é a orientação, principalmente, com a redução ou ajuste do gesto repetitivo lesivo e com imobilizações durante as fases de repouso. Em contrapartida, a ação do médico, com a entrada de fármacos anti-inflamatórios, é de suma importância para minimizar a inflamação e auxiliar na devolução da funcionalidade do indivíduo. Todas essas estratégias juntas modificam os hábitos potencialmente danosos e possibilitam a reabilitação e reintegração do indivíduo ao seu ambiente de competição ou de trabalho. Mesmo em cenários menos habituais, a LER pode ter origem traumática, oriunda de algum trauma direto na região que inflamou o tecido tendíneo e, por consequência, gerou o quadro de dor agudo e de perda de funcionalidade. Tanto no caso traumático, quanto no de lesão parcial, as recomendações são as mesmas: Fármacos anti-inflamatórios para controle da inflamação Calhas (mobilizações) de repouso Mudanças comportamentais quanto ao gesto repetitivo ATENÇÃO É possível obter o diagnóstico de lesões ligamentares por meio de testes de mobilizações, que apresentam características passivas. O objetivo principal é verificar algum tipo de restrição nessa estrutura. Adicionalmente, é comum o uso do recurso da palpação (anatomia palpatória) no sítio do ligamento/tendão para confirmação da suspeita de inflamação. LESÕES ÓSSEAS Entre as lesões do complexo articular do ombro, as que possuem menor prevalência são as de origem óssea. Mesmo assim, esse tipo de lesão é caracterizado como relativamente grave e com prognóstico de recuperação mais demorado do que as demais. Dada a gravidade e a associação com diferentes condições, é mais comum encontrar casos de artroplastia de ombro. ARTROPLASTIA javascript:void(0) Cirurgia que consiste na substituição dos componentes (um ou mais) do complexo articular. As principais causas que levam a sua realização são a artrose e as fraturas de úmero, próximas à cabeça ou ao colo anatômico. A cirurgia é um fator fundamental para o desfecho positivo e para a reabilitação funcional desse quadro. Próteses são utilizadas como forma de substituir alguma das estruturas ósseas do complexo articular. Essa substituição é feita por meio da retirada das cartilagens gastas e da colocação de dispositivos metálicos. Dessa forma, o médico devolve ao paciente uma articulação funcional, sem deformidades e com redução da dor. Existem três tipos de prótese e é essencial que profissionais de Educação Física e fisioterapeutas entendam as características de cada uma: Imagem: Shutterstock.com O primeiro tipo é o Ressurfacing, que substitui apenas um dos componentes do complexo articular do ombro (ou a cabeça do úmero ou a cavidade glenoide). Mesmo sendo o mais comum e até então o menos agressivo, esse tipo de prótese não conquista muitos usuários por ser possível o desgaste articular do componente não substituído,incidindo em nova cirurgia. Imagem: Shutterstock.com O segundo tipo de prótese, chamado de prótese total, é mais agressivo, mas com um bom prognóstico. O nome é autossugestivo, indicando que é realizada a substituição tanto da cabeça do úmero quanto da cavidade glenoide. Isso parece dar melhor desfecho à funcionalidade após a cirurgia. Imagem: Shutterstock.com Por fim, como forma de ajuste/adaptação, encontramos o terceiro tipo de prótese que é chamado de inverso ou reverso. Aqui, também é realizada a substituição de ambos os componentes articulares, mas com inversão. Essas inversões, mesmo que, no primeiro momento não agrade, dá maiores graus de liberdade aos movimentos articulares do complexo do ombro, pois é colocada uma cabeça do úmero no lugar da cavidade glenoide e uma cavidade glenoide no lugar da cabeça do úmero. COMPLICAÇÕES Ainda que haja grande possibilidade de desfechos positivos, algumas complicações podem acontecer após o procedimento cirúrgico e é essencial que os profissionais que participam dos processos secundários (fisioterapeutas) e terciários (Educação Física) de reabilitação compreendam suas características. As primeiras complicações relacionam-se ao sistema circulatório, em que é possível observar hematomas prolongados e até trombose venosa profunda. Além disso, há ações do sistema imunológico por conta da rejeição da prótese, com instauração de infecção. Por fim, é comum encontramos instabilidade da prótese e luxação articular no local da cirurgia. Mesmo a luxação sendo um quadro comum, ela acontece após forçarem grandes amplitudes de movimento durante a abdução + rotação externa de ombro no trimestre inicial do processo de reabilitação. LESÕES DE BURSA Existem algumas lesões que se relacionam direta ou indiretamente com a bursa. A primeira é a síndrome do impacto, também conhecida como síndrome dolorosa do ombro. Trata-se de um conjunto de sinais e sintomas que levam a uma característica dolorosa produzida pelo atrito dos tendões dos músculos supraespinal, infraespinal, redondo menor, subescapular e cabeça longa do bíceps em suas passagens pelo arco coracoacromial. javascript:void(0) BURSA A bursa nada mais é do que uma “bolsa” cuja função é de amortecimento, evitando que aconteça contato entre diferentes extremidades ósseas. ATENÇÃO É extremamente comum, sem associação com a idade, mas, na maioria das vezes, tem seu diagnóstico omitido pelas cefaleias e pelas dores na coluna. A origem primária recebe este nome devido a sua relação com alterações estruturais nos componentes articulares do complexo do ombro, as quais estão intimamente ligadas ao acrômio que, histologicamente, recebe uma classificação dependendo do seu formato. O acrômio funcional, chamado de acrômio tipo 1 ou plano, é encontrado em maior taxa na população e permite maior espaço subacromial, o que, por consequência, reduz a probabilidade de forças compressivas na bursa. Esse tipo de acrômio permite que os movimentos do complexo articular, principalmente o de abdução, aconteçam com maior fluidez. O segundo, que começa a gerar disfunções por uma cascata de eventos, é chamado de acrômio tipo 2 ou curvo. Entre os acrômios que trazem deficiências funcionais aos indivíduos, esse é o mais brando. Sua principal característica é a diminuição moderada do espaço subacromial, que começa a comprimir as estruturas moles que ali passam, como a bursa, gerando quadros dolorosos e limitações funcionais de movimento. Por fim, o terceiro tipo de alteração estrutural é o acrômio de tipo 3, dando característica de gancho a essa estrutura, reduzindo muito o espaço subacromial. Dos três tipos, é o mais severo, pois desperta um quadro doloroso e reduz a funcionalidade do complexo articular do ombro de forma significativa. Os indivíduos que apresentam esse padrão de acrômio têm severas limitações de amplitude de movimento. Destacamos que todas as alterações são anatômicas e, por isso, estruturais, inviabilizando modificações desse padrão por qualquer tipo de intervenção por exercícios. A origem secundária recebe este nome devido a sua relação com alterações funcionais no complexo do ombro. Simplificando esse conceito, a síndrome do impacto por origem secundária ocorre por alguma modificação na estrutura do complexo articular do ombro, o que, por consequência, gera compressão dos tecidos moles naquela região. EXEMPLO