Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO A Biomecânica da lesão musculoesquelética e os fatores que predispõem os indivíduos a desenvolverem lesões. PROPÓSITO Conhecer a mecânica da lesão e os mecanismos que possam ter concorrido é essencial para os profissionais da área da saúde estabelecerem estratégias de intervenção e traçar o diagnóstico e prognóstico adequados para prevenção e reabilitação. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o conceito de lesão a partir dos principais fatores biomecânicos MÓDULO 2 Reconhecer os principais fatores biomecânicos que podem contribuir para as lesões e disfunções dos membros inferiores MÓDULO 3 Identificar o comportamento dos membros superiores sob a influência dos diferentes tipos de cargas mecânicas e fatores predisponentes às lesões MÓDULO 4 Reconhecer as possibilidades de lesão no esqueleto axial decorrentes da assimilação das cargas mecânicas INTRODUÇÃO Falar sobre lesão é algo complexo, pois vai além do comprometimento da função física do corpo humano. Usualmente, uma lesão vem acompanhada de mudança de hábito ou rotina e, durante esse período, o “custo” físico da lesão tende a vir acompanhado de “desconforto” psicológico e até mesmo comprometimento econômico (financeiro). Foto: Shutterstock.com Lesões em diferentes áreas do corpo. Algumas lesões, dificilmente, têm como ser evitadas, por exemplo, aquelas que ocorrem em modalidades em que há contato físico entre os adversários. Porém, essas podem ter uma menor incidência quando os atletas são orientados em função das demandas mecânicas, às quais serão submetidos. Por exemplo, o uso de equipamento adequado em função do tipo de gramado em que uma partida de futebol será jogada, ou a utilização de um bracing (órtese) para tentar estressar menos uma articulação já comprometida. Foto: Shutterstock.com Bracing – região do tornozelo. Uma pessoa procura um profissional da área da saúde para se condicionar fisicamente em busca de saúde e qualidade de vida, ou para iniciar um processo de recuperação de uma lesão. Dessa forma, quando os conhecimentos dos mecanismos lesivos são desconsiderados em função das características estruturais e funcionais do praticante, com certeza, a lesão bate à porta. Por exemplo, uma pessoa com alterações posturais e funcionais exigirá do profissional conhecimento diferenciado para sua intervenção. Um outro caso é a “padronização” do exercício com aplicação de um mesmo modo, independente do grau de condicionamento e o histórico do sujeito. É sobre esses assuntos e problemas que vamos estudar a partir de agora! MÓDULO 1 Identificar o conceito de lesão a partir dos principais fatores biomecânicos Vamos iniciar trabalhando alguns conceitos importantes. LESÃO Entender o que é uma lesão vai muto além da sua definição. Na realidade, há espaço para mais de uma definição para lesão, pois, ao pensarmos no corpo humano, devemos entender que os músculos, ossos e articulações apresentam diferentes padrões de respostas aos fatores causadores de uma lesão, ou seja, cargas mecânicas. O que é uma lesão? Apesar de várias definições, em todas elas, há uma alteração no estado de normalidade do tecido biológico. Aqui, abordaremos as lesões do sistema locomotor, em especial, aquelas que são causadas por fatores mecânicos, como sobrecarga exagerada ou frequência de estimulação excessiva. ATENÇÃO Toda lesão tende a acompanhar algum tipo de incapacitação que afeta além do aspecto físico. Isso porque também há possibilidade de fragilização emocional e consequências econômicas, uma vez que o tempo de recuperação interfere diretamente na volta da rotina normal de vida do indivíduo. Essa incapacidade é comentada por Hall e Brody (2001) quando destacam a impossibilidade da participação em atividades específicas condizentes com a idade e o sexo, associados ao contexto social e ao ambiente físico. Por isso, uma vez lesionado, o sujeito tende a apresentar limitações funcionais que podem ser caracterizadas pela ineficiência na execução de um movimento cotidiano. Por exemplo, elevar os braços para colocar um objeto em uma prateleira. Foto: Shutterstock.com Elevação dos braços acima da linha dos ombros. Agora que você já está familiarizado com o que é uma lesão e suas consequências, vamos destacar alguns conceitos que irão ajudar na compreensão não só da dinâmica da lesão, mas também das estratégias de recuperação. As estratégias são as seguintes: A mecânica deve ser lembrada em função do conceito de energia (capacidade de realizar trabalho) e das forças (externas e internas) que estão atuando sobre o corpo. É sobre uma base mecânica sólida que a estrutura do corpo humano (anatomia) consegue melhor desempenhar suas funções (fisiologia) em respeito às caraterísticas do sujeito. Os exercícios propostos a determinada pessoa e que você esteja atento não só ao que se refere à execução, mas a todo o cenário em que se desenvolve a atividade. O mecanismo é um processo físico que permite determinar a reação de um corpo em função de uma determinada ação. Desse modo, a leitura do resultado passa a ser fundamental para a estimativa das consequências dessa ação. Por exemplo, ao solicitar que um indivíduo dê saltos verticais sucessivos, espera-se que ele tenha uma boa percepção cinestésica, domine a técnica do salto (coordenação dos membros inferiores e superiores), tanto na decolagem quanto na aterrissagem. Caso esse domínio não exista, há uma grande possibilidade de insucesso na tarefa, que poderá vir acompanhado de torção do tornozelo no momento da atividade ou de lombalgia após a atividade. RESUMINDO Conhecer o mecanismo possibilita o profissional da área da saúde a eleger as melhores estratégias de intervenção. Na prática, ao conhecer o mecanismo, você consegue responder: Como essa lesão aconteceu? Um exemplo é a punição aplicada aos atletas de futebol em função do chamado “carrinho” (deslizamento do corpo horizontalmente), porque, caso o oponente esteja com os pés fixos no solo, a carga aplicada nos membros inferiores passa a ser um perigoso mecanismo lesivo. Assim, os atletas devem ser orientados (quando perceberem) a darem um breve salto para que seu corpo seja atingido em suspensão. Foto: Dziurek / Shutterstock.com “Carrinho” no futebol. Perceba que os mecanismos lesivos são combinados, ou seja, a carga aplicada somada à fragilidade estrutural, por exemplo. Estabeleça a seguinte relação: O estímulo proposto atende às demandas anatomofisiológicas e mecânicas do indivíduo, ou esse indivíduo está preparado para praticar a modalidade esportiva? Uma vez lesionado, há um processo de descondicionamento físico, em que se exigirá tempo para retornar à mesma condição física anterior à lesão. Dessa forma, as cargas e os estímulos deverão ser ajustados de acordo com o tipo de lesão e os protocolos de recuperação. Por exemplo, ao observar a articulação do joelho, mesmo uma “simples” lesão meniscal, pode tornar-se um grande problema caso o método de treinamento empregado não seja ajustado. Imagem: Shutterstock.com Lesão meniscal. Ajustes aos estímulos devem ocorrer para que não ocorra o agravamento da lesão, ou até uma nova lesão. Nesse contexto, a dor deve ser considerada dentro dos quadros de lesão. Segundo Treede, dor: É UMA EXPERIÊNCIA SENSORIAL E EMOCIONAL DESAGRADÁVEL ASSOCIADA A UMA LESÃO TISSULAR POTENCIAL OU REAL OU MESMO A NENHUMA LESÃO, EMBORA AINDA ASSIM DESCRITA COM TERMOS SUGESTIVOS DE QUE O DANO TECIDUAL HOUVESSE DE FATO OCORRIDO. (2018, p. 2) Observe que a dor está associada a uma lesão e, por isso, é importante que seja feita a diferença entre dor aguda e crônica. Lombalgia. Imagem: Shutterstock.com Dor aguda Desempenha uma função de alerta. Por exemplo, dor na região lombar ao pegar um objeto no solo. Essa dor desaparece ao se reestabelecer a postura ereta. Dor crônica É aquela que perdura por um período maior, mesmo sem fator causal no momento. Por exemplo, a lombalgia crônicaem qualquer postura (em pé, sentado, deitado). Vale destacar que, muitas vezes, uma dor aguda que pode ter sido gerada por um mecanismo lesivo, quando negligenciada, pode evoluir para uma dor crônica. Por exemplo, dor nos joelhos ao realizar o exercício leg press (Exercício de “Pressão de Pernas”) , quando não bem avaliada, pode evoluir para uma dor crônica em função de uma condropatia patelar bilateral. Foto: Shutterstock.com Leg press – exercício de pressão de pernas. PRINCÍPIOS DE LESÃO Agora, vamos conhecer alguns princípios de lesão, fundamentais para que, a partir de uma boa avaliação realizada, os mecanismos lesivos possam ser evitados. NÍVEL DE DISFUNÇÃO PROGRESSÃO DA LESÃO NÍVEL DE DISFUNÇÃO Os movimentos realizados pelo corpo seguem padrões de acordo com as características estruturais das articulações e fisiologia mioarticular. Quando uma disfunção é identificada, é necessário escolher estratégias de intervenção, para que essa seja corrigida e o movimento possa ser realizado de maneira segura. Observe uma pessoa com restrição nos movimentos das escápulas. Quanto mais curtos forem os movimentos dos ombros (abdução, flexão), mais comprometida estará a articulação glenoumeral. Logo, a disfunção no ritmo escapuloumeral torna-se um potencializador do mecanismo de lesão nos ombros. PROGRESSÃO DA LESÃO Toda lesão está relacionada a um grau de comprometimento e, assim, deve ser identificada. Quando os cuidados a partir de uma “simples lesão” não são considerados, esta pode evoluir e se tornar uma lesão com maior gravidade. Por exemplo, os movimentos de abdução do ombro acima de 90°, quando não respeitada a fisiologia articular, tendem a gerar compressão dos tecidos moles na região do arco coracoacromial. Muitas vezes, o executante relata desconforto ao realizar esse movimento, mas o profissional negligencia e persiste na indicação do exercício. A médio prazo, pode surgir uma lesão como uma tendinite em um dos músculos do manguito rotador ou uma bursite subacromial. Foto: Shutterstock.com Abdução dos ombros com mecanismo de lesão. Por esses motivos, é importante que você esteja familiarizado com os diferentes tipos de lesões. Observe o quadro abaixo: Tipo de lesão Origem Lesão aguda Tem origem em um único agravo. Lesão crônica Cargas repetidas por um período longo. Macrotrauma Lesão percebida imediatamente. Traumatismo súbito (direto ou indireto). Microtrauma Comprometimento musculoesquelético por um longo período. Não chega a ser incapacitante. Muitas vezes, é recorrente. Lesão primária Origem direta e imediata do traumatismo. Lesão secundária Surge algum tempo após o trauma inicial ou como acomodação da lesão primária. Elaborado por Claudio Gonçalves Peixoto. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal As lesões crônicas e microtraumas, muitas vezes, apresentam sinais e sintomas que devem ser considerados para se evitar o agravamento. Habitue-se a observar em separado os aspectos cinemáticos e cinéticos que estão interferindo no movimento. Talvez, eles possam trazer informações relevantes para a mudança na estratégia de intervenção. VISÃO GLOBAL DOS MECANISMOS DE LESÃO Existem diversas propostas para identificação e classificação dos mecanismos lesivos. Aqui, optamos por selecionar aquelas que são mais afins aos profissionais da área da saúde. No entanto, desde já, é importante deixar claro que, dificilmente, um mecanismo de maneira isolada concorre para uma lesão. Por isso, esteja atento aos mecanismos abaixo: VULNERABILIDADE ESTRUTURAL O mecanismo tende a ser minimizado se a avaliação antropométrica e postural for realizada antes do tratamento. Isso porque, muitas vezes, os dados indicam vulnerabilidade estrutural. Por exemplo, uma pessoa com “geno valgo” submetida a um exercício para membros inferiores, em cadeia fechada de movimento, com grande amplitude e sobrecarga, tem maior predisposição para o desenvolvimento de uma condromalácia patelar, o que pode ser detectado na avaliação postural. GENO VALGO javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com DESEQUILÍBRIO MUSCULAR Os músculos trabalham em intensidades diferentes nas atividades cotidianas, de acordo com as suas funções específicas. Assim, o equilíbrio muscular, em especial, de agonistas e antagonistas, deve ser respeitado. Hamill e Knutzen (2012) afirmam que, nas tarefas do dia a dia, os músculos extensores e abdutores do quadril são solicitados de maneira mais intensa que os flexores e adutores. Isso ocorre em função das demandas de cargas para caminhar ou subir uma escada, por exemplo. SOBRECARGA DINÂMICA Considere que não é só a sobrecarga, ou seja, a intensidade do estímulo que promove adaptações positivas aos estímulos. Diversos fatores mecânicos interferem na força muscular sem necessariamente ter que se aumentar a sobrecarga. Além disso, a avaliação funcional fornece dados sobre o comportamento desse corpo no espaço. Antes de incrementar a carga, atente-se para o fato de que a velocidade, a amplitude e a trajetória do movimento estão de acordo com a técnica esperada. Certamente, você não conhece halteres com 1,2 ou 1,4kg. Logo, ao solicitar que o executante aumente a sobrecarga de 1 para 2kg, ele incrementará em 100% a sobrecarga. Que tal buscar metodologias de treinamento que permitam que a intensidade do estímulo seja aumentada com o uso da mesma carga? FREQUÊNCIA ELEVADA DO MESMO TIPO DE ESTÍMULO É comum uma relação inversa entre o volume e a intensidade dos estímulos e existe a crença que, com uma intensidade baixa, não há risco lesivo em um volume alto. Isso é falso. O primeiro ponto a ser destacado é que a velocidade de adaptação das estruturas miotendíneas ocorre em diferentes velocidades. Dessa forma, músculos, tendões e inserções devem ser capazes de suportar, tanto baixos volumes com altas intensidades como o contrário. Quem nunca ouviu falar daquele sujeito que era o “rei do exercício abdominal”? Na academia, ele realizava diariamente, no mínimo, 1000 repetições em várias séries de exercícios abdominais. No entanto, ele esqueceu de combinar com os discos intervertebrais que, a cada repetição, sofrem deformações para permitir o movimento. Resumindo: passado algum tempo, ele apresentou uma queixa de dor na região lombar e o exame por imagem identificou uma hérnia de disco com compressão de raiz nervosa. Observe o que um “simples” abdominal pode promover! null Foto: Shutterstock.com Exercício abdominal com potencial lesivo. MOBILIDADE ARTICULAR Tanto a alta como a baixa mobilidade articular podem gerar desarranjo no padrão de movimento, comprometendo os componentes articulares (cartilagem articular) e a estrutura muscular, que se torna mais vulnerável aos estiramentos. Dessa forma, as amplitudes de movimentos de uma articulação devem ser consideradas para a prescrição dos estímulos, e o equilíbrio articular deve ser priorizado, a fim de gerar autonomia nos movimentos. CONTATO OU IMPACTO É o mecanismo mais facilmente identificado. Atente-se ao fato de que, antes de prescrever um exercício, os profissionais da área da saúde devem ter certeza de que os riscos de contato ou impacto intensos estão controlados. Observe dois exemplos: Nos esportes de competição, fica difícil você se antecipar a uma atitude “impensada” de um oponente, o fair-play deveria fazer parte do jogo, mas nem sempre é isso que acontece. Por isso, fique de olho no jogo e você poderá identificar a carga mecânica que gerou a lesão. Para um praticante iniciante de uma atividade chamada de “treinamento funcional”, é prescrito o exercício de levantamento de peso chamado “arranco”. Esse sujeito estando com a barra elevada sobre a cabeça não teve força para sustentá-la e, ao soltar a barra, ela atingiu o seu nariz. Resultado: fratura. Esses exemplos elucidam bem que alguns contatos ou impactos são difíceis de serem evitados, já outros são de inteira responsabilidade dos profissionaisque prescrevem os exercícios e têm a função de chamar a atenção do executante dos cuidados que devam ser tomados. Foto: Shutterstock.com Barra alta no exercício “arranco”. Apesar de não serem mecanismos lesivos, alguns fatores podem interferir diretamente nos mecanismos citados: CONDICIONAMENTO FÍSICO E NÍVEL DE HABILIDADE O grau de condicionamento físico tende a minimizar os mecanismos lesivos quando são respeitadas as potencialidades do executante. Em geral, a condição física foi adquirida de maneira progressiva, dando maior capacidade de assimilação de estímulos variados, permitindo o incremento das sobrecargas. Lembre-se: é durante a recuperação que o resultado do treino é alcançado, por isso, programe bem as sessões de treinamento ou tratamento. LESÃO PRÉVIA E REABILITAÇÃO É importante que, durante uma anamnese, o histórico de lesão seja relatado, em especial, no caso de recorrências, pois já há predisposição desse sujeito, assim como o tipo e o tempo de reabilitação em que foi realizada. A partir daí, um direcionamento eficaz se dará com mais facilidade. Deve haver uma relação horizontal entre os profissionais da área da saúde que atuam em um mesmo indivíduo. Por exemplo, o fisioterapeuta e o profissional de Educação Física devem estar alinhados, pois, muitas vezes, as atividades (tratamento e treinamento) ocorrem simultaneamente. FADIGA É um indicador de redução na capacidade de rendimento, por isso, quando manifestada diretamente pelo praticante, ou quando percebida pelo profissional, em função da estagnação nas cargas de treino ou aumento no intervalo entre os exercícios, uma nova “calibragem” nos estímulos deve ser realizada, pois o risco de lesão tende a aumentar. EQUIPAMENTO A escolha do equipamento adequado gera um “sistema de interação” (homem + equipamento) para realização do exercício. Você deve estar atento à regulagem dos equipamentos, à indicação de melhores acessórios para que o risco de lesão seja minimizado. Por exemplo, a utilização de um calçado de acordo com a modalidade praticada deve ser sugerida. Assim, tênis para corrida não é o mesmo tênis para jogar futebol. SEXO Algumas características estruturais concorrem diretamente para uma maior incidência de lesões de acordo com o sexo. Por exemplo, a condromalácia patelar é muito comum nas mulheres que apresentam uma maior distância biacetabular (quadril largo). Isso ocorre porque o segmento coxa tende a uma maior obliquidade em relação ao solo, o que concorre para formação do “geno valgo”. Os homens, por apresentarem uma maior predisposição hormonal para o aumento da massa muscular, muitas vezes, incrementam as cargas de treinamento sem que as devidas adaptações tenham ocorrido e, assim, há também aumento no risco de tendinites. null Imagem: Shutterstock.com Condromalácia. IDADE A capacidade de geração de força até a adolescência é prioritariamente pela otimização do recrutamento das fibras musculares (via neural) e o grau de hipertrofia muscular é pouco expressivo, por isso a sobrecarga deve estar adequada à capacidade de resposta do praticante. Uma lesão juvenil diretamente relacionada à intensidade da carga é a Osgood- Schlatter. null Foto: Shutterstock.com Adolescentes treinando com saltos sucessivos (direita). PRINCÍPIOS DAS CARGAS MECÂNICAS Falar sobre cargas mecânicas reporta diretamente à identificação de como as forças externas são internamente assimiladas pelo corpo humano. Por que isso está relacionado à lesão? A capacidade de assimilação das cargas externas é individual e influenciada por uma série de fatores. Dessa forma, uma má adequação à carga aplicada é um dos principais fatores predisponentes às lesões. Contudo, toda carga tende a gerar um efeito, o qual pode interferir em maior ou menor escala no comportamento do corpo no espaço. EXEMPLO Movimentos lineares e angulares e as cargas mecânicas - algumas articulações no corpo humano realizam movimentos rotacionais (angulares) puros e, com isso, desde que não haja comprometimento estrutural, estão bem adaptadas à assimilação de todas as cargas mecânicas, ou seja, compressão, tensão, rotação, cisalhamento e curvamento. Foto: Shutterstock.com Agachamento profundo. Em outras articulações, junto ao movimento de rotação, ocorre também a translação (linear) e essa análise deve ser feita de maneira criteriosa. Por exemplo, na articulação do joelho, durante os movimentos de flexo-extensão, ocorre o deslizamento dos côndilos femorais sobre o platô tibial. Isso significa que ocorre translação, ou seja, carga de cisalhamento. Daí, ser grande a preocupação com a amplitude do movimento de flexão, já que esse cisalhamento tende a aumentar quanto maior for a amplitude de movimento. Por exemplo: o mau alinhamento da patela no sulco intercondilar é afetado pela carga de cisalhamento, pois a articulação patelofemoral não é estrutural, e sim funcional. Veja abaixo na figura. Imagem: Shutterstock.com Deslocamento patelar. Ao pensarmos em mecanismo lesivo, planos, eixos e cargas mecânica, o ponto a ser destacado é a identificação das potencialidades de movimentos de uma articulação. Dessa forma, as articulações cartilaginosas ou fibrocartilaginosas têm em suas estruturas uma “capacidade” de deformação para assimilação das cargas aplicadas, mas diversos fatores podem interferir nessa capacidade. Por exemplo, com o envelhecimento, os discos intervertebrais perdem elasticidade e ganham plasticidade, além de apresentarem desidratação. Dessa forma, ocorre uma sensível redução na capacidade de deformação dessas estruturas. Por isso, ocorrem as chamadas “lesões por degeneração”. Imagem: Shutterstock.com Lesão por degeneração (disco intervertebral). Substituição por disco lombar artificial. As articulações sinoviais, em função dos seus componentes (cápsula articular, cartilagem articular, líquido sinovial etc.), devem ser observadas em função dos seus graus de liberdade (número de eixos). Isso porque o movimento anormal dessas articulações ou alguma alteração estrutural pode acelerar o processo de degeneração da articulação, em especial, da cartilagem articular. Há ainda o fato de que um trauma direto sobre uma articulação sinovial pode comprometer a funcionalidade do líquido sinovial, o que irá afetar toda a integridade estrutural e funcional da articulação. Imagem: Shutterstock.com Lesão das componentes articulares. ATENÇÃO Atente-se para as reais possibilidades de movimentos de uma articulação, pois elas tendem a responder muito bem à funcionalidade adequada, mas tornam-se fragilizadas para cargas aplicadas indevidamente, em especial, as cargas não axiais (rotação, curvamento e cisalhamento). AS CADEIAS DE MOVIMENTO E AS CARGAS MECÂNICAS Partindo dessa premissa, entendemos que a instabilidade de um movimento em cadeia aberta, usualmente, é acompanhada por uma série de ajustes funcionais. Foto: Shutterstock.com O exercício de abdução dos ombros com cotovelo estendido. Por exemplo, o movimento de abdução da articulação do ombro é diretamente influenciado pela amplitude de movimento e pelo posicionamento da articulação do cotovelo. Para que o segmento braço possa ser abduzido acima de 90°, há necessidade de rotação externa da articulação do ombro, assim, a posição destravada torna-se maior. Com isso, a translação no interior da articulação tende a aumentar, potencializando o risco de lesão pelo aumento da compressão nos tecidos moles na região subacromial. Quando essa abdução é realizada com o cotovelo semiflexionado, tende a ocorrer um torque rotador interno, que é neutralizado pela ação isométrica dos rotadores externos do ombro. Essa combinação de movimento também aumenta a compressão dos tecidos na região subacromial. Foto: Shutterstock.com O exercício de abdução dos ombros com flexão do cotovelo. Em um exercício em cadeia fechada, usualmente, mais estáveis, apesar de ser positivo, pode- se tornar um problemaquando a avaliação postural não for realizada, e as alterações estruturais podem impactar na assimilação das cargas externas. Por exemplo: uma pessoa que possua “geno recurvato”, ao realizar um agachamento, caso a amplitude de movimento não seja controlada, tenderá, ao completar o movimento de extensão do joelho, expor o membro inferior a uma carga de curvamento, e não de compressão – o que seria o ideal. Dessa forma, demonstrou-se como o tipo de cadeia, a técnica de realização do movimento, a avaliação postural e as cargas mecânicas podem se relacionar. A condição de equilíbrio é fundamental para autonomia de movimento, e sempre que essa condição for comprometida, o trabalho muscular e a sobrecarga sobre as estruturas biológicas do corpo humano tendem a ser alterados. Para que possamos entender esses mecanismos, vamos pensar no centro de gravidade do corpo humano (CGH) e a sua localização próxima das últimas vertebras lombares (L4 ou L5) e início da coluna sacral. Isso é relevante, pois, caso haja restrição na mobilidade pélvica, haverá maior dificuldade de ajustes posturais para manutenção do equilíbrio nas mais variadas situações cotidianas. Além disso, o conjunto articular adjacente que tende a apresentar maior vulnerabilidade à lesão é o lombar. Não é por acaso que muitas pessoas apresentam recorrência nos quadros de lombalgias e, para que essas sejam minimizadas ou até suprimidas, a mobilidade pélvica deverá ser trabalhada. Feito isso, haverá um aumento na predisposição à assimilação dos diferentes tipos de cargas sobre a condição de estabilidade e menor estresse na região lombar. ATENÇÃO Tenha sempre como foco os ajustes posturais necessários para realização do movimento, por exemplo, o posicionamento dos pés para o aumento da área da base de sustentação. Ao observar as cargas mecânica, habitue-se sempre a identificar: O PONTO ONDE A CARGA ESTÁ SENDO APLICADA Proximal x distal; lateral x medial; superior x inferior; anterior x posterior. Assim, na prática, ficará mais fácil para você entender a diferença da realização do exercício agachamento com barra, estando ela apoiada anterior ou posteriormente aos ombros, e as vulnerabilidades do movimento. A INTENSIDADE E A DURAÇÃO DA CARGA APLICADA Muitos têm a falsa ideia de que somente uma carga de alta intensidade pode ser lesiva, mas isso não é verdadeiro. Uma carga de baixa intensidade aplicada por um longo período também pode ser predisponente à lesão. Por isso, é de sua responsabilidade encontrar o ajuste entre a intensidade e o tempo de exposição a uma carga. Lembre-se do “rei do abdominal”! OS 5 DIFERENTES SENTIDOS PARA A CARGA APLICADA Saber os cinco tipos de cargas em função dos seus sentidos é tarefa relativamente simples, ou seja, comprime, traciona, curva, torce ou desliza. Esteja atento, pois, dificilmente, essas cargas atuam de maneira isolada. É muito comum que elas atuem de maneira combinada e, muitas vezes, essa combinação potencializa a lesão. Foto: Shutterstock.com Agachamento com a barra em diferentes pontos de apoio. Quando ocorre a lesão multiligamentar e meniscal no joelho? Normalmente, ocorre quando mais de um ligamento é lesionado em função de um trauma e ainda ocorre lesão meniscal. Uma das lesões mais comuns desse tipo é quando o ligamento cruzado anterior, o colateral medial e o menisco medial são comprometidos. Se pensarmos em cargas, teremos cargas de cisalhamento, curvamento e torção ocorrendo simultaneamente. Imagem: Shutterstock.com Lesão do ligamento cruzado anterior. LESÃO TECIDUAL – MUSCULAR E CONJUNTIVO Agora, iremos tratar especificamente dos mecanismos lesivos atuando sobre os diferentes tipos de tecidos. Optamos por estabelecer uma divisão didático-pedagógica, correlacionada aos maiores achados no campo das aplicações práticas. Daí, a divisão conforme o quadro abaixo: Imagem: Cláudio Gonçalves Peixoto. As lesões em tecidos específicos. TECIDO MUSCULAR – MUSCULATURA ESTRIADA ESQUELÉTICA E TENDÃO Distensão Lesão por impacto Microlesões musculares (MLM) induzidas pelo exercício DISTENSÃO É um dano causado a partir de uma carga tensiva, que pode ter origem em um músculo que se encontre passivamente sob a ação de uma força externa ou como resposta a uma carga aplicada, em especial, em contração excêntrica. Vale destacar a característica viscoelástica do músculo, por isso, a velocidade, o tempo e a intensidade da carga aplicada darão diferentes dimensões à lesão, desde um quadro mais leve, que permite um reparo rápido da estrutura lesada, até distensões mais severas, ou seja, passando pela ruptura muscular completa ou parcial da estrutura muscular, acompanhada de perda da função. Há ainda a distensão moderada, em que a dor vem acompanhada de laceração parcial e perda da função. Por isso, é tão importante ter cuidado com a aplicação das cargas externas e com estímulos excêntricos mais intensos. A distensão muscular leve e moderada é por muitos chamada de estiramento e, às vezes, também se refere à posição em que ocorreu a lesão mais proximal ou distal. No nosso caso, o importante é deixar claro que a carga que causou a lesão foi tensiva, e pode ter sido de alta intensidade, aplicada rapidamente, ou ainda, por um tempo excessivo. Na prática: tome cuidado com exercícios de alongamento acompanhados de “dor intensa” e com estímulos excêntricos com cargas muito elevadas. Imagem: Shutterstock.com Lesão muscular. LESÃO POR IMPACTO Apesar de ser comumente associada aos esportes de contato, por exemplo, futebol, basquetebol, lutas etc., não é uma exclusividade desses e pode ter como causa uma queda. Esse tipo de lesão é também chamado de contusão e tem como origem uma carga compressiva. Em alguns casos, costuma vir acompanhada de ruptura vascular na região afetada. Com isso, há um derramamento de sangue local, ou seja, uma equimose. Imagem: Shutterstock.com Lesão por impacto. MICROLESÕES MUSCULARES (MLM) INDUZIDAS PELO EXERCÍCIO São microrroturas que promovem desarranjo, não só no tecido de conjuntivo, que reveste o músculo (endomísio, epimísio e perimísio), mas desorganizam também as estruturas miofibrilares. Portanto, é necessário o “tempo de repouso” para recuperação e reparo muscular, tornando-o mais forte e capaz de suportar estímulos mais intensos. Aqui, vale destacar que essas MLM tendem a vir acompanhadas de maior rigidez muscular e dor muscular tardia (DMT). Outro ponto relevante é que tanto os estímulos concêntricos quanto excêntricos podem promover esses danos teciduais, sendo que as ações excêntricas em função de sua característica de desaceleração do movimento são mais relacionadas a esse tipo de lesão. Na prática, estímulos excêntricos mais intensos (treinamento excêntrico) só devem ser propostos para pessoas que apresentem um processo de adaptação ao treinamento já consolidado. O planejamento entre os estímulos e o período de recuperação seguirá a metodologia com base científica, minimizando a possibilidade de tornar essa lesão uma lesão crônica. Os tendões são estruturas fundamentais para a realização do movimento, pois é através deles que as forças geradas nos músculos são transmitidas aos ossos. Logo, é fundamental que você identifique que os tendões respondem de forma passiva; são submetidos basicamente a cargas tensivas e apresentam características estruturais distintas, sendo mais elásticos próximos à junção miotendínea e mais ossificados próximos às inserções. As lesões por estiramento que acometem os músculos também podem acontecer nos tendões e até com o mesmo tipo de classificação e comportamento: Leves (grau I) Moderadas (grau II) Graves (grau III) Contudo, as lesões agudas e crônicas nos tendões dão sinais distintos e exigem cuidados específicos. Quando um tendão apresenta uma lesão crônica, o fator causal deve ser imediatamente identificado e os estresses sobre esse devem ser evitados até que a cicatrização ocorra e seja possível o retorno àsatividades normais. Já quando esse “repouso” não é respeitado e a solicitação tênsil continua a ocorrer, existe uma grande possibilidade de agravamento da lesão, podendo chegar à ruptura completa. No caso de um trauma agudo, gerado a partir de uma única pancada na região, devem ser respeitadas as condições de dor e desconforto, para que a exposição ao esforço aconteça. Na prática, seja a partir de uma condição crônica (alta frequência de exposição a um estímulo) ou aguda (um único insulto), os processos inflamatórios nos tendões reduzem significativamente a capacidade de suporte de carga, o que leva à necessidade de suprimir a atividade sob pena de agravamento da lesão. LESÕES NO TECIDO CONJUNTIVO LESÕES NOS TECIDOS DA ARTICULAÇÃO Aqui, iremos nos ater a três estruturas articulares: Cartilagem articular Ligamentos Estruturas de fibrocartilagem Vamos começar pelos ligamentos, que são estruturas com alta capacidade de resistirem às cargas de tensão. No entanto, a organização das fibras de colágeno é diferente entre tendões e ligamentos. Os ligamentos podem ser comparados a uma trama, tipo uma rede entrelaçada, o que faz com que sejam mais resistentes que os tendões às deformações elásticas. E como a finalidade é a restrição dos movimentos indesejados dos ossos articulados, uma vez saudáveis desempenham muito bem sua função. ATENÇÃO Cabe destacar que os ligamentos, em função de sua localização, apresentam diferentes graus de resistência elástica, ou seja, podemos ter ligamentos fora da cápsula articular – extracapsulares (baixa resistência); ligamentos que estão inseridos na intimidade da cápsula articular – capsulares (média resistência); e os ligamentos localizados dentro da cápsula articular – intracapsulares (alta resistência). Por exemplo, na região dos joelhos, os ligamentos cruzados anterior e posterior são intracapsulares, o ligamento colateral medial é capsular e o ligamento colateral lateral são extracapsulares. Cartilagem articular é na atualidade a componente que mais tem chamado a atenção quanto a sua integridade estrutural, pois, especialmente em pessoas idosas, o grau de comprometimento dessas estruturas tem se mostrado elevado. Vale lembrar que, no aspecto estrutural, essa componente visa preservar os extremos ósseos nas articulações sinoviais, mas, quanto a sua função, permitem melhor deslocamento das “peças ósseas” na articulação. Mecanicamente, são estruturadas para possibilitar uma melhor distribuição das cargas no interior da articulação e produzir baixo desgaste friccional. Na prática: fique atento ao padrão técnico de execução dos movimentos. Isso porque, muitas vezes, quando o diagnóstico de uma lesão condral (cartilagem) é efetuado e o grau de comprometimento não consegue ser reparado, ocorre a perda da função e, em alguns casos, até a colocação de próteses, em especial, nas regiões dos joelhos e quadris. As estruturas fibrocartilaginosas são “joias da coroa” dentro das estratégias mecânicas para preservação das estruturas articulares. Em especial, os discos e os meniscos. No entanto, antes disso, vale lembrar que essas estruturas funcionam como um tecido de transição entre as junções osteotendíneas e osteoligamentares. Por que são tão importantes? Elas aumentam a área para distribuição interna das cargas dentro das articulações, são altamente capacitadas na absorção de choques (impacto) e se deformam para permitir os movimentos. EXEMPLO Destaca-se que o comprometimento em discos e meniscos traz consequências funcionais para toda a articulação. Por exemplo, o comprometimento do menisco medial (joelho) aumenta a sobrecarga na região medial do joelho, que, em função de sua característica anatômica, deixa mais vulnerabilizada a cartilagem articular nessa região. LESÕES NO TECIDO ÓSSEO Os ossos são tecidos conjuntivos com caraterísticas específicas quanto ao grau de rigidez, ou seja, conferem, ao mesmo tempo, dureza e resistência ao corpo humano. No entanto, é importante destacar que, apesar de suas funções Biomecânicas serem bem distintas, quaisquer lesões ósseas tendem a promover uma série de incapacidades funcionais, pois as funções de suporte de carga e alavanca são fisiologicamente acompanhadas pelas demais funções ósseas, que são proteção dos órgãos e sistema (costelas), armazenamento de minerais e produção de células sanguíneas (hematopoese). Como a Biomecânica pode colaborar na identificação das lesões ósseas? Aqui, iremos nos ater a duas: Fraturas Osteopenia e osteoporose FRATURAS Você sabia que a partir do tipo de fratura é possível estimar a carga mecânica que a originou? Por isso, é sempre importante ter em mente a composição (orgânica, inorgânica e fluida) e a estruturação óssea (cortical e trabecular), e ainda, a característica anisotrópica e viscoelástica dos ossos. Vamos correlacionar cargas e fraturas: TRANSVERSA COMINUTIVA AVULSÃO ANGULAR OU POR ANGULAÇÃO ESPIRALADA OU EM ESPIRAL TRANSVERSA Possui origem em uma carga de baixa intensidade aplicada em uma pequena área, por um período longo. COMINUTIVA É uma fratura com múltiplos fragmentos com origem em uma carga compressiva de alta intensidade. AVULSÃO Tem origem em uma carga tensiva, na qual no local da inserção tendínea ocorre o arrancamento de um fragmento ósseo. ANGULAR OU POR ANGULAÇÃO A carga de inclinação ou curvamento é a que causa esse tipo de fratura. Em crianças, esse tipo de carga tende a gerar uma fratura em “galho verde”, ou seja, só há perda na solução de continuidade em um dos lados da peça óssea. ESPIRALADA OU EM ESPIRAL A ideia de espiral já nos conduz a uma condição rotacional, e é esse tipo de carga em rotação, que promove essa fratura. Na prática, conhecer a ação dessas cargas e o mecanismo de fratura óssea que ela possa gerar é também um diferencial na seleção dos estímulos de treinamento e tratamento. Por exemplo, existe um tipo de fratura comum em corredores “despreparados”, que resolvem aumentar subitamente o volume de treino, é a chamada fratura por estresse na tíbia. Foto: Shutterstock.com Fratura na região do braço. Apesar de, na maioria das vezes, receber a pura classificação de fratura, é, na verdade, uma fissura vertical que ocorre na diáfise tibial. OSTEOPENIA E OSTEOPOROSE É o que ocorre quando a componente inorgânica da composição óssea diminui. Inicialmente, a redução nas quantidades da componente mineral, em especial o cálcio, é chamado de osteopenia, ou seja, na prática, os ossos passam a se tornar menos densos. Um dos estímulos mecânicos mais eficazes é a aplicação das cargas de compressão, que, respeitadas as condições do executante, tendem a auxiliar no reestabelecimento da densidade óssea. Contudo, uma vez negligenciada, a osteopenia, caracterizada pela perda do componente mineral, tende a ser exacerbada e, assim, o osso evolui para um quadro de osteoporose. A osteoporose é classificada como doença altamente limitante, em alguns casos chegando a ser incapacitante. Isso ocorre porque a osteoporose faz com que o osso se torne menos capaz de assimilar cargas mecânicas, sob pena de ocorrer a fratura óssea. Com relação a sua estruturação, o osso trabecular e a região endosteal (parte interna óssea do canal medular) tendem a ser mais afetadas. Na prática: 1. As pessoas a partir dos 50 anos tendem a apresentar maiores predisposições para o quadro de osteopenia, em especial, as mulheres. Já nos homens essa idade pode ser postergada e só a partir dos 70/75 anos esse quadro tende a ser instalado. 2. As regiões do corpo que costumam ser mais afetadas no quadro de osteoporose são o fêmur na região do quadril e a coluna vertebral na região lombar. Tenha cuidado na prescrição dos exercícios, em especial, os de maiores impactos (corridas e saltos), e com as quedas, mesmos as da própria altura. Imagem: Shutterstock.com Osteoporose – diferentes fases. BIOMECÂNICA DAS LESÕES O especialista Claudio Gonçalves Peixoto fala sobre conceitos básicos,princípio das lesões, mecanismo lesivo, cargas mecânicas e lesão tecidual. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O CONCEITO DE LESÃO É AMPLO E VARIADO, CABENDO, DE ACORDO COM O CONTEXTO, MAIS DE UM TIPO DE DEFINIÇÃO. AO PENSAR NO COMPORTAMENTO DOS BIOMATERIAIS – MÚSCULOS, ARTICULAÇÕES E OSSOS –, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Para que seja classificada como lesão, a carga mecânica aplicada deve considerar o mecanismo lesivo quando houver ruptura completa do biomaterial. B) A identificação da mecânica e do mecanismo lesivo é relevante para a população de crianças e jovens e é sem relevância para idosos. C) A identificação da mecânica e do mecanismo lesivo é relevante para população idosa e é sem relevância em crianças e jovens. D) Os diferentes tipos de biomateriais apresentam diferentes padrões de respostas aos principais fatores biomecânicos causadores de uma lesão. E) Os diferentes tipos de biomateriais apresentam padrões de iguais respostas aos principais fatores biomecânicos causadores de uma lesão. 2. A RELAÇÃO DIRETA ENTRE UMA LESÃO E O MECANISMO CAUSADOR É FUNDAMENTAL NÃO SÓ PARA O DIAGNÓSTICO, MAS TAMBÉM PARA AS ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO. ASSINALE DENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO AQUELA QUE É VERDADEIRA SOBRE O CONCEITO DE MECANISMO, RELACIONADO À BIOMECÂNICA: A) É um processo físico que permite determinar a reação de um corpo em função de uma determinada ação. B) É um processo psicológico que permite determinar a reação de um corpo em função de uma determinada ação. C) É um processo social que permite determinar a reação de um corpo em função de uma determinada ação. D) Os mecanismos lesivos costumam atuar de forma isolada, ou seja, ou observa a carga aplicada ou a fragilidade estrutural. E) O estímulo proposto deve ser estereotipado buscando atender ao grupo que está voltado à modalidade, e não ao indivíduo. GABARITO 1. O conceito de lesão é amplo e variado, cabendo, de acordo com o contexto, mais de um tipo de definição. Ao pensar no comportamento dos biomateriais – músculos, articulações e ossos –, assinale a alternativa correta: A alternativa "D " está correta. É importante que o profissional da área da saúde entenda que as estruturas biológicas respondem de maneiras distintas a cargas mecânicas aplicadas. 2. A relação direta entre uma lesão e o mecanismo causador é fundamental não só para o diagnóstico, mas também para as estratégias de intervenção. Assinale dentre as alternativas abaixo aquela que é verdadeira sobre o conceito de mecanismo, relacionado à Biomecânica: A alternativa "A " está correta. Toda lesão tem como fator causador um mecanismo, e conhecê-lo aumenta as possibilidades de interpretação da lesão. MÓDULO 2 Reconhecer os principais fatores biomecânicos que podem contribuir para as lesões e disfunções dos membros inferiores A BIOMECÂNICA DAS LESÕES DAS EXTREMIDADES INFERIORES (COMPLEXO INFERIOR) Os membros inferiores são estudados a partir da região da cintura pélvica e encerrados na região do pé, passando pelas articulações do quadril, joelho e tornozelo. Esse conjunto articular, durante a marcha humana, assume especial significado nas atividades cotidianas e qualquer disfunção no conjunto musculoesquelético. Além disso, reduz a condição de normalidade para as atividades cotidianas e a autonomia. As cargas que descem pela coluna vertebral e chegam aos membros inferiores a partir da articulação sacroilíaca devem, preferencialmente, ser distribuídas de maneira equilibrada nos quadris direito e esquerdo. Dessa forma, qualquer alteração na estrutura anatômica ou no equilíbrio muscular, desde a região abdominal, pode concorrer para lesões e disfunções dos membros inferiores. Com base na prevalência das lesões, elencamos um conjunto de informações para estudarmos o comportamento das cadeias de movimentos dos membros inferiores. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DA CINTURA PÉLVICA A cintura pélvica (CP) é um “anel fechado” anteriormente pela sínfise púbica (SP) e posteriormente pelas articulações sacroilíacas direita e esquerda (ASIs). Observe o destaque aos lados direito e esquerdo, pois a lesão ou disfunção pode ocorrer somente em um dos lados. Imagem: Shutterstock.com Cintura pélvica. EMBORA OS MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES SACROILÍACAS E DA SÍNFISE PÚBICA SEJAM PEQUENOS, A CAPACIDADE DE MOVIMENTAÇÃO NESTAS ARTICULAÇÕES É MUITO IMPORTANTE. (LEHMKUHL; SMITH, 1989) Com isso, as principais lesões que acometem a CP envolvem essas articulações. Vale ressaltar que os movimentos da CP estão diretamente associados aos movimentos dos quadris e coluna vertebral – região lombar. Agora, iremos nos ater à pubalgia e às disfunções sacroilíacas. A estabilidade da CP é obtida através de mecanismos ativos e passivos, mais de 20 músculos se inserem na CP e as suas atividades auxiliam no equilíbrio articular. Quanto aos mecanismos, há um forte suporte ligamentar, em especial, nas articulações sacroilíacas, cartilagem articular e estrutura fibrocartilaginosa que restringem os movimentos da ASIs e SP. Que movimentos são esses? São movimentos de baixa amplitude, pensemos, basicamente, na translação que ocorre entre os ossos articulados. Caso não ocorra restrição a esses movimentos, a carga de cisalhamento potencializa o mecanismo lesivo. UMA PEQUENA QUANTIDADE DO CISALHAMENTO VERTICAL CAUDAL-CRANIAL OCORRE NO LADO RESPONSÁVEL PELO APOIO DE PESO CORPORAL. (HALL; BRODY, 2001) Tanto nas lesões das ASIs como na pubalgia (dor na região da sínfise púbica), o desequilíbrio entre as estruturas ativas e passivas tende a concorrer para um aumento no movimento de translação, o que gera desgaste dos componentes articulares. PUBALGIA É uma dor na região da SP, que pode estar associada a diversos fatores, como: fraqueza muscular na região do abdômen, pelve e quadris, ou ainda diferença de comprimento dos membros inferiores. ATENÇÃO Apesar de, inicialmente, não ser uma lesão incapacitante, com o tempo, pode evoluir para restrição dos “movimentos básicos”, por exemplo, a marcha. Saiba que não existe alteração funcional que possa atuar como geradora da lesão, por exemplo, o impacto entre o fêmur e o acetábulo. Imagem: Shutterstock.com Sínfise púbica e sacroilíaca. DISFUNÇÃO NAS ASIS É importante destacar que até, aproximadamente, a terceira década de vida, essas articulações apresentaram um pouco mais de mobilidade, sendo, a partir daí, mais restritos os movimentos. Os movimentos das ASIs consideram a báscula pélvica durante a marcha e são dependentes das estruturas ativas e passivas. Mesmo as rotações do ilíaco em relação ao sacro possuem pouca amplitude. Na prática, tome cuidado ao prescrever exercícios que exijam grande mobilidade das articulações dos quadris e coluna vertebral, pois, com o envelhecimento e a restrição das ASIs, esses estímulos podem funcionar como mecanismos lesivos. RESUMINDO Em atividades que exijam aceleração e desaceleração rápidas, estímulos de potência ou que apresentam mudança no sentido do deslocamento, grandes amplitudes de movimento, ou na corrida, você deve ter certeza de que a mobilidade pélvica e as forças que que geram estabilidade na CP estão equilibradas. Para isso, você pode utilizar exercícios para região do core. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DO QUADRIL E COXA As articulações dos quadris influenciam diretamente na CP, a partir do encaixe do fêmur na região acetabular. Essa articulação, a partir da posição anatômica, apresenta restrição a dois movimentos, abdução e hiperextensão, que possuem, aproximadamente, 30° e 15° de amplitude, respectivamente. Imagem: Shutterstock.com Quanto aos mecanismos lesivos da articulação do quadril e do segmento coxa, nosso foco terá como base: Fratura Osteoartrite Contusões Distensões (na região da coxa) FRATURA Usualmente, as fraturas na região do quadril têm como origem traumas com cargas de alta intensidade. Sendo a região proximal mais acometida e com maior prevalência em mulheres. Contudo, é possível tambémhaver fraturas na região acetabular, mas com uma incidência menor que a femoral. Ao pensarmos nas cargas mecânicas, as fraturas proximais do fêmur (colo e região intertrocantérica) podem ter origem em cargas de compressão, torção ou curvamento, em uma queda. As fraturas na região acetabular têm prioritariamente origem em carga compressiva, por exemplo, acidente automobilístico. Com o envelhecimento e a diminuição da componente mineral, essas fraturas tendem a ser potencializadas, principalmente, em sedentários. Na prática: deve-se ter cuidado ao prescrever exercícios de impacto (corrida e saltos) e ao se deslocar em ambientes menos seguros, como piso escorregadio. OSTEOARTRITE DO QUADRIL (OAQ) Ao longo das últimas décadas, houve um aumento no diagnóstico deste tipo de lesão, que é degenerativa da articulação e tem como principal mecanismo o suporte de carga (compressão), que resulta em degeneração da cartilagem articular e formação óssea sobre as superfícies articulares, e nas margens desta. ATENÇÃO Vale destacar que, apesar de um alto número de OAQ ter causa idiopática (Causa desconhecida) , as cargas compressivas de alta intensidade, em especial, quando assimiladas de maneira desigual pelos quadris, podem contribuir para o aparecimento e desenvolvimento da lesão. Na prática, tome cuidado ao prescrever exercícios que necessitem de uma boa técnica de aterrissagem, como saltos pliométricos ou, em caso de queixa, na região do quadril. CONTUSÃO NA REGIÃO DA COXA A região anterior e a lateral da coxa costumam ser as mais afetadas com este tipo de lesão. O tipo de carga atuante é a de compressão, por impacto, normalmente, em esportes de contato. Usualmente, são lesões leves, mas podem ser agravadas com incidência do trauma na região ou com uma intensidade de impacto muito alta, o que pode gerar ruptura capilar, edema e dor, incapacitando a solicitação muscular. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Na prática: em caso de contusão, opte por excluir o sujeito da atividade até que a analgesia seja feita. DISTENSÃO MUSCULAR A região posterior da coxa é a mais afetada, em especial, os músculos isquiotibiais. Este tipo de lesão ocorre de forma indireta por carga de estiramento (excêntrica) e não há necessidade de impacto. Na prática: A etapa de preparação para atividade (aquecimento) confere à musculatura condições de responder à velocidade de estiramento de maneira adequada. Vale lembrar que a ação excêntrica promove a desaceleração no movimento e, sem o devido preparo, as estruturas miotendíneas não respondem à demanda mecânica. Cuidado na prescrição de alongamentos muito intensos, independente da metodologia, quanto maior for o grau de estiramento durante um alongamento, maior será o risco de uma distensão. Caso a musculatura esteja fatigada, os fusos musculares que têm por finalidade prevenir o estiramento excessivo podem ter sua função comprometida. Por fim, a junção miotendínea é a região mais vulnerável a este tipo de lesão, em função das diferenças de elasticidade na junção entre o músculo e o tendão. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DO JOELHO E PERNA A articulação do joelho envolve três articulações com comportamento harmonioso, mas que devem ser interpretadas de maneira singular. Duas são estruturais – côndilos lateral e medial com o platô tibial e uma é funcional – articulação patelofemoral. Imagem: Shutterstock.com Anatomia e lesão dos joelhos. Essa articulação possui uma estrutura bicondilar, o que permite, além dos movimentos de flexo-extensão, a rotação interna e externa, a partir de aproximadamente 20° de flexão. Essa informação é relevante, pois o movimento de flexão tende a vir acompanhado de rotação interna e o de extensão pela rotação externa (mecanismo parafusar) e somente nos últimos 20° para extensão total o movimento de flexo-extensão é “puro”. Somado a isso, temos a ação da patela, que visa melhorar a eficiência mecânica do quadríceps. Dessa forma, caso ocorra alteração no posicionamento da patela em relação ao fêmur, essa contribuição estará prejudicada. RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR (LCA) É uma das lesões mais traumáticas da região do joelho. O LCA tem como finalidade restringir o deslizamento anterior da tíbia em relação ao fêmur. Na maioria das vezes, esse tipo de lesão ocorre em eventos esportivos, mas não obrigatoriamente por contato, e sim por torção, normalmente, medial. ATENÇÃO O mecanismo lesivo para o LCA costuma estar relacionado a uma carga de curvamento em valgo, acompanhada de uma rotação externa da tíbia em relação ao fêmur ou uma hiperextensão com rotação interna da tíbia em relação ao fêmur. Observe que, em ambos, a ação das cargas foi combinada. Há uma lesão conjunta do LCA, ligamento colateral medial e menisco medial, conhecida como tríade de O’Donoghue ou “tríade infeliz”, que tem como origem a carga em valgo com rotação externa. Na prática: esteja atento ao tipo de demanda que será imposta sobre o joelho e aos diferentes músculos envolvidos, não só com a articulação do joelho, mas também do quadril e do tornozelo, pois músculos biarticulares podem colaborar com as estruturas passivas na estabilidade da articulação. LESÃO MENISCAL A estrutura anatômica é importante para que se compreenda a maior prevalência de lesões no menisco medial, já que a superfície concava do platô tibial se encaixa na superfície convexa do côndilo femoral, e as superfícies laterais são “convexas”, não se encaixando. Além disso, o menisco medial está “fixado” na cápsula articular e no ligamento colateral medial, o que confere menor capacidade de deformação intra-articular. Dois tipos de lesões são associados aos meniscos: LESÃO POR DEGENERAÇÃO LESÕES TRAUMÁTICAS LESÃO POR DEGENERAÇÃO Está relacionada a um processo “natural” de envelhecimento, fazendo com que parte da função mecânica do menisco fique comprometida na absorção de impacto. LESÕES TRAUMÁTICAS Tem como origem um trauma agudo na região do joelho, muito comum em atividades esportivas. Por exemplo, movimento rápido de extensão do joelho. RECOMENDAÇÃO Na prática: evite o movimento de “rotação interna ou externa” do pé e da perna com os joelhos em extensão e os pés fixos, pois esses aumentam a predisposição à lesão dos meniscos. A amplitude completa do movimento de flexão do joelho em cadeia fechada aumenta a carga de cisalhamento sobre os meniscos, e a repetição desse movimento concorre para aumentar a lesão por degeneração. DISTÚRBIOS PATELOFEMORAIS Dois distúrbios patelofemorais são mais comuns: Condromalácia patelar Posicionamento alto da patela em relação ao fêmur A articulação patelofemoral é uma articulação funcional, assim, qualquer alteração no posicionamento da patela durante o movimento ou em repouso pode comprometer a funcionalidade da articulação do joelho. A condromalácia patelar é uma lesão que tem como origem o atrito da face posterior da patela, com o côndilo lateral do fêmur. Isso ocorre porque, durante os movimentos de flexo-extensão do joelho, a cartilagem articular sofre uma carga de cisalhamento e compressão. Um dos fatores geradores dessa lesão é o “geno valgo”, que pode ser medido a partir do ângulo Q. O ângulo Q é formado entre duas retas, uma é traçada passando pela espinha ilíaca anterossuperior até a parte média da patela, e outra que passa pela tuberosidade tibial e a parte média da patela. Imagem: Shutterstock.com Ângulo Q. Os valores de normalidade para o ângulo Q para os homens situam-se entre 11° e 17°; e para as mulheres, entre 14° e 20°. Quando os ângulos são maiores que os valores de referências, ocorre um aumento na predisposição para condromalácia patelar, ao passo que as mulheres apresentam maior tendência ao desenvolvimento deste tipo de lesão. POSICIONAMENTO ALTO DA PATELA (PATELA ALTA) Durante os movimentos da articulação do joelho, a patela deve deslizar comodamente no sulco intercondilar e, ao longo do movimento, a força compressiva da faceposterior na patela nos côndilos sofre variações. Dessa forma, em condições normais, os ângulos entre 45° e 60° de flexão são os mais críticos desse contato. Com a elevação da patela em relação ao fêmur, esses ângulos de maior compressão e cisalhamento variam de maneira individual. Na prática, os distúrbios patelofemorais exigem a observação da estabilidade dos segmentos dos membros inferiores a partir da articulação do quadril e de possíveis queixas do executante. DOENÇA DE OSGOOD-SCHLATTER É uma lesão tipicamente juvenil, que tem como origem a carga tensiva, caracterizada com uma apofisite por tração da tuberosidade tibial, onde se insere o tendão patelar. Tome cuidado com a intensidade dos estímulos propostos para o quadríceps, pois a alta intensidade da carga aplicada e o alto volume de repetições aumentam a predisposição para esse tipo de lesão. Imagem: Shutterstock.com Doença ou lesão de Osgood-Schlatter. Na prática, a deformação óssea que ocorre na inserção do tendão patelar pode impedir a compressão da região e, dificilmente, a morfologia é reestabelecida, mesmo com quadro álgico controlado. SÍNDROME DO TRATO ILIOTIBIAL O trato Iliotibial é uma fáscia que ocupa a região lateral da coxa e se fixa no tubérculo tibial lateral. Durante os movimentos flexo-extensão do joelho, essa fáscia posiciona-se anteriormente ao epicôndilo lateral do fêmur na extensão e posterior a este na flexão do joelho. Quando a fáscia iliotibial encontra-se muito tensa, ou seja, com baixa elasticidade, o atrito entre ela e o epicôndilo lateral do fêmur pode levar a um processo inflamatório, acompanhado de dor, em especial, para amplitudes acima de 30° de flexão. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Na prática, mesmo assintomático, mas, em função das características funcionais do tecido de conexão, prescreva exercícios de alongamento para esta região. FRATURA POR ESTRESSE DA TÍBIA A tíbia é o osso que apresenta uma das maiores capacidades de suportar carga compressiva, contudo a alta frequência de exposição a esse tipo de carga, por exemplo, na corrida, pode não ser bem assimilada pelo osso. A adaptação óssea é lenta e qualquer alteração nas componentes ou organização da estrutura óssea, por exemplo, a osteoporose, pode inviabilizar estímulos de alto impacto, ou quando esses forem prescritos, deve-se considerar uma baixa frequência e volume de repetições. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DA REGIÃO DO TORNOZELO E PÉ ENTORSE DO TORNOZELO Cargas combinadas como rotação, curvamento e compressão costumam ser as causadoras deste tipo de lesão. Imagem: Shutterstock.com Entorse em inversão. Basicamente, são dois tipos: Entorse em inversão Quando a planta do pé é girada medialmente ou para dentro. É o tipo mais comum de entorse, porém tende a ser menos traumática. Entorse em eversão Quando a planta do pé é girada lateralmente ou para fora. Apesar de ser mais rara, tende a ser mais traumática. Alguns casos geram fratura do maléolo lateral. Na prática, é importante que a aterrissagem do pé no solo, em especial nos saltos unipodais, venha acompanhada de uma preparação das estruturas passivas (ligamentos) e ativas (músculos). Outro aspecto a ser enfatizado é que a aplicação de carga lateral na região do tornozelo pode predispor a este tipo de lesão, por exemplo, o “carrinho” no futebol. FASCITE PLANTAR Causada por alterações estruturais, como o pé cavo, ou funcionais, como a baixa elasticidade da fáscia. Imagem: Shutterstock.com Fascite plantar. A existência de um arco longitudinal na região medial do pé nos dá a possibilidade de estimar a normalidade da curvatura na região plantar. Funcionalmente, a fáscia plantar deforma-se elasticamente por carga tensiva para permitir uma acomodação dos ossos do pé durante a fase de suporte de peso. Quando a deformação não ocorre, por exemplo, fáscia encurtada ou pouco elástica e na expectativa de caminhar ou correr, o estresse e a ruptura de fibras de tecido conjuntivo na fáscia plantar tendem a ocorrer, o que pode vir acompanhado por um processo inflamatório. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Na prática, acostume-se a prescrever alongamentos para região plantar, ainda mais quando observar rigidez na fáscia plantar, ou ainda, a utilização de um coxim, sob a região do arco plantar longitudinal, para indivíduos com pé cavo, pois isso limitará o estiramento da estrutura. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DOS MEMBROS INFERIORES O especialista Claudio Gonçalves Peixoto fala sobre os mecanismos lesivos na cintura pélvica, quadril, joelho, tornozelo e pé. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A POSTURA BÍPEDE E A MARCHA SÃO O PADRÃO DE DESLOCAMENTO HUMANO E FAZEM COM QUE OS MEMBROS INFERIORES ASSUMAM ESPECIAL IMPORTÂNCIA NA FUNCIONALIDADE E AUTONOMIA DO INDIVÍDUO. COM BASE NESSA AFIRMATIVA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O comportamento dos membros inferiores para o lado esquerdo e direito não afetam os movimentos pélvicos e lombares. B) A cintura pélvica é um “anel aberto” e as cargas que descem pela coluna vertebral são as únicas a interferirem no comportamento pélvico. C) A cintura pélvica é um “anel fechado” e as cargas que descem pela coluna vertebral são as únicas a interferirem no comportamento pélvico. D) A cintura pélvica é um “anel fechado” e as cargas que descem pela coluna vertebral e sobem pelos membros inferiores interferem no comportamento pélvico. E) A cintura pélvica é um “anel aberto” e as cargas que descem pela coluna vertebral são as únicas a interferirem no comportamento pélvico. 2. A ARTICULAÇÃO DO QUADRIL É UMA DAS MAIS MÓVEIS DO CORPO HUMANO, MAS, NA ATUALIDADE, NÃO SÃO RAROS OS EVENTOS QUE VENHAM CAUSAR LESÕES NESTA ARTICULAÇÃO. COM BASE NO TEXTO ACIMA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) A partir da posição anatômica, os movimentos mais restritos em suas amplitudes são os de abdução e hiperextensão, que chegam, respectivamente, a aproximadamente 30° e 15° de amplitude. B) A partir da posição anatômica, os movimentos mais restritos em suas amplitudes são os de adução e extensão, que chegam, respectivamente, a aproximadamente 30° e 15° de amplitude. C) A partir da posição anatômica, os movimentos mais restritos em suas amplitudes são os de abdução e hiperextensão, que chegam, respectivamente, a aproximadamente 15° e 30° de amplitude. D) A partir da posição anatômica, os movimentos mais restritos em suas amplitudes são os de flexão e hiperextensão, que chegam, respectivamente, a aproximadamente 15° e 30° de amplitude. E) A partir da posição anatômica, os movimentos mais restritos em suas amplitudes são os de abdução e flexão, que chegam, respectivamente, a aproximadamente 30° e 15° de amplitude. GABARITO 1. A postura bípede e a marcha são o padrão de deslocamento humano e fazem com que os membros inferiores assumam especial importância na funcionalidade e autonomia do indivíduo. Com base nessa afirmativa, assinale a alternativa correta: A alternativa "D " está correta. Conhecer o comportamento dos membros inferiores nas ações cotidianas e esportivas, favorece a interpretação das cargas mecânicas que atuam sobre o corpo. 2. A articulação do quadril é uma das mais móveis do corpo humano, mas, na atualidade, não são raros os eventos que venham causar lesões nesta articulação. Com base no texto acima, assinale a alternativa correta: A alternativa "A " está correta. Entender os comportamentos articulares com base em sua anatomia e funcionalidade pode auxiliar na identificação dos mecanismos lesivos. MÓDULO 3 Identificar o comportamento dos membros superiores sob a influência dos diferentes tipos de cargas mecânicas e fatores predisponentes às lesões BIOMECÂNICA DAS LESÕES DAS EXTREMIDADES (COMPLEXO SUPERIOR) A sequência para estudarmos a Biomecânica relacionada às lesões dos membros superiores será: Cintura escapular Articulação glenoumeral Articulação do cotovelo Região do punho e mão A cintura escapular é um anel incompleto, que permite totalindependência entre os lados direito e esquerdo, assim, o comportamento do membro superior estará diretamente associado à hemicintura escapular ipsilateral. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DA CINTURA ESCAPULAR Existe a necessidade de harmonia entre o comportamento dinâmico da escápula e o gradil costal, ou seja, a estrutura escapulotorácica é considerada uma articulação funcional e qualquer alteração nesse comportamento impactará nas articulações adjacentes, em especial, a articulação glenoumeral. Imagem: Shutterstock.com Cintura escapular. De que forma a discinesia escapular concorre para os mecanismos lesivos? Discinesia escapular é a disfunção da articulação escapulotorácica, impactando na harmonia do ritmo glenoumeral; no posicionamento da cavidade glenoide, para uma melhor “movimentação” do segmento braço. ATENÇÃO A escápula para estar bem-posicionada depende da tensão residual dos músculos escapulares, em especial, o serrátil anterior e o trapézio. No processo de avaliação estrutural, observe a borda medial e o ângulo inferior direito e esquerdo. Caso perceba alguma alteração no posicionamento, pode-se inferir que a articulação glenoumeral esteja mais instável, assim como aumenta o risco de lesão dos tecidos moles no espaço subacromial. Na prática, ao pedir ao sujeito para efetuar a abdução ou flexão completa dos ombros, observe o comportamento das estruturas anatômicas citadas e o alcance superior e anterior das falanges distais dos dedos médios. Essa combinação pode auxiliá-lo a conferir uma boa dinâmica à cintura escapular antes de alçar movimentos mais amplos para a articulação do ombro. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DO OMBRO E BRAÇO ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL São várias as lesões associadas a essa região. Anatomicamente, a característica dos ossos articulados nos coloca com uma cavidade glenoide rasa, uma cabeça umeral “maior” que a cavidade, um mau encaixe, uma cápsula frouxa e um fraco suporte ligamentar. Trata-se de uma articulação altamente instável. Imagem: Shutterstock.com Articulação do ombro. Os movimentos angulares da articulação do ombro tendem a vir acompanhados de translações da cabeça do úmero na cavidade glenoide, o que é de fato um potencial mecanismo lesivo. Como melhorar a condição funcional da articulação do ombro? Os músculos do manguito rotador podem minimizar essa instabilidade, mas torná-la 100% estável é inviável. São 4 músculos que têm a partir de suas funções agonistas capacidade de tracionar o úmero de encontro à cavidade glenoide, minimizando o movimento de translação. Veja a função desses músculos: Supraespinhal Abdução Subescapular Rotação interna Redondo menor e infraespinhal Rotação externa Vale destacar que os movimentos de rotação externa são os mais “fracos” da articulação do ombro. Outro importante aspecto é a prevalência de lesões no tendão distal do supraespinhal. Essas lesões tendem a evoluir não só com o envelhecimento, mas também em função das características anatômicas dos diferentes tipos de acrômio (acrômio tipo I – plano; acrômio tipo II – curvo e acrômio tipo III – em forma de gancho). Esses dois últimos diminuem o espaço na região subacromial e aumentam a possibilidade de compressão dos tecidos moles, em especial, a bursa subacromial, o tendão distal do supraespinhal e o tendão proximal da cabeça longa do bíceps braquial (síndrome de impacto). As luxações da articulação do ombro também costumam ser acompanhadas de lesões na estrutura do labrum glenoidal. Duas das principais lesões são: LESÃO DE BANKART LESÃO DE SLAP LESÃO DE BANKART É uma luxação anterior da articulação do ombro, podendo levar a uma avulsão do labrum glenoidal anteroinferior na inserção do ligamento glenoumeral inferior. LESÃO DE SLAP Possui 4 tipos: tipo I – esgarçamento do labrum superior; não há ruptura na inserção bicipital (sempre cabeça longa); tipo II – separação tanto do labrum superior como do tendão bicipital; tipo III – é uma laceração do labrum superior, mas preservação da estrutural do bíceps braquial; tipo IV – laceração tanto do labrum superior (alça de balde) como do bíceps braquial. Nessas lesões, os mecanismos causadores podem ser: compressão durante uma queda; tração excessiva; arremessos com as mãos acima da cabeça e luxação ou subluxação articular do ombro. Além disso, pode ter origem em um único gesto (lesão aguda), ou pela repetição do movimento (lesão crônica). E quanto ao bíceps braquial? Tal músculo deve ser observado a partir da sua porção longa, mas lembre-se das lesões crônicas na inserção proximal da cabeça longa do bíceps braquial, pois podem vir acompanhadas de ruptura do tendão em duas situações distintas: Ação concêntrica de alta intensidade, por exemplo, o exercício de rosca bíceps com foco na hipertrofia. Movimentos excêntricos rápidos, quando a desaceleração promove uma forte carga tensiva no tendão, por exemplo, no movimento de hiperextensão do ombro ao dar uma arrancada na corrida. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DA REGIÃO DO COTOVELO E DO ANTEBRAÇO A região do cotovelo é muito estável em função do arranjo ósseo e de um forte suporte ligamentar. Porém, duas lesões dispostas de lados opostos na região do cotovelo são as mais prevalentes: Epicondilite medial (cotovelo de golfista) Epicondilite lateral (cotovelo de tenista) Essas denominações ocorrem em analogia aos gestos nos esportes citados, mas o mecanismo lesivo não ocorre no cotovelo, pois tanto a epicondilite medial como a lateral têm origem nos movimentos de flexão e extensão do punho. Isso porque os tendões responsáveis por esses movimentos são longos e delgados e têm suas inserções proximais nos epicôndilos lateral e medial. Imagem: Shutterstock.com Epicondilite medial e lateral. O mecanismo lesivo está relacionado ao movimento repetitivo dos punhos e como consequência ao estresse tensivo imposto a esses tendões. Essas lesões vêm acompanhadas não só de dor e desconforto na região do cotovelo, mas também de redução funcional dos movimentos do punho e mão. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Na prática, verifique a mobilidade do punho e, sempre que possível, fortaleça e alongue os músculos do antebraço e mão. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DA REGIÃO DO PUNHO E MÃO Imagem: Shutterstock.com Região do punho. Esta região permite uma série de movimentos combinados e geram uma enorme capacidade de manipulação, sendo suscetíveis aos mecanismos lesivos. São dois tipos de lesões nesta região que acometem um número alto de pessoas pela utilização do telefone celular, a síndrome do túnel do carpo e a síndrome de Quervain. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO É uma lesão por encarceramento do nervo mediano, aumentando a pressão na região. Tem origem em movimentos repetitivos de flexo-extensão do punho, criando uma neuropatia compressiva. A prevalência desta lesão é elevada, sendo uma das maiores lesões ocupacionais sem fatalidade (digitação). RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Na prática: exercícios de reforço para a região devem ser aplicados. SÍNDROME DE QUERVAIN Lesão que afeta a região lateral do punho, na base do dedo polegar, acompanhada por incapacidade funcional e dor. A origem são os movimentos da articulação do punho em torção, conforme o exemplo já citado de digitação de uma tela de celular. O sujeito acometido por esta lesão tem dificuldade de levar o polegar em direção à palma da mão e opor os outros 4 dedos sobre o polegar; ou com o punho flexionado, seja feita uma abdução do polegar. O fortalecimento e o alongamento dos músculos da mão tendem a minimizar os riscos lesivos. BIOMECÂNICA DAS LESÕES – MEMBROS SUPERIORES O especialista Claudio Gonçalves Peixoto fala sobre fatores biomecânicos que geram nos membros superiores – cintura escapular, ombro, cotovelo, punho e mão. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS MOVIMENTOS DOS MEMBROS SUPERIORES E DAS MÃOS DÃO AO HOMEM UMA CARACTERÍSTICA MANIPULATIVA COM INÚMERAS POSSIBILIDADES DE COMBINAÇÕES DE MOVIMENTOS.ASSINALE A ALTERNATIVA ASSERTIVA PARA O COMPORTAMENTO DOS MEMBROS SUPERIORES: A) A articulação escapulotorácica é considerada uma articulação estrutural, com forte suporte ligamentar entre o gradil costal e a escápula. B) A cintura escapular é um anel fechado que torna dependente os movimentos entre os membros superiores dos lados direito e esquerdo. C) A cintura escapular é um anel incompleto que torna os movimentos dos membros superiores totalmente independentes entre os lados direito e esquerdo. D) O comportamento de todo o membro superior (braço, antebraço e mão) estará diretamente associado à hemicintura escapular contralateral. E) A cintura escapular deve ser observada como uma estrutura rígida e imóvel, não afetando diretamente nos movimentos dos membros superiores. 2. DENTRE AS LESÕES COM MAIOR PREVALÊNCIA PARA OS MEMBROS SUPERIORES, ESTÃO AS EPICONDILITES MEDIAL E LATERAL. ESSAS LESÕES VULNERABILIZAM A REGIÃO DO COTOVELO E REDUZEM A AUTONOMIA FUNCIONAL DO INDIVÍDUO. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA CONSIDERANDO O TEXTO ACIMA: A) A epicondilite medial tem origem nos movimentos de flexão da articulação do punho. B) A epicondilite medial tem origem nos movimentos de extensão da articulação do punho. C) A epicondilite lateral tem origem nos movimentos de flexão da articulação do punho. D) A epicondilite lateral tem origem nos movimentos de extensão da articulação do cotovelo. E) Tanto a epicondilite medial como a lateral têm, respectivamente, origem nos movimentos de flexão da articulação do cotovelo. GABARITO 1. Os movimentos dos membros superiores e das mãos dão ao homem uma característica manipulativa com inúmeras possibilidades de combinações de movimentos. Assinale a alternativa assertiva para o comportamento dos membros superiores: A alternativa "C " está correta. A característica humana de manipulação faz com que a compreensão dos movimentos dos membros superiores tenha origem na cintura escapular. 2. Dentre as lesões com maior prevalência para os membros superiores, estão as epicondilites medial e lateral. Essas lesões vulnerabilizam a região do cotovelo e reduzem a autonomia funcional do indivíduo. Assinale a alternativa correta considerando o texto acima: A alternativa "A " está correta. Ter ciência que nem sempre o local de uma lesão é o mesmo que deu origem é fundamental para interpretar o comportamento dinâmico das cadeias de movimento. MÓDULO 4 Reconhecer as possibilidades de lesão no esqueleto axial decorrentes da assimilação das cargas mecânicas BIOMECÂNICA DAS LESÕES DO ESQUELETO AXIAL – COLUNA VERTEBRAL A coluna vertebral é identificada como esqueleto axial. Ao pensarmos na estruturação do esqueleto e a correlacionarmos à Biomecânica, podemos afirmar que as cargas oriundas do esqueleto apendicular são diretamente “descarregadas” na coluna vertebral. Por isso, deve-se observar o comportamento de “braços e pernas”, para estimar como essas cargas estão sendo assimiladas pela coluna. Imagem: Shutterstock.com Diferentes segmentos da coluna vertebral. BIOMECÂNICA DAS LESÕES DA COLUNA VERTEBRAL (CV) COLUNA CERVICAL (CC) Suporta uma carga de aproximadamente 7% da massa corporal em um indivíduo em idade adulta, além dos vários ajustes posturais para manutenção do equilíbrio da cabeça sobre a CC. Assim, não só os traumas mais intensos, mas também os estresses por repetição podem ser causadores de lesões. Veja abaixo: Mecanismo ou lesão de chicote É um mecanismo de aceleração-desaceleração do pescoço que pode resultar em impacto posterior ou lateral, predominantemente, nos acidentes com veículos. O trauma gerador da lesão em chicote é intenso, e pode ter mais de uma causa, sendo os acidentes automobilísticos um dos que mais concorrem para tal lesão. ATENÇÃO Outros movimentos bruscos da CC podem levar a essa lesão. Por isso, avalie se, na tarefa proposta, há possibilidade de movimentos de flexão e hiperextensão da CC em velocidade rápida. Contudo, não é a hiperextensão pura o mecanismo causador da lesão, e sim o comportamento em S que é estabelecido quando este movimento ocorre. Observe também outros comportamentos, como: alterações na articulação temporomandibular, distúrbio visuais, depressão, ansiedade etc. Espondilose cervical Lesão de origem crônica, que afeta, principalmente, a região entre C3 e C7. É uma alteração por degeneração não só dos discos intervertebrais, mas também de todas as estruturas relacionadas à CC, como proeminências ósseas nos corpos vertebrais e instabilidade ligamentar. O envelhecimento tende a vir acompanhado de desidratação e degeneração do disco intervertebral, o que o torna com menor capacidade elástica. Essas alterações concorrem para o estreitamento do canal medular (estenose) e o aumento da possibilidade de impacto axial na região. Na prática, quando um beneficiário do seu serviço apresentar as seguintes queixas: parestesia (formigamento ou dormência) e/ou dor na região do pescoço e braço, fraqueza e perda sensorial, ele pode estar com espondilose cervical. Disfunções e lesões no tronco (torácica e lombar) São muito comuns, contudo devem ser observadas algumas condições a curto, médio e longo prazos. Isso porque algumas simples disfunções podem concorrer para instalações de lesões com maior gravidade e, em alguns casos, com interferência na qualidade de vida do indivíduo. EXEMPLO Uma alteração ao sentar-se, que concorra para uma adaptação da coluna vertebral em hiperlordose. Passados alguns anos, essa alteração pode ser caracterizada como uma alteração estrutural, acompanhada por lombalgia e limitação nos movimentos. Imagem: Shutterstock.com Alterações estruturais – coluna vertebral. Escoliose É observada a partir de uma alteração da coluna vertebral no plano frontal, mas, na verdade, ela tende a ocorrer simultaneamente no plano transverso. Assim, deveria ser conceituada como uma alteração com maior possibilidade de percepção da inclinação lateral à direita ou à esquerda, acompanhada de efeito rotacional. A origem pode ser variada, porém detalharemos os fatores mecânicos que concorrem para ela. Saiba que ela pode ser classificada como: SIMPLES Curvatura em C. COMPLEXA Curvatura em S. COMPENSADA Ombros alinhados no plano horizontal. DESCOMPENSADA Ombros desalinhados no plano horizontal. Esses conhecimentos colaboram com as possíveis determinações dos fatores causais e permitirão prognosticar diferentes etapas dos resultados dos estímulos a partir das estratégias progressivas de intervenção. Toda escoliose é acompanhada por dor? Não, mas podem impactar em algumas disfunções. Por exemplo, uma escoliose torácica pode comprometer o grau de complacência dos pulmões, em função de uma maior rigidez do gradil costal. A maioria das escolioses tem causa desconhecida, mas um pequeno percentual (20%) pode estar associado a questões congênitas, a distúrbios neuromusculares e/ou metabólicos e a doenças do tecido conjuntivo. Em uma escoliose, ao se observar a coluna vertebral no plano frontal, um dos lados apresenta uma convexidade (lado que determina a escoliose) e o seu lado oposto uma concavidade. Daí, a ideia primária passa por alongar o lado da concavidade e encurtar o lado da convexidade. Em escolioses moderadas ou assintomáticas, opte por manter alongados e fortalecidos todos os músculos responsáveis pela integridade estrutural da coluna vertebral, por exemplo, nos exercícios “prece maometana” e “perdigueiro”. Foto: Shutterstock.com Prece maometana (esquerda) e perdigueiro (direita). Em casos mais complexos, há necessidade de atuação conjunta de uma equipe multidisciplinar, que, usualmente, envolve médico, fisioterapeuta e profissional de Educação Física. Hipercifose torácica Acentuação da curvatura da CV na região torácica, com aumento da convexidade na região posterior. Tende a ser uma alteração que tem como principal fator a ação da gravidade sobre o corpo humano, a partir da linha de ação gravitacional
Compartilhar