Podemos exemplificar com a tendinite do tendão da cabeça longa do bíceps, que leva a um quadro de rubor e edema na região e à compressão na bursa. CAPSULITE ADESIVA Neste contexto, mas extrapolando as condições que acometem a bursa, temos a lesão capsulite adesiva, também conhecida como ombro congelado. Ela é definida como adesões densas e restrições da cápsula articular, principalmente na região anteroinferior da cápsula. Etiologicamente, a capsulite adesiva é dividida em: CAUSAS PRIMÁRIAS Possuem origem idiopática, sem causa aparentemente definida, e maior prevalência em indivíduos entre 40 e 65 anos de ambos os sexos. CAUSAS SECUNDÁRIAS Têm origem mais bem estabelecida, como quadros de patologias prévias, de traumas agudos, de artrite reumatoide e de imobilizações prolongadas. COMENTÁRIO As intervenções, tanto do profissional de Educação Física quanto de Fisioterapia, parecem fazer mais sentido nas causas secundárias, possibilitando trabalhar o problema na causa raiz. javascript:void(0) javascript:void(0) Alguns sinais e sintomas são característicos da capsulite adesiva como: Presença de dor em repouso Insônia (principalmente na fase aguda) Bloqueio articular para o movimento de rotação lateral Restrição nos movimentos de abdução e flexão Alterações posturais na escápula (quadro de discinesia) Hipotonia com significativa redução da força muscular Movimentos compensatórios da escápula Comprometimento na realização de movimentos simples da vida diária Clinicamente, a capsulite adesiva possui três fases: Fase 1 Conhecida como “congelado” ou “fase quente”. Apresenta dor intensa (7 a 9 na escala analógica visual) e dura entre duas e três semanas, combinando com limitação no arco de movimento. Fase 2 É a fase “congelamento” ou “fase fria”. Possui como características: dor ao realizar movimentos específicos, adesões capsulares mais intensas com maior atividade da escápula, hipotrofia generalizada nos membros superiores e quadro álgico que pode durar até 1 ano. Fase 3 Conhecida como “descongelando”. Aqui, há restrição no arco de movimento, anquilose articular e dor específica ao realizar distensão da cápsula articular. Importante destacar que essas três fases representam um esquema didático das etapas da lesão, ou seja, conforme sua cronicidade e falta de tratamento, o indivíduo evolui de fase e retrocede nas capacidades funcionais do complexo articular do ombro. Neste ponto, ainda devemos notar o papel fundamental do profissional do movimento nesse tratamento, que também é dividido em fases: Na fase 1, fisioterápica, são utilizados recursos para promover analgesia e quebrar as aderências fibróticas desenvolvidas. Assim, é comum encontrar a utilização do TENS, crioterapia, laser e ultrassom. Nas fases 2 e 3, também fisioterápicas, temos os recursos com maior foco em diminuir as restrições teciduais, quebra das aderências, remodelando o tecido e devolvendo o arco de movimento o mais próximo possível dos níveis fisiológicos iniciais. Observamos aqui frequentemente a utilização do TENS, ondas curtas e ultrassom. Na fase 4 desse processo de tratamento, o papel do profissional de Educação Física se torna mais presente devido as suas competências ao elaborar programas de exercícios que auxiliem os efeitos analgésicos e melhorem a força e a flexibilidade do indivíduo. BURSITE Fechando o quadro de lesões da bursa, destacamos o caso clássico de bursite. RELEMBRANDO Como vimos, a bursa é uma “bolsa” para amortecimento, evitando o contato entre as diferentes extremidades ósseas. Quandohá o processo inflamatório dessa bolsa, damos o nome de bursite. Uma característica importante desse caso é que, na maioria das vezes, possui origem secundária, ou seja, existe uma condição primária que está levando a um processo inflamatório da bursa. Dessa forma, devemos relacionar as condições descritas anteriormente. O tratamento durante a bursite é muito específico, tendo o médico importante papel na fase aguda, promovendo analgesia pela ação de fármacos. Posteriormente, tanto o fisioterapeuta quanto o profissional de Educação Física atacam o problema na causa raiz e eliminam a condição clínica primária que gerava a compreensão na bursa. Foto 1: Shutterstock.com PRINCIPAIS LESÕES DO OMBRO O especialista Estêvão Rios Monteiro explica os mecanismos das principais lesões do ombro: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DURANTE A AVALIAÇÃO FUNCIONAL, UM INDIVÍDUO COM 35 ANOS APRESENTOU DOR ARTICULAR NO OMBRO ESQUERDO. AO LONGO DO PROCESSO DE ANAMNESE, VOCÊ DESCOBRIU QUE ESSE INDIVÍDUO “DORME COMO BRAÇO ABAIXO DA CABEÇA”. NO EXAME FÍSICO, FOI OBSERVADA DIFICULDADE EM REALIZAR O ARCO DE MOVIMENTO EM SUA TOTALIDADE PARA ABDUÇÃO (10°), FLEXÃO (70°) E ROTAÇÕES, SEM PRESENÇA DE SINTOMA DOLOROSO. PORÉM, SUA AMPLITUDE PASSIVA DE MOVIMENTO ERA COMPLETA. ADICIONALMENTE, FOI OBSERVADO QUADRO DE HIPOTROFIA MUSCULAR EM DELTOIDE, BÍCEPS E TRÍCEPS BRAQUIAL, COM PRESENÇA DE CREPITAÇÃO À APALPAÇÃO E REDUÇÃO NA CAPACIDADE DE PRODUZIR FORÇA PARA OS MESMOS MOVIMENTOS. ANALISANDO OS RELATOS REFERENTES À AMPLITUDE DE MOVIMENTO, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE INDICA A ORIGEM DESSE PROBLEMA: A) Estruturas passivas B) Componente fascial C) Estruturas ativas D) Estruturas ativas e passivas E) Estrutura tendínea 2. UM INDIVÍDUO DE 40 ANOS SOFREU UM ATROPELAMENTO, TENDO ESCORIAÇÕES E FRATURA UMERAL PROXIMAL À DIREITA. FOI SOCORRIDO E LEVADO PARA O HOSPITAL, EM QUE FICOU COM O MEMBRO IMOBILIZADO POR MAIS DE 2 SEMANAS, IMPEDINDO A MOVIMENTAÇÃO DO OMBRO E COTOVELO E ATRASANDO SEU PROCESSO CIRÚRGICO. NO NÍVEL ARTICULAR, ESSA IMOBILIZAÇÃO POR MAIS DE DUAS SEMANAS ACARRETARÁ POSSÍVEIS SEQUELAS DE: A) Osteoartrose por desuso, em que o líquido sinovial não será produzido. B) Capsulite adesiva, devido aos componentes fratutários. C) Pseudoartrose, já que os ossos não consolidarão. D) Tendinites por repetição. E) Fraqueza muscular, devido ao tempo de imobilidade. GABARITO 1. Durante a avaliação funcional, um indivíduo com 35 anos apresentou dor articular no ombro esquerdo. Ao longo do processo de anamnese, você descobriu que esse indivíduo “dorme como braço abaixo da cabeça”. No exame físico, foi observada dificuldade em realizar o arco de movimento em sua totalidade para abdução (10°), flexão (70°) e rotações, sem presença de sintoma doloroso. Porém, sua amplitude passiva de movimento era completa. Adicionalmente, foi observado quadro de hipotrofia muscular em deltoide, bíceps e tríceps braquial, com presença de crepitação à apalpação e redução na capacidade de produzir força para os mesmos movimentos. Analisando os relatos referentes à amplitude de movimento, assinale a alternativa que indica a origem desse problema: A alternativa "C " está correta. A restrição na amplitude ativa de movimento caracteriza-se com limitações nas estruturas produtoras/transmissoras de força (componentes ativos), tais como os músculo, fáscia e tendão. 2. Um indivíduo de 40 anos sofreu um atropelamento, tendo escoriações e fratura umeral proximal à direita. Foi socorrido e levado para o hospital, em que ficou com o membro imobilizado por mais de 2 semanas, impedindo a movimentação do ombro e cotovelo e atrasando seu processo cirúrgico. No nível articular, essa imobilização por mais de duas semanas acarretará possíveis sequelas de: A alternativa "A " está correta. O líquido sinovial é um fluído produzido pelas articulações sinoviais que possuem correlação direta com o grau de movimento de um determinado segmento. A partir do momento que o segmento não se move com a mesma frequência anterior, a produção do líquido sinovial é reduzida e paralisada. O líquido que deveria lubrificar a articulação não o faz e aumenta o contato das superfícies ósseas da extremidade, podendo provocar quadros de osteoartrose. MÓDULO 2 Descrever os principais testes funcionais do complexo articular do ombro AVALIAÇÃO FUNCIONAL DO OMBRO O processo de avaliação funcional em qualquer quadro de condições clínicas relacionado a distúrbios osteomusculoarticulares precisa seguir uma estruturação padrão: Imagem: Estêvão Rios Monteiro Imagem 2: Esquema básico do processo de avaliação funcional ao longo da reabilitação de lesões. Imagem: Shutterstock.com O primeiro passo desse esquema é a avaliação. Nesse momento, você escolherá o verbo correto, que ditará o restante da sua avaliação e influenciará nos objetivos traçados para o processo de reabilitação (Exemplo: verificar, analisar, diferenciar, associar, tocar e correlacionar). Imagem: Shutterstock.com Após a escolha do verbo, você selecionará os instrumentos mais adequados para atingir os objetivos traçados. Note que a escolha do melhor instrumento é de extrema importância para a adequada avaliação. É recomendado testar e validar os instrumentos quanto à reprodutibilidade, validade interna e externa, e quanto à aplicabilidade no seu cenário de trabalho. Imagem: Shutterstock.com Para finalizar essa tríade, encontramos os diferentes métodos de avaliação que auxiliam na interpretação (padronização) das respostas colhidas, que podem ser tanto qualitativas quanto quantitativas. De antemão, esclarecemos que a maioria dos métodos de avaliação da área biológica possuem característica quantitativa (Exemplo: goniometria, perimetria, dinamometria e testes de repetições máximas). ATENÇÃO Esses testes quantitativos possibilitam a interpretação objetiva da avaliação, ou seja, fornecem valores quantitativos, reais, com unidades de medidas conhecidas (como quilogramas, centímetro, newtons, joules, graus etc.). Os métodos que têm características qualitativas, mesmo que sejam utilizados em menor número de ocasiões, representam a possibilidade subjetiva de avaliação e trabalham com uma relação interpretação- avaliador. Neste caso, temos como exemplo as escalas subjetivas de esforço e de dor e as avaliações do padrão de movimento. Quando expandimos o raciocínio avaliativo descrito, aumentamos as possibilidades de cercarmos o nosso plano de treinamento e/ou tratamento. Por isso, é necessário visualizarmos os dois caminhos habituais e complementares que devem ser percorridos pelo profissional: Imagem: Estêvão Rios Monteiro Imagem 3: Expansão do esquema da avaliação funcional em qualquer cenário de lesão musculoesquelética. O primeiro caminho parte da avaliação funcional e vai em direção à etapa do problema, que possui como característica o aprendizado e o olhar de que algum problema ou desordem foi detectada naquela circunstância. Após identificação desse problema, o avaliador deverá partir para a terceira e última etapa do primeiro caminho (1ª coluna) que é a identificação das debilidades e/ou incapacidades geradas pelo problema. ATENÇÃO É importante destacar que é nesta etapa que os maiores esforços serão realizados, pois é nesse ponto que as estratégias de intervenção deverão ser montadas e os dados dos fatores modificáveis com o treinamento e/ou tratamento serão coletados. Após a identificação dessas debilidades e/ou incapacidades, os profissionais habilitados realizarão a prescrição baseada em três perguntas importantes: Quais são os efeitos mecanofisiológicos que eu preciso alcançar? Quais são as ferramentas disponíveis para ajudar a alcançar esses efeitos? Quais são as possíveis respostas que posso encontrar ao aplicar essas ferramentas? A imagem também fornece um segundo caminho (1ª linha), mais sintetizado do que o anterior, para basearmos a nossa intervenção profissional. Ele também parte da avaliação funcional, mas prossegue em direção aofisiodiagnóstico. É nesta etapa que entendemos sobre a lesão musculoesquelética do indivíduo e, principalmente, a sua relação com as alterações sistêmicas no corpo humano e como essas alterações podem refletir na perda de função. DICA É importante destacar a aplicabilidade dos conceitos vistos ao longo do seu estudo sobre Fisiopatologia, Anatomia e Fisiologia Humana. Após observar e entender as relações entre a condição clínica e suas alterações, é o momento de traçar os objetivos do treinamento/tratamento e estruturar as ações que serão tomadas a fim de minimizar esses efeitos. Você chegará na última etapa desse caminho, que corresponde à conduta e intervenções escolhidas (3ª coluna). Nesse momento, serão escolhidos os tipos de exercícios e sua realização (manipulação das variáveis de prescrição). TESTES PARA INSTABILIDADE ROWE TEST Os testes de apreensão são utilizados com o intuito de testar a instabilidade do complexo articular do ombro. Esses tipos de testes foram anteriormente descritos por Rowe e Zarins (1981), os quais indicam a necessidade prioritária de serem realizados com o indivíduo em pé ou deitado em posição supina (decúbito dorsal). Passivamente, o ombro (articulação glenoumeral) é movido lentamente, forçando um movimento de rotação externa máxima, enquanto o mesmo membro permanece em uma combinação de abdução com flexão de ombro. SAIBA MAIS De acordo com o estudo original de Rowe e Zarins (1981), 60 pacientes (100% da amostra) relataram sintoma doloroso durante a execução do movimento, indicando, assim, que o teste de apreensão foi positivo. O ROWE test é um dos mais usuais para verificar possíveis instabilidades na direção anterior no complexo articular do ombro. O indivíduo testado deverá deitar-se em posição supinada (decúbito dorsal) e posicionar sua mão sob a cabeça, realizando o movimento de flexão de cotovelo e abdução de ombro com rotação externa (Imagem 4A). O avaliador posicionará a mão com os punhos fechados sob a região posterior da articulação glenoumeral, elevando o braço medialmente, e, com a mão oposta, forçar um movimento de rotação externa (Imagem 4B). O teste é considerado positivo, caso o avaliador perceba instabilidade naquele segmento ou quando o avaliado relata algum tipo de dor. Imagem: A review of the special tests associated with shoulder examination Part II. Tennent et al., 2003. Pág. 303 Imagem 4: ROWE test indica o posicionamento de uma das mãos do avaliador na cabeça do úmero, criando uma força dirigida posteriormente (A), e a mão contralateral na cabeça do úmero liberando-a (B). TESTE DE DESLIZAMENTO ANTERIOR Neste mesmo contexto, o teste de deslizamento anterior também é um recurso descrito na literatura com boa aplicabilidade prática para identificar potenciais instabilidades ocultas. De acordo com Gross e Distefano (1997), esse teste deve ser, prioritariamente, realizado com o indivíduo em posição supina, mantendo o ombro testado sobre a borda da maca ou mesa (como na figura anterior). O membro superior do lado testado é abduzido a 90°, enquanto o avaliador aplica uma força externa direcionando para o movimento forçado de rotação externa. O resultado é considerado positivo, caso o indivíduo refira uma dor repentina ou indique aumento na percepção subjetiva de uma dor já existente ou, ainda, quando o indivíduo afirmar que seus sintomas foram reproduzidos. Ambos os testes apresentados para avaliar instabilidade no complexo articular do ombro possuem boa validade interna e boa reprodutibilidade, devendo ficar a critério de escolha do avaliador de acordo com a melhor realidade daquele indivíduo. ATENÇÃO As instabilidades do complexo articular do ombro têm maior incidência quando o vetor de força direciona para o eixo posteroanterior. É importante lembrar que a região anterior do complexo articular do ombro não possui arcabouço ósseo para proteção, ficando a cargo dos tecidos moles realizarem essa ação. Esse é um dos fatores de maior vulnerabilidade nessa região. Um dos sinais clínicos de instabilidade mais comum é conhecido como Sina de Dragona, recebendo esse nome por lembrar o formato de um dragão (ROCKWOOD JR; MATSEN, 2009; POZZI et al., 2012). SCAPULAR DISKINESIS TEST Em relação à discinese escapular, a literatura parece não entrar em acordo sobre sua classificação e sobre qual melhor teste para avaliá-la. Contudo, o Scapular Diskinesis Test (teste de discinesia escapular) modificado é bem aceito no cenário prático, mas com uma alteração na estrutura avaliativa, sendo utilizadas respostas objetivas de “sim” ou “não” ao invés dos graus. Christiansen e outros autores (2017) descrevem o Scapular Diskinesis Test como um teste dinâmico de base visual usado para identificar possíveis quadros de discinesia escapular. Nele, o paciente realiza repetidamente flexão e abdução ativas do ombro, enquanto o avaliador observa o ritmo escapuloumeral na vista posterior. Uma limitação desse teste é que o avaliador não pode ter conhecimento prévio sobre sintomas dolorosos referidos pelo indivíduo, caso contrário influenciará nos resultados. Foto: Comprehensive classification test of scapular dyskinesis: a reliability study. Huang et al., 2015. Pág. 428 Foto 2: Esquema do ritmo escapuloumeral ao longo do movimento de abdução completa de ombro. TESTES PARA INFLAMAÇÕES LIGAMENTARES, TENDINOSAS E CAPSULARES De acordo com Maeda et al. (2009), as manobras para análise de potenciais quadros de inflamação dos componentes moles articulares podem ser divididos em três segmentos: Análise do tendão do músculo supraespinhoso Análise do tendão dos músculos do manguito rotador Análise do tendão da cabeça longa do músculo bíceps braquial Vamos estudar cada um desses segmentos a partir de agora. ANÁLISE DO TENDÃO DO MÚSCULO SUPRAESPINHOSO Cinco manobras são indicadas por Maeda et al. (2009) para analisar a integridade do tendão do músculo supraespinhoso. I) A primeira delas é chamada de manobra de Neer (NEER, 1972) , que deve ser realizada com o cotovelo do membro superior testado em posição estendida combinado com uma pronação de antebraço. Posteriormente, o avaliador realiza a rotação da escápula com uma das mãos e faz o movimento passivo de elevação do membro superior. Caso indivíduo tenha alguma inflamação no tendão do músculo supraespinhoso, irá referir dor e o teste será caracterizado como positivo. Imagem: Valor do exame físico no diagnóstico do pinçamento subacromial e das lesões do manguito rotador. Nicoletti; Albertoni, 1993. Pág. 680 Imagem 5: Representação do teste de Neer. II) A segunda manobra é conhecida como manobra de Hawkins (HAWKINS; KENNEDY, 1980), na qual o avaliador sustentará uma posição de 90° de flexão de ombro e de cotovelo com uma das mãos. A mão contralateral segurará o punho do membro superior do avaliado realizando um movimento rápido de rotação interna com intuito de provocar impacto do tendão do músculo supraespinhoso contra a borda anteroinferior do acrômio e contra o ligamento coracoacromial. Caso indivíduo possua alguma inflamação no tendão do músculo supraespinhoso, irá referir dor e o teste será considerado positivo. Foto: Comprehensive examination of the Athlete’s shoulder. COTTER, Eric J. et al. 2018. Pág. 367 Foto 3: Representação do teste de Hawkins. III) A terceira manobra é conhecida como teste de Jobe (JOBE; JOBE, 1983) , na qual o avaliado deve posicionar os ombros a 90° de abdução com 30° de flexão em relação ao plano escapular, fazendo rotação interna e mantendo os polegares apontados para o chão. Nessa posição, os cotovelos permanecem sempre estendidos. Seguindo, o avaliador realizará uma resistência externa com a direção da força produzida para uma adução de ombros. O teste será considerado positivo quando houver presença de dor, fraqueza ou insuficiência do tendão do músculo supraespinhoso secundário a uma ruptura ou associada ao impacto. Foto: Propedêutica ortopédica e traumatológica. LEITE, N. M.; FALLOPA,F. 2013. Pág. 89 Foto 4: Representação do Teste de Jobe. IV) A quarta manobra descrita é o teste de Apley (CIPRIANO, 1999), na qual o avaliador solicita que o paciente coloque a mão do ombro afetado por trás da cabeça, tocando o ângulo superior da escápula contralateral. Posteriormente, deverá colocar a mão para trás das costas, tentando tocar o ângulo inferior da escápula contralateral. Caso o indivíduo tenha alguma inflamação no tendão do músculo supraespinhoso, referirá dor e o teste será positivo. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 5: Representação do teste de Apley. V) A quinta manobra é conhecida como manobra de Yocum (YOCUM, 1983). Ela é positiva, quando o avaliado relata dor ao colocar a palma da mão no ombro contralateral, enquanto o avaliador eleva o cotovelo para a posição horizontal, provocando o atrito entre o tendão do músculo supraespinhoso, o arco coracoacromial e a articulação acromioclavicular. Este teste também é funcional para acusar clinicamente lesões na articulação acromioclavicular. Foto: Propedêutica ortopédica e traumatológica. LEITE, N. M.; FALLOPA, F. 2013. Pág. 89 Foto 6: Representação do teste de Yocum. ANÁLISE DOS TENDÕES DOS MÚSCULOS DO MANGUITO ROTADOR Duas manobras são indicadas por Maeda et al. (2009) para analisar a integridade do tendão do músculo supraespinhoso. TESTE DE PATTE A primeira manobra é conhecida como teste de Patte, possuindo boa aplicabilidade clínica para avaliar a integridade do componente tendíneo do músculo infraespinhal. Para sua realização, o avaliado manterá o membro superior testado em posição de flexão (90° de abdução de ombro com 90° de flexão de cotovelo). Após, deverá realizar uma força externa, forçando um movimento de rotação interna, o qual é impedido pelo avaliador que realizará uma força de igual magnitude, provocando uma contração isométrica. Foto: Propedêutica ortopédica e traumatológica. LEITE, N. M.; FALLOPA, F. 2013. Pág. 90 Foto 7: Representação do teste de Patte. Caso o avaliado apresente redução na resistência muscular localizada ou caso indique presença de dor, o teste será positivo, o que é um forte indicativo clínico de quadro de ruptura no tendão do músculo infraespinhal. TESTE DE GERBER OU LIFT-OFF TEST A segunda manobra é conhecida como teste de Gerber ou lift-off test e é exclusivo para testar o tendão do músculo subescapular. O avaliado apoiará a região dorsal da mão do membro superior avaliado na região lombar, com uma combinação de movimentos de rotação interna de ombro e flexão de cotovelos. Após, o avaliado receberá o comando e aumentará o grau de movimento de rotação interna, distanciando o dorso da mão da região lombar. Foto: Propedêutica ortopédica e traumatológica. LEITE, N. M.; FALLOPA, F. 2013. Pág. 90 Foto 8: Representação do teste de Gerber. Caso o avaliado relate qualquer tipo de dor ao tentar distanciar a mão, o teste será considerado positivo, indicando possível quadro de tendinite no músculo subescapular. ANÁLISE DO TENDÃO DA CABEÇA LONGA DO MÚSCULO BÍCEPS BRAQUIAL Três manobras são indicadas por Maeda et al. (2009) para analisar a integridade do tendão da cabeça longa do músculo bíceps braquial. I) A primeira manobra é conhecida como teste de Speed ou palm up test (CRENSHAW; KILGORE, 1966), na qual o avaliador pedirá que o avaliado realize o movimento de flexão de ombro com os cotovelos estendidos contra uma resistência leve/moderada imposta por ele. O teste será caracterizado positivo, caso o avaliado refira dor específica na região da corredeira bicipital (face anterior e proximal do ombro). Foto: Propedêutica ortopédica e traumatológica. LEITE, N. M.; FALLOPA, F. 2013. Pág. 91 Foto 9: Representação ilustrativa do teste de Speed. II) A segunda é a manobra de Yergason (YERGASON, 1931), na qual o avaliador posiciona o avaliado com o braço junto ao tronco, ombro testado em posição neutra e cotovelo em 90° de flexão. Após, o avaliado realizará um movimento de supinação contra uma resistência externa imposta pelo avaliador. Foto: Propedêutica ortopédica e traumatológica. LEITE, N. M.; FALLOPA, F. 2013. Pág. 96 Foto 10: Representação do teste de Yergason. O teste será positivo, caso o avaliado refira dor específica na região do sulco bicipital. III) A terceira manobra é conhecida como teste de Lipmann (MAEDA et al., 2009). Nela, o avaliado é inicialmente posicionado com o cotovelo do membro superior testado junto ao seu tronco e em 90° de flexão. O teste será considerado positivo quando o avaliado referir dor específica na região da corredeira bicipital durante a execução do movimento de flexão de cotovelo contra uma resistência externa leve produzida pelo avaliador. De forma adicional, esse teste possui a capacidade de detectar clinicamente quadros de (sub)luxação do tendão do bíceps para fora do sulco bicipital. Foto 11: Representação do teste de Lipmann. Propedêutica ortopédica e traumatológica. LEITE, N. M.; FALLOPA, F. 2013. Pág. 96. LESÕES DO LABRUM ARTICULAR De acordo com a literatura, não existem descrições específicas de testes ortopédicos direcionados para detectar clinicamente lesões no labrum articular. Contudo, algumas combinações costumam ser utilizadas para tentar cercar todas as possibilidades relacionadas a ele. Assim, é importante que o avaliador observe três aspectos importantes durante o movimento: O primeiro aspecto diz respeito à crepitação articular, tanto audível quanto perceptível ao posicionar a mão sobre a articulação. O segundo aspecto relaciona-se com uma redução de amplitude movimento passiva, principalmente por restrições dos componentes articulares. O terceiro aspecto correlaciona-se com o aumento na instabilidade do complexo articular do ombro ao realizar os movimentos articulares, principalmente os no eixo posteroanterior. Adicionalmente a esses três aspectos, é comum observarmos a utilização de movimentos de gaveta para testar possíveis instabilidades passivas nessa articulação. Caso o avaliado responda positivamente para esses quesitos, confirma-se a hipótese inicial de lesão no labrum. AVALIAÇÃO CINÉTICO FUNCIONAL DO OMBRO O especialista Estêvão Rios Monteiro demonstra os testes descritos no módulo: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. QUANTOS E QUAIS SÃO OS PILARES PARA MAIOR EFETIVIDADE DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL EM QUADROS DE LESÕES MUSCULOESQUELÉTICA? A) Três pilares – avaliação, instrumentos e métodos de avaliação B) Três pilares – medidas, avaliação e interdependência C) Dois pilares – avaliação e reavaliação D) Dois pilares – medidas e avaliação E) Quatro pilares – avaliação, instrumentos, métodos de avaliação e reavaliação 2. TESTE REALIZADO COM O PACIENTE EM PÉ, EM FRENTE AO EXAMINADOR, COM O MEMBRO SUPERIOR EM POSIÇÃO DE EXTENSÃO MÁXIMA, SUPINAÇÃO E ROTAÇÃO EXTERNA. O TERAPEUTA DEVERÁ IMPOR UMA RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO DE FLEXÃO DO MEMBRO SUPERIOR DO PACIENTE, ESTANDO TAL PACIENTE COM O COTOVELO EM EXTENSÃO. ESSE TESTE SERVE PARA DETECTAR A PRESENÇA DE INFLAMAÇÃO NA BAINHA QUE RECOBRE A PORÇÃO LONGA DO MÚSCULO BÍCEPS E A INTEGRIDADE DO LÁBIO GLENOIDAL. A POSITIVIDADE DO TESTE É A DOR LOCALIZADA NA PORÇÃO INICIAL DO TENDÃO DO BÍCEPS NO SULCO INTERTUBERCULAR. O ENUNCIADO REFERE-SE AO: A) Teste de Patte B) Teste de Jobe C) Teste de Yocum D) Teste de Palm-up E) Teste de Neer GABARITO 1. Quantos e quais são os pilares para maior efetividade do processo de avaliação funcional em quadros de lesões musculoesquelética? A alternativa "A " está correta. Os três pilares essenciais para o eficiente processo de avaliação funcional passam pela avaliação propriamente dita, pela escolha dos instrumentos que colherá as informações e chega aos métodos escolhidos para interpretar os dados colhidos. 2. Teste realizado com o paciente em pé, em frente ao examinador, com o membro superior em posição de extensão máxima, supinação e rotação externa. O terapeuta deverá impor uma resistência ao movimento de flexão do membro superior do paciente, estandotal paciente com o cotovelo em extensão. Esse teste serve para detectar a presença de inflamação na bainha que recobre a porção longa do músculo bíceps e a integridade do lábio glenoidal. A positividade do teste é a dor localizada na porção inicial do tendão do bíceps no sulco intertubercular. O enunciado refere-se ao: A alternativa "B " está correta. A posição inicial descrita no caso sugere uma posição “desfavorável” ao músculo bíceps braquial, indicando, assim, que o teste é direcionado ao tendão da cabeça longa deste músculo. Dos testes descritos, apenas o teste de Jobe utilizada essa posição padrão para sua execução. MÓDULO 3 Identificar os principais exercícios de prevenção e recuperação do complexo articular do ombro EXERCÍCIOS DE ALONGAMENTO E MOBILIZAÇÃO Agora, iremos abordar as estratégias não farmacológicas de intervenção que têm a finalidade de reduzir os sinais e sintomas das lesões do ombro. Nesse sentido, dividiremos em três grandes blocos de exercícios: Alongamento Mobilização e/ou manipulação tecidual Fortalecimento É importante destacar que a posição indicada na foto a seguir deve ser evitada, independentemente da condição clínica discutida abaixo. O movimento de abdução combinada com uma rotação externa de ombro deixa o complexo anterior do ombro vulnerável, além de ser considerada como a principal posição potencializadora de lesão. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 12: Representação da principal posição lesiva ao complexo anterior do ombro. Evite essa posição em trabalhos de flexibilidade e força, que geram forças de cisalhamento, podendo comprometer os tecidos moles estabilizadores localizados na região anterior. ARTROSE/ARTRITE No tratamento dessas patologias, são indicados exercícios de cinesioterapia, tais como as técnicas de: MAITLAND Para a técnica de Maitland é recomendada a utilização de movimentos oscilatórios (graus 1 ou 2), seguindo sempre a regra do côncavo-convexo. Esse tipo de recurso é direcionado aos fisioterapeutas e sua utilização baseia-se no “ataque” direto aos componentes intra-articulares (Exemplo cápsula articular). MULLIGAN Também com utilização restrita aos fisioterapeutas, a técnica de Mulligan é um importante recurso terapêutico, em que os movimentos devem ser direcionados àqueles que geram dor, priorizando exercícios passivo e ativo (manipulation with mobilization). MÚSCULO ENERGIA Por fim, apresentamos técnicas comuns tanto aos profissionais de Educação Física quanto de Fisioterapia, que são as variações das técnicas de alongamento, como a músculo energia (manter e relaxar) e a facilitação neuromuscular proprioceptiva (contrair e relaxar). O recurso do alongamento estático também pode ser utilizado, mas vem apresentando menor efetividade. Para quadros de retreinamento de artrose/artrite, as variações das técnicas de alongamento não são os melhores recursos, já que há a necessidade de se gerar vetores de forças axiais (cranial- caudal; exemplo força da gravidade) para atingir a matriz óssea. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Como orientação geral para todos esses recursos terapêuticos, é possível usar entre 2 e 3 séries com 30 oscilações (Maitland e Mulligan) e segundos (alongamento). Na imagem a seguir, observamos uma boa estratégia ativa que simula a ideia de mobilização articular. Ela pode ser utilizada em domicílio na ausência do terapeuta. Esse movimento é característico de uma rotação interna de ombro unilateral, trabalhando as estruturas articulares, focando na ação muscular do subescapular. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 13: Representação de um exercício ativo de rotação interna de ombro. Uma posição interessante para alongar o complexo articular posterior do ombro, e que deve ser incluída nesta condição, é descrita na próxima imagem. Ela representa o movimento osteoarticular de adução horizontal do ombro com o cotovelo estendido, estirando, assim, os músculos responsáveis por aduzir as escápulas (músculos: subescapular, infraespinhal, supraespinhal, romboide maior e romboide menor). Veja o passo a passo para sua realização: Com o membro superior relaxado, o indivíduo puxará o braço sobre seu peito, o máximo possível, segurando a posição de forma isométrica. A posição será mantida e, posteriormente, o membro superior será trocado. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 14: Representação de um exercício de alongamento para a região posterior do complexo articular do ombro. SÍNDROME DO IMPACTO Essa síndrome possui uma divisão estrutural e outra funcional; sendo a divisão funcional o maior foco dos profissionais de Educação Física e de Fisioterapia. É recomendada a utilização de técnicas que promovam o relaxamento muscular, como a de energia muscular com ênfase nos músculos do manguito rotador e do alongamento passivo, preferencialmente estático. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Como orientação geral para ambos os recursos terapêuticos, pode-se utilizar entre 2 e 3 séries com 30 a 60 segundos de duração. Os exercícios de alongamento indicados nas fotos 13 e 14 também são utilizados neste quadro clínico de síndrome do impacto. Adicionalmente, o movimento do pêndulo (foto 15) é uma estratégia interessante para tentar aumentar o espaço subacromial. Ele é uma representação do movimento osteoarticular de circundação promovida pela articulação glenoumeral. Esse movimento circulatório, aproveitando a ação da gravidade, é indicativo de um bom trabalho para descompressão de bursa. Veja o passo a passo: O indivíduo se inclinará à frente, colocando a mão de apoio sobre uma mesa, uma cadeira, ou outro objeto que permita posicionar o corpo de maneira adequada; O membro superior contralateral, aquele que realizará a manobra, ficará estendido e relaxado ao lado da mesa; Com o membro superior relaxado, o indivíduo deverá realizar o movimento de balanço, circundução, repetindo o movimento levemente; Por fim, trocará a posição e realizará a mesma sequência para o outro lado. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 15: Exercício de pêndulo de ombro. Representação ativa do movimento de circundução da articulação glenoumeral. Adicionalmente, a foto 16 indica um bom recurso ativo que pode ser utilizado na ausência do terapeuta. Esse movimento tem grande foco na depressão do ombro, descomprimindo a articulação glenoumeral e a articulação acromioclavicular. ATENÇÃO Ponto importante dessa estratégia é que ela não necessita de recursos complexos e parece possuir um bom custo-benefício. Confira o passo a passo para sua realização: O indivíduo manterá uma posição ortostática, segurando uma toalha em sua região dorsal. O membro superior que realizará a manobra estará em rotação interna, com o dorso da mão apoiada na região toracolombar e segurando a toalha. O membro superior contralateral segurará a toalha em uma rotação externa ao lado da cabeça. O membro superior contralateral realizará o movimento de extensão máxima de cotovelo, puxando o outro membro para cima. Após essa sequência de movimento, a posição será trocada e a manobra realizada para o outro lado. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 16: Representação de um exercício ativo de flexão de cotovelo com depressão de ombro. CAPSULITE ADESIVA Imagem: Shutterstock.com Na fase 1 da capsulite adesiva, são recomendados exercícios de mobilização e alongamento dos músculos da cintura escapular com baixa intensidade. Dessa forma, indicam-se as técnicas de alongamento estático e mobilizações em graus I e II da cintura escapular. Imagem: Shutterstock.com Na fase 2, são recomendados exercícios em maior intensidade. Assim, é possível utilizar os recursos do alongamento estático, liberação miofascial, exercícios de tração articular e mobilizações graus II, III e IV da cintura escapular. O entendimento mais importante neste quadro clínico é da necessidade de aumentar o espaço intra- articular. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Como orientação geral paratodos esses recursos terapêuticos, pode-se utilizar entre 2 e 3 séries com 30 oscilações (Maitland) e segundos (alongamento). Os exercícios representados nas fotos 13, 15 e 16, e descritos anteriormente, são boas estratégias de intervenção. Adicionalmente, a manobra popularmente conhecida como “alongamento do dorminhoco” parece indicar boa resposta clínica. FOTOS 13, 15 E 16 javascript:void(0) Foto: Estêvão Rios Monteiro Fotos 13, 15 e 16 respectivamente. Essa manobra consiste na realização do movimento de rotação medial de ombro em decúbito lateral. Destacando que a capsulite adesiva acomete as estruturas intra-articulares. Dessa forma, mesmo que recomendado, os exercícios de alongamento não são as melhores estratégias para reabilitação/retreinamento nessa condição clínica. Veja o passo a passo: O indivíduo deverá deitar-se lateralmente (decúbito lateral) em uma superfície rígida e plana. O membro superior que iniciará a manobra será o reclamado (acometido pela capsulite adesiva). Caso necessário, o indivíduo poderá colocar um apoio sob a cabeça, apenas por questão de conforto. O membro superior contralateral será utilizado para “empurrar” o outro membro superior para baixo, próximo ao solo, fazendo o movimento de rotação interna. O movimento será realizado até o arco de movimento indolor, ou seja, parando ao sentir incômodo na região posterior do complexo do ombro. Após, trocará a posição e realizará os mesmos passos para o outro membro superior. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 17: Representação de um exercício “alongamento do dorminhoco”: (A) posição inicial em decúbito lateral; (B) posição inicial do movimento de rotação interna de ombro; (C) posição final do movimento de rotação interna de ombro. FRATURAS E ARTROPLASTIA DE OMBRO Para as lesões ósseas, não são recomendados trabalhos para ganhos de flexibilidade durante a fase inicial da reabilitação. Os quadros de osteossíntese e a artroplastia de ombros são os mais comuns relacionados à fratura. OSTEOSSÍNTESE Técnica cirúrgica para unir ossos fraturados. Após a calcificação e a solidificação da cirurgia de artroplastia, é muito importante aplicar recursos que aumentem a flexibilidade de forma direta ou indireta, respeitando o baixo grau de intensidade com progressão ao longo da evolução do indivíduo. Logo, a técnica de Maitland e as diferentes técnicas de alongamento são recursos indicados para este quadro. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS javascript:void(0) Como orientação geral para todos esses recursos terapêuticos, pode-se utilizar entre 2 e 3 séries com 30 oscilações (Maitland) e segundos (alongamento) (Fotos 13 e 14). Importante evitar a posição descrita na foto 12, por ser “mais agressiva” ao complexo articular do ombro. FOTOS 13 E 14 Foto: Estêvão Rios Monteiro Fotos 13 e 14 respectivamente. FOTO 12 Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 12. EXERCÍCIOS DE FORTALECIMENTO Segundo Araújo et al. (2012), em sua revisão de literatura, exercícios de fortalecimento são importantes durante o processo de reabilitação musculoesquelético por permitirem um remodelamento tecidual por meio da alteração na rigidez passiva dos músculos. Os exercícios de fortalecimento devem ser utilizados durante o processo de reabilitação de lesões no complexo articular no ombro, principalmente respeitando uma progressão de cargas: Partindo dos exercícios em cadeia cinética aberta. javascript:void(0) javascript:void(0) Passando pelos exercícios em cadeia cinética fechada. E chegando até os exercícios combinados. Vamos relembrar os conceitos básicos de cinesiologia sobre as características das cadeias cinéticas? A cadeia cinética fechada caracteriza-se pela fixação da extremidade distal ao realizar um movimento, como nos exercícios de flexão de braço no solo e de barra fixa. Em contrapartida, a cadeia cinética aberta caracteriza-se pela extremidade distal do segmento permanecer livre para se movimentar, como nos exercícios de supino reto no aparelho e de puxada aberta no pulley. Dada essas características, conseguimos entender a utilização em cada uma dessas cadeias ao longo do processo de reabilitação. Pensando no processo de retreinamento de lesões do complexo articular do ombro, é importante iniciar os exercícios resistidos com predominância da cadeia cinética aberta. Por mais que possua essa característica cinesiológica inata, os exercícios em cadeia cinética aberta geram menor interação entre os músculos estabilizadores e, por consequência, maior seleção na ativação muscular. Nesse sentido, temos uma boa aplicabilidade clínica dos exercícios descritos na foto 18. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 18: Representação dos principais exercícios resistidos utilizados na fase inicial do processo de reabilitação do complexo articular do ombro: (A) posição inicial; (B) posição final. No decorrer do processo de reabilitação/retreinamento, ao observar uma boa integridade dos músculos primários e com o intuito de aumentar a seleção muscular ao movimento, é importante progredir para os exercícios em cadeia cinética fechada. Esse tipo de cadeia permite maior interação dos músculos estabilizadores da articulação, bem como maior sinergismo dos músculos auxiliares ao movimento. Nesse sentido, vemos a possibilidade de execução dos exercícios de flexão de braço e barra fixa como importante alternativa de prescrição clínica. ARTROSE/ARTRITE Ainda sobre a artrose e a artrite, temos que, apesar da característica clínica desses quadros serem de desgaste articular e de inflamação, a utilização de exercícios de fortalecimento tem sido vista como recursos fundamentais a serem utilizados no processo final da reabilitação. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Como orientação geral para os exercícios de fortalecimento, é necessário realizar entre 2 e 4 séries com repetições variando entre 6 e 15, manipulando confortavelmente as variáveis de volume e intensidade para permitir uma progressão de cargas nesse indivíduo. O principal objetivo da inclusão de exercícios de fortalecimento nesses casos, é gerar aumento de força muscular, principalmente nos músculos estabilizadores, para que o complexo articular fique mais protegido. Dessa forma, a inclusão dos exercícios em cadeia cinética fechada é uma boa alternativa (rever conceito anterior), como, por exemplo, os exercícios de flexão de braço e barra fixa. SÍNDROME DO IMPACTO Durante a síndrome do impacto, seja aguda ou controlada, os exercícios de fortalecimento em si não são tão eficientes, mas sua prescrição é realizada para: Gerar força de tração (decoaptar a articulação). & Permitir distribuir melhor as forças. & Minimizar os desvios articulares. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Como orientação geral, os exercícios de fortalecimento devem ser realizados entre 2 e 4 séries com repetições variando entre 6 e 15, manipulando confortavelmente as variáveis de volume e intensidade para permitir uma progressão de cargas nesse indivíduo. O principal objetivo da inclusão de exercícios de fortalecimento nesses quadros é aumentar a força muscular, principalmente nos músculos que direcionam a cabeça do úmero medial e inferiormente (foto 16 – gerando contração isométrica). FOTO 16 Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 16. CAPSULITE ADESIVA As recomendações para inclusão de exercícios de fortalecimento na capsulite adesiva são similares às da síndrome do impacto. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Como orientação geral para os exercícios de fortalecimento, é necessário realizá-los entre 2 e 4 séries com repetições variando entre 6 e 15, manipulando confortavelmente as variáveis de volume e intensidade para permitir uma progressão de cargas nesse indivíduo. O principal objetivo da inclusão de exercícios de fortalecimento nesses quadros é gerar aumento de força muscular, principalmente, nos músculos que direcionam a cabeça do úmero medial e inferiormente (foto 16 – gerando contraçãoisométrica). javascript:void(0) javascript:void(0) FOTO 16 Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 16. FRATURAS E ARTROPLASTIA DE OMBRO Inicialmente, nas fraturas e na recuperação após procedimento cirúrgico de artroplastia de ombro, os exercícios de fortalecimento devem ser evitados para não provocar complicações no pós-operatório. Após a liberação médica, os exercícios de fortalecimento são fundamentais, objetivando principalmente o processo hipertrofia, agindo assim contra uma resposta hipotrófica por desuso comumente encontrada nesses casos. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Como orientação geral para os exercícios de fortalecimento, é preciso realizar entre 2 e 4 séries com repetições variando entre 6 e 15, manipulando confortavelmente as variáveis de volume e intensidade para permitir uma progressão de cargas nesse indivíduo. Para tal, os exercícios indicados nas fotos 18 , e as 19 e 20 que serão apresentadas mais a frente, são interessantes estratégias clínicas para esses quadros. FOTO 18 Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 18. javascript:void(0) EXERCÍCIOS DE ESTABILIZAÇÃO Os exercícios de estabilização são importantes ao longo do processo de reabilitação de lesões no complexo articular do ombro. Treinar a estabilidade é fundamental, já que as condições clínicas discutidas indicam aumento na instabilidade articular. ATENÇÃO Um dos quadros apresentados que mais se beneficiam da inclusão de exercícios de estabilização ao longo do processo de reabilitação é o de discinese escapular. Essencialmente, deve-se pensar no processo de melhoria do desempenho durante a fase final de recuperação, conhecida como retreinamento, realizada por profissionais de Educação Física. Tanto para a força muscular quanto para a estabilidade segmentar da articulação, é necessário priorizar as contrações musculares dinâmicas com sobrecarga: Partindo da ênfase na combinação de fases. Passando pela fase concêntrica. Finalizando com a fase excêntrica. Os exercícios de mobilidade rotacional torácica (foto 19) e o “Y, W, T” (foto 20) são dois exemplos importantes que podem ser incluídos: MOBILIDADE ROTACIONAL TORÁCICA O exercício de mobilidade rotacional torácica é um instrumento eficiente para treinar os componentes de ativação do core, estabilidade e mobilidade central (tronco). “Y, W, T” O exercício “Y, W, T” mostra-se uma importante ferramenta para auxiliar na ativação dos músculos periescapulares, bem como na ativação intermuscular entre o trapézio, levantador da escápula e romboides — geralmente, músculos hipoativos em quadros de discinesia escapular. A posição inicial para execução do exercício de mobilidade rotacional torácica deve variar de acordo com o nível de treinabilidade do indivíduo e, principalmente, com o progresso da reabilitação. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 19: Representação do exercício de mobilidade rotacional torácica: (A) posição inicial; (B) rotação para o lado direito; (C) rotação para o lado esquerdo. A foto 20 indica uma posição confortável e transitória entre aposição ortostática e a posição de flexão de braço. A realização desse exercício consiste em mover alternadamente o implemento (chapéu chines, cone, camisa etc.) para o lado, concentrando o movimento na cintura escapular. Foto: Estêvão Rios Monteiro Foto 20: Representação do exercício “Y, W, T”: (A) posição do “W”; (B) posição do “Y”; (C) posição do “T”. O exercício “Y, W, T” é uma interessante variação clínica para trabalhar mobilidade e estabilidade da cintura escapular e da cadeia posterior. A foto 20 indica uma possibilidade de execução desse exercício, no qual o indivíduo precisa manter uma contração isométrica dos músculos posteriores do tronco para “descolar” o peitoral do chão e movimentar os membros superiores simulando as letras “Y” (foto 20A), “W” (foto 20B) e “T” (Foto 20C) do alfabeto. EXERCÍCIOS PARA PREVENÇÃO DE LESÕES E TRATAMENTO DA ARTICULAÇÃO DO OMBRO O especialista Estêvão Rios Monteiro demonstra os exercícios descritos no módulo - a forma correta de execução e os principais erros a serem ajustados durante a execução: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. QUAL TIPO DE CONTRAÇÃO MAIS INDICADA QUANDO O OBJETIVO É O FORTALECIMENTO MUSCULAR E GANHO DE ESTABILIDADE ARTICULAR? A) Pliométrica B) Dinâmica C) Isométria D) Isocinética E) Facilitação neuromuscular proprioceptiva 2. QUAIS SÃO OS TIPOS DE EXERCÍCIOS INDICADOS AO LONGO DO PROCESSO DE REABILITAÇÃO DA FASE 2 NO QUADRO DE CAPSULITE ADESIVA? A) Facilitação neuromuscular proprioceptiva, alongamento dinâmico, exercícios de tração e Maitland graus I e II. B) Alongamento estático, liberação miofascial, exercícios de tração articular e Maitland graus II, III e IV. C) Alongamento dinâmico, exercícios de tração e Maitland grau V. D) Alongamento dinâmico, liberação miofascial, exercícios de tração articular e Maitland grau V. E) Alongamento estático, Mulligan e Maitland grau V. GABARITO 1. Qual tipo de contração mais indicada quando o objetivo é o fortalecimento muscular e ganho de estabilidade articular? A alternativa "B " está correta. O tipo de contração precisa seguir o desempenho que se deseja desenvolver. Para este caso, a contração muscular dinâmica, composta da ação muscular concêntrica e da excêntrica, desempenha esse papel. 2. Quais são os tipos de exercícios indicados ao longo do processo de reabilitação da fase 2 no quadro de capsulite adesiva? A alternativa "B " está correta. A seleção dos exercícios de alongamento no quadro de capsulite adesiva precisa objetivar produzir quadro álgico e ganhar amplitude de movimento. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Visitamos as principais condições clínicas que podem acometer o complexo articular do ombro e que culminam em limitações funcionais, tanto em gestos esportivos quanto em gestos do dia a dia. Como vimos, existem inúmeras possibilidades de avaliação que devem ser utilizadas para a posterior prescrição ser mais assertiva. Além disso, exploramos estratégias de intervenção que auxiliam no tratamento dessas condições clínicas. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ARAÚJO, V. L. et al. Efeito dos exercícios de fortalecimento e alongamento sobre a rigidez tecidual passiva. Fisioterapia em Movimento, v. 25, n. 4, p. 869-882, 2012. CHRISTIANSEN, D. H.; MOLLER, A. D.; VESTERGAARD, J. M.; MOSE, S.; MARIBO, T. The scapular dyskinesis test: reliability, agreement, and predictive value in patients with subacromial impingement syndrome. Journal of Hand Therapy, v. 30, n. 2, p. 208-213, 2017. CIPRIANO, J. J. Testes ortopédicos do ombro. In: CIPRIANO, J. J. Manual fotográfico de testes ortopédicos e neurológicos. 1. ed. São Paulo: Manole, 1999, p. 71-112. COTTER, E. J. et al. Comprehensive examination of the Athlete’s shoulder. Sports health, v. 10, n. 4, p. 366-375, 2018. CRENSHAW, A. 